1 FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS PARA EDUCADORES por MYRIAM SAMPAIO NETTO Psicopedagogia Rio de Janeiro 2004 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS PARA EDUCADORES OBJETIVOS: Capacitar o Educador, dando-lhe um embasamento sobre termos essenciais da ciência que estuda o comportamento humano e os processos mentais. Objetivando-se classificar os mais variados conceitos, métodos e técnicas da Psicologia e Psicanálise em geral, enfatizando os traços de personalidade, emoção, mente, transtornos da mente, o meio ambiente e especificamente na área de aprendizagem, projetando suas dificuldades. 3 AGRADECIMENTOS A Todos os professores, corpo docente do Projeto “A Vez do Mestre”, ao professor Marco Antonio Larosa pela revisão dos textos. Aos colegas e pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para a elaboração desse trabalho. 4 DEDICATÓRIA À Deus em primeiro lugar, pela realização desse trabalho e também aos meus pais, Umberto e Theresa pela ajuda e incentivo que sempre me deram. Myriam Sampaio Netto 5 SUMÁRIO: ♦ Introdução ....................................................................................... ..... 8 ♦ Capítulo I ♦ 1 – Psicologia ..................................................................................... 11 ♦ 1.1 – Antecedentes da Psicologia ....................................................... 11 ♦ 1.2 – O surgimento da Psicanálise ..................................................... 15 ♦ 1.3 – Objetivo da Psicologia ............................................................... 16 ♦ 1.4 – Academias de Psicologia ............................................................ 17 ♦ 1.4.1 – Estruturalismo ........................................................................... 18 ♦ 1.4.2 – Funcionalismo .......................................................................... 18 ♦ 1.4.3 – A Psicologia da Gestalt ............................................................ 19 ♦ 1.4.4 –A Psicanálise e a continuidade da Psicanálise freudiana ........... 19 ♦ 1.4.5. – Comportamental/Behaviorismo................................................ 21 ♦ 1.4.6 – A Psicologia Humanista ......................................................... 23 ♦ 1.5 – A Psicologia e seus métodos ................................................... 24 ♦ 1.5.1 – Método Introspectivo ................................................................ 25 ♦ 1.5.2 – Método Extrospectivo .............................................................. 25 ♦ 1.5.3 – Método Clínico ......................................................................... 25 ♦ 1.5.4 – Método de Pesquisa de Campo ................................................. 25 ♦ 1.5.5 – Método Científico ..................................................................... 26 ♦ 1.6 – Áreas de atuação da Psicologia .................................................... 27 ♦ 1.6.1 – Psicologia do Anormal ............................................................. 27 ♦ 1.6.2 – Psicologia Clínica ..................................................................... 28 ♦ 1.6.3 – Psicologia do Aconselhamento ................................................. 28 ♦ 1.6.4 – Psicologia Educacional ............................................................. 28 6 ♦ 1.6.5 – Psicologia Escolar ................................................................. 29 ♦ 1.6.6 – Psicologia Industrial .............................................................. 29 ♦ 1.6.7 – Psicologia da Religião ........................................................... 30 ♦ 1.6.8 – Psicologia Pastoral ................................................................. 30 ♦ 1.6.9 – Psicologia Jurídica .................................................................. 30 ♦ Capítulo II ♦ 2 – Personalidade e Inteligência .................................................... 32 ♦ 2.1 – Mente ........................................................................................ 40 ♦ 2.2 – Emoção ..................................................................................... 46 ♦ 2.3 – Transtornos da Mente ............................................................... 52 ♦ 2.4 - Aprendizagem .......................................................................... 66 ♦ Capítulo III ♦ 3 – A Psicologia na Educação ........................................................ 71 ♦ 3.1 – A Psicologia da Aprendizagem ................................................ 72 ♦ 3.2 – A Psicologia do Desenvolvimento ........................................... 75 ♦ 3.3 – A Psicanálise e Educação ......................................................... 79 ♦ 3.3.1 – Jung e a Educação ................................................................. 83 ♦ Capítulo IV ♦ 4 – Dificuldades de Aprendizagem e Fracasso Escolar ...................... 86 ♦ 4.1 – Alfabetização ............................................................................. 94 ♦ 4.2 – Leitura / Escrita ......................................................................... 96 ♦ 4.2.1 – Leitura ..................................................................................... 97 7 ♦ 4.2.3 – Escrita ..................................................................................... 101 ♦ 4.3 – A Matemática .......................................................................... 103 ♦ 4.4 – A Avaliação Pedagógica ........................................................ 105 ♦ Conclusão ......................................................................................... 109 ♦ Anexos .............................................................................................. 110 ♦ Bibliografia ....................................................................................... 114 8 INTRODUÇÃO: A falta de conhecimentos psicológicos na área de Educação principalmente ao se tratar de fatores básicos de aprendizagem, certamente tem limitado muito o trabalho do Educador. Estamos numa época em que cresce cada vez mais a preocupação na área da Educação, pois a busca de novas soluções para melhorar a qualidade de ensino em todos os aspectos que envolvem o indivíduo, tanto no ensino fundamental, como no ensino médio, tem sido de grande importância para a sociedade moderna em todas as comunidades. Existe uma constante investigação por parte de educadores a cerca de como realizar em seus alunos o incentivo e a vontade de aprender para evitar o fracasso escolar. Experimenta-se os jogos, a arte, a música, vídeo, informática. Porém, a resposta muitas vezes não vem através de entretenimentos educativos, que com certeza de uma maneira geral ajuda e muito, mas sim, através do lado psicológico humano. A compreensão e a observação de condutas infanto-juvenis, as tomadas de precauções e as atitudes do próprio educador em relação aos seus alunos, podem criar medidas preventivas para o futuro, evitando transtornos traumáticos e ganhando o carinho e a atenção desses, e assim, consequentemente, obter bom êxito. A relação professor/aluno, depende muito mais da maneira como o professor (a) vai conduzir a sua turma e em especial a cada indivíduo, do que propriamente do aluno, que se encontra a mercê de seu (sua) professor (a). As dificuldades de aprendizagem apresentam-se das mais variadas formas. O esclarecimento de algumas patologias, doenças psicossomáticas, 9 transtornos mentais e alguns tipos de distúrbios, nos capacitam para requerermos sucesso no desempenho como educadores. Esta presente obra é um livro que trata especialmente de listar em breves explicações os fundamentos psicológicos básicos que podem facilitar muito em rápida leitura, o conhecimento que atende as necessidades de um educador no seu dia – a - dia em escola. Os Fundamentos Psicológicos para Educadores tem por objetivo: - Capacitar o Educador, dando-lhe um embasamento sobre termos essenciais da ciência que estuda o comportamento humano e os processos mentais. - Classificar os mais variados conceitos, métodos e técnicas da Psicologia e Psicanálise em geral, enfatizando os traços de personalidade, emoção, mente, transtornos da mente, o meio ambiente e especificamente na área de aprendizagem, projetando suas dificuldades. Supondo que os Educadores passem a adotar tais conhecimentos dos fundamentos psicológicos em questão, com certeza seu desempenho como profissional vai melhorar e muito, principalmente no detectar de problemas de ordem e fatores psicológicos em alunos, dos quais necessitam de maior atenção e cuidados específicos, o que poderia promover o crescimento global de aproveitamento escolar. Obviamente, não seria bom se estender para além do alvo. A questão é bem simples: seguindo os parâmetros psicológicos e psicanalíticos desde o seu surgimento em épocas remotas e em pequenas pinceladas, até chegarmos na sua atualidade abordando conceitos básicos, principalmente os da área de aprendizagem. 10 A pesquisa foi realizada através de enciclopédia multimídia, livros, revistas, jornais e os meios informativos na área de Psicologia e Psicanálise, reunindo, então, um grupo de idéias e conceitos selecionados resumidamente para a disposição daqueles que desejam ter maior conhecimento nesse campo. A parte histórica e o seu desenrolar através dos tempos até chegar aos nossos dias, os antigos e novos conceitos de psicólogos e psicanalistas que aturaram, e outros que ainda atuam na área de Educação, estarão relatados esclarecidamente para a melhor compreensão do leitor. 11 CAPÍTULO I 1- PSICOLOGIA Origem: é uma palavra formada pelos Psique = alma, e termos em grego – logia = estudo. Portanto, é o estudo da alma, que contém os fenômenos da vida mental, consciente e inconsciente, de um indivíduo, determinando o seu comportamento. (Isidro Pereira, “Dicionário GregoPortuguês / Português-Grego”). 1.1 - ANTECEDENTES DA PSICOLOGIA Hipócrates, um médico grego (460 a 370 a.C.), ao investigar a maneira como as pessoas de sua época se comportavam, criou a “Teoria dos quatro temperamentos”, classificando-os em sangüíneo, melancólico, colérico e fleumático. A Psicologia é proveniente da Filosofia, onde vários filósofos, “amantes da sabedoria”, como Aristóteles, Platão e outros, prestaram grandes contribuições para o desenvolvimento da Psicologia. A palavra Psicologia, foi usada pela primeira vez pelo professor Goclenius, em Marburgo, no ano de 1590, ao dar título a uma de suas obras. O teólogo Casmann, publicou, no ano de 1594, Psychologia 12 Anthropologia (Antropologia e Psicologia), onde constava a distinção entre a Psicologia e a Anatomia. O filósofo francês René Descartes (1596-1650), que é considerado o pai da filosofia moderna, em sua investigação sobre a mente ativa, concluiu que os processos mentais conscientes eram o pensamento intelectual, os comprovando as sentimentos, as sensações e as vontades. Descartes, aliou sua fé cristã ao saber científico, verdades sobre o espírito e a matéria, afirmando que o primeiro, ou seja, a parte imaterial do ser humano, não era uma doutrina revelada, e sim uma realidade possível de observar através da reação do mesmo. Por isso, afirmou Descartes: “Penso, logo existo”. A Filosofia e a Psicologia vieram a se beneficiar do dualismo mente-corpo do filósofo francês René Descartes, que foi um genuíno representante da filosofia racionalista, que tem como ponto de partida a busca da verdade através do raciocínio. O filósofo inglês, John Locke (1632-1704), foi o primeiro representante da filosofia empirista. Empirismo é empeiria, que uma palavra que vem do grego significa experimental.(Isidro Pereira, “Dicionário Grego- Português / Português - Grego). Os filósofos empiristas lidavam com os fatos da mente, numa base objetiva, na qual podemos exemplificar o papel da percepção sensorial como fonte das idéias e dos conhecimentos. Para John Locke, quando uma criança nasce, sua mente está vazia, ou seja é uma tábua rasa, e ela irá ser preenchida por sensações, imagens e idéias. Já, para os racionalistas, que lida com os fatos metafísicos, ou seja, examina o ser e suas propriedades, o fator principal era o que a mente fazia, tal 13 como perceber, recordar, raciocinar e desejar. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, págs.: 12-13-14) O filósofo, teólogo e matemático Emanuel Kant (1724-1804), a partir dos seus escritos, da primeira edição de Crítica da Razão Pura, fez com que a palavra Psicologia, que por longo tempo caiu no esquecimento, voltasse à tona. Para Kant, a realidade é constituída pelo próprio indivíduo, por ser um sujeito inteligente. Fundou a filosofia crítica e tentou determinar as leis e os limites do conhecimento humano. As principais influências dos conceitos de Kant, foram David Hume e Jean Jacques Rousseau, o filósofo francês. Com a morte de seu pai, se viu forçado a interromper seus estudos e se tornar professor particular e mais tarde, retornou para Universidade de Konigsberg, onde se tornou professor. (fonte: “The 1996 Grolier Multimedia Encyclopedia”). O jovem estudante de medicina, o austríaco Frans Aton Mesmer (1733-1815), por volta de 1760, criou a fonte pré - científica chamada de mesmerismo. Mesmer, acreditava que o magnetismo emanava das estrelas e dos animais, tanto quanto do ferro. Ao utilizar um magneto no tratamento de doenças como a paralisia, a convulsão ou a neurose, obtendo êxito, assinalou que a influência magnética poderia ser transmitida pelo metal, concluindo mais tarde que a mão, fazia o mesmo efeito. 14 Importantes personagens da época, como o químico francês Antoine Laurent Lavoisier (1743 – 1794), autor da famosa frase: “No universo nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, estudaram o trabalho de Mesmer sobre o mesmeirismo e concluíram que realmente as pessoas eram curadas, mas não através do magnetismo, e sim da imaginação do cliente. O português Abade Faria (1756 – 1819) é considerado o fundador da moderna hipnose. Abade afirmou que a hipnose era um estágio entre o sono e a vigília e que este estado (ou transe hipnótico) dependia principalmente da pessoa a ser hipnotizada. O cirurgião inglês James Braid introduziu o termo hipnotismo. Nas décadas finais do século XIX, a hipnose passou a ser utilizada na cura da histeria, que é um transtorno causado pela psique. Os médicos hipnotizavam os clientes com o objetivo de, em transe hipnótico, trazerem à consciência, os pensamentos reprimidos, a fim de que os sintomas histéricos desaparecessem e os clientes obtivessem a cura. August Comte August Comte ( 1798 – 1857), um francês filósofo, quem fundou o Positivismo, deu os primeiros passos para emancipar a psicologia da filosofia, a fim de que a primeira se tornasse uma ciência natural dos fenômenos psíquicos. Criar uma teoria científica da sociedade, que subsistisse com o apoio da Biologia e da Sociologia, foi uma das intenções de Comte. (fonte: “The 1996 Grolier Multimedia Encyclopedia”) O médico Wilhelm Wundt (1832 – 1920) foi docente da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, onde ensinou Fisiologia durante dezessete anos. O 15 Dr. Wilhelm Wundt, com o objetivo de obter a emancipação da Psicologia, aceitou a cátedra da Filosofia da Universidade de Leipzig, na Alemanha, onde, em 1879, criou o primeiro laboratório de psicologia experimental, atingindo o seu objetivo de emancipar a psicologia da filosofia, tornando-a a ciência do comportamento. Por este marco, Wundt é considerado o pai da psicologia moderna, também chamada de psicologia científica, que no Brasil foi reconhecida como profissão, no ano de 1962, através da lei 4.119. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, págs.: 15,17) 1.2 - O SURGIMENTO DA PSICANÁLISE Em 1885, o jovem Sigmund Freud (1856 – 1939) viajou de Viena para Paris, para especializar-se em neurologia, com o médico neurologista Dr. JeanMartin Charcot (1825 – 1893), que trabalhava e lecionava no Hospice de Salpêtrière. Neste hospício, como parte de seu preparo para clinicar, Freud presenciou Charcot aplicar a técnica psicoterápica da hipnose. Ao retornar a Viena, após ter completado seus estudos em Paris, Freud começou a clinicar, usando a técnica hipnose e catarse, que é a verbalização de uma lembrança emocional e/ou traumatizante recalcada. Freud concluiu que nem todos os pacientes podiam ser hipnotizados, outros, que eram hipnotizados, fracassavam na recuperação, além de outros se recusarem a ser submetidos a esta técnica psicoterápica. Foi então, que Freud substituiu a técnica psicoterápica hipnose pela associação livre, surgindo assim, 16 em 1896, pela primeira vez, o termo Psicanálise, que revolucionou a Neurologia e a Psiquiatria, pois os médicos, até o momento das investigações do Dr. Sigmund Freud, não sabiam como tratar os transtornos mentais que tinham causas psíquicas. A Psicanálise tornou-se assim, a pedra fundamental de outras psicoterapias modernas. Em seus estudos sobre a mente, Freud concluiu que existiam transtornos que podiam ser causados e aliviados pelo simples poder de idéias. Quando o médico não encontra nenhuma causa física que justifique o transtorno da mente, é porque a causa é psicológica. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, p. 16) 1.3 – OBJETIVO DA PSICOLOGIA Em busca de encontrar o objeto de estudo da Psicologia, surgiram muitas correntes. Muitas nasciam em oposição a sua antecessora. Estas escolas de Psicologia tinham como objetivo o estudo de consciência da mente, procurando fazer suas demonstrações através do método científico. Sigmund Freud, ao criar a Psicanálise, não usou a metodologia científica, tendo em vista que os seus postulados foram fundamentados em sua vivência com seus clientes. As escolas que surgiram antes da Psicanálise falavam sobre o nível consciente da mente, já Freud, inovou, postulando que a mente humana possui três níveis, que são: o consciente, o pré-consciente e o inconsciente. De acordo com Freud, a maior parte da nossa vida psíquica é inconsciente, sendo este pilar em que está fundamentada a psicanálise, também conhecida como a ciência do inconsciente. 17 O médico neurologista Sigmund Freud, com a psicanálise, revolucionou a Psiquiatria, Neurologia e a Psicologia, como é possível se vê no dia de hoje. Assim sendo, estas e outras contribuições dos cientistas do comportamento, possibilitam-nos entender que é na mente que se processam os pensamentos de uma pessoa, sendo pois a mesma incorpórea e detentora de incalculável sabedoria. Assim, os objetos de estudo da Psicologia são os processos mentais e o comportamento, em que o psicólogo, dependendo da escola de psicologia que segue, tem o objetivo de compreender e analisar o porquê do comportamento, procurando explicações para suas emoções, predizendo e até mesmo, quando é necessário. Modificando-o, a fim de proporcionar o bem estar psíquico, orgânico, social e espiritual do ser humano. (Samuel Costa, “Fundamentos da Psicologia para Ministros do Evangelho”, págs.: 23-24) Atualmente, só se pode exercer a função de psicoterapeuta, o profissional formado na faculdade de Psicologia, com especialização em psicologia clínica. 1.4 - ACADEMIAS DE PSICOLOGIA Após Wilhelm Wundt ter criado na Universidade de Leipzig, na Alemanha, o primeiro laboratório de Psicologia experimental, muitos estudiosos emigraram para a Alemanha, para estudarem com Wundt. Com o advento da Psicologia Científica, no fim do século XIX, desenvolveram-se nos Estados Unidos da América o Estruturalismo e o Funcionalismo, que no início do século XX, começaram a ser substituídos pelo Behaviorismo, a Gestalt e a Psicanálise. Nos dias atuais existem variedades de escolas de psicologia, que se diferenciam uma das outras, através do método de investigação que utilizam. Tipos: Estruturalismo - Funcionalismo - A Psicologia da Gestalt - A Psicanálise e a 18 continuidade da Psicanálise Freudiana - Comportamental / Behaviorismo - A Psicologia Humanista. 1.4.1 - ESTRUTURALISMO Edward B. Tichener (1867-1927), inglês, foi treinado por Wundt, na Alemanha. Mais tarde, foi residir na América do Norte, onde dirigiu o departamento de Psicologia da Universidade do Cornell e fundou a escola de psicologia americana, chamada de Estruturalismo, introduzindo este termo. Para Tichener, os psicólogos deviam estudar a consciência humana, ou seja, os fenômenos mentais como a percepção e outros. Para que a pessoa devidamente treinada pudesse fazer o trabalho analítico de laboratório, a que estivesse sendo submetida ao experimento, deveria fazer o relato da experiência a que estava sendo submetida. Este é o método introspectivo. 1.4.2 - FUNCIONALISMO Foi fundado pelo norte americano, filósofo e psicólogo William James (1842-1910). Tendo estudado na Europa, mais tarde em 1861 entrou para a Universidade de Havard, E.U.A. Após seus estudos, James lecionou filosofia e psicologia na mesma universidade, durante 35 anos. O objeto de estudo da Psicologia é descobrir como funcionam os processos mentais , tais como o pensamento, a emoção, seus conhecimentos, suas aspirações, decisões e outros, com o objetivo de adaptar o ser humano ao meio 19 ambiente. O método desenvolvido por William James opunha-se ao associassionismo (associação de idéias). Uma das contribuições deixadas por ele foi a teoria das emoções, instinto e da transferência de aprendizagem. