Abordagem ao Ciclo de Vida Reintegração de Materiais em Fim de Vida Ana Paula Duarte, Rui Frazão LNEG-UPCS Workshop Ciclo de Vida dos Edifícios – 31 de janeiro de 2012 ENQUADRAMENTO A nível mundial, há uma pressão crescente sobre os recursos naturais e as matérias-primas. O aumento da sua procura no mercado global coloca em causa a sua disponibilidade a longo prazo. Os recursos devem ser geridos de forma sustentável: • privilegiando a utilização de recursos renováveis • aumentando a oferta de matérias-primas secundárias (reutilização e reciclagem de minerais e metais) a preços aceitáveis • alterando os padrões de consumo ENQUADRAMENTO Exemplos: • A reciclagem de 40 telemóveis permite recuperar 1 grama de ouro (para extrair 1 grama de ouro é necessário movimentar e tratar uma média de 1 tonelada de minérios, incluindo substâncias tóxicas como o cianeto) • A reciclagem de 1 tonelada de aparelhos antigos permite recuperar 280 gramas de ouro, 140 gramas de platina e paládio e 63,4 quilos de cobre (alguns destes metais são materiais estratégicos para a União Europeia, porque são imprescindíveis para a inovação tecnológica e a UE tem de importá-los) Fonte: Utilização eficiente dos Recursos Naturais, Revista Ambiente para os Europeus, Direção Geral do Ambiente, Maio de 2011 ENQUADRAMENTO A Comissão Europeia identificou como principais fatores que afetam a competitividade da indústria da construção, no contexto da sustentabilidade: • necessidade de utilização de materiais/produtos mais ecoeficientes; • redução de resíduos provenientes da construção/demolição, promovendo simultaneamente a reciclagem de materiais. ENQUADRAMENTO Recurso Produto Resíduo Se olharmos para o ciclo de vida dos produtos de construção … CICLO DE VIDA PRODUTOS CONSTRUÇÃO extracção matérias primas & processamento desconstrução edifício utilização edifício fabricação produtos construção construção ou reabilitação edifício CICLO DE VIDA PRODUTOS CONSTRUÇÃO O objetivo geral é que o ciclo de vida dos produtos de construção deve ser mais seguro, saudável e sustentável em todas as suas fases Desconstrução do Edifício PRODUTOS CONSTRUÇÃO • Ecodesign − Os produtos passam a ser concebidos com a preocupação de prevenir/minimizar impactes desde o início e tendo em conta todo o seu ciclo de vida. Design para a Reciclagem – pensar logo na fase de conceção do produto vias de promover a reutilização ou reciclagem do produto ou dos seus componentes, como seja facilitar a desmontagem do produto. Ex: indústria automóvel. DESIGN PARA A DESCONSTRUÇÃO Tem por objetivo integrar logo na fase de conceção do edifício técnicas construtivas que facilitem a demolição seletiva. Permitir desmontar o edifício em elementos, não só os mais facilmente removíveis (caixilharias, loiças sanitárias, canalizações, etc.), mas também os componentes e/ou materiais/produtos do edifício de forma a recuperar a máxima quantidade de elementos construtivos e/ou materiais para a sua maior e melhor reutilização e/ou reciclagem. Por exemplo, privilegiar o uso de parafusos em vez de colas e adesivos para fixação de materiais. DESIGN PARA A DESCONSTRUÇÃO Vantagens: A demolição seletiva permite obter materiais/produtos que são valorizados economicamente no mercado, promovendo também a sua reutilização e reciclagem. Estando o preço dos agregados dependente da sua pureza, torna-se atrativo separar os resíduos. A demolição convencional gera resíduos dificilmente poderão ser recuperados. contaminados que DEMOLIÇÃO SELECTIVA Preparação da demolição 1. analisar a viabilidade da demolição seletiva em cada edifício (em termos de decadência, danos mecânicos, etc.) 2. avaliar o valor dos materiais existentes (ex. painéis de madeira têm um valor residual, em comparação com a madeira sólida e bem conservada) 3. segue-se um inventário completo, antes de qualquer intervenção, que refira a condição física dos elementos e a maneira como estão fixados à estrutura Fonte: Chini & Bruening. Deconstruction and materials reuse in the United States. Special Issue article in: The Future of Sustainable Construction – 2003. DEMOLIÇÃO SELECTIVA Passos básicos a ter num processo de demolição seletiva: 1) remover as guarnições (portas e janelas) 2) retirar aparelhos de cozinha, torneiras, armários, portas e janelas 3) remover os revestimentos dos pavimentos e