PRESENÇA DE LEVEDURAS E BACTÉRIAS NO CONDUTO AUDITIVO DE CÃES COM E SEM OTITE EXTERNA Risciela Salardi Alves de BRITO, Giane TRENTIN, Karina Poliana ALLIEVI, Amanda D’avila VERARDI, Eduardo Negri MUELLER. Bolsista ICG/ Edital nº 74/2014 Câmpus Concórdia, Acadêmica de Medicina Veterinária IFC - Câmpus Concórdia, Acadêmica de Medicina Veterinária IFC - Câmpus Concórdia, Professora IFC - Câmpus Concórdia, Professor Orientador IFC - Câmpus Concórdia Introdução O conduto auditivo externo possui microbiota constituída predominantemente por bactérias Gram-Positivas e por levedura. Dentre estes microrganismos incluem-se Staphylococcus intermedius, Streptococcus sp. e Malassezia sp., os quais podem proliferar e ser considerados potencialmente patogênicos em situações onde o microclima auditivo é alterado (HUANG, 1993; NASCENTE, 2006). Fatores como a temperatura, umidade relativa e o pH, assim como o cerúmen são muito importantes para a manutenção de um microclima saudável e bom funcionamento do ouvido (HARVEY, 2004). Quando ocorre a inflamação do conduto auditivo esses fatores são alterados podendo desencadear a proliferação destes microrganismos responsáveis pela continuação da resposta inflamatória e pelo insucesso na terapia (SCOTT, 2001). Os sinais clínicos mais comuns de otite externa são o prurido e a otalgia, frequentemente também pode haver exsudato fétido. Em casos agudos, o pavilhão auricular e o canal auditivo apresentam-se geralmente eritematoso e edemaciado. Nos casos crônicos é comum observar hiperqueratose, hiperpigmentação e liquenificação do pavilhão auricular, bem como estenose do canal auditivo (HNILICA, 2011). Considerando que os microrganismos são importantes na etiologia da otite externa enquanto fatores perpetuantes (HARVEY, 2004), objetivou-se identificar a população microbiana em cães com e sem sinais clínicos de otite externa. Material e Métodos Foram incluídos no estudo 24 cães, jovens e adultos, machos e fêmeas, com ou sem raça definida e de idade variável. Este estudo é parte de projeto de pesquisa aprovado pelo Comitê de Ética em Uso de Animais do Instituto Federal Catarinense – Câmpus Concórdia (CEUA IFC – Câmpus Concórdia nº 34/2014). Foram inspecionadas 48 orelhas quanto à presença de prurido, eritema, exsudato e otalgia. Amostra de exsudato foi obtida com auxílio de “swab” estéril introduzido na porção vertical do conduto auditivo, iniciando pela orelha direita e, posteriormente da esquerda. As amostras foram analisadas individualmente através do exame citológico. Foi utilizada uma lâmina de microscopia para cada amostra, na qual o “swab” estéril foi rolado três vezes. A coloração foi realizada com panótico rápido e as lâminas secas a temperatura ambiente. O exame direto das lâminas foi realizado em microscópio óptico usando aumento de 1000X. Foram avaliados cinco campos microscópicos quanto à presença e quantidade de células morfologicamente compatíveis com M. pachydermatis, sendo considerada a média aritmética do número por campo por orelha. Para a população bacteriana foram avaliados cinco campos classificando morfologicamente quanto à presença de cocos e bacilos. Resultados e Discussão Das orelhas hígidas (n=28), todas foram positivas para cocos em pelo menos um campo, nove para bacilos e cinco apresentaram a levedura M.pachydermatis variando de 0,2 a 2 leveduras/campo. Das orelhas com sinais clínicos (n=20), 19 apresentaram bactérias com morfologia de cocos, 14 com morfologia de bacilos e oito foram positivos para M. pachydermatis variando de 0,2 a 2,2 leveduras/campo. Dentre os microrganismos componentes da microbiota do conduto auditivo externo, observou-se a prevalência de bactérias com morfologia de cocos, estando presente em pelo menos um campo de todas as orelhas hígidas avaliadas, estes resultados são compatíveis com literatura da qual considera as bactérias com morfologia de cocos como Staphylococcus intermedius, Streptococcus sp como integrantes da microbiota normal (CHENGAPA, 1983; HUANG, 1993). Já a levedura M.pachydermatis foi encontrada em pequena quantidade em orelhas hígidas, resultado este já mencionado por Nobre (2001). Nos casos de otite externa, predominou microrganismo com morfologia de cocos, porém, se observou o aumento de bactérias com morfologia de bacilos. Estudo que realizou cultura bacteriana de amostras obtidas de casos de otite externa encontrou mais comumente Staphylococcus coagulase positiva (46,6%) entre os agentes isolados, o qual esteve presente em mais de 70% dos cães com otite externa bacteriana. Além disto, foram isolados bacilos como Pseudomonas aeruginosa (17%) e Proteus mirabilis (17%), de orelhas com otite crônica (PETROV, 2013). A densidade populacional da M. pachydermatis foi semelhante entre orelhas com e sem sinais de otite externa, embora fosse esperado aumento na densidade da levedura nos condutos auditivos com sinais clínicos. Os fatores que levam a este aumento possivelmente são corelacionados com fatores predisponentes, os quais alteram o microclima cutâneo ou defesas do hospedeiro podendo assim permitir que este microrganismo comensal torne-se patogênico (MACHADO, 2001). Conclusão A população microbiana tanto em orelhas hígidas quanto nas orelhas com sinais clínicos de otite externa é composta por bactérias e leveduras, com predomínio de bactérias com morfologia de cocos nas orelhas hígidas e nas orelhas com sinais clínicos. Bibliografia CHENGAPA, M.M, MADDUX, R.L, GREER, S.C. A microbiologic survey of clinically normal and otitic canine ear canals. Vet. Med. Small Anim.Clin 1983: 343. HARVEY, R.G.; HARARI, J; DELAUCHE, A.J. Doenças de ouvido em cães e gatos. Rio de janeiro: Revinter, 2004, 272p. HLINICA, K. A. Dermatologia de pequenos animais: Atlas colorido e GuiaTerapêutico. Elsevier Brasil, 2011. HUANG, H.P. Lipid content of cerumen from normal dogsand otitic canine ears. Veterinary Record 1994; 134:380-381. MACHADO, Mauro LS et al. Malassezia dermatitis in dogs in Brazil: diagnosis, evaluation of clinical signs and molecular identification. Veterinary dermatology, v. 22, n. 1, p. 46-52, 2011. NASCENTE, P. D. S., et. al (2006). Otite externa em pequenos animais: uma revisão. MEDVEP– Revista Científica de Medicina Veterinária-Pequenos Animais e Animais de Estimação, 4(11), 5259. NOBRE, M. D. O. et al (2001). Occurrency of Malassezia pachydermatis and other infectious agents as cause of external otitis in dogs from Rio Grande do Sul State, Brazil (1996/1997). Brazilian Journal of Microbiology, 32(3), 245-249. PETROV, V. et al. Otitis externa in dogs: microbiology and antimicrobial susceptibility. Revue Méd. Vét, v. 164, n. 1, p. 18-22, 2013. SCOTT, D. W, et al. Small animal dermatology. 6.ed. Philadelphia: W. B. Sauders Company. p. 667-779, 2001.