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, p.18). 1.4.3 – A PSICOLOGIA DA GESTALT Gestalt é uma palavra de origem alemã que se traduz por configuração, forma. Para a Psicologia da Gestalt, também conhecida como a Psicologia da Forma, o ser humano deve ser compreendido como um todo, com os seus fatos psíquicos, condutas e personalidade. Gestalt é um movimento da Psicologia Experimental, que teve sua origem na época da I guerra mundial. Teve significantes contribuições para os estudos de percepção e solução de problemas. (“The 1996 Grolier Multimedia Encyclopedia”). Pesquisadores alemães como Kurt Koffka, Wolfgang Kohler e Max Wertheirner, começaram estudando os caminhos dos quais as percepções são formadas e como os processos são determinados pelo contexto, configuração e sentido, melhor que pela simples acumulação de elementos sensoriais. 1.4.4 – A PSICANÁLISE E A CONTINUIDADE DA PSICANÁLISE FREUDIANA 20 Em seus estudos sobre a mente, Jean-Martins Charcot e Sigmund Freud concluíram que existiam transtornos mentais que podiam ser causados e aliviados pelo simples poder de idéias. Quando o médico não encontra nenhuma causa física que justifique o transtorno da mente, é porque a causa é psicológica, então é necessário que o cliente faça o relato do que está se passando com ele, a fim de que o médico possa localizar a causa psicológica da doença. O médico neurologista Sigmund Freud trocou a Neuropatologia pelo estudo do psiquismo. Em suas investigações sobre a psique, Freud concluiu que ano inconsciente estão armazenadas experiências em forma de impulsos hostis e destrutivos: desejos proibidos, pensamentos não controlados e reprimidos, que poderão vir ao nível consciente e serem tratados de maneira mais racional, a fim de livrar o paciente da ansiedade excessiva. Para que este processo aconteça, é preciso que o cliente tenha orientação e ajuda de um profissional especializado, daí Freud ter criado a psicanálise, que consiste em uma técnica psicoterápica, para ser aplicada no tratamento de pessoas portadoras de transtornos mentais e das formas anormais de adaptação. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, p.19) A Psicanálise Freudiana foi a pioneira no tratamento dos transtornos mentais, causados por conflitos psíquicos. Atualmente existem diversas técnicas psicoterápicas utilizadas para ajudar as pessoas com transtorno mental, nas quais o psicólogo clínico e/ ou psicanalista, numa relação de ajuda com o cliente na esfera emocional, procura promover o crescimento e o desenvolvimento positivo da personalidade do cliente. 21 Atualmente só se pode exercer a função de psicoterapeuta, o profissional formado na faculdade de Psicologia, com especialização em psicologia clínica. (idem, p.20) Além de Alfred Adler e Carl Gustav Jung (1875-1961), Sigmund Freud, teve em Wilhelm Reich, outro dissidente, que também criou a sua abordagem a partir da teoria psicanalítica freudiana, que tem sua continuidade nas abordagens de Melaine Klein e Jaques Lacan. O médico psiquiatra francês Jaques Lacan (1901-1981), teve como tese de doutorado o tema: “Da psicose paranóica e suas relações com a personalidade”. Em 1934, Lacan entrou para a Sociedade Psicanalítica de Paris e em 1964, fundou a Escola Freudiana de Paris. Dando continuidade à teoria psicanalítica de Sigmund Freud. O médico psiquiatra e psicanalista Jaques Lacan apresentou vários seminários, como os intitulados: Os Escritos Técnicos de Freud, O eu na Teoria de Freud e na Técnica da Psicanálise, As Psicoses, As Relações de Objeto, As Formações do Inconsciente, O Desejo e sua Interpretação, A Ética da Psicanálise, A Transferência, A Identificação, A Angústia, Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise e o Objeto da Psicanálise. (idem, págs.: 20,22) 1.4. 5 - COMPORTAMENTAL / BEHAVIORISMO Por volta de 1920, o norte americano John Braodus Watson (1878-1958) criou a escola de psicologia Comportamental, também chamada de behaviorista. Para Watson, o objeto de estudo da Psicologia é o comportamento, ou seja, as manifestações exteriores da vida mental do indivíduo, que é aberto a inspeção 22 pública, devendo ser observado pelos psicólogos. Esse método de observação é chamado de extropeccão. Ao utilizar a extropecção na investigação do comportamento dos bebês recém-nascidos, o psicólogo behaviorista Watson concluiu que eles apresentam três tipos de emoções: o medo, a cólera e o amor. Watson, opondo-se ao ponto de vista da psicologia funcionalista, alegou que a introspecção estava sujeita a falhas, ou seja, a pessoa pode dizer uma coisa e fazer outra. O importante é o comportamento que é observável. Para Watson, a experimentação científica era a base fundamental da psicologia behaviorista. Uma das experiências coroada de êxito, feita por Watson, consistiu na demonstração de que a aprendizagem afeta as reações emocionais. Esta conclusão, já presenciamos algumas vezes, basta recordarmos de pessoas que aprenderam, de uma forma ou de outra, a ter medo de barata, e quando a vê, sua reação emocional muda. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, p.21). O principal sucessor de Watson foi Burrhus Frederic Skinner, com suas famosas experimentações. B. F. Skinner (1904-1990), é conhecido por suas contribuições ao behaviorismo. Formado em inglês (letras) na Universidade de Hamilton (1926), acabou por abandonar a carreira de escritor por causa da grande influência exercida pelos escritos do psicólogo John B. Watson. Seguindo, então, o caminho da Psicologia, Skinner recebeu o seu doutorado em Psicologia na Universidade de Harvard em 1931, permanecendo ali como pesquisador no processo de aprendizagem até 1936. Foi neste período, que ele inventou a famosa “Caixa de Skinner”, que foi um aparato onde foram 23 desenvolvidos experimentos com animais (ratos) relacionados com o condicionamento operante. (“The 1996 Grolier Multimedia Encyclopedia”). Através dos estudos do condicionamento pavloviano, em oposição, Skinner formulou o conceito do comportamento operante, que considerava mais representativo da situação de aprendizagem da vida humana. Portanto, o condicionamento operante é o processo pelo qual um programa de reforços é capaz de produzir uma modelagem do comportamento humano. Todo reforçador refere-se a um objeto ou a uma ação capaz de afetar o sujeito. Reforço ou reforçamento é o processo que favorece a probabilidade de uma resposta ser repetida, em circunstâncias similares. Para que o condicionamento se efetue é necessário que o organismo seja estimulado pelas conseqüências de seu comportamento. (Ira Maria Maciel, “Psicologia e Educação – Novos Caminhos para a Formação”, p. 119). A principal fonte de estudo dos behavioristas é a relação existente entre o estímulo e a resposta, que têm como lema: “Estimule o animal e veja como ele se comporta”. Estímulo psicológico é alguma coisa que desperta a reação do indivíduo. 1.4.6 - A PSICOLOGIA HUMANISTA A Psicologia Humanista é uma aproximação de psicoterapia, na qual, o cliente vem a ser um parceiro consciente ao lado do terapeuta no decorrer do tratamento. Chamado de “terceira força” por Abraham Maslow (1908–1970), o pioneiro neste movimento junto a Carl Rogers (1902-1987), ambos norte americanos. 24 Carl Rogers formou uma prática clínica sobre os conceitos nos quais ele chamava de Terapia-Centrada-no-Cliente, ou psicoterapia não-diretiva, do qual ele escreveu amplamente sobre suas experiências. Esta técnica psicoterápica é fundamentada no self, isto é, a visão que um indivíduo tem de si mesmo. O selfideal consiste na concepção do tipo de pessoa que se gostaria de ser. Segundo a terapia centrada no cliente, quando as pessoas não conseguem realizar suas potencialidades, que estão dentro de si, a falha está nas influências destrutivas e deformadoras, exercidas pelos pais, pela educação, professores e outras pressões sociais. No ano de 1962, vários psicólogos se reuniram e fundaram a Association of Humanistic Psychology (Associação de Psicologia Humanista), surgindo então psicologia humanista, fundamentada na abordagem fenomenológica da personalidade, onde o foco central é a maneira como o indivíduo percebe e interpreta os eventos em seu ambiente atual. O objetivo desta psicologia é compreender o cliente. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, p.22). 1.5 - A PSICOLOGIA E SEUS MÉTODOS Os cientistas do comportamento lançam mão dos seguintes métodos de investigação, com o objetivo de compreender e controlar o comportamento de uma pessoa ou de um grupo, como também do animal irracional. 25 1.5.1 - MÉTODO INTROSPECTIVO Consiste na observação que o próprio indivíduo faz acerca da sua vida mental. Exemplo disso é o Estruturalismo que aplicava este método. 1.5.2 – MÉTODO EXTROSPECTIVO Consiste na observação acerca das manifestações exteriores da vida mental, de uma pessoa ou de um animal, no qual pode também ser observado um grupo. 1.5.3 – MÉTODO CLÍNICO Neste tipo de Método, o psicólogo clínico utiliza entrevistas, testes, a fim de colher os dados para compreender as influências e as forças que atuam no comportamento do indivíduo, formulando assim o estudo clínico. As coletâneas de dados deste estudo de caso é formulada através da anamnese, que consiste na coletânea de dados que o psicólogo faz da pessoa que veio buscar ajuda, a fim de dar um explicação psicológica para o comportamento insensato. 1.5.4 – MÉTODO DE PESQUISA DE CAMPO 26 também chamado de levantamento, consiste em o psicólogo escolher um tipo de comportamento a ser investigado e fazer uma pesquisa de opinião pública, usando entrevistas ou questionários. Se quiséssemos saber o comportamento de alunos de determinada escola, a respeito de alunos adolescentes: usaríamos as instruções para a aplicação deste método, sendo uma delas, a elaboração das questões, como também a escolha de um número representativo de pessoas a serem investigadas. 1.5.5 - MÉTODO CIENTÍFICO Os cientistas do comportamento humano formulam hipóteses através das investigações feitas nos comportamentos dos seres humanos e/ ou animais, e estas hipóteses, investigadas, são avaliadas através da metodologia científica, que é uma das maneiras plausíveis de comprovar as verdades científicas. Se as hipóteses psicológicas investigadas forem comprovadas, elas tornar-se-ão lei, tal como as ditadas pelos cientistas do Centro de Estudos da Ciência e da Religião da Universidade Columbia, nos Estados Unidos da América, que ao estudarem as regiões do cérebro, que são ativadas durante as orações chegaram a seguinte conclusão: O lobo temporal inferior está ligado diretamente à representação mental de objetos sagrados, como a vela e a cruz, facilitando a oração e a Lobo parietal meditação; o lobo frontal está diretamente Lobo frontal ligado à concentração. Esta área do cérebro é automaticamente ativada quando a pessoa, que crer em Deus, faz meditação; o lobo temporal central está ligado a fisionomia que o indivíduo Lobo Temporal inferior Lobo temporal central faz diante da emoção religiosa; e o lobo parietal é a região onde as respostas às palavras 27 religiosas são administradas. (idem, p.25) e (“The Grolier Multimedia Encyclopedia”). 1.6 – ÁREAS DE ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA A Psicologia está ramificada em diversas áreas distintas, sendo quase impossível enumerá-las devido ao avanço das ciências humanas, mas as técnicas psicológicas usadas têm sempre o objetivo de promover o bem estar mental, físico e social do ser humano. As principais divisões da Psicologia são: A psicologia experimental ou empírica – é o ramo da Psicologia, cuja linha de investigação está fundamentada na metodologia científica, em que o psicólogo experimental realiza pesquisas científicas no campo social militar, clínico, industrial, utilizando-se da emoção, sentimento, aprendizagem e tempo de reação da pessoa ou do grupo de pessoas que estiver sendo investigado; a psicologia geral – é o ramo da Psicologia que abrange todos os aspectos da mesma, isto é, estuda os fenômenos psíquicos em suas manifestações gerais; a psicologia aplicada – é o ramo da Psicologia que se dedica a investigações mais práticas e teóricas, utilizando os princípios psicológicos em qualquer campo da atividade humana, como a arte, a educação, a medicina, a indústria, a religião etc. 1.6.1 - PSICOLOGIA DO ANORMAL 28 É a parte da Psicologia que tem por objetivo investigar e dar descrição detalhada das causas e dos sintomas dos transtornos mentais. Exemplo: Proporcionar entendimento sobre as anormalidades do comportamento humano. 1.6.2 - PSICOLOGIA CLÍNICA É atualmente o campo da Psicologia onde se concentra o maior número de psicólogos, engajados em aplicar os princípios e métodos da Psicologia no tratamento de problemas emocionais e comportamentais. Estes profissionais do comportamento humano lidam primordialmente com psicodiagnósticos, psicoterapia e transtornos mentais. Exemplo de lugares onde atuam: -Consultório particular, hospital e clínica. 1.6.3 .- PSICOLOGIA DO ACONSELHAMENTO Lida com problemas acadêmicos, sociais e ocupacionais dos estudantes. As escolas e os colégios empregam a maior proporção destes profissionais que trabalham neste campo e são chamados de psicólogos conselheiros, cujo trabalho está muito próximo dos psicólogos clínicos. Exemplo: Um funcionário que antes produzia muito, porém depois de passar por uma fase difícil não conseguiu um bom desempenho em seu cargo, é nessa hora que entra o aconselhamento, para ajudá-lo. 1.6.4 - PSICOLOGIA EDUCACIONAL 29 Está relacionada com a educação e os seus interesses principais estão na aprendizagem e no teste mental. O psicólogo educacional desenvolve, planeja e avalia materiais e métodos para programas educacionais, currículos escolares e técnicas de ensino. A psicologia educacional está intimamente ligada à psicologia escolar. Exemplo: - A introdução e o encaminhamento de métodos como as concepções inatistas, ambientalistas, interacionistas, construtivistas. 1.6.5 - PSICOLOGIA ESCOLAR O Psicólogo escolar tem a responsabilidade de orientar os profissionais de ensino, aplicar teste nos alunos e professores, como também fazer pesquisas para dar o psicodiagnóstico do transtorno escolar. Exemplo: - Se há um aluno com problemas sérios no lar, esta criança obviamente não conseguirá ter um bom rendimento escolar, então entra a intervenção de um psicólogo escolar para uma ajuda psicológica; ou no caso de um professor que tem problema de adaptação com sua turma, devendo ser encaminhado para uma avaliação psicológica. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, págs.: 29-30). 1.6.6 – PSICOLOGIA INDUSTRIAL É o ramo da Psicologia aplicada que se ocupa da aplicação de métodos e descobertas da psicologia para a solução de problemas industriais, seleção e admissão de pessoal, condições de trabalho, recompensas do trabalho, relação 30 dos operários entre si e deles com seus coordenadores. Exemplo: - Na entrevista e admissão de um funcionário de uma determinada empresa, o psicólogo deverá fazê-lo passar por um teste de avaliação psicológica. Este deverá também encaminhá-lo ao cargo que melhor lhe aprouver. 1.6.7 - PSICOLOGIA DA RELIGIÃO É a aplicação dos conhecimentos da Psicologia sobre a influência que a divindade ou o sobrenatural produz no comportamento do homem religioso. Geralmente esta área da Psicologia é ministrada em seminário teológico. 1.6.8 - PSICOLOGIA PASTORAL É a aplicação dos conhecimentos da Psicologia, com a finalidade de proporcionar aos ministros do Evangelho de Cristo as informações sobre o comportamento humano, a fim de que eles possam orientar as pessoas a manterem o bem estar espiritual, psíquico, físico, químico e social, tão necessário para que não adquiram as principais doenças deste mundo moderno, que são a neurose e a psicose. 1.6.9 - PSICOLOGIA JURÍDICA 31 É a aplicação dos conhecimentos da Psicologia no campo jurídico. No Brasil está relacionada à justiça da infância e juventude, onde se desenvolvem trabalhos relacionados à questão de adoção, maus tratos, adolescentes em conflito com a lei, direito de família, em que o trabalho está relacionado à disputa de guarda ou visitação de filhos de casais que se separam, sistema penal, com trabalhos desenvolvidos nas penitenciárias e manicômios judiciários. Exemplo: Pais que se separam, e existem problemas sobre a idoneidade da mãe ou do pai para a decisão de quem ficará com a guarda dos filhos. Os filhos deverão passar por uma entrevista com um(a) psicólogo(a) que atua na área jurídica, e da mesma forma os pais, um de cada vez. É de grande importância os relatos dos filhos para a decisão final além, claro, da última palavra do juiz. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, p.31). 32 CAPÍTULO II 2 - PERSONALIDADE E INTELIGÊNCIA Personalidade: - Deriva da palavra latina persona, que significa uma máscara através do qual um ator dizia em seu papel, isto é: refere-se à aparência externa ou ao papel que alguém desempenha. Atualmente existem diversas definições e teorias da personalidade. Teorias da personalidade: muitas teorias da personalidade tem sido apresentadas, como: a teoria psicanalítica - psicodinâmica, a teoria do traço (ou das características), a teoria da personalidade humanística, teoria da aprendizagem social e a teoria da personalidade cognitiva (fonte: Multimedia Encyclopedia – Grolier Electronic Inc. 1996). Neste estudo, será definido como sendo a soma total, o padrão geral das maneiras de um indivíduo pensar, sentir e comportar-se, especialmente em referência a outras pessoas. A hereditariedade, o ambiente – incluindo as influências pré-natais – o lar e a família, os amigos, a escola, a religião, a comunidade e a nação afetam consideravelmente a nossa personalidade. Cada indivíduo possui um conjunto de características que são somente suas, e estas o diferencia do outro, sendo possível de serem notadas mesmo em gêmeos. Existem dois fatores que determinam a personalidade de um indivíduo: o caráter e o temperamento. a) - Caráter: - “É o conjunto de traços particulares, o modo de ser de um indivíduo, ou de um grupo; índole, natureza e temperamento.” (Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa). - Quando o conjunto das qualidades de uma pessoa diante do meio social em que vive é bom, honesto e certo, estamos nos referindo ao conjunto de regras de conduta válidas pela sociedade, mas quando a qualidade da conduta é má, desonesta, errada, este conjunto de regras é reprovada pela sociedade. Esta qualificação, com sentido moral e ético, depende da cultura do indivíduo ou do grupo. b) - Temperamento: - “É o conjunto dos traços psicológicos de uma pessoa, e que lhe determinam as reações emocionais, os estados de humor e o caráter”. (Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa). - O temperamento está ligado diretamente à natureza emocional da pessoa, que através de suas atividade mentais expressa aspectos fisionômicos, como: alegre ou triste, calmo ou nervoso, agradável ou desagradável, ansiedade, angústia, depressão etc. O meio social que a pessoa vive e os fatores herdados influenciam grandemente no temperamento do ser humano. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, págs.: 110-113) Os estudos psicológicos sobre a personalidade, sempre tentaram formular princípios gerais que expliquem as diferenças individuais no comportamento. (fonte Multimedia Encyclopedia – Grolier Electronic Inc. 1996). Vejamos aqui como a personalidade é vista através da Psicanálise. a) - A personalidade segundo a Psicanálise: - O psicanalista Sigmund Freud, apresentou em seu livro: A Interpretação dos Sonhos a primeira teoria sobre o funcionamento psíquico: O consciente, o subconsciente e o inconsciente. A esta instância psíquica do funcionamento da personalidade, Freud introduziu a segunda teoria do aparelho psíquico, remodelada entre 1920 e1923, introduzindo os três aspectos básicos da personalidade: O id, o ego e o superego. 33 O id é a parte hereditária e mais profunda da personalidade. Nele estão contidos os desejos recalcados, como também uma carga energética e motora que impulsiona o indivíduo a buscar a satisfação dos anseios, sem levar em conta o que poderá acontecer ou não. São fenômenos inconscientes. O segundo aspecto básico da personalidade que surge é o ego, que no início da vida age exclusivamente a favor do id e gradativamente passa a assumir a sua verdadeira função de controlador dos desejos recalcados e as pulsões provenientes do id. O ego age de acordo com o princípio da realidade, contribuindo para a defesa do próprio indivíduo, agindo como juiz dos conflitos existentes entre o id e o superego. O ego geralmente age contra o id, quando ele percebe que os impulsos provenientes deste, criarão transtorno na vida psíquica do indivíduo. Os fenômenos mentais do ego são consciente e inconsciente. O superego é a consciência moral da personalidade, que age de acordo com as normas sociais, alertando ao ego o que é certo ou errado, manifestação esta feita através de emoções e sentimento de culpa. