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FÍSICA GERAL IV
doPPLER
(1803-1853)
Christian J. doppler
físico e matemático
austríaco. Foi professor
de Física experimental
na Universidade de
Viena. Celebrizouse pelo princípio
denominado efeito
doppler onde observou
que o comprimento
de uma onda sonora
produzida por uma
fonte em movimento se
altera. Quando a fonte
está se aproximando
do observador, o
comprimento de onda
diminui (tornando o
som mais agudo); e
quando se afasta,
se torna maior
(fica mais grave).
Fenômeno, conhecido
até hoje como efeito
doppler, se manifesta
também nas ondas
eletromagnéticas.
doppler chegou a
prever que ele seria
válido para a luz,
mas isso só pôde ser
devidamente explicado
mais tarde, pelo
francês Fizeau.
álgEBra linEar
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Formação de Professores EM FÍSICA - EAD
João Mura
Maurício Antonio Custódio de Melo
FÍSICA GERAL IV
Maringá
2010
14
Coleção Formação de Professores em Física - EAD
Apoio técnico: Rosane Gomes Carpanese
Normalização e catalogação: Ivani Baptista - CRB 9/331
Revisão Gramatical: Tania Braga Guimarães
Projeto Gráfico: Carlos Alexandre Venancio
Edição e Diagramação: Renato William Tavares
Capas: Kellis Germano de Freitas
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
M972f
Mura, João
Física geral IV / João Mura, Maurício Antonio Custódio de Melo. - Maringá:
Eduem, 2010. 159p. il. (Coleção formação de professores em física, v. 14)
ISBN 978-85-7628-273-0
1. Física – Estudo e ensino. I. Mura, João. II. Melo, Maurício Antonio
Custódio de.
CDD 21. ed. 530
Copyright © 2010 para o autor
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo
mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a autorização, por escrito, do autor. Todos os direitos
reservados desta edição 2010 para Eduem.
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S umário
Sobre os autores ................................................................................... 5
Apresentação da coleção ..................................................................... 7
Apresentação do livro ........................................................................... 9
1 Propriedades Magnéticas da Matéria ................................................11
2 Circuitos de Corrente Alternada ....................................................... 23
3 Equações de Maxwell e Ondas Eletromagnéticas............................ 39
4 Óptica Geométrica ...........................................................................57
5 Reflexão da Luz em Superfícies Planas e Esféricas.
Formação de Imagens. .....................................................................77
6 Refração da Luz Superfícies Planas e Esféricas ............................... 89
7 Olho Humano e Instrumentos Ópticos ..............................................111
8 Óptica Ondulatória ......................................................................... 129
9 Fótons, Elétrons e Átomos ............................................................... 147
10 Referências ................................................................................... 159
3
S obre os autores
João Mura
Possui graduação em Física (Licenciatura e Bacharelado) pela Universidade Estadual de
Campinas (1975) e graduação em Direito pela Universidade Estadual de Maringá (1983). O
professor Mura obteve sua especialização em Ensino de Física Experimental (1979), mestrado
(2000) e doutorado em Física (2005) pela Universidade Estadual de Maringá. Desde 1976 é
professor do Departamento de Física da Universidade Estadual de Maringá. Atualmente, ocupa
o cargo de Professor Associado.
Maurício Antonio Custódio de Melo
Licenciado em Física pela Universidade Estadual de Maringá (1987), mestrado em FísicoQuímica pela Universidade Federal de Santa Catarina (1990), doutorado em Ciências Naturais
– Física pela Technische Universität Braunschweig na Alemanha (1995) e realizou um pósdoutorado no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (1995-1997). Professor da Universidade
Estadual de Maringá desde 1997, sendo atualmente Professor Associado.
5
A presentação da Coleção
EmborarelativamenterecentenoBrasil,aEducaçãoaDistânciafoiimaginadaeimplantada com relativo sucesso, há muito tempo em diversas partes ao redor do mundo.
Já em 1833, na Suécia, uma publicação se referia ao ensino por correspondência, e
poucos anos depois, na Alemanha, foi fundada a primeira escola por correspondência
destinadaaoensinodelínguas.Comoadventodatransmissãoradiofônica,asfacilidadessetornaramreaiseastrocasdeinformaçõesseagilizarame,consequentemente,
aEducaçãoaDistânciaexperimentouumcrescimentosignificativo.Fatosemelhante
ocorreucomaevoluçãodossetoresdecomunicaçãotelevisiva,edefinitivamente,a
Educação a Distância se consolidou incorporando novas formas de comunicação.
O Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação a Distância (SEED)
tem promovido uma ampla difusão de vários cursos a distância, em parceria com diversas Instituições Públicas de Ensino Superior (IPES). O curso de Física em EAD da
UniversidadeEstadualdeMaringá(UEM)foiimplantadocomtotalapoiodessesórgãosoficiais.Possuidisciplinasidênticaseomesmoconteúdoprogramáticodocurso
presencial.
Entretanto, existem pontos entre ambos, que não podem convergir devido ao
enfoque: enquanto o curso presencial requer uma metodologia característica, com
a relação professor-discente acontecendo quase que exclusivamente dentro de um
espaçofísicopróprio,ocursoadistânciadeveabrangereconsiderararelaçãoespaço-temporalparaefetivaroaprendizado.Acoleçãoqueoraapresentamosrefleteessa
preocupação. Os volumes foram escritos por professores que possuem experiência
suficienteparaelaboraroconteúdoadequadoacadadisciplinae,deformabastante
consistente,elegerostópicosexigidosparaaformaçãodeumlicenciadoemFísica.O
leitorperceberáque,mesmodentrodeumúnicolivroescritopordiversosautores,
a linguagem não é uniforme e os enfoques são diferenciados; enfim, preservamos
tantoquantopossívelasparticularidadesrespeitando-seasexperiênciasindividuaise,
certamente,issoserefletenaapresentaçãodoconteúdoenoestilodeexposiçãodo
7
FÍsiCa gEral iv
material didático.
Adicionalmente uma parcela do corpo docente do Departamento de Física – UEM
tem se dedicado à tarefa de produção de textos direcionados a Educação a Distância,
os Departamentos de Matemática, de Química, de Fundamentos da Educação e de
Informáticatêmcontribuídocomostextospertinentesàsdisciplinasqueusualmente
ministramnamodalidadePresencial.Aofinaldoquartoano,acoleçãocontarácom
maisdetrintavolumes.Essesforamgeradoscomoobjetivodeproporcionaraodiscente da Educação a Distância um material produzido pelo empenho de um conjunto
deprofessoresqueacreditamqueaEducaçãoaDistânciasejaumaalternativapara
supriradeficiênciadeprofessoresdeFísicanoensinomédio.Percebe-setambémque
nãoéamodalidadedeensinoquedeterminaoaprendizado,maseledepende,acima
detudo,doesforçoedadedicaçãodecadaum.Esperamosqueessacoleçãosejauma
forma de tornar essa tarefa mais fácil de Física em EAD.
Sonia Maria Soares Stivari
Organizadora da Coleção
8
A presentação do livro
Esteéoúltimolivrodefísicageraldestasérie.Desdeoiníciodaconstruçãodos
livrosdefísicageral,sabíamosquenãopoderíamos,dentrodequatrolivros,esgotartodo
oconhecimentodefísicageral.Oquepretendíamoseradarumabasedeconhecimento
seguraparaqueoestudantepudesseentenderoseumeioambientedentrodosconceitos
básicosdafísica.Esperamosqueonossoobjetivotenhasidoalcançado.
Começamostratandodofenômenodomagnetismoemmateriais.Omagnetismodos
materiaistevenosúltimosanosumavançosignificativo,tantonosentidodenovosmateriaiscomonasuaaplicabilidade.Ocapítulo2descrevealgunsfenômenosrelacionados
a sistemas com corrente alternada, culminando no entendimento da recepção e emissão
deondasderádioeoutras.Ocapítulo3,tratadasequaçõesdeMaxwell,nosentidode
fazerumresumobásicodoeletromagnetismoecomessasequaçõesdescreveranatureza
ondulatóriadaluz.AsequaçõesdeMaxwellestãoparaomagnetismo,assimcomoasleis
deNewtonestãoparaaMecânica.Aóticageométricaévistanoscapítulos4,5,6e7,onde
podemoscompreenderocaminhodeumfeixedeluzatravésdelentesourefletidosporespelhos.Comesseconhecimentopodemosentenderinstrumentossimplesdeótica(óculos,
telescópios,microscópios,eoutros).Nocapítulo8,apresentamosoefeitodeinterferência
eoefeitodedifração,oquenoslevaaoconceitodaluzcomoonda.Nocapítulo9,aluzé
tida com uma partícula, onde podemos entender a emissão e absorção da luz por átomos.
Para um melhor entendimento, cada capítulo tem uma série de exemplos e exercícios
propostos. Uma atenção especial deve ser dada a estes exemplos e exercícios.
OsautoresdedicamestapequenaobraàmemóriadaProfessoraDoutoraMarleteAparecidaZamprônio.Aela,nossahomenagempeloesforço,dedicaçãoe,principalmente,
amizadedemonstradosporelaanósnosnossosanosdetrabalhoeconvivênciamútua.
OS AUTORES
9
1
Propriedades
Magnéticas da Matéria
1.1
introdução
1.2
diamagnetismo e paramagnetismo
1.3
Ferromagnetismo e paramagnetismo
11
FÍsiCa gEral iv
Figura 1.1 tschi-nan-kiu:
primeiras bússolas usadas
pelos chineses
1
PROPRIEDADES MAGNÉTICAS DA MATÉRIA
1.1
Introdução
A palavra magnetismo está conectada ao acontecimento pelo qual um ente tem o poder
de atrair e influenciar outro ente. A origem do nome está ligada ao nome da província de Magnésia
(região da atual Turquia), que era rica em magnetita (minério de ferro). As propriedades magnéticas
da matéria foram observadas por povos mesmo da antiguidade. Possivelmente, foram os gregos
(por volta de 800 a.C.) que refletiram primeiramente sobre as propriedades da magnetita (Fe2O4).
Este mineral, que no seu estado natural, comumente tem o poder de atrair o ferro e outros metais.
A primeira aplicação prática de materiais magnéticos foi provavelmente a bússola. É fato
que a bússola é uma invenção chinesa muito antiga (figura 1.1). Os chineses usaram primeiramente
a bússola viajando pela terra. Estes objetos eram carruagens com uma pequena estátua. A estátua
poderia girar em torno de um eixo e teria um braço esticado em que ficava situada uma barra
magnética. O braço indicava sempre o sul. Estas carruagens com a bússola eram denonimadas
tschi-nan-kiu. Os imperadores usaram estas carruagens ao visitar regiões remotas de seu império
vasto. Considera-se ter sido o inventor destas carruagens com a bússola o imperador Tsche-UKung, que governou ao redor de 110 a.C. Existem relatos mais antigos do uso de bússolas pelos
Chineses.
1.2
Diamagnetismo e Paramagnetismo

