Diálogo Inter-Religioso

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Sheik David Munir
Imã da Mesquita de Lisboa
Diálogo Inter-Religioso
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A palavra «Islam» literalmente deriva da palavra árabe «salam», que significa paz.
O Islão considera os judeus e os cristãos como ahlul quitab, seguidores do Livro, e sempre manteve o diálogo com as
outras religiões, o que significa conhecê-las, respeitá-las, conviver com os membros dessas religiões e culturas, sem o objectivo de convertê-los.
A comunidade islâmica de Lisboa tem participado em vários encontros inter-religiosos, encontrando-se a Mesquita de
Lisboa aberta para receber visitantes e dar a conhecer as crenças e a mensagem da religião islâmica.
Esta participação e interacção simplesmente demonstra que a comunidade islâmica portuguesa está activa, participa,
desempenha um papel muito importante no que diz respeito ao diálogo inter-religioso.
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The Word «Islam» literally comes from the Arab word «salam», meaning peace.
Islam considers Jews and Christians as ahlul quitab, followers of the Book, and has always kept a dialogue with the
other religions, which implies knowing them, respecting them and living alongside the members of those religions and
cultures, without the purpose of conversion.
The Islamic community of Lisbon has participated in several inter-religious meetings, and the Lisbon Mosque is open
to visitors and ready to illustrate the beliefs and the message of Islamic religion.
This participation and interaction simply demonstrates that the Portuguese Islamic community is active, participates
and plays an important role as regards inter-religious dialogue.
A
palavra «Islam» literalmente tem
origem na palavra árabe «salam»,
que significa paz e também submissão, referindo-se esta última
à submissão voluntária a Deus.
Quando no ano 570 d.C. nasce o profeta Maomé, que na língua árabe é Muhammad, nasce num
ambiente de politeísmo, num ambiente em que as
pessoas adoravam deuses e não um único Deus
e, quando ele recebe as primeiras revelações do
sagrado Alcorão, recebe revelações sobre o monoteísmo, isto é, transmite o monoteísmo às pessoas de Meca, na Arábia. Sendo que a Caaba, a
primeira casa de adoração a Deus, foi construída
pelo Profeta Abraão com o objectivo de as pessoas adorarem um só Deus e que, até ao ano em
que o profeta Maomé nasceu, existiam dentro da
Caaba aproximadamente 365 ou 366 ídolos, o que
prova que as pessoas passaram do monoteísmo
para o politeísmo. Muitas não aceitaram a mensagem do profeta, houve perseguições, não só a
ele mas também àqueles que o aceitaram como
um mensageiro de Deus; e eles toleraram tudo,
toleraram todo o tipo de agressividade, ultrapassaram as acusações que lhes fizeram, retribuíram
bondade àqueles que os maltrataram. Isto em
Meca, ambiente de perseguição, não falando de
qualquer diálogo inter-religioso.
Quando o profeta recebe o convite dos que
viviam na cidade de Medina, e onde eles lhe disseram que tanto ele como os seus seguidores teriam toda a liberdade para praticar o Islão, com
a permissão de Deus, Maomé emigra no ano 623
d.C. para a cidade de Medina que, na altura, se
chamava Iathrib, cujo nome foi alterado para Medina pelas pessoas que aí viviam em homenagem
ao profeta Maomé. A palavra «medina» significa
cidade e quando se refere a cidade de Medina na
Arábia Saudita acrescenta-se madinatu nabii – a
cidade do profeta, na qual ele viveu 10 anos, até
ao ano 633 d.C.
O primeiro diálogo inter-religioso que o Alcorão menciona e que o profeta teve aconteceu em Medina, e foi com os cristãos. Este foi o
primeiro encontro, podemos dizer assim, inter‑religioso, entre muçulmanos e cristãos, na cidade de Medina. O Islão considera os judeus e os
cristãos como ahlul quitab, seguidores do Livro e
adeptos do Livro. Sempre manteve esse respeito,
sempre manteve esse diálogo também com ou-
tras religiões. E o diálogo com outras religiões é
conhecê-las, respeitá-las, conviver com os membros dessas religiões e culturas, conviver, respeitar sem o objectivo de convertê-las. Sendo o Islão universal, qualquer um pode ser muçulmano.
O Islão não é uma religião de uma região, é sim
universal. Portanto, o Islão sempre dialogou e
respeitou as outras confissões. Mesmo quando
os muçulmanos estiveram na Península Ibérica, essa convivência entre judeus, muçulmanos
e cristãos foi pacífica e nós não estamos a falar
de um ano, nem de um século, estamos a falar
de vários séculos.
A esta convivência seguiu-se um período em
que a Península Ibérica passou por aquilo que conhecemos como o período da Inquisição, deixando de haver muçulmanos e também judeus.
Quando nos anos 60 alguns jovens, pouco mais
do que 20, vieram das ex-colónias, principalmente
de Moçambique e fundaram a comunidade islâmica de Lisboa, foi possível, mesmo com condições
limitadas, praticar a fé Islâmica, que é universal,
possível de praticar em qualquer parte e em qualquer lugar. Nos anos 70, depois da indepência das
ex-colónias, quando muitos muçulmanos vieram
para Portugal, a comunidade cresceu. Em Portugal, muitas pessoas não estavam habituadas a ver
outras culturas ou outras confissões para além da
cristã, admiraram-se, estranharam, e os muçulmanos portugueses mostraram-se sempre activos no
diálogo inter-religioso. Sempre respondemos aos
convites e também convidamos outras confissões
a estarem presentes nas mesquitas, a visitarem-nas,
a partilharem connosco. Sem dúvida que o 11 de
Setembro de 2001 alterou muita coisa. O facto do
desenvolvimento em si ser feito em nome do Islão,
ser feito em nome da religião que significa a paz,
colocou o Islão numa posição injusta. As pessoas
afastaram-se e ficaram com péssimas ideias e concepções negativas acerca do Islão. Tivemos de ser
mais activos e separar muito bem as águas. Não
somos mais do que 40 000 muçulmanos a residir
em Portugal, com mais de 33 mesquitas e lugares
de culto, integrados numa sociedade que não é
diferente daquilo a que os muçulmanos estavam
habituados enquanto viveram nas ex-colónias.
Sem dúvida que a comunidade islâmica de Lisboa participou em vários encontros inter-religiosos. Convida os membros de outras religiões, e
não só, a visitarem as mesquitas. Por exemplo,
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a mesquita de Lisboa está aberta para receber
visitantes, explicar-lhes o Islão. Os membros
da comunidade participaram nas orações inter‑religiosas nos momentos de paz, e nas orações
pela paz e para terminarem as guerras espalhadas
pelo mundo e também nos momentos de tristeza. Fizemos uma oração em conjunto quando
sua Santidade o papa João Paulo II adoeceu, e
fizemos também uma outra quando ele faleceu:
nessa sexta-feira foi na mesquita, no sábado foi
na sinagoga, e no domingo na igreja. Acolhemos
a presença de sua santidade o Dalai Lama, quando visitou Portugal na última vez, e um dos en-
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contros inter-religiosos que teve foi na Mesquita
de Lisboa, no sagrado mês de Ramadão, que é
o mês sagrado para os muçulmanos. Esta participação, esta interacção, simplesmente demonstram que a comunidade islâmica portuguesa está
activa, participativa, desempenha um papel muito
importante no que diz respeito ao diálogo inter‑religioso. A nossa abertura só demonstra o nosso
empenho em manter constantemente esse diálogo não só entre os religiosos mas também entre
os seguidores, entre as pessoas que praticam as
religiões, entre os jovens, entre os idosos, entre
a população em geral.
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