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, págs.: 114-115) b) - A personalidade segundo a psicologia junguiana: - Para o psiquiatra e psicólogo suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), a personalidade é classificada em introversão – extroversão. A pessoa introvertida geralmente concentra sua atenção em si mesma, não sendo dependente de outra pessoa. As extrovertidas geralmente tendem a exteriorizar seus sentimentos, aceitando passivamente o ambiente exterior. Para Jung, todas as pessoas têm tendência à introversão, como a extroversão, embora uma predomine sobre a outra, o que chamamos de ambivertida. (idem) c) - Personalidade múltipla: - Consiste em duas ou mais maneiras de uma pessoa pensar, sentir e se comportar. Por exemplo, uma pessoa, em uma de suas personalidades, é introvertida e possuidora de um caráter bom, já na outra alternativa da personalidade, ela é extrovertida e imoral. d) - Desordens de comportamento: - O ego é o constituinte da personalidade responsável em remediar os conflitos entre as forças opostas do id que é inconsciente, contra o superego que é consciente. Quando o ego consegue resolver satisfatoriamente o conflito entre o id e o superego, a pessoa possui um comportamento ajustado, mas quando o ego não consegue resolver satisfatoriamente a sua função de juiz entre estas duas forças opostas, com o superego cedendo às pressões do id, surge então as desordens do comportamento ou os distúrbios mentais, como a neurose, a psicose, etc. Para o psicólogo e humanista Carl Roger, as desordens do comportamento surgem quando a pessoa não consegue comunicar-se bem consigo mesma, tendo como conseqüência, prejuízo no interrelacionamento. e) - Teste de personalidade: - Tem por objetivo ajudar o psicólogo a avaliar os traços da personalidade, tais como: instabilidade emocional, bom equilíbrio emocional, bom equilíbrio mental, introversão-extroversão, fraco índice de socialização, sentimento de inferioridade, imaturidade sexual, homossexualismo, insatisfação consigo mesmo, tendência neurótica, debilidade mental, psicose, esquizofrenia, epilepsia, desritmia, entre outras. f) - Teste de percepção temática: - Criado por Henry A. Murray, este tipo de teste para o psicólogo avaliar a personalidade do examinado, é constituído de 19 gravuras, em que o examinado descreve o que está percebendo em cada uma delas, projetando seus sentimentos e experiências, que são avaliados pelo psicólogo, que encontrará tendências da personalidade do examinado. g) - Técnicas projetivas: - A mais conhecida delas, o teste de borrões de tinta, foi o elaborado pelo psiquiatra suíço Hermann Rorschach. Este teste, também chamado de Rorschach, é composto de dez pranchas que o psicólogo apresenta ao examinado, uma de cada vez, a fim de que possa perceber os borrões de tinta e dar a sua interpretação sobre eles. De posse das respostas dadas pelos examinados, o examinador faz a interpretação e encontrará tendências das características peculiares da personalidade, como: introversão, coerência intrapsíquica, instabilidade emocional, sujeito a impulso forte, conflito 34 afetivo, senso crítico, ansiedade, traços depressivos, traços neuróticos, desajustamento, possível lesão cerebral, etc. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, págs.: 116,119) Inteligência – Para Piaget, a inteligência é “a capacidade para adaptar--se ao ambiente e às novas situações – para pensar e agir de maneiras adaptativas”. Portanto, a inteligência é adaptação e seu desenvolvimento está voltado para o equilíbrio. Sendo assim, a ação humana visa sempre a uma melhor adaptação ao ambiente. Para que ela seja possível, ocorrem constantes organizações da experiência, voltadas para a equilibração. As experiências da criança, por sua vez, são conduzidas por sua ação em contato com o objeto. Essa ação é concomitantemente sensório-motora, cognitiva e afetiva. (Maria Luiza A da Costa, “Piaget e a Intervenção Psicopedagógica”, p. 8) A inteligência ou capacidade intelectual é composta da combinação de inúmeros fatores, dentre os quais destaca-se a capacidade de perceber a relação entre os conceitos e os objetos; a capacidade de aprender e a capacidade de tomar decisões rápidas e precisas. Todos os seres humanos são detentores de inteligência, mas, numa comparação entre pessoas, devido à individualidade, um terá mais e outro menos inteligência. No exato momento da concepção, cada ser humano herda de cada um dos pais 50% da inteligência, o restante é proporcionado pelos estímulos do ambiente. Se o ambiente for estimulante desde os primeiros anos de vida, a criança poderá desenvolver o máximo de sua potencialidade, caso contrário, o ambiente estará contribuindo para a deficiência mental da criança, devido à insuficiência intelectual da mesma. Daí podemos concluir que a inteligência é composta por partes herdadas e adquiridas, sendo impossível diagnosticar qual das partes atua mais. Inteligência acadêmica: - Está ligada ao nível do conhecimento adquirido pela pessoa. É composta pelo desenvolvimento mental que pode ser mensurado pela fórmula QI (IM /IC)*100, onde IM = idade mental e IC = idade cronológica. Inteligência emocional: Segundo Hendrie Weisinger, “a inteligência é simplesmente o uso inteligente das emoções, isto é, fazer intencionalmente com que suas emoções trabalhem a seu favor, usando-as como uma ajuda para ditar seu comportamento e seu raciocínio de maneira a aperfeiçoar seus resultados.” O termo inteligência emocional foi criado em 1933, por Peter Salovay, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos da América. No confronto entre duas ou mais pessoas, geralmente ocorrem nos relacionamentos intrapessoal e o interpessoal, que caracterizam a inteligência emocional. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, págs.: 110-111) Tipos de inteligência: a) Lingüística ou verbal: - Associa-se à fala e à escrita. As pessoas que a possuem de forma mais acentuada se expressam com extrema clareza e constróem sintaxes com facilidade e perfeição, escolhendo sempre as melhores palavras. É desenvolvida entre escritores, poetas, professores, jornalistas. Personalidades : Shakespeare, Dante e Camões. b) Espacial: - Refere-se ao poder de perceber objetos fora do plano material, de forma tridimensional. Associa-se à criatividade e à espacialidade. Está presente em projetistas e arquitetos, além de ser marcante em marinheiros e motoristas – que têm grande senso de localização espacial. Personalidades: Oscar Niemeyer e Pablo Picasso. c) Sonora: - Manifesta-se em pessoas que têm habilidades especiais para extrair elementos múltiplos do som e compreendem sua combinação como um forma de linguagem. É facilmente encontrada entre músicos e compositores. Personalidades : Morzat, Hermeto Pascoal e Jimi Hendrix. 35 d) Cinestésico-corporal: - É considerada a inteligência do movimento, do trabalho corporal, que utiliza basicamente a linguagem do tato. É marcante entre atletas, bailarinos e mímicos, que fazem de sua expressão corporal um tipo de linguagem. Personalidades: Pelé e Ana Botafogo. e) Intrapessoal: - Bastante ligada ao poder de auto-conhecimento e, portanto, à individualidade e à auto-estima. É encontrada em pessoas que têm grande facilidade de se aceitar e, por isso, são “relax”, têm bom humor. Humoristas, em geral, têm essa inteligência de forma acentuada. Personalidades: Steve Martin, Jerry Lewis, Renato Aragão e Chico Anísio. f) Lógico-matemática: - Está ligada à simbologia dos números e sinais usados em matemática. Utiliza-se de números e sinais para formar equações e faz delas uma forma universal de comunicação. Se manifesta em físicos, engenheiros, matemáticos e economistas. Personalidades: Newton e Pitágoras. g) Interpessoal: - Associa-se à capacidade que uma pessoa tem de gerar empatia e de compreender as pessoas. Está presente em grandes líderes carismáticos e psicólogos, que têm facilidade de lidar com o outro. Personalidades: Martin Luther King e Madre Teresa de Calcutá. h) Naturalista: - Tem uma forte ligação com a vida natural. Por isso, também é conhecida como inteligência ecológica ou biológica. Provém da sensibilidade que a natureza desperta. Comum entre ecologistas, paisagistas e biólogos. Personalidades: Darwin, Burle Marx e Jacques Cousteau. (Daniela Guima, jornal: “Correio Brasiliense” / Coisas da vida, p. 5). Teste de inteligência: - tem por objetivo auxiliar o psicólogo a fazer a clarificação padronizada da capacidade intelectual da pessoa. Alfred Binet (1857-1911), psicólogo francês, que foi diretor do laboratório de psicologia experimental na Universidade de Sorbonne, em Paris, e com a colaboração de Dr. Theodore Simon, no início do século XX, criou e aplicou o teste de inteligência nas escolas oficiais de Paris. A primeira edição desta escala métrica foi chamada de Binet-Simon. De posse do conhecimento da capacidade intelectual, que o Dr. Alfred Binet mensurou de cada aluno, orientou os professores, quais eram os alunos de uma mesma classe que tinham condições de acompanhar naturalmente o conteúdo programático, e quais os que necessitavam de atenção especial, para obterem êxitos em seus estudos. Florence Goodenough, em 1925, organizou o Teste Boneco, ou Teste Goodenough, que através da apuração de 51 itens do desenho, o psicólogo avalia o nível mental infantil. 2.1 – MENTE Mente: - É a sede onde são processados os pensamentos. É a parte incorpórea do cérebro que encontra-se inserida dentro da caixa craniana. Segundo o filósofo René Descartes, o pensamento é o conjunto dos processos mentais conscientes: pensamentos intelectuais, sentimentos, sensações e vontade. Descartes era convicto da existência de Deus, e através do método científico, provou a verdade sobre o espírito e a matéria, afirmando que o espírito, ou seja a parte imaterial do ser humano não era um doutrina revelada, e sim uma realidade de possível de observar através da reação do mesmo. A nossa psique, ou seja, a nossa mente existe, mas não em forma corpórea como é o nosso corpo, ela é a nossa própria existência conforme afirmou Descartes: “Penso, logo existo”. 36 O médico psiquiatra e psicólogo suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), filho de pastor protestante, em seu livro Resposta a Jó, relatou que: “o conceito de físico não constitui o único critério de uma verdade, pois há também verdades psíquicas que não se podem explicar, demonstrar ou negar sob o ponto de vista físico”. Para Jung, os enunciados religiosos são desta categoria. Todos eles se referem a objetos que são impossíveis de constatar sob o ponto de vista físico, mas que o sentido Espírito de Deus está presente nos seres humanos e pode-se perceber mesmo sem milagres. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministro do Evangelho”, p. 38) O comportamento: - São as atitudes de um indivíduo diante do meio social em que vive, com suas manifestações externas como as ações, gestos, expressões, linguagem, etc. Existem dois tipos de comportamento : o inato, que já é de nascença. Sua reação é automática e geralmente ocorre da mesma maneira em todas as pessoas, como o piscar dos olhos; o comportamento adquirido ou aprendido, que se processa na mente da pessoa, através da reação a um estímulo, ou seja, alguém nos ensina ou aprendemos sozinho sobre qualquer assunto, e reagimos com a prática do que foi aprendido. O meio em que se vive é importante para modelar o comportamento. Num ambiente onde existe a desunião e o clima afetivo está comprometido, há uma probabilidade de seus membros mudarem o seu comportamento, tornando-se insatisfeitos e inseguros, mas quando o clima é saudável e equilibrado, a pessoa se comportará de maneira segura e satisfeita. Entre os vários tipos de comportamentos adquiridos, temos: Comportamento normal e anormal: - As fronteiras entre os comportamentos normal e anormal é muito tênue, dificultando assim uma sólida definição. Uma pessoa pode comportar-se aparentemente normal, simpático, gentil no meio social, porém em sua residência, comportar-se como um autêntico estimulador do comportamento neurótico em sua família. Geralmente o comportamento anormal é mais observável do que o normal, tendo em vista que no primeiro, a conduta social da pessoa a diferencia das demais, como no caso das portadoras de psicoses, que são detentoras de profunda perturbação da personalidade. A nossa mente é a sede onde são registradas todas as sensações, e é o indivíduo que deve escolher qual o sentimento que deverá predominar em sua mente: o bem ou o mau. Comportamento religioso: - Em seu livro Psicologia da Religião, Merval Rosa define o comportamento religioso como sendo “qualquer ato ou atitude que tem referência específica ao divino ou sobrenatural”. Para o psicólogo da religião Walter H. Clark, existem três tipos de comportamento religioso: - o primário, o secundário e o terciário. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, págs.: 39,40,42). O aparelho psíquico: - O médico neurologista e psicanalista Sigmund Freud, em 1900, publicou o livro A interpretação dos Sonhos, no qual consta a primeira organização da psique, que está dividida em três áreas de funcionamento: o consciente, que são todos os fenômenos mentais que sabe-se com clareza. O consciente é o nível mental em que a pessoa monitora ou tenta monitorar o ambiente interno ou externo, assim como planejar e guiar as suas ações. Inconscientes são aqueles fenômenos que ocorrem na mente do ser humano, dos quais não tem consciência, mas eles estão recalcados e podem manifestar-se em reações emocionais excessivas. Muitas vezes, a pessoa que está cometendo um assassinato não tem consciência do ato que está realizando. Para Sigmund Freud, no nível mental inconsciente, estão armazenadas inúmeras experiências em forma de impulsos hostis e destrutivos, desejos proibidos e os pensamentos não controlados e reprimidos, que a pessoa, em sã consciência rejeita. Com o objetivo de tratar as pessoas portadoras de distúrbios mentais e de formas anormais de adaptação do ser humano, Freud criou o método de tratamento chamado Psicanálise, que tem por objetivo tornar consciente o sentimento inconsciente, e este processo ocorre por meio de interpretação das associações livres, dos atos falhos e outras ferramentas terapêuticas. 37 Saúde mental: - Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “saúde é o total bemestar biopsicossocial do homem”. Na interação do indivíduo com o meio, se pelo menos um dos constituintes do bem-estar biopsicossocial do homem, estiver em desequilíbrio, ocorrerá a doença. Os processos desencadeadores de adoecer, salvo raras exceções, estão estreitamente ligados à maneira como cada indivíduo elabora as perdas e as frustrações. O estresse físico e / ou psíquico e a baixa tolerância em ter seus desejos são outros fatores desencadeadores do adoecer. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, p. 44). A instalação da doença, ou seja, a perturbação do equilíbrio biopsicossocial ocorre de duas maneiras distintas: 1- Perturbação intrapsíquica: - É proveniente do interior da pessoa, podendo ser genética ou psicológica. A genética ocorre devido à herança ou predisposição genética e / ou as alterações congênitas, já a psicológica, está relacionada à personalidade do indivíduo. 2- Perturbação interpessoal: - É aquela proveniente do meio externo, como as socioculturais, que, dentre muitas, pode-se exemplificar a alimentação insuficiente, e / ou fora de hora, e / ou inadequada, e / ou precária, que geralmente deixa a pessoa tensa por não ter a sua necessidade básica atendida. Outra perturbação externa é a de ordem pessoal, ou seja, o relacionamento da pessoa com a família, amigos é também responsável pela instalação da doença na mente do indivíduo, tendo em vista que no inter-relacionamento, ocorre o confronto de educações diferentes, a posição, o relacionamento sexual, etc. Para que o indivíduo possa ter saúde mental, é necessário manter as constantes químicas, físicas e psíquicas dentro das variações não doença / doença /não doença, resolvendo as perturbações do dia-a-dia adequadamente, mantendo assim a árdua tarefa do equilíbrio intra/interpessoal. Mudança do comportamento: - Através da aquisição dos processos psíquicos conscientes e / ou inconscientes, ocorre a mudança no comportamento do indivíduo, que dependendo da patologia, pode ser mudado através de um processo controlado e contínuo de comunicação com psicólogos, que elaboram, por exemplo um tratamento para descondicionar uma pessoa que tem medo de falar em público. O conflito: - Geralmente as pessoas resolvem seus conflitos de maneira consciente ou inconsciente, porém muitas vezes precisam de orientação de um psicólogo, para ajudá-las a restabelecer o equilíbrio biopsicossocial. As principais maneiras de resolver os conflitos são: Enfrentamento: - É o caminho pelo qual a pessoa procura, de maneira consciente, resolver as situações que percebe como perigosas ao seu equilíbrio biopsicossocial. Existem vários caminhos da pessoa usar o enfrentamento. Os psicólogos comportamentais, por exemplo, incluem exercícios físicos na estratégia de livrar a mente da pessoa dos problemas emocionais, causadores da dependência química. Mecanismo de defesa da mente: - Sigmund Freud referiu-se aos mecanismos de defesa, como sendo uma estratégia da mente, para proteger-se e compreender os obstáculos do dia-a-dia, que causam ansiedade excessiva, lançando no inconsciente experiências desagradáveis, impulsos, conflitos e idéias ameaçadoras, acomodando-a. Entre os vários mecanismos de adaptação psicológicas destaca-se: Negação, projeção, racionalização, recalque ou repressão, regressão e sublimação. 1- Negação: - É o mecanismo de defesa cujos processos mentais conduzem o indivíduo a negar uma realidade, com o objetivo de livrá-lo do estado de angústia que o incomoda. Por exemplo, dois adolescentes estavam jogando bola e um deles propositadamente quebrou o vidro da janela de uma casa e saiu correndo. O dono da casa viu quando aconteceu e apressadamente interroga ao outro, que atordoado assistiu a tudo, e lhe pergunta quem é aquele que quebrou o vidro da janela, ao que este responde que não o conhece e nunca o havia visto antes. Ou seja, este conhecia o outro e negou que o conhecia para afastar de si a realidade angustiante que o incomodava. 2 - Projeção: - A pessoa atribui aos outros ou a objetos, sentimentos e qualidades de sua propriedade, para livrar-se de um determinado acontecimento. Por exemplo, uma mãe que não cuida 38 adequadamente dos filhos, acarretando-lhe vários problemas, poderá projetar a culpa em todas as situações que envolvem a criança. Dirá que se o filho vai mal na escola é porque a professora é ineficiente; se o filho vive doente é porque os amigos são doentes e o contaminam. O extremo do funcionamento por mecanismos projetivos é a paranóia, onde o sujeito tem tanta destrutibilidade interior que é obrigado a projetá-la e, a partir daí, passa a ver todo o mundo como perseguidor. 3 - Racionalização: - Neste tipo de mecanismo de adaptação psicológica, o indivíduo para livrar-se da culpa, procura dar explicações incoerentes com a realidade, tentando justificar para si e para os outros o seu comportamento insensato. Por exemplo, um aluno de 2º grau, que não estudou para as provas finais de matemática, e tirou uma nota abaixo da média, justificando ter sido em decorrência das péssimas provas montadas pelo professor. 4- Recalque ou repressão: - É lançar no inconsciente os processos mentais desagradáveis que a sã consciência rejeita, por estar em desacordo com a própria conduta moral. Para a Psicanálise, os impulsos recalcados pelo indivíduo influenciam fortemente na sua personalidade, embora este não tome consciência. Exemplo: uma criança que sofreu abuso sexual por parte de algum parente, e esta quando se tornou adulta atribuiu o fato de seu parente sofrer de alguma doença mental e por isso ter agido sem lucidez em relação a ela. 5 - Regressão: - Este tipo de mecanismo de defesa da mente ocorre quando o indivíduo, para descarregar os seus conflitos, adota comportamento de acordo com uma faixa etária anterior, utilizando mecanismos desta faixa etária, como fungar, chupar os dedos, atirar objetos, reclamar. Esta última atitude, geralmente é utilizada por algumas pessoas de idade avançada. A regressão etária consiste em alguns indivíduos, em transe hipnótico, conseguirem reviver episódios que ocorreram em faixas etárias anteriores. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, págs.: 47-48-4950). 