Na matéria, a origem de seus momentos magnéticos µ , permanentes ou induzidos, e
pela natureza da interação entreeles determina o comportamento
 dos materiais magnéticos em
um campo magnético aplicado Bapl . Os momentos magnéticos µ podem proceder do momento
angular orbital e no spin dos elétrons nos íons ou átomos que formam a matéria, portanto, dependem
da distribuição eletrônica dos átomos e moléculas. A grandeza macroscópica que representa o
estado magnético de um material é o vetor magnetização, representado pela letra M e é definida
como:

→
M=
dµ
dV
Figura 1.2 Modelo de espiras elementares de corrente. A corrente total no interior é nula,
mas resulta em uma corrente superficial análoga à observada em um solenóide

Vamos considerar uma barra de um material qualquer e um campo magnético Bapl
aplicado na direção x, conforme mostrada na figura 1.2. Segundo a lei de Ampère, a aplicação do
campo magnético intenso resulta em correntes microscópicas, que podem ser correntes circulares
e estão em um plano perpendicular a x. A homogeneidade da distribuição das correntes faz com
que a corrente em qualquer curva interior seja zero, pois as correntes vizinhas se cancelam. Como
fora do material não existem correntes vizinhas para anular a contribuição interna, resultará em
uma corrente superficial, conforme a Figura 2. Seja jm a intensidade de corrente por unidade de
comprimento, então, o infinitesimal da corrente superficial é dada por:
di = jm dx
portanto
O momento dipolar magnético µ m é igual ao produto da área A e a corrente superficial,

d µm = ( diA ) iˆ

d µm = ( jm dxA ) iˆ

d µm = ( jm dV ) iˆ
onde dV é o elemento de volume e o momento dipolar magnético tem a mesma direção do campo
magnético aplicado.
12
Por definição, a magnetização M é:
=
M
d µm
= jm
dV
propriedades
Magnéticas da Matéria
O módulo do vetor magnetização é igual à corrente por unidade de comprimento. Este
resultado demonstra que a unidade da magnetização M é ampères por metro [A/m].
Voltemos a nossa barra de ferro da figura 1.2. O efeito observado é o mesmo de um
solenóide cilíndrico percorrido por uma corrente elétrica i. O módulo do campo magnético
produzido por um solenóide de n espiras e corrente elétrica i é dado por Bm = µo ni . Substituindo
ni pela magnetização M, temos que o campo magnético B produzido pelas correntes superficiais no
interior de cilindro é dado por:
Bm = µo M

Este produzido campo magnético
 Bm é resposta a um campo magnético Bapl aplicado.
Portanto, o campo magnético resultante B é a soma vetorial
dos campos Bext e Bm .

=
B B + Bm
  apl

=
B Bapl + µo M
Aqui podemos começar a definir os diferentes tipos de ordens magnéticas. Materiais
paramagnéticos
e ferromagnéticos têm o vetor magnetização M na mesma direção e sentido do

vetor Bapl . Isto quer dizer, que há um aumento do campo
 magnético resultante. Ao contrário, o
vetor magnetização M tem sentido contrário do vetor Bapl nos materiais diamagnéticos.
Para os materiais paramagnéticos e diamagnéticos, a magnetização é proporcional ao
campo magnético aplicado, responsável pelo alinhamento dos dipolos magnéticos no interior do
material. Podemos, assim sendo, escrever


Bapl
M = χm
µo
onde χ m é denominado susceptibilidade magnética. A Tabela 1.1 mostra valores da susceptibilidade
magnética de diversos materiais. Nos materiais diamagnéticos, a susceptibilidade magnética χ m é
negativa e independe da temperatura. Nos materiais paramagnéticos, χ m é positiva e depende da
temperatura (ver figura 1.3).
Material
Diamagnético
χm
Bismuto
−1, 6 ×10−5
−0,98 ×10−5
−9,9 ×10−9
Cobre
Hidrogênio (1atm)
Paramagnético
Alumínio
Titânio
Oxigênio (1atm)
2,3 ×10−5
7, 06 ×10−5
2090 ×10−9
Tabela 1.1 Exemplo de alguns materiais diamagnéticos e paramagnéticos
Figura 1.3 Dependência da susceptibilidade magnética
com a temperatura de materiais diamagnéticos e paramagnéticos
Como podemos observar na tabela 1.1, materiais diamagnéticos são aqueles que
apresentam valores de susceptibilidade magnética pequenos e negativos. A causa do diamagnetismo
são elétrons emparelhados existentes em quase todos os átomos. O momento magnético orbital
13
FÍsiCa gEral iv
de um único elétron atômico pode ser calculado considerando um elétron movendo-se em órbita
circular de raio r. O momento magnético µ = IA associado corrente I e a área A é dado por:
µ = IA
Substituindo a área A = π r e a corrente I = q T , onde é o período de rotação. , por
sua vez, pode ser escrito como T = (v) (2π r ) , assim,
qπ r 2 qπ r 2 v 1
µ
qrv
= IA
=
=
=
T
2π r
2
 1  
=
µ
qr × v
2
2
Desta forma obtemos o momento magnético µ associado à carga, ao raio da orbita e à
velocidade (figura 1.4). O valor encontrado experimentalmente é de cerca de alguns magnétons de
Bohr. Mais tarde, vamos usar este momento para entender outros tipos de materiais magnéticos.
Por enquanto, vamos nos concentrar em materiais diamagnéticos.
Figura 1.4 Momento magnético de elétron em órbita circular
Podemos entender o fenômeno examinando a figura 1.5a, onde dois elétrons emparelhados
se movem em uma órbita circular com a mesma velocidade, mas em sentidos opostos. Sabemos
que o momento magnético associando à carga, raio da órbita e a velocidade é dado por:
 1  
=
µ
qr × v
2
Observamos pela figura 1.5a
 e pela equação acima, que sem campo magnético aplicado,
os momentos magnéticos µ1 e µ2 se cancelam. Eles se cancelam, pois os vetores velocidade

têm a mesma intensidade, mas sentidos opostos. Quando aplicamos um
 campo
 magnético Bapl
(figura 1.5b), as cargas negativas experimentam uma força adicional F= qv × B . O sentido da
força na primeira carga é para o centro da órbita, no mesmo sentido da força
 Para que
 centrípeta.
a carga permaneça na mesma órbita, ela precisa aumentar a velocidade v1 em um ∆v , até que o
acréscimo de velocidade anule a força adicional. Portanto, o momento magnético µ1 da primeira
carga aumenta. No caso da carga à direita, a força provocada pelo Bapl é para fora da órbita,
no sentido contrário
da força centrípeta. Portanto, há uma

 diminuição da velocidade v2 em uma
quantidade ∆v . Assim sendo, omomento magnético µ2 diminui. Podemos
que, quando

 observar
aplicado um campo magnético Bapl , a soma dos momentos magnéticos µ1 e µ2 não se cancela e a
resultante tem sentido contrário ao do campo magnético aplicado. Estes materiais são denominados
de diamagnéticos. Estes momentos magnéticos induzidos responsáveis pelo diamagnetismo são
da ordem de 10-5 magnetons de Bohr. Este valor é muito menor que os momentos magnéticos
permanentes dos átomos dos materiais paramagnéticos e ferromagnéticos. Portanto, o momento
diamagnético dos elétrons emparelhados dos átomos é superado em muito pelo momento do
alinhamento dos momentos magnéticos.
Figura 1.5 Diamagnetismo – a) sem campo
magnético aplicado o momento total é igual a zero.

