Física Atómica e Nuclear. Capítulo 1. Fundamentos da Teoria Quântica 1 Física Atómica e Nuclear Notas de Aula 1 Fundamentos da Teoria Quântica 1.1 Função de Onda e Densidade de Probabilidade O movimento de uma partícula atómica numa determinada direcção, a do eixo x por exemplo, é descrito pela função x, t . Em geral x, t é uma função complexa, portanto contém i 1 . As regiões do espaço onde é mais provável que uma partícula 2 se encontre, no instante t, são aquelas em que x,t é máxima. x, t x, t x, t , em que x, t é o conjugado complexo de x, t . Em outras palavras: a probabilidade de encontrar a partícula descrita pela função de onda x, t num ponto situado entre x e x+dx no momento t é dada pela densidade de probabilidade: 2 dPx, t Px, t dx x, t dx 2 (1. 1) e que corresponde a hipótese de Born. e corresponde a área indicada na Figura 1.1. Figura 1. 1. x em função de x, num tempo t. A área sombreada corresponde a probabilidade de que a partícula esteja localizado entre x e x+dx. 2 Notas de Aula 2004 / 05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear. Capítulo 1. Fundamentos da Teoria Quântica 2 A probabilidade de encontrar a partícula entre os pontos x=a e x=b é então b 2 x, t dx . Como temos certeza de que a partícula se encontra em algum lugar ao a longo do eixo x devemos ter que: 2 dPx, t Px, t dx x, t dx 1 (1. 2) Quando lidamos com partículas fundamentais que compõem a matéria, temos de usar o formalismo designado por Mecânica Quântica e associar a cada partícula uma função de onda x, y, z, t . A função de onda fornece informação acerca da dinâmica da partícula, incluindo a probabilidade da localização no espaço e evolução no tempo, a sua energia, a sua quantidade de movimento, o seu momento angular e outras quantidades dinâmicas. Além disso, esta função de onda é diferente para cada estado da partícula, seja um electrão num átomo, numa molécula ou num sólido, um protão ou um neutrão no núcleo. Encontrar uma função de onda para um determinado sistema é um dos problemas mais importantes da Mecânica Quântica. 1.2 Equação de Schrödinger Para simplificar vamos considerar inicialmente o caso unidimensional. A função de onda x, t para cada estado dinâmico de uma partícula é determinada pelas forças que actuam sobre ela. Obtemos x, t através da equação de Schrödinger, formulada em 1926 por Erwin Schrödinger, baseada na expressão da energia total da partícula: p2 E E p x 2m (1. 3) p2 é a energia cinética e E p x , a energia potencial. O método foi aperfeiçoado 2m posteriormente por P. A. Dirac, mas é muito complexo para ser descrito aqui, por isso nos limitaremos a apresentar os resultados. Para problemas unidimensionais a equação de Schrödinger é: onde 2 d 2 x, t dx, t E p x x, t i 2 2m dx dt (1. 4) Esta equação é tão fundamental para a Mecânica Quântica como a equação de Newton, F dp / dt , é fundamental para a Mecânica Clássica, ou como as equações de Maxwell o são para o Electromagnetismo. Em 1924 de Broglie associou pela primeira vez as propriedades da onda, comprimento de onda e frequência , com as propriedades da partícula, momento linear p mv e energia E : Notas de Aula 2004 / 05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear. Capítulo 1. Fundamentos da Teoria Quântica h p e E h 3 (1. 5) onde designa-se comprimento de onda de de Broglie de uma partícula e h é a constante de Planck. h / 2 . Para uma partícula num estado de energia E bem definido, o que significa que a E frequência em todos os pontos da matéria é 1 e a dependência temporal da função i t iEt / de onda pode exprimir-se por e e , a função de onda será x, t eiEt / ( x) (1. 6) onde x é a função de onda independente do tempo. Derivando x, t em relação ao tempo obtemos: d x, t E i e iEt / x dt (1. 7) Substituindo (1.6) e (1.7) na equação de Schrödinger (1.4), teremos: 2 iEt / d 2 E e E p x eiEt / i 2 eiEt / 2 2m dx (1. 8) Eliminando o factor e iEt / que aparece em todos os termos fica: 2 d 2 E p x E 2m dx 2 (1. 9) que é a equação de Schrödinger independente do tempo. E é a energia total da partícula, o que sugere que o primeiro termo da esquerda corresponde à energia cinética, e o segundo termo está relacionado com a energia potencial da partícula. As soluções desta equação dependem da forma da energia potencial E p x . Apenas os valores da energia E dão soluções que podem ser normalizadas, isto é, que podem satisfazer a condição: 2 x dx 1 (1. 