Ano 02 | n.18 | 2004 Anemia Aviária Uma Realidade Nos últimos anos tem havido muita discussão sobre a real importância da infecção pelo vírus da anemia aviária. Principalmente no que se refere à interação deste agente com outros, causadores de demais doenças, assim como seus efeitos no sistema imune das aves. A CAV é caracterizada marcadamente por anemia, aplasia de medula óssea, mortalidade variável, Métodos de diagnóstico Os testes sorológicos indicam a exposição das aves ao CAV, via detecção de anticorpos produzidos em resposta à infecção. Os testes utilizados incluem a imunofluorescência indireta, imunoperoxidase, testes de soroneutralização em cultivo celular e ELISA. A sorologia é o método de diagnóstico mais indicado na monitoria da presença de níveis de imunidade nos lotes. Mas, atualmente, dificilmente tem valor de diagnóstico da doença, tendo em vista à longa duração da Aves que não tenham anticorpos maternos (por volta de duas semanas) são susceptíveis à infecção, mas não desenvolvem a doença clínica. "O cenário mais provável é de que as aves se tornem clinicamente infectadas após o desaparecimento dos anticorpos maternos. As conseqüências de uma infecção subclínica podem ser graves uma vez que a imunidade em resposta à infecção e evidências de alta soroprevalência do vírus em plantéis de aves comerciais. Isolamento viral - O diagnóstico da presença de infecção ativa pelo CAV é feito pelo isolamento do vírus em células MSB-1 ou in vivo em pintos SPF de um dia. PCR - O diagnóstico por PCR (teste de polimerase em cadeia) permite a detecção de CAV de forma mais rápida e específica por meio da infecção por CAV interfere no desenvolvimento da imunidade mediada por células, contra outros patógenos" (Karel A. Schat Conferência Apinco, 2004). As galinhas são o único hospedeiro natural do vírus, que se encontra distribuído mundialmente. Foi isolado no Brasil em 1990 (Brentano et. al), em lotes de frangos de corte. Divulgação/ARS Photo Unit/USDA/Peggy Greb A Anemia Infecciosa das Galinhas (CAV) é uma doença que acomete aves jovens. Causada por um Circovirus, "as infecções podem permanecer latentes nos tecidos reprodutivos, na presença ou na ausência de anticorpos, e o vírus latente pode ser passado para a geração seguinte através do embrião" (Schat, 2004). atrofia generalizada de órgãos linfóides, retardo no crescimento e imunossupressão. A doença foi descrita pela primeira vez em 1979 no Japão. Surtos da doença clínica são observados, principalmente, em lotes de duas a cinco semanas de idade, causando significativo impacto na produção, especialmente em frangos de corte. amplificação do genoma do vírus presente em órgãos de aves infectadas, ou do vírus isolado em cultivos celulares, através da utilização de "primers" específicos a seqüências de DNA conhecidas do genoma de amostras padrão do CAV. Outros métodos de diagnóstico que também podem ser empregados são: isolamento em ovos embrionados, imunohistoquímica e a hibridização "in situ". (Doença das Aves, Facta, 2000). CARACTERÍSTICAS O vírus da anemia aviária é altamente resistente à inativação química e ao calor. Isto lhe confere a capacidade de persistir e disseminar-se no ambiente. O vírus resiste ao fenol 5%, amônia quaternária 5% e a pH 3 por três horas. Resiste também à fumigação por 24 horas com formaldeído ou óxido de etileno, e ao calor de 56º C ou 70º C por uma hora. O vírus é completamente inativado por calor de 100º C, mas desde que submetido a esta temperatura durante 15 minutos. O CAV não resiste a fenol 50% por cinco minutos. É inativado por iodo e por hipoclorito de sódio em concentrações de pelo menos 10% por duas horas, a 37º C, mas não nas concentrações usuais de uso de 2%. Contudo, a inativação e completa eliminação do vírus em granjas é considerada difícil, além de cara, devido às altas concentrações necessárias de agentes químicos para uma efetiva inativação (Brentano - Doença das Aves, 2000). IMUNOSSUPRESSÃO DEVIDO À CAV Sempre que o vírus da anemia infecciosa infectar uma ave ele poderá induzir imunossupressão. Obviamente a imunossupressão mais severa será notada quando ocorrer anemia, uma vez que nesta situação observa-se uma