Ano XII - Nº 40 - Janeiro / Fevereiro / Março de 2011 Preparação de um experimento que visa determinar a produtividade primária das algas, executado no braço Taquacetuba (Billings) Limnologia O estudo das águas continentais O pequeno percentual da água do Planeta, que reside nos continentes, deverá ser o “ouro azul” das gerações futuras. A Limnologia é a ciência que estuda esses ambientes aquáticos. Segurança de Barragens pág. 31 Foi sancionada a Lei 12.334 que estabelece a Política Nacional de (PNSB) e cria o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB). Veja entrevista com o superintendente de Manutenção estratégica da Sabesp. Fenasan 2011 e Encontro Técnico da AESabesp pág. 50 Expositores/ apoiadores de todo o País e grupos internacionais e principalmente empresas sediadas na Europa e na Ásia, fabricantes e prestadoras de serviços para o setor, lotam a área do maior evento em saneamento da AL. Editorial Trazemos mais um tema importante e assuntos pertinentes para sua informação Nesta edição, temos como tema de capa, um assunto pouco difundido e que vai se impondo pela importância no contexto atual: A LIMNOLOGIA. O estudo de todos os tipos de águas interiores, tais como lagos, lagoas, reservatórios, rios, açudes, represas, riachos, brejos, áreas inundáveis, águas subterrâneas e nascentes, é um desdobramento decorrente dos trabalhos desenvolvidos pelos pesquisadores, que hoje se traduz numa importante base de informações referentes às dimensões, concentração de sais, comunidades bióticas, entre outras, que subsidiam os gestores ambientais na compreensão e alternativas de solução dos problemas decorrentes de ações humanas que afetam os ecossistemas aquáticos. Do grego limne que significa lago e logos que significa estudo, a limnologia originalmente tinha como objetivo estudar os ambientes lacustres. Com o passar do tempo, pela força da própria necessidade de busca de respostas, naturalmente foram criados grupos de estudos dirigidos, que se especializaram de acordo com as necessidades de manejo desses recursos aquáticos. A agressão, cada vez mais intensa decorrente das atividades desenvolvidas pela ação humana, obriga o homem a preocupar-se com as consequências de suas atividades, principalmente na preservação dos recursos hídricos, imprescindível para as atividades pesqueiras, agrícolas e industriais e, sobretudo, para a sobrevivência da vida. Esta matéria tema, descrita por especialistas, retratará a complexidade e abrangência de todo o contexto em que estará inserida a Limnologia e detalhará pormenorizadamente cada tópico importante nesse estudo, de forma simples e objetiva. Também nesta edição estaremos discorrendo sobre segurança das barragens, regulamentada pela lei n 12,334/10 que estabelece a Politica Nacional de Segurança de Barragens(PNSB) e cria o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens(SNISB). A Sabesp, como empreendedora e responsável pela operação de barragens para abastecimento de água, também deverá adequar-se às exigências dessa lei. Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 Hoje, os dados de operação e manutenção de barragem são monitorados, sistematizados e disponibilizados, quando exigidos. Apesar de ainda termos alguns meses pela frente, também não podemos deixar de destacar que a edição de 2011 da Fenasan e Encontro Técnico da AESabesp, que mais uma vez supera todas as expectativas de número de expositores, sinalizando claramente o bom momento do setor e, subliminarmente, a credibilidade da nossa entidade. Esta gestão tem se empenhado firmemente para que este evento, o maior do setor na América Latina, continue sendo a vitrine de técnica e da tecnologia na seara do saneamento ambiental, abrindo espaços para profissionais e empresas que labutam no setor, permitindo a difusão de conhecimentos e experiências desenvolvidas em prol da melhoria da qualidade de vida. Penso que a AESabesp tem representado honradamente o setor , sempre sóbrio e sério nas suas atividades, comprovadas pela fidelidade das empresas, ao longo de todos esses anos, e dos profissionais que engrandecem o nosso congresso expondo seus valiosos trabalhos. Mais uma vez ressalto a importância da Sabesp, que nos dá o suporte da logomarca Sabesp, e que garante o sucesso da nossa entidade. O sucesso sempre traz de carona mais desafios e são esses desafios que fazem da AESabesp uma entidade com vocação para crescer. Compartilho com todos os associados cada vitória desta gestão! Hiroshi Ietsugu Presidente da AESabesp Saneas 3 Índice Expediente Saneas é uma publicação técnica trimestral da Associação dos Engenheiros da Sabesp Diretoria Executiva: Presidente - Hiroshi Ietsugu Vice-Presidente - Walter Antonio Orsatti 1º Diretor Secretário - Nizar Qbar 2º Diretor Secretário - Choji Ohara 1º Diretor Financeiro - Yazid Naked 2º Diretor Financeiro - Nélson Luiz Stábile Diretoria Adjunta: Diretor Cultural - Olavo Alberto Prates Sachs Diretor de Esportes - Evandro Nunes de Oliveira Diretor de Marketing - Reynaldo Eduardo Young Ribeiro Diretor de Pólos - Helieder Rosa Zanelli Diretor de Projetos Socioambientais - Luis Eduardo Pires Regadas Diretor Técnico - Walter Antonio Orsatti Diretora Social - Viviana Marli Nogueira A. Borges (Em memória: Cecília Takahashi Votta) 05 Limnologia: o estudo das matéria tema águas continentais 10 14 18 22 24 artigos técnicos Sedimento: o que é como avaliar sua contaminação por metais A importância e problemática das cianobactérias nos reservatórios eutrofizados O processo de implantação da diretiva quadro da água na comunidade européia Invertebrados bentônicos: o que acontece sob nossos pés Interferentes endócrinos: uma nova classe de contaminantes emergentes em águas naturais visão de mercado 27 As avaliações biológicas em reservatórios de abastecimento destaque da edição 31 Foi aprovada a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB) entrevista 34 José Proença fala sobre a manutenção e inspeção das barragens da RMSP matéria sabesp 36 Programa de monitoramento limnológico de rios e represas da Região Metropolitana de São Paulo realizado pela Sabesp 40 Análise da eficiência da várzea do ribeirão Parelheiros na melhoria de qualidade das águas que afluem à represa do Guarapiranga - São Paulo Indicação literária 45 Uma reverência ao mestre José Galizia Tundisi AESabesp - Projetos socioambientais 46 Divulgação dos nossos projetos 48 Acontece no setor Fenasan 2011 / xxii encontro técnico aesabesp 50 O maior evento do setor de saneamento ambiental da AL. Credenciamento e Inscrição já estão abertos 4 Saneas Conselho Deliberativo: Amauri Pollachi, Cid Barbosa Lima Junior, Choji Ohara, Eduardo Natel Patricio, Gert Wolgang Kaminski, Gilberto Alves Martins, Gilberto Margarido Bonifácio, Helieder Rosa Zanelli, Hiroshi Ietsugu, João Augusto Poeta, Marcos Clébio de Paula, Nélson Luiz Stábile, Nizar Qbar, Olavo Alberto Prates Sachs, Paulo Eugênio de Carvalho Corrêa, Pérsio Faulim de Menezes, Reynaldo Eduardo Young Ribeiro, Sonia Maria Nogueira e Silva, Viviana Marli Nogueira A. Borges, Walter Antonio Orsatti e Yazid Naked. Conselho Fiscal: Carlos Alberto de Carvalho, José Carlos Vilela e Ovanir Marchenta Filho Conselho Editorial: Luiz Henrique Peres (Coordenador), João Augusto Poeta, Luiz Eduardo Pires Regadas e Maria Aparecida dos Santos Fundo Editorial: Márcia de Araújo Barbosa Nunes (Coordenadora) Alex Orellana, Celso Roberto Alves da Silva, José Marcio Carioca, Luis Eduardo Pires Regadas, Paulo Rogério Guilhem, Robson Fontes da Costa. Coordenador do Site: Jônatas Isidoro da Silva Pólos AESabesp da Região Metropolitana - RMSP Coordenador dos Pólos da RMSP - Robson Fontes da Costa Pólo AESabesp Costa Carvalho e Centro Maria Aparecida S. de Paula Santos Pólo AESabesp Leste - Nélson César Menetti Pólo AESabesp Norte - Sebastião Matos de Carvalho Pólo AESabesp Oeste - Francisco Marcelo Menezes Pólo AESabesp Ponte Pequena - João Augusto Poeta Pólo AESabesp Sul - Paulo Ivan M. Franceschi Pólos AESabesp Regionais Coordenador dos Pólos Regionais - José Galvão de F. R. e Carvalho Pólo AESabesp Botucatu - Rogélio Costa Chrispim Pólo AESabesp Caraguatatuba - Silvio Antunes Pólo AESabesp Franca - Antonio Carlos Gianotti Pólo AESabesp Lins - Marco Aurélio Saraiva Chakur Pólo AESabesp Presidente Prudente - Gilmar José Peixoto Pólo AESabesp Vale do Paraíba - Sérgio Domingos Ferreira Coordenação do XXII Encontro Técnico AESABESP e Fenasan 2011: Olavo Alberto Prates Sachs e Walter Antonio Orsatti Comissão Organizadora: Hiroshi Ietsugu, Luis Eduardo Pires Regadas, Maria Aparecida Silva de Paula Santos, Nélson César Menetti, Nizar Qbar, Olavo Alberto Prates Sachs, Osvaldo Ioshio Niida, Regina Mei Silveira Onofre, Reynaldo E. Young Ribeiro, Tarciso Luis Nagatani e Walter Antonio Orsatti. Órgão Informativo da Associação dos Engenheiros da Sabesp Jornalista Responsável: Maria Lúcia S. Andrade – MTb. 16081 PROJETO VISUAL GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Neopix Design [email protected] www.neopixdesign.com.br Associação dos Engenheiros da Sabesp Rua Treze de Maio, 1642, casa 1 Bela Vista - 01327-002 - São Paulo/SP Fone: (11) 3284 6420 - 3263 0484 Fax: (11) 3141 9041 [email protected] www.aesabesp.org.br Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 matéria matéria tema tema Limnologia: o estudo das águas continentais A grande maioria da quantidade de água do Planeta Terra está no oceano. Mas é o pequeno percentual que reside nos continentes que pode se constituir no “ouro azul” das gerações futuras: a água doce. Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 Saneas 5 matéria tema A Limnologia é a ciência que estuda as águas continentais. Sua origem remonta ao início do século 20, quando François Forel iniciou seus estudos no lago Léman (Genebra, Suíça). Muito embora tenha sido originalmente desenvolvida com o objetivo de estudar os lagos, atualmente abrange lagoas, lagunas, reservatórios, rios, riachos e áreas inundáveis. A vulnerabilidade da qualidade ambiental dos ecossistemas aquáticos continentais requer um esforço de pesquisa direcionado ao conhecimento da estrutura e funcionamento desses ambientes. E é dentro desse contexto que a Limnologia vem se destacando como uma das mais atuantes áreas da Ecologia, tendo em vista a sua contribuição no desenvolvimento da teoria ecológica. Além disso, a crescente deterioração da qualidade da água doce e a redução de sua disponibilidade encontram na limnologia sólidas teorias e ferramentas para contribuir na compreensão e na solução desses problemas. Numa definação bem básica, os ambientes lacustres são depressões preenchidas com água e sedimen- tos provenientes do ambiente terrestre, ao longo do tempo geológico. Ainda somam-se um fluxo de energia e a ciclagem de nutrientes, como o nitrogênio (N) e fósforo (P), que promovem o aumento da produtividade dos lagos. No cenário contemporâneo, as alterações no uso e ocupação do solo, como a remoção da vegetação nativa, agricultura, pecuária, urbanização, poluição difusa e lançamento de efluentes domésticos e industriais em dada bacia de drenagem tem aumentado os fluxos de sedimentos e de nutrientes para os ecossistemas aquáticos. Com isso, o seu processo de envelhecimento é acelerado causando alterações indesejáveis no ambiente aquático, como por exemplo, as florações de algas nocivas, capazes de produzir toxinas e o assoreamento. Esse processo é chamado de eutrofização e envolve a passagem do estado oligotrófico (baixa produtividade) para mesotrófico (produtividade média) e eutrófico ou hipereutrófico (alta produtividade). A eutrofização ao longo do tempo geológico é considerada como o envelhecimento natural dos lagos. Considerações de especialista Para discorrer sobre os procedimentos e a importância da aplicação da limnologia ao meio ambiente, e, por consequência na estrutura do setor de saneamento básico, convidamos o Prof. Dr. Marcelo Luiz Martins Pompêo (*), professor do Departamento de Ecologia, do Instituto de Biologia da USP- Universidade de São Paulo: 6 Saneas Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 matéria tema A Limnologia é uma área de atuação da Ecologia e muito tem a contribuir no estudo dos ecossistemas aquáticos. Suas abordagens e ferramentas auxiliam na compreensão dos problemas passados e presentes que afetam os ecossistemas aquáticos brasileiros e ao mesmo tempo subsidiam com informações qualificadas os gestores dos ambientes, em particular quando ações de manejo são necessárias e empreendidas nas represas utilizadas para o abastecimento público, foco de análise deste documento. O limnólogo estuda a estrutura e dinâmica do ecossistema aquático, em particular o continental, mas devido a dificuldades no estudo de toda complexidade de uma dada massa de água, relativa aos aspectos físicos, químicos e biológicos e suas interações, muitos dos limnólogos tornam-se especialistas em uma área do conhecimento. Macrófita da represa do Guarapiranga. A espécie (Limnobium laevigatum (Humb. & Bonpl. ex Willd.) Heine) é da família Hydrocharitaceae. Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 Assim, encontramos grupos de pesquisa que privilegiam o estudo do fitoplâncton, do zooplâncton, do zoobentos, de macrófitas aquáticas, de peixes, ou outra comunidade aquática. Relativo ao fitoplâncton há ainda grupos que se especializaram no estudo das cianobactérias, desenvolvendo pesquisas na intenção de compreender porque e como esses organismos potencialmente tóxicos muitas vezes crescem de maneira explosiva, comprometendo a qualidade da água bruta empregada no abastecimento público. Da mesma forma que para o fitoplâncton, também encontramos no Brasil grupos de pesquisas que empreendem esforços em estudos de campo e laboratório com as plantas aquáticas, chamadas pelos especialistas de macrófita. Estas plantas também podem crescer de forma descontrolada e cobrir significativa porção do espelho de água ou do sedimento do reservatório trazendo inúmeros transtornos ou momentaneamente impedindo alguns dos usos múltiplos desse sistema. Estudos em laboratório permitem determinar as amplitudes ecológicas (faixas de ótimo de crescimento) de dada espécie de macrófita frente a alguns fatores ambientais. Além dos aspectos biológicos, outros grupos de pesquisa estudam questões mais físicas ou químicas do sedimento ou da massa de água. No caso do sedimento, estes estudos visam compreender quais são e como se transformam os diferentes compostos químicos levados ao corpo de água e sedimento, por exemplo. Relativo à massa de água, ainda é importante compreender a dinâmica do nitrogênio e do fósforo, dois dos principais nutrientes responsáveis pela ele- Saneas 7 matéria tema Rio Pequeno na represa Billings vada produtividade biológica observada em inúmeros reservatórios brasileiros, principalmente os localizados próximos às áreas urbanas, como os reservatórios Billings e do Guarapiranga (Estado de São Paulo). Assim, a eutrofização, compreendida como o processo de enriquecimento artificial de uma dada massa de água, com nutrientes normalmente provenientes do lançamento de esgotos não tratados, e seus efeitos secundários, como o intenso crescimento fitoplanctônico ou de macrófitas, por muitos anos ainda será importante foco da atenção dos limnólogos brasileiros. Mas no presente também é fundamental não só quantificar as concentrações de metais, cianotoxinas (compostos tóxicos produzidos por cianobactérias), substâncias emergentes (como fenol e bisfenol), ou outros compostos, mas também são necessárias informações sobre o potencial efeito tóxico dessas substâncias. Muitos dos compostos empregados nas diversas atividades humanas não trazem transtornos à biota aquática ou ao homem, se em baixas concentrações, mas, em concentrações elevadas ou mesmo em baixas concentrações e constantemente em contato com os organismos, têm efeitos prejudiciais ao indivíduo, à população ou à comunidade. Assim, complementam os estudos limnológicos a avaliação dos efeitos ecotoxicológicos (bioensaios), 8 Saneas Professor Marcelo Pompêo em preparação de um experimento que visa determinar a produtividade primária das algas. desses compostos sobre a biota, que podem ser extrapolados ao próprio homem e aos usos que o homem faz desse sistema, mediante testes em laboratório, empregando avaliações em diferentes níveis de organização (molecular, celular, organismo, população, comunidade e ecossistema). As informações levantadas nesses testes deveriam subsidiar ações de manejo e restauração empreendidas na massa de água, sedimento e na bacia de captação, direcionando políticas públicas relativas aos usos e ocupação dos espaços na área da bacia de drenagem do reservatório. O limnólogo também tem muita necessidade de conhecer em nível específico a flora e a fauna de dado reservatório. A listagem de espécies (riqueza), sua abundância absoluta e biovolume, por exemplo, somado ao levantamento dos aspectos físicos e químicos, permite observar e concluir com muito mais propriedade e segurança do que apenas com os necessários Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 matéria tema Canal de saída de água para o leito ampliado do Rio Juquery dados físicos e químicos da massa de água ou sedimento. Assim, muitas vezes os limnólogos também são os principais especialistas na identificação de diversos grupos de organismos, como o fitoplânctom, o zooplâncton, as macrófitas e os organismos bentônicos. Mas é necessário lembrar que uma massa de água, principalmente em grandes reservatórios, não é um ente uniforme ou mesmo homogêneo. O limnólogo também se preocupa em observar a existência de diferenças no espaço, tais como a formação de compartimentos no reservatório, refletindo em porções do reservatório com distintas qualidades de água e muitas vezes na estrutura da comunidade constituinte. A observação da existência de compartimentos permitirá ações de manejo mais direcionadas, aplicadas apenas na porção do reservatório considerado problema, com maior eficiência no resultado esperado, de menor custo financeiro e de menor risco aos outros usos do sistema e ao homem. Ao longo do ano também podem ser observadas mudanças na qualidade da água e na comunidade constituinte, em parte seguindo o ritmo dos ciclos climáticos anuais. Isso implica que o limnólogo também tem por premissa considerar no delineamento experimental de seus estudos amostragens em diferentes épocas do ano, particularmente quando o objetivo é Atividade no Reservatório Paiva Castro. compreender a dinâmica do sistema. Hoje a Limnologia é uma ciência consolidada no Brasil. Há inúmeros grupos de pesquisa e especialistas distribuídos em praticamente todo território nacional, com competência técnica, conceitual e metodológica no campo da limnologia. Há também inúmeros programas de pós-graduação em ecologia, principalmente, que formam especialistas em limnologia. No entanto, as engenharias, a física, a química, a geografia, a geociências, a geomática, como áreas de interface, também contribuem na consolidação dessa ciência e na formação de recursos humanos. Além da vocação natural aos estudos ecológicos relacionados à estrutura, função e dinâmica dos ecossistemas aquáticos, mais fechados às abordagens teóricas ou conceituais da Ecologia, a aplicabilidade de seus levantamentos e conclusões é quase imediata. Estas competências conferem ao limnólogo a obrigatoriedade para compor qualquer equipe multidisciplinar responsável pela gestão, monitoramento e manejo de reservatórios, em particular nas empresas de saneamento básico, carentes da atuação desses profissionais em seus quadros funcionais, pois em sua grande maioria as pesquisas em limnologia ainda são conduzidas nas universidades ou institutos de pesquisas públicos brasileiras. (*)Marcelo Luiz Martins Pompêo é limnólogo de formação, graduado em Ciências Biológicas, pela Universidade Federal de São Carlos; mestre em Engenharia Hidráulica e Saneamento e doutor em Ciências da Engenharia Ambiental, ambos pela Universidade de São Paulo. Atualmente é professor na USP- Universidade de São Paulo - Instituto de Biociências - Depto de Ecologia. Os artigos técnicos que registraremos a seguir nos foram enviados, por meio de sua intervenção e colaboração com esta Revista. Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 Saneas 9 artigo técnico SEDIMENTO: COMO AVALIAR SUA CONTAMINAÇÃO POR METAIS Por Carolina F. Mariani; Marcelo L. M. Pompêo Depto. de Ecologia, Instituto de Biociências, USP, Rua do Matão, travessa 14, n° 321 Cidade Universitária, Butantã, CEP: 05508-090, São Paulo (SP), TEL: +55 11 3091-7565 - FAX: +55 11 3091-7600 [email protected] 10 Introdução Valores-Guia de Qualidade de Sedimento Sedimentos, no sentido semântico da palavra, são partículas depositadas. Essas partículas podem ser derivadas de rochas ou de materiais biológicos e podem ser transportadas por fluidos (água e ar, principalmente). Alguns autores distinguem sedimento em transporte daquele já depositado (sedimento de fundo). Este último é um compartimento importante para o ambiente aquático, por acumular substâncias e por constituir parte ativa do sistema natural, reprocessando o material nele contido, seja por meios químicos, físicos ou biológicos. Os sedimentos também servem como substrato e como habitat para diversos organismos, desde bactérias e fungos até macro-invertebrados, moluscos e alguns peixes. Muitos organismos bentônicos (como são chamados aqueles que habitam o substrato de fundo) servem de alimento para níveis tróficos superiores. Atualmente, os sedimentos vêm sendo amplamente estudados quando no que tange poluição. Isso acontece principalmente por eles serem um compartimento de acúmulo de substâncias (contaminantes ou não) no ambiente aquático, pois suas camadas são depositas subsequentemente, podendo ser usado como um histórico daquele ambiente. Além disso, substâncias contaminantes que entram no sistema aquático são, eventualmente, depositadas no fundo quando a corrente de água diminui de velocidade. Tais substâncias podem ser, então, liberadas de maneira gradual para a coluna de água. Quando isso acontece, o sedimento age como fonte difusa desses contaminantes, mesmo após a desativação da fonte primária de poluição. Devido a essa propriedade, os sedimentos de alguns locais muito poluídos no mundo precisam ser monitorados constantemente. Como exemplo, o lago Orta, no norte da Itália, cujo acompanhamento devido à poluição por metais se dá há mais de 60 anos. Com a intensificação das atividades antrópicas, em especial a partir da Revolução Industrial, muitas substâncias tóxicas foram lançadas no meio ambiente e depositadas nos sedimentos, dentre elas, metais. Diferentemente de outros compostos tóxicos, os metais não são degradados, portanto, se acumulam. A partir de então, começou-se a discutir sobre qualidade do sedimento e sobre os teores que, acima dos quais, poderia haver consequências adversas à biota daquele ambiente. Esses teores ficaram conhecidos como “Valores-Guia de Qualidade de Sedimento”. Saneas Figura 1 – Processos físicos, químicos e biológicos ocorrendo no sedimento e em sua interface com a coluna de água. Modificado a partir de Santos (1999) e Chapman et al. (1999). O termo “biogeoquímica” é comum ser usado quando se trata de estudos de sedimento. “Bio” se refere aos organismos vivos (fungos, bactérias, macroinvertebrados, etc), “Geo” se refere às rochas, solos, ar e água, componentes minerais dos sedimentos, e a “química” integra os dois primeiros. Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 artigo técnico Coagulação, sorção/dessorção, ressuspensão e bioturvação se referem a processos físicos que acontecem com as partículas de sedimento. Coagulação acontece quando as partículas se aglutinam e formam uma nova partícula maior. Sorção ou adsorção acontece quando substâncias se aderem à superfície das partículas. Dessorção é o contrário. Bioturvação acontece quando os organismos que vivem no sedimento ou sobre este revolvem as partículas depositadas, causando ressuspensão ou simplesmente facilitando algum processo biológico ou físico. As tentativas iniciais de se estabelecer valores-guia basearam-se nas concentrações de metais que eram esperadas ocorrerem naturalmente no ambiente. Esses valores ficaram conhecidos como “background”. No Brasil, adotou-se o termo “Valor de Referência Regional” (VRR) ao invés do termo em inglês, já que esses valores precisam ser estabelecidos regionalmente, dentro dos limites da bacia de drenagem. Isso acontece porque geologia e seus processos (tipo de rocha-mãe, intensidade de intemperismo e condições de erosão e sedimentação) interferem na composição natural dos solos. O problema para se estabelecer esses valores é encontrar locais dentro da bacia de drenagem em que a atividade antrópica fosse historicamente nula. Isso foi resolvido com a metodologia de datação das camadas sedimentares usando-se isótopos radioativos. Deste modo, foi possível saber a idade de cada camada sedimentar e o teor de metais que elas continham. Relacionando as informações, concluía-se qual o teor de metal no sedimento quando a influência era apenas da natureza. No Brasil, existem poucos trabalhos que visaram estabelecer esses valores de referência regionais. No entanto, o sedimento é composto de uma mistura de substâncias de diferentes origens e classes (inorgânicas e orgânica em diferentes estágios de decomposição). Aliado a isso, existem muitos processos físicos, químicos e biológicos ocorrendo no sedimento e na sua interface com a água que influenciam em sua composição, interferem na especiação de metais e na sua diagênese (processos pós-deposicionais). Isso pode trazer implicações na biodisponibilidade (forma em que se encontra a substância que pode ser assimilada pelos seres vivos) por favorecer a remobilização ou o sequestro dessas substâncias pelos organismos. Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 Atividade antrópica significa aquela que é realizada pelo homem. Por isso, logo foi possível perceber que a abordagem de “Valores de Referência Regional”, embora fornecesse informações importantes sobre o incremento de metais no sedimento ao longo dos anos, possuía certas limitações quanto às implicações biológicas dos teores de metais. Foram, então, estabelecidos outros valores que levassem em consideração possíveis interferências do teor de metais do sedimento nas populações de seres vivos que lá habitassem ou que usassem os recursos ligados a ele. Equilíbrio de Partição e Efeito Limiar. Duas outras abordagens são as melhores aceitas na literatura atual com relação aos contaminantes metálicos, considerando o significado ecológico. A primeira é chamada Equilíbrio de Partição, e a segunda de Efeito Limiar. A interface sedimento/água é o limite da superfície do sedimento que separa a coluna d’água da fase sólida depositada. Nessa camada, as atividades biogeoquímicas são mais intensas, portanto, a interface tem papel determinante na regulação da concentração da maioria das substâncias e na passagem entre a fase sólida (sedimento) e aquosa (água). O Equilíbrio de Partição (EqP) foi proposto pela agência americana de meio ambiente (EPA, Environmental Protection Agency, http://www.epa.gov/). É um modelo que se baseia em um equilíbrio químico existente entre a fase sólida (partículas de sedimento) e a fase líquida (água intersticial). Segundo esse modelo, os metais estariam ora presos ao sedimento ora livres na água. A espécie química metálica potencialmente mais tóxica aos seres vivos é a forma iônica aquosa, isto é, o íon metálico dissolvido na água, por ser mais facilmente assimilados pelos organismos. Em termos técnicos, diz-se que os metais na forma de íons livres são biodisponíveis. Por outro lado, os metais que permanecem no sedimento estão numa forma que dificilmente são assimilados, ou seja, estão não biodisponíveis. O principal regulador dessa partição dos metais entre sedimento e água, em sedimentos sem oxigênio, é o sulfeto. O sulfeto reage com metais livres na água e forma um composto insolúvel que se deposita no fun- Saneas 11 artigo técnico do. Por isso, enquanto houver sulfeto no ambiente, os metais provavelmente estão depositados no sedimento e não biodisponíveis. O modelo de Equilíbrio de Partição utiliza a relação entre a concentração molar de sulfeto e de metais para dizer se existe probabilidade maior ou menor de os metais estarem livres na coluna d’água (biodisponíveis) ou presos ao sedimento (não biodisponíveis). Concentração molar é a concentração na forma de mol por litro. No caso do cálculo para o EqP, é importante que se saiba a concentração molar tanto de sulfeto quanto de metal, porque a teoria é baseada na reação química entre o metal e o sulfeto, dando origem a sulfeto metálico. No entanto, para que esse modelo seja válido, é preciso haver um ambiente anóxico e redutor, ou seja, não haver oxigênio. Isso porque o sulfeto é um composto reduzido, e que prontamente reage com oxigênio, transformando-se em sulfato. Reação do sulfeto de hiH2S(g) + Fe2+(aq) ↔ FeS(s) + 2H+(aq) drogênio com íon ferro Reação do sulfeto de ferro com um íon metálico divalente (Me2+) FeS(s)↔ ↔ Fe2+(aq)+ S2-(aq) Reação de um íon metálico dissolvido em água (Me2+(aq)) com o íon sulfeto também dissolvido em água. O produto é um sulfeto metálico insolúvel em água (MeS(s)). Me2+(aq) + S2-(aq) ↔↔ MeS(s) Ambiente anóxico significa um local em que a concentração de oxigênio (O2) é muito baixa. Em ambientes aquáticos, a degradação de matéria orgânica mediada por seres decompositores pode consumir todo o oxigênio gasoso dissolvido na água, resultando em um ambiente anóxico. Ambiente redutor é aquele que propicia a formação de compostos reduzidos. Como o oxigênio molecular (O2) é um composto oxidante, em geral, em um ambiente redutor, existe pouco ou nenhum oxigênio molecular. A abordagem de Efeito Limiar foi proposta pela agência ambiental canadense (CCME, Canadian Council of Ministers of the Environment, http://www.ccme. ca/about/). Para se chegar ao valor numérico qualidade de sedimento, foi feito um banco de dados, com informações de diversos trabalhos realizados naquele país, a partir do qual foi gerada uma relação estatística 12 Saneas entre o teor de metais e os efeitos deletérios sobre a biota. De posse desses dados, foram estabelecidos dois valores: PEL (“Probable Effect Level”) e TEL (“Threshold Effect Level”). PEL é o maior valor, e representa a concentração acima da qual os efeitos adversos sobre a biota foram estatisticamente frequentes; TEL é o menor valor, e representa a concentração abaixo da qual os efeitos adversos sobre a biota foram estatisticamente improváveis. Na faixa de concentração entre PEL e TEL estão os teores de metais em que os efeitos adversos sobre a biota foram estatisticamente ocasionais. Espécie química é a forma real com a qual uma molécula ou um íon está presente em solução. Ex. iodo em solução aquosa pode estar sob a forma de I2, I-, I3-, HIO3, IO-, IO3-, ou ainda como par de íon, como íon complexo ou como composto orgânico iodado (Stumm & Morgan, 1996) Muitos países como China, Estado Unidos, Austrália e Nova Zelândia seguiram o exemplo canadense e geraram os próprios valores de PEL e TEL, utilizando um banco de dados com trabalhos regionais, ou até mesmo adotaram os valores integrais do órgão ambiental canadense. O Brasil não estabeleceu seus próprios valores-guia e as comparações com os valores canadenses, embora válidas para o contexto de pesquisa, possuem a limitação de terem tais valores sido gerados em um país de clima temperado. A Resolução Conama n. 344 (Brasil, 2004) é atualmente o instrumento legal que se refere aos sedimentos. Esse documento trata do material a ser dragado, ou seja, retirado do fundo de um rio ou de um porto para melhorar sua navegabilidade, por exemplo. O objetivo é proteger a vida aquática nessas situações em que o sedimento será mexido, através de uma avaliação prévia da concentração de substâncias poluidoras no sedimento e comparação com valores de referência. Para fazer esta lei, foram usados muitos desses valores de referência do Canadá, resultantes dos estudos de Efeito Limiar do CCME, como explicado acima. No entanto, essa lei não se aplica simplesmente para se dizer sobre a qualidade do sedimento e a qualidade do ambiente para os organismos aquáticos; como já se diz no título da lei, ela se aplica para as situações em que o sedimento será mecanicamente removido. Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 artigo técnico Testes de toxicidade Atualmente, os dados químicos de sedimento são usados para se ter uma idéia geral da contaminação do ambiente. A tendência mundial é privilegiar metodologias com valor ecológico, que gerem conclusões sobre o grau de comprometimento do ecossistema como um todo. O uso de diversas linhas de evidência tem sido o mais indicado quando é preciso concluir se um sedimento é ou não poluído, e tomar a decisão de interferir ou não naquele local para amenizar as consequências da poluição. Como exemplo, os testes de toxicidade que submetem organismos-teste a diferentes concentrações de uma amostra poluída e dá resultados quanto à letalidade, capacidade de causar mutação ou câncer. Mesmo com essas novas abordagens, a possibilidade de se comparar os teores químicos com diferentes valores-guia ainda é uma ferramenta bastante utilizada e que serve de base para decisão da necessidade de aplicação de metodologias mais sofisticadas no diagnóstico ambiental. Outros estudos Para complicar um pouco mais a tomada de decisão, estudos mostram que há compartimentação no sistema, isto é, há porções do reservatório, por exemplo, com diferenças estatísticas significativas nos teores de metais, como observado no braço Rio Grande da represa Billings (Mariani & Pompêo, 2008). Outros estudos mostram que processos de estratificação e desestratificação (mistura) da massa de água interferem nos teores de metais na interface água/sedimento (Mariani, 2010 em preparação) em curtos espaços de tempo, como durante a passagem de uma frente fria, ou entre épocas do ano (Padial, 2008), conferindo um fator temporal à análise do sedimento. compartimentação reflete na dinâmica do sedimento, passando pela determinação dos VRR e por diversos testes de toxicidade. Referências Chapman, P.M.; Wang, F.; Adams, W.J. & Green, A. 1999. Appropriate applications of sediment quality values for metals and metalloids. Environmental Science and Technology, 33(22): 3937-3941. Mariani, C.F. & Pompêo, M.L.M. 2008. Potentially bioavailable metals in sediment from a tropical polymictic environment, Rio Grande Reservoir, Brazil, J Soils Sediments, 8: 284–288. Mariani, C.F. 2010. Variação Temporal do teor de SVA/ MES e avaliação integrada do sedimento do braço do Rio Grande (Complexo Billings - SP). Tese de Doutorado, IB, USP. Em elaboração. Padial, P.R. 2008. Qualidade, heterogeneidade espacial e biodisponibilidade de metais no sedimento de um reservatório tropical urbano eutrofizado (reservatório Guarapiranga, SP). Dissertação de Mestrado, Instituto de Biociências, USP. Disponível em www.teses.usp.br. Brasil. 2004. Resolução Conama n. 344, que estabelece as diretrizes gerais e os procedimentos mínimos para a avaliação do material a ser dragado em águas jurisdicionais brasileiras, e dá outras providências. Publicada no DOU núm. 87, de 7 de maio de 2004, Seção 1, páginas 56-57. Santos, A. 1999. A distribuição dos metais no reservatório de captação de água superficial Anhumas - Américo Brasiliense, SP. Dissertação de Mestrado, Instituto de Química de São Carlos, USP. Stumm, W. & Morgan, J.J. 1996. Aquatic chemistry. New York: John Wiley & Sons, Inc., 1022p. Considerações finais Para uma avaliação integrada de determinada massa de água é fundamental o estudo do sedimento incorporando diversas abordagens. Os estudos devem passar por abordagens pontuais, como observar o efeito do processo de mistura sobre os teores de metais, refletidos numa curta escala de tempo. Há também necessidade de desenvolver estudos em escala espacial horizontal permitindo observar a presença de compartimentos no sistema e como essa provável Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 Saneas 13 artigo técnico A IMPORTÂNCIA E PROBLEMÁTICA DAS CIANOBACTÉRIAS NOS RESERVATÓRIOS EUTROFIZADOS por Viviane Moschini-Carlos UNESP, Campus Experimental de Sorocaba. Av. Três de Março, n. 511, Alto da Boa Vista, CEP: 18087-180, Sorocaba, SP. e-mail: [email protected] por Paula Yuri Nishimura USP, IB, Depto. de Ecologia, Rua do Matão, Trav. 14, n. 321, CEP: 05508-900, São Paulo, SP por Marcelo Pompêo USP, IB, Depto. de Ecologia, Rua do Matão, Trav. 14, n. 321, CEP: 05508-900, São Paulo, SP O fitoplâncton pode ser utilizado como indicador de eutrofização, quando detectada florações de cianobactérias, ou de poluição por pesticidas ou metais pesados, através da presença de espécies resistentes ao cobre. A presença de algumas espécies de cianobactérias em altas densidades pode comprometer a qualidade das águas, especialmente quando o reservatório é utilizado para abastecimento público, impondo restrições ao seu tratamento e a posterior distribuição. Atualmente, a biomassa do fitoplâncton, particularmente de cianobactérias, é um dos principais problemas dos reservatórios destinados ao abastecimento público e, consequentemente, de saúde pública. As cianobactérias são organismos procariotos e morfologicamente podem ser unicelulares, coloniais e filamentosas. Existem cerca de 150 gêneros e 2000 espécies de cianobactérias. Estes organismos podem ser encontrados em diversos hábitats, como águas doces, oceanos e solos, com grandes amplitudes térmicas. O sucesso das cianobactérias deve-se: a habilidade em sobreviver com altas e baixas intensidades luminosas, devido à capacidade de produção de pigmentos acessórios necessários à absorção mais eficiente da luz em qualquer habitat, a habilidade para estocar nutrientes essenciais e metabólitos em seu citoplasma, a capacidade para fixar nitrogênio atmosférico através do heterocito, a capacidade para acumular gás (vacúolos gasosos) que permitem movimento e ajuste de posição na coluna de água e formação de acinetos para sobreviver em condições adversas, as estratégias de evitação de predação, como colônias grandes, presença de mucilagem e produção de toxinas (Van den Hoek et al., 1997). Os ambientes lacustres rasos são os habitats mais apropriados para o crescimento das cianobactérias, 14 Saneas sendo que a maioria encontra-se em águas neutroalcalinas (pH de 6,0 a 9,0), em temperaturas entre 15 e 30 0C e com elevadas concentrações de nutrientes, particularmente, o nitrogênio e o fósforo. Em função das características fisiológicas, morfológicas e ecológicas, as cianobactérias apresentam grande capacidade adaptativa às condições luminosas, à turbulência e à quantidade de nutrientes (Mischke, 2003). As florações de cianobactérias necessitam de uma atenção redobrada, pois de 25 a 70% das florações deste grupo fitoplanctônico são tóxicas (Sivonen, 1996). Dos 150 gêneros de Cyanobacteria, cerca de 40 são produtores de toxinas, as cianotoxinas, como os gêneros Anabaena, Aphanizomenon, Cylindrospermopsis, Lyngbya, Microcystis e Planktothrix. Ainda não se conhece exatamente as causas da produção das cianotoxinas, mas sugere-se que desempenhem funções protetoras contra herbivoria (Carmichael, 1992). A exposição humana às cianotoxinas pode ocorrer através de contato dermal, inalação, ingestão oral, intravenosa e bioacumulação na cadeia alimentar. As cianotoxinas podem ser agrupadas segundo três critérios: 1) origem e forma de dispersão no ambiente, 2) estrutura química e 3) ação farmacológica. Segundo a origem e forma de dispersão no ambiente, as toxinas são classificadas em endotoxinas e exotoxinas. As endotoxinas são constituintes da parede celular de bactérias e cianobactérias e são liberadas para a água quando as células morrem e entram em senescência. Sua composição é de polissacarídeos e lipídeos e são consideradas toxinas fracas. As exotoxinas são proteínas (polipeptideos) específicas, de grande ação tóxica. Tanto as endotoxinas quanto as exotoxinas podem ser letais em doses elevadas (Calijuri et al., 2006). Segundo Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 artigo técnico a estrutura química, as cianotoxinas podem ser reunidas em três classes: peptídeos cíclicos, alcalóides e lipopolisacarídeos (Anderson, 1997). A classificação mais usual para as cianotoxinas é em função da ação farmacológica. Os principais grupos são: neurotoxinas, hepatotoxinas, citotoxinas e dermotoxinas. As neurotoxinas são produzidas por espécies e cepas dos gêneros: Anabaena, Aphanizomenon, Lyngbya, Oscillatoria, Trichodesmium e Cylindrospermopsis. Os tipos de neurotoxinas produzidas por esses gêneros são: anatoxina-a, anatoxina-a (s), saxitoxinas (SXT), neosaxitoxinas (Neo-STX) e homoanatoxina-a (Azevedo, 1998). Os sinais de envenenamento são: desequilíbrio, fasciculação, respiração ofegante e convulsões. As hepatoxinas agem diretamente no fígado e constituem-se no tipo mais comum de intoxicação por cianobactérias. Apresenta ação relativamente lenta e a morte é causada através de hemorragia e choque hipovolêmico (aumento do fígado). Os sinais de ingestão são: prostração, anorexia, vômitos, dor abdominal e diarréia. Os gêneros produtores são: Microcystis, Anabaena, Nodularia, Oscillatoria, Nostoc e Cylindrospemopsis. A única citotoxina conhecida atualmente é a cilindrospermopsina, produzida pelas espécies Cylindrospermopsis raciborskii, Umezakia natans e Aphanizomenon avolisporum. Esta cianotoxina causa lesões a diversos órgãos, como fígado, pulmões, rins e mucosa gástrica (Carvalho, 2006). As dermotoxinas são toxinas irritantes de contato, produzindo dermatites e são produzidas pelos gêneros: Lyngbya, Nodularia, Anabaena, Aphanizomenon, Oscillatoria, Gloetrichia e Shizothrix (Azevedo & Vasconcelos, 2006). Não se conhece claramente os motivos que ocasionam o aparecimento de cepas tóxicas, existem duas hipóteses: o predomínio de cepas tóxicas e não tóxicas pode estar relacionado à dinâmica populacional e as inter-relações competitivas entre as populações; a toxicidade pode ter relação com algum estressor ambiental (Calijuri et al., 2006). A irregularidade da toxicidade das cianobactérias ainda não está definida. Os fatores ambientais como luz, temperatura e nutrientes, têm grande influência na produção de cianotoxinas (Carmichael, 1992). A toxicidade das cianobactérias também pode apresentar sazonalidade, desde intervalos curtos de tempo até diferenças sazonais e anuais (Azevedo & Vasconcelos, 2006), varia também de espécie para espécie e dentro dos gêneros pode Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 haver cepas produtoras e não produtoras de cianotoxinas (Zagatto, 2001). As