b) A aplicação de um campo Bapl resulta em um momento magnético contrário
ao campo magnético aplicado, devido à diferença de velocidades dos elétrons
14
1.3
Ferromagnetismo e Paramagnetismo
Nos materiais paramagnéticos e diamagnéticos se o campo aplicado for desligado,
a magnetização M vai para zero. Os materiais ferromagnéticos, em alguns casos, apresentam
magnetização mesmo na ausência de um campo aplicado. Podemos entender isto, pois estes materiais
possuem momentos magnéticos permanentes dos átomos ou elétrons e a interação entre eles é forte
suficiente para um alinhamento dos momentos magnéticos. Quando os momentos magnéticos de
um material estão totalmente alinhados, o momento magnético por unidade de volume do material
é igual ao produto do número de átomos por unidade de volume n pelo momento magnético μ de
cada átomo. A magnetização do material, neste caso, é denominada de magnetização de saturação
M S e é escrita da seguinte forma:
M S = nµ
relação:
propriedades
Magnéticas da Matéria
Para obtermos o número de átomos por unidade de volume n, temos que utilizar a seguinte
número de Avogado N A
densidade do material ρ
Massa molar M
 átomos 
6, 02 ×1023 
 mol  ρ  kg 
n=
 m3 
 kg 
M

 mol 
O elétron gira em torno de seu próprio eixo, portanto, tem um momento magnético
intrínseco. Este processo de rotação em torno de seu próprio eixo é denominado de spin. O
momento magnético do spin do elétron é igual a um magnéton de Bohr µ B , cujo valor é
µ B =×
9, 27 10−24 A.m 2 =×
5, 79 10−5 eV / T
n=
Por conveniência, os valores de momento magnético são geralmente escritos em
magnétons de Bohr.
Exemplo 1
Calcule a) a magnetização de saturação e o b) campo magnético para o caso do cobalto, que tem
1,7 magneton de Bohr por átomo.
Solucão:
A magnetização de saturação M S é dada por M S = nµ . Para o cobalto, a massa atômica
ρ 8,90 ×103 kg / m3 , portanto,
=
M 58,93 ×10−3 kg / mol e a densidade é=
 átomos 
6, 02 ×1023 
NA
 mol  8,90 × 103  kg 
=
ρ
n =
 m3 
M
 kg 
58,93 ×10−3 
 mol 
=
n 9, 09 ×1028 átomos / m3
µB 9, 27 ×10−24 A.m 2 , assim,
O magnéton de Bohr =
MS =
nµ =
(1, 7 ) (9, 09 ×1028 átomos / m3 )(9, 27 ×10−24 A.m2 )
M=
1, 4 ×106 A.m
S
O campo magnético no interior é:
Bm = µo M
Bm =
(4π ×10−7 T .m / A)(1, 4 ×106 A.m)
Bm = 1, 76 T
A principal causa do ferromagnetismo, e também do paramagnetismo, são os elétrons não
emparelhados existentes em alguns materiais. Como vimos, o momento magnético associado à
carga, ao raio da órbita e à velocidade é (figura 1.4):
 1  
qr × v
=
µ
2
Portanto, cada átomo que tem um elétron não emparelhado contribui para uma
magnetização M não nula do material (em geral, os materiais têm menos de um elétron livre por
átomos).
O paramagnetismo é observado em materiais cujos átomos possuem momentos magnéticos
que não interagem fortemente. Na ausência de campo magnético aplicado, esses momentos
magnéticos µ mudam de orientação aleatoriamente com o tempo e a soma total dos momentos
15
FÍsiCa gEral iv
magnéticos é nula (figura 1.6). Os momentos magnéticos tendem a alinhar-se paralelamente a um
campo magnético aplicado, mas a agitação térmica tende a desalinhar os momentos. Portanto,
este alinhamento é parcial e dinâmico e depende do valor do campo magnético aplicado e da
temperatura.
 A energia potencial de um dipolo magnético de momento µ em um campo magnético
aplicado Bapl é dada por:


U=
− µ Bapl cos θ =
− µ  Bapl
A energia potencial é mínima quando o momento e o campo magnético apontam na
mesma direção ( θ = 00 ) e máxima quando o momento e o campo apontam em direções opostas (
θ = 1800 ). A diferença é igual a 2µ Bapl . Para um momento magnético típico de 1 magnéton de
Bohr e um elevado valor de campo magnético aplicado de 2T, a diferença de energia potencial é
∆U= 2 µ Bapl= 2(5, 79 ×10−5 eV / T )(2T )= 2,32 ×10−4 eV
A energia térmica à temperatura ambiente é
kT =
(8, 62 ×10−5 eV / K )(300 K ) =
2,59 ×10−2 eV
Podemos perceber que a agitação térmica é muito maior. Mesmo com um valor elevado
de campo magnético aplicado, um alinhamento total dos momentos magnéticos não é possível,
a menos que a temperatura seja suficientemente baixa. No caso anterior, a energia térmica se
iguala à diferença da energia potencial em 2,7 K. Para um alinhamento total seria necessário uma
temperatura menor que 2,7 K.
Figura 1.6 Paramagnetismo e ferromagnetismo
No ferro, níquel, cobalto e em muitas ligas destes metais é observado o ferromagnetismo.
O fenômeno é causado por uma forte interação entre os momentos individuais. Esta interação
é denominada interação de troca, e faz com que os materiais tenham uma energia menor se os
momentos magnéticos estiverem apontados nos mesmos sentidos do que estiverem apontando em
sentidos opostos (figura 1.6).
Os materiais ferromagnéticos têm valores positivos muito altos de susceptibilidade
magnética. Nestes materiais, a aplicação de um pequeno campo magnético externo pode resultar
em um alto grau de alinhamento dos momentos magnéticos. Nos materiais ferromagnéticos, o
alinhamento pode persistir mesmo depois que o campo magnético aplicado for zerado (figura
1.6 e 1.7). A agitação térmica sempre tenta provocar desordem nestes sistemas. Acima de uma
determinada temperatura, denominada temperatura de Curie, a agitação térmica é suficiente para
romper este alinhamento e o material ferromagnético se torna paramagnético.
Vamos analisar um pedaço de ferro no interior de um solenóide. Quando aumentamos a
corrente I do solenóide, um campo magnético Bapl = µo nI é produzido e o ferro é magnetizado.
Consideremos o solenóide suficientemente longo, de tal forma que possamos ignorar a influência
das extremidades. Assim, podemos escrever o campo magnético resultante B como:
=
B Bapl + µo M
(
)
Como M = χ m Bapl / µo , temos,
=
B Bapl (1 + χ m )
O parâmetro (1 + χ m ) é denominado permeabilidade do material K m e substituindo o
campo magnético aplicado Bapl = µo nI , portanto,
B = K m µo nI
Portanto, o campo magnético resultante B para uma determinada corrente I depende da
permeabilidade do material K m . Nos materiais ferromagnéticos, o campo magnéticoobservado
B não varia linearmente com a corrente I, isto é, com o campo magnético aplicado Bapl (figura
7). Portanto, a permeabilidade K m não é constante. O valor máximo de K m acontece para uma
magnetização menor do que a magnetização de saturação M S . A tabela 1.2 mostra valores de
campos magnéticos de saturação µo M S e o valor de K m de alguns materiais ferromagnéticos.
16
propriedades
Magnéticas da Matéria
Figura 1.7. Curva de magnetização de um ferromagnético. Observamos a dinâmica dos domínios do
próprio material. Inicialmente, o material tem seus domínios magnéticos distribuídos de tal forma que
a magnetização é igual a zero. Com o aumento do campo há um aumento de alguns domínios em
detrimento de outros. Finalmente, quando o campo é suficientemente grande, todos os momentos
magnéticos estão na mesma direção e a magnetização é máxima e é denominada magnetização
de saturação MS. Quando o campo aplicado é desligado o material permanece magnetizado, e a
magnetização é chamada de magnetização remanente MR.
No processo de magnetização de um material ferromagnético, dois processos são
observados (ver figura 1.7). O primeiro é o aumento do tamanho dos domínios cuja orientação se
aproxima da do campo magnético aplicado. Segundo é a variação conjunta da orientação de todos
os dipolos de um mesmo domínio, passando para uma nova orientação mais próxima da do campo
magnético aplicado. Quando o campo magnético aplicado é removido, as fronteiras dos domínios
não retornam completamente à sua configuração original, e permanece uma magnetização não nula
no material, chamada de magnetização remanente MR.
Outros efeitos magnéticos, profundamente relacionados ao ferromagnetismo, são
encontrados nos materiais, como por exemplo o antiferromagnetismo e o ferrimagnetismo (figura
1.8). Nos materiais antiferromagnéticos, a interação de troca mantém os momentos magnéticos
adjacentes numa configuração rigidamente antiparalela. O efeito é uma magnetização nula.
Acima de uma determinada temperatura, chamada de temperatura de Neel, a agitação térmica
proporciona a quebra das interações de troca entre os momentos magnéticos e o material passa a ser
paramagnético. Nos materiais ferrimagnéticos, a interação de troca também mantém os momentos
magnéticos adjacentes numa configuração antiparalela, mas como os momentos magnéticos não
são idênticos, a magnetização não é nula. Como nos casos anteriores, a interação de troca de um
ferrimagnético é quebrada, quando o material é aquecido acima de uma determinada temperatura.
Figura 1.8. Antiferromagnetismo e ferrimagnetismo.
17
Temperatura de
ordenamento magnético
(temperatura de Curie)
Momento magnético
μ por átomo
Gadolínio
293,4 K
7,55 μB
Térbio
220 K
9,34 μB
Disprósio
86 K
10,33 μB
Ferro
1044 K
2,217 μB
Cobalto
1360 K
1,729 μB
Níquel
628 K
0,617 μB
EuO
69,2 K
7,0 μB
CrO2
392 K
2,03 μB
560 K
5,03 μB
FÍsiCa gEral iv
Y3Fe5O12
Tabela 1.2 Propriedades de alguns ferromagnetos.
Exemplo 2
Coloque uma barra de ferro pendurada em fio pelo centro em um campo magnético inicialmente
perpendicular à barra. Se a barra for solta, ela começar a oscilar. Descubra o momento magnético
da barra.
Solução:
Sabemos que o vetor torque τ que age na barra é igual ao produto vetorial entre o vetor momento
magnético da barra e o vetor campo magnético,