10) 1 2 E E E 2 . 2 h h Notas de Aula 2004 / 05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear. Capítulo 1. Fundamentos da Teoria Quântica 4 e que são as energias dos estados estacionários, uma vez que num estado de energia bem definido a distribuição de probabilidade da partícula é independente do tempo: x, t x, t x, t eiEt / x e iEt / x x 2 2 (1. 11) Assim, quando resolvemos a equação de Schrödinger, obtemos não só a função de onda x , mas também a energia E dos estados estacionários do sistema. Uma forma alternativa de escrever a função de onda independente do tempo é: d 2 2m E E p x 0 dx 2 2 (1. 12) Como a equação de Schrödinger (1.4) é de primeira ordem em relação ao tempo, não poderá corresponder a uma equação do movimento ondulatório do tipo: 2 d 2 2 d v dt 2 dx 2 (1. 13) das ondas elásticas ou: 2 d 2 2 d c dt 2 dx 2 e 2 d 2 2 d c dt 2 dx 2 (1. 14) das ondas electromagnéticas. No caso mais geral de um problema tridimensional, em que a função de onda depende das três coordenadas x, y e z, a equação de Schrödinger independente do tempo adquire a forma: 2 d 2 d 2 d 2 2 E p x, y, z E 2m dx 2 dy 2 dz (1. 15) 1.3 Valores Médios e Valores Esperados Para explicar os conceitos de valor médio e valor esperado, podemos utilizar o exemplo do dado. Podemos observar que existe seis valores individuais correspondentes aos números de marcas das faces do dado, 1, 2, 3, 4, 5, 6. Se jogarmos o dado uma vez só, não poderemos prever quais desses números sairá. Só podemos fazer previsões se lançarmos o dado muitas vezes e ver a frequência Fn com que aparece cada número n (n=1,2,3, …6). O valor médio é dado por: Notas de Aula 2004 / 05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear. Capítulo 1. Fundamentos da Teoria Quântica 5 6 n nF n 1 6 n (1. 16) F n 1 n O valor médio pode ser previsto estatisticamente através do conceito de probabilidade, que corresponde a razão entre o número de vezes que o resultado desejado é obtido, pelo número total de tentativas. A probabilidade de obter n pontos (resultado desejado) é denotada de Pn. A probabilidade é igual para todas as marcas, portanto: P1 P2 P3... P6 . Como 6 P n 1 n 1, então Pn 1/ 6 (n=1,2,3, …6). De acordo com a teoria da probabilidade o valor médio pode ser expresso por: 6 n nPn 1 n 1 1 1 1 2 ....6 6 6 6 (1. 17) Estes conceitos relativamente simples podem ser aplicados directamente para definir o valor médio da posição e do momento na Mecânica Quântica. Os teóricos podem prever este valor para os experimentalistas. Por essa razão o valor médio é chamado de valor esperado e é definido como se segue: O valor esperado é igual a soma de todos os valores medidos individualmente vezes a probabilidade de que este valor seja encontrado. Vamos aplicar a definição acima em alguns exemplos que serão desenvolvidos nas alíneas abaixo. 1.3.1 Valor Médio da Posição Um exemplo do valor médio da posição, para o caso unidimensional, está indicado na Figura 1.2. Figura 1. 2. Valor médio da posição. A localização de uma linha vertical indica o valor da medida da coordenada de posição x e o comprimento da linha é proporcional a frequência com que esse valor é encontrado (densidade de probabilidade). Se Notas de Aula 2004 / 05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear. Capítulo 1. Fundamentos da Teoria Quântica 6 interpretamos a probabilidade como sendo o peso, o cálculo de x corresponde ao cálculo do centro de gravidade x de um objecto. A probabilidade de se encontrar uma partícula entre x e x+dx é x dx . Como a posição x varia continuamente, usaremos a integral em vez do somatório (1.17): 2 x x x 2 dx (1. 18) A normalização da função de onda é: x 2 dx 1 (1. 19) Generalizando a definição de (1.18) para xn, obtemos: x n x x n 2 dx (1. 20) Se substituirmos a função xn, para uma função mais geral como a função da energia potencial V(x), podemos obter a definição do valor médio da energia potencial: V V x x dx 2 (1. 21) 1.3.2 Valor Médio do Momento A Figura 1.3 apresenta um exemplo unidimensional do valor médio do momento. Figura 1. 