Ano 10 Número 2 15 de junho de 2009 www.cni.org.br Crise Global: Impacto nos BRICs foi intenso e diferenciado ▌▌ Reflexos da crise global nas economias dos BRICs se deram de forma não sincronizada e com intensidades diferentes ▌▌ Brasil foi o último país a sentir os reflexos da crise internacional ▌▌ Rússia foi o país mais afetado pela crise ▌▌ Economia indiana exibiu os menores impactos ▌▌ Produção industrial da China já atinge níveis acima do período pré-crise ▌▌ Intensidade dos impactos nas economias do Brasil e Rússia não permite registro de crescimento da produção industrial em 2009 A crise financeira global trouxe reflexos inequívocos à economia mundial, só comparáveis com a grande depressão de 1929. Em um primeiro momento, as economias desenvolvidas sentiram o reflexo da maior aversão ao risco via falta de crédito, queda do investimento e perda da atividade econômica – no caso dos Estados Unidos, sinais negativos da crise já apareceram em 2007. Posteriormente, os impactos adversos se disseminaram nas economias emergentes. No caso dos países chamados BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), os impactos da crise internacional também ocorreram de forma não sincronizada e com intensidades diferentes. Ressalte-se o caso da Índia, onde o Produto Interno Bruto (PIB) registrou desaceleração antes mesmo da eclosão da crise internacional, o que cria dificuldades de precisar o momento de contágio na economia real. O crescimento do PIB desse país começou a perder ritmo no último trimestre de 2006, meses PIB dos BRICs – variação frente ao mesmo trimestre do ano anterior (em %) 12 10 8 6 4 2 0 -2 -4 -6 -8 -10 I II III IV 2004 Fonte: Bloomberg Brasil I II III IV 2005 I II III IV 2006 Rússia I II III 2007 Índia Confederação Nacional da Indústria IV I II III 2008 China IV I 2009 antes dos primeiros impactos da crise nos Estados Unidos (epicentro do problema hipotecário dos sub-prime). O PIB da China, país com dinâmica mais intensa de crescimento econômico entre os BRICs, iniciou a trajetória de arrefecimento no terceiro trimestre de 2007. No caso da Rússia, o crescimento do PIB começou a perder ritmo no início de 2008. No primeiro trimestre de 2009, a queda de 9,8% do PIB – frente ao mesmo período do ano anterior – aponta que a economia russa foi a mais afetada pela crise. Já o PIB brasileiro, contrastando com o comportamento do PIB dos demais países dos BRICs, percorreu uma trajetória de aceleração desde o terceiro trimestre de 2006 até o terceiro trimestre de 2008, só revertendo esse movimento no último trimestre do ano. Nesse sentido, dois aspectos devem ser destacados em relação à economia brasileira: 1) O PIB do Brasil cresceu a taxas inferiores às demais economias dos BRICs do primeiro trimestre de 2003 até o terceiro trimestre de 2008. A partir desse período, mesmo com forte desaceleração do ritmo de crescimento, o PIB brasileiro passou a crescer mais do que o PIB da Rússia. 2) A economia brasileira foi a última a registrar os impactos da crise internacional. Impactos diferenciados na produção industrial Em termos de produção industrial, no indicador dessazonalizado, também há diferenças marcantes entre os países dos BRICs. A produção da indústria chinesa – a mais dinâmica entre os quatro países – foi a primeira a registrar os impactos da crise. A produção industrial deste país iniciou a trajetória de queda em julho de 2008 e se estendeu até novembro do mesmo ano (nesse período, a queda acumulada foi de 5,5%). No entanto, nos meses seguintes, a trajetória de queda foi interrompida, dando lugar a um claro movimento de recuperação. No acumulado de dezembro de 2008 a março de 2009, a indústria chinesa cresceu 8,2% e já atinge níveis sensivelmente superiores aos patamares do pico anterior (junho de 2008). Chama a atenção o desempenho da produção industrial da Índia, que na comparação com o desempenho da produção da indústria dos demais países dos BRICs, não mostrou efeito substancialmente negativo da crise internacional. O crescimento da produção industrial deste país foi interrompido em abril de 2008, mas não há registro de tendência definida de queda da produção – como nos demais países dos BRICs – e sim variações entre crescimento e Produção industrial dos BRICs Número