 assim,
τ= µ × B
τ = µ Bsen θ
Para pequenos ângulos sen θ ≈ θ , portanto,
τ = − ( µ B )θ
O torque τ pode ser escrito como o produto entre o momento de inércia I e a aceleração angular α ,
τ = I α = − ( µ B )θ
Como a aceleração angular α é a segunda derivado da posição angular θ em relação ao tempo,
temos,
d 2θ
µB
θ
=−
2
dt
I
Uma solução possível da equação anterior é θ = Acos (ωt ) , onde ω é a frequência angular.
Substituindo a solução possível na equação anterior obtemos
ω2 =
Assim, o momento magnético µ é
µ=
µB
I
ω2I
B
Como é mais fácil medir o período de oscilação T e como ω = 2π / T , temos finalmente
momento magnético µ =
4π 2 I
T 2B
Há duas classes de grandes classes de materiais magnéticos: os isolantes, que têm
momentos magnéticos permanentes, e os metais, onde o magnetismo é de elétrons itinerantes ou
de elétrons da banda. Por volta de 1950 foram consolidados os mecanismos básicos do magnetismo
dos momentos magnéticos permanentes (isolantes), utilizando a mecânica quântica. Naquela época,
havia grandes mistérios no magnetismo dos metais. Somente em 1963, John Hubbard propôs um
modelo para o magnetismo itinerante, que é muito empregado até hoje, mas que tem enormes
dificuldades de cálculo.
Os materiais magnéticos exercem um grande papel na tecnologia atual, pois encontramos
aplicações nos mais variados campos, em um grande número de produtos e processos industriais.
Estas aplicações vão desde imãs permanentes que são usados em fechaduras, motores elétricos,
18
balanças eletrônicas, sensores de posição, etc., até em análise na medicina e componentes
sofisticados que são usados na indústria de computadores e sistemas de comunicação. Atualmente,
uma das principais aplicações está na área de gravação magnética de dados.
propriedades
Magnéticas da Matéria
Exercícios
1) Calcule:
a) a magnetização de saturação;
b) o campo magnético para o caso do ferro, que tem 1 magneton de Bohr por átomo.
2) Em que temperatura a magnetização de saturação de um material paramagnético será igual a 1%
do valor de saturação para um campo magnético aplicado de 1T? (considerar µ = µ B ).
3) Um campo de 1,0 T é aplicado a um gás paramagnético que tem um momento magnético
−9
de 2090 × 10 (oxigênio). A que temperatura a energia cinética do gás se iguala à energia
necessária para alinhar os momento magnéticos?
4) Coloque uma pequena barra (raio 1mm e 15 mm de comprimento) pendurada em fio pelo centro
em um campo magnético de 0,01T inicialmente com um ângulo de 30O em relação à barra. Se
a barra for solta, ela começará a oscilar com um período de 1 segundo. Descubra o momento
magnético da barra.
5) Um solenóide é percorrido por uma corrente constante. Quando um líquido é introduzido o
campo magnético diminui 0,005%. Qual a susceptibilidade magnética do líquido?
6) O núcleo de titânio de um solenóide longo com corrente constante é retirado. Qual é a variação
percentual do campo magnético?
7) O ferro tem o valor máximo da permeabilidade K = 5500 para um campo magnético aplicado
Bapl
= 1, 6 ×10−4 T . Calcule a magnetização M.
8) Em que casos a susceptibilidade magnética é positiva?
9) Uma partícula pode ter momento magnético e não ter momento angular?
19
FÍsiCa gEral iv
Anotações
20
propriedades
Magnéticas da Matéria
Anotações
21
FÍsiCa gEral iv
Anotações
22
2
Circuitos de
Corrente Alternada
2.1
Corrente alternada
2.2
valor rMs
2.3
resistores em circuitos Ca
2.4
indutores em Circuitos Ca
2.5
Capacitores em circuitos de Ca
2.6
Circuitos lC sem gerador
2.7
Circuito rlC sem gerador
2.8
Circuitos rlC Com gerador
23
FÍsiCa gEral iv
2
CIRCUITOS DE CORRENTE ALTERNADA
2.1
Corrente alternada
Quase que na sua totalidade a energia elétrica é produzida por geradores de corrente
alternada (c.a.) e assim transmitida. Entende-se alternada quando a tensão varia com o tempo,
obedecendo a uma função senoidal (figura 2). Usando a indução magnética, a corrente alternada
é produzida facilmente por geradores, onde a tensão é senoidal. No Brasil, a eletricidade é gerada
tanto em 50 Hz (Hz = ciclos por segundo) como em 60 Hz. A corrente alternada tem vantagens
em relação à corrente contínua quanto a transmissão e transformação para o usuário final. Como
a perda por efeito Joule depende da corrente envolvida, a energia elétrica é transmitida através
de grandes distâncias em alta tensão e baixa corrente. Ao chegar ao consumidor final, a tensão é
diminuída. Esta diminuição da tensão é feita através de um transformador, que discutiremos neste
capítulo. Alguns equipamentos usam diretamente a corrente contínua (alguns motores e sistemas
resistivos), em outros equipamentos, corrente alternada é facilmente transformada em corrente
contínua e utilizada.
A figura 2.1 mostra um gerador de corrente alternada, que é constituído de uma bobina de
área A e N espiras em um campo magnético uniforme.
Figura 2.1 Gerador de corrente alternada c.a.
Tomamos a situação inicial, como mostrada
 na figura 1, quando a normal ao plano da
bobina faz um ângulo θ com o campo magnético B , assim, o fluxo magnético através da bobina
é dado por:
Φm =
NBAcosθ
Se girarmos a bobina com uma velocidade angular ω, o fluxo que atravessa varia e assim
é induzida uma tensão entre os terminais da bobina. Tendo δ o ângulo inicial, podemos escrever o
ângulo θ em função do tempo t, assim,
θ= ωt + δ
Assim, o fluxo é dado por
=
Φ m NBAcos (ωt + δ )
Como a tensão induzida entre os terminais ε = −
d Φm
dt
, temos,
dΦ
d
[cos(ωt + δ )]
dt
dt
ε=
+ NBAω sen(ωt + δ )
m
ε=
−
=
− NBA
A tensão máxima ou tensão de pico produzida é
ε max = + NBAω
como:
O ângulo inicial δ pode ser escolhido de tal forma que podemos escrever a tensão induzida
=
ε ε max cos (ωt + δ ´)
A figura 2.2 mostra o gráfico de tensão induzida. Geralmente os geradores são muito mais
complexos do que o modelo aqui apresentado, mas o princípio de funcionamento é o mesmo para
um gerador de bicicleta ou um gerador em Itaipu (figura 2.3).
24
Circuitos de
Corrente alternada
Figura 2.2 Tensão induzida por um gerador de corrente c.a.
Figura 2.3 Descida do primeiro rotor de gerador da
hidrelétrica de Itaipu (http://www.gromow.com/A/ITAIPU.htm)
2.2
Valor RMS
A maioria dos voltímetros e amperímetros é projetada para medir o valor médio quadrático
(em inglês Root Mean Square = RMS ou rms) das tensões e correntes alternadas, e não o valor de
pico. O valor rms de uma tensão, ε rms , é definido como:
ε rms =
(ε )
2
med
No caso de uma tensão senoidal, o valor médio de ε 2 é
1 2
(ε máx cos(ωt )) 2 
=
ε max
(ε 2 )med =
med
2
Portanto, o valor médio quadrático de uma tensão alternada é
1
ε rms =
ε máx
2
Da mesma forma podemos desenvolver o valor médio quadrático de uma corrente
alternada, e fica assim,
1
I rms =
I máx
2
A potência instantânea é dada por P = ε I . A partir desta definição e substituindo as
funções de corrente e tensão dependentes do tempo, podemos calcular a potência média Pméd , que
é dada por:
Pméd = ( ε I )méd
Pméd = [ (ε máx cos(ωt ))( I máx cos(ωt )) ]méd
Usando as relações I rms
Pméd = ε máx I máx cos 2 (ωt )
1
Pméd = ε máx I máx
2
1
1
ε máx , temos:
=
I máx e ε rms =
2
2
Pméd = ε rms I rms
25
FÍsiCa gEral iv
A lei de Ohm é dada por ε = RI . Quando substituímos as funções de corrente e tensão
dependentes do tempo, obtemos,
(ε máx cos(ωt )) = R( I máx cos(ωt ))
ε máx = RI máx
Utilizando as relações conhecidas I rms =
1
1
ε máx , temos:
I máx e ε rms =
2
2
ε rms = RI rms
A relação entre a corrente rms e a tensão rms é a mesma que entre a corrente máxima e a
tensão máxima.
2.3
Resistores em circuitos CA
Figura 2.4 resistor em circuito de corrente alternada c.a.
O circuito da figura 4 é construído com um gerador de c.a. e um resistor R. Usando a lei
de malhas de Kirchhoff para este circuito, temos:
ε − VR =
0
A queda de tensão VR no resistor é VR = RI e a tensão é ε = ε máx cos(ωt ) , portanto,
ε máx cos(ωt ) − RI =
0
A corrente no resistor é dada por:
I=
ε máx
cos(ωt )
R
e resistência R é a corrente, que no caso é a tensão
A razão entre a tensão máxima ε máx
máxima ( I = ε máx / R ), assim,
I = I máx cos(ωt )
Figura 2.5 Corrente e tensão em circuito com resistor e gerador de c.a.
Podemos observar pela figura 2.5 e pelas equações de corrente e de tensão que a corrente
está em fase com a tensão no resistor.
Figura 2.6 Potência dissipada no resistor
26
Temos um pequeno problema em definir a potência P = I 2 R dissipada no resistor. Como
a corrente oscila (figura 2.5), em alguns instantes ela é nula, portanto, a potência nestes instantes
também é nula. Em outros instantes a corrente é máxima e assim a potência tem o seu maior valor.
Valores da potência dissipada oscilam entre zero e o valor máximo e estes valores se repetem
depois de cada ciclo (figura 2.6). Por essa razão, estamos interessados no valor médio da potência
dissipada no resistor para um ou mais ciclos, assim,
Circuitos de
Corrente alternada
2
Pméd =  I max
cos 2 (ωt ) R 
med
2
2
Pméd = I max R cos (ωt ) 
med
O valor média da função cos 2 (ωt ) é igual a ½, portanto
1 2
Pméd = I max
R
2
2.4
Indutores em Circuitos CA
Figura 2.7 Indutor em um circuito CA.
Quando um indutor é ligado aos terminais de um gerador e a corrente está aumentado,
a variação do fluxo magnético produz uma tensão contra a eletromotriz, conforme a lei de Lenz
(figura 7). Portanto, a queda de tensão no indutor VL é dada por:
dI
dt
Usando a lei das malhas de Kirchhoff no circuito, observamos que:
ε − VL =
0
dI
ε −L =
0
dt
A tensão ε produzida pelo gerador é dada por ε = ε máx cos(ωt ) , assim
dI
L = ε máx cos(ωt )
dt
ε
dI = máx cos(ωt )dt
VL = V+ − V− = L
L
Integrando os dois membros da equação:
∫dI = ∫
I=
ε máx
L
cos(ωt )dt
ε máx
sen(ωt )
Lω
ε