3. A explicação para o valor médio do momento é semelhante ao da Figura 1.2. Notas de Aula 2004 / 05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear. Capítulo 1. Fundamentos da Teoria Quântica 7 Consideremos a função de onda dada pela sobreposição de ondas planas: x c p 1 h e ipx / dp (1. 22) Se agora medirmos o momento, a probabilidade de encontrar o seu valor entre p e p+dp 2 é c p dp . Análogo ao que foi feito para o valor médio da posição, definimos o valor médio do momento por: p p c p 2 dp (1. 23) Normalmente a função de onda é expressa em termos da posição, na forma x . É difícil calcular a expansão (1.22) para depois determinar o valor médio, porque primeiro precisamos calcular os coeficientes c p . Vamos mostrar agora que existe um cálculo muito simples que permite determinar o valor médio do momento seguindo um caminho inverso de (1.22). Vamos supor que o valor médio do momento é dado pela relação: p d dx i dx (1. 24) d não é muito familiar, mas é muito comum na Mecânica Quântica; i dx significa que vamos diferenciar x em relação a x: A notação d i dx (1. 25) A notação (1.25) é também referida como sendo a aplicação do operador momento d sobre a função x . Provar que (1.24) é o mesmo que (1.23), é relativamente i dx simples. Basta substituirmos (1.22) em (1.24): 1 ipx / d 1 ip' x / ' ' p c p e dp e dp dx c p i dx h h (1. 26) Derivamos em relação a x: Notas de Aula 2004 / 05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear. Capítulo 1. Fundamentos da Teoria Quântica p c p eipx / dp 1 ' ' ip ' x / ' h p c p e dp dx 8 (1. 27) Trocamos a ordem de integração em relação a x e p: 1 ipx / ip' x / p dp dp p c p c p e e dx h ' ' ' (1. 28) A última integral corresponde a função de Dirac, p p ' . A definição da função elimina a integração sobre p’ e faz p=p’, e obtemos directamente a expressão: p dpp c p 2 (1. 29) onde p d . i dx Para pn: pn p c p n 2 dp (1. 30) onde o operador p é aplicado n vezes sobre a função x . 1.3.3 Valores Médios de Energia Com os resultados que obtivemos até agora podemos calcular os valores médios de p2 energia. A energia cinética da partícula é . A probabilidade de observar o momento 2m 2 entre p e p+dp é dado por c p dp . Portanto a energia cinética média será: Ec c p 2 p2 dp 2m (1. 31) Utilizando as regras de cálculo utilizadas anteriormente para p, e generalizando para três dimensões obtemos: Ec Notas de Aula 2004 / 05 2 2 dxdydz 2 m (1. 32) Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear. Capítulo 1. Fundamentos da Teoria Quântica 9 onde 2 corresponde ao operador diferencial de Laplace ou Laplaciano: 2 2 2 2 x 2 y 2 z 2 (1. 33) Podemos também obter a energia potencial, (ver (1.21)) em três dimensões: Ep V r dxdydz (1. 34) Como a energia total é a soma da energia cinética com a energia potencial, o valor esperado para a energia total é: 2 2 E V r dxdydz 2m (1. 35) 1.4 Operadores e Valores Esperados Agora vamos discutir a estrutura conceptual e as regras de cálculo da teoria quântica. Os parâmetros da mecânica na física clássica, como a posição xt , o momento pt , a energia e etc., estão associados aos valores esperados da mecânica quântica. Na mecânica quântica as grandezas físicas são chamadas de operadores, que não são mais do que regras de diferenciação ou multiplicação que actuam sobre as funções de onda. Então chamamos xt de operador de posição x , que é simplesmente dizer que multiplicaremos a função x por x . Pode parecer estranho designar um operador independente do tempo x , para a grandeza xt dependente do tempo. Podemos observar que a dependência temporal é reintroduzida no processo de encontrar o valor médio se a própria função de onda depender do tempo. O momento pt é chamado de d operador i , que diferencia a função de onda. Depois do operador apropriado dx actuar sobre a função, ou multiplicando ou diferenciando, multiplicamos o resultado por x e integramos sobre todo o espaço a fim de obter o valor esperado. Utilizando estas regras podemos definir outros operadores. Um parâmetro importante é o momento angular L , com componentes L x , L y e L z . Na Física Clássica, L z , por exemplo, é definido como sendo xp y yp x . Na Teoria Quântica obtemos o operador correspondente substituindo px e py por p x py e i x , respectivamente. Assim a componente z do operador momento angular será: i y Notas de Aula 2004 / 05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear. Capítulo 1. Fundamentos da Teoria Quântica Lˆ z x y i y i x Variável Clássica Posição xt Momento pt Energia E H xt , pt Momento Angular Lrp Operador 10 (1. 