paredes, isolamentos e tubos de canalização 4) desmontar o telhado 5) desmantelar paredes e pisos Fonte: Chini & Bruening. Deconstruction and materials reuse in the United States. Special Issue article in: The Future of Sustainable Construction – 2003. A demolição seletiva permite recuperar cerca de 93% de materiais de construção Fonte: Ruch et al. Selective deconstruction, experiment at Mullhouse - 1997. DEMOLIÇÃO SELECTIVA • Demolição seletiva de um pavilhão em Lisboa: o edifício foi desconstruído e os elementos de aço foram aproveitados noutra obra. O dono de obra teve poupanças na ordem dos 50% em comparação com um edifício construído com materiais primários. Fonte: Santos & Brito. Building Deconstruction in Portugal: a case study - 2007 • Verificou-se que o custo de mão de obra é mais elevado do que numa demolição tradicional (cerca de 6x mais), e necessita de mais tempo para completar o processo. Fonte: Santos & Brito. Economic analysis of conventional versus selective demolition – A case study - 2011 Vantagens: • a reutilização e a reciclagem permite poupanças económicas e ambientais em termos de uso de materiais secundários em vez de materiais virgens; • o processo de reciclagem é menos consumidor em termos energéticos em comparação com o processo de produção dos materiais primários; • desvia materiais dos aterros, diminuindo a ocupação do solo. UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS RECUPERADOS E RECICLADOS Betão (consoante a pureza): base e material de enchimento para valas de tubagens e como material de aterro; base e material de enchimento para sistemas de drenagem, como sub-base na construção de estradas; como agregado reciclado para produzir betão e produção de componentes de pré-fabricados. Alvenaria de tijolo: material de enchimento de estradas; agregados para betão; agregados para tijolos, etc. Telhas: Intactas, podem ser reutilizadas; partidas - aproveitamento igual ao tijolo. Pedras: Ornamentos de pedras podem ser limpos e utilizados noutras construções; triturados, como sub-base de pavimentos ou agregados para novo betão. Fonte: AveiroDomus - Associação para o Desenvolvimento da Casa do Futuro, Universidade de Aveiro, 2006. UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS RECUPERADOS E RECICLADOS Metais (aço, cobre, alumínio, ferro, latão e zinco): Facilmente recuperados sem perdas das suas características. O aço pode ter reutilização direta, senão pode ser fundido. Madeira: Triturada e limpa, como compostagem; transformada em produtos derivados da madeira (aglomerados de fibras); os elementos de maior dimensão pode servir como elementos construtivos ou decorativos. Papel e Cartão: Reintegrados na produção de papel e cartão reciclado. Fonte: AveiroDomus - Associação para o Desenvolvimento da Casa do Futuro, Universidade de Aveiro, 2006. ALGUNS EXEMPLOS DE MATERIAIS OU PRODUTOS COM INTEGRAÇÃO DE RCD Integração de resíduos de construção e demolição (RCD) na pasta de tijolo cerâmico Tijolos fabricados a partir de argilas que incorporam entre 5% e 20 % de RCD Fonte: Maria Manuela Pereira Dinis Baroso “Valorização de Tijolo Cerâmico por Incorporação de Resíduos de Construção e Demolição ”Instituto Politécnico de Leiria- Escola Superior de Tecnologia e Gestão. Dissertação Mestrado em Energia e Ambiente - 2011 Material Biprocel reciclagem de resíduos de celulose (papel, cartão, madeira, trapos ou outro material que contenha uma percentagem elevada de celulose) – pode substituir painéis de gesso, divisórias e placas de isolamento acústico. Desenvolvido na Universidade Politécnica da Catalunha através de um processo biotecnológico Fonte: Revista Construção Magazine, nº 42, Março/Abril 2011. LEGISLAÇÃO Decreto-Lei 73/2011 (transpõe a Directiva nº 2008/98/CE): preservação dos recursos naturais e da promoção da valorização dos resíduos, as empreitadas de obras públicas terão de utilizar obrigatoriamente, desde que “tecnicamente exequível”, pelo menos 5% de materiais reciclados ou que incorporem materiais reciclados relativamente à quantidade total de matérias-primas usadas em obra. O diploma estabelece novas metas de reutilização, de reciclagem, e outras formas de valorização de resíduos, incluindo RCD, a cumprir até 2020. Obrigado pela atenção! www.lneg.pt Workshop Ciclo de Vida dos Edifícios – 31 de janeiro de 2012