6 - Sublimação: - Uma pulsão é dita sublimada quando deriva para um alvo não-sexual. (Maria Cristina Kupfer, “Freud e a Educação”, p. 42) É o mecanismo de defesa da mente, em que o indivíduo substitui os seus impulsos hostis por condutas aceitáveis pelos padrões sociais. Não é patológico (ao contrário), é transferir a dor para um sentimento de prazer. Exemplo: as artes, pinturas, etc. 2.2 – EMOÇÃO Emoção: - É a reação intensa e breve do organismo que vem acompanhada de um estado afetivo que poderá ter uma conotação agradável ou não, dependendo da maneira com que esta for vivenciada. A reação intensa e breve que ocorre no organismo é ocasionada pela glândula supra-renal, que lança na corrente sangüínea a adrenalina. Este hormônio é o responsável pela aceleração do batimento cardíaco, no momento em que ocorre a emoção. Se o médico, a enfermeira ou outros profissionais da área de saúde aferirem os batimentos cardíacos de uma pessoa na hora em que ela se emocionar, constatará que houve uma aceleração nos batimentos cardíacos da mesma. O estado afetivo que acompanha a emoção são os sentimentos que sintetizam tudo aquilo que pensamos, pois ele é a nossa própria existência que a todo momento está exposto a vários tipos de emoções, sendo impossível precisar a quantidade. Sentimentos construtivos: - Conforme foi dito, a mente é a sede onde ocorre pensamentos intelectuais, sentimentos, sensações, e vontade. Os sentimentos traduzidos pela mente como agradáveis ampliam o senso de força e de bem estar, produzindo prazer, plenitude e inteireza, no estado emocional da pessoa. As principais emoções que produzem sentimentos positivos são: amor, prazer e alegria. 39 a) - Amor: - É o estado emocional caracterizado pelo mais nobre dos sentimentos. Muitas vezes, as instabilidades emocionais chegam a um patamar insuportável devido à falta de amor em qualquer tipo de relacionamento humano. O restabelecimento do amor proporciona a estabilidade emocional. O educador que tem amor em ensinar, por exemplo, é muito recompensado não só nos resultados de seu trabalho, mas a reciprocidade de seus alunos, que o terão como uma pessoa muito importante em suas vidas e que com certeza nunca o esquecerão. b) - Prazer: - É o estado emocional caracterizado pelo imenso desejo de sua continuidade, pois as recompensas do mesmo atendem aos anseios da vida. O prazer de ensinar, obviamente, torna o(a) educador(a) mais satisfeito e realizado em seus esforços, pois apesar das barreiras que venham surgir a cada dia, encontra forças para seguir em frente e ser bem sucedido. c) - Alegria: - É o estado emocional caracterizado pelo sentimento de estar jubiloso, contente. O indivíduo que procura sempre ter este sentimento presente em sua vida, com certeza, ajuda muito o seu equilíbrio biopsicossocial. Assim deve proceder o (a) educador (a) e qualquer trabalhador para encontrar maior ânimo e energia em suas ocupações. Ansiedade de preparação: - É o estado emocional que consiste na irritabilidade e inquietação motora em quantidade moderada, que se origina do psiquismo da pessoa, com o objetivo de dar o melhor de si mesma no que pretende fazer. Um bom exemplo é a honestidade. Sentimentos destrutivos: - São aqueles que a mente traduz como desagradáveis, pois interferem no bem estar da pessoa, tendo em vista que as energias deste tipo de sentimento são canalizadas para os conflitos interpessoal e intrapessoal, produzindo processos mentais, que podem desequilibrar o estado biopsicossocial da pessoa. Para afastar tais sentimentos negativos, o bom é ouvir uma boa música, praticar esportes, passeios, etc. Quando a mente da pessoa está emocionalmente doente, ela poderá desenvolver os chamados transtornos psicossomáticos, ou seja, não têm causa física e sim mental. Entre as inúmeras doenças psicossomáticas, temos a asma, em adulto, que está associada à perda da independência, a dificuldade erétil, que pode estar associada à ansiedade excessiva ou a depressão e outras. Os sentimentos destrutivos devem ser vivenciados da melhor maneira possível, para que a pessoa amadureça emocionalmente e alcance o bem-estar biopsicossocial. Esta mudança muitas vezes necessita do apoio de um psicólogo clínico. As principais emoções que produzem sentimentos negativos são: a) - Medo: - Pressentimento ou presença de um perigo constante e real. Seus sintomas físicos são a mudança da fisionomia habitual da pessoa. b) - Fobia: - Medo irracional que vem acompanhado de comportamento defensivo. Geralmente o fóbico é dependente e manipulativo, só enfrentando objetos fóbicos, estando acompanhado. Seus sintomas físicos são a insônia, o terror noturno, o sono preocupado, dorme com a luz acesa, tem má digestão, desmaio, taquicardia, sudorese, rubor, turvamento de visão, tonturas, diarréia, descontrole do esfíncter, urina em excesso, inapetência sexual, arritmia, respiração ofegante, rebaixamento da sexualidade, desenergização, desvitalização, dificuldade de atingir o orgasmo, etc. c) - Tristeza: - É o estado de esgotamento que a pessoa sente após a perda e / ou a mágoa. Os sintomas físicos são a boca curva para baixo, choro (lágrimas), caminhar lento, aparência descuidada e abatida, isolamento, etc. d) - Mágoa: - É o estado desagradável que a pessoa sente quando é ofendida ou desconsiderada; é a principal causadora de conflitos no relacionamento interpessoal. Muitas pessoas possuem a sua estrutura de personalidade desajustada, por terem sido magoadas, ou seja, receberam palavras maléficas que ficaram guardadas em suas mentes, roubando-lhes a energia vital. A mágoa é o primeiro sentimento destrutivo. Ela deve ser convertida em sentimento construtivo, para que não se transforme em outros sentimentos destrutivos como a ansiedade patológica, a raiva, a culpa e a depressão, causadores de energia negativa. Alguns estudos recentes associam algumas doenças físicas, como por 40 exemplo o câncer de mama, ao sentimento de mágoa recalcado. Os sintomas físicos são a dor de estômago e no peito. e) - Ansiedade: - Consiste na irritabilidade e inquietação motora que se origina do psiquismo da pessoa, que sente a sua segurança pessoal ameaçada. Este estado de tensão desagradável ocorre devido a uma ameaça real ou imaginária, que a pessoa tenta agir da sua maneira. Quando o grau de ansiedade é intenso, ele pode interferir no comportamento do indivíduo, tornando-o desordenado e confuso, por este motivo é aconselhável procurar ajuda com um psicólogo. Neste caso os sintomas físicos são contrações dos músculos do pescoço, cãibras, insônia, vontade de comer alguma coisa sem saber o quê, bulimia, taquicardia, alterações da pressão, sudorese, diarréia, necessidade constante de urinar, aumento dos sintomas da TPM (tensão pré menstrual), falta de ar, freqüência respiratória alta, dificuldade erétil, ejaculação precoce, frigidez, etc. f) - Angústia: - É o estado emocional em que o indivíduo se afasta progressivamente da área de atrito, que ele reputa insuportável, contrai-se e centrando-se no self. Sintomas físicos: expressa-se nas vísceras ou órgãos mais vulneráveis. g) - A ira: - É o estado emocional caracterizado pelo acúmulo de irritação, que faz com que o indivíduo perca o controle emocional, podendo ficar com o comportamento amuado, retraído e deprimido. Quando o indivíduo tem dentro de si, por longo tempo, a ira, surge o sentimento de culpa. Sintomas físicos: dor de estômago e no peito. h) - A culpa: - É o estado emocional caracterizado pela negligência ou imprudência, quando o indivíduo percebe que errou. Sintomas físicos: tensão interior. i) - A depressão: - É o mais patológico de todos os estados emocionais, tendo em vista que o indivíduo experimenta grande astenia e profunda tristeza. Geralmente, a pessoa no estado depressivo tem um baixo interesse pela vida, podendo pensar que o suicídio é a única solução para o seu sofrimento, que é agravado com lembranças de fatos acontecidos há algum tempo. Assim como a culpa, a depressão ocorre quando a raiva fica recolhida e voltada para dentro de nós mesmos. Os sintomas físicos são a anorexia, torpor, alteração no ciclo menstrual, respiração difícil, respiração lenta, respiração acentuada, freqüência respiratória alta, bronquite, asma, dores no peito, falta de higiene, baixa auto-estima, dificuldade erétil, ejaculação precoce, frigidez, excesso de sono, insônia, etc. j) - Maturidade emocional: - A pessoa possuidora de maturidade emocional sabe intelectualizar sensatamente o seu inter-relacionamento, mantendo o seu controle emocional, quando a situação for favorável ou não. No seu relacionamento com as pessoas, é capaz de: amar e ser amado; respeitar e se fazer respeitado; ouvir o que as outras pessoas falam, como também se fazer ouvido; aceitar o seu semelhante como um indivíduo e da maneira que ele é; ser sincero em suas colocações; ser empático e assumir uma atitude não-crítica; aceitar as suas limitações e as do seus semelhantes; conviver tanto na alegria como na tristeza e saber perder e ganhar. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, págs.: 85,85,87,88,89,92) 2.3 – TRANSTORNOS DA MENTE Transtornos da mente: - São causados por diversos fatores, tais como genéticos, neurológicos e psíquicos. Este último, os transtornos da mente, muitas vezes são causados devido a sentimentos destrutivos que causam o desequilíbrio emocional, biológico e até mesmo o espiritual, pois ele destrói o bem estar da pessoa. Até chegar a esta conclusão científica, muitas pessoas pagaram com a própria vida, e outras foram perseguidas por contrariarem, com suas investigações científicas, a teoria da demonologia. 41 Com a crescente modernização das ciências humanas e médicas, é sabido que os transtornos da mente podem ser compreendidos ou explicados de várias maneiras, tais como: causas genéticas, causas químicas ou neurológicas, conflitos inconscientes, comportamentos aprendidos e inadequados e cognição errônea. Histórico dos transtornos mentais: - Doenças mentais ou transtornos mentais são desordens que ocorrem no funcionamento da mente de uma pessoa, que geralmente são desencadeadas por fatores orgânicos e / ou psicológicos. Desde o início da era cristã, o indivíduo que se comportava ora de maneira estranha, ora de maneira violenta, desviando-se das normas de conduta, o doente mental, era tido, nas crenças dos chineses, egípcios e hebreus, como pessoa portadora de possessão demoníaca. Muitas vezes, pessoas portadoras de supostas possessões demoníacas ficavam abandonadas, outras recebiam asilo nos mosteiros, e tinham como terapia as preces dos religiosos. Muitas pessoas receberam a cura, através das preces realizadas pelo bispo de século IV, São Zenóbio. Durante muito tempo, as pessoas possuidoras de transtorno mental foram consideradas aliadas de Satanás. Muitas delas foram espancadas, torturadas mentalmente e privadas de alimento, pois acreditava-se que, com este procedimento, estava-se punindo a Satanás. Um exemplo de crueldade, temos registrado por Hieronymus Bosch, em pintura do século XVI, a figura de um cirurgião charlatão, após ter enganado um doente mental, dizendo-lhe que a pedra da loucura estava dentro de sua cabeça, submeteu-o à cirurgia, sendo assistido por um monge e uma freira. As pessoas portadoras de transtornos mentais sofreram durante séculos estes tipos de torturas. O médico grego Hipócrates (460-370 a C.) foi o primeiro a contrariar a demonologia dos transtornos mentais, pois sustentou que eles ocorriam devido a uma perturbação no equilíbrio do fluidos corporais. A igreja chamava de doença sagrada, no entanto Hipócrates, contrariando o ponto de vista da igreja, escreveu um artigo, com base científica, afirmando que a epilepsia tinha uma causa fisiológica, e não de espírito demoníaco. De acordo com o médico Hipócrates, quando se abre a cabeça do ser humano, seu cérebro está úmido de suor e cheirando mal. O médico ratificou que não era o demônio que estava dentro do cérebro danificando-o. Hipócrates também criou a Teoria dos quatros temperamentos, outro artigo que contrariou a demonologia da igreja. No século XVI, o médico holandês John Weyer, ao investigar a etiologia dos transtornos mentais, escreveu vários casos sobre este assunto. Para Weyer, a sugestão ajudava a causar transtorno mental. Os escritos do Dr. John Weyer foram banidos pela igreja, que conforme já sabemos defendia a tese de que as pessoas portadoras de transtorno mental eram possessas por demônios. No século XX, estes escritos voltaram aos meios médicos. Instrumentos terapêuticos primitivos: - Com o objetivo de controlar as pessoas portadoras de transtorno mental, foram criados alguns instrumentos, como: a) - Preso a corrente: - Bicêtre era um local em Paris, onde, no século XVIII, os loucos eram acorrentados no escuro. b) - Berço de madeira: - Em 1882, os pacientes violentos eram amarrados em berços de madeira tampados com grades de madeira. 42 c) - Cadeira tranqüilizadora: - Foi idealizada pelo médico Benjamin Rush, o fundador da psiquiatria norte americana . o paciente violento ficava totalmente amarrado dos pés a cabeça. E seu rosto era coberto com um objeto de madeira que fazia parte desta cadeira. d) - Dispositivo giratório: - Eram usados nos asilos ingleses, no século XIX. Os pacientes portadores de transtorno mental eram colocados amarrados nos dispositivos giratórios que giravam em altas velocidades. e) - Aparelho de eletrochoque: - No Brasil, a terapia eletroconvulsiva, em que a corrente elétrica é aplicada no cérebro do cliente através de dois eletrodos colocados nas áreas temporais do crânio, foi introduzida em 1934. A Colônia Juliano Moreira utilizou este tipo de tratamento psiquiátrico até o ano de 1980. f) - Camisa de força: - Era constituída de lona resistente, onde o cliente ficava amarrado, imobilizado e inofensivo. Nos hospitais brasileiros, este tratamento psiquiátrico, às vezes era substituído por celas resistentes. Com o advento dos neurolépticos e das práticas de reabilitação psicossocial, este tipo de tratamento foi extinto. Humanização do transtorno mental: - No final do século XVIII, o médico Philippe Pinel (1745-1826) começou a fazer algumas reformas humanitárias para o tratamento dos transtornos mentais, publicando o tratado médico-filosófico sobre a alienação ou mania (180), onde descreve uma nova especialidade médica: a psiquiatria. Para o médico Philippe Pinel, as pessoas portadoras de transtorno mental, para obterem a cura, necessitavam de ar e liberdade, assim sendo quando assumiu o manicômio Bicêtre, o Dr. Philippe Pinel levou sua reforma para o manicômio Salpêtrière, onde, como parte do tratamento do transtorno mental, proporcionou aos clientes exercícios físicos, concerto de músicas, leituras e visitas. Em 1817, chegou ao Brasil uma missão austríaca. Um dos componentes desta, o médico Carl Von Martius, constatou um caso de licantropia entre os índios. O Dr. Carl escreveu sobre este assunto, que tornou-se o primeiro trabalho sobre transtorno mental entre os índios brasileiros. Em 1830, a Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, que havia sido fundada no ano anterior, após ter investigado o comportamento dos loucos no Rio de Janeiro, considerou-os como sendo portadores de transtorno mental. Para os membros da SMRJ, estas pessoas deveriam ser recolhidas para um local, hospício, para serem submetidas a tratamento. Dom Pedro II sancionou o decreto de criação do hospício, em 1841, que foi inaugurado em 8 de dezembro de 1852, e foi chamado de Dom Pedro II, conhecido popularmente como “Palácio dos loucos”. No mesmo ano da inauguração, o hospício Dom Pedro II recebeu pacientes curáveis ou incuráveis, afetados mentalmente ou menos indigentes, processo este que fez com que ocorresse a superlotação do mesmo. Em 1831, o médico brasileiro José Martins da Cruz Jobim publicou o livro Insânia Loquaz sendo este o primeiro escrito sobre doenças mentais no Brasil. O Dr. José Martins foi um dos fundadores da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro e também um dos pioneiros da psiquiatria no Brasil. Em 1835, discursou na SMRJ e denunciou a insalubridade dos porões da Santa Casa de Misericórdia e as péssimas condições em que viviam os loucos na cidade do Rio de Janeiro. O médico Wilhelm Griesinger, em 1845, escreveu um artigo afirmando que a insanidade mental é resultado de distúrbios do cérebro e do sistema nervoso. É um problema médico. A Neurologia e a Fisiologia tiveram grandes avanços durante o século XIX, proporcionando aos médicos psiquiatras, dados científicos de que a doença mental possui base fisiológica, sendo um problema médico. Neste mesmo século, na década de oitenta, o médico psiquiatra alemão Emil Kraepelin (1856-1926) deu sua importantíssima parcela de contribuição, fazendo a primeira classificação compreensiva do transtorno mental, fundamentada nos sintomas. Distúrbios de infecções, doenças do cérebro, epilepsia, neurose e deficiência mental foram alguns dos quinze princípios classificados pelo Dr. Emil Kraepelin, que acreditava que os transtornos mentais causados por inter-relacionamento, como a psicose maníaco-depressiva, atualmente chamada de transtorno bipolar, eram curáveis, mas os transtornos 43 mentais causados por deterioração mental séria, não tinham cura devido aos processos metabólicos deficientes do cérebro ou outras condições corporais. Durante muitos anos, o Dr. Kraepelin dirigiu, na França, a clínica em Munique, onde procurou proporcionar às pessoas possuidoras de transtorno mental, lá internas, um ambiente semelhante ao doméstico. Esta atitude de Kraepelin influenciou na formulação da primeira legislação brasileira de assistência às pessoas possuidoras de transtorno mental. Em 1883, o médico brasileiro Teixeira Brandão (1854-1921), que é considerado o primeiro alienista brasileiro, assumiu na cidade do Rio de Janeiro, a Cátedra de Psiquiatria da Faculdade de Medicina. Como diretor do hospício Dom Pedro II, que trocou o nome para Hospício Nacional de Alienados, o Dr. Teixeira Brandão, no ano de 1886, desanexou a Santa Casa de Misericórdia do hospício, e no ano de 1890, criou no estado do Rio de Janeiro a primeira Escola de Enfermeiros e Enfermeiras do Brasil, para que estes profissionais pudessem assumir as funções das irmãs de caridade ligadas à Santa Casa de Misericórdia. Nas últimas décadas do século XIX, os médicos neurologistas Jean-Martins Charcot e Sigmund Freud, em seus estudos, concluíram que quando o transtorno mental não tinha causa física, havia necessidade do paciente fazer o relato de sua história de vida, a fim de que o médico pudesse localizar a causa psicológica. Para Sigmund Freud, o transtorno psicológico pode ser aliviado pelo simples poder de idéias. Após ter completado seus estudos de neurologia em Paris com o Dr. Charcot, Freud retornou a Viena e começou a clinicar, aplicando a hipnose e a catarse, que já estavam sendo aplicadas em Viena, pelo médico Josef Breuer, que usava a hipnose, convicto de que seus pacientes se sentiam aliviados. Os médicos Josef Breuer e Sigmund Freud definiram a catarse como sendo a verbalização dos problemas emocionais, que o cliente relata, ao ser auxiliado e encorajado sob hipnose. Juntos escreveram um livro: “Estudo sobre a Histeria”, onde são descritos aspectos da neurose ou psiconeurose, que é um transtorno mental associado a conflitos emocionais de natureza interna e externa. Em suas investigações com seus pacientes reprimidos eram de natureza sexual, porém o Dr. Josef Breuer não concordou, e rompeu com Freud, antes da publicação do livro, que ocorreu em 1895. O médico e psicanalista Sigmund Freud, investigou o fenômeno religioso, sobre o ponto de vista psicológico e, em 1907, escreveu um artigo chamado de Atos obsessivos e práticas religiosas, mostrando que existia semelhança entre as neuroses obsessivas e as cerimônias religiosas. Segundo Freud, o não cumprimento do propósito específico do neurótico produz um aumento progressivo da ansiedade e o não cumprimento do propósito específico da cerimônia religiosa tende a criar sentimento de culpa, que é o pecado. Para Freud, a religião é a causa da neurose, onde o homem procura esconder as suas imperfeições. A respeito deste artigo escrito por Freud, o pastor protestante, Doutor em Filosofia e Teologia, Oskar Pfister (1873-1956), que se relacionava muito bem com Freud através de cartas, afirmou que a religiosidade autêntica poderia ser uma proteção contra a neurose. Freud respondeu o ponto de vista de Pfister afirmando que era uma raridade. Porém, o psicólogo H. L. Philip discordou de Freud ao analisar os seus escritos sobre Atos obsessivos e práticas religiosas, levantando, então, oito conclusões sobre o assunto. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, págs.: 135136) Não foram poucos os que romperam com Freud, entre mestres, amigos, alunos e seguidores. Freud foi uma figura que despertou entre os seus seguidores o mais profundo fascínio. Os caminhos por eles tomados são, em decorrência desse fascínio, muitas vezes terríveis. Não são poucos os casos de suicídio (Tausk, Stekel e outros dez citados por Manonni). Outros escolheram romper de modo definitivo com Freud e com a Sociedade Psicanalítica de Viena. É o caso de Carl Gustav Jung, discípulo amado em quem Freud depositou grandes esperanças, mas que acabou por “rejeitar todas as teorias fundamentais da Psicanálise”, segundo o mestre. (Maria Cristina Kupfer, “Freud e a Educação”, p. 30) O médico psiquiatra brasileiro Juliano Moreira (1873-1933), no ano de 1905, criou no Brasil a maior biblioteca de psiquiatria da América do Sul. Juliano Moreira, deixou grandes contribuições a psiquiatria,em seus inúmeros escritos científicos, editando os Arquivos Brasileiros de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal. Outra medida de impacto, tomada por Juliano, foi a incineração de camisas-de-força e a criação de espaço para o psiquiatra conversar com o paciente, criando assim um 44 ambiente semelhante ao doméstico, atitude esta que o Dr. Kraepelin já havia tomado em Munique, quando então diretor do hospital daquela cidade. Ainda no ano de 1907, na cidade do Rio de Janeiro, foi criada a Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia, e Medicina Legal, e em 1911, foi criada a colônia de Engenho de Dentro, destinada a mulheres. Em 29 de março de 1924, em Jacarepaguá, na cidade do Rio de Janeiro, foi inaugurada a Colônia de Alienados, que em 1930, passou a ser chamada de Colônia Juliano Moreira. O médico psiquiatra alagoano Osório César assumiu a direção do Hospital de Juqueri e adotou como uma das formas de tratamento para as pessoas possuidoras de transtorno mental, as artes plásticas. O Dr. Osório César foi o primeiro neste método terapêutico. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, págs.: 136-137). No ano de 1946, a médica psiquiatra brasileira Nise da Silveira (1905-1999), inconformada com os tratamentos, que ela considerava desumanos e agressivos, fundou e dirigiu no Centro Psiquiátrico Pedro II, a seção de terapia ocupacional. O principal método terapêutico utilizado por Nise em seus pacientes consistia em estes praticarem atividades artísticas e expressivas. Muitos destes trabalhos expressivos dos seus pacientes encontram-se no Museu de Imagens do Inconsciente, criado por ela, em 1952. No dia 14 de julho de 1975, a psiquiatra alagoana Nise da Silveira foi aposentada compulsoriamente. A sua dedicação à profissão que abraçou com amor era tanta, que no dia seguinte, reapresentou-se ao Centro Psiquiátrico Pedro II, afirmando: “sou a nova estagiária”. No ano de 1955, pela primeira vez é utilizada no Brasil, a clorpromazina, medicamento que inaugura a categoria dos neurolépticos. Os psiquiatras brasileiros Oswaldo Santos (1924-2001) e Wilson Simplício (1933-2000) inovaram a psiquiatria brasileira, em 1968, criando no Centro Psiquiátrico Pedro II, atualmente chamado de Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira, a Comunidade Terapêutica, descentralizando o poder entre as equipes médicas e os doentes. Estes tinham a liberdade de registrar nos livros de ocorrência as suas idéias, que eram valorizadas. Esta experiência se constituiu em um marco importantíssimo de liberdade e democratização no tratamento dos transtornos mentais no Brasil. O médico e psiquiatra Luiz Cerqueira (1892-1943), destacou-se em ser pioneiro da desospitalização psiquiatra. Ele pesquisou sobra as condições da assistência à saúde mental no Brasil e denunciou os rumos mercantilistas da atividade psiquiátrica, que qualificava de indústria da loucura. Em 1973, em São Paulo, o Dr. Luiz Cerqueira criou o Centro de Atenção Diária, outra contribuição por ele deixada, além de vários livros, entre os quais: “Psicologia Social”. No Brasil, a Psicologia foi reconhecida como profissão, através da lei 4.119, no ano de 1962. A Psicologia tem por objetivo compreender e analisar o porquê do comportamento, procurando explicações para suas emoções, predizendo e até mesmo modificando-o, quando é necessário, a fim de proporcionar o bem estar psíquico, orgânico, social e espiritual do ser humano. Em 2002, no Brasil, através da resolução n.º 013/00, o Conselho Federal de Psicologia, aprovou o uso da hipnose, como recurso auxiliar de trabalho do psicólogo. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, págs.: 138-139-140). Classificação dos Transtornos Mentais: - Durante muito tempo, as pessoas portadoras de transtornos mentais sofreram diversas barbaridades, mas com o avanço da neurologia, psiquiatria e psicologia, está sendo possível dar um tratamento cada vez mais humano aos indivíduos que necessitam da relação de ajuda, para desenvolver o seu bem estar psíquico, sendo tratado por neurologista, quando o transtorno for no sistema nervoso; por psiquiatra, quando o transtorno for na mente; por psicólogo, quando for emocional e por ministros do Evangelho de Cristo, quando o transtorno for espiritual. 45 Transtorno Mental Orgânico: - São aqueles cujas causas se encontram no desenvolvimento natural do organismo. A epilepsia ou distúrbio convulsivo, que a igreja chamava de doença sagrada, consiste em uma descarga neuronial na área motora do córtex cerebral. Para a psiquiatria, os transtornos mentais que possuem causas orgânicas são a epilepsia, a demência senil, a paralisia geral e outras aqui não mencionadas. Transtorno Mental Funcional: - São aqueles causados pela perturbação funcional da mente. Conforme já mencionado, os médicos neurologistas Jean Martin Charcot e Sigmund Freud concluíram que haviam transtornos na mente que eram causados e aliviados pelo simples poder das idéias. Para Freud, a neurose tem origem psicológica, ou seja, ela surge quando o ego não consegue resolver satisfatoriamente a sua função de juiz entre o id e o superego. A demência precoce, atualmente chamada de esquizofrenia, e a psicose maníaco-depressiva são outros transtornos funcionais. O psiquiatra suíço Eugène Bleuler (1857-1939), em 1911, ao constatar que a doença chamada de demência precoce, atingia não só as pessoas jovens, mas também as adultas, e que nem sempre a doença era irrecuperável, substituiu aquele termo pela palavra esquizofrenia, que quer dizer cisão da mente, pois ela atinge as várias funções psíquicas, como por exemplo a maneira da pessoa pensar e sentir. A esquizofrenia pode ser simples, hebrefrênica, catatônica e paranóide. A cura através da Psiquiatria: - É ministrada pelo médico com residência em hospital psiquiátrico. No tratamento dos transtornos mentais, quando o psiquiatra acha viável, receita remédios, como ansiolíticos ou pasicotrópicos, como parte do tratamento, podendo também recorrer à psicanálise. Conforme já foi mencionado, o pioneiro da psicoterapia foi o médico neurologista e psicanalista Sigmund Freud, mas atualmente existem diversos tipos de psicoterapias modernas. A cura através da Psicoterapia - É ministrada pelo psicólogo com especialização em psicologia clínica. Terapia quer dizer diálogo, logo, psicoterapia significa o diálogo que um cliente tem com o psicólogo, com o objetivo de restabelecer o bem estar psíquico da pessoa, que geralmente vem buscar ajuda para problemas de cunho emocional, tais como transtorno da ansiedade, transtorno do humor, transtorno obsessivo-compulsivo, problemas familiares, problemas sexuais e outros. Psicanálise Freudiana: - Fundada pelo médico neurologista Sigmund Freud com o objetivo de buscar o significado da anormalidade do comportamento e tornar consciente o sentimento inconsciente. Para Freud, os conteúdos do inconsciente precisam ser trazidos à consciência da pessoa e serem trabalhados de maneira mais racional, e este processo, só será alcançado com a ajuda de um profissional especializado. Através da conversão, ocorre o processo da livre associação de idéias, onde geralmente aparecem lapsos verbais decorrentes de conflitos inconscientes, com raízes na infância. Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos Para Ministros do Evangelho”, págs.: 142,143,144, 146,147). Ambiente: - No consultório de Freud, em Viena, os clientes repousavam num confortável divã coberto de pelúcia e eram encorajados a falar livremente, sobre qualquer assunto que viesse à mente, como também relatar seus sonhos. Por este consultório passaram princesas, poetas, filósofos e outras personalidades que vinham se consultar com Freud. Na sessão de Psicanálise, o analista senta-se atrás do paciente, permanecendo a maior parte do tempo fora do campo visual do mesmo. Foco principal: - Conflitos inconscientes com raízes na infância. Durante a sessão de psicoterapia, o que for dito pelo paciente não sofre qualquer tipo de julgamento, nem quebra de sigilo. Durante as sessões, ocorre a associação livre onde o analista procura compreender os conflitos e os conteúdos inconscientes do paciente. Tratamento de regressão: - É feito todo o possível para promover a regressão controlada da neurose de transferência, a serviço do tratamento. 46 Freqüência: - De quatro a cinco vezes por semana. Duração: - A psicanálise é um tratamento demorado e de altos honorários, com duração de dois a cinco anos. Cada sessão dura aproximadamente 50 minutos. Psicoterapia Neo-psicanalista: - Outras inúmeras escolas surgiram de famosos médicos e discípulos que discordaram das doutrinas originais do pai da psicanálise Sigmund Freud e afastaram-se criando então a sua escola, como veremos a seguir: a) - Psicoterapia individual adleriana: - O médico psiquiatra austríaco Alfred Adler (18701937), por volta de 1910, começou a emitir conceitos diferentes do então mestre Sigmund Freud, ocasionando o rompimento de Adler e outros discípulos. Para Adler, a estrutura do comportamento humano possui três pilares básicos, que são: o sentimento de inferioridade, a luta pela superioridade e o interesse social. A psicoterapia individual adleriana é uma tentativa de redução direta e se dirige apenas às neuroses. É uma espécie de pedagogia na qual o terapeuta sai da neutralidade do psicanalista para fazer uma educação do ego. b) - Psicologia junguiana: - Outro famoso dissidente foi o médico psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961). Por discordar de alguns conceitos do então mestre Freud, afastou-se e criou a psicologia analítica junguiana, cujo sistema de investigação é a análise dos fatos psíquicos através do método introspectivo (auto-análise). Em 1912, com a publicação do seu livro A Psicologia do Inconsciente, emitindo conceitos diferentes do mestre Freud, marcou definitivamente o rompimento de ambos. Para Freud, o inconsciente era amoral e animal, mas para o seu discípulo dissidente Jung, o inconsciente é constituído Carl Gustav Jung de princípios morais e até mesmo religiosos. Segundo, Jung, o inconsciente é pessoal e parcialmente coletivo. A parte coletiva é constituída da maneira primitiva da pessoa pensar e sentir, que pode ser herdada ou racial. Carl Gustav Jung, o criador da teoria do inconsciente coletivo, foi um grande estudioso da religiosidade humana. Entre diversos livros escritos por ele, temos: “Psicologia e Religião”, e “Resposta a Jó”. c) - A Psicoterapia de Base Analítica: - É fundamentada em conceitos analíticos. O psicoterapeuta psicanalítico sai da neutralidade psicanalítica, podendo atuar mais diretamente em questões críticas. d) - Psicoterapia Comportamental: - Está fundamentada nos princípios da aprendizagem e do condicionamento. Em geral, os psicoterapeutas comportamentais, adotam a teoria behaviorista da personalidade. e) - Pscicoterapia Humanista: - Está fundamentada na abordagem fenomenológica da personalidade, onde o foco central é a maneira do cliente perceber e interpretar os eventos em seu ambiente atual. f) - Abordagem eclética: - É constituída por diferentes tipos de técnicas psicoterápicas, de duas ou mais escolas. g) - Psicoterapia em grupo: - Tem por objetivo tratar, ao mesmo tempo, um grupo de pessoas com problemas emocionais similares, onde o psicoterapeuta atua como um facilitador na discussão de um tema e os clientes trocam experiências sobre os seus comportamentos. A psicoterapia em grupo geralmente é utilizada em clínica psiquiátrica ambulatorial, em casa de recuperação de dependentes químicos, com pais de dependentes químicos, como também com crianças perturbadas, etc. O número ideal para serem atendidos em psicoterapia em grupo é de 6 a 12 pessoas. 47 h) - Terapia de hipnose: - O Médico neurologista Dr. Jean Martins Charcot (1825-1893), no século XIX, no Hospice de la Salpêtrière, se utilizava da técnica psicoterápica da hipnose para tratar de seus pacientes com problemas de transtorno mental. A hipnose é caracterizada por uma série de fenômenos psicológicos fisiológicos. Conforme já mencionado, no Brasil, o Conselho Federal de Psicologia aprovou o uso da técnica hipnose, como recurso auxiliar de trabalho do psicólogo. A hipnose tem sido utilizada para diversos fins, tais como: para curar fobias: medo de voar, de morrer, de escuro, de multidão, etc; para curar vícios, como: fumar, roer unhas, comer demais, drogar-se, beber, etc; para curar traumas, como: estado de tensão e angústia, enxaqueca, etc. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, págs.: 149,150,151,152153) 2.4 – APRENDIZAGEM Aprendizagem: - “É o processo pelo qual se adquiri a capacidade de responder adequadamente a uma situação que pode ter sido encontrada antes ou não”. (Warren). Fatores básicos da aprendizagem: - Através do raciocínio podemos aprender os diversos fatores que ocorrem no nosso dia-a-dia, mas, para que esta aprendizagem seja eficiente, é necessário que aquele que quer aprender esteja interessado, preste atenção naquilo que está fazendo e siga persistente para obter êxito em seus objetivos. É preciso, também, que o aprendiz procure estar alimentado e deixe o corpo repor as energias perdidas, tenha horas de sono suficientes, recreação e repouso, a fim de que os fatores orgânicos não interfiram negativamente na motivação da aprendizagem. A criança desnutrida, isto é, mau alimentada, ou que recebe algum tratamento a base de fortes medicamentos, ou esforço exagerado em trabalhos domésticos, terá como conseqüência baixo rendimento escolar. Para reter de maneira eficiente o material estudado, o aprendiz precisa desenvolver adequadamente as suas emoções e os seus aspectos sociais, procurando, sempre que for possível, organizar um programa de estudo, de preferência diário, usando recursos como: resumos, anotações, livros, dicionários, etc. Estudar fazendo análise crítica, isto é, conversando com o material estudando, é outra boa maneira para aprender e reter o material estudado. Sublinhar os principais tópicos estudados para fazer resumo destas partes e para revê-las, principalmente na hora em que não dispuser de muito tempo, para um estudo mais aprimorado e evitar que o mesmo caia no esquecimento. Sempre que for possível procurar estudar um pouco mais do que foi preciso para aprender, pois o que diferencia um aluno do outro na hora da avaliação da aprendizagem não é tanto a qualidade do ensino e sim a quantidade de estímulo vivenciado. Quanto mais for praticado o material estudado, maior será o grau da aprendizagem. Tipos de aprendizagem: - Entre os diversos tipos de aprendizagem, temos: a) - Aprendizagem por imitação: - Ocorre quando a pessoa procura reproduzir exatamente o que a outra fez. Este processo pode ser benéfico ou maléfico. O benéfico ocorre quando a imitação traz benefícios para a personalidade da pessoa. Por exemplo, um bom professor que demonstra sempre uma boa conduta em sala de aula, acaba causando sempre admiração por parte de alguns que seguindo seu exemplo procura imitá-lo. O maléfico geralmente ocorre quando a pessoa, por insegurança, por falta de motivação e outras causas, não tenta resolver seus problemas utilizando o seu intelecto, simplesmente reproduz o que a outra pessoa fez. É o caso da famosa cola. b) - Aprendizagem por ensaio e erro: - É o tipo de aprendizagem na qual a pessoa tenta quantas vezes forem necessárias, para obter êxito no seu intento. Segundo Thordike, a ênfase ao fato é importante para que haja aprendizagem. Por este tipo de aprendizagem todos nós passamos quando começamos a aprender a andar. Dávamos alguns passos e caíamos e fomos praticando este ato sucessivamente, até que chegamos ao sucesso tão desejado: aprender a andar. 48 c) - Aprendizagem por discernimento: - Também conhecida como insight, que é a palavra inglesa que quer dizer visão interior. Este tipo de aprendizagem surge repentinamente, quando uma pessoa consegue estruturar uma situação problemática, ou seja, houve discernimento. d) - Aprendizagem por condicionamento clássico: - Condicionamento clássico ou reflexológico, ou respondente foi patenteado por Ivan Petrovich Pavlov (1849-1939), que após ter feito algumas experiências em seu laboratório, concluiu que a partir da organização de um novo comportamento, obtém-se uma resposta condicionada ou reflexo condicionado. condicionamento clássico é bastante utilizado para o tratamento de pessoas portadoras de transtorno mental, no qual o cliente é colocado em situações que o condicione a uma vida anormal. O condicionamento é essencial para que haja aprendizagem, mas devemos usá-lo de maneira adequada. Digamos que o(a) professor(a), durante alguma comemoração na escola, dá a seguinte orientação para seus alunos: “Na hora em que o diretor estiver falando, não quero ninguém andando e nem conversando”. Esta orientação é um estímulo para que a criança ande e converse na hora em que o diretor não estiver falando. Se a criança assim o faz, é porque foi estimulada pelo seu professor(a) e que teve a resposta condicionada: andar e conversar quando o diretor não estiver falando. (Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos”, págs.: 100-101-102) e) - Aprendizagem por condicionamento operante: - O condicionamento ou aprendizagem operante é o ato realizado pelo próprio indivíduo, que é beneficiado pela sua atitude. O benefício adquirido vem depois tomada, que é a resposta operante, que geralmente surge da necessidade do organismo adaptar-se ao ambiente ou resolver um determinado problema. Teoria do condicionamento operante de B. F. Skinner, a recompensa corresponde ao reforço, que tem por objetivo aumentar a probabilidade de conseguir êxito. O reforço pode ser positivo quando é adicionado qualquer estímulo para fortalecer o comportamento. Se uma criança estiver estudando matemática e sua mãe dar um sorriso e faz alguns toques sadios em sua cabeça, esta atitude carinhosa é um reforço positivo que tem por objetivo o êxito da criança na compreensão do que está estudando. O reforço será negativo quando for retirado qualquer estímulo para fortalecer o comportamento. Se a mesma criança do relato acima estiver estudando matemática ouvindo o rádio em alto som, se sua mãe com um semblante sombrio desliga o rádio, esta atitude torna-se um reforço negativo que tem por objetivo o êxito da criança na compreensão do que está estudando. Samuel Costa, “Fundamentos Psicológicos para Ministros do Evangelho”, págs.: 103104) 49 CAPÍTULO III 3 – A PSICOLOGIA NA EDUCAÇÃO “A educação escolar é qualitativamente diferente da educação no sentido amplo. Na escola, a criança se depara com uma tarefa particular: aprende as bases dos estudos científicos, ou seja, um sistema de concepções científicas” (A. Leontiev e A. R. Luria, 1968). Em geral, comete-se o erro de pensar que a aprendizagem começa apenas na idade escolar. Consequentemente, parte-se do princípio de que os ensinamentos que ocorrem na escola principiam na sala de aula. Na verdade, alguns anos antes de entrar na escola, a criança já vem desenvolvendo hipóteses e construindo um conhecimento sobre o mundo, o mesmo mundo que as matérias ditas escolares procuram interpretar. No início da alfabetização, por exemplo, ela já tem uma concepção sobre o sistema de representação gráfica. Coisa semelhante ocorre com a matemática. Antes de entrar na escola, a criança já se deparou inúmeras vezes com a noção de quantidade, realizando, inclusive, operações de cálculo. Um conjunto de noções e de conceitos já se encontra, portanto, estabelecido. Em resumo, a tarefa de ensinar, em nossa sociedade, não está concentrada apenas nas mãos dos professores. O aluno não aprende apenas na escola, mas também através da família, dos amigos, de pessoas que ele considera significativas, dos meios de comunicação de massa, das experiências do cotidiano, dos movimentos sociais. Entretanto, a escola é a instituição social que se apresenta como responsável pela educação sistemática das crianças, jovens e até mesmo de adultos. No ambiente escolar a criança sofre uma transformação radical em sua forma de pensar. Antes de se entrar nela, os conhecimentos são assimilados de 50 modo espontâneo, a partir da experiência direta da criança. Em sala de aula, ao contrário, existe uma intenção prévia de organizar situações que propiciem o aprimoramento dos processos de pensamento e da própria capacidade de aprender. Daí a importância de se buscar maximizar esses resultados, colocando a serviço da educação e do ensino o conjunto dos conhecimentos psicológicos sobre as bases do desenvolvimento e da aprendizagem. Com eles, o professor estará em posição mais favorável para planejar a sua ação. (Cláudia Davis e Zilma de Oliveira, “Psicologia na Educação”, págs.: 22-23) Muitos nomes, dos quais alguns podemos citar, contribuíram com a Psicologia na Educação. São eles: Jean Piaget, Lev S. Vygotsky, B. Frederic Skinner, Carl G. Jung e outros. 