USOS E COSTUMES era acompanhada por instrumentos. Em contacto directo com as populações locais, os missionários estrangeiros protestantes e católicos promoveram o desenvolvimento e a expansão de certos estilos de música. Adaptando hinos ocidentais de cariz religioso à cadência e ritmo das tribos, como os Xhosa e Zulu, favoreceram um estilo coral peculiar. A influência dos missionários, associada aos chamados cantos “espirituais” afro-americanos, deu origem a um movimento “espiritual” muito popular e activo ainda hoje. Esta tradição está presente e vibrante nas canções “isicathamiya”, popularizadas a nível mundial por grupos como os Ladysmith Black Mambazo, que bateram recordes de audiência e de bilheteira um pouco por todo o lado. Papel de outros povos Dança tradicional Zulu, em Blaauwbosch África do Sul Dos trovadores aos ritmos kwaito Desde os tempos antigos, muitos sul-africanos deleitaram-se com a música dos seus antepassados. Fazia parte da vida quotidiana e animava os momentos especiais de famílias, grupos e clãs texto e foto Carlos Domingos om a época colonial misturaram-se tra­di­ções e instrumentos oriundos da Europa, África e Ásia. Por exemplo, na época holandesa, século XVII, os povos e escravos trazidos do Oriente adoptaram instrumentos musicais ocidentais, que influenciaram os cantares populares dos Khoi-Khoi locais. Nesses tempos, a convivência era relativamente pacífica e a música era tocada por orquestras de escravos e por músicos viajantes, muitas vezes mestiços. A tradição continuou com a dominação inglesa. A partir de 1820 e, num estilo influenciado pelas marchas militares inglesas, tiveram início na cidade do Cabo os espectáculos de bandas de músicos mestiços. Receberam novo alento, por volta de 1880, com tournées de trovadores, chamados “minstrels”. O “carnaval” de Ano Novo, da cidade do Cabo, tornou-se famoso e, hoje, é uma atracção mundial, à semelhança do carnaval do Rio de Janeiro. Movimento espiritual No interior do país, a música vocal é a forma tradicional mais antiga. Cantada por grupos, acompanhados de danças e outros ajuntamentos sociais, envolvia um elaborado plano de perguntas e respostas por parte dos intervenientes. Só raramente 22 FÁTIMA MISSIONÁRIA NOVEMBRO 2009 Com o aparecimento de um proletariado urbano à volta das minas, a partir de 1800, diferentes formas de música tradicional começaram a fundir-se, adaptando cantigas rurais a novos ritmos dos centros urbanos. Os povos que vinham trabalhar nas minas favoreceram a adopção de instrumentos, como a “mbira” do Zimbabué, os bombos e xilofones de Moçambique. Mais tarde, instrumentos ocidentais, como a concertina e a guitarra, foram integrados em músicas locais, como a “maskanda” Zulu. A tradição dos trovadores por seu turno acabou por influenciar os cantos “isicathamiya” de origem Zulu. Muitos deles eram adaptados e reciclados segundo o gosto e as sensibilidades da audiência, como o canto popular “Mbube”, que se tornou, mais tarde, um clássico internacional: “O leão dorme esta noite”. No estilo pop, artistas como Miriam Makeba e outros, deram voz à luta por uma sociedade mais justa e por um estilo de vida moderno e individualista. Nas townships, autênticos laboratórios de novas ideias e estilos de música, nomes como Brenda Fassie, Chicco Twala e Yvonne Chaka Chaka atraíram multidões, produzindo uma musica frenética para uma audiência jovem e sedenta de novidades. Da música “bubblegum” dos anos 80, evoluiu-se para o estilo “kwaito” dos anos 90.