florações de cianobactérias em reservatórios com acelerado processo de eutrofização, produzem em suas águas aspecto desagradável, aumento da turbidez, sabor e odor da água alterado. Nesses casos, também há a possibilidade de produção de toxinas, devido à existência de linhagens de algumas espécies de cianobactérias, responsáveis pela sua produção. Além disso, a presença de florações pode causar a mortandade de peixes, tanto devido à deficiência de oxigênio que se instala após a floração como devido à presença de toxinas (Beyruth, 1996). A possibilidade de liberar toxinas na água pode causar um sério risco aos sistemas de abastecimento de água se as ETAs não estiverem preparadas para inativá-las e removê-las (Di Bernardo et al., 2002). Várias toxinas de cianobactérias não podem ser retiradas através do processo de tratamento convencional realizado pelas empresas de saneamento (Azevedo & Vasconcelos, 2006). O primeiro relato documentado de intoxicação de animais por cianotoxinas ocorreu no Lago Alexandrina, em 1878, na Austrália (Francis, 1878), no qual cães e aves mostraram sinais de intoxicação após beber água do lago. Tais eventos tomaram maior importância ao afetar a população humana. Na região nordeste do Brasil, em 1988, foi observado correlação entre uma floração de cianobactérias no reservatório de Itaparica (BA) e a morte de 88 pessoas, entre duas mil pessoas intoxicadas (Teixeira et al., 1993). Um dos episódios mais graves envolvendo intoxicação por cianotoxinas foi o caso ocorrido na cidade de Caruaru (PE) em 1996 (Azevedo et al., 2002). Nesta cidade, em fevereiro de 1996, 116 pacientes de uma clínica de hemodiálise experimentaram distúrbios musculares e visuais, náusea e vômitos, e desses, 100 pacientes sofreram falência do fígado e a morte de 52 desses pacientes foram atribuídas à hoje conhecida como Síndrome de Caruaru. Análises da contagem do fitoplâncton dos anos anteriores a esse evento mostraram que as cianobactérias são dominantes nesse reservatório de abastecimento público desde 1990. A análise do carvão e de outras resinas provenientes do sistema de tratamento de água da clínica, bem como de soro sanguíneo e do fígado de pacientes permitiram identificar dois grupos de hepatotoxicinas, a microcistina e a cylindrospermopsina. A comparação da patologia Saneas 15 artigo técnico e dos sintomas das vítimas com estudos efetuados em animais permitiu concluir que o fator que mais contribuiu para a morte dos pacientes em diálise foi a exposição intravenosa a microcistinas, especialmente a microcictina-YR, -LR e –AR. Este foi o primeiro e único relato comprovado de óbito de seres humanos devido à intoxicação por cianotoxinas. O número de ocorrências de florações de cianobactérias tem aumentado significativamente nos reservatórios urbanos destinados ao abastecimento público, refletindo os processos de degradação de sua bacia de drenagem. Em algumas regiões do Brasil, a situação é bastante grave, pois vários reservatórios e açudes, utilizados para o abastecimento público, apresentam frequentes florações de cianobactérias tóxicas. Estas florações tornaram-se cada vez mais frequentes em consequência da eutrofização e da alta competitividade de algumas espécies, como Cylindrospermopsis raciborskii, em ambientes tropicais eutrofizados (Sant’Anna & Azevedo, 2000; Komarek et al., 2002; Tucci & Sant’Anna, 2003). Cepas tóxicas de cianobactérias em corpos d’água brasileiros já foram registradas em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Distrito Federal (Bouvy et al., 1999; Minillo et al., 2000; Azevedo & Vasconcelos, 2006; Carvalho et al., 2007; Moschini-Carlos et al., 2009). Entretanto, é certo que a ocorrência de cepas tóxicas de cianobactérias não ocorra exclusivamente nesses estados. Esses registros refletem que os estudos sobre esse tema estão mais concentrados na região centro-sul do Brasil. Particularmente para o estado de São Paulo, no reservatório de Guarapiranga, Beyruth et al. (1992) detectaram floração de Anabaena cf. solitária em 1991. Segundo Beyruth (1996), a diminuição da qualidade da água da represa de Guarapiranga, começou a ficar evidente na década de 70. No início da década de 80, florações de algas passaram a influenciar o processo de tratamento da água destinada ao abastecimento, causando entupimento de filtros, aumentando o tempo de filtração, além de sabor e odor desagradáveis, comprometendo a qualidade do produto final. Carvalho et al. (2007) detectaram em trabalho realizado entre dezembro de 2000 a agosto de 2001, uma maior biodiversidade de cianobactérias potencialmente tóxicas no reservatório Billings quando comparado com o reservatório Guarapiranga. Os autores 16 Saneas detectaram no reservatório Billings e Guarapiranga, respectivamente, 67% e 50% das espécies coletadas como potencialmente tóxicas. As análises de microcistina confirmam esses resultados, pois no reservatório Billings detectou-se microcistina durante todo período de estudo, enquanto que no reservatório Guarapiranga a presença de microcistina foi detectada somente nas amostras contendo Microcystis. Sant´Anna et al. (2007). Em trabalho realizado sobre a biodiversidade de cianobactérias nos reservatórios do Alto Tiête, observaram que a biodiversidade e a distribuição das cianobactérias se deve às condições físicas e químicas da água desses reservatórios e a represa Billings, mostrou-se o ambiente mais propício para o desenvolvimento dessas algas. Moschini-Carlos et al. (2009) observaram florações de cianobactérias no reservatório no braço do Taquacetuba (reservatório Billings) em fevereiro e julho de 2007. Cylindrospermopsis raciborskii foi dominante em fevereiro (352.661,0 cél.mL-1) and Microcystis panniformis em julho (1.866.725,0 cél.mL-1). Três variantes de microcistinas foram encontradas em fevereiro (MC-RR, MC-LR, MC-YR), bem como saxitoxina. As mesmas variantes de microcistina foram encontradas em julho. Anatoxina-a e cilindropermopsina não foram detectadas nesses períodos. O tratamento da água bruta para o abastecimento público realizado por empresas do setor de saneamento no Brasil, em caso de floração de cianobactérias, é feito através do uso do oxidante peróxido de hidrogênio e do algicida sulfato de cobre. Esses compostos são aplicados diretamente no corpo de água. Como as cianotoxinas são endotoxinas, a utilização de algicidas no manejo de cianobactérias tóxicas acarretam na morte celular e liberação das toxinas na água, comprometendo a biota local e o abastecimento público. A Portaria 528 do Ministério da Saúde de 25 de março de 2004 estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para o consumo humano e seu padrão de potabilidade, entre outras providências. Segundo a Portaria 528/2004, é vedado o uso de algicidas para o controle de cianobactérias no manancial, ou qualquer intervenção que provoque a lise das células de cianobactérias ou liberação de cianotoxinas, em função dos riscos à saúde associados às cianotoxinas, quando a densidade de cianobactérias exceder 20.000 células/mL (ou 2mm3/L), sob pena de compro- Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 artigo técnico metimento da avaliação de riscos à saúde associados à cianotoxinas. Além disso, a Portaria 528/2004 contempla o monitoramento apenas de microcistinas, saxitoxina e cilindrospermopsinas (Brasil, 2004). Essa Portaria esteve em revisão até o ano passado. Os subgrupos foram divididos em Cianobactérias/ Cianotoxinas, Microbiológico e Substâncias Químicas. Esses subgrupos foram formados por diversos especialistas de instituições de pesquisa e serviços na área da qualidade da água para consumo humano. Foram realizadas oficinas macrorregionais para debater a minuta final da nova portaria. Em outubro de 2010 foi aberta a consulta pública e este ano está passando por análise. A problemática de florações de cianobactérias e a liberação de suas toxinas ainda estão longe de ser sanadas. É necessária a consolidação de metodologias analíticas, estruturação de laboratórios, capacitação técnica e fomento de pesquisas na área. Também é necessária a elaboração de políticas públicas de controle da eutrofização em bacias hidrográficas e a implantação de medidas de prevenção e remediação das florações de cianobactérias em mananciais utilizados para abastecimento público. AGRADECIMENTOS A Fapesp (Procs. 09/16652-1, 08/00784-3, 06/51705-0) e ao CNPq (Proc. 471404/2010-1). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Anderson D.M. Turning back the harmful red tide. Nature. 338: 513-514, 1997. Azevedo, S.M.F.O. Toxinas de Cianobactérias: Causas e consequências para a saúde pública. Med on line, Rio de Janeiro, v. 01, p. 1 – 16, setembro de 1998. 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O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA DIRETIVA QUADRO DA ÁGUA NA COMUNIDADE EUROPÉIA Por Sheila Cardoso da Silva1*, Teresa Ferreira2, Marcelo L. M. Pompêo1** 1- * doutoranda em Ecologia, ** orientador, Universidade de São Paulo, Instituto de Biociências, Departamento de Ecologia, São Paulo, SP, Brasil. 2- Professora Associado com Agregação, Departamento de Engenharia Florestal, ISA- Instituto Superior de Agronomia, UTLUniversidade Técnica de Lisboa, Portugal. É comum observar nos grandes centros urbanos brasileiros a existência de massas de água contaminadas ou poluídas. A eutrofização é de longe um dos problemas mais rotineiros refletindo na alteração da qualidade da água com ocorrências de grandes crescimentos de fitoplâncton, em particular de cianobactérias potencialmente tóxicas, e de macrófitas aquáticas, muitas vezes interferindo nos usos múltiplos do sistema, como o abastecimento público. A solução desses problemas passa pela universalidade do saneamento básico e sem dúvida pela coleta e tratamento de todo esgoto gerado, o que poderia ser alcançado com uma política de descarte zero. No entanto, apenas isto não basta, também é necessário um sólido processo de gestão dos usos e ocupações do entorno e políticas públicas integradoras capazes de sustentar a própria gestão, bem como apresentar diretrizes norteadores aos tomadores de decisão. A Diretiva Quadro d’Água (DQA), o sistema 18 Saneas de gerenciamento de recursos hídricos europeu, é uma alternativa auspiciosa e muito poderia acrescentar à nossa gestão. A DQA estabelece como objetivo o alcance do ‘bom estado ecológico’ em todas as massas de água do território europeu, que, mesmo ambicioso, é considerado a única forma de garantir a satisfação de todas as necessidades de água num quadro de sustentabilidade. O trabalho a seguir expõe as principais etapas no processo de implantação da DQA, no que diz respeito aos aspectos ambientais. A Diretiva Quadro d’Água As represas são ecossistemas associados às civilizações e, consequentemente, suscetíveis às pressões humanas. Para o pleno funcionamento destes corpos hídricos, com o intuito de mantê-los nas melhores condições possíveis de funcionamento, essencial é a existência de um eficiente sistema de gestão dos recursos hídricos Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 artigo técnico (RH). Neste sentido, embora o sistema de gerenciamento de RH brasileiro, estabelecido pela lei 9433/97 (Brasil, 1997), tenha representado grande avanço, com medidas promitentes que trarão melhorias na qualidade dos corpos hídricos, muito ainda pode ser feito no sentido de aprimorá-lo. No II Comitê de Bacias Hidrográficas, encontro realizado em agosto de 2010, discutiu-se como a Diretiva Quadro d’Água (DQA), o sistema de gerenciamento de RH adotado pela comunidade européia, poderia auxiliar no aperfeiçoamento do nosso sistema de gestão ambiental. A DQA reconhece que a gestão ecológica é a maneira mais eficiente de se garantir água em condições adequadas de quantidade e qualidade. A DQA foi estabelecida pelo Parlamento Europeu em 22 de dezembro de 2000- CE 60/2000 (EC, 2000), com o intuito de prevenir a deterioração e assegurar o alcance do ‘bom estado’ das massas d’água dos países membro da União Européia até o ano de 2015, com a possibilidade de ser prorrogada para o ano de 2027. Para as águas subterrâneas o objetivo é atingir o bom estado químico e para as águas superficiais o objetivo é atingir tanto o bom estado químico quanto o bom estado ecológico (Cis, 2003a). No ‘bom estado’ as condições biológicas e de qualidade da água apresentam desvio ‘sutil’ em relação às condições do corpo hídrico na ausência de impactos antrópicos (Acreeman & Ferguson, 2010). Alguns corpos d’água podem não atingir este objetivo por diferentes razões. Para represas, por exemplo, o alcance do bom estado ecológico constituiria a destruição da barragem para recuperar o fluxo natural dos rios, o que é inviável. Sob condições como esta a DQA permite identificar e designar corpos hídricos artificiais (CHAs) e corpos hídricos fortemente modificados (CHFMs) de acordo com o artigo 4 (3) da DQA (Cis, 2003a). Ao invés do bom estado ecológico o objetivo para CHFMs e CHAs é atingir o bom potencial ecológico (BPE) e o bom estado químico das águas superficiais (European Commission, 2000), ou seja, o bom estado mesmo tendo em conta os objetivos para os quais foram criados estes CHAs. Mais do que a análise de parâmetros químicos a DQA estabelece a análise de elementos hidromorfológicos e biológicos com o intuito de definir a qualidade ecológica do ambiente. A DQA busca uma harmonização nos sistemas de classificação dos corpos hídricos e monitoramento ao longo da Europa, sem, contudo, estabelecer critérios generalistas, pois reconhece que Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 os padrões químicos, geológicos e biológicos não são iguais ao longo da paisagem. Embora promissora, os países membros da Comunidade Européia se deparam com uma série de dificuldades para implantar a DQA. Nos tópicos a seguir serão abordadas as principais etapas no processo de implantação da DQA: 1) a classificação dos corpos de água em diferentes tipos (Anexo II 1.1), 2) a definição das condições de referência para cada um dos tipos (Anexo II 1.3 (i), e 3) a avaliação do estado de qualidade ecológica dos corpos d’água (Anexo V) (EC, 2000). Apesar de importantes, aspectos administrativos e econômicos da DQA não serão abordados. Tipologia Um dos primeiros passos para o estabelecimento dos estados ecológicos é a classificação dos corpos hídricos em tipos distintos A e B definidos no Anexo II (EC, 2000), para cada categoria de ecossistemas aquáticos: rios, lagos, águas de transição e águas costeiras. Esta classificação é baseada em condições geológicas e hidrológicas, e o que se espera é que condições distintas possuam características, biológicas e ecológicas distintas. O objetivo da definição de tipos é permitir que sejam corretamente estabelecidas condições de referência e que sejam comparáveis as classificações de estado ecológico dentro de cada categoria de ecossistemas com características semelhantes (Alves, 2002). Em outras palavras a tipologia apresenta um dado nível de probabilidade de uma dada comunidade ocorrer num dado cenário físico-químico (Ferreira et al., 2009). A seleção do sistema A ou B fica ao critério de cada Estado-Membro. No sistema A são recomendados uma série de fatores obrigatórios para o estabelecimento da tipologia, para rios, por exemplo, são recomendadas medidas de: altitude, latitude, longitude, geologia e dimensão; e para lagos além das medidas citadas avalia-se também a profundidade. No sistema B além dos fatores obrigatórios, uma série de fatores facultativos são elencados, como medidas de precipitação em rios e tempo de residência em lagos. Ou seja, a diferenciação de tipos, sempre e independentemente da decisão sobre o sistema a adotar, envolve a aplicação do Sistema A (Alves, 2002). Caso a separação ecológica para o estabelecimento das condições de referência possa ser atingida apenas com o sistema A o uso do sistema B torna-se dispensável (Cis, 2003b). Saneas 19 artigo técnico Vale salientar que independentemente do sistema utilizado ao criar uma tipologia é preciso que esta tenha significado ecológico. Portanto, é conveniente que seja utilizado um ou mais grupos biológicos para validar a divisão em tipos. No que se refere aos CHAs e CHFMs, a diferenciação em tipos será efetuada de acordo com os descritores aplicáveis à categoria de águas de superfície que mais se assemelhe ao CHA e CHFM, em questão (EC, 2000). Para represas, por exemplo, Portugal estabeleceu a tipologia B e utilizou fatores descritores de rios e lagos já que as represas são sistemas híbridos entre estes dois ecossistemas (Ferreira et al., 2009). O intuito é produzir uma tipologia o mais simples possível que seja ecologicamente relevante e prática para implantar (Cis, 2003b). Esta etapa deve ser concluída o mais rapidamente possível, pois o estabelecimento dos estados ecológicos bem como o monitoramento, avaliação e elaboração de relatórios recomendados pela DQA dependem dela (Cis, 2003b). Estabelecimento das condições de referência e dos estados/ potenciais ecológicos Estipulada a tipologia a ser utilizada, os estados membros possuem a frente o desafio de determinar o estado ecológico. O estado ecológico é definido pela DQA, como o desvio das condições no tempo presente em relação às condições de referência. A condição de referência é a descrição da qualidade biológica dos elementos que existem, ou deveriam existir, num corpo hídrico na ausência ou na presença de pequeno impacto das atividades antrópicas (Cis, 2003b). A condição de referência é apenas uma descrição dos elementos biológicos, entretanto, ao estabelecê-la devem ser definidos também os critérios para os elementos físicos, químicos e hidromorfológicos, já que estes dão suporte aos elementos biológicos (Ferreira et al, 2009). Os elementos biológicos a serem analisados pela DQA para o estabelecimento das condições de referência e do estado ecológico são: peixes, macrófitas aquáticas, invertebrados bentônicos, diatomáceas e fitoplâncton (Anexo V, (EC, 2000)). Caso não haja a possibilidade de estabelecer as condições de referência para algum elemento este poderá ser excluído da análise desde que haja justificativas fundamentadas. 20 Saneas A condição de referência será específica para cada um dos tipos de corpos d’água identificados na implementação da tipologia. Para derivar as condições de referência a DQA recomenda: 1) a comparação com um local numa área geográfica semelhante que não apresente impactos antrópicos ou que estes sejam mínimos; 2) o uso de dados históricos; 3) o uso de modelagem matemática e 4) o julgamento por um especialista (Anexo II, 1.3(iii) (EC, 2000)). É possível utilizar uma combinação destas opções, entretanto, é recomendado que exista uma ordem hierárquica na escolha das opções (Cis, 2003a). Após estabelecer a condição de referência é necessário estimar o estado ecológico das massas de água. Quanto maior o desvio em relação às condições de referência ‘pior’ será o estado do corpo hídrico. O estado ecológico deverá ser expresso como um valor numérico entre 1 (excelente estado ecológico) e 0 (estado ecológico ruim), os valores entre este intervalo indicam os estados: bom, razoável e medíocre (Cis, 2003b). Os elementos biológicos são expressos por indicadores ou índices composicionais ou estruturais, que se demonstrou serem responsivos à perturbação. A condição de um elemento biológico estimado como o mais afetado por alterações antrópicas irá ditar a classe que o corpo hídrico estará em conformidade, ao menos que os resultados do monitoramento para os elementos físicos e químicos ou hidromorfológicos indiquem uma classe inferior (Cis, 2003a). Para CHAs ou CHFMs, o estabelecimento dos estados ecológicos apresenta uma abordagem diferente, pois o objetivo é alcançar o BPE e determinar o máximo potencial ecológico (MPE). O MPE é definido como o estado onde os valores dos elementos de qualidade biológica, o quanto possível, refletem os valores associados ao tipo de massa de água de superfície mais aproximada, baseadas nas condições físicas resultantes das características artificiais ou fortemente modificadas da respectiva massa de água (Anexo V, 1.2.5, (EC, 2000)). Em outras palavras, são as condições ecológicas em que os únicos impactos na massa de água são aqueles decorrentes das modificações e artificializações associadas aos objetivos ao qual foi criada (Ferreira et al., 2009). Para definir o MPE, em geral, é feita uma avaliação sobre o estado dos elementos de qualidade hidromorfológica, se apresentam as condições esperadas para Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 artigo técnico eles, quando todas as medidas de mitigação foram tomadas para assegurar a melhor aproximação ao contínuo ecológico (Cis, 2003a). As medidas de mitigação devem ser compatíveis com a utilização a que o corpo d’água é designado (Ferreira et al., 2009), ou seja, nestes ecossistemas o estado do corpo hídrico está associado aos usos que dele se faz. Para se avaliar o estado/potencial ecológico parte-se do pressuposto que as comunidades biológicas agem em resposta às pressões. Assim, é importante identificar as pressões existentes sobre os corpos hídricos conforme recomendações do artigo 5 (1) e anexo II. Também se faz necessário, na implantação da DQA (artigo 8° e Anexo V 1.3, (EC, 2000)), o estabelecimento de uma rede de monitoramento adequada. O monitoramento terá como objetivos proporcionar uma visão geral dos estados/potenciais ecológicos e químicos em cada bacia hidrográfica. Outro passo importante na implantação da DQA é o processo de intercalibração (Anexo V, 1.4.1 iii (EC, 2000)), cujo intuito é testar e validar as ferramentas utilizadas na classificação dos estados ecológicos. Isto ocorre, pois, países diferentes podem desenvolver métodos de avaliação diferentes. No entanto, a nível europeu é necessário efetuar comparações entre países, qual o estado das respectivas massas de água, para se equiparar o esforço de implantação da legislação. Assim, os valores numéricos de 1 a 0, estabelecidos para os estados/potenciais ecológicos, são validados neste processo (Borja, 2007). O processo de implantação da DQA tem consumido mais tempo e os métodos para a determinação dos estados ecológicos são mais complexos do que se esperava. A intercalibração tem demandado esforço adicional no convencimento técnico e político para que cada particularidade implantada e reconhecida pelo Estado Membro seja aceita e compartilhada por todos os demais Estados. Cada Estado Membro apresenta condições ecológicas e sócio-econômicas distintas (Acreeman e Ferguson, 2010) e se depara com dificuldades específicas no processo de execução da DQA, o que tem sido um complicador para que em 2015 esteja prevenida a deterioração e assegurado o ‘bom estado’ das massas de água, como preconiza a CE/60/2000. Entretanto, apesar das dificuldades na implantação da DQA, é preciso ter em mente que o relaxamento das exigências ambientais é um caminho indesejável de desenvolvimento econômico dado que pode com- Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 prometer seriamente o futuro das próximas gerações. Considerações finais A compreensão das vantagens e dificuldades na implantação da DQA nos estados membros da Comunidade Européia trará sólida experiência à política nacional de recursos hídricos brasileira, pois é necessário mudar a atual visão de mero recurso que cada massa de água representa. Um novo olhar deve compreender que um reservatório, por exemplo, é um todo, tem uma estrutura, uma função e dinâmica, através da mutua interação dos aspectos físicos, químicos e biológicos, mas sem se esquecer do entorno e seus usos e ocupações que o homem toma para si o direito de fazer. Atualmente as alterações que o homem provoca no meio refletem sobremaneira na redução da qualidade dos corpos hídricos, com redução na quantidade disponível para usos mais nobres, como o abastecimento público, com prejuízos às gerações futuras. Assim, apesar de pontos falhos e dificuldades na implantação, a DQA traz esse novo olhar e devemos iniciar esforços para adequá-la a realidade nacional. Agradecimentos A Fapesp (procs. 