3.1 – A PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM “Assim, para aprender conceitos, generalizações, conhecimentos, a criança deve formar ações mentais adequadas. Isto pressupõe que essas ações se organizam ativamente. Inicialmente, assumem a forma de ações externas que os adultos formam na criança e só depois se transformam em ações mentais internas” (A. Leontiev, “O desenvolvimento do psiquismo”). “Aprendizagem é o processo pelo qual se adquiri a capacidade de responder adequadamente a uma situação que pode ter sido encontrada antes ou não” (Warren). A aprendizagem é o processo através do qual a criança se apropria ativamente do conteúdo da experiência humana, daquilo que o seu grupo social conhece. Para que a criança aprenda, ela necessitará interagir com outros seres 51 humanos, especialmente com os adultos e com outras crianças mais experientes. Nas inúmeras interações em que se envolve desde o nascimento, a criança vai gradativamente ampliando suas formas de lidar com o mundo e vai construindo significados para as suas ações e para as experiências que vive. Com o uso da linguagem, esses significados ganham maior abrangência, dando origem a conceitos, ou seja, significados partilhados por grande parte do grupo social. A linguagem, além disso, irá integrar-se ao pensamento, formando uma importante base sobre a qual se desenvolverá o funcionamento intelectual. O pensamento pode ser entendido, desta forma, como um diálogo interiorizado. Objetos e conceitos existem, inicialmente, sob a forma de eventos externos ao indivíduo. Para se apropriar desses objetos e conceitos é preciso que a criança identifique as características, propriedades e finalidades dos mesmos. A apropriação pressupõe, portanto, gradativa interiorização. Através desse processo, é possível aprender o significado da própria atividade humana, que se encontra sintetizada em objetos e conceitos. Assim, ao se analisar uma mesa, pode-se notar que ela resume, em si, anos de trabalho e tecnologia: é preciso maquinário apropriado para lixar a madeira, instrumentos como o martelo e chaves de fenda para montá-la, apetrechos para refiná-la, como lixa e verniz. Entender o que significa uma mesa implica conhecer as suas principais características e finalidades – mesa para jogar, comer, estudar etc. –, compreendendo o quanto de esforço foi necessário para concebê-la e realizá-la. A Psicologia da Aprendizagem estuda o complexo processo pelo qual as formas de pensar e os conhecimentos existentes numa sociedade são apropriados pela criança. Para que se possa entender esse processo é necessário reconhecer a natureza social da aprendizagem. Como já foi dito, as operações cognitivas (aquelas envolvidas no processo de conhecer) são sempre ativamente construídas na interação com outros indivíduos. 52 Em geral, o adulto ou outra criança mais experiente fornece ajuda direta à criança, orientando-a e mostrando-lhe como proceder através de gestos e instruções verbais, em situações interativas. Na interação adulto-criança, gradativamente, a fala social trazida pelo adulto vai sendo incorporada pela criança e o seu comportamento passa a ser, então, orientado por uma fala interna, que planeja a sua ação. Nesse momento, a fala está fundida com o pensamento da criança, está integrada às suas operações intelectuais. Reconhece-se, dessa maneira, que as pessoas, em especial as crianças, aprendem através de ações partilhadas mediadas pela linguagem e pela instrução. A interação entre adultos e crianças, e entre crianças, portanto, é fundamental na aprendizagem. A Psicologia da Aprendizagem, aplicada a educação e o ensino, busca mostrar como, através da interação entre professor e alunos, e entre os alunos, é possível a aquisição do saber e da cultura acumulados. O papel do professor nesse processo é fundamental. Ele procura estruturar condições para ocorrência de interações professor-alunos-objetos de estudo, que levem à apropriação do conhecimento. De maneira geral, portanto, essa visão de aprendizagem reconhece tanto a natureza social da aquisição do conhecimento como o papel preponderante que nela tem o adulto. Estas considerações, em conjunto, têm sérias implicações para a Educação: procede-se, na aprendizagem, do social para o individual, através de sucessivos estágios de internalização, com o auxílio de adultos ou de companheiros mais experientes. (Cláudia Davis e Zilma de Oliveira, “Psicologia na Educação”, págs.: 20-21-22). Vejamos aqui como pensam os nossos grandes contribuidores da psicologia da aprendizagem : Jean Piaget e Lev Vygotsky. a) - Piaget: - Se dá a partir do desenvolvimento maturacional e tem pouco impacto sobre ele. É um processo mais restrito que o desenvolvimento, pois é 53 subordinado ao processo de equilibração e maturação. A aprendizagem é causada por situações específicas, ou seja, o desenvolvimento precede a aprendizagem. Propõe uma continuidade na passagem das condutas motoras às mentais. b) - Vygotsky: - É fonte do desenvolvimento, pois engendra a área de desenvolvimento potencial. O processo de desenvolvimento segue o da aprendizagem e, portanto, esses dois processos não são coincidentes nem paralelos: são diretamente ligados e influenciam-se reciprocamente. O ensino escolar orienta e organiza os processos internos do desenvolvimento. O conceito de zona de desenvolvimento proximal é fundamental para o ensino. A natureza do desenvolvimento vai da transformação do biológico para o sócio-histórico. (Claisy Marinho, Contribuições Teóricas: Piaget e Vygotsky) 3.2 – A PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO “Para se estudar o desenvolvimento das crianças, deve-se começar com um entendimento da unidade dialética entre suas linhas radicalmente diferentes: a biológica e a cultural. Para adequadamente estudar tal processo, é preciso conhecer estes dois componentes e as leis que governam seu entrelaçamento a cada estágio de desenvolvimento infantil” (Vygostky, 1978). Desenvolvimento é o processo pelo qual o indivíduo constrói ativamente, nas relações que estabelece com o ambiente físico e social, suas características. Ao contrário de outras espécies, as características humanas não são biologicamente herdadas, mas historicamente formadas. De geração a geração, o grau de desenvolvimento alcançado por uma sociedade vai sendo acumulado e transmitido, indo influir, já desde o nascimento, na percepção que o indivíduo vai 54 construindo sobre a realidade, inclusive no que se refere às explicações dos eventos e fenômenos do mundo natural. Para que a apropriação das características humanas se dê, é preciso que ocorra atividade por parte do sujeito: é necessário que sejam formadas ações e operações motoras e mentais, como, por exemplo, empilhar, puxar, comparar, ordenar. A formação dessas habilidades se dá ao longo da interação do indivíduo com o mundo social. Ele deve dominar o uso de um número cada vez maior de objetos e aprender a agir em situações cada vez mais complexas, buscando identificar os significados desses objetos e situações. A Psicologia do desenvolvimento pretende estudar como nascem e como se desenvolvem as funções psicológicas que distinguem o homem de outras espécies. Ela estuda a evolução da capacidade perceptual e motora, das funções intelectuais, da sociabilidade e da afetividade do ser humano. Descreve como essas capacidades se modificam e busca explicar tais modificações. Por intermédio da Psicologia do Desenvolvimento é possível constatar que as manifestações complexas das atividades psíquicas no adulto são frutos de uma longa caminhada. Daí a importância desta disciplina para a Pedagogia: subsidiar a organização das condições para a aprendizagem infantil, de modo que se possa ativar, na criança, processos internos de desenvolvimento, os quais, por sua vez, serão transformados em aquisições individuais. (Cláudia Davis e Zilmar de Oliveira, “Psicologia na Educação”, págs.: 19-20) Contribuições para a Psicologia do Desenvolvimento: Um dos mais conhecidos contribuidores na Psicologia do Desenvolvimento, Erik Erikson, foi o que introduziu as teorias da identidade, a 55 crise de identidade (termo do qual ficou muito popular), e o desenvolvimento psicossexual e psicossocial. (Fonte: Multimedia Encyclopedia - Grolier Electronic Publishing Inc.-1996) Porém, é muito importante ressaltar as visões dos grandes nomes conhecidos na Psicologia do Desenvolvimento: Jean Piaget e Lev Vygotsky. Vejamos: a) - Piaget: - Privilegia a maturação biológica: os fatores internos preponderam sobre os externos e a interação com o objeto gera a construção de estruturas cognitivas, a partir da ação independente e autônoma da criança sobre o meio físico. Aponta uma seqüência de estágios ou fases, irreversíveis, através dos quais o desenvolvimento ocorre. O desenvolvimento é um processo autônomo e espontâneo que se apoia, predominantemente, na maturidade biológica. A afetividade é vista como trocas interpessoais. O desenvolvimento é a evolução dirigida pelas necessidades internas de equilíbrio: equilibração > adaptação. A criança é um ser pré-social, do nascimento até o aparecimento da fala. b) - Vygotsky: - Privilegia o ambiente social e a presença do “outro social” na construção das funções psico-intelectuais superiores, que vão surgindo no curso do desenvolvimento. O desenvolvimento mental acontece em 2 níveis: o nível de desenvolvimento efetivo e a área de desenvolvimento potencial. A internalização das atividades socialmente enraizadas e historicamente desenvolvidas é a característica principal do desenvolvimento: um processo interpessoal é transformado num processo intrapessoal. Todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro no nível social (interpsicológica) e, depois, no nível individual (intrapsicológica). O desenvolvimento é a apropriação ativa do conhecimento social disponível. Vygotsky considera um mediador do desenvolvimento especificamente humano: a linguagem. (Claisy Marinho, “Contribuições Teóricas: Piaget e Vygotsky”). 56 A Psicologia do Desenvolvimento sob o ponto de vista psicoanalítico: - Sigmund Freud é o responsável pela descrição do desenvolvimento afetivo- emocional das crianças. Esse desenvolvimento, ainda segundo os textos de divulgação, começaria com uma fase oral, onde predominam os interesses ligados à boca (amamentação, sucção), uma fase anal, onde os interesses se ligam ao prazer de defecar e de manipular as fezes, e uma fase fálica, em que a criança passa a se interessar pela existência o pênis. Tais fases se relacionam à predominância de uma determinada pulsão parcial, responsável pela emergência do interesse a ela correspondente. De fato, as bases para a descrição das fases de desenvolvimento são freudianas, mas sua formulação se deve na verdade a um de seus discípulos, Karl Abraham. Talvez essa categoria, a do desenvolvimento emocional, tenha sido criada para marcar uma oposição em relação às descrições pedagógicas basicamente cognitivas ou intelectuais, pois na realidade Freud não pretendeu descrever nada parecido com o “desenvolvimento emocional de uma criança”. No entanto é assim que sua teoria está identificada em nosso meio. 3.3 – A PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO “Quer-se entender o que uma criança pensa? Leia-se Piaget. Quer-se entender o que é que sente uma criança, ou porque é agressiva? Leia-se Freud.” (Maria Cristina Kupfer, “Freud e a Educação”, p. 64) “A fala fundamental, que é então inconsciente, é o elemento dinâmico essencial. Por que será que ela é inconsciente naquele momento? Porque ela ultrapassa infinitamente aquilo que os dois, como indivíduos, podem então apreender conscientemente dela. A descoberta do inconsciente, tal como ele se mostra, no momento do seu surgimento histórico, com sua dimensão plena, é que o alcanse do sentido ultrapassa infinitamente os sinais manipulados pelo indivíduo. Sinais, o homem solta sempre muito mais do que ele pensa. É disto que se trata na descoberta freudiana – de uma nova impressão de homem. O homem, depois de Freud, é isso” (Jacques Lacan, “O Eu na teoria de Freud e na Técnica da Psicanálise”, p.158). Um pequeno relato histórico da Psicanálise na Educação: - Sigmund Freud acalentava o sonho de que um dia a Psicanálise pudesse ser colocada a serviço da sociedade como um todo e, principalmente, da Educação. Por volta de 1908, ele julgava existir uma relação entre a repressão sexual exercida pela vida de sua época e o aumento de neuroses. Se assim fosse, bastaria a princípio, propor à sociedade práticas educativas não-repressivas e respeitadoras, entre outras coisas, da sexualidade infantil recém-descoberta por ele. Nessa época, Freud também acreditava que se devia, no decorrer do processo educativo, esclarecer as crianças quanto à verdadeira realidade sexual de suas vidas, o que também evitaria a instalação de neuroses. Porém, no final de sua vida, Freud mudou de idéia. Para ele, a educação sexual, as práticas educativas não-repressivas, não garantem que a neurose seja 57 evitada. O tom desses escritos finais é amargo. Contudo, sua filha Anna Freud dedicou-se à pesquisa das bases psicanalíticas para uma pedagogia. Supunha que a Psicanálise poderia ser transmitida aos professores enquanto saber teórico. Através de seus livros, muitos professores entraram em contato com aquilo que passou a ser chamado de desenvolvimento afetivo das crianças. Os estágios psicossexuais: os estágios oral, anal e fálico. Hoje, pouco resta dos esforços de Anna Freud. Basicamente, esse conhecimento teórico revelou-se inoperante, ou seja, não se converteu num instrumento útil ao educador, que o abandonou. (Maria Cristina Kupfer, “Freud e a Educação”, p.7) Atualmente, são muitos os psicanalistas que negam a possibilidade de existir uma pedagogia analítica, ou de uma psicanálise aplicada à Educação, entendendo-se aí uma construção de métodos e de instrumentos de trabalho de inspiração psicanalítica que se apliquem à situação de ensino propriamente dita. Isso porque a natureza da Psicanálise, segundo esses autores, é em tudo contrária à natureza da Pedagogia. Foram pelo menos três as direções tomadas pelos teóricos interessados no casamento da Psicanálise com a Educação. A primeira foi a tentativa de criar uma nova disciplina, a Pedagogia Psicanalítica, empreendida principalmente por Oskar Pfister e Hans Zulliger, na Suíça, no início do século XX. A segunda consistiu no esforço a que se dedicaram alguns analistas para transmitir a pais e professores a teoria psicanalítica, imaginando que estes, de posse desse conhecimento, pudessem evitar que as neuroses se instalassem em seus filhos e alunos. Anna Freud, a filha de Freud, foi a principal representante desse grupo, não tendo medido esforços no sentido de levar aos professores o modo psicanalítico de ver a criança. Na Inglaterra, Melanie Klein e seus discípulos dedicaram-se também a obras de divulgação da Psicanálise para pais. A terceira direção, mais recente, não diz respeito exatamente ao casamento da Psicanálise com a Educação. Trata-se, sobretudo, de uma tentativa mais difusa de transmitir a Psicanálise a todos os representantes da cultura interessados em ampliar sua visão de mundo. Nesse movimento, que se iniciou na França dos anos 60 e se estendeu de modo menos vigoroso ao Brasil, intelectuais de diversas procedências, entre eles alguns educadores, acorreram aos seminários e cursos de divulgação da Psicanálise, consumiram livros, ouviram programas de rádio e televisão, buscando com isso um instrumento a mais com que elaborar, cada um em sua área, o trabalho que tinham a desenvolver. A crítica literária passou a adotar referenciais psicanalíticos, o cinema nutriuse intensamente de alusões ao inconsciente, às identificações e a outros temas psicanalíticos. E, através de um movimento de troca, matemáticos, lingüistas, físicos, forneceram novas bases teóricas em que a moderna Psicanálise se apoiou. 58 Embora o “derramamento” da Psicanálise sobre a cultura tenha sido amplo, não chegou a atingir de modo significativo os educadores brasileiros. (Maria Cristina Kupfer, “Freud e a Educação”, págs.: 62-63) Em 1939, ano de sua morte, Sigmund Freud concluiu que: “...não há como criar uma metodologia pedagógico-analítica, pois qualquer metodologia implica ordem, estabilidade, previsibilidade.” E mais: “...o psicanalista não tem controle sobre os efeitos que produz. Ele pode saber o que se passa, para onde deve dirigir a cura, mas não sabe por quais caminhos o sujeito em análise acabará finalmente por enveredar. E do mesmo modo o educador inspirado por idéias psicanalíticas renuncia a uma atividade excessivamente programada, instruída, controlada com rigor obsessivo. Aprende que pode organizar seu saber, mas não tem controle sobre os efeitos que produz sobre seus alunos. Não conhece as muitas repercussões inconscientes de sua presença e de seus ensinamentos. Pensar assim pode levar o professor a não dar tanta importância ao conteúdo que se ensina, mas a passar a vê-los como a ponta de um iceberg muito mais profundo, invisível a seus olhos. Pode-se dizer, por isso que a Psicanálise pode transmitir ao educador (e não a Pedagogia, como um todo instituído) uma ética, um modo de ver e de entender sua prática educativa.” (Maria Cristina Kupfer, “Freud e a Educação”, páginas: 96-9798) Freud discorreu amplamente sobre o poder que são revestidos a educadores e professores , e sobre a tentação de se abusar dele. Falou também, que é desse poder que a Pedagogia extrai sua eficácia. Ela precisa reprimir para ensinar. Precisa da energia libidinal sublimada – e não sexualizada. Como fazer uso do controle e ao mesmo tempo renunciar a ele? Cessa aí, então, a atuação da Psicanálise (ou melhor dizendo, o casamento da Psicanálise com a Educação). Nada mais se pode esperar dela, caso se queira ser coerente com aquilo de que se constitui essencialmente: uma aventura freudiana. (Maria C. Kupfer, “Freud e a Educação”, p.97). Recorramos agora ao referencial junguiano, para não ficarmos somente com os conceitos de Freud, pois esse mesmo mudou, ou refez, o seu conceito sobre Psicanálise e Educação, anos mais tarde, como acabamos de ver. 3.3.1 – JUNG E A EDUCAÇÃO Carl Gustav Jung (1875-1961), suíço, psiquiatra e fundador da Psicologia Analítica. Foi profundamente influenciado pelos os escritos de Sigmund Freud, sobre doenças mentais e sonhos. Através de seus estudos sobre Educação, pode-se entender sob outra perspectiva, uma visão psicoanalítica da Educação. Jung, distinguia três tipos de educação sobre os quais vale apena discorrer: 59 a) - A educação pelo exemplo b) - A educação coletiva consciente c) - A educação individual a) - A educação pelo exemplo: - Neste caso, Jung se refere ao aspecto da imitação. Afirma que ela ocorre “espontaneamente e de modo inconsciente” e lhe confere grande importância: tratase de um método que será sempre eficiente, mesmo quando os outros falharem, uma vez que se fundamenta “em uma das propriedades primitivas da psique”. Por outro lado, um mau exemplo pode anular o melhor método educacional consciente. Tratase de uma espécie de contágio psíquico, que bem pode estar por trás da “atmosfera favorável” ao aprendizado, de que fala Read (1982). A esse respeito, Von Franz (1985) afirma que a maior dificuldade com o homem primitivo é arrancá-lo de sua letargia. Por isso, toda vez que precisa fazer algum trabalho, cria um ritual, freqüentemente envolvendo cantos e batuques, cuja finalidade é excitar e canalizar a energia psíquica, a qual ela, utilizando uma palavra do idioma espanhol, chama de gana, citando seu uso pelos índios latino-americanos. A autora chega a aconselhar os professores, dizendo que “as crianças não são preguiçosas, têm a mesma dificuldade dos indivíduos primitivos para deslanchar. Uma vez que estejam apaixonadamente envolvidas, não poderão parar”. b) - A educação coletiva consciente: Aqui, a educação concerne a regras, princípios e métodos, que são necessariamente da natureza coletiva, pelo menos no sentido em que devem ser válidos e aplicáveis a um determinado número de indivíduos. Existe um risco de incorrermos em uma excessiva uniformização, de modo que o indivíduo seja capaz de responder perfeitamente às normas e aos processos coletivos segundo os quais foi educado, esteja perfeitamente adaptado a situações e problemas já conhecidos, mas demonstre insegurança quando se tratar de tomar uma decisão individual, uma vez que lhe faltem regras conhecidas. Jung não considera esse tipo de educação menos importante. Na verdade, ele a considera indispensável e insubstituível, não devendo ser desprezada em favor de uma educação individual. A