IDENTIFICAÇÃO DE VETORES DE INFECÇÃO NOSOCOMIAL POR MICROESPECTROSCOPIA FT-IR M.C.C.Modestoa, I. Fontoura,a P. Rodrigues a, L. Raniero a, A.A.Martina 1 Universidade do Vale do Paraíba; Laboratório de Espectroscopia Vibracional Biomédica; Av. Shishima Hifumi, 2911 – Urbanova - São José dos Campos – SP; [email protected] [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] Resumo - A infecção nosocomial é um problema endêmico que emerge no contexto dos hospitais brasileiros, sendo adquirido por pacientes hospitalizados e com o sistema imunológicos afetados. A grande circulação de indivíduos, contato com os diversos ambientes hospitalares e uso de materiais contaminados, favorecem a proliferação de microrganismos patogênicos, podendo causar um agravamento do quando clínico do paciente. A identificação dos microrganismos atualmente é realizada pelo método de cultivo padrão-ouro, que requer observação de suas características morfofisiológicas e realização de testes bioquímicos, porém requer um tempo de crescimento microbiano de 24h a 5 dias, sendo administrados empiricamente antibióticos de largo-espectro, causando efeitos secundários no paciente e provocando a resistência destes microrganismos. A microespectroscopia FT-IR visa uma manipulação mínima da amostra com um determinado tempo de cultura, sendo fornecidos espectros bioquímicos característicos e distintos de cada microrganismo. O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão de literatura acerca da identificação de vetores de infecções nosocomiais pela técnica de microespectroscopia FT-IR. Palavras-chave: Bactéria, infecção nosocomial, Microespectroscopia FT-IR. Área do Conhecimento: Biomedicina e Microbiologia Introdução A infecção nosocomial é considerada um problema endêmico, sendo encontrada em pacientes hospitalizados, com altas taxas de mortalidade e incidência de até 20% do total das infecções (MOHIUDDIN et al., 2010). As infecções nosocomiais são frequentemente associadas com a contaminação de equipamentos, ambiente hospitalar e pelos profissionais da saúde (CHAU et al., 2010). Os altos índices de infecções hospitalares são observadas com maior frequência em pacientes idosos, atendidos em serviços de oncologia, ambientes cirúrgicos e de terapia intensiva (TURRINI et al., 1996). O risco de um paciente contrair uma infecção hospitalar está diretamente associado com a gravidade da doença e de suas condições nutricionais, tempo de internação, procedimentos terapeuticos e de diagnósticos realizados (FIGUEROA, et al., 1999; GILIO, et al., 2000). As bactérias dos grupos gram positivas e gram negativas são encontradas com maior frequencia em relatos de infecções nosocomiais (ASHRAF et al.,1973), sendo elas: Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Staphylococcus Epidermidis, Enterococcus faecalis, Pseudonomas aeroginosa e Proteus mirabilis. Diante dos aspectos citados, é possível observar que os elevados casos de infecções nosocomiais favorecem o aumento da morbimortalidade nos centros de saúde (principalmente em UTI’s), gerando custos devido ao tratamento dos pacientes (IBRAHIM et al., 2000). O método tradicional utilizado para a identificação destes microrganismos é o de semeadura. Esta técnica requer a observação das características morfofisiológicas dos microrganismos e a realização de testes bioquímicos. Este método tem um baixo custo, é simples de ser realizado e tem alta especificidade, porém requer um tempo de crescimento microbiano de um à cinco dias para o seu resultado final, sendo administrado um tratamento empírico de amplo-espectro no paciente, causando efeitos secundários, como a toxicidade em seu organismo e a resistência do microrganismo patógeno (SANDT et al., 2006; STENDER et al., 2002, MAQUELIN et al., 2003). Uma outra técnica utilizada na identificação de microrganismos são os métodos de biologia XVI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e