09/16652-1, 06/51705-0), ao CNPq (bolsa de doutorado a primeira autora) e Capes (proc. 4317-16). Referências Bibliográficas Acreeman MC, Ferguson JD (2010) Environmental flows and the European Water Framework Directive. Freshwater Biology. 55 : 32–48. Alves MH, Bernardo JM, Figueiredo HD, Martins J P, Pádua J, Pinto P, Rafael MT (2002) Directiva-Quadro da Água: Tipologias de rios segundo o sistema A e o sistema B em Portugal. Actas del III Congreso Ibérico sobre Gestión y Planification del Agua. La Directiva-Marco da Água: realidades y futuros. Sevilha, 13 a 17 de Novembro. 347-354 pp. Brasil. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997 (1997) Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Brasília (DF). Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Borja A, Josefson A B, Miles A, Muxika I, Olsgard F, Phillips G, Rodrıguez J G , Rygg B. (2007) An approach to the intercalibration of benthic ecological status Saneas 21 artigo técnico assessment in the North Atlantic ecoregion, according to the European Water Framework Directive. Marine Pollution Bulletin. 55: 42–52. Cis (2003a) Common Implementation Strategy For The Water Framework Directive (2000/60/EC). Guidance Document N° 10. River and Lakes Guidance on Typology, Reference Conditions and Classification Systems. 94p. Cis (2003b) Common Implementation Strategy For The Water Framework Directive (2000/60/EC). Guidance on Typology, Reference Conditions and Classification Systems for Transitional And Coastal Waters, 119 p. European Commission (2000) Directive 2000⁄60⁄EC of the European Parliament and of the Council of 23 October 2000 Establishing a Framework for Community Action in the Field of Water Policy. Official Journal 22 December 2000 L 327⁄1. European Commission, Brussels. Ferreira M T, Pinheiro P, Rivaes R, Cortes R V (2009). Princípios norteadores do bom potencial ecológico e pré classificação da qualidade ecológica. In: Inag. Qualidade ecológica e gestão integrada de albufeiras. Lisboa: Inag. pg 32-51. INVERTEBRADOS BENTÔNICOS: O QUE ACONTECE SOB NOSSOS PÉS Por Profa Dra Ana Lúcia Brandimarte Departamento de Ecologia (IB/USP) Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental – PROCAM (IEE/USP) Muitas pessoas que, por um motivo ou outro, costumam entrar em corpos de água, como rios e represas entre outros, possivelmente nem imaginam que sob seus pés, no substrato do fundo, habita uma fauna de invertebrados que, em certos casos, pode ser muito rica e numerosa. A estes animais que habitam o substrato, vivendo em seu interior ou sobre ele, damos o nome de invertebrados bentônicos. No conjunto dos corpos de água continentais estes estão representados por um grande número de grupos taxonômicos de tamanhos variados, como protozoários, vermes pertencentes a diferentes filos, crustáceos, moluscos e insetos (adultos e imaturos). Assim como o tamanho, a forma e o modo de vida também são variáveis, pois dependem do tipo de hábitat em que vivem. Em um riacho, por exemplo, são encontrados substratos mais grosseiros (areia, cascalho) em áreas de corredeira e grânulos mais finos (silte, argila) e acúmulo de detritos vegetais em áreas de remanso. Em cada um destes habitats, serão observadas diferentes espécies de invertebrados bentônicos, as quais durante o tempo evolutivo foram contempladas, pelas pressões seletivas, com adaptações que lhes permitiram obter maior sucesso em apenas um dos habitats. Uma vez que podem ser encontradas várias espécies compondo a fauna de invertebrados associada ao substrato de um determinado corpo d’água, podemos nos 22 Saneas referir a tal fauna como comunidade de invertebrados bentônicos. Os representantes de muitas destas espécies apresentam hábito alimentar detritívoro, ou seja, se alimentam de detritos, principalmente de origem vegetal, e/ou dos microrganismos decompositores a estes associados. Sob sua ação, os detritos são transformados em partículas de menor tamanho, o que resulta em aumento da área a ser colonizada pelos decompositores. Deste modo, indiretamente, os invertebrados bentônicos aceleram a decomposição (ou mineralização) da matéria orgânica, disponibilizando os nutrientes minerais mais rapidamente para os produtores primários. Percebe-se, então, que os invertebrados bentônicos representam um elo fundamental entre as cadeias de detritos e de pastagem nos ambientes aquáticos. Há que se reconhecer que, sobretudo em ambientes lênticos, o substrato das regiões mais profundas, ou seja o sedimento, é o receptor final de matéria orgânica particulada, nutrientes minerais e poluentes, entre outros. Neste local é comum a ocorrência de condições anaeróbias, tornando o ambiente redutor e propiciando, inclusive, a formação de gases potencialmente tóxicos resultantes da decomposição incompleta da matéria orgânica, como é o caso do metano e do gás sulfídrico. Alguns grupos de invertebrados bentônicos ali presentes, através de sua movimentação, provocam o revolvi- Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 artigo técnico mento do sedimento, ou melhor, o biorrevolvimento já que se trata de uma ação biológica. Como consequência, poluentes e gases podem ser liberados para a coluna d’água, assim como os nutrientes que, então, se tornam disponíveis aos produtores primários. Por outro lado, o biorrevolvimento pode também promover a aeração do sedimento, favorecendo a decomposição aeróbia da matéria orgânica ali acumulada, além da oxidação e consequente liberação de íons que, de outra forma, permaneceriam imobilizados no sedimento. O desenvolvimento de pesquisas envolvendo a fauna de invertebrados bentônicos deve levar em consideração, além dos aspectos acima mencionados, a dimensão temporal e as diferentes dimensões espaciais, cuja relevância varia de acordo com o tempo de residência da água em cada ecossistema. Aqui é importante salientar que os reservatórios são ambientes intermediários entre rios e lagos, aproximando-se mais de um ou outro em função do tempo de residência da água. Levando este fato em consideração, deve-se ter em mente que os reservatórios, assim como os rios, apresentam um alto nível de heterogeneidade que se manifesta como vias interativas em quatro dimensões: longitudinal, lateral, vertical e temporal. Como é amplamente reconhecida na literatura especializada, a variação da velocidade da água ao longo do eixo longitudinal de um reservatório implica em alterações da disponibilidade de nutrientes na coluna de água e da quantidade de material em suspensão e, portanto, da transparência da água. Estes fatos levam à partição longitudinal do reservatório em três zonas: lótica, transicional e lêntica. Teoricamente, na zona de transição ocorreria maior produtividade primária, em decorrência da maior transparência e da presença de nutrientes ainda em quantidades adequadas. Em consequência da maior disponibilidade de fitoplâncton, o zooplâncton também apresentaria maior densidade nesta zona. No entanto, em relação à comunidade zoobentônica pouco é postulado, a não ser que os detritos terrestres presentes sobretudo na zona lótica poderiam suportar uma cadeia alimentar detrítica formada por organismos detritívoros. A dimensão lateral interfere no funcionamento e estrutura dos ecossistemas em função da ocorrência de trocas de energia e material entre o corpo de água e o ambiente ripário. A comunidade de invertebrados bentônicos é influenciada pela entrada de detritos Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 vegetais de origem terrestre que variam no espaço e no tempo em termos de quantidade e qualidade. A consideração da dimensão lateral em ambientes verdadeiramente lacustres tem como amplamente aceito o fato de que as intensas relações com o ambiente terrestre e a existência de macrófitas conferem maior variedade de habitats à zona litoral, resultando em maior riqueza da fauna. No caso de reservatórios, esta previsão nem sempre se confirma, pois devem ser levados em consideração fatores como a declividade das margens e a variação do nível de água em virtude da operação do sistema. Estes dois fatores limitam a produção autóctone marginal de macrófitas e algas e, consequentemente, os invertebrados bentônicos passam a depender basicamente da disponibilidade de detritos alóctones. Além disso, as variações do nível de água podem resultar em profundas alterações nos habitats da zona litoral do reservatório. Quanto maior a variação do nível da água, mais instável o habitat ao longo de um determinado período de tempo, o que resulta em redução da diversidade de invertebrados bentônicos. A dimensão vertical diz respeito às variações do ambiente em função da existência de uma coluna de água sobre o sedimento. Quanto maior a espessura desta coluna, maior a probabilidade do reservatório apresentar estratificação térmica durante certo período do ano. E quanto maior a duração desta estratificação, maior a possibilidade de ocorrer baixas concentrações de oxigênio na interface água/sedimento, de modo que apenas organismos bentônicos resistentes a tal situação persistem no local. Esta é uma das causas pelas quais, em muitos reservatórios, a diversidade de invertebrados bentônicos tende a ser baixa na zona profundal. Se a estratificação térmica persistir por tempo suficiente para a ocorrência de anoxia, esta zona pode se tornar temporariamente azóica. Além dos importantes papéis ecológicos citados no início deste texto, os componentes do zoobentos desempenham importante papel como bioindicadores de impactos ambientais, estando entre os organismos mais utilizados para este fim. Apresentam uma série de características que os tornam especialmente úteis para aplicação no biomonitoramento. Sob este aspecto, salienta-se o fato de poderem ser encontrados praticamente em todos os tipos de ambientes aquáticos, a baixa mobilidade que os torna altamente suscetíveis Saneas 23 artigo técnico a alterações do habitat e o grande número de espécies presentes na comunidade que, portanto, apresenta ampla variedade de respostas às alterações ambientais. Além disso, sua amostragem é relativamente fácil e é realizada com baixo custo. Os invertebrados bentônicos são indicadores, por exemplo, do grau de trofia de um reservatório, assim como de outros tipos de ecossistemas. Neste aspecto, é amplamente reconhecido que a ocorrência de eutrofização tende a causar diminuição do número de espécies presentes na comunidade, acompanhada pelo aumento da densidade de certos táxons resistentes. Do mesmo modo, está bem documentado que a poluição por metais, os quais tendem a se acumular no sedimento, pode ser avaliada a partir da análise de deformidades em estruturas da cápsula cefálica de larvas de determinados insetos. A partir da relativa impossibilidade dos órgãos ambientais realizarem o monitoramento ambiental em uma gama muito ampla de corpos d’água, desde os anos 1960 começou-se a atrair os cidadãos para a participação neste processo, ampliando-se assim a base de dados a respeito daqueles ambientes. Em função da necessidade de se incluir a biota nas avaliações da qualidade da água, e da simplicidade da coleta dos invertebrados bentônicos em riachos, tais organismos têm sido utilizados no biomonitoramento voluntário desde os anos 1970, sobretudo nos Estados Unidos. No Brasil, experiências neste sentido ainda são incipientes mas, assim como em outros países, vêm imbuídas da visão do monitoramento participativo como uma forma de empoderamento dos voluntários, que resultaria em uma participação efetiva no reconhecimento de impactos ambientais negativos e na busca por uma solução para tal problema. Apesar dos estudos relacionados aos invertebrados bentônicos consistirem em uma área de pesquisa mundialmente consolidada, ainda há muito para se fazer aqui no Brasil. Ainda não conhecemos e descrevemos grande parte das espécies de águas continentais, assim como desconhecemos aspectos relevantes da história natural da maioria das espécies. Além disso, no que diz respeito à sua utilização na avaliação da qualidade da água e no biomonitoramento, ainda são poucos os Estados que apresentam avanços significativos. Entre estes podem ser citados São Paulo, Paraná e Minas Gerais, nos quais as companhias de controle ambiental têm trabalhado ativamente no sentido de implantar o biomonitoramento com invertebrados bentônicos como rotina nas redes de monitoramento. O desenvolvimento de mais pesquisas é premente pois, como espera-se que tenha ficado claro nesta rápida exposição, muitas coisas estão acontecendo sob nossos pés que, devido à relevância da comunidade zoobentônica, não podem continuar passando despercebidas. Leitura recomendada: BRANDIMARTE, A. L.; SHIMIZU, G.Y.; ANAYA, M.; KUHLMANN, M.L. 2004. Amostragem de invertebrados bentônicos. In: BICUDO, C. E. de M.; BICUDO, D.C. (Eds.). Amostragem em Limnologia. São Carlos: Rima. p. 213230 QUEIROZ, J. F.; MOURA E SILVA, M.S.G.; TRIVINHO-STRIXINO, S. (Eds.) 2008. Organismos bentônicos: biomonitoramento da qualidade da água. Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente. 91p. INTERFERENTES ENDÓCRINOS: UMA NOVA CLASSE DE CONTAMINANTES EMERGENTES EM ÁGUAS NATURAIS Por André Henrique Rosa1*, Danielle Goveia2, Leonardo Fernandes Fraceto1 1 - Professores da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Sorocaba-SP; 2 - Pós-Doutoranda do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Araraquara-SP. *[email protected] O crescimento populacional, o desenvolvimento de novos produtos e a intensificação do uso da terra e 24 Saneas água na indústria e agricultura, tem levado a introdução no ambiente de novos compostos com diferentes Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 artigo técnico toxicidades e efeitos na saúde humana e de animais. Dentre estes contaminantes emergentes podemos incluir alguns fármacos, como analgésicos, antiinflamatórios, drogas psiquiátricas, antilipêmicos, antibióticos (de uso humano e veterinário), hormônios e esteróides. Também podem ser enquadradas nessa nova classe de contaminantes em águas naturais, as substâncias presentes em protetores solares, produtos de higiene pessoal como fragrâncias contendo grupos nitro e ftalatos, inseticidas repelentes e anti-sépticos, bem como os surfactantes amplamente utilizados no consumo doméstico. Dentre os contaminantes emergentes, os Interferentes Endócrinos (IE) do inglês, endocrine disruptors, tem recentemente chamado a atenção de pesquisadores e de órgãos de regulação ambiental devido sua toxicidade mesmo quando presente em baixas concentrações. Os IE são caracterizados como substâncias que podem causar distúrbios no sistema endócrino de seres humanos e animais, seja bloqueando sítios receptores de células ou aumentando a produção e/ou secreção de hormônios naturais, bem como interferindo em seu sistema reprodutor. Os processos fisiológicos do corpo humano são controlados pelos sistemas nervoso e endócrino. O sistema nervoso atua nos processos fisiológicos por meio de impulsos nervosos que são conduzidos via neurônios, enquanto o sistema endócrino utiliza-se de mensageiros químicos denominados hormônios para mediar tais processos. Acredita-se que os alteradores endócrinos possam interferir neste complexo sistema pelo menos de três formas distintas: a) Minimizando a ação dos hormônios produzidos naturalmente; b) Bloqueando receptores hormonais nas células e impossibilitando a ação dos mesmos; c) Interferindo na síntese, transporte, metabolismo e secreção de hormônios com alteração das concentrações normais dos mesmos. Existem basicamente duas classes de compostos que podem alterar o sistema endócrino, os hormônios naturais e os compostos sintéticos ou de origem antrópica. As principais classes de compostos e substâncias que podem provocar algum tipo de interferência no sistema endócrino, bem como as possíveis fontes de contaminação ao ambiente são: Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 1) Hormônios naturais: Estrogênio e progestogênio: hormônios femininos responsáveis pelo desenvolvimento do sistema reprodutor e pelas alterações que ocorrem durante a menstruação e gravidez. 17-estradiol, estrona e estriol: Produzidos principalmente nos ovários e nos testículos em humanos e outros vertebrados e são originados do colesterol ou da acetil coenzima-A. Fitoestrogênios: encontrados em algumas sementes, frutos ou vegetais, tem estrutura química e atividade hormonal semelhante ao estradiol, porém, não causam tantos problemas ao homem quantos aqueles de origem antrópica porque não se ligam fortemente aos receptores hormonais, são facilmente excretados, não se acumulando nos tecidos corpóreos. Os principais fitoestrógenos são: isoflavona da soja (genisteína, daidzeína), lignanos e coumestanos. Estas substâncias, principalmente as isoflavonas, podem afetar o sistema reprodutivo, glândulas mamárias, hipotálamo e hipófise. 2) Compostos sintéticos ou de origem antrópica: Hormônios sintéticos: Fabricados pelo homem são idênticos aos naturais, embora mais potentes e ativos. O 17α-etinilestradiol é o hormônio sintético mais utilizado como contraceptivos ou agentes terapêuticos de reposição hormonal. Xenoestrogênios: Termo aplicado para uma série de substâncias produzidas para a utilização nas indústrias, na agricultura e para os bens de consumo que confundem os receptores celulares estrogênios no organismo: Pesticidas: Compostos clorados e fosforados usados na agricultura para destruição ou repleção de agentes que apresentem efeitos nocivos a plantas e animais. Em água potável podem aumentar os riscos de ocorrência de câncer, danos ao sistema nervoso, cardíaco, endócrino e reprodutivo. Aditivos plásticos: Os ftalatos são polímeros sintéticos utilizados na estocagem/preservação de alimentos. O Bisfenol A é um agente plastificante e endurecedor utilizado na produção de resinas policarbonato e epóxi. Alquilfenois: usado como agente emulsificador e dispersor em numerosos produtos industriais e domésticos, em detergentes por exemplo. O octilfenol e o nonilfenol são os compostos mais comuns desta classe. Saneas 25 artigo técnico Bifenilas policloradas: Substâncias como o triclorobifenil e o heptaclorobifenil encontrados em fluídos hidráulico e dielétrico, em isolante em capacitores e transformadores, como refrigerante em motores elétricos, etc. Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos: Substâncias como o naftaleno, benzo-α-antraceno e o benzopireno cuja origem são os incêndios florestais, as erupções vulcânicas e o afloramento de petróleo e as sínteses biológicas. Compostos bromados: são usados como retardadores de chama na fabricação de uma variedade de equipamentos tais como aparelhos elétricos, tintas, produtos têxteis e aeronaves. Exemplos: tetrabromobisfenol A, hexabromociclododecano, éteres difenílicos polibromados. Subprodutos de processos industriais: são substâncias aromáticas essencialmente produzidas devido à combustão incompleta de compostos orgânicos (ex. dioxinas e furanos). A exposição ocupacional acidental a 2,3,7,8-TCDD ou outras dioxinas tem sido associada ao aparecimento de cloracne (infecções cutâneas) e alterações de enzimas hepáticas. Uma das principais razões para que haja uma preocupação sobre este tema está nos possíveis efeitos dos interferentes endócrinos, mesmo quando em baixas concentrações, na saúde humana e biota. Substâncias químicas suspeitas de causar alteração no sistema endócrino estão potencialmente associadas a várias doenças, como o câncer de testículo, de mama e de próstata, à queda da taxa de espermatozóides, deformidades dos órgãos reprodutivos, disfunção da tireóide e alterações relacionadas com o sistema neurológico. Estudos recentes também apontam que os interferentes endócrinos podem agravar problemas associados à obesidade e o diabetes. Outra questão importante a salientar consiste no fato de que estudos tem mostrado que os processos convencionais para tratamento de águas e efluentes não conseguem remover integralmente esta classe emergente de contaminantes dos recursos hídricos. Desta forma, o problema associado à presença dos interferentes endócrinos em sistemas aquáticos necessita de uma atenção especial pelas agências reguladoras para a adequação da legislação vigente e, de pesquisadores que atuam na área ambiental, visando o melhor entendimento dos processos de acúmulo, 26 Saneas transformação e toxicidade dos IE no ambiente, bem como, visando a proposição de alternativas para tratamento destes novos contaminantes que têm sido encontrados em águas naturais de nosso país. Para saber mais sobre o assunto, sugerimos a leitura na íntegra das seguintes bibliografias: ALVES, C.; FLORES, L.C.; CERQUEIRA, T.S.; TORALLES, M.B.P. Exposição ambiental a interferentes endócrinos com atividade estrogênica e sua associação com distúrbios puberais em crianças. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(5):1005-1014, 2007. SODRÉ, F.F.; MONTAGNER, C.C.; LOCATELLI, M.A.F.; JARDIM, W.F.; Ocorrência de interferentes endócrinos e produtos farmacêuticos em águas superficiais da região de Campinas (SP, Brasil). Journal of the Brazilian Society of Ecotoxicology, v. 2, p. 187-196, 2007. RAIMUNDO, C.C.M. Ocorrência de interferentes endócrinos e produtos farmacêuticos nas águas superficiais da bacia do rio Atibaia. Dissertação. Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Química, 2007. GHISELLI, G.; JARDIM, W. F. INTERFERENTES ENDÓCRINOS NO AMBIENTE Quim. Nova, Vol. 30, No. 3, 695-706, 2007. MIGLIARINI, B.; PICCINETTI, C.C; MARTELLA, A.; MARADONNA, F.; GIOACCHINI, G; CARNEVALI, O. Perspectives on endocrine disruptor effects on metabolic sensors General and Comparative Endocrinology, v. 170, n. 3, pp. 416-423, 2011. BILA D.M.; DEZOTTI, E.M. Desreguladores endócrinos no meio ambiente: efeitos e conseqüências. Quim. Nova, Vol. 30, No. 3, 651-666, 2007. LINTELMANN, J.; KATAYAMA, A.; KURIHARA, N.; SHORE, L.; WENZEL, A. Endocrine disruptor in the environment. Pure Appl. Chem., v. 75, n. 5, pp. 631–681, 2003. YING, G.; KOOKANA, R.S.; RU, Y.; Occurence and fate of hormone steroids in the environment. Environmental International, v. 28, p. 545-551, 2002. RODRIGUEZ-MOZAZ, S.; MARCO, M.; ALDA, M.J.L.; BARCELÓ, D.; Biosensors for environmental monitoring of endocrine disruptors: a review article. Analytical and Bioanalytical Chemistry, v. 378, p. 588-598, 2004. Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 visão de mercado As avaliações biológicas em reservatórios de abastecimento Vanessa Cristina Nascimento é bióloga e mestre em Saúde Pública, pesquisadora do Laboratório de Comunidades Aquáticas da Bioagri Ambiental, atua principalmente em atividades que envolvem as comunidades zooplanctônica e bentônica. POR Arnaldo Ribeiro e Vanessa Cristina Nascimento (biólogos da empresa Bioagri) O desenvolvimento tecnológico e o complexo sistema social e econômico no qual vivemos hoje exigem cada vez mais a utilização dos recursos naturais como fonte de matéria prima para sua manutenção. Os ecossistemas aquáticos continentais estão inseridos no contexto das mais diversas atividades econômicas, seja na sua utilização para geração de energia hidroelétrica, na aquicultura, navegação, em sistemas de irrigação, e para o abastecimento público. Uma das maiores experiências humanas na modificação de ecossistemas naturais é a construção de represas (RODGHER et al., 2005), uma tecnologia que promove o aumento da reserva de águas superficiais em uma determinada região, e tem sido amplamente aplicada para contornar problemas de escassez de água. Embora a formação de um reservatório produza impactos ambientais, promovendo mudanças na hidrodinâmica do corpo d’água e promovendo alterações na qualidade da água e na biota residente, essa prática proporciona inúmeros benefícios à população humana, e especialmente em países em desenvolvimento, como o Brasil, é necessário que seja dada prioridade em melhorar as condições básicas de saúde e saneamento. Contudo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (WHO, 1996) a degradação ambiental decorrente das intervenções estruturais no ciclo hidrológico natural pode superar tais benefícios, levando assim a necessidade de se conhecer a dinâmica e de implementar medidas que minimizem os efeitos deletérios. Os diversos organismos que habitam os reservatórios têm papel fundamental no ciclo de nutrientes destes locais, e são os responsáveis pela produção, assimilação e decomposição da matéria orgânica que entra no sistema. São também utilizados como sensores das condições de qualidade Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 FOTO: HAMINA RIBEIRO Arnaldo Ribeiro é biólogo, com 10 anos de experiência em laboratórios de hidrobiologia, atualmente é coordenador do Laboratório de Comunidades Aquáticas da empresa Bioagri Ambiental, atuando principalmente no monitoramento de algas e cianobactérias e as suas implicações ecológicas e sanitárias. Desenvolve pesquisa sobre o tema no Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da USP. da água, e em dadas condições podem também ser um risco potencial à saúde pública, como consequência de intervenções contínuas no ambiente. A Problemática da Eutrofização A eutrofização artificial é o aumento da concentração de nutrientes, principalmente o fósforo e nitrogênio, decorrentes principalmente de esgoto doméstico, efluentes industriais e escoamento de áreas agropastoris. Atualmente é um aspecto ambiental bastante relevante em termos de qualidade da água em reservatórios. O aumento na disponibilidade destes nutrientes permite um desenvolvimento excessivo dos vegetais aquáticos como as algas, as cianobactérias e as macrófitas aquáticas, que em vários aspectos leva a prejuízos ecológicos, econômicos e riscos diretos à saúde humana. Especial atenção deve ser dada as cianobactérias, devido ao potencial de produção de toxinas que representantes deste grupo possui, e que por vantagens adaptativas são as que mais se desenvolvem em condições de aumento de nutrientes. Um outro efeito importante do processo de eutrofização é a diminuição do oxigênio dissolvido na água que acarreta por exemplo o desaparecimento de organismos sensíveis a esta mudança, tais como os peixes. Saneas 27 visão de mercado As avaliações biológicas As características químicas, físicas e biológicas dos reservatórios determinarão a ocorrência e distribuição dos diferentes organismos no meio aquático. A alteração de qualquer uma destas características pode gerar estresse, provocar redução no número total de espécies ou também alteração qualitativa, podendo provocar desaparecimento e substituição de espécies ou o desenvolvimento excessivo de grupos que trazem prejuízos econômicos ou riscos a saúde pública. Muitas vezes uma condição física ou química que gerou prejuízo à qualidade da água em determinado ambiente não pode mais ser detectada, mas os seus efeitos permanecem evidenciados nos organismos que habitam aquele local. Quando os métodos biológicos são empregados por pessoal qualificado, a análise torna-se mais rápida e barata, gerando dados confiáveis que podem ser integrados com outras variáveis, enquanto que geralmente as análises físicas e químicas oferecem as informações pontuais. Por exemplo, a partir do conhecimento das espécies e estrutura das comunidades aquáticas, é possível avaliar as condições e até mesmo predizer alterações ecológicas, além disso, a avaliação biológica pode ser feita no sentido de determinar presença de organismos patogênicos, avaliando os riscos diretos a saúde humana quando se é feito o consumo ou mesmo no contato com a água. Igualmente os organismos podem ser utilizados em ensaios na busca de substâncias químicas capazes de provocar efeitos tóxicos ao ambiente e a saúde publica, evidenciando também interações entre diferentes substâncias e mesmo em concentrações muito baixas. As comunidades aquáticas Fitoplâncton É formado por vários grupos de algas e cianobactérias livres flutuantes em um corpo d’água, são organismos fotossintetizantes, portanto são a base da cadeia trófica, iniciando a fase biológica de nutrientes em ecossistemas aquáticos. A partir do conhecimento de sua diversidade é possível, por exemplo, obter informações sobre o grau de eutrofização e da produtividade primária do ecossistema. Quanto ao aspecto sanitário, determinados grupos de algas podem conferir odor e sabor desagradáveis à água e algumas cianobactérias são produtoras de toxinas, que em eventos de florações trazem riscos eminentes à saúde humana. 28 Saneas Zooplâncton A comunidade zooplanctônica é composta por grupos de animais, geralmente microscópicos, de diferentes categorias taxonômicas, que habitam a coluna d’água. O zooplâncton possui um papel central na dinâmica dos ecossistemas aquáticos, especialmente na ciclagem de nutrientes e no fluxo de energia, exercendo uma importante função devido à sua posição na cadeia alimentar. Além de serem utilizados pelo homem em programas de monitoramento e controle ambiental, estes organismos podem controlar o crescimento das algas planctônicas por herbívora, atuando desta forma na manutenção da qualidade da água. Macrófitas Aquáticas As macrófitas aquáticas são plantas visíveis ao olho nu, que podem viver total ou parcialmente submersas ou até mesmo flutuando em ambientes aquáticos. A elevação das concentrações de nutrientes em um reservatório favorece o crescimento acelerado da comunidade macrofítica, que por sua vez contribui com a deterioração da qualidade pela produção e decomposição de grande quantidade de matéria orgânica, formando-se assim um ciclo com consequências desastrosas para o corpo d’água. Dentre os problemas relacionados podemos citar o impedimento da pesca, da navegação, o entupimento de canais de irrigação, o impedimento de atividades turísticas, além do favorecer o aparecimento de verminoses como a esquistossomose. Peixes A construção de reservatórios afeta diretamente o ciclo reprodutivo dos peixes, já que a barragem atua como um obstáculo à migração reprodutiva de diversas espécies. A comunidade íctia além de participar da cadeia trófica atuando em vários níveis, é fundamental na composição da biota aquática e possui um grande valor econômico levando em conta a produção pesqueira. O uso desta comunidade como indicador biológico traz a vantagem de que as espécies são relativamente fáceis de serem identificadas e os efeitos fisiológicos que as alterações na qualidade da água podem provocar no organismo destes animais também podem ser facilmente observados. Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 visão de mercado Macroinvertebrados bentônicos Os macroinvertebrados bentônicos são animais invertebrados cujo tamanho ultrapassa 0,25mm e que habitam o substrato de fundo dos ambientes aquáticos. Os organismos da comunidade bentônica são abundantes em todos os tipos de ecossistemas aquáticos, vivendo enterrados na areia e na lama, presos à superfície de rochas, sobre o sedimento orgânico do fundo, ou escondidos nos espaços existentes entre seixos e pedras. A análise dos macroinvertebrados bentônicos permite uma visão espacial eficiente dos efeitos de poluentes ou de perturbações físicas no meio, além disso, devido à sua baixa motilidade e possuírem o ciclo de vida relativamente longo, reflete as condições do ambiente por um período maior de tempo e não apenas no momento da coleta. Perifíton O perifíton é definido como uma complexa microbiota formada por algas, bactérias, fungos, animais, detritos orgânicos e inorgânicos aderidos a um substrato orgânico ou inorgânico, vivo ou morto (Wetzel, 1983). A importância do perifíton como indicador da qualidade da água já foi evidenciada por vários pesquisadores, entretanto ainda são poucas as avaliações que levam em consideração esta comunidade. Por exemplo, pouco se sabe sobre o risco da produção de toxinas das cianobactérias do perifíton em águas de abastecimento. Microorganismos causadores de doenças A análise microbiológica da água é uma ferramenta indispensável para garantir a qualidade da água destinada ao abastecimento da população, já que a contaminação por patógenos oferece grande risco à saúde humana, podendo provocar gastroenterites ou outras doenças ainda mais graves e que podem inclusive serem fatais, como a cólera. Bactérias e Vírus Os patógenos bacterianos ocorrem no ambiente aquático em todas as regiões do planeta. Segundo a OMS (1996), as bactérias patogênicas mais comumente encontradas são a Salmonella, Shigella, Escherichia coli enterotoxigênica, Campylobacter, Vibrio e Yersinia. Os agentes virais como o vírus da hepatite, o rotavírus e anterovírus também são importantes contaminantes. Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 Protozoários Diversas doenças parasitárias que afetam principalmente o sistema gastrointestinal são causadas pela ingestão de protozoários patogênicos que estão presentes na água. Dentre estes, podemos citar como sendo de grande importância para a saúde pública a Giardia sp., Entamoeba sp. e Cryptosporidium sp. A complexidade e os altos custos dos métodos de análise são fatores limitantes para que seja feita pesquisa direta da presença destes microorganismos na água, por isso a qualidade da água é monitorada a partir da análise de outros indicadores de contaminação fecal. Avaliação da toxicidade O efeito tóxico de substâncias, naturais ou artificiais, sobre os organismos aquáticos e suas consequências ao ecossistema e ao homem pode ser avaliado por meio de ensaios ecotoxicológicos. É uma excelente ferramenta que permite, por exemplo, avaliar e prever danos ambientais, estabelecer padrões de qualidade de água e de lançamento de efluentes. São ensaios padronizados feitos principalmente em condições de laboratório, que consiste basicamente em expor os organismos selecionados a uma determinada amostra e avaliar seus efeitos agudos, ou seja, severos e rápidos, e os efeitos crônicos, que são as alterações fisiológicas e/ ou comportamentais sobre os ciclos de vida dos organismos. Podem ser utilizados organismos representativos de diferentes comunidades e níveis tróficos, como as algas, microcrustáceos, invertebrados bentônicos, peixes (Zagatto & Bertoletti, 2006). As variáveis biológicas na legislação A legislação de qualidade da água para os mananciais destinados ao abastecimento público avançou no estabelecimento metas de preservação, com o enquadramento dos corpos d’água por meio de padrões de qualidade, visando a garantia do uso atual e futuro dos recursos hídricos. A Resolução CONAMA n° 357/2005 que estabelece os critérios para a classificação e enquadramento dos corpos d’água, preconiza a preservação e a proteção das comunidades aquáticas. Traz alguns padrões biológicos de qualidade, como o número de bactérias termotoletantes, que revela informações sobre contaminação fecal da água, a concentração de clorofila-a que fornece o indicativo de biomassa de algas e cianobac- Saneas 29 visão de mercado térias presentes no corpo d’água, e também determina o número máximo de células de cianobactérias para cada classe de água doce. Também traz a necessidade de considerar os ensaios ecotoxicológicos como uma ferramenta para avaliar a interação entre substâncias e presença de contaminantes não listados, e como padrão para o lançamento de efluentes. Além de estabelecer que a qualidade dos ambientes aquáticos pode ser avaliada por meio dos indicadores biológicos. A Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde também estabelece avaliações biológicas dentro de padrões de qualidade, considerando por exemplo, Escherichia coli e/ou os coliformes termotolerantes, e níveis de alerta com relação ao número total de células de cianobactérias e concentração de cianotoxinas no manancial, aumentando quando necessário a frequência do monitoramento e a realização de bioensaios para se detecção de toxicidade. A importância da qualidade analítica Contudo é certo que há uma crescente preocupação e um avanço na consideração das avaliações biológicas na legislação que trata da qualidade da água. Porém isto deve ser acompanhado pela qualificação contínua de laboratórios analíticos, uma vez que a partir dos dados gerados por eles que são tomadas muitas das medidas de controle e gestão dos recursos hídricos. As técnicas para as análises biológicas também passaram por muitos avanços nos últimos anos, juntamente com uma preocupação da necessidade de implantação de um sistema de qualidade laboratorial, que atualmente já é considerado como um requisito básico para a atuação no setor. É fundamental destacar também que tanto o CONAMA 357/2005 e a Portaria 518/2004 exigem que os dados analíticos gerados sejam provenientes de laboratórios que tenham um sistema de qualidade implementado. Os rápidos avanços tecnológicos precisam de respostas rápidas a diferentes problemas ambientais, e com o aumento da demanda de utilização da água frente à redução de sua qualidade, sem dúvida estamos diante de um grande desafio tecnológico neste setor. A exigência técnica das avaliações biológicas leva a necessidade de contínua capacitação dos profissionais que atuam nesta área, ao aprimoramento de técnicas para que o tempo de resposta seja suficientemente rápido e é fundamental que os custos envolvidos no 30 Saneas atendimento a estas demandas permitam um amplo acesso a resultados confiáveis. Referências Bibliográficas BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 518, de 25 de março de 2004. Estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para o consumo humano e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências. Diário Oficial da União. Republica Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasilia, DF, 26 mar. 2004. BRASIL. Resolução CONAMA nº 357 de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos d’água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outra providencias. Diário Oficial da União. Republica Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasilia, DF, 18 mar. 2005. ESTEVES, F. A. Fundamentos de Limnologia, 2ª edição. Rio de Janeiro: Interciência. 1998. RODGHER, S.; ESPÍNDOLA, E. L. G.; ROCHA, O.; FRACÁCIO, R.; PEREIRA, R. H. G.; RODRIGUES, M. H. S. Limnological and ecotoxicological studies in the cascade of reservoirs in the Tietê river (São Paulo, Brazil). Braz. J. Biol., v. 65, p. 697-710, 2005. TUNDISI, J. G. Água no século XXI: Enfrentando a escassez. São Carlos: Rima, IIE, 2003. TUNDISI, J. G.; BICUDO, C.E.M.; MATSUMURA-TUNDISI, T. (Ed.). Limnology in Brazil. Rio de Janeiro: ABC/SBL, 1995. WETZEL, R.G. (Ed.). Periphyton of freshwater ecosystems. The Hague: Dr. W. Junk, 1983. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Water Quality Assessments - A Guide to Use of Biota, Sediments and Water in Environmental Monitoring -Second Edition. 1996. Disponível em: http://www. who.int/water_sanitation_health/resources/wqa/en/ ZAGATTO, P. A. & BERTOLETTI, E. (Ed.) Ecotoxicologia aquática – princípios e aplicações. São Carlos: Rima, 2006. Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 destaque da edição Foi aprovada a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB) Colaboração de Doralice Lemos, Edson Santana Borges e Wong Sui Tung (Sabesp) Foi sancionada pelo Presidente da República, em 20/09/10 e já está em vigor, a Lei 12.334 que estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB) e cria o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB), alterando o art. 35 da lei 9.433 (Conselho Nacional de Recursos Hídricos) e art. 4º da Lei 9984 (ANA). Barragem Paiva Castro Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 Saneas 31 destaque da edição Em discussão desde 2003, essa Lei se aplica às barragens destinadas à acumulação de água para quaisquer usos, à disposição final ou temporária de rejeitos e à acumulação de resíduos industriais e define as responsabilidades dos atores envolvidos, detalhando o papel do 1empreendedor, a quem caberá garantir os recursos necessários à segurança de barragens e dos órgãos fiscalizadores estaduais e federais. A Lei passará por uma etapa de regulamentação em que serão discutidos e normatizados os critérios técnicos referentes aos empreendimentos de barragens. A partir daí, os empreendedores de barragens terão prazo de dois anos, contado a partir da publicação da Lei, para se adequarem à nova norma, ao longo dos quais deverão submeter à aprovação dos órgãos fiscalizadores os relatórios especificando ações e cronograma para implantação do Plano de Segurança de Barragens. Todo esse processo será acompanhado pelos órgãos responsáveis pela outorga dos empreendimentos, inclusive os órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA. técnica dos profissionais envolvidos, manuais de inspeções de segurança e de monitoramento e respectivos relatórios, regras operacionais dos dispositivos de descarga, áreas do entorno e acessos a serem resguardados de usos ou ocupações permanentes, além de Plano de Ação de Emergência (PAE). O que falta fazer A SABESP, como empreendedora e operadora de barragens para abastecimento de água da maioria dos municípios do Estado de São Paulo, deverá adequar-se para atendimento às ações determinadas por essa Lei. O atual PLANO DE MANUTENÇÃO E SEGURANÇA DE BARRAGENS deverá ser remodelado assim como as demais informações existentes na empresa deverão ser adaptadas. As ações que deverão ser implantadas pela SABESP, entre outras, são relativas ao envolvimento da população, que deverá ser informada e estimulada a participar das ações preventivas e emergenciais e ao desenvolvimento de mecanismos de participação e controle social nas ações de fiscalização da barragem. O que existe na SABESP A SABESP, no início da década de 1980, implantou com o IPT um programa preventivo, composto de ações de treinamento, inspeção e monitoramento das barragens da RMSP. Os primeiros passos foram dados com o SISMAPREV- Sistema de Manutenção Preventiva, cuja evolução culminou no PLANO DE MANUTENÇÃO E SEGURANÇA DE BARRAGENS em 1992, que possibilita estabelecer indicadores de criticidade das barragens, associados às características intrínsecas e de manutenção dessas estruturas. Em 2004, a Sabesp, por solicitação do Ministério da Integração Nacional e da Agência Nacional de Águas, cadastrou as barragens da RMSP no CNB - Cadastro Nacional de Barragens. Nesse banco de dados, fornecido e disponibilizado pelo MIN e pela ANA, foram registradas todas as informações técnicas disponíveis de cada estrutura. As informações a serem fornecidas ao SNISB deverão ser sistematicamente atualizadas e disponíveis quando exigidas, como dados técnicos de implantação do empreendimento, dados de operação e manutenção da barragem, estrutura organizacional, qualificação FISCALIZAÇÃO A fiscalização da segurança de barragens caberá, sem prejuízo das ações fiscalizatórias dos órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), à entidade que outorgou o direito de uso dos recursos hídricos, observado o domínio do corpo hídrico, que ainda será regulamentado. O órgão fiscalizador também é obrigado a exigir do empreendedor a ART – Anotação de Responsabilidade Técnica por profissional habilitado pelo CREA/CONFEA dos estudos, planos, projetos, construção, fiscalização e demais relatórios citados nesta Lei. Considerando-se os impactos das barragens sobre as populações afetadas, residentes a montante e jusante, essa lei imporá novos paradigmas não apenas para o empreendedor e ao órgão fiscalizador, mas para os projetistas, construtores, gestores e Poder Público. Quem ganha com isso é a sociedade brasileira. O conteúdo integral da referida pode ser acessado por meio do link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12334.htm Empreendedor: 1 agente privado ou governamental com direito real sobre as terras onde se localizam a barragem e o reservatório. É o responsável legal pela segurança da barragem, cabendo-lhe o desenvolvimento de ações para garanti-la 32 Saneas Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 destaque da edição BARRAGEM PAIVA CASTRO SISTEMA CANTAREIRA NOVA BARRAGEM DA GRAÇA BARRAGEM PARAITINGA SISTEMA ALTO COTIA SISTEMA ALTO TIETE BARRAGEM JACAREÍ BARRAGEM JAGUARI SISTEMA CANTAREIRA SISTEMA CANTAREIRA Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 Saneas 33 entrevista O Eng. José Francisco de Proença é superintendente de Manutenção Estratégica da Sabesp. Associado da AESabesp, inclusive detentor do Prêmio “Profissionais do Ano”, em 2005, é engenheiro eletricista graduado pela FESP (Faculdade de Engenharia São Paulo) e tecnólogo mecânico graduado pela FATEC (Faculdade de Tecnologia de São Paulo). Também é pós-graduado em Gestão e Tecnologia da Qualidade pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) e concluiu cursos de especialização na Inglaterra e no Japão. 34 Proença fala sobre a manutenção e inspeção das barragens da RMSP Em virtude de um artigo em destaque nesta edição, que aborda o estabelecimento da Lei 12.334, referente à Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), elaborado por um grupo de engenheiros da Sabesp, a reportagem da Saneas foi buscar mais informações sobre esse processo com o Superintendente de Manutenção Estratégica da Sabesp, Eng. José Francisco de Proença, que nos forneceu os seguintes esclarecimentos: Saneas: Gostaríamos que o senhor discorresse sobre as condições de manutenção das Barragens e Lagoas de Tratamento da Sabesp, frente a essa nova legislação. Proença: Historicamente, as barragens da RMSP eram inspecionadas pelos engenheiros da Superintendência de Manutenção Estratégica - MM. Essas inspeções, com periodicidade semestral, eram realizadas com base em orientações do CBDB - Comitê Brasileiro de Grandes Barragens. Mais tarde, o procedimento de inspeção foi aprimorado após o estabelecimento de convênio com o IPT- Instituto de Pesquisas Tecnológicas. Em 1991, visando aprimorar esse processo, a MM, em conjunto com uma consultoria, desenvolveu o Plano de Manutenção e Segurança de Barragens, contendo Procedimentos de Vistoria e Diagnóstico para as estruturas situadas na Região Metropolitana de São Paulo. A partir dessa época, as atividades de inspeção e avaliação de segurança das barragens da RMSP são fundamentadas nesse Plano de Manutenção, que, com adequações, já atenderá parte dos quesitos da Lei. Quanto as demais barragens, do litoral e do interior, a MM poderá estender o plano adotado na RMSP para essas estruturas, sendo que as tratativas iniciais já foram desencadeadas. Quanto às lagoas de tratamento, caberá uma avaliação técnica/jurídica para definir a aplicabilidade da Lei às mesmas, visto que o artigo 1º da Lei 12334/10 refere-se às barragens destinadas à Saneas disposição final ou temporária de rejeitos e acumulação de resíduos industriais. Saneas: Alguns técnicos da Sabesp questionam a adequação da Companhia no atendimento às ações determinadas por essa nova Lei. É necessário estabelecer um planejamento para as adequações necessárias? Como a MM se posiciona frente a esse desafio? Proença: Essa nova Lei surgiu após vários acidentes ocorridos no Brasil e o seu objetivo é garantir que a cultura de segurança e gestão de risco das Barragens sejam aplicadas por parte do empreendedor ou outorgado. Essa Lei veio regulamentar as ações de segurança a serem adotadas em todas as fases de existência das barragens desde planejamento, projeto, construção, primeiro enchimento, primeiro vertimento, operação, desativação e usos futuros, em todo território nacional. Dessa forma, caberá à Sabesp, como empreendedora e outorgada, estabelecer um planejamento e as adequações necessárias ao atendimento à Lei, a partir dos critérios e diretrizes a serem definidos pelo órgão fiscalizador. Lembramos ainda que a Lei estabelece um prazo de 2 anos, após a assinatura, para a implantação do Plano de Segurança de Barragens. Saneas: Existe alguma metodologia da Sabesp referente ao Plano de Manutenção de Barragens que já está em curso? Proença: Sim, toda metodologia de inspeção e Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 entrevista A Lei 12.334, referente à Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB) surgiu após vários acidentes ocorridos no Brasil e o seu objetivo é garantir que a cultura de segurança e gestão de risco das Barragens sejam aplicadas por parte do empreendedor ou outorgado. avaliação está contida no Plano de Manutenção e Segurança de Barragens, que vem sendo utilizado desde 1991. Saneas: Como a Sabesp realiza os processos de inspeção das Barragens e lagoas? Proença: Há quatro tipos de inspeção de Barragens na RMSP: a) Rotineiras ou Informal: executadas pelos colaboradores das áreas operacionais, sem utilização de Planilhas, com frequência mensal e leitura dos instrumentos. Não há emissão de relatório. b) Periódicas: executadas pela equipe de Engenharia de Barragens da MM, podendo-se utilizar planilha detalhada para sua execução, com geração de relatório, onde são atribuídas notas aos indicadores de criticidade e atualizados conforme as condições resultantes da manutenção corretiva executada ou não. A frequência dessas inspeções é estabelecida de acordo com o indicador de criticidade, variando de semestrais a bienais. c) Formais: executadas por equipe multidisciplinar de especialistas, que não pertençam aos quadros do proprietário da obra. Inclui um estudo detalhado dos documentos de projeto, dos registros existentes e dos históricos das intervenções realizadas. A inspeção engloba todos os aspectos das estruturas, incluindo detalhes de operação dos equipamentos mecânicos relacionados com a segurança da barragem. A frequência dessas inspeções varia de 3 a 5 anos, gerando relatórios com recomendações. d) Especiais: Executadas para a observação de uma ocorrência específica da barragem e suas estruturas anexas, seja por ocorrência de alguma deficiência importante ou quando aparecem oportunidades raras, tais como o rebaixamento do nível d’água do reservatório, etc. Encaixam-se neste ítem as inspeções subaquáticas, com mergulhadores e as batimétricas. Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 Quanto às lagoas, de forma geral, são realizadas apenas as inspeções de rotina. Saneas: Como é feito o monitoramento de armazenamento dos reservatórios para minimizar os efeitos das fortes chuvas? A MM estabelece algum planejamento ou a área de operação é que se encarrega dessa obrigação? Proença: Essas atividades são responsabilidades da área de operação. Saneas: A Sabesp é referência em manutenção de barragens, fale um pouco sobre o Contrato com a Petrobrás. Proença: A MM, atendendo à recente política da Sabesp de busca de novos negócios, participou de licitação promovida pela Petrobrás , para elaboração de avaliação e diagnóstico da Barragem da Superintendência de Industrialização do Xisto - SIX, em São Mateus do Sul, no Paraná. Uma das exigências na fase de classificação das propostas no processo licitatório foi a existência e disponibilidade de um Plano de Manutenção de Barragens, com classificação de risco, fator este que foi preponderante para a MM participar e vencer esse processo. Os serviços contratados, de forma sucinta, foram: análise prévia de documentos e projetos para conhecimento de suas características, inspeção de 3 dias no local com equipe multidisciplinar e elaboração de relatório final contendo diagnóstico e classificação de risco da estrutura. Saneas 35 matéria sabesp PROGRAMA DE MONITORAMENTO LIMNOLÓGICO DE RIOS E REPRESAS DA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO REALIZADO PELA SABESP Por Adilson Macedo Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade de Mogi das Cruzes – UMC, Especialização em Tecnologias Ambientais pela Faculdade de Tecnologia São Paulo – FATEC-SP. Biólogo do Laboratório de Limnologia da Divisão de Recursos Hídricos Metropolitanos Leste da SABESP - [email protected] . Por Ely Yamamura Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo – USP, e especialista em Gestão Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública – USP. Bióloga do Laboratório de Limnologia da Divisão de Recursos Hídricos Metropolitanos Sudoeste da SABESP - [email protected]. Por Lina Ikejiri Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. Bióloga do Laboratório de Limnologia da Divisão de Recursos Hídricos Metropolitanos Norte da SABESP - [email protected]. Por Valesca Rodrigues Oliveira de Souza Graduada em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário São Camilo. Bióloga do Laboratório de Limnologia da Divisão de Recursos Hídricos Metropolitanos Norte da SABESP - [email protected]. Por Vanessa de Fátima Pattaro Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade do Grande ABC - UNIABC. Bióloga do Laboratório de Limnologia da Divisão de Recursos Hídricos Metropolitanos Leste da SABESP - [email protected]. INTRODUÇÃO A importância da qualidade da água está bem caracterizada na Política Nacional de Recursos Hídricos, que define, entre outros objetivos: “Assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos”, objetivando a visão da sustentabilidade dos Recursos Hídricos; “A gestão sistemática dos Recursos Hídricos, sem dissociação dos aspectos de quantidade e qualidade e a integração da gestão dos Recursos Hídricos com a gestão ambiental”. O gerenciamento dos Recursos Hídricos compreende as atividades integradas de avaliação dos usos múltiplos da água. Há estreita inter-relação entre qualidade e quantidade da água no contexto de diagnóstico e avaliação dos impactos ao meio ambiente. Em se tratando de represas, reconhecidos sistemas lênticos, uma das ações para obtenção de informações referentes à carga poluidora é a medição de vazão dos pontos monitorados, para que seja possível avaliar a carga de fósforo, bem como alterações da quantidade e transporte de água de um ambiente para o outro, que pode levar, por exemplo, a modificações na comunidade fitoplanctônica. Segundo Novo (2007), o monitoramento compreende a observação repetitiva de uma área ou fenôme36 Saneas no, com uma frequência definida pela variabilidade do fenômeno e pelas necessidades de informação sobre a dinâmica do seu comportamento. A Resolução CONAMA 357/05 define monitoramento como sendo a medição ou verificação de parâmetros de qualidade e quantidade de água, que pode ser contínua ou periódica, utilizada para acompanhamento da condição e controle da qualidade do corpo de água. Desta forma, essa atividade fundamental torna-se o primeiro passo para a elaboração de um banco de dados confiável e adequado e que possa ser útil ao planejamento e ao gerenciamento dos Recursos Hídricos (Tundisi, 2005). A legislação sobre o tema Abastecimento de Água remete ao monitoramento da água captada nos mananciais superficiais para fins de tratamento, contemplando em seus artigos, o monitoramento de cianobactérias e cianotoxinas. Deve-se considerar a ocorrência de florações de algas, tendo como um dos focos o grupo das Cianobactérias e seus eventuais impactos ao processo de tratamento, atuação esta baseada nos atos jurídicos referentes à qualidade da água para abastecimento, encontrados na Portaria 518/04, e também na Resolução CONAMA 357/05. Os Ensaios Hidrobiológicos visam à avaliação da comunidade fitoplanctônica e, consequentemente, seus impactos na qualidade da água. O significado sanitário Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 matéria sabesp dos microrganismos observados, como entupimento de leito de areia nos filtros, aumento de turbidez da água, presença de gosto ou odor, são indicadores de possíveis interferências no processo de tratamento das estações de tratamento de água, entre outros fatores. OBJETIVO O objetivo deste trabalho é apresentar a rede de monitoramento da qualidade das águas realizado pela SABESP, através de laboratórios de limnologia situados nas três divisões operacionais do Departamento de Recursos Hídricos Metropolitanos - MAR, sendo elas Divisão de Recursos Hídricos Metropolitanos Leste – MARL, Divisão de Recursos Hídricos Metropolitanos Norte – MARN e Divisão de Recursos Hídricos Metropolitanos Sudoeste – MARS, que atuam nos mananciais, sendo eles rios e represas de toda a Região Metropolitana de São Paulo - RMSP. MATERIAIS E MÉTODOS REDE DE MONITORAMENTO Para gestão descentralizada dos Recursos Hídricos, há divisões operacionais em três áreas distintas da RMSP que atendem um ou mais sistemas produtores de água. Na região leste de São Paulo, a Divisão MARL atua nos sistemas produtores Alto Tietê e Rio Claro; na região norte de São Paulo a Divisão MARN atua no sistema produtor Cantareira; na região sudoeste de São Paulo, a Divisão MARS atua nos sistemas produtores Guarapiranga, Rio Grande, Ribeirão da Estiva, Alto Cotia e Baixo Cotia. Esta forma de descentralização na gestão é de extrema importância para o monitoramento, focado principalmente nos problemas e dificuldades encontrados em cada região. Os ensaios hidrobiológicos são realizados nos laboratórios das três divisões com frequências que superam a quantidade prevista em legislação e, por meio da técnica de Sedgwick-Rafter, permitem a identificação e quantificação de fitoplâncton (Figura 2). Avalia-se também o grau de toxicidade dos pontos amostrados através ensaios de toxinas de cianobactérias. Considerando a necessidade do levantamento de informações para avaliação das características limnológicas dos rios e represas, foi consolidada uma estrutura subdividida em regiões, a fim de se agilizar a transferência de informações de Monitoramento Ambiental aos tomadores de decisão em Gestão do Manancial. Esta rede de monitoramento atende os oito grandes sistemas produtores de água (Figura 1), que a Sabesp classifica como sendo da Diretoria Metropolitana – M. Figura 2. Comunidade fitoplanctônica observada em Câmaras de Sedgwick–Rafter em amostras de ensaios Hidrobiológicos. Figura 1. Localização dos grandes Sistemas Produtores da Sabesp: 1 – Cantareira, 2 – Alto Tietê, 3 – Rio Claro, 4 – Rio Grande, 5 – Guarapiranga, 6 – Alto Cotia, 7 – Baixo Cotia, 8 – Ribeirão da Estiva. Fonte: SSD2 – Sistema de Suporte a Decisão para os Grandes Sistemas Produtores - SABESP Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 Como parte do monitoramento, são realizadas análises de Coliformes Totais e Escherichia coli. Isso permite uma primeira avaliação dos mananciais de abastecimento sob o ponto de vista bacteriológico. Embora simples, são análises que monitoram a qualidade da água na forma de indicadores de poluição. Com relação à potabilidade, verifica-se de maneira indireta a Saneas 37 matéria sabesp presença de micro-organismos causadores de doenças de veiculação hídrica. São realizadas ainda análises físico-químicas e de orgânicos, completando o monitoramento de nossos mananciais. ESTRUTURA LABORATORIAL Os Laboratórios de Limnologia, que atuam na gestão de Recursos Hídricos, buscam através de sua estrutura física e corpo técnico, diagnosticar com rapidez, os eventuais impactos aos corpos d’água. Esta estrutura tem início nas equipes que realizam coletas de amostras de água em pontos georreferenciados em represas e rios (Figura 3). Em campo, são obtidos os primeiros dados do monitoramento. Figura 3. Coletas realizadas em pontos de monitoramento em represa e rio. Em laboratório, as amostras são encaminhadas para os respectivos ensaios físico-químicos e biológicos (Figura 4) e os resultados obtidos são apresentados na forma de relatórios e boletins. Deve-se ressaltar o controle de qualidade realizado nos diferentes processos desde a coleta até a emissão de resultados para garantir a confiabilidade dos dados gerados. servem de instrumento ao Departamento de Recursos Hídricos Metropolitanos – MAR para a gestão dos recursos hídricos, com enfoque na qualidade dessas águas. Tem-se por objetivo ainda disponibilizar aos clientes internos informações, do ponto de vista limnológico, sobre a situação da água captada nas estações de tratamento de água e sobre o próprio processo de tratamento por meio de análises hidrobiológicas comparativas entre a água de captação e a tratada. Os rios e represas são avaliados com vistas à quantificação das cargas de nutrientes, principalmente fósforo, visando possíveis impactos à comunidade fitoplanctônica. Muitas das represas da Região Metropolitana de São Paulo, eutrofizadas devido ao uso e ocupação do solo de maneira irregular (figura 5), têm o fósforo como fator limitante para o crescimento de muitos grupos de algas. Assim, a identificação e quantificação dos diversos grupos de algas, principalmente o grupo das Cianobactérias, permitem a possibilidade da prevenção e controle das florações. Desta forma, as análises realizadas para o monitoramento dos sistemas fornecem uma visão bem ampla das condições dos nossos mananciais para usos no abastecimento público. O Departamento de Recursos Hídricos, através de seus três sistemas gerenciais objetivam compor ferramentas para gestão e tomada de decisões relacionadas aos mananciais de abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo, buscando a melhoria da qualidade da água que abastece as estações de tratamento de água. Figura 4a. Análise de cianotoxinas. Figura 4b. Análise Hidrobiológica. RESULTADOS E DISCUSSÃO A rede de monitoramento implantada nos oito Sistemas Produtores permite avaliar as condições da qualidade das águas dos mananciais usados para abastecimento público por meio dos resultados de análises de campo e laboratório. As informações geradas nesse processo 38 Saneas Figura 5. Uso e ocupação do solo no entorno do Sistema Guarapiranga, impactando a qualidade da água do manancial. Fonte: Site Sabesp na internet CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES O monitoramento nos mananciais dos Sistemas Produtores da Região Metropolitana do Estado de São Paulo, Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 matéria sabesp tem sido eficiente ferramenta possibilitando acesso a informações tanto qualitativas quanto quantitativas dos organismos fitoplanctônicos e sua dinâmica entre si e com os outros organismos, permitindo respostas rápidas para tomada de medidas emergenciais, corretivas e preventivas. Tal acompanhamento contínuo e sistemático das características limnológicas, através de análises e ensaios realizados nos Laboratórios Limnológicos, possibilita ainda a avaliação de séries históricas de dados e tendências ao longo do tempo. O objetivo final é a busca contínua da melhoria da qualidade dos rios e represas, que abastecem as estações de tratamento de água e, portanto, da saúde pública, considerando também as ações mitigadoras para a redução da degradação ambiental em todos os segmentos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria n.