Como (sen (ωt )) não tem dimensão,  máx  tem que ter dimensão de corrente, e é o
 Lω 
próprio valor de corrente máxima I máx , assim sendo,
I = I máx sen (ωt )
π

=
(ωt ) cos  ωt −  , assim,
Podemos escrever sen

2
π

=
I I máx cos  ωt − 
2

A figura 2.8 mostra a corrente e a tensão no circuito. Observamos, tanto pela figura como
pelas funções de corrente e tensão, que a corrente está defasada de 90o em relação à tensão entre os
terminais do indutor. Isto é simples de perceber. Quando a corrente I é nula, mas está aumentando,
dI dt é máxima e assim a força eletromotriz induzida no indutor é também máxima. Um quarto
de ciclo depois, a corrente I é máxima, e dI dt é nula e assim sendo VL é nula.
27
FÍsiCa gEral iv
Figura 2.8 Tensão e corrente em um circuito constituído de um indutor e um gerador de c.a.
A relação entre a corrente máxima e a tensão máxima é dada por
I máx =
ε máx
Lω
Esta relação é análoga à relação vista na lei de Ohm (V = RI ) . A grandeza Lω
é denominada de reatância indutiva X L = Lω . A reatância indutiva tem a mesma grandeza da
resistência R, isto é, em Ω (ohms). Podemos ver que para uma determinada tensão, quanto menor
a indutância indutiva, maior será a corrente. A reatância indutiva X L não depende somente da
indutância L, mas também da frequência ω : quanto menor a frequência, menor a reatância.
Exemplo 1
Um indutor de 10,0 mH é ligado uma fonte ac de tensão máxima de 20,0 V. Qual é a amplitude
da corrente se a frequência da fonte for de a) 1,0kHz e b)10,0 kHz
Solução:
a)Temos que a reatância indutiva X L para 1,0 kHz é
X=
L=
ω
L
( 0, 010 H )(1000 Hz=)
Portanto, a corrente é escrita como:
I=
máx
ε máx
20V
=
= 2A
X L 10 H Hz
b)No caso do frequência de 10,0 kHz, temos,
X=
L=
ω
L
A corrente é
10 H Hz
( 0, 010 H )(10000 Hz=)
100 H Hz
ε máx
20V
=
= 0, 2 A
X L 100 H Hz
Como podemos perceber a reatância indutiva X L aumenta com o aumento da frequência, e
I=
máx
como consequência, a corrente diminui.
2.5
Capacitores em circuitos de CA
Figura 2.9 Circuito composto por um capacitor e um gerador de c.a.
A figura 2.9 mostra um circuito composto por um gerador de corrente alternada e um
capacitor. A tensão gerada é dada por ε = ε máx cos(ωt ) e para determinar a corrente no sistema
usamos a lei das malhas de Kirchhoff.
ε − VC =
0
onde VC é a queda de tensão no capacitor, e é dada por
VC = V+ + V− =
assim
28
ε máx cos(ωt ) −
Q
C
Q
=
0
C
Q = Cε máx cos(ωt )
A corrente é dada por:
dQ
I=
dt
Circuitos de
Corrente alternada
I = −ωCε máx sen (ωt )
O resultado da função sen (ωt ) não tem dimensão, portanto ωCε máx tem dimensão de
corrente e é o valor máximo da corrente I máx = ωCε máx , assim
I = − I máx sen (ωt )
Podemos escrever −sen (ωt ) =cos(ωt + π / 2) , portanto,
π

=
I I máx cos  ωt + 
2

Figura 2.10 Corrente e a tensão em um circuito de corrente alternada com um capacitor
A figura 2.10 mostra a corrente e a tensão em um circuito de corrente alternada com um
capacitor. Podemos perceber que a corrente e a tensão não estão em fase, a tensão do capacitor está
atrasada de 900 em relação à corrente. O processo é simples, a corrente do circuito I = dQ / dt é
máxima quando a carga Q do capacitor é nula e, portanto, VC é nula. Um quarto de ciclo depois, a
corrente é nula e a carga é máxima.
Como vimos antes, o valor da corrente máxima está relacionado com a tensão máxima
por:
I máx = ωCε máx
Podemos escrever assim
I máx =
ε máx
1/ (ωC )
onde 1/ (ωC ) é denominado de reatância capacitiva X C = 1/ (ωC ) . A reatância capacitiva é análoga
à resistência R da lei de Ohm (V = RI ) , portanto, a dimensão de X C é também dada em Ω (ohms).
A reatância capacitiva depende do valor da capacitância e da frequência.
Exemplo 2
Calcule a potência dissipada a) em um indutor em um circuito de corrente alternada e b) em um
capacitor em um circuito de corrente alternada.
Solução:
a) indutor: a potência é dada por:
P =εI
A tensão é ε = ε máx cos(ωt ) e a corrente é I = I máx sen (ωt ) , assim,
P = ε máx cos(ωt ) I máx sen (ωt )
P = ε máx I máx cos(ωt )sen (ωt )
Usando a identidade trigonométrica cos (ωt ) sen (ωt ) = (1/ 2) sen(2ωt ) , podemos escrever a
equação acima como:
ε I
P = máx máx sen(2ωt )
2
O valor da função sen(2ωt ) altera de sinal duas vezes em cada ciclo, portanto os valores positivos
anulam os negativos. Deste modo o valor médio da potência dissipada em um indutor é nulo.
b) capacitor: a potência é dada por:
P =εI
No capacitor a tensão é ε = ε máx cos(ωt ) e a corrente é I = − I máxsen (ωt ) , assim,
P = −ε máx cos(ωt ) I máx sen (ωt )
P = −ε máx I máx cos(ωt )sen (ωt )
29
FÍsiCa gEral iv
Como no caso anterior, podemos escrever cos (ωt ) sen (ωt ) = (1/ 2) sen(2ωt ) , assim sendo
ε I
P = − máx máx sen(2ωt )
2
Os valores da função sen(2ωt ) se anulam durante o ciclo. De forma análoga ao indutor, o valor
médio da potência dissipada em um capacitor é também nulo.
Circuito a.c.
Impedância
Fase da corrente
Relação de amplitude
Potência média
Resistor R
R
00
VR = RI
Pméd = ε rms I rms
Indutor L
X L = ωL
-900
VL = X L I
0
capacitor C
X C = 1/ ωC
+900
VC = X C I
0
Tabela 2.1 Circuitos c.a. com gerador
2.6
Circuitos LC Sem Gerador
Figura 2.11 Circuito LC sem gerador. O capacitor está carregado e então a chave S é fechada
Quando um capacitor carregado com uma carga Q é ligado a um indutor L pela chave
S (figura 2.11), uma corrente I flui no circuito. Usando a Lei das malhas de Kirchhoff, podemos
escrever:
dI Q
L
dt
+
C
=
0
Note que os sinais da carga do capacitor e da corrente no circuito foram devidamente
escolhidos. A corrente I pode ser substituída por I = dQ / dt , assim,
d 2Q Q
+ =
0
dt 2 C
d 2Q
 1 
= −
Q
dt 2
 LC 
Temos que achar uma solução matemática para a equação anterior que descreve um
circuito LC, isto é, uma função Q que satisfaça essa equação (denominada equação diferencial de
segunda ordem). Podemos perceber que a segunda derivada de Q em relação ao tempo não é nula.
Portanto, Q tem que ser dependente do tempo t. Assim,
d 2Q(t )
 1 
= −
 Q(t )
dt 2
 LC 
Procuramos uma função de Q ( t ) , tal que a segunda derivada da função seja igual à
função original com um sinal negativo. As funções trigonométricas seno e cosseno mostram esse
comportamento, de maneira que podemos construir uma solução em torno de uma ou de ambas as
funções. Uma sugestão para uma função-solução de x da equação anterior é:
Q ( t ) = Q0 cos (ω0t )
L
Substituindo a função solução e a segunda derivada na equação diferencial de segunda
ordem, temos,
 1 
− w2 Acos (ω0t ) =
−
 Acos (ω0t )
 LC 
30
ω0 2 =
1
LC
ω0 =
1
LC
Isto mostra que Q ( t ) = Q0 cos ( wt ) é uma solução do circuito LC e que a frequência
angular ω0 = 1/ LC . Este resultado mostra que a carga oscila entre os valores de −Q0 e +Q0
com uma frequência angular ω0 . Para determinar a corrente no circuito, temos que
I=
assim,
dQ
dt
Circuitos de
Corrente alternada
I=
−ωQ0 sen (ω0t ) =
− I 0 sen (ω0t )
Os gráficos da tensão e da corrente são mostrados na figura 2.12. Podemos perceber que a
corrente e a carga não estão em fase, mas oscilam com a mesma frequência angular ω0 = 1/ LC .
Figura 2.12 Carga e corrente em um circuito LC
O comportamento de um circuito LC é análogo ao de um sistema massa mola. A indutância
faz o papel da massa, a carga Q faz o papel da posição e o inverso da capacitância fazendo o papel
da constante da mola. Num sistema massa mola, a energia total é constante e adota alternadamente
as formas de energia potencial e de energia cinética. No circuito LC também dois tipos de energia
se alternam, a energia elétrica armazenada no capacitor e a energia magnética armazenada no
indutor. A energia elétrica U e é dada por:
Ue
=
Podemos substituir Q por Q0 cos ( wt ) .
Ue =
A energia magnética armazenada é:
1
1 Q2
QV 2
=
2
2 C
1 Q02
cos 2 (ω0t )
2 C
Um =
1 2
LI
2
Substituindo I por − wQ0 sen ( wt ) , temos,
1
U m = Lw2Q02 cos 2 (ω0t )
2
Como w2 = 1/ LC , temos,
1 1 2 2
Um = L
Q0 sen (ω0t )
2 LC
1 Q02
Um =
sen 2 (ω0t )
2 C
A energia total do sistema é a soma de energia elétrica e da energia magnética, portanto:
U Total
= Ue + Um
1 Q02
1 Q02
cos 2 (ω0t ) +
sen 2 (ω0t )
2 C
2 C
1 Q02
cos 2 (ω0t ) + sen 2 (ω0t ) 
=
U Total
2 C 
Como cos 2 (ω0t ) + sen 2 (ω0t ) é igual a 1, temos,
=
U Total
1 Q02
2 C
Isto quer dizer que a energia total do sistema se mantém constante, não varia com o
tempo. Ainda podemos perceber que a energia total é igual à energia inicialmente armazenada no
capacitor.
U Total =
31
2.7
Circuito RLC Sem Gerador
FÍsiCa gEral iv
Figura 2.13 Circuito RLC
O circuito RL não apresentava uma resistência desprezível. Se esta resistência do sistema
não for desprezível ou se ligarmos um resistor em série com o capacitor e o indutor, teremos um
circuito RLC, como pode ser visto na figura 13. Usando a lei das malhas de Kirchhoff, temos,
dI Q
L + + IR =
0
dt C
Substituindo a corrente I = dQ / dt , temos
d 2Q Q
dQ
+ +R
=
0
2
dt
C
dt
Esta equação é análoga à de um oscilador harmônico amortecido. Aqui a resistência faz o
mesmo papel da força de arraste. A solução da equação anterior é
L
=
Q ( t ) Q0 e
onde
=
w´
 RT 
−

 2L 
cos( w´t + δ )
1
R2
− 2
LC 4 L
A figura 2.14 mostra os gráficos de carga Q(t ) e também da corrente I ( t ) = dQ / dt .
Podemos observar que a amplitude decai obedecendo a uma função exponencial ( e
entanto, o sistema continua oscilando ( cos( w´t + δ ) ).
 RT 
−

 2L 
). No
Figura 2.14 – Corrente e Carga em um circuito RLC
Se a resistência R for pequena, o valor da frequência angular tende a wo = 1/ LC , que é a
frequência angular de um circuito LC (sem resistor). Também para resistência pequena o termo
 RT 
−