pancitopenia generalizada com redução significativa dos leucócitos totais. Em função da perda ou redução funcional dos macrófagos durante a infecção, e mesmo com aparecimento dos anticorpos circulantes contra o vírus da anemia, num período de 14 a 28 dias após infecção, nota-se uma diminuição da transformação e ativação dos linfócitos T citotóxicos (CTL) e na produção de citocinas (IL-2, II-1) e interferon. No entanto, se uma ave jovem ou adulta sem anticorpos e imunocompetente (sem imunossupressão) sofrer infecção natural, apesar de não se notar sintomas e lesões, ocorrerá imunossupressão, já que o vírus se multiplica em monócitos e macrófagos (McConell et al, 1993 a, b). Segundo Karel A. Shat (Conferência Apinco, 2004) estudos sobre doenças que causam imunossupressão em aves devem, em um primeiro momento, descartar a infecção destas por CAV, pois este tem interação com os demais agentes, mascarando os resultados obtidos. Macrófagos do baço e da medula óssea apresentam redução na produção de interleucina e na expressão do receptor Fc, da fagocitose e da atividade bactericida (Adair et al 1991; McConnel et al 1993 a, b). Quando o assunto é imunossupressão, é importante levar alguns pontos em consideração, tais como: - Associação de CAV a outro agente com efeito sinérgico. Exemplo: reovirus, gumboro, clostridioses, coccidiose, entre outros. PATOGENICIDADE A severidade da CAV a campo pode ser bastante variável, estando diretamente vinculada a diferentes fatores: título viral, idade das aves, imunidade, fatores de ambiente (stress, agentes imunodepressores) e via de infecção. - Imunodeficiência pré-existente favorecendo a multiplicação do CAV e, portanto, imunossupressão por CAV. Exemplo: Marek, reovirus e gumboro. Entretanto, deve-se determinar qual o agente primário. TRANSMISSÃO DO VÍRUS O vírus da anemia aviária é transmitido verticalmente pela matriz ao embrião, infectando sua progênie; ou horizontalmente, através do contato com pintos infectados verticalmente; ou por camas contaminadas, onde a disseminação do vírus é favorecida pela resistência do CAV à inativação. Na transmissão horizontal, a principal via de infecção é oral, principalmente a partir do vírus excretado por meio das fezes de aves infectadas. Foi verificado que o CAV pode permanecer nos tecidos das gônadas por, pelo menos, 40 semanas depois da soroconversão. Além disso, o agente também foi detectado nos tecidos das gônadas na ausência de soroconversão (Karel A. Schat Conferência Apinco, 2004). - Imunodepressão gerada pela anemia causando perda de eficiência de outras vacinas. Sorologia realizada no Centro de Pesquisa - Biovet Ibiúna/SP - 2003/2004* - ELISA - POSITIVOS X TOTAL 80 70 Protocolos - 2003/2004* Em condições experimentais demonstrou-se que as vias nasais, oculares e orais são suficientes para causar anemia, e que a infecção por contato é assintomática (Yuasa, 1990). Os impactos econômicos da ocorrência clínica e subclínica da CAV em frangos de corte foram analisados por Mclroy et al (1992) e McNulty et al (1991). O mais importante, porém, deve ser o impacto da imunossupressão. 60 50 Positivo 40 Total 30 20 10 0 Matrizes Pesadas Frango de Corte Postura Comerical *Exames realizados até abril de 2004. Observações: 1) Os exames realizados em lotes de matrizes pesadas somente foram feitos em lotes não vacinados e maiores de nove semanas. 2) Os exames realizados em lotes de frangos de corte foram feitos em aves de um dia de idade ou com mais de 30 dias de idade. 3) Os exames realizados em aves de postura comercial foram feitos em aves não vacinadas e em aves de todas as idades (recria e produção). Sempre alerta O retorno à praia da Conferência Apinco não decepcionou. Realizada de 4 a 7 de maio em Santos (SP), o evento contou este ano com 941 participantes inscritos. Durante a programação, cerca de 50 palestras, conferências e mesas-redondas foram apresentadas sobre os mais diversos assuntos de interesse avícola. A imunossupressão gerada pelo CAV, como já descrito, reduz significativamente a imunidade celular, independente do restabelecimento da função da medula óssea. Lotes de frangos infectados verticalmente tiveram redução de 17,3% a 