índice jan/07 = 100 – indicadores dessazonalizados 140 130 120 110 100 90 80 jan/07 mar/07 mai/07 jul/07 set/07 nov/07 Brasil Rússia jan/08 mar/08 mai/08 jul/08 set/08 nov/08 Índia jan/09 mar/09 China Fonte: Institutos Oficiais de Estatística da China, Rússia, Índia e Brasil Cálculo e reponderação: CNI Ano 10, n.2, 15 de junho de 2009 2 redução intercaladas. A variação acumulada da produção industrial da Índia de maio de 2008 a março de 2009 foi de apenas -2,6%. O relativo baixo impacto da indústria indiana em relação à crise internacional pode ser atribuído a dois motivos: a) pela baixa exposição da indústria da Índia ao mercado mundial; e b) pelo forte dinamismo do mercado interno, que acaba por contrabalancear parte da queda das exportações. A produção industrial da Rússia e do Brasil aponta movimentos similares, recebendo impactos da crise quase que simultaneamente. A produção industrial desses dois países começou a recuar em outubro de 2008. No caso da Rússia, a produção da indústria recuou 17,7% no acumulado de outubro de 2008 a janeiro de 2009, enquanto que a produção industrial brasileira registrou retração de 20,0% no período entre outubro e dezembro (em janeiro, a produção da indústria brasileira voltou a registrar crescimento, frente ao mês anterior). Cabe ressaltar que em ambos os países a produção industrial aponta crescimento atualmente, mas ainda insuficiente para reverter a queda registrada nos meses anteriores. As produções industriais da Rússia e do Brasil foram as que registraram os maiores impactos da crise internacional. Em termos quantitativos, a indústria brasileira ainda terá que crescer 13,5% no acumulado de abril a dezembro deste ano para atingir a mesma produção registrada em 2008 (ou seja, crescimento nulo). No caso da Rússia, a produção da indústria terá que crescer 12,9% no mesmo período. Do contrário, Brasil e Rússia irão registrar queda da produção industrial em 2009. A produção industrial da Índia – devido ao baixo impacto da crise internacional no desempenho desse setor – precisa crescer apenas 1,1% em todo período acumulado de abril a dezembro deste ano para atingir a mesma produção de 2008. Já o caso da indústria chinesa é mais favorável do que os demais BRICs. Como a produção industrial da China já ultrapassou os patamares de 2008, o crescimento desse setor já está garantido em 2009, desde que não haja nenhuma reversão na produção até o final do ano. Em outros termos, para registrar crescimento nulo em 2009, frente ao ano anterior, a produção industrial da China precisaria recuar (e não crescer) 5,1% de abril a dezembro. Ano 10, n.2, 15 de junho de 2009 Efeito carregamento Necessidade de crescimento da produção no ano para alcançar o mesmo nível de 2008 13,5% 12,9% 1,1% -5,1% Brasil Rússia Índia China Fonte: Cálculo do efeito carregamento feito pela CNI Impactos da crise na taxa de câmbio dos BRICs A crise internacional também alterou a trajetória das taxas de câmbio de todas as economias dos BRICs que empregam o regime de taxa flutuante. A China, por manter a taxa de câmbio controlada, foi o único país que não sofreu qualquer impacto do novo cenário: a taxa de câmbio entre o yuan e dólar continua, praticamente, inalterada. Taxa de câmbio dos BRICs Número índice com base julho de 2008 = 100 160 150 140 130 120 110 100 90 jul/08 ago/08 Brasil set/08 out/08 nov/08 Rússia dez/08 jan/09 fev/09 Índia mar/09 abr/09 mai/09 China Fonte: Bloomberg Nos demais países os impactos na evolução da taxa de câmbio se deram de forma diferente. Ressalte-se, no entanto, que há dois momentos distintos na trajetória desses indicadores. Em um primeiro momento, a maior aversão ao risco mundial levou à desvalorização da taxa de câmbio do Brasil, Rússia e Índia. Em um segundo momento as taxas de câmbio voltaram a registrar valorização perante o dólar. 