 2L 
=
Q ( t ) Q0 cos( wt + δ ) , que é a solução do circuito
tende a 1. Assim, a solução tenderá para
LC sem resistor.
Quando R = 2 L / C , o valor de w será igual a zero. Neste caso, ocorre o chamado
amortecimento crítico (figura 2.15). O sistema não oscila mais, e, ao ser deslocado e liberado,
retorna à posição de equilíbrio sem oscilar.
A condição de R maior que 2 L / C corresponde ao superamortecimento. O sistema não oscila,
porém, retorna à sua posição de equilíbrio mais lentamente que no caso do amortecimento crítico.
e
Figura 2.15 Carga Q em função do tempo em um amortecimento crítico ( R = 2 L / C )
32
2.8
Circuitos RLC Com Gerador
Circuitos de
Corrente alternada
Figura 2.16 Circuito RLC com gerador
A figura 2.16 apresenta um circuito com resistor indutor e capacitor em série com um
gerador de corrente alternada. Este circuito é denominado de RLC. Quando aplicamos a lei das
malhas de Kirchhoff ao circuito RLC, obtemos:
dI Q
− − IR =
0
dt C
onde ω é a frequência desta tensão gerada pelo gerador de corrente alternada.
Como estamos interessados em determinar a corrente I, podemos substituir Q = ∫Idt e
rearranjando, temos,
dI 1
L − ∫Idt − IR =
ε máx cos(ωt )
dt C
A solução desta função é dada por
ε máx
=
I
cos(ωt + δ ´)
Z
onde Z é a impedância e é dada por
2
ε máx cos(ωt ) − L
( XL − Xc )
Z=
e δ ´ é obtida por
+ R2
XL − Xc
R
tan ( δ ´) =
Apesar da aparente complexidade da função da corrente em um circuito RLC, podemos
observar que a corrente oscila na mesma frequência do gerador e que a amplitude máxima da corrente
I máx é determinada pelos valores das reatâncias X L e X C (indutiva e capacitiva) e da resistência R.
I máx =
ε máx
Z
O cálculo da potência média é simples, pois o indutor e o capacitor não dissipam energia.
Deste modo a potência média é fornecida somente ao resistor e é dada por:
1 2
Pméd = I máx
R
2
Usando a relação I rms = I máx / 2 , temos
2
Pméd = I rms
R
Assim, substituído o valor da corrente máxima, temos,
Pméd =
2
ε rms
Z2
R
A impedância total ao quadrado Z 2 é dada por:
2
Z 2 =( X L − X c ) + R 2
Substituindo os valores da indutância indutiva X L = ω L e da indutância capacitiva
X L = 1/ ωC , obtemos,
2
1 