XII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 molecular, onde são analisadas as sequências de DNA específicas de cada patógeno. Esta é uma técnica sensível no que se refere ao diagnóstico preciso, porém apresenta um alto custo e não se adequaria nas rotinas laboratoriais, por se ter a necessidade de uma rápida identificação e tratamento da infecção (ERUKHIMOVITCH et al., 2005). Uma nova técnica para a identificação rápida de microrganismos é baseada na microespectroscopia no infravermelho. Esta técnica baseia-se em vibrações dos átomos presentes nas moléculas do microrganismo e no monitoramento da transição dos níveis de energia vibracionais (FREIFELDER et al., 1982). A microespectroscopia no infravermelho é caracterizada pela mínima manipulação da amostra microbiana (obtida em um tempo de incubação mínima de 6 horas). (MAQUELIN et al., 2002). Os dados resultantes da análise espectroscópica é disponibilizada em um prazo de um dia útil em um um ambiente clínico, devido ao isolamento, cultivo e identificação do microrganismo à ser identificado (NAUMANN et al., 2000). Desta forma, a técnica de microespectroscopia FT-IR possibilita a identificação rápida das bactérias patogênicas de infecção nosocomial causada por vetores e aprimora os meios para investigações epidemiológicas internas e externas nos hospitais com altos índices de infecções causadas por vetores (NAUMANN et al., 2000). Diante das vantagens que a microespectroscopia FT-IR oferece na identificação rápida de microrganismos presentes em meios vetoriais de infecções nosocomiais, o estudo será realizado. Metodologia Foi realizada uma revisão de literatura baseada em artigos nacionais e internacionais, entre o período de 1982 a 2010 focando os aspectos gerais sobre infecções nosocomiais e o uso da técnica de microespectroscopia FT-IR como um método de identificação rápida destes microrganismos. Os bancos de dados para a seleção dos artigos foram Pubmed e Web of Science, e nas bases de dados Medline e Scielo. Palavras-Chaves: Infecção nosocomial, microespectroscopia FT-IR, bactéria. Resultados Várias técnicas com base na espectroscopia tem sido utilizadas nos últimos anos para a identificação microbiana, como a espectroscopia de fluorescência (GIANA et al., 2003) e a espectroscopia Raman (HARZ et al., 2005). A espectroscopia no infravermelho (FT-IR) é uma técnica promissora e adequada para a rápida identificação de microrganismos nas rotinas laboratoriais (MAQUELIN et al., 2003). Esta técnica de espectroscopia vibracional requer manipulação mínima da amostra, sem qualquer envolvimento de produtos reagentes, podendo o equipamento ser manipulado por pessoas não especializadas. O tempo gasto para a identificação do microrganismo é reduzido, em relação as métodologias atualmente aplicadas. Com um período mínimo de incubação de seis horas, já é possivel observar o crescimento de microcolônias, que poderão ser analizadas em um inóculo pequeno, gerando espectros caracteristicos de cada microrganismo (MAQUELIN et al., 2002; MAQUELIN et al., 2003) Cada bactéria analizada por este método de identificação apresenta características espectrais particulares, como materiais intracelulares, características da superfície celular, compostos de reserva de energia, formação de esporos como forma de resistência nos ambientes em que se encontram, entre outros (NAUMANN et al., 2000). A espectroscopia no infravermelho visa o estudo sobre a interação da luz que é incidida na região do infravermelho na matéria a ser analisada, baseando-se nas vibrações dos átomos de uma molécula (FREIFELDER, D.; 1982). Os espectros formados durante o procedimento de análise é simples e de fácil interpretação, pois as bandas demonstradas são atribuídas em regiões distintas da molécula, como base nos grupos funcionais, demonstrados na tabela 1. Através da espectroscopia no infravermelho é possível distinguir o microrganismo