º 518, de 03/2004. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Poder Executivo. Brasília (DF), 26 mar. 2004, Seção1, p.266-270 Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 2. BRASIL, CONAMA. Resolução nº. 357, de 03/2005. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Poder Executivo. Brasília (DF), 18 mar. 2005, Seção1. 3. BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Agência Nacional de Águas (ANA). Panorama da Qualidade das Águas Superficiais no Brasil, Caderno de Recursos Hídricos, Brasília, 2005, 172. Disponível em http://www.ana.gov. br/sprtew/1/1-ANA.swf Acessado em Maio de 2011. 4. BRASIL, Presidência da República, Lei 9433/97, Política Nacional de Recursos Hídricos, de 01/1997. 5. CETESB - São Paulo, Relatório de qualidade das águas interiores do estado de São Paulo-2009, São Paulo, 2009, pp. 310 (Série Relatórios). 6. NOVO, E.M.L.M. Monitoramento da qualidade e quantidade da água e sensoriamento remoto. XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, São Paulo, 2007. Disponível em http://mtc-m17.sid.inpe.br/col/ sid.inpe.br/mtc-m17%4080/2007/12.03.20.57/doc/3. pdf. Acessado em Maio de 2011. 7. TUNDISI, José Galizia. Água no século XXI: Enfrentando a escassez. – São Carlos: Rima, IIE, 2 ed., 2005. Saneas 39 matéria sabesp Almir Aparecido é Químico, Especialista em Engenharia de Saneamento Básico pela FSP – USP, Mestre em Ciências da Engenharia Ambiental pela EESC – USP. Na Sabesp, é químico da Divisão de Gestão e Desenvolvimento Operacional de Recursos Hídricos Metropolitanos MARG Análise da eficiência da várzea do ribeirão Parelheiros na melhoria de qualidade das águas que afluem à represa do Guarapiranga - São Paulo por Almir Aparecido de Souza Andrade Povoação da Represa – Fonte: SOS Rios 1. INTRODUÇÃO A Bacia do Guarapiranga ocupa vasta extensão com área aproximada de 630 km², situando-se em território dos municípios de São Paulo, Itapecerica da Serra, Embu, Embu-Guaçu, Cotia, São Lourenço e Juquitiba. Originalmente construída e utilizada para a geração de energia elétrica, em 1927 passou a ser utilizada como fonte de abastecimento público, sendo responsável hoje pelo abastecimento de 18,8 % da Região Metropolitana de São Paulo. Ocupações desordenadas e irregulares da área do manancial a partir da década de 60 acarretaram em problemas ambientais crescentes, notoriamente na qualidade da água. A necessidade de ampliação da oferta d’água para atender a demanda na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), principalmente na Região Sul da cidade, levou a uma série de obras que visaram à regularização do abastecimento de água na RMSP. O Sistema Produtor Taquacetuba - Guarapiranga foi destacado como uma das obras prioritárias constantes no plano de investimentos da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – Sabesp, empresa pública estadual responsável 40 Saneas pelos serviços de abastecimento público de águas e tratou do aporte de até 4,0 m³/s de água para o Reservatório Guarapiranga, através da captação e transposição de água do braço do Taquacetuba na represa Billings, objetivando a melhoria da capacidade de regularização do nível da represa do Guarapiranga e consequentemente a diminuição dos riscos de abastecimento nos períodos de grande estiagem, assim como a possibilidade de incrementação da captação de água para tratamento em 2 m³/s. Em setembro de 2000 foi iniciada a transferência de água da represa Billings (braço do Taquacetuba) para a represa do Guarapiranga. O sistema Taquacetuba é composto por um par de estações de bombeamento de água, sendo a primária uma estação elevatória flutuante composta por cinco bombas submersíveis e a secundária uma estação elevatória convencional instalada em terra com cinco bombas centrífugas horizontais, 13,9 km de adutora sendo 8,3 km de transferência por gravidade com 80 m de diferença de cota entre o ponto mais alto da linha de adução e o sistema de dissipação de energia, terminando em um canal de afluência à várzea do ribeirão Parelheiros. O ribeirão Parelheiros aflui na represa do Guarapiranga onde forma uma várzea de aproximadamente 93 hectares com grande influência antrópica. Pode-se afirmar que esta não é uma várzea natural uma vez que, originalmente situava-se na afluência do ribeirão Parelheiros ao rio Guarapiranga mudando sua posição a partir do enchimento da represa. Até então esta região era um típico fundo de vale onde, apesar das cheias provocadas nos períodos de chuva não possuía o típico ciclo biogeoquímico de áreas de várzea. Com o passar do tempo essa “várzea construída sem planejamento” passou Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 matéria sabesp a adquirir características naturais através da fixação e desenvolvimento de vegetação primária típica destes sistemas ecológicos, porém com retrocesso causado a sua formação pela antropização intensa em sua periferia. 2. ÁREAS ALAGADAS As áreas alagadas ou várzeas, comumente tratadas usando-se o termo do idioma inglês “Wetland”, podem ser naturais, induzidas ou construídas. As Wetlands naturais têm importantes funções dentro dos ecossistemas onde estão inseridos, entre as quais se destacam: a capacidade de regularização dos fluxos de água, amortecendo os picos de enchentes; a capacidade de modificar e controlar a qualidade das águas; sua importância na função de reprodução e alimentação da fauna aquática, incluindo os peixes; a proteção à biodiversidade como área de refúgio da fauna terrestre e controle da erosão, evitando o assoreamento dos rios (Salati, 2000). A principais propriedades que tornam estas áreas importantes para o controle de poluentes e contaminantes em corpos d’água são: alta produtividade de vegetação; grande capacidade de absorção dos sedimentos; altas taxas de oxidação pela microflora associada à biomassa das plantas e grande capacidade de reter nutrientes, poluentes e contaminantes (Salati, 2000). Os processos físicos, químicos e biológicos, isto é, o ciclo biogeoquímico, que ocorrem nesses ecossistemas e que são responsáveis pela alteração da qualidade das águas, varia grandemente de acordo com o regime hidrológico, geologia, fatores climáticos e bióticos. As Wetlands construídas diferem das naturais por proporcionarem o controle do regime hidrológico e ainda pela possibilidade de composição do substrato utilizado, uma vez que pode este ser projetado para otimização do sistema (Salati, 2000). SALATI (2000) diz que as Wetlands construídas tem despertado interesse mundial devido em parte ao movimento preservacionista de Wetlands naturais, tendo em vista que o seu uso indevido provocou profundas alterações descaracterizando estas áreas. A utilização de Wetlands construídas como sistemas de tratamento de águas residuais têm se intensificado nestas últimas décadas. Estes sistemas têm sido matéria de muitas discussões, as quais apresentam um ponto positivo: o desenvolvimento de pes- Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 quisas e experimentos conduzindo para um maior conhecimento e experiências nessa linha de pesquisa (HARBEL, 1997). Segundo SALATI (2000) a remoção de nutrientes e contaminantes provenientes de efluentes domésticos e industriais são relatados em estudos e experiências de utilização de Wetlands naturais e construídas, porém os resultados são muito variáveis. Observa-se que essa variação é decorrente da especiação química presente nos efluentes assim como a carga dos mesmos associados à Wetlands. No caso particular da transposição de água entre Represas que pode ser feito através de instalações hidráulicas para este fim ou por rios de interligação, é desejável que antes da afluência a Represa de recepção, as várzeas proporcionem papel significativo quanto ao abatimento de carga de nutrientes e a minimização da ocorrência de florações de algas, notoriamente cianofíceas, assim como de substâncias, provenientes de seu metabolismo, tendo assim papel importante e estratégico na melhoria da água a ser captada para abastecimento público (Andrade, 2005). Floração é a denominação do crescimento acelerado de organismos fitoplanctônicos, que podem trazer graves problemas econômicos e causar danos extremos à vida aquática em geral. Ocorrem mais comumente em lagos e represas cuja movimentação das águas é pequena, caracterizando-se como ambientes lenticos (Andrade, 2005). Conforme Andrade (2000), dentre os aspectos estéticos a serem considerados quando do fornecimento de água potável para fins de abastecimento público, não apenas os parâmetros de cor e turbidez devem ser considerados quando da concepção e operação de estações de tratamento de água (ETA), mas, também, a possibilidade da água bruta vir a apresentar problemas de odor e gosto, metais, substâncias precursores de organoclorados, etc, dependendo do manancial utilizado. Em recentes pesquisas efetuadas pela American Water Works Association (AWWA) mostrou-se que o primeiro critério utilizado pela população na aceitação da água distribuída à mesma era a capacidade desta apresentar ou não odor e gosto. Esta mesma pesquisa mostrou que a maioria dos consumidores norte-americanos que compram água mineral o faz pelo fato da água de abastecimento apresentar odor e gosto (AWWA, (1987) apud Andrade (2000)). Saneas 41 matéria sabesp É sabido que inúmeros microorganismos, notadamente certas algas, especialmente as cianofíceas (algas azuis), bem como os actinomicetos são responsáveis pela produção de certos compostos orgânicos, resultantes do seu metabolismo, que, sob certas condições ainda não totalmente conhecidas, são liberados para a fase líquida. Além do aspecto estético deve ser ressaltado que as cianofíceas possuem enorme potencial para a produção de toxinas que despertam relevante preocupação sanitária. Todas estas substâncias provenientes do metabolismo algal são, indubitavelmente, muito difíceis de serem removidas (Andrade, 2000). Para que os problemas provenientes das substâncias originárias a partir de fontes biogênicas em águas de abastecimento possam ser solucionados ou, pelo menos, minimizados, é fundamental que os mesmos sejam estudados de modo a permitir que as suas causas possam ser identificadas e, consequentemente, hajam condições de serem definidas as melhores alternativas técnicas para a sua solução. 3. DESCRIÇAO DA ÁREA DE ESTUDO A Ribeirão Parelheiros aflui para a represa do Guarapiranga formando a Várzea (Figura 1) que leva seu nome, ocupando aproximadamente 93 hectares e tendo ainda como contribuinte significativo o Córrego Itaim, ambos (Ribeirão e Córrego) com considerável degradação hídrica, decorrente de grande aporte de esgotos domésticos. Figura 2 - Vista do canal de recepção de água da Billings (Fonte: acervo do autor, 2003). O canal de recepção da água transposta localiza-se paralelo a afluência do Córrego Itaim e a aproximadamente 2000 metros a montante do reservatório. Podem ser facilmente observados pontos de grande alteração antrópica que envolvem desde atividades já extintas de mineração, movimentação de terra para fins agrícolas, de lazer (futebol de várzea), invasões imobiliares clandestinas. A vegetação predominante na vázea é composta por Panicum Rivulare (capim-santa-fé) e Typha Angustifolia (taboa), com cobertura estimada em torno de 50% e 20% respectivamente. 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS Figura 1 - Várzea do ribeirão Parelheiros. Verificando-se, ao fundo, a represa do Guarapiranga (Fonte: acervo do autor, 2000). O regime hidrodinâmico desta Várzea deve ter sofrido severas alterações a partir da sua utilização a partir de agosto de 2000 como área receptora da transposição de águas da Represa Billings (Figura 2), operação esta que contribui com uma vazão exógena de em média 4,0 m³/s de água com grande comprometimento hidrobiológico, uma vez que a Represa de origem tem alto grau de eutrofização e constantes florações de cianobactérias. 42 Saneas “A várzea mostrou relativamente eficiente no tocante à melhoria de algumas variáveis (DQO, cor, turbidez, algas cianofíceas e microcistina), apresentando redução dos valores de saída em comparação aos valores de entrada. Os resultados de fósforo total, nitrogênio total e coliformes, nos permitem afirmar que houve contribuição significativa de fontes difusas na várzea, nos períodos seco e chuvoso, uma vez que as concentrações dessas variáveis sofreram incrementos desde a entrada até a saída da várzea. Os aumentos das concentrações de fósforo total e nitrogênio total durante os períodos estudados devem ser parcialmente originados a partir da deficiência de afastamento de efluentes sanitários oriundos de ocupações irregulares na região. Porém os incrementos Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 matéria sabesp destas concentrações durante o período chuvoso podem ser decorrentes da carga difusa proveniente das chuvas que neste período lavam os campos utilizados para a agricultura, o que não ocorre no período seco, pois este é marcado por baixa pluviosidade. Quanto à variável coliformes totais, o incremento durante o período chuvoso pode também ser atribuído a carga difusa oriunda das chuvas. Já em relação à variável coliformes fecais foram verificadas na saída da várzea concentrações superiores no período seco em relação ao chuvoso, o que reforça a tese de deficiência do sistema de coleta e afastamento de efluentes sanitários, uma vez que os períodos de estiagem exercem menor influência quanto ao potencial de diluição da concentração de compostos poluentes e contaminantes, ou seja, provavelmente a contribuição à várzea de coliformes fecais seja regular ao longo dos períodos seco e chuvoso, porém a ação das chuvas e as consequentes cheias dos corpos d’água exercem um papel significativo como diluentes deste variável. Tipicamente o pH passa de 8,0 para 7,0 entre a entrada e a saída da várzea. A diminuição de aproxi- Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 madamente 1 log da variável pH nos períodos seco e chuvoso pode ser consequência da possível formação de ácido carbônico, originado pela combinação de gás carbônico (proveniente da degradação de matéria orgânica, tipicamente abundante em áreas alagadas) com água. A cor aparente da água analisada não demonstrou durante ambos os períodos (seco e chuvoso) nenhuma alteração significativa. A remoção de turbidez que ocorreu em todos os períodos estudados pode ser explicada pela capacidade destes sistemas quanto ao amortecimento das águas de afluência que elevam as taxas de sedimentação de partículas em suspensão. Ainda há a possibilidade da retenção de partículas por aderência ao sistema radicular de macrófitas. Durante o período chuvoso foi verificada uma remoção superior a do período seco. Possivelmente a velocidade de escoamento em áreas alagadas durante o período chuvoso é maior que a do período seco, o que levaria a taxas de sedimentação menores. Porém a dinâmica de crescimento das plantas no período chuvoso deve atingir seu auge por corresponder às estações Saneas 43 matéria sabesp da primavera e verão, o que reforça a tese de retenção de partículas por aderência ao sistema radicular das plantas da várzea. A redução de DQO promovida pela várzea deve ser decorrente da grande capacidade biótica das áreas alagadas em degradar matéria orgânica, seja pela ação de microorganismos, seja por adsorção radicular. Pôde-se verificar reduções significativas das concentrações de células de algas cianofíceas em ambos os períodos, a diminuição dessas concentrações deve estar associada a alguns fatores típicos das áreas alagadas tais como o sombreamento proporcionado pela vegetação da várzea, uma vez que a intensidade luminosa interfere diretamente sobre a atividade dos organismos, especialmente sobre a reprodução, alterando a densidade destes organismos na água. Ainda outro fator é citado por Cooper et al. (1996) apud Elias (2003) onde referencia que a chave dos processos de redução de microorganismos e substâncias adsorvidas pelo sistema radicular se dá pela morte natural, oxidação química, fotólise, predação e exposição a antibióticos secretados pelas raízes. Fatores hidrodinâmicos como os movimentos internos e taxa de renovação da água, também são importantes, pois podem influenciar aspectos como a transparência d’água ou provocar turbulências típicas de sistemas lóticos. A redução de microcistina verificada na várzea, também pode ser referida aos mesmos mecanismos da redução das densidades das algas. Andrade (2005). 5. CONCLUSÕES O aprofundamento dos estudos de desempenho da várzea depende da implantação de uma rede de monitoramento qualitativo e quantitativo de contribuições difusas que proporcionará a realização de balanços de massa. Para que os problemas provenientes das substâncias originárias a partir de fontes biogênicas em águas de abastecimento possam ser solucionados ou, pelo menos, minimizados, é fundamental que os mesmos sejam estudados de modo a permitir que as suas causas possam ser identificadas e, consequentemente, hajam condições de serem definidas as melhores alternativas técnicas para a sua solução. A implantação de rede coletora de esgotos sanitários nas áreas não atendidas por este serviço deve 44 Saneas contribuir significativamente quanto ao aumento de desempenho da várzea. A coibição do aumento de ocupações irregulares na bacia do ribeirão Parelheiros deve ser um fator de primeira ordem de preocupação das instituições competentes a fiscalização de uso e ocupação do solo. Andrade (2005). 6. BIBLIOGRAFIA Andrade, A.S.A. Análise da eficiência da várzea do ribeirão parelheiros na melhoria de qualidade das águas que afluem à represa do Guarapiranga, São Paulo. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2005. Andrade, A.S.A., Filho. S.F.S., Fernandes, A.N., Kairala, A.M., Aplicação de Carvão Ativado em Pó (CAP) na Remoção de Gosto e Odor em Águas de Abastecimento. IX Simpósio Luso Brasileiro de Engenharia Sanitária. Porto Seguro, Bahia, 2000. Chorus, I. & Bartram, J. (Editors). Toxic cyanobacteria in water: a guide to their public health consequences, monitoring and management. E. Who. & F. Spom, 1999. 416 p. Harbel, R., Perther, R., Laber, J. Wetland Systems for Water Pollution Control. Wat Sci. Techn. 35 Proceeding of the IAWQ. 5 rd International Conference on the Use of C W in Water Pollution Control (1996) (ed. COOPER, P. – 1997) – Vienna, Austria. Manfrinato, E. S. “Avaliação do Método Edafo-fitopedológico para o Tratamento Preliminar de Águas”. Piracicaba-SP, 98 p. Dissertação (Mestrado). Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Universidade de São Paulo. 1989. Salati, E. Estudo de Wetlands (Áreas Alagadas) Naturais e Construídas para Proteção e Recuperação dos Recursos Hídricos. São Carlos, SP. 2000. 46 p. Tundisi, J. G. Limnologia e Gerenciamento Integrado de Recursos Hídricos. Ciência & Ambiente v. 21, p. 10-20, 2000. Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 Indicação literária Uma reverência ao mestre José Galizia Tundisi Ao tematizarmos a edição nº 40 da Saneas, o estudo da Limnologia, a referência literária obrigatória é o Livro “Limnologia”, de autoria do grande mestre José Galizia Tundisi e da estudiosa pesquisadora, e também sua esposa, Takako Matsumura Tundisi. Trata-se de uma obra que contempla uma grande lacuna de livros-texto e livros de difusão sobre esta ciência em língua portuguesa. Representa também um marco na Limnologia tropical, por inserir resultados das pesquisas realizadas nos neotrópicos, tão pouco contempladas em obras similares, escritas e publicadas por autores de outros continentes. José Galizia Tundisi é um dos grandes nomes brasileiros da biologia e da ecologia, com projeção internacional. Já trouxe o seu vasto conhecimento à AESabesp, como palestrante da abertura do Encontro Técnico e Fenasan de 2004, reverenciado com grande admiração e respeito pelos profissionais da Companhia. Nascido em Bariri, em 2 de maio de 1938, é um Bacharel em História Natural, pela Universidade de São Paulo (1962), mestre em Oceanografia, pela Universidade de Southampton (1966), Doutor em Ciências (1969), pela USP e Livre Docente em Ecologia (1977), pela mesma universidade. Professor da Escola de Engenharia de São Carlos (1986) e professor titular da USP (1988), fundou o Instituto Internacional de Ecologia, em São Carlos, no estado de São Paulo. Presidiu o CNPq de 1995 a 1998. Entre março de 1999 e dezembro de 2000, foi responsável pela criação da Secretaria Municipal de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do município de São Carlos. Foi membro do Comitê Científico do International Lake Environment Committe (1986-1994), do Comitê da SCOPE, Wetlands (1981 -1986) e assessor da UNU, Universidade das Nações Unidas, presidiu os XXVI e XXVII Congressos da Sociedade Internacional de Limnologia (1994 e 1995). Também foi vice-presidente da IUBS (International Union of Biological Sciences) no período 1999-2003 e vice-presidente do ICSU (International Council of Science) para o período de 1999-2003. Foi também vice-presidente do International Lake Environment Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 Capa do Livro “Limnologia” Committee (ILEC), sediado no Japão. É membro da Academia Brasileira de Ciências; da Academia de Ciências do 3º Mundo; da Academia Mundial de Artes e Ciências; do Ecology Institute Excellence in Ecology – Alemanha. Suas pesquisas mais consultadas são dirigidas aos temas: ■■ Produção primária do fitoplâncton em rios, reservatórios, lagos naturais e estuários. ■■ Ciclos biogeoquímicos em ecossistemas aquáticos. ■■ Interações sistema terrestre/sistema aquático. ■■ Recuperação de represas. ■■ Planejamento regional baseado em recursos hídricos. ■■ Integração de princípios ecológicos básicos no planejamento regional. Saneas 45 AESabesp - Projetos socioambientais CONHEÇA NOSSA CARTEIRA DE PROJETOS A partir desta edição da revista Saneas, a Diretoria de Projetos Socioambientais da Aesabesp divulgará, em detalhes, seus projetos em carteira. Esta iniciativa tem o intuito de levar ao conhecimento dos associados, parceiros e potenciais patrocinadores os projetos socioambientais em desenvolvimento. Situação que foi possível após a conquista da qualificação da AESabesp como OSCIP, obtida em 2008. Para esta edição, escolhemos o projeto “Sistema Biológico de Redução do Volume da Manta de Lodo”, de autoria do nosso associado João Camargo Botelho, que é destinado a lagoas de tratamento de esgotos domésticos e industriais. Maiores detalhes sobre a aplicabilidade do projeto poderão ser obtidos pelo email [email protected] Projeto “Sistema Biológico de Redução do Volume da Manta de Lodo” O sistema biológico de redução de lodo, ou seja, a utilização de microorganismos vivos para a redução da matéria orgânica contida no lodo é amplamente utilizada em sistemas de tratamento de esgotos. Trata-se de uma tecnologia associada a um produto que apresenta maior eficiência e baixo custo do que os semelhantes oferecidos no mercado, desenvolvido pelo Gestor Ambiental João Camargo Botelho, nosso associado, que é o detentor da patente, sendo o projeto relativamente simples, seguro e econômico. O produto utilizado é composto por uma mistura balanceada de enzimas e microorganismos de ocorrências naturais, oriundos do solo não patogênicos, dispersos em carga orgânica associado a um estabilizante/conservante. Estes tipos de microorganismos são capazes de produzir concentrações de enzimas que degradam a matéria orgânica contida nos sistemas de tratamento (fossas sépticas, caixas de gordura, esgotos e estações de tratamento de efluentes orgânicos). As enzimas contidas catalisam a digestão, melhorando a atividade metabólica dos microorganismos. O produto não é tóxico nem corrosivo, sendo absolutamente seguro o seu uso, não oferecendo qualquer risco às pessoas, animais ou meio ambiente, tendo como substrato final sais minerais e água. A metodologia para implantação do Sistema Biológico de Redução do Volume da Manta de Lodo consiste basicamente em duas etapas prévias: 1ª etapa: Análise preliminar do aspecto e das condições físicas das lagoas da E.T.E. 2ª etapa: Com base nos dados obtidos na 1ª etapa, é determinada a formulação, a dosagem e o(s) ponto(s) 46 Saneas de aplicação do produto, coleta de amostras para análise e prazo de conclusão. É aplicado o produto diluído no próprio efluente no ponto determinado pelo técnico responsável, podendo a formulação e a dosagem serem alteradas durante o período de aplicação, dependendo do resultado das análises feitas, visando à manutenção dos demais parâmetros de qualidade da água. Na fase inicial do projeto, os funcionários da E.T.E. serão capacitados para as atividades necessárias, por meio de palestra ministrada pelo coordenador do projeto e simulação de campo. Eles serão monitorados durante todo o período de aplicação do produto, recebendo orientações e informações sobre as análises parciais realizadas. O projeto será apresentado por meio de relatório técnico e fotográfico, contendo a documentação dos resultados parciais; o parecer técnico das visitas e os resultados finais, que contém uma breve descrição das atividades desenvolvidas, dos problemas encontrados e dos resultados alcançados. Todas as análises laboratoriais, relatórios fotográficos e outros documentos considerados importantes para a compreensão do projeto serão anexados ao relatório. EQUIPE TÉCNICA Execução: Responsável técnico e coordenador do projeto: João Camargo Botelho Parceria: AESabesp Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 AESabesp Projetos socioambientais Participação da AESabesp na Febrace 2011 A diretoria de Projetos Socioambientais da AESabesp, teve uma expressiva participação na 9ª Edição da Febrace 2011 - Feira Brasileira de Ciências e Engenharia, realizada entre os dias 22 a 24 de março, na Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo). Na condição de “Parceiro Apoiador” do evento, a entidade foi divulgada em seus Anais e teve uma ampla divulgação via internet, inclusive com a logo da AESabesp disponibilizada no site do evento. A equipe da diretoria de Projetos Socioambientais foi ainda convidada a participar da Cerimônia de Premiação, que aconteceu em 25 de março. Para os trabalhos premiados, foi entregue a mochila do Encontro Técnico, um Voucher de participação na Fenasan 2011, que dará direito à apresentação do trabalho no stand da Diretoria de Projetos Socioambientais, com certificado de participação e alimentação custeada. Na escolha dos projetos premiados a AESabesp solicitou alguns critérios a serem cumpridos: 1º prêmio AESabesp: o trabalho deveria se enquadrar na categoria de Saneamento Básico, com pertinência voltada aos setores de água, esgoto, drenagem ou lixo urbano. Os alunos que receberam o prêmio foram Lucas L. Jansen, Bianca G. Tavares e Mª Esther de V. Marinho, tendo como orientadora Daniela N. F. Gomes do Colégio Damas da Instrução Cristã - Recife – PE, com o trabalho: “Água do mar: uma solução para a escassez da água potável do mundo”. Convidado para ser apresentado no 1º dia da Fenasan: 01/08. O presente trabalho teve como objetivo utilizar a água do mar, dita inútil para o consumo humano, através de uma breve pesquisa, foi construído um destilador caseiro, em que os sais são retirados, a água fica útil para o consumo humano. A água destilada foi levada para analises físico-química e bacteriológica, essa comprovaram que a água destilada pode ser consumida pelo ser humano, sem nenhum dano patológico, segundo a Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde. O trabalho visa provar a possível mudança das expectativas para o futuro em relação á escassez de água. Destacamos ainda que com este mesmo trabalho, foi contemplado com o Prêmio Marinha do Brasil - 3º Lugar em Mentalidade Marítima (Centro de Coordenação de Estudos da Marinha em São Paulo). Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 2º prêmio AESabesp: o trabalho deveria se enquadrar na categoria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, 3º Setor ou Sustentabilidade. Os alunos que receberam o prêmio foram Caio Felipe Hoffmann e Davi G. B. Grillo, tendo como orientador José H. Bernardino Araújo da Universidade Tecnológica Federal – Campo Mourão – PR, com o trabalho “Fitoextração de metais pesados utilizando jatropha curcas L”. Convidado para ser apresentado no 2º dia da Fenasan: 02/08. O presente trabalho teve como objetivo apresentar algumas plantas que tem a capacidade de acumular em seus tecidos os contaminantes extraídos do solo, da água ou do ar, sem, no entanto, degradá-los. Esse processo de remediação é chamado de fitoextração. Nela, as espécies são plantadas e posteriormente podem ser colhidas, com intuito de deixar o local livre das substâncias tóxicas. Este trabalho proporcionou um estudo para viabilizar o tratamento de solos contaminados por diversos metais pesados, como o chumbo, o cromo e o níquel, cuja intoxicação nos seres humanos pode reduzir a qualidade de vida e levar a morte. No ambiente, quando introduzido na matriz do solo, esses metais são de difícil remoção, por isso, nesse projeto, foi utilizado semente de pinhão manso (Jatropha curcas L) cultivados em solos com diferentes concentrações dos metais durante um período de dois meses. Os resultados mostraram que em todos os testes ocorreram absorção dos metais, isso comprovou o uso dessa planta na fitorremediação dos solos contaminados, promovendo um melhor controle com menos dispêndio de energia e custos operacionais no tratamento de resíduos contaminantes dos solos”. 3º Lugar em Ciências Agrárias. Foi encaminhado um e-mail de parabenização para os alunos, orientadores e escolas, solicitando a confirmação de participação na Fenasan 2011, e até o momento foi confirmada a participação dos alunos da Universidade do Paraná. Saneas 47 Acontece no setor Viapol atende o Sistema Pirapama de Abastecimento de Água (PE) A Viapol, empresa expositora/ investidora da Fenasan 2011, destaca o atendimento ao projeto de impermeabilização do Sistema Pirapama de Abastecimento de Água (PE), considerado, segundo a empresa, “ uma das maiores obras de abastecimento de água do Brasil, com previsão de conclusão ainda em maio de 2011”. A empresa foi fornecedora exclusiva dos produtos utilizados para o sistema de impermeabilização deste projeto, que representa um marco, pois se trata do maior fornecimento de argamassa polimérica para uma única obra, abastecida, em grande parte, diretamente pela Viapol Nordeste - unidade fabril instalada em Lauro de Freitas, na Bahia, no início de 2010. A área de impermeabilização totaliza 202.250 m² de estruturas do sistema de abastecimento de água, onde estão sendo aplicados 405.000 Kg de Viaplus 1000 e 708.000 Kg de Viaplus 5000, estruturados com tela Mantex (tela de poliéster especialmente desenvolvida para proporcionar um reforço na membrana de impermeabilização). B&F Dias aposta no relacionamento 4 x 4 Deixando de lado os meios convencionais de transporte, a B&F Dias, fabricante de equipamentos e sistemas para tratamento de efluentes e ganhadora do Troféu Sustentabilidade na Fenasan 2010 e expositora/investidora da Fenasan 2011, inovou o método de transporte para visitar as estações de tratamento com seus equipamentos instalados próximos a sua sede. Agora 48 Saneas os clientes vão da B&F Dias até as respectivas estações dirigindo quadriciclos 4 x 4. A idéia surgiu através de uma “brincadeira”, pois pilotar quadriciclo é um hobby de alguns diretores da empresa que em algumas conversas descontraídas abordavam seus veículos de aventura e acabavam dando uma voltinha ao redor da companhia. Foi onde surgiu à idéia, criada por Bruno Dinamarco – Gerente de Contratos da B&F Dias. Localizada em uma área estratégica em Vinhedo, a sede da empresa está próxima a estradas de terra que permitem chegar a sete estações de tratamento com equipamentos fornecidos pela empresa, o que possibilitou a implantação desta inovação. As visitas podem ser feitas com 3 quadriciclos que acomodam até 6 pessoas. Os trajetos duram cerca de trinta minutos e podem ser feitos com pouca ou muita aventura, mas claro, operados com total segurança e com o uso de capacetes e equipamentos de proteção. A real intenção da empresa foi proporcionar a seus clientes momentos agradáveis para fugir por alguns minutos da rotina do dia a dia de atribuições e responsabilidades, possibilitando a integração de trabalho com o lazer. Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 Acontece no setor Mizumo celebra seus 10 anos Os 10 anos de história da Mizumo, expositora/investidora da Fenasan 2011, completados no mês de maio, é a prova do empreendedorismo e da busca bem sucedida do Grupo Jacto - reconhecido mundialmente pela sua solidez. Quando optou pelo projeto de produzir sistemas compactos de tratamento de esgoto sanitário feitos de plástico reforçado com fibra de vidro (PRFV), a empresa já possuía em sua estrutura organizacional o know-how para processar esse compósito - que garante alta resistência a ambientes corrosivos. A tecnologia das ETEs da Mizumo é de origem japonesa, porém seus sistemas foram nacionalizados pelos engenheiros da empresa, seguindo as normas técnicas brasileiras. “A Mizumo registrou em 2010 um crescimento 40% superior ao alcançado em 2009. Neste ano, impulsionada pelos investimentos que estão previstos e por exigências mais rigorosas em questões ligadas ao meio ambiente, o faturamento da empresa deve crescer 20%”, declara Giovani de Toledo, gestor da unidade de negócios Mizumo . “Atuamos de forma transparente, proporcionando tranquilidade técnica e ambiental e a confiabilidade de eficiência em conformidade com as leis. Acreditamos na melhoria contínua e no trabalho sério como forma de alcançar a prosperidade e, com isso, conquistamos o respeito e a credibilidade da marca no mercado nacional. Por conta do know-how adquirido nesses 10 anos de atividades, certamente novos horizontes serão explorados”, conclui o dirigente. Congresso Brasileiro de Limnologia em Natal - RN Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 Construtora Elevação destaca obra da Sabesp Somente para a SABESP, a Construtora Elevação detém uma das maiores carteiras de obras em execução, entre as quais se destaca o Sistema de Esgotos Sanitários de Taubaté / Tremembé. A obra, cujo projeto foi premiado pela Agência Nacional de Águas como a de “Melhor Projeto de Sistema de Tratamento de Esgotos do Brasil”, é constituída por uma estação de tratamento de esgotos, coletores tronco, linhas de recalque e estações elevatórias.” Outros destaques são: Sistema de Coleta de Esgotos Sanitários de Peruíbe, compreendendo 300 km de tubulações; Sistemas de Esgotos Sanitários de Caraguatatuba; Ampliação do Sistema de Abastecimento do Guarujá, além do atendimento da Manutenção e do Crescimento Vegetativo de Redes/ Ligações nos Sistemas de Água e Coleta de Esgotos nas Áreas da Unidade de Negócio Norte da Região Metropolitana. De 04 a 08 de setembro de 2011, a Associação Brasileira de Limnologia organizará o seu XIII “Congresso Brasileiro de Limnologia em Natal, Rio Grande do Norte”, a ser realizado pela UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Cientistas e gestores de todo o país e do exterior estarão nos simpósios do evento, cujos temas discutidos serão voltados às mudanças globais (Biogeoquímica e Biodiversidade), lagos rasos, reservatórios, setores elétricos, entre outros. Maiores informações estão disponibilizadas no site www. cblnatal2011.com.br Saneas 49 Fenasan 2011 / xxii encontro técnico aesabesp O maior evento do setor de saneamento ambiental da AL Credenciamento e Inscrição já estão abertos Realizada há 22 anos pela Associação dos Engenheiros da Sabesp, a Fenasan (Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente), juntamente com o Encontro Técnico AESabesp, que ocorre no mesmo espaço em caráter simultâneo, é considerada atualmente como o maior evento da América Latina no setor. Serão 194 expositores / investidores, empresas nacionais e internacionais, fabricantes e prestadoras de serviços para o setor, envolvidas com o saneamento ambiental e também com segmentos diversificados, como indústrias do setor químico e da construção civil. A grande demanda de empresas justifica-se pelo sane- amento contar atualmente com uma grande perspectiva de investimento, inclusive com recursos do PAC, no cenário econômico-financeiro nacional. A Fenasan 2011 será realizada nos dias 01, 02 e 03 de agosto, no Pavilhão Branco do Expocenter Norte, em São Paulo, que está com sua capacidade completamente lotada para essa Feira, desde o início do ano. No site www.fenasan.com.br os interessados já podem fazer o seu credenciamento para visita à Feira e também a inscrição no Congresso. A visitação à Feira é gratuita. Já a participação no Congresso conta com as seguintes taxas: Até 30 de junho Após 30 de junho Autor de trabalho, associado da AESabesp R$ 140,00 R$ 155,00 Autor de trabalho, não associado da AESabesp R$ 165,00 R$ 185,00 Associado da AESabesp não Autor de trabalho R$ 165,00 R$ 185,00 Congressista R$ 565,00 R$ 630,00 Estudante R$ 100,00 R$ 130,00 Após 15/07/2011, as inscrições somente poderão ser feitas no local do evento. O tema central do Congresso é “Saneamento ambiental - A qualidade de vida no planeta” e os trabalhos estão voltados ao seguinte temário: ■■ ■■ ■■ ■■ ■■ ■■ ■■ ■■ ■■ ■■ ■■ ■■ ■■ 50 Desenvolvimento tecnológico e inovação Eficiência energética Gestão empresarial e empreendimentos Legislação e regulação Manutenção eletromecânica Meio ambiente Mudanças climáticas Produtos, materiais e serviços Recursos hídricos Redução de perdas Resíduos sólidos e reciclagem Saúde pública Sistemas de abastecimento de água / Tratamento Saneas de águas superficiais e subterrâneas ■■ Sistemas de coleta de esgoto/Tratamento de esgotos e efluentes ■■ Softwares e automação Além dos trabalhos técnicos, também serão realizadas doze mesas redondas, dentro do Congresso, que serão abertas ao público. Janeiro / Fevereiro / Março | 2011 Aumento de presenças internacionais na Fenasan 2011 XXII Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente Além de representantes brasileiros, a feira irá contar com as presenças de vários grupos internacionais, como o Saint-Gobain, entre outros, que escolhem a Fenasan para divulgar a sua linha de produtos e serviços, também é crescente o interesse de empresas sediadas fora do Brasil, mas intencionam entrar para o nosso mercado, por meio da Fenasan. Dentro destas características, destacamos as seguintes presenças 100% internacionais em 2011: Bänninger Kunststoff Produkte G.m.b.H. (Alemanha) Empresa sediada em Alemanha, que, entre seus produtos a serem apresentados na Fenasan, destacará a sua linha voltada à conexões especiais para instalação em sistemas sanitários. Maiores informações estão disponibilizadas no seu site: www.baenninger.de. O contato responsável pela vinda da Empresa à Fenasan é a sra. Olga Ehberger - [email protected]. Dogus Vana ve Dokum Ltd. Sti. - DVD Valves (Turquia) Empresa sediada na Turquia, que em sua apresentação demonstra uma grande preocupação com a escassez de água no Planeta e trará para a Fenasan sua linha de válvulas e filtros. Maiores informações estão disponibilizadas no seu site: www.dogusvana.com.tr. O contato responsável pela vinda da Empresa à Fenasan é a sra. Asli Haciraifoglu - [email protected]. Mirab Co. (Irã) Empresa sediada no Irã, fabricante de válvulas industriais e acessórios, com alta tecnologia desenvolvida para sistemas de distribuição de água. Maiores informações estão disponibilizadas no seu site: www.mirab-valves.com. O contato responsável pela vinda da Empresa à Fenasan é o sr. Rolf Wildi - [email protected]. HCP Pump Manufacturer Co., Inc. (Taiwan) Empresa sediada em Taiwan (República da China), que trará a sua linha de bombas, desenvolvidas com tecnologia própria, para apresentar no mercado nacional. Maiores informações estão disponibilizadas no seu site: www.hcppump.com.tw. O contato responsável pela vinda da Empresa à Fenasan é o sr. Jonas Chou - [email protected] . Politejo (Portugal) Esta empresa portuguesa, líder nacional na fabricação de tubos e acessórios, já participou da edição passada da Fenasan e retorna em 2011, devido a boa repercussão alcançada. Maiores informações estão disponibilizadas no seu site: www.politejo.com. O contato responsável pela vinda da Empresa à Fenasan é o sr. André Maia - [email protected] Waterleau Group NV (Bélgica) A empresa belga, especializada em estações de tratamento de água e esgoto, em sua apresentação, propõe um selo de proteção azul ao Planeta. Maiores informações estão disponibilizadas no seu site: www.waterleau.com. O contato responsável pela vinda da Empresa à Fenasan é o sr. Joris Moors [email protected]. Conheça todos os expositores da Fenasan 2011, em vista ao site www.fenasan.com.br PARTICIPE DO MAIOR EVENTO DE SANEAMENTO E MEIO AMBIENTE DA AMÉRICA LATINA 01 A 03 DE AGOSTO DE 2011 Pavilhão Branco do Expo Center Norte Rua José Bernardo Pinto, 333 - São Paulo - SP Feira: 13h às 20h Encontro Técnico - Congresso Nacional de Saneamento e Meio Ambiente: 09h às 18h SAN AM EAM ENT N O BIE AQ VIDA UALIDA TAL NO DE D PLA E NET A VALORES DE INSCRIÇÃO DO XXII ENCONTRO TÉCNICO Categoria Até 30/06 Após 30/06 Autor associado AESabesp 140,00 155,00 Autor não associado AESabesp 165,00 185,00 Associado AESabesp não autor 165,00 185,00 Congressista 565,00 630,00 Estudante 100,00 130,00 Faça sua inscrição para o Encontro Técnico e o credenciamento para a Fenasan: www.fenasan.com.br Informações Acqua Consultoria - 11 3868 0726 [email protected] Após 15/07/2011, as inscrições somente poderão ser feitas no local do evento Promoção Organização Apoio institucional Apoio ANA AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS