O TESTE DO CAMPO ABERTO: EXERCÍCIO DIDÁTICO DE PSICOLOGIA EXPERIMENTAL Prof. Dr. José Humberto da Silva Filho Departamento de Psicologia RESUMO: A motivação surgida no Laboratório de Psicologia Experimental da UFAM para este trabalho adveio da necessidade de ampliação dos estudos e exercícios didáticos. Do tradicional estudo experimental da aprendizagem por condicionamento, para o estudo da aprendizagem como um mediador das respostas emocionais de medo no rato Wistar. Ou seja, o estudo experimental de fenômenos cognitivos em animais como sendo mediadores e orientadores de seus comportamentos. Este trabalho propõe, além dos exercícios já tradicionais com organismos vivos na Caixa de Skinner, a adoção de outros exercícios onde fenômenos como a cognição e a emoção animal também possam ser, experimentalmente, explorados. Para isso, o instrumento adotado tem sido o Teste do Campo Aberto (Open Field). Trata-se de uma arena circular, com o assoalho demarcado em setores que servem para contabilizar quantos deles foram visitados pelo animal em sua estadia neste ambiente experimental. Esta área de estudos experimentais parece ser de grande relevância na formação de jovens psicólogos, uma vez que suas bases teóricas fundamentam também determinadas práticas aplicadas. Visando fortalecer o argumento a favor do uso didático de organismos vivos nos estudos de comportamento, talvez seja oportuno ressaltar que a prática didática com animais virtuais – por mais sofisticados que sejam tais programas – certamente, limitam, substancialmente, no aluno, a aprendizagem do seu relacionamento com um organismo real. Pode-se haver um ganho na aquisição teórica, talvez deixe de haver um ganho de aprendizagem de como se relacionar com o “outro” (neste caso, o sujeito experimental) e, sobretudo, do manejo da técnica. No caso do relacionamento com um organismo vivo, é necessário que o aluno aprenda a estar atento às suas necessidades e características, à sua proteção e, principalmente, num estudo de comportamento, precisa aprender a respeitar o tempo do “outro”. Segundo Nahas (1999), o Teste do Campo Aberto foi descrito originalmente por Hall em 1941 para testar os efeitos de ambientes não familiares sobre as reações emocionais de ratos. Ou seja, ambientes estranhos eliciam reações naturais de medo nestes organismos. Uma das aplicabilidades freqüente do teste tem sido avaliar a propriedade ansiolítica de drogas injetadas no animal. Mais, recentemente, porém, o teste tem se prestado também para fazer estudos de fenômenos cognitivos em animais, como: representação interna, mapeamento cognitivo, memória espacial e aprendizagem. Ou, ainda, o efeito da aprendizagem na mediação das suas respostas emocionais de medo. Vários autores desenvolveram experimentos e argumentos teóricos consistentes, demonstrando fenômenos cognitivos em animais. Um fenômeno básico é a representação interna. O comportamento do animal estaria sendo mediado e dirigido pela representação na ausência do estímulo que lhe deu origem. Esta é a definição de Bueno (1997) para este fenômeno, ou seja, a “capacidade de um animal utilizar uma informação previamente armazenada, porém, que não está disponível no seu ambiente presente”. O autor acrescenta que as representações são inferidas através da análise de seus efeitos sobre o comportamento, o qual só poderia ser explicado como decorrente do controle exercido pelas ditas representações. Holland (1990) conforme citado por Bueno, sustenta que, no condicionamento pavloviano, “[...] a representação do estímulo incondicionado ativado pelo estímulo condicionado não é um mero desenho na cabeça do animal, mas é uma recriação da experiência e da ação”. Ainda segundo Bueno, Pearce (1987) “[...] considera que as representações internas constituem as unidades fundamentais da cognição animal; uma vez formadas, se constituem nos tijolos da construção de outros processos mentais”. Stein, Bueno e Xavier (1994) demonstraram no Teste do Campo Aberto que quando da inclusão e habituação do animal a um novo objeto no ambiente experimental e, posteriormente, a sua retirada, com esta ausência do estímulo, o comportamento do animal se dirigia ao “objeto representado”. A exploração e o desenvolvimento de novas possibilidades de uso do Teste do Campo Aberto, como a inserção de estímulos no ambiente experimental, objetos, por exemplo, vem permitindo avaliar a reação do animal a estas novidades sobre o seu mapeamento cognitivo e sua memória espacial. Esse método parece ser apropriado para demonstrar possíveis diferenças entre animais normais e animais com danos cerebrais em termos de suas habilidades para adquirir e utilizar informação espacial, bem como para habituação à atividade exploratória com o decorrer do tempo. Poucet (1989), citado por Nahas, (1999). Stein, Kipersmit, Ades, e Xavier (1995), citado por Nahas (1999), investigaram no Teste do Campo Aberto, se a atividade exploratória do animal causada pela omissão de um estímulo, previamente, apresentado é influenciada pela presença desse mesmo estímulo num novo local. Verificou-se que a ausência do objeto causava discrepância no comportamento e a presença dele em outra parte do ambiente causava estabilidade do comportamento, reduzindo os movimentos exploratórios. Segundo Nahas (1999), mudanças no aparelho e nos procedimentos do Teste do Campo Aberto vêm permitindo (1) especificar a natureza das alterações ambientais que são detectadas pelos animais, (2) investigar as propriedades de seus sistemas de memória e (3) avaliar sob que condições é possível induzir a atividade exploratória; ou seja, vem permitindo avaliar as habilidades cognitivas em animais. Como os organismos tendem a se adaptar aos novos ambientes, gradualmente, as respostas de medo do animal só podem ser observadas antes que a adaptação aconteça, por isso as sessões são breves, de 10 minutos. Segundo Nahas (1999), não mais que quatro sessões de exposições do mesmo animal a este ambiente. Os comportamentos observados em cada sessão são as taxas de ambulação e/ou permanência nos círculos (periféricos e centrais), a taxa de excreção de fezes e urina. A elevação da taxa de ambulação, a exploração de setores mais centrais e a diminuição da freqüência de fezes e urina tendem a indicar uma condição de menor resposta emocional de medo. O Protocolo do Teste do Campo Aberto aqui adotado foi construído a partir das categorias comportamentais sugeridas por Nahas (1999), sendo estas adaptadas de Walsh e Cummins (1976). As categorias adotadas são: taxa de ambulação (geral e por círculos); exploração de objeto (real ou representado); taxa de excreção de fezes e urina. O protocolo é composto de três folhas de registro. Na primeira se efetua o registro geral dos comportamentos observados diretamente pelo experimentador; na segunda se obtém um relatório do registro da filmadora que permitira calcular as Taxas de Ambulação; na terceira se produz um relatório individual para cada animal durante as quatro sessões do experimento. Este último servirá de base para as análises entre os grupos. A análise dos dados é desenvolvida com base nos dados individuais de cada animal nas quatro sessões do experimento. A partir deles, se obtém, por médias, os resultados dos grupos estudados. Os dados dos grupos são, estatisticamente, analisados entre si, através de procedimentos estatísticos. E-mail: [email protected] Site: www.lap-am.org