3 A taxa de câmbio do Brasil foi a que sofreu desvalorização de forma mais rápida entre os demais países dos BRICs. A perda de valor do real frente ao dólar chegou a 50,6% no período de julho de 2008 a dezembro do mesmo ano. Paralelamente, o rublo desvalorizou 20,7% no mesmo período. Chama a atenção, no entanto, que o movimento de desvalorização da moeda russa continuou nos meses seguintes – ao contrário do Brasil – e se estendeu até fevereiro de 2009. Nesse sentido, a Rússia foi o país onde a moeda mais perdeu valor perante o dólar com a crise: de julho de 2008 a fevereiro de 2009, a desvalorização do rublo chegou a 53,3%. Outra diferença importante entre Brasil e Rússia é que o Brasil pouco lançou mão das reservas internacionais para conter a desvalorização do real. As reservas internacionais no Brasil, que estavam em US$ 201 bilhões em junho, reduziram-se para US$ 194 bilhões em dezembro – uma queda pouco superior à US$ 6 bilhões –, ao passo que a Rússia “queimou” US$ 142 bilhões no mesmo período. Suas reservas internacionais passaram de US$ 555 bilhões em junho para US$ 413 bilhões em dezembro (uma redução quase 23 vezes maior do que a registrada no Brasil). Em maio – último dado disponível –, as reservas da Rússia somavam US$ 368 bilhões. A taxa de câmbio da Índia registrou uma trajetória particular quando comparada às moedas da Rússia e do Brasil. A desvalorização da rúpia frente ao dólar foi de apenas 16,9% no período de julho a novembro, flutuando perto da estabilidade até fevereiro de 2009, para, em março, registrar nova desvalorização – de 4,9%. O nível de reservas internacionais da Índia também se reduziu: de US$ 297 bilhões em julho de 2008 para US$ 251 bilhões em fevereiro (último dado disponível) – o que representa uma redução 10 vezes maior do que a redução das reservas brasileiras. Desvalorização da taxa de câmbio dos BRICs se inverte Após o movimento de desvalorização das moedas dos BRICs frente ao dólar, houve uma inversão dessa trajetória – principalmente no Brasil e na Rússia. O real valorizou 10,2% de janeiro a maio de 2008, enquanto que o rublo valorizou 10,0% de fevereiro a maio. Já a rúpia valorizou 5,7% perante o dólar de março a maio. a maio de 2009 as moedas dos BRICs ainda apontam desvalorização da seguinte magnitude: 30,4% para o real; 38,1% para o rubro; e 14,6% para a rúpia. No caso da China, houve valorização de 0,2% da taxa de câmbio no mesmo período. Considerações finais A crise global trouxe impactos diferenciados nos países dos BRICs. O Brasil foi o último país a registrar os reflexos da crise internacional. Entretanto, essa particularidade não imunizou a economia brasileira às adversidades da economia global: o Brasil foi o país onde a produção industrial mais recuou com a crise, só ficando à frente da indústria russa. A recuperação da atividade industrial ainda não está delineada, mas em ambos os países são altas as chances de registro de queda da produção em 2009 frente a 2008. A produção industrial da Índia, por registrar menor deterioração com a crise, pouco precisará crescer para se recuperar. Já no caso da China, a recuperação já ocorreu, com uma média de crescimento de 5,1% nos três primeiros meses de 2009 frente à média de todo ano de 2008 (o que revela um efeito carregamento positivo). Em relação à taxa de câmbio entre real e dólar, a intensa desvalorização do real no período critico da crise – quarto trimestre de 2008 – está sendo revertida de forma mais rápida do que no caso da moeda russa. Resultado da entrada de capitais externos dada a maior atratividade da taxa de juros brasileira. Esse comportamento sinaliza que a economia brasileira tem muita sensibilidade às condições do panorama macroeconômico mundial. Ainda que o mercado doméstico seja amplo e em expansão, a retomada de um forte ritmo de crescimento depende não apenas do retorno a um maior dinamismo do comércio mundial, como de mecanismos para potencializar as condições de competitividade dos produtos brasileiros, em especial os manufaturados, para melhor inserção nesse mercado. Mesmo com a recente valorização das moedas do Brasil, Rússia e Índia perante o dólar, no acumulado do período de julho NOTAS ECONÔMICAS | Publicação da Confederação Nacional da Indústria - CNI | Unidade de Política Econômica - PEC | Informações Técnicas: (61) 3317-9468 Supervisão gráfica: Núcleo de Editoração | Normalização bibliográfica: Área Compartilhada de Informação e Documentação - Acind | Assinaturas: Serviço de Atentimento ao Cliente - SAC: (61) 3317-9989 [email protected] | SBN Quadra 01 Bloco C Ed. Roberto Simonsen Brasília, DF - CEP: 70040-903 www.cni.org.br Autorizada a reprodução desde que citada a fonte.