Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil Sub-Secretaria de Promoção, Atenção Primária e Vigilância em Saúde Gerência do Programa de Hipertensão TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL ESTÁGIO 1 (LEVE) Hoje, só é recomendado o uso da monoterapia no tratamento da hipertensão estágio 1. Os diuréticos são eficazes no tratamento da hipertensão arterial, tendo sido comprovada sua eficácia na redução da morbidade e da mortalidade cardiovascular. Continuam sendo a droga de primeira escolha na hipertensão estágio 1 (leve), a menos que exista restrição para seu uso, como nos casos associados ao diabetes ou em pacientes com história de gota. A Hidroclorotiazida (HCTZ) e seus similares (tiazídicos) são o grupo de diuréticos mais utilizados em todo o mundo para o controle da hipertensão arterial. A dose inicial e suficiente na maioria dos casos é a de 12,5 a 25 mg/dia pela manhã. Após o controle dos níveis tensionais, freqüentemente a dose da HCTZ pode em muitos casos ser reduzida a 12,5 mg/dia até em dias alternados, mantendo-se o controle periódico pela equipe da unidade. Todo paciente que ainda esteja em uso de altas doses de HCTZ (50 mg diários), deve ter sua posologia reduzida progressivamente para 25 ou 12,5 mg; redução esta que pode ser efetivada a cada nova consulta clínica de revisão, dentro da periodicidade adequada para o quadro clínico. Desta forma, pode-se aproveitar ao máximo o efeito anti-hipertensivo, reduzir a morbimortalidade (especialmente nos idosos) e reduzir ao mínimo a ocorrência de efeitos colaterais. A HCTZ é padronizada na rede municipal na forma de comprimidos sulcados de 25 mg, o que atende plenamente a todo o seu espectro de utilização. Face às recomendações atuais de uso cada vez mais freqüente e em menores doses de diuréticos tiazídicos na hipertensão arterial, seja em 1 monoterapia, seja em associação a outras drogas, a HCTZ na apresentação de comprimidos de 50 mg foi excluída da padronização da SMS em abril de 2002. Outra categoria de diurético, chamada de diurético de alça, dos quais a Furosemida é o mais usado, pode ser utilizada para a hipertensão leve associada à insuficiência cardíaca com retenção de volume ou na insuficiência renal com clearense abaixo de 30 ml/min/1,73 m2; a dose média é de 40 mg/dia em dose única matinal, podendo ser ajustada, a critério clínico. Por ter um efeito salurético mais potente que os tiazídicos, a Furosemida, como regra geral, só deve ser utilizada nas citadas situações acima, uma vez que a ocorrência de efeitos colaterais (tais como os descritos acima para os tiazídicos) é significativamente maior por sua utilização, aumentando o risco clínico e/ou induzindo ao abandono do tratamento. Os pacientes em uso de diuréticos tais como a HCTZ e a Furosemida devem ser informados e estimulados a consumir uma maior proporção de alimentos ricos em potássio, para minimizar sua depleção pela salurese prolongada, que pode levar a efeitos colaterais como astenia, dores nas pernas, cãimbras e mesmo arritmias cardíacas. Alimentos baratos tais como banana, laranja, tomate, verduras e outras frutas, além da água de coco, devem fazer parte da rotina alimentar de tais casos. Os casos comprovados de hipopotassemia (< 3,5 mEq/l) associados ao uso crônico de diuréticos podem ser corrigidos por um incremento ainda maior da reposição de potássio através do cloreto de potássio na forma de solução oral ou comprimidos efervescentes (não padronizados pela SMS-RIO)/ Lembramos que esta reposição muitas vezes está associada a efeitos colaterais no trato digestivo (dor epigástrica, náuseas, vômitos, diarréia e mesmo hemorragia digestiva), especialmente em idosos. A hiperuricemia ocorre com freqüência em pacientes hipertensos, refletindo uma redução da perfusão renal. Os diuréticos podem nos primeiros meses de seu uso contribuir para aumentar o nível plasmático de ácido úrico, porém raramente tal alteração se associa a crises de artrite gotosa ou formação de cálculos renais. Nos casos comprovados de gota, os diuréticos devem ser interrompidos. A hiperuricemia, na ausência de gota ou nefrolitíase, não necessita de tratamento medicamentoso específico nem da 2 interrupção do uso de diuréticos, cujas doses deverão ser reduzidas ao mínimo. Os diuréticos podem induzir elevações nas taxas séricas de colesterol total, triglicerídeos e LDL colesterol, além de alterações no metabolismo dos carbohidratos, com hiperglicemia, em geral dependente da dose. A redução da dose, além de modificações na dieta e aumento da atividade física são suficientes na maioria dos casos para controlar tais alterações. Tiazídicos em baixas doses (25 mg/dia ou menos) não costumam produzir tais efeitos, o que fortalece a crescente recomendação para o uso cada vez mais intenso, porém em doses cada vez menores, dos tiazídicos na hipertensão arterial. Além dos diuréticos, podem ser usados na hipertensão estágio 1, os betabloqueadores e inibidores da enzima de conversão da angiotensina. Para os casos de hipertensão arterial leve associada ao diabetes, a opção inicial e preferencial, deve ser pelos inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA), representados na padronização da SMS pelo Enalapril comprimidos de 10 mg e Captopril 25 mg. A posologia inicial do Enalapril deve ser de 5 mg/dia (1/2 comp de 10 mg), em dose única, podendo ser aumentada até a dose máxima de 10 mg/dia. Para o Captopril, a dose inicial é de 25 mg podendo chegar a 50 mg em duas tomadas. Especialmente para os inibidores da ECA, é conveniente começar sempre por uma dose baixa (5 mg/dia ou 25 mg/dia principalmente em idosos) para evitar o chamado efeito da primeira dose (hipotensão, sudorese, tonteiras) mais freqüentemente observado quando se usa a dose inicial de 10 mg ou mais, ou quando o paciente estava em uso prévio de diuréticos, pela redução da volemia. O Enalapril, ao contrário de seu similar Captopril, não sofre interferência do bolo alimentar em sua absorção e biodisponibilidade, podendo ser assim usado em qualquer horário do dia, independente das refeições. Para uma eventual substituição do enalapril pelo captopril, a equivalência aproximada é de 10 mg de Enalapril para 50 a 75 de Captopril, sendo a dose máxima recomendada de Captopril de 150 mg diários. Cabe enfatizar o comprovado efeito nefroprotetor dos inibidores da ECA quanto à nefropatia hipertensiva e, especialmente, a glomerulopatia diabética, fazendo destes a primeira escolha para a hipertensão 3 associada ao diabetes e para todo paciente hipertenso que, no curso de sua evolução clínica, apresente sinais de disfunção renal evidenciada pela rotina mínima de acompanhamento. Atentar sempre para a ocorrência possível de hiperpotassemia nestes casos (diabetes com disfunção renal), relacionada ao uso dos inibidores da ECA, condição em que também está indicado o monitoramento do potássio sérico e por vezes até fundamentando a suspensão dos mesmos. É importante ressaltar que para a hipertensão leve, a efetiva implementação da abordagem não farmacológica (controle ponderal, dieta hipossódica e rica em potássio, aumento da atividade física, abolição do tabagismo e redução da ingesta alcoólica) pode controlar os níveis tensionais em pelo menos metade dos casos; os pacientes que não conseguirem alcançar o controle tensional através dessa estratégia, serão controlados com doses baixas de diuréticos. 4