que se encontra em análise, através do grupo pertencente, sendo ele Gram positivo, Gram negativo ou levedura (figura 1) e pela atribuição de bandas. Com este método rápido e eficaz, a microespectroscopia FTIR possibilita a redução da resposta de uma análise microbiana, garantindo um tratamento mais fidedigno ao paciente sem causar ao mesmo efeitos secundários, como a toxicidade, possibilitando a criação de medidas mais eficazes para o controle e o combate destes microrganismos patógenos. XVI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e XII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 Tabela 1 – Grupos funcionais e suas energias vibracionais em microespectroscopia FTIR. Fonte: COATES, 2000. Grupo Funcional Grupo de frequência cm-1 Hidroxilia (estiramento O-H) 3570-3200 Carbonila, Aldeídos e cetonas Carboxila, Ácidos carboxílicos Amino (estiramento N-H) 1740-1725 / 28002700ª/ 1725-1705 1725-1700 Amida (estiramento C=O) 1680-1630 Sulfidril (estiramento S-H) 2600-2550 Fosfato (estiramento P=O) 1350-1250 3400-3380b Figura 1 – Espectro característico de microrganismos patogênicos: Staphylococcus aureus, Pseudonomas aeruginosa e Candida albicans. Fonte: NAUMANN, 2000. Discussão De acordo com Naumann e colaboradores (2000) através da espectroscopia FT-IR, vários trabalhos foram desenvolvidos com o objetivo de identificar de maneira rápida, eficaz e não destrutiva das células microbianas os possíveis agentes patógenos de determinada infecção. Com os espectros fornecidos por este método analítico, as impressões digitais de cada microrganismo permite a identificação da espécie e sub-espécie á qual pertencem. Isto é possível pois existe uma diversidade estrutural e bioquímica de cada bactéria. Segundo Maquelin et al. (2002), através de um microscópio que se encontra acoplado no espectrofotômetro de FTIR é possível fazer uma microanálise do material biológico, sendo estes obtidos em um tempo de incubação mínimo de 6h, cultivadas em meios de cultura próprios para cada microrganismo. Em um experimento com diversas cepas de Staphylococcus, Lamprell (2006) conseguiu distinguir através da técnica de espectroscopia FTIR 39 espécies e sub-espécies deste patógeno, em diferentes isolados de queijo e leite. Com isso, ele confirmou a eficácia da técnica para identificação de cepas isoladas na area alimentar em geral. Bosch et al. (2008), conseguiram identificar bactérias gram-neganivas em isolados de secreçoes de pacientes com fibrose cistica, por meio da espectroscopia FTIR. Através da técnica foi possível identificar corretamente nas 15 cepas de referência em 150 pacientes, 98,1% de eficácia da técnica, demonstrando a confiabilidade do método. A espectroscopia FTIR também possibilita a identificação de fungos patogênicos, que encontram-se também nos índices de infecções nosocomiais. Maquelin et al. (2003) identificou bactérias e fungos de hemoculturas de pacientes hospitalizados. Através de 138 hemoculturas de 121 pacientes e a utilização de 89 bactérias e 32 fungos, a técnica de FTIR demonstrou eficácia de 98,3% nas amostras analizadas. Sandt et al. (2006) realizou um estudo com 1570 espectros obtidos por espectroscopia no infravermelho. Destes, 164 cepas de isolados clínicos do grupo de bactérias Gram-positivas foram identificadas com 100% de exatidão e Gram-negativas com 80%. Com estes dados, foi possível concluir que a microespectroscopia, juntamente com a análise estatística podem se complementar em um diagnóstico mais fidedigno para o tratamento destes agentes patológicos. Com base nos altos índices de infecções nosocomiais, métodos atuais de diagnósticos de microrganismos patógenos (que exigem um tempo espera para o seu resultado final) e pela busca de novas técnicas para identificação dos mesmos, a microespectroscopia FTIR se mostra uma técnica efetiva na identificação de bactérias patogênicas. XVI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e