36) Valor Esperado da Teoria Quântica x x, t x x, t dx x d (regra de Jordan) i dx 2 d 2 V x 2 2m dx r i p d x, t i dx x, t dx 2 d 2 E x, t V x x, t dx 2 2m dx L r , t r i r , t dxdydz Tabela1. 1. A relação entre a variável clássica, o operador e o valor esperado da Teoria Quântica. Para não confundir o momento angular clássico com o operador momento angular, colocaremos o símbolo “^” no operador momento angular. A Tabela 1.1 apresenta algumas varáveis clássicas, o operador correspondente e o valor esperado da Teoria Quântica. 1.5 Equação de Valores Próprios Já vimos anteriormente (alínea 1.2) algumas das equações que são utilizadas para determinar . Agora vamos considerar o exemplo da onda plana: ~ eikx (1. 37) que determina a propagação de uma partícula com um momento k . Podemos considerar esta onda plana como sendo a solução de uma equação relacionada directamente com o momento? Sim, de facto é isso que acontece, pois se derivarmos a onda plana em relação a x e multiplicarmos por obtemos a relação: i d ikx e keikx peikx i dx Notas de Aula 2004 / 05 (1. 38) Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear. Capítulo 1. Fundamentos da Teoria Quântica 11 onde p k . A onda plana satisfaz uma equação da seguinte forma: o operador d momento aplicado a onda plana resulta em p vezes a onda plana. i dx Agora vamos considerar como um segundo exemplo, a equação de Schrödinger independente do tempo. A aplicação do operador Hamiltoniano sobre a função de onda resulta na energia E vezes a função de onda. A Tabela 1.1 mostra que o Hamiltoniano é precisamente o operador da Mecânica Quântica associado com a expressão Ec+ Ep da energia clássica: Hˆ E Quando comparamos estes dois exemplos observamos o que estas funções, que são chamadas de funções próprias, têm em comum, é que satisfazem a seguinte equação: Operador Função Própria = Valor Próprio Função Própria Se chamamos de A ao operador, a função própria e ao valor próprio, teremos: A = (1. 39) Para o primeiro exemplo obtemos: A d , eikx , k i dx Quando o operador A de (1.39) e as condições de contorno são dadas, existe uma sequência particular de valores próprios, nomeadamente os valores de energia discretos, como por exemplo o caso de uma partícula numa caixa, etc. O cálculo desses valores próprios e as funções próprias a eles associados são feitos por matemáticos e físicos teóricos. Para obtermos uma concordância com as observações experimentais, podemos lançar mão do postulado básico da Teoria Quântica que diz: os valores próprios são idênticos aos valores observados. Este postulado básico tem um enorme significado e tem sido repetidamente confirmado por inúmeros experiências. Se medirmos a energia do electrão no átomo de hidrogénio, por exemplo, ele deverá concordar com os valores próprios En calculados através da mecânica quântica. Sempre que utilizamos a equação de Schrödinger, supomos que temos acesso as observações que medem a energia exactamente. Quando medimos a energia, identificamos as funções próprias associadas como sendo soluções da equação de Schrödinger. 1.6 Observação Simultânea e Relações de Comutação Vimos na alínea anterior que existe uma relação muito próxima entre as funções de onda e os valores próprios, e as observações individuais. Se uma função de onda é função própria para um operador em particular, isto é se satisfaz (1. 39), então sabemos que podemos encontrar o valor próprio através da medida. Se repetirmos a medida, encontramos exactamente o mesmo valor próprio. Então: Se for uma função própria do operador A, o valor próprio coincide com o valor esperado A . De facto se um operador A está associado ao valor próprio , teremos: Notas de Aula 2004 / 05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear. Capítulo 1. Fundamentos da Teoria Quântica 12 A e A A dx dx dx Se medirmos primeiro o momento e depois a posição de uma partícula, a medida da posição destrói a medida do momento feita previamente. Isto não acontece se medirmos o momento e depois medimos a energia cinética da partícula. Na primeira medida obtemos um certo valor p, o que significa que preparamos a