uniformidade fornecida por uma coletividade, pode ter efeitos benéficos para crianças portadoras daquilo que Jung chama de “várias anormalidades psíquicas, quer sejam inatas ou adquiridas”. Acrescentando que inclui nessa classificação “as crianças mimadas ou estragadas”. Não só considera a educação coletiva imprescindível, como é de opinião que, para muitos indivíduos, ela é suficiente. c) - A educação individual: - Neste caso, regras, princípios e métodos coletivos devem ficar em segundo plano, para que se desenvolva a “índole específica do indivíduo”. Jung coloca como merecedores desse tipo de educação todos os educandos que apresentarem resistência à educação coletiva, como por exemplo aqueles portadores de alguma debilidade mental. Ainda segundo Jung, precisam desse tipo de formação “os indivíduos que 60 não são de todo incapazes de formação e mostram até dotes especiais; são, porém tipos esquisitos e de orientação restrita”. E aqui, uma afirmação que não deixa de ser surpreendente: “A singularidade mais comum é a incapacidade de entenderem a Matemática, desde que ultrapasse o campo em que é expressa em números concretos”. É interessante notar que Jung coloca a educação individual e a coletiva como opostas, uma perseguindo o que a outra despreza. É possível que essa opinião esteja fortemente influenciada pela passagem do próprio Jung pela escola, não sendo de modo nenhum desprezível a sua experiência negativa com a Matemática. (Cláudio Saiani, “Jung e a Educação”: Uma análise da relação professor / aluno, págs.: 1314-15-16) 61 CAPÍTULO IV 4- DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E FRACASSO ESCOLAR “Dificuldades” de Aprendizagem ou “Distúrbios” de Aprendizagem? Não se deve confundir o termo “dificuldades” de aprendizagem com o termo “distúrbios” de aprendizagem. “Dificuldade” quer dizer qualidade do que é difícil, embaraço, estorvo. E “Distúrbio”: - perturbação, agitação, desordem, motim, traquinice (Dic. Muchaelis-UOL). Dificuldades de aprendizagem: - Subentende-se que essas dificuldades são problemas, as vezes superficiais, como ajustamento ao meio social ou pedagógico. Podem também se relacionar à uma fase delicada e transitória, que a criança ou adolescente, possa estar passando, que em geral não são tão difíceis de serem resolvidas. Podem levar até poucos meses para serem solucionadas, dependendo, claro, do esforço e do temperamento da criança ou adolescente. Geralmente problemas de separação dos pais ou perda de um ente querido e até mesmo a chegada de um novo irmãozinho, podem gerar um conflito provocando na criança (ou adolescente) um déficit de atenção, nervoso, desânimo, ansiedade etc. Mas isso tudo não quer dizer que a pessoa perca seus atributos naturais em relação a aprendizagem. Vejamos os aspectos pedagógicos e sociais na vida do sujeito, na sua integração com a instituição em que aprende e o seu lado social. Aspectos pedagógicos: - Contribuem muitas vezes para o aparecimento de uma “formação reativa” aos objetos da aprendizagem escolar. Tal quadro confunde-se, às vezes, com as dificuldades de aprendizagem originadas na história pessoal e familiar do aluno. Neste conjunto de fatores, estão incluídas as questões ligadas à metodologia do ensino, à avaliação, à dosagem de informações, à estruturação de turmas, à organização geral, etc., que influindo na qualidade do ensino, interferem no processo ensino-aprendizagem. Ficam diminuídas, assim, as condições externas de acesso do aluno ao conhecimento via escola. Concordamos com Vygotsky (1989) quando enfatiza que o “único bom ensino é o que adianta ao desenvolvimento” (Maria Lúcia L. Weiss, “Psicopedagogia Clínica”, p. 24). Uma boa escola deveria ser estimulante para o aprender; por essa razão, concordamos que a função básica dos profissionais da área de educação deveria: a) - Melhorar as condições de ensino para o crescimento constante do processo de ensinoaprendizagem e assim prevenir dificuldades na produção escolar; b) - Fornecer meios, dentro da escola, para que possa superar dificuldades na busca de conhecimentos anteriores ao seu ingresso na escola; 62 c) - Atenuar ou, no mínimo, contribuir para não agravar os problemas de aprendizagem nascidos ao longo da história pessoal do aluno e de sua família. Essa função do educador se distingue da do clínico que terá por obrigação intervir, buscando remover as causas profundas que levaram ao quadro do não-aprender. Aspectos sociais: - Estão ligados à perspectiva da sociedade em que estão inseridas a família e a escola. Incluem, além da questão das oportunidades, o que já foi comentado, o da formação da ideologia em diferentes classes sociais. A busca do conhecimento escolar, recorte do acervo de uma cultura, servirá para quê? Permitirá uma definição de classe? Permitirá uma ascensão social? Será um meio para melhoria das condições econômicas? Responde a uma expectativa de classe? Essas e outras questões necessitam ser pensadas durante o diagnóstico. Por exemplo, quando a família tem possibilidade de escolher a escola para seu filho, ela o faz visando à manutenção de sua ideologia. É outro exemplo a falsa democratização de algumas escolas em que se dá a mistura de crianças de classe média de ampla base cultural com crianças de camadas menos favorecidas da população, sendo estas últimas expelidas da escola por duas reprovações. Essa escola que “finge” aceitar a diversidade cultural constrói nessas crianças a baixa auto-estima, o sentimento de inferioridade que carregam para outras escolas ditas mais fáceis. Isto acontece porque, na realidade, não fazem dentro da escola modificações curriculares e pedagógicas que auxiliem a criança menos favorecida a ter uma ascensão no conhecimento e se igualar com as do primeiro grupo (Maria Lúcia L.Weiss, “Psicopedagogia Clínica”,p. 24). Distúrbios da aprendizagem: - o assunto é bem mais sério, pois envolve todo um conjunto de fatores e cuidados especiais nos aspectos neurológicos, orgânicos e afetivos. Quanto aos aspectos neurológicos podemos citar os distúrbios psiconeurológicos: - Termo usado por Johnson e Myklebust (1983) e outros, para caracterizar as dificuldades para aprender, decorrentes de uma disfunção cerebral a nível de sistema nervoso central (António Manuel Pamplona Morais, “Distúrbios da Aprendizagem”, p. 91). É importante ressaltar, que independente do tipo de aprendizagem, os distúrbios para aprender, ocasionados por uma disfunção neurológica, eqüivalem apenas a uma dificuldade para ler, por exemplo, passível de reeducação e, nunca a uma incapacidade para aprender. De acordo com Quirós e Della Cella (1965), quando existem distúrbios neurológicos na criança disléxica, por exemplo, estes referem-se á Disfunção Cerebral Mínima (DCM), a qual se caracteriza por: a) - Hiperatividade: - Este sintoma manifesta-se pela incapacidade da criança frear os impulsos frente aos estímulos ambientais. Desta incapacidade resulta o fato da criança estar sempre em constante movimento e não conseguir se concentrar por muito tempo numa mesma atividade. No entanto, é importante salientar que Disfunção Cerebral Mínima não é sinônimo de Hiperatividade. Podem existir crianças DCM e que apresentam um comportamento hipoativo, ou seja, não reagem à estimulação ambiental caracterizando-se por seus comportamentos apáticos. De acordo com a revista ESCOLA (n.º 132, maio de 2000, págs. 30-31), esse tipo de distúrbio ainda não tem uma causa única comprovada. Sabe-se que a origem é genética e que seus portadores produzem menos dopamina, um neurotransmissor responsável pelo controle motor e pelo poder de concentração, que atua com maior intensidade nos gânglios frontais do cérebro. Isso explica o fato de os hiperativos não se concentrarem e esquecerem facilmente o que lhes é pedido. Pela alta incidência em meninos – cerca de 80% dos casos – , acredita-se que o problema possa estar relacionado também ao hormônio masculino testosterona. Três fatores principais ajudam a distinguir o hiperativo da criança que tem apenas um distúrbio de atenção mais leve e daquela que busca apenas chamar atenção: a contínua agitação motora, a impulsividade e a impossibilidade de se concentrar, seja em brincadeiras ou em atividades pedagógicas. 63 b) - Perturbações perceptuais: - Dificuldades perceptivas a nível de análise-síntese e figura-fundo. c) - Perturbações de Imagem Corporal: - Manifestam-se pelas dificuldades de fazer representações corporais e de orientar o corpo no espaço. d) - Perseverações: - Grandes dificuldades de passar uma atividade para outra. e) - Sinais neurológicos: - Existência de certos reflexos primitivos que não deveriam mais existir e perturbações no eletroencefalograma (EEG). No entanto, a ausência de perturbações no EEG. Não nega a DCM. Em relação ao eletroencefalograma, Quirós afirma que as crianças disléxicas não apresentam modificações de EEG que possam ser classificadas como sendo típicas da dislexia. f) - Motricidade: - As dificuldades apresentadas nesta área, podem ser encontradas nos atos motores de correr, ficar parado num só pé, e defeitos a nível fonoarticulatório. No entanto, nos exames neurológicos tradicionais, não se têm encontrado anormalidades significativas que possam explicar as dificuldades para aprender. Já nos exames neurológicos evolutivos, pode-se perceber distúrbios relacionados com a imagem corporal, noções espaciais, sentido de direção, ritmo, mas não se pode afirmar que esses distúrbios sejam peculiares à criança disléxica, pois podem ser encontrados também em crianças sem dificuldades para ler ou não estarem presentes em adolescentes disléxicos (Santos, 1975). ( António Manuel Pamplona Morais, “Distúrbios da Aprendizagem”, págs.: 9293). Aspectos orgânicos: - Relacionados à construção biofisiológica do sujeito que aprende. Alterações nos órgãos sensoriais impedirão ou dificultarão o acesso aos sinais do conhecimento. A construção das estruturas cognoscitivas se processa num ritmo diferente entre os indivíduos normais e os portadores de deficiências sensoriais vividas. Diferentes problemas do sistema nervoso central acarretarão alterações, como por exemplo, disfasias e afasias (perda da palavra falada, escrita, mímica ou tátil. Conseqüente a lesão no cérebro – (Fonte: - Dic. Michaelis-UOL, CD-ROM) , que comprometem a linguagem e poderão ou não causar problemas de leitura e escrita. Na realidade, crianças portadoras de alterações orgânicas recebem, na maioria das vezes, uma educação diferenciada por parte da família, o que pode levar á formação de problemas emocionais em diversos níveis, provocando maiores dificuldades na aprendizagem escolar (Maria Lúcia L. Weiss, “Psicopedagogia Clínica”, págs. 22, 23). Aspectos emocionais: - Estariam ligados ao desenvolvimento afetivo e sua relação com a construção do conhecimento e a expressão deste através da produção escolar. Remete aos aspectos inconscientes envolvidos no ato de aprender (Maria Lúcia L. Weiss, “Psicopedagogia Clínica”, p. 23). 64 É raro a pesquisa sobre Distúrbios de Aprendizagem que não cita a relação existente entre dificuldades para aprender a ler e escrever e fatores emocionais. (António Manuel Pamplona Morais, “Distúrbios da Aprendizagem”, p. 84) Os problemas de ordem psicológicos, muitas vezes, dependendo do grau emocional e de outros fatores psíquicos na criança, como traumas, depressão, timidez excessiva, alto nível de déficit de atenção ou Hiperatividade, por exemplo, podem levar muito tempo para se conseguir sucesso na aprendizagem. O não-aprender pode ocasionar uma dificuldade na relação da criança com a sua família; será o sintoma de que algo vai mal nessa dinâmica. A aprendizagem normal dá-se de forma integrada no aluno (aprendente), no seu pensar, sentir, falar e agir. Quando começam aparecer “dissociações de campo” (Bleger, 1984) e sabe-se que o sujeito não tem danos orgânicos, pode-se pensar que estão se instalando dificuldades na aprendizagem: algo vai mal no pensar, na sua expressão, no agir sobre o mundo. É hora de pesquisar por onde está começando a fratura. Por exemplo, foram verificadas crianças que fazem “dissociações de campo” quando desenham ou escrevem uma coisa e falam compulsivamente de outra completamente diferente, ou, no meio de uma conversa, soltam palavras ou expressões aparentemente sem nexo. Para Françoise Dolto (1989) são saídas do inconsciente e precisam ser interpretadas e colocadas no seu devido lugar. (Maria Lúcia L. Weiss, “Psicopedagogia Clínica”, p. 22) Fracasso Escolar: - O que significa o termo “fracasso”? – O fracasso, opondo-se ao sucesso, implica um julgamento de valor; ora, esse valor é função de um ideal. Um sujeito se constrói perseguindo ideais que se apresentam a ele no decorrer de sua existência. Ele é assim, o produto de suas identificações sucessivas, que formam a trama do seu ego (Anny Cordié, “Os Atrasados Não Existem”, pág. 20) . Ser bem-sucedido na escola é ter a perspectiva do ter, mais tarde, uma bela situação, de ter acesso, portanto, ao consumo de bens. Significa também “ser alguém”, isto é, ser considerado, respeitado. O dinheiro e o poder, dizem, não são eles a “felicidade”? o próprio Estado alimenta essa aspiração. Para ser grande, uma nação não deve sempre aumentar suas riquezas e suas competências? O fracasso escolar pressupõe a renúncia a tudo isso, a renúncia ao gozo. Quando se fala do futuro para uma criança em situação de fracasso escolar, muito freqüentemente ela evoca o fato de que se tornará um mendigo. Para muitas crianças é algo temido, angustiante, é o que se espera “se elas não trabalharem na escola”. (Anny Cordié, “Os Atrasados Não Existem”, p. 21). “O fracasso escolar é uma patologia recente. Só pôde surgir com a instauração da escolaridade obrigatória no fim do século XIX e tomou um lugar considerável nas preocupações de nossos contemporâneos em conseqüência de uma mudança radical da sociedade. Também nesse caso, não é somente a exigência da sociedade moderna que causa os distúrbios, como se pensa freqüentemente, mas um sujeito que expressa seu mal-estar na linguagem de uma época em que o poder do dinheiro e o sucesso social são valores predominantes. A pressão social serve de agente de cristalização de um 65 distúrbio que se inscreve de forma singular na história de cada um.” (Anny Cordié, 1996). (Leny Magalhães Mrech, “Psicanálise e Educação”, p. 40). Das dificuldades de aprendizagem se origina, muitas vezes, o fracasso escolar. Cabe aos educadores, então, observarem bem, em todos os aspectos já comentados que envolvem seus alunos; e aos pedagogos, observarem bem todas as estruturas que envolvem a instituição de ensino em que trabalham, para com isso proporcionar maior conforto a seus alunos e poder assim garantir um sucesso escolar para todos. 4.1 – ALFABETIZAÇÃO Quando a queixa escolar sobre dificuldade de aprendizagem ou produção escolar diz respeito a crianças em processo de alfabetização, a questão exige uma reflexão sobre aspectos teóricos do assunto. Com as pesquisas de Emília Ferreiro e colaboradores sobre a psicogênese da língua escrita mudou-se a concepção alfabetização, o que acarreta o reposicionamento das patologias nessa etapa da aprendizagem. A alfabetização não é mais vista como a transmissão de um conhecimento pronto que, para recebê-lo, a criança teria que ter desenvolvidas habilidades, possuir pré-requisitos, enfim, apresentar uma “prontidão”. A alfabetização é resultante da interação entre a criança, sujeito construtor do conhecimento, e a língua escrita (Maria Lúcia L. Weiss, “Psicopedagogia Clínica”, pág. 95). Um diagnóstico apoiado nessa visão leva em consideração a possibilidade de o aluno penetrar no significado do que escreve ou lê, no uso dessa língua escrita como transmissora de informações, como elemento que proporciona prazer, que permite comunicar com um interlocutor ausente e como meio de registrar o que precisa ser recordado. A exigência de que a criança formalize a escrita dentro de certas regras em certo prazo pode ser uma questão ligada à cobrança escolar de avaliar o produto. Dependendo da maneira como for colocada, ela pode ser geradora de grandes dificuldades na escrita e leitura nessa etapa e no seu desenvolvimento posterior, não sendo uma questão de problema pessoal, mas de metodologia escolar. O diagnóstico psicopedagógico, levando em conta essa nova visão, usará situações em que o ler e o escrever tenham um significado para o paciente. Por exemplo: em jogos, desenhos, pinturas, palavras cruzadas, construções diversas, dramatizações, divertimentos com revistinhas e livros de história. É fundamental observar o modo como o paciente se aproxima ou evita essas atividades, sua postura, as tensões e contrações, a dissociações de campo que ocorrem, o abandono da tarefa e a temática do material escolhido para ler ou escrever. É preciso que se teça uma correlação entre a qualidade do que o paciente pode produzir como texto ou obter como leitura e a exigência a que está submetido na escola. Por exemplo, há um choque entre as possibilidades reais de uma criança pré-silábica no seu processo de evolução da escrita (psicogênese) e a exigência de reproduzir material de uma cartilha de palavração, dentro de curto período de tempo. O desrespeito ao ritmo de construção da criança no ler e escrever pode criar uma dificuldade que se avoluma como “bola de neve”, podendo chegar a estancar o seu processo de verdadeira alfabetização. Ela começa a apelar exclusivamente para a memória e, a partir de um certo ponto, passa a não caminhar mais, ou mesmo a se recusar a cumprir qualquer tarefa relacionada à leitura e à escrita. Muitos encontram-se relacionados a esse tipo de dificuldade, em que a grande ansiedade passa a bloquear a aprendizagem, em função do despreparo da escola em lidar com o desencontro entre o ritmo de algumas crianças e o ritmo geral da turma. Alguns casos de problemas na alfabetização podem estar relacionados ao simbólico da questão, influindo, de forma inconsciente, no ato de ler ou de escrever. Assim, “não quero crescer”, “não posso ‘ler’ a minha família”, “não posso ‘ler’ o meu papel no mundo que me cerca”, “não posso registrar o que não desejo, o que quero esquecer”. O domínio da alfabetização representa autonomia, crescimento diante dos pais e do mundo (Maria Lúcia L. Weiss, “Psicopedagogia Clínica”, págs. 95 e 96). 66 De acordo com o dicionário Aurélio, a Psicopedagogia “é o estudo da atividade psíquica da criança e dos princípios que daí descorrem, para regular a ação educativa do indivíduo”. A Psicopedagogia vai além da aplicação da psicologia, pois não pode ser vista sem um caráter interdisciplinar, que implica a dependência da contribuição teórica e prática de outras áreas de estudo para se constituir como tal. Por outro lado, a Psicopedagogia não é apenas o estudo da atividade psíquica da criança e dos princípios que daí descorrem, visto que ela não se limita à aprendizagem e, consequentemente, inclui quem está aprendendo, independente de ser criança, adolescente ou adulto. (Teresinha de Jesus de Paula Costa, “Psicopedagogia, Diversas faces, múltiplos olhares”, Págs.: 34-35) 4.2 – LEITURA E ESCRITA O ensino em sala de aula tem como ponto de partida a compreensão das quatro habilidades fundamentais da linguagem verbal: a leitura, a escrita, a fala e a escuta. Destas, a leitura é a habilidade mais difícil e complexa. A leitura é pois, uma habilidade a ser adquirida; não nascemos leitores. Sendo um processo de aquisição da linguagem, compreende duas operações fundamentais: a decodificação e a compreensão. a) - A decodificação é a capacidade que temos, como escritores / leitores / aprendentes de uma língua, de identificar um signo gráfico por um nome ou por um som da fala, denominado “fonema”. As vogais e consoantes e as semivogais são exemplos de fonemas. As letras, de grafemas. Fonemas e grafenas, juntos, dão-nos a metalinguagem necessária para a leitura. b) - A compreensão, outra etapa do processo lectoescritor e, decerto, a mais importante na aquisição da linguagem, é a captação do sentido ou conteúdo das mensagens escritas. Sua aprendizagem se dá por meio do domínio progressivo de textos escritos cada vez mais complexos. (Vicente Martins, “Psicopedagogia, Diversas Faces, Múltiplos Olhares”, págs.: 74-75-76) 4.2.1 – LEITURA Para avaliar o desenvolvimento da leitura em outros níveis, é interessante o uso de material com significado completo. Assim, há inúmeras coleções de livros de história bastante atraentes que possibilitam uma boa graduação de 1a a 4a séries. Exemplos de livros são os das coleções Gato e Rato e das Estrelinhas, da Editora Ática, adequadas para classes de alfabetização e 1a série. Na avaliação com adolescentes, é bom usar crônicas e reportagens de revistas do interesse do aluno. Há também uma diversidade de estilos, temas e tamanho na coleção Para Gostar de Ler. É necessário que haja uma possibilidade de escolha conforme a idade, a escolaridade do aluno e suas reais possibilidades em relação à extensão do material. É essencial que se leia o texto completo e não ler pedaços apenas. Não se pode esfacelar um texto, perdendo, assim, o seu significado, fazendo-se apenas uma avaliação mecânica. É preciso resgatar, desde o diagnóstico (das dificuldades de aprendizagem), o hábito de ler, criando-se se ele aprendeu o sentido global do texto, se é capaz de sintetizá-lo. Por exemplo, o (a) psicopedagogo (a) desafia o paciente, com dificuldades de aprendizagem a dizer em uma frase apenas, de que se trata a história ou a crônica. Em seguida, observa-se se captou a seqüência temporal, se consegue estabelecer hierarquias, separando fatos principais e secundários, se estabelece relações de causalidade, se é capaz de incluir acontecimentos menores e parciais em classes maiores. É importante ver as relações afetivas com o texto e dos personagens entre si. Pergunta-se, então, de que mais gostou e por quê, qual sentimento básico exprime cada personagem, em qual situação. 