XII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3 Conclusão A partir desta revisão de literatura, pode-se concluir que a técnica de microespectroscopia FTIR é método eficaz na identificação de microrganismos através do fornecimento de espectros bioquímicos de cada bactéria, reduzindo principalmente o tempo e os custos para o tratamento dos pacientes que adquiriram infecção nosocomial durante o seu período de internação. - IBRAHIM, EH et al. The influence of inadequate antimicrobial treatment of blood stream infections on patient outcomes in the ICU setting. Chest, v. 118, p. 146-155, 2000. - LAMPRELL, H. Discrimination of Staphylococcus aureus strains from different species of Staphylococcus using Fourier transform infrared (FTIR) spectroscopy. International Journal of Food Microbiology, v. 108, p 125-129, 2006. - MAQUELIN, K. et al. Identification of medically relevant microorganisms by vibrational spectroscopy. Journal of Microbiological Methods, v. 51, p. 255-271, 2002. - MAQUELIN, K. et al. Prospective Study of the Performance of Vibrational Spectroscopies for Rapid Identification of Bacterial and Fungal Pathogens Recovered from Blood Cultures. Journal of Clinical Microbiology, v. 41, n. 1, p. 324329, 2003. - MOHIUDDIN, J. et al. “Microbiology Of Nosocomial Infection In Tertiary Hospitals Of Dhaka City And Its Impact”. Bangladesh Journal of Medical Microbiology, v. 4, n. 2, p. 32-38, 2010. - NAUMANN, D. et al. What can infrared spectroscopy tell us about the structure and composition of intact bacterial cells? Infrared Spectroscopy of Biomolecules, Wiley-Liss, New York, pp. 359, 1996. - NAUMANN, D. Infrared spectroscopy in microbiology. Encyclopedia of Analytical Chemistry. Chichester: John Wiley & Sons Ltd, p. 102-131, 2000. - SANDT, C. et al. FT-IR microspectroscopy for early identification of some clinically relevant pathogens . Journal of Applied Microbiology, v. 101, p. 785–797, 2006. - STENDER, H. et al. PNA for rapid microbiology . Journal of Microbiological Methods, v. 48, p. 1 –17, 2002. Referências - BOSCH, A. et al. Fourier Transform Infrared Spectroscopy for Rapid Identification of Nonfermenting Gram-Negative Bacteria Isolated from Sputum Samples from Cystic Fibrosis Patientes. Journal of Clinical Microbiology, v. 46, n. 8, p. 2535-2546, 2008. - CHAU, J.P.C. et al. “Infection control practices among hospital health and support workers in Hong Kong”. Journal of Hospital Infection, v 75, p. 299-303, 2010. - ERUKHIMOVITCH, V. et al. FTIR microscopy as a method for identification of bacterial and fungal infections. Journal of Pharmaceutical and Biomedical Analysis, v. 37, p. 1105–1108, 2005. - - FIGUEROA, A.C. et al. Prevalencia de infecciones nosocomiales en niños: encuesta de 21 hospitales en Mexico. Salud Publica Mex, v. 41, p. 528-535, 1999. FREIFELDER, D; F. W.H. et al. Applications to biochemistry and molecular biology. Physical Biochemistry, New York, 1982. - GIANA, H.E. et al. Rapid identification of bacterial species by fluorescence spectroscopy and classification through principal components analysis. Journal of Fluorescence, v. 13, n. 6, p. 489-493, 2003. - GILIO, A.E. et al. Risk factors for nosocomial infections in a critically ill pediatric population: a 25-month prospective cohort study. Inf Control Hosp Epidemiol, v. 21, p.340-2, 2000. - HARZ, M. Et al. Micro-Raman spectroscopic identification of bacterial cells of the genus Staphylococcus and dependence on their cultivation conditions. The Analyist, v. 130, p. 1543- 1550, 2005. XVI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e XII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 4 - TURRINI, R.N.T. Infecção hospitalar e mortalidade em hospital pediátrico [dissertação] - Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo,1996. XVI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e XII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 5