partícula para um estado particular que corresponde a função de onda do operador momento e a função de onda depois dessa medida é eipx / (sem considerar o factor de normalização). Se agora medimos a energia cinética, essa medida corresponde a operação matemática de aplicar 2 d 2 o operador energia cinética . Neste processo a onda plana preparada dá o 2m dx 2 p2 valor próprio E , e a onda plana permanece como função de onda. Nesse caso a 2m segunda medida não destrói o resultado da primeira medida. Portanto existem medidas que aparentemente não destrói a outra, em outras palavras, existem medidas que podem ser feitas simultaneamente. Determinaremos agora o critério para medições simultâneas. Vamos considerar os operadores A e B , que podem ser, por exemplo, os operadores do momento e da energia cinética. Supomos que a função de onda é simultaneamente uma função própria de ambas as equações características: A A (1. 40) B B (1. 41) e Aplicamos o operador B no lado esquerdo da primeira equação e o operador A no lado esquerdo da segunda equação: BA e AB . Subtraímos a segunda equação da primeira, e aplicamos novamente (1.40) e (1.41): AB BA AB BA A B B A 0 (1. 42) A medida simultânea é garantida para todas as funções de onda que satisfazem as equações (1.40) e (1.41), por isso podemos omitir em (1.42) e escrever: AB BA 0 (1. 43) É uma abreviação, porque quando encontrarmos este tipo de equação devemos lembrar que os operadores são aplicados numa função de onda. Matematicamente podemos mostrar que o inverso também é verdadeiro: se dois operadores, A e B obedecem a relação de comutação (1.43), então as funções próprias de A são as mesmas de B e obedecem as relações (1.40) e (1.41). Se existir somente uma função própria para o Notas de Aula 2004 / 05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear. Capítulo 1. Fundamentos da Teoria Quântica 13 valor próprio A de A , ela também será uma função própria de B . Porém se existirem várias funções próprias de A associadas a A , então será sempre possível encontrar uma combinação linear dessas funções próprias que são também funções próprias de B . d Vamos estudar alguns exemplos. Consideramos que A (o operador i dx 2 d 2 momento) e B (operador energia cinética), e que A e B comutam. O 2m dx 2 resultado de derivar a função de onda em relação a x, duas vezes, ao aplicar B sobre a função de onda, e depois derivar uma vez só, ao aplicar o operador A , é o mesmo que primeiro derivar uma vez, ao aplicar o operador, B e depois duas vezes, ao aplicar o operador A : 2 d d 2 d2 d 0 2m i dx dx 2 dx 2 dx (1. 44) Da mesma forma podemos demonstrar que as componentes x e y do momento também comutam. d Vamos considerar agora um segundo exemplo. Supomos que A , e que i dx corresponde a componente x do momento, e B x , a coordenada x . Aplicando (1.42) em , obtemos: AB BA d d xx i dx i dx (1. 45) Calculando esta expressão obtemos: d x x d x d x d i dx i dx i dx dx i (1. 46) Então escrevendo novamente como em (1.45), obtemos a relação: d d xx i dx i i dx (1. 47) Podemos escrever abreviadamente esta relação, para uma função qualquer: d d xx i dx i dx i (1. 48) Podemos escrever também na forma: Notas de Aula 2004 / 05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear. Capítulo 1. Fundamentos da Teoria Quântica px x xpx 14 i (1. 49) ou px x xpx i (1. 50) Esta é a famosa relação de comutação entre o operador momento e o operador posição, de Heisenberg. Esta relação diz que os operadores do momento e da coordenada não comutam, o que significa que o momento e a posição não podem ser simultaneamente determinados com um grau de precisão desejável. A relação de comutação entre os operadores A e B pode ser expressa da seguinte forma: A, B AB BA (1. 51) Para a relação de comutação de Heisenberg, (1.48), fica: d i dx , x i (1. 52) px , x i (1. 53) e para a notação (1.50): Para as componentes do momento angular as relações de comutação serão: Lˆ , Lˆ iLˆ , Lˆ , Lˆ iLˆ , Lˆ , Lˆ iLˆ x y z y z x z x y (1. 54) e Lˆ , Lˆ 0 2 j para j x, y, z. (1. 55) O que significa que as componentes do momento angular não podem ser medidas simultaneamente, enquanto que o quadrado do momento angular e uma das componentes do momento angular, podem ser medidos simultaneamente. Notas de Aula 2004 / 05 Ana Rodrigues