19,6% na sua rentabilidade devido a perdas de produtividade comparativas a lotes normais. O peso corporal ficou entre 3,3 % e 3,5% inferior, e os índices de mortalidade, 2,0% a 2,3% maior (Mclroy et al Avian Diseases, 1992). O mesmo grupo de pesquisadores liderados pelo Dr. McNulty fez um amplo levantamento em frangos de corte sem sintomas clínicos da CAV. Os pesquisadores constataram o seguinte: lotes sorologicamente negativos para CAV apresentaram ao serem abatidos, 2,0% de melhora nos índices de conversão alimentar, 2,5% melhor peso vivo ao abate e 13% maior rentabilidade que os lotes positivos. IMPORTÂNCIA DE ANTICORPOS NO CONTROLE DE SURTOS DA DOENÇA Os anticorpos passivos transferidos se mantêm na progênie por até três semanas. A queda de anticorpos maternos inicia um período susceptível em que aves podem vir a se infectar horizontalmente desenvolvendo, porém, uma infecção subclínica e subseqüente imunidade ativa contra o vírus. Portanto, a presença de anticorpos ao CAV, em frangos de corte em idade de abate, é um diagnóstico da infecção subclínica no lote. PREVENÇÃO E CONTROLE O controle da CAV é baseado na transferência de imunidade passiva das matrizes à progênie. Reiterando, a CAV pode ser controlada, desde que seja assegurada que as matrizes desenvolvam adequada imunidade, mediada por anticorpos neutralizantes, antes do início do período de postura, para transferência via ovo, de anticorpos maternos passivos em níveis suficientes como forma de prevenir a transmissão vertical do vírus à progênie, reduzindo assim a ocorrência de surtos da doença a campo. A rotina para controle do CAV nos plantéis de matrizes deve se basear na avaliação sorológica de lotes de matrizes entre 10 e 18 semanas de idade para determinar se 100% das aves no lote são imunes e se apresentam ou não níveis altos de anticorpos para decisão da adoção de estratégias de imunização das aves, antes do início do período de postura. A recomendação, para imunização de matrizes, da alimentação com camas de aviário contaminadas com CAV é uma prática que impõe sérios riscos de contaminação e disseminação de outros agentes patogênicos; além do que, é claro, não se pode precisar a dose que irá infectar as aves, o que pode gerar conseqüências desastrosas, uma vez que se pode ter no mesmo lote aves com proteção induzida pelo contato com o agente, aves sem proteção e aves com a doença, pois a carga viral poderá ter sido demasiada. CONCLUSÕES Hoje a CAV é uma realidade nos plantéis aviários de todo o Brasil. Com base em um levantamento sorológico realizado em plantéis de frango de corte, matrizes pesadas e leves, e aves de postura comercial foi possível constatar que há atividade viral do CAV em todas as regiões do País, bem como em todos os segmentos da avicultura comercial. Portanto, é preciso ficar atento à CAV. Afinal, muitas vezes a preocupação ocorre tendo em vista os surtos de gumboro, coccidiose, bronquite infecciosa, entre outras, onde não se consegue encontrar a causa pela dimensão do problema, e deixa-se de lado este "inimigo oculto". Para o departamento técnico avícola do Laboratório Biovet, porém, merece destaque entre as palestras da Conferência Apinco 2004 a apresentação "Anemia Infecciosa das Galinhas: etiologia e patogenia", proferida pelo especialista Karel Antoni Schat, da Universidade Cornell (EUA). Nem sempre relacionada entre as enfermidades que mais provocam prejuízos à atividade, a CAV (como é chamada) representa um grande desafio para os avicultores. Nesse sentido, a apresentação de Schat foi bastante esclarecedora. "Não tanto no sentido de apresentar novas descobertas sobre a enfermidade, mas sim no sentido de confirmar e reforçar tudo aquilo que vínhamos discutindo com nossos clientes", comenta o médico veterinário Marcelo Zuanaze, do departamento técnico avicultura do Biovet. Dessa forma, a apresentação atestou que a linha de trabalho dos profissionais do Laboratório segue no caminho certo. "Sem desconsiderarmos outras enfermidades, é certo que não deixamos passarem despercebidos problemas como a CAV, que como bem mostrou Schat, pode acarretar sérios transtornos aos avicultores. Há muito tempo nossos clientes estão alertas quanto a isso". Mercados & Afins Divulgação Prefeitura de Santos Prêmio Lamas Um dado curioso da Conferência Apinco 2004, realizada no início de maio em Santos (SP). Segundo o AviSite (www.avisite.com.br) mais de 50% do total de trabalhos pré-selecionados para concorrer ao Prêmio de Pesquisa Avícola José Maria Lamas da Silva referiam-se exclusivamente à área de nutrição, 22% a outras áreas, 18% a sanidade e 7% a manejo e incubação. A Faculdade de Ciências Agrárias da Unesp de Jaboticabal (SP) destacou-se na tradicional premiação realizada durante a Conferência Apinco. Santos tem o maior jardim frontal de praia em extensão do mundo segundo o Ginness World Records K3 na nutrição das aves Estudos demonstram que a vitamina K3 atua no sistema de coagulação sanguínea. A sua deficiência resulta no aparecimento de hematomas, aumentando os problemas advin- dos desta situação como, por exemplo, condenações de carcaça pela presença destes hematomas. Indesejáveis do ponto de vista econômico, problemas desta ordem prejudicam a lucratividade sem que o produtor perceba. Os nutricionistas devem ficar atentos à formulação das dietas para se adequar corretamente aos níveis de suplementação dessa vitamina. Micoplasmas A Embrapa Suínos e Aves editou, entre outras publicações da série Circular Técnica, os números 31 e 40 que contêm informações sobre micoplasma. O número 40 intitula-se, por exemplo, 'O Mycoplasma synoviae em galinhas comerciais' e relata, de forma resumida, os principais resultados de pesquisa alcançados nesses últimos anos pela entidade em sua linha de trabalho com MS. Esses micoplasmas - incluindo o Mycoplasma gallisepticum - conforme informa o pesquisador Laurimar Fiorentin, são objeto de grande preocupação para os avicultores. Ciente disso, a Embrapa oferece acesso gratuito ao texto completo das publicações, que podem ser consultadas em www.cnpsa.embrapa.br. Milho 2004 A produção de milho em grão 1ª safra apresenta índice negativo de -2,79%. Os dados, apresentados no final de abril, fazem parte da terceira estimativa para a safra de 2004, calculada pelo IBGE no Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) com base em dados coletados no mês de março. Para o milho 2ª safra, espera-se uma produção da ordem de 11,865 milhões de toneladas, 10,77% inferior à colhida em 2003 (13,298 milhões de toneladas). Expediente O Informativo Técnico Biovet/Avicultura é uma publicação mensal dirigida aos clientes, fornecedores e colaboradores do Laboratório. O compromisso de qualidade da publicação é o mesmo firmado diariamente na nossa planta de produção e repassado a todos os nossos produtos e lançamentos. Os interessados em receber o informativo devem enviar seus dados postais por meio do site www.biovet.com.br Laboratório Bio-Vet S/A (Rua Coronel José Nunes dos Santos, 639 Centro - CEP 06730.000 - Vargem Grande Paulista - SP - Tel. 11.4158.8200). Supervisão: Médico Veterinário Hugo Scanavini Neto. Editora responsável: EiraCom - Registro especial conforme art. 1º do Decreto-lei nº 1.593, de 21 de dezembro de 1977, concedido pela ARF/Itu sob nº de identificação 13876.000763/2001-92 (Senapro/Ministério da Fazenda/Serpro). Jornalista responsável: Alessandro Mancio de Camargo (MTb 24.440). Diagramação: André Chiodo Silva Impresso em papel reciclado Nos estados produtores, as maiores reduções são observadas na produção do Paraná (-28,47%) e de Goiás (-31,05%). As razões dessas quedas significativas na estimativa para 2004 nos dois estados são os preços, considerados pouco remuneradores pelo mercado, mas também problemas de calendário agrícola. Devido às irregularidades climáticas, houve atraso na colheita da soja e, conseqüentemente, também no início do plantio do milho 2ª safra, o que aumentaria os riscos para o produtor, pois tecnicamente não é aconselhável plantá-lo fora da época recomendada. Olho nos números No início dos anos 70, um quilo de frango valia em torno de R$ 5,00. Em março passado, a produção de carne de frango no país somou 691 mil toneladas, alta de 9,52% sobre igual mês de 2003. As exportações de carne de frango geraram receita cambial de 569,8 milhões de dólares no primeiro trimestre.