67 Após a leitura silenciosa e sua interpretação, verifica-se a leitura oral de parte do mesmo texto, pedindo-lhe que leia em voz alta o trecho de que mais gostou. Nesse momento, é importante avaliar a entonação, pontuação, junção, omissão, deslocamento de letras, sílabas, palavras e frases. Na leitura em voz alta pode-se observar a fala de modo mais formalizado e se refletir sobre a necessidade ou não de exame complementar fonoaudiológico quando se percebe algo irregular durante a conversa. É necessário avaliar diferentes tipos de leitura, como, por exemplo: leitura recreativa (histórias), leitura informativa (regras de jogos), enunciado de problemas, desafios e questões diversas (Maria Lúcia L. Weiss, “Psicopedagogia Clínica”, págs.: 97 e 98) a) - Distúrbios da leitura: - A percepção das palavras envolve, necessariamente e, no mínimo, dois sistemas: o visual e o auditivo. As informações simbólicas que vêm do meio ambiente, são recebidas ou através da via visual, ou através da via auditiva, ou pelos dois sistemas de percepção simultaneamente. No caso da leitura silenciosa (sem articulação de palavras), as informações chegam através das vias visuais. Na leitura oral, as informações são recebidas tanto pelos órgãos de audição como pelos órgãos visuais já que, à medida que os olhos visualizam as palavras impressas, estas são articuladas e o som é captado pelas vias auditivas. No caso ditado, a criança recebe as informações através da audição. Ora, se por qualquer motivo, os sistemas estão recebendo a estimulação ambiental de forma distorcida, o cérebro processará informações erradas. É com base nestes pressupostos que se analisará os distúrbios da leitura decorrentes das dificuldades de percepção. b) - Leitura oral Dificuldades de discriminação auditiva: - Quando se fala em distúrbios de leitura relacionados às dificuldades de discriminação auditiva, não se está afirmando que as crianças têm perda de acuidade auditiva. Sem dúvida alguma, os problemas auditivos que envolvem a perda da audição, implicam em dificuldades de discriminação de sons, mas o contrário não é verdadeiro. (António M. Pamplona Morais, “Distúrbios da Aprendizagem”, págs.: 103-104) Na leitura, as trocas que ocorrem devido às dificuldades de discriminação auditiva envolvem sons acusticamente próximos. A confusão entre estes sons está, intrinsecamente relacionada com o ponto de articulação de cada um, no momento da emissão sonora. Ao se pronunciar um determinado fonema, os diferentes órgãos de articulação (língua, lábios - órgãos móveis; palato, dentes - órgãos fixos), posicionam-se num determinado ponto para que haja a emissão correta deste som. Este posicionamento dos órgãos de articulação no momento da pronúncia, chama-se ponto de articulação. No caso de sons acusticamente próximos, os pontos de articulação são praticamente iguais o que leva a criança a confundir esses fonemas. Na leitura, as trocas mais freqüentes de serem constatadas são entre: CONSOANTES, SURDAS E SONORAS. Praticamente, a diferença que existe entre estas consoantes é a vibração das cordas vocais (visto a proximidade do ponto de articulação). Na pronúncia das consoantes sonoras, as cordas vocais vibram e nas surdas isso não ocorre. A criança que, apenas se detém na posição dos órgãos articulatórios para diferenciar estes fonemas, acaba confundindo-os. Exemplo: CONSOANTES SURDAS Troca de Troca de Troca de Troca de Troca de Troca de F (faca) P (pala) CH (chato) T (toca) S (seca) C (cola) CONSOANTES SONORAS por por por por por por V (vaca) B (bala) J (jato) D (doca) Z (zeca) G (gola) Pelos mesmos motivos mencionados acima, as vogais orais e nasais podem não ser discriminadas auditivamente, o que ocasiona troca entre elas. 68 VOGAIS ORAIS VOGAIS NASAIS Troca de Troca de Troca de Troca de Troca de an (anta) en (então) in (interior) on (onde) un (untar) por por por por por a e i o u (ata) (etão) (iterior) (ode) (utar) Cabe afirmar, que geralmente, as trocas relacionadas à discriminação auditiva dos diferentes sons, são mais notórias na escrita do que na leitura. Isto ocorre pelo fato de que o professor que acompanha a leitura oral das crianças, vai-se apoiando no sentido das palavras e/ou no contexto em que estão inseridas e, estas confusões acabam desapercebidas (António M. Pamplona Morais, “Distúrbios da Aprendizagem”, págs.: 103-104-105). 4.2.2 - ESCRITA Na avaliação (por psicopedagogo(a) ) da escrita, quando se pede ao paciente que escreva alguma coisa para mostrar como sabe, duas condições aparecem comumente: uma é o escrever espontaneamente, o que pode ser, às vezes, uma história ou o relato de algum fato; a segunda possibilidade é paralisar e perguntar: “Escrever o quê?” “História de quê?” “Falo de quê?” Nesse caso normalmente se dá liberdade ao paciente, sem pressioná-lo, para que este possa se sentir a vontade. O psicopedagogo(a) lhe responde “o que você quiser”, “como achar melhor”. Pode-se sugerir uma história sobre um desenho dele, ou um filme que ele tenha gostado muito, ou ainda um passeio, etc. Avalia-se o texto, não como os detalhes de uma prova de Português, mas nos seus aspectos mais globais e que auxiliam na compreensão da queixa formulada inicialmente. Assim, analisa-se a noção de realidade e fantasia, a coerência interna do significado, a fluência e a criatividade, a temática e a estrutura do texto em relação com outros dados obtidos no diagnóstico, por exemplo, se há idéia de perda, medo, fracasso, sucesso, vitória e luta, que podem aparecer no grafismo, nas histórias do CAT, em alguma dramatização, no trecho escolhido para a leitura oral ou nas conversas com o terapeuta. O aspecto formal do texto pode ser visto: no seu cotidiano lógico, de começo meio e fim, causalidade entre os fatos, estrutura espaço-temporal, e também no aspecto caligráfico, ortográfico, de pontuação e estrutura gramatical das orações. É preciso ver se as aparentes falhas no aspecto formal têm um significado específico para o paciente em nível inconsciente ou se são apenas patamares no desenvolvimento da língua oral e escrita, ou se representam um desconhecimento pedagógico sem qualquer conotação específica. Por exemplo, as omissões, trocas, acréscimos, inversões de letras, sílabas, palavras podem ter significado de ações relacionadas com dados da vida pessoal e familiar do sujeito ou serem simplesmente o demonstrativo das dificuldades pedagógicas iniciais existentes na construção normal da língua escrita. Alterações na formalização da escrita aparecem também ligadas a problemas de origem orgânica, como os motores, que impedem a facilidade de certos movimentos, o que é comum em pacientes com lesão cerebral. Resumindo-se avalia-se na escrita o processo de escrever, o produto final em diferentes aspectos, o significado da escrita e suas fraturas. A temática usada no texto é significativa. Durante a execução da leitura e da escrita, observa-se a postura corporal, o sentar, as tensões e relaxamento, o modo de segurar o lápis e o livro, o modo de se aproximar do material, a concentração da atenção, e o prazer de ler e escrever (Maria Lúcia L. Weiss, “Psicopedagogia Clínica”, págs.: 98-99). A dislexia como distúrbio de leitura e de escrita: - A dislexia, como dificuldade de aprendizagem verificada na educação escolar, é um distúrbio de leitura e de escrita que ocorre na educação infantil e no ensino fundamental. Em geral, a criança tem dificuldade em aprender a ler e a escrever e, especialmente, em escrever sem erros de ortografia, mesmo tendo o Quociente de Inteligência (QI) acima da média. 69 No caso da criança em idade escolar, a psicolingüística define a dislexia como um déficit inesperado na aprendizagem da leitura (dislexia), da escrita (disgrafia) e da ortografia (disortografia) na idade em que essas habilidades já deveriam ter sido automatizadas. É o que se denomina “dislexia de desenvolvimento”. (Vicente Martins, “Psicopedagogia – Diversas faces, múltiplos olhares”, págs.: 84 e 85). 4.3 – A MATEMÁTICA Quando a queixa é de dificuldade geral na aprendizagem, ou específica na Matemática, há necessidade de se avaliar com mais detalhes essa área específica. Alguns. Alguns aspectos se destacam: o raciocínio matemático, o cálculo, a leitura de problemas e questões. Verifica-se o raciocínio matemático, colocando-se desafios mais lúdicos e problemas mais formalizados, retirados de diferentes livros didáticos ou de situações reais, e construídos a partir de propagandas, recortes de jornais e revistas. A escolha deve recair sobre a clareza do enunciado, o nível do raciocínio compatível com a idade, escolaridade e o nível operatório da estrutura de pensamento (concreta ou abstrata). Por exemplo, é difícil compreender o Máximo Divisor Comum e Mínimo Múltiplo Comum se não se opera com intersecções de classes, ou fazer problemas que envolvam raciocínio de probabilidades quando não se atingiu o operatório formal. Para excluir-se a qualidade da leitura como variável interveniente, devem-se formular algumas questões oralmente. A avaliação do cálculo é feita em dois níveis: o cálculo mental e a execução de cálculos escritos. Na parte escrita, há inúmeros aspectos a serem avaliados: a capacidade de estruturar graficamente, a construção do algoritmo das operações, o conhecimento do sistema decimal e valor posicional dos algarismos, as propriedades das operações, a combinação nos vários tipos de expressões, etc. É fundamental se captar a relação entre o cálculo mental e o executado por escrito, para se ver se há coincidência ou discrepância e em que consistem (aspectos figurativos e operativos). É necessário também ter claro que, como qualquer conteúdo escolar, há aspectos emocionais a serem encarados na questão da Matemática. Alguns aspectos ligados a vínculos positivos ou inadequados com a Matemática são identificados a partir da própria história escolar. Há professores que contribuem para a construção de bloqueios e condutas aversivas com a Matemática, pelo seu discurso autoritário e ameaçador, exigências absurdas, criação de clima geral de insegurança em sala de aula, contribuindo para a formação de baixo autoconceito. Por exemplo, Cláudio (13 anos – 6ª série), cujo professor dava pequenas questões de vestibular em suas provas e sadicamente esperava o fracasso da turma durante todo o ano, só aprovando os alunos depois de cursarem aulas de recuperação no período das férias. Cláudio dizia que a Matemática era muito difícil, que ele somente entendia com um professor particular. Na realidade, quando Cláudio começava a crescer na Matemática, a escola contratou esse novo professor, e sua produção em Matemática estancou. (Maria Lúcia L. Weiss, “Psicopedagogia Clínica”, págs.: 99 e 100). Mas nem sempre a culpa é do professor, pois existem outros fatores que envolvem o aluno, que dificultam a aprendizagem. O aluno com déficit de atenção, por exemplo, jamais conseguirá êxito em raciocinar ou se concentrar nos problemas de Matemática. Porém, buscando as razões pelas quais a sua atenção lhe está sendo tirada, ou por estar passando por algum tipo de tratamento médico, a base de fortes medicamentos, ou por um outro motivo como ansiedade, ou por ser hiperativo, etc. Quando a inteligência da criança é voltada para a lógica e Matemática, pode-se esperar maior êxito em todos os aspectos que envolvem o raciocínio. Vejamos aqui como se define a Inteligência lógico - Matemática: - Capacidade para solucionar problemas que envolvem números ou elementos matemáticos. Facilidade para contar, fazer cálculos, criar soluções práticas de raciocínios, etc. Está ligada à simbologia 70 dos números e sinais usados em matemática. Se manifesta em físicos, engenheiros e matemáticos. (Daniela Guima, Jornal – Correio Brasiliense, p. 5) Ou seja, se a criança tem a sua inteligência voltada para outras modalidades, vai ser preciso um pouco mais de tato para lhe dar com essa situação. Usando um pouco de imaginação pode-se chegar a algum lugar. Por exemplo: brincadeiras, jogos, desenhos e até mesmo recursos audiovisuais, podem favorecer inclusive, não deixando a criança sentir aversão à Matemática. 4.4 – A AVALIAÇÃO PEDAGÓGICA - Numa visão psicopedagógica - A avaliação pedagógica não se limita ao conteúdo escolar. Como qualquer um dos outros momentos do diagnóstico, a conduta do paciente deve ser vista como uma expressão global em que se está pondo em foco o nível pedagógico, mas estarão juntos em seu funcionamento cognitivo e suas emoções ligadas ao significado dos conteúdos e ações. É necessário que se pesquise o que o paciente já aprendeu, como articula os diferentes entre si, como faz uso desses conhecimentos nas diferentes situações escolares e sociais, como os usa no processo de assimilação de novos conhecimentos. É importante definir o nível pedagógico para se verificar a adequação à série que cursa. Algumas vezes a defasagem entre o nível pedagógico e as exigências escolares atuais podem agravar dificuldades do paciente anteriores à escola, e outras vezes criar situações que podem vir a formar dificuldades de aprendizagem ou produção escolar. A maioria das queixas escolares específicas está focada na leitura, escrita e matemática, em diferentes graus e séries. Para se planejar uma avaliação, é necessário distinguir a problemática existente em torno do período em que se dá basicamente o processo de alfabetização da que ocorre no desenvolvimento de leitura e escrita nas demais séries. A investigação do nível pedagógico pode ser feita de diferentes maneiras. Uma delas é através do uso das chamadas provas pedagógicas clássicas. Consistem estas no uso de material graduado (textos de leitura, série de problemas, etc.) com dificuldade crescente, que posicionará o sujeito dentro de diferentes níveis de uma escala de produtos. Acredita-se que com essa forma de se avaliar está reproduzindo o modelo da sala de aula. Estaria constatando-se aquilo que é quase a própria queixa. Esse produto pode ser obtido na análise do material da sala de aula, das provas e nas entrevistas com a equipe escolar, funcionando como complemento da avaliação pedagógica do diagnóstico. Uma avaliação não tão formalizada, que seja mais livre ou até lúdica, em que se observe o processo de realização para, posteriormente, analisar-se o produto exige do terapeuta uma operacionalização de conhecimentos mais amplos na área pedagógica e psicológica. A análise do material escolar implica verificar-se a metodologia utilizada em sala de aula, ou seja a qualidade didática. Por exemplo, no que se refere ao erro, observa-se o tipo de erro ou acerto do paciente, o modo como esse é encarado pelo professor, se é assinalado, revisto e trabalhado na construção do conhecimento. Observa-se também como anda a organização em nível de antecipação e estruturação das atividades, o cuidado ou não com os seus diferentes materiais. A entrevista escolar comumente ocorre com o orientador educacional, supervisor pedagógico ou psicólogo escolar, que transmitem ao psicopedagogo a visão dos professores sobre a conduta em sala, o relacionamento com os colegas e com os próprios profissionais, além da produção nas diferentes disciplinas. Conhecer os valores e normas da escola (em termos pedagógicos e disciplinares), tipo de exigência, tipo de clientela e corpo docente auxilia a contextualizar a queixa escolar e familiar, a se avaliar se existe uma reação do paciente à situação escolar especifica ou se a problemática é mais pessoal e familiar. (Maria Lúcia L. Weiss, “Psicopedagogia Clínica”, págs.: 93 e 94). Teoria Piagetiana: - Quando o professor/psicopedagogo procura alternativas na teoria piagetiana para intervir nas vicissitudes de aprendizagem do sujeito, encontra referências que o circunscrevem enquanto epistêmico. Embora Piaget apresente uma relação entre cognição e afetividade, 71 não a trabalha. Ora, não encontrando nos parâmetros da teoria respaldo para a intervenção psicopedagógica acerca dos impasses mais insistentes que lhes causam ansiedades, alguns professores/psicopedagogos apelam para fórmulas nas técnicas, metodologias e didáticas de ensino. Daí o grande número de intervenções tecnicistas. Volta o predomínio da técnica e o sujeito controlado é empurrado para um papel secundário. O professor / psicopedagogo diminui o campo em que se movimentam suas ansiedades mas abandona o sujeito. Outros, sem referências, acolhem essas vicissitudes mas as transformam em parâmetro, desprezando todo critério que possa mediar a modalidade de relação sujeito-objeto. Há quem desvalorize as exigências da escola, atribuindo-lhes o papel de causa da problemática da aprendizagem do sujeito. Tais vicissitudes assumem neste caso uma espécie de valorização, desconsiderando que o sujeito deve sofrer em decorrência delas. Ao valorizá-las por si próprias, o professor/psicopedagogo amortece o impacto que causam nele mesmo. Aceitando-as como regra, minimiza o desafio que representam, para o aluno e para si, já que necessita de certa disponibilidade psíquica, ao perceber-se como sujeito de vicissitudes. (Maria Luiza A. da Costa, “Piaget e a Intervenção Psicopedagógica”, págs.: 52-53) Vicissitude: - mudança ou diversidade de coisas que se sucedem; alternativa, alteração; instabilidade dos acontecimentos; eventualidade, revés. (Dic Michaelis – UOL, CD-ROM) 72 CONCLUSÃO: A importância e a contribuição da Psicologia em todos os setores de atividades humanas, nos dias conturbados de hoje, é muito grande, visto que a ansiedade, as fobias, as neuroses, as perturbações têm tentado entrar na atmosfera da vida de um indivíduo e consequentemente envolvendo tudo que lhe cerca: família, trabalho, convívio social, etc. Com o desenvolvimento consecutivo da Psicologia, através dos tempos, e de grandes nomes que contribuíram e possibilitaram para que isso nos chegasse aos dias de hoje, nos vemos garantidos de uma segurança emocional maior para podermos enfrentar as adversidades do dia-a-dia, já que com tanto avanço na ciência, não só no meio de comunicação, mas em outras áreas, o ser humano se encontra emocionalmente despreparado para viver as novidades que surgem a cada momento. E isso consequentemente atinge ainda mais as crianças, que diante de pais modernos, ocupados demais para lhes dar a devida atenção, se isolam em seu mundo eletrônico, onde encontram todo tipo de informações incabíveis e prejudiciais para o conhecimento infantil. Por isso mesmo, os cuidados dos educadores têm que ser ainda maior no que se refere a parte psicológica de seus alunos, que vêm de diversas classes sociais, vivendo culturas diferenciadas, necessitando muitas vezes, de atenção e compreensão que não encontram no lar. Os educadores devem estar preparados para se depararem com alunos com dificuldades ou distúrbios de aprendizagem, seja de ordem física, psicológica ou neurológica. Por isso, é necessário um maior conhecimento embasado nos fundamentos psicológicos, especialmente para educadores, onde muitas questões podem lhes tirar as dúvidas e servir de ajuda e compreensão. 73 ANEXOS: Piajet, Jean Adler, Alfred Binet, Alfred 74 F. B. Skinner LOBO PARIETAL LOBO TEMPORAL INFERIOR Hippocrates LOBO FRONTAL LOBO TEMPORAL CENTRAL Obs.: - Todas as figuras foram retiradas da The 1996 Grolier Multimedia Encyclopedia, das quais os textos referentes a elas, foram de muito proveito na realização dessa monografia. 75 BIBLIOGRAFIA CORDIÉ, Anny. Os atrasados não existem. Porto Alegre, editora Artes Médicas, 1996. (1) (2) COSTA, Maria Luiza Andreozzi. Piaget e a intervenção psicopedagógica. São Paulo, editora Olho d’Água, 2003. (3) COSTA, Samuel. Fundamentos Psicológicos para ministros do evangelho. Rio de Janeiro, s. ed., 2002. (4) COSTA, Teresinha de Jesus de Paula. Recursos a serem usados no psicopedagógica. diagnóstico In: PINTO, e na Maria intervenção Alice Leite, org. Psicopedagogia, diversas faces, múltiplos olhares. São Paulo, Olho d’Água,2003. Págs.:34-35 (5) DAVIS, Cláudia e Oliveira, Zilma. Psicologia na Educação. São Paulo, editora Cortez, 1994. (6) FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. 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