+ R2
Z 2 = ω L −
ωC 

2
L2  2 1 
2
−
Z2 =
ω
 +R
ω 2 
LC 
Em um circuito LC sem gerador, a corrente oscila com uma frequência angular
wo = 1/ LC , que denominaremos de frequência natural do circuito. Portanto,
Z 2=
L2
ω
2
(ω
2
− wo ) + R 2
2
33
Assim sendo, a potência média é dada por:
FÍsiCa gEral iv
Pméd =
2
ε rms
Rω `2
L2 (ω 2 − wo ) + ω 2 R 2
2
O gráfico da potência média fornecida pelo gerador em função da frequência do próprio
gerador é mostrado na figura 2.17 para dois valores de resistência R. Podemos perceber que quando
o valor da frequência do gerador ω se aproxima do valor da frequência natural wo a potência
aumenta. Este aumento da potência em torno da frequência natural é denominado de ressonância.
Podemos perceber ainda pela análise do gráfico da figura 17, que quando a resistência é pequena, o
pico de ressonância é estreito, e quando o valor da resistência aumenta, há um alargamento do pico
de ressonância. O circuito absorve muito mais energia nas proximidades da frequência natural, por
isso o aparecimento do pico de ressonância. Quando a resistência é grande esta absorção acontece
em todas as frequências e o pico de ressonância diminui na sua altura e se alarga. Este alargamento
é determinado pelo parâmetro largura de linha ∆ω , que é a largura do pico medido na metade da
sua altura. A medida da nitidez da ressonância é o fator Q, que é definido como:
Q=
ω0
f
2π E
≈ 0=
∆E ∆f ∆ω
Os circuitos RLC são usados em receptores de rádio. Variando o valor da capacitância, é
possível mudar o valor da frequência natural
do circuito. A ressonância acontece quando a frequência
natural do circuito é igual à frequência usada por uma estação de rádio, que se deseja sintonizar. Na
ressonância existe uma corrente relativamente grande no circuito da antena. Se o fator Q for grande, as
correntes produzidas pelas frequências das outras estações fora da ressonância são muito menores do
que as correntes produzidas pela frequência da estação para a qual o circuito esta sintonizado.
Figura 2.17 Potência média em um circuito RLC com gerador em função da frequência do gerador
Exemplo 3
R 100 Ω , um indutor de 30 mH , um capacitor
Um circuito RLC é construído com um resistor =
de C = 15 µ F e uma fonte com ε max = 10, 6V e freqüência f = 50 Hz . Calcule impedância Z, a
corrente I rms e a potência média Pméd .
Solução:
A relação entre a frequência f e a frequência angular ω é dada por:
ω = 2π f
assim,
=
ω 2=
π ( 50 Hz ) 314 rad / s
A indutância capacitiva é dada por:
X
=
c
1
1
=
= 212 Ω
ωC (314 rad / s )(15 ×10−6 C )
A indutância capacitiva é dada por:
X c ==
ωl (314 rad / s )(30 ×10−3 C ) =
9, 4 Ω
A impedância Z é dada por:
=
Z
( XL − Xc )
2
2
+ R=
( 9, 4 Ω − 212 Ω ) + (100 Ω=
)
2
2
Para calcular a corrente I rms , temos que calcular a tensão rms do circuito
=
ε rms ε=
10, 6=
V / 2 7,5V
max / 2
34
225 Ω
Portanto,
I=
rms
ε rms
7,5V
=
= 0, 0333 A
Z
225 Ω
Circuitos de
Corrente alternada
A potência é dissipada no resistor, assim sendo,
2
Pméd
= I rms
=
R (0, 0333 A) 2 (100 Ω
=
) 0,111W
Transformadores
A tensão produzida por uma hidroelétrica é aumentada para transporte em grandes distâncias,
então, a tensão é baixada para uso doméstico, e em alguns casos é baixada novamente para uso em
alguns equipamentos. Portanto, quando há necessidade e aumentar ou baixar a tensão, usamos um
dispositivo denominado de transformador. A figura 2.18 mostra um transformador simples, no qual
temos duas bobinas que compartilham o mesmo núcleo de ferro. A bobina ligada a uma fonte de
corrente alternada é chamada de bobina primária, enquanto que a outra bobina é denominada de
bobina secundária. O núcleo de ferro tem como função de concentrar a linhas de campo magnético,
aumentar o campo magnético da bobina primária e também fazer com que o fluxo magnético seja o
mesmo para ambas bobinas. O funcionamento do transformador está baseado no fato que a bobina
primária cria um campo variável e induz uma diferença de potencial na bobina secundária.
Figura 2.18 Transformador. Corrente elétrica, fluxo magnético e
diferença de potencial em um transformador
Vamos considerar um transformador com uma tensão CA V1 aplicada na bobina primária
com N1 voltas. A bobina secundária tem N2 voltas. Ignorando as resistências internas, podemos usar
a lei de malhas de Kirchhoff inicialmente na parte da bobina primária do transformador. Assim,
d Φ mag
=
0
V1 − N1
dt
d Φ mag V1
=
dt
N1
temos:
Usando agora a lei de malhas de Kirchhoff na parte da bobina secundária do transformador,
V2 − N 2
d Φ mag
d Φ mag
dt
dt
=
=
0
V2
N2
Como o fluxo magnético é idêntico para as duas bobinas, podemos igualar as funções de
variação do fluxo magnético do lado à bobina primária e da bobina secundária
V1 V2
=
N1 N 2
Portanto, a tensão induzida V2 é dada por:
V2 = V1
•
•
N2
N1
Para o número de voltas no primário maior que no secundário N1 > N 2 , temos que
N 2 N1 < 1 , portanto V1 > V2 . Isto quer dizer que a tensão no secundário é menor que no
primário. Neste caso, temos um transformador abaixador de tensão.
Para o número de voltas no primário menor que no secundário N1 < N 2 , temos que
N 2 N1 > 1 , portanto V1 < V2 . Neste caso, a tensão no secundário é maior que no primário.
Para este caso temos um transformador elevador de tensão.
Quando ligamos uma resistência R aos terminais da bobina secundária, surge no circuito da bobina
secundária uma corrente I 2 . Em função desta corrente I 2 , um fluxo adicional N 2 Φ espira na bobina do
35
FÍsiCa gEral iv
secundário surge. Este fluxo se opõe ao fluxo original. Contudo, a tensão entre os terminais da bobina
primária é determinada pelo gerador c.a., que não depende do circuito secundário, isto é, a variação do
fluxo magnético no primário deve permanecer a mesma, com ou sem a resistência no secundário.
Assim sendo, para manter o fluxo original N1dΦ mag surge uma corrente adicional I1 . Esta corrente
no primário produz um fluxo proporcional à N1I1 . A relação entre a corrente adicional I1 e a corrente
I 2 no secundário é dada por:
N1I1 = − N 2 I 2
onde o sinal negativo vem da defasagem das correntes de 1800. Como N1 N 2 = − I 2 I1 e
N1 N 2 = V1 V2 e utilizando os valores rms, temos,
V1,rms I1,rms = V2,rms I 2,rms
O produto Vrms I rms é igual a potencia média Pméd , por conseguinte,
P1,méd = P2,méd
Logo, desprezando as perdas no próprio transformador a potência de entrada é igual à
potência de saída de um transformador.
Se o número de voltas N1 e N 2 for idêntico, a tensão de entrada é igual à tensão de saída.
Normalmente, transformadores deste tipo são usados para isolar um equipamento da rede.
Exemplo 4
Vamos considerar um transformador com 400 voltas no primário e 800 voltas no secundário.
a) Calcule a diferença de potencial no secundário se aplicarmos uma voltagem ac de 120V
no primário. b) Nesta configuração, o transformador é elevador ou abaixador de tensão? c) Se
invertemos o transformador, e aplicarmos uma tensão de 240 V, qual a tensão de saída? Fazendo
a inversão, o transformador é elevador ou abaixador de tensão?
Solução:
a)Temos que N1 = 400 , N 2 = 800 e V1 = 120V , portanto:
N2
800
120V= 240V
=
V2 V=
1
400
N1
b) Como a tensão aumentou na saída, temos aqui um elevador de tensão.
c) Se invertermos, temos que,
N2
400
=
V2 V=
240V= 120V
1
N1
800
d) Como a tensão diminui na saída, temos aqui um abaixador de tensão.
Na prática, podemos utilizar um transformador que elevador de tensão como um abaixador de
tensão. O que temos de fazer é invertermos a saída e a entrada do transformador.
Exemplo 5
A resistência de um cabo usado em uma linha de transmissão
é igual a 0,02Ω/km. Uma potência de 20kW é necessário passar
por este cabo. Calcule a perda de potência por kilômetro
(efeito Joule) se a tensão for de 100V e se a tensão for de 5kV.
Solução:
Se a transmissão for com uma tensão for de 120V, temos
P 20000W
=
= 166 A
I =
V
120V
A cada kilômetro temos uma resistência de 0,02Ω, assim o efeito Joule é dado por:
2
=
P I=
R 555,5W
Se a transmissão for com uma tensão for de 5000V, temos
P 20000W
=
= 4A
I =
V
5000V
A cada kilômetro temos uma resistência de 0,02Ω, assim o efeito Joule é dado por:
2
=
P I=
R 0,32W
Podemos perceber que a perda quando a tensão é baixa é mais alta do que quando a tensão é alta.
Por isso, a vantagem de usar linhas de transmissão de alta tensão.
36
Exercícios
1) Quais as vantagens da corrente alternada sobre a corrente contínua?
Circuitos de
Corrente alternada
2) Quais são as potências média dissipadas em um indutor, um capacitor e um resistor quando
submetidos a corrente alternada?
3) Quando submetidos a corrente alternada, quais são as diferenças de fases em um indutor,
capacitor e resistor?
4) Um capacitor de 50,0 μF é ligado uma fonte ac de tensão máxima de 120 V. Qual é a amplitude
da corrente se a frequência da fonte for de a) 300Hz e b)1 kHz?
5) Um indutor de 50,0 mH é ligado uma fonte ac de tensão máxima de 120 V. Qual é a amplitude
da corrente se a frequência da fonte for de a) 300Hz e b)1 kHz?
6) Temos um circuito RC, que é construído com um resistor R= 10 Ω , um capacitor de C = 150 µ F
e uma fonte com ε max = 7 V e frequência f = 60 Hz . Calcule indutância capacitiva, a corrente
I rms e a potência média Pméd .
7) Um resistor R= 10 Ω , um indutor de 300 mH , e uma fonte com ε max = 7 V e frequência
f = 60 Hz estão ligados em série (RL) . Calcule indutância indutiva, a corrente I rms e a
potência média Pméd .
8) Um circuito RLC é construído com um resistor R= 10 Ω , um indutor de 300 mH , um capacitor
de C = 150 µ F e uma fonte com ε max = 7 V e freqüência f = 60 Hz .Calcule impedância Z, a
corrente I rms e a potência média Pméd .
9) Um capacitor de C = 150 µ F foi carregado por uma fonte de 10V e depois ligado a um indutor
de 300 mH . Calcule a frequência de oscilação do circuito e a corrente máxima no circuito.
10) Um resistor R= 10 Ω e um indutor de 300 mH em série são ligados a um capacitor de
C = 150 µ F carregado. O capacitor foi carregado por uma fonte de 10V. Calcule a frequência
de oscilação do circuito e determine a equação da carga em função do tempo.
11) Um resistor R= 10 Ω , um indutor de 300 mH , um capacitor de C = 150 µ F estão ligados a
uma fonte de corrente alternada de ε max = 7 V . Calcule a frequência de ressonância e a potência
dissipada na ressonância.
12) A tensão na minha casa é de 120V e tenho um equipamento que funciona com 240 V e uma
corrente de 15 A. Qual deve ser a relação N1 e N2 do transformador? Qual é a corrente de
entrada?
13) A resistência de um fio usado em casa é igual a 0,00327Ω/m. Uma potência de 1000W é
necessário passar por este fio de 20 metros. Calcule a perda de potência (efeito Joule) se a
tensão for de 110V e se a tensão for de 220V.
14) Se você pudesse escolher a tensão (110 ou 220 V) e a frequência (50 ou 60 Hz), qual seria a
sua escolha (justifique)?
37
FÍsiCa gEral iv
Anotações
38
Circuitos de
Corrente alternada
Anotações
39
FÍsiCa gEral iv
Anotações
40
3
3.1
Equações de Maxwell e
Ondas Eletromagnéticas
Corrente de deslocamento, Equações de Maxwell
e ondas Eletromagnéticas.
3.2
velocidade de uma onda Eletromagnética
3.3
Energia de uma onda Eletromagnética
3.4
Momento de uma onda Eletromagnética
3.5
produção e detecção de ondas Eletromagnéticas
3.6
Espectro Eletromagnético
41
FÍsiCa gEral iv
3.
EQUAÇÕES DE MAXWELL E ONDAS ELETROMAGNÉTICAS
3.1
Corrente de Deslocamento, Equações de Maxwell e Ondas Eletromagnéticas.
James Clerk Maxwell (1831 - 1879), grande físico
 escocês, propôsuma série de quatro
equações que relacionam os vetores campo magnético B e campo elétrico E às suas fontes, que
podem ser cargas elétricas, correntes ou campos variáveis. Portanto, elas delineiam, em princípio,
todos os problemas clássicos de eletricidade e magnetismo. Infelizmente, em alguns casos elas
requerem um tratamento matemático sofisticado demais. Mesmo assim, as equações de Maxwell
são de imprescindível valor do ponto de vista conceitual, e a importância delas no eletromagnetismo
é análoga à vista pelas leis de Newton, na mecânica clássica.
No livro anterior foi apresentada uma introdução do eletromagnetismo. A tabela 1 mostra
as equações básicas do eletromagnetismo. Você deve estar se perguntando onde está a lei de
 µ0 
=
Idl × rˆ / r 2 ). Certamente as duas citadas
Coulomb ( F = kQq / r 2 ) e a Lei de Biot e Savart
( dB
4π
são importantes, mas ambas podem ser deduzidas a partir das equações apresentadas na tabela 3.1.
 
1
1)
∫ E.dA = ε
2)
∫ B.dA = 0
S
S
3)
 
d
Bn dA
dt ∫S
= −
∫ B.dl
= µO I
 
Lei de Gauss
Lei de Gauss para o magnetismo
∫ E.dl
C
4)
 
Qno interior
0
Lei de Faraday
Lei de Ampère
C
Tabela 3.1. Lista de equações básicas do eletromagnetismo para meios isotrópicos e não dispersivos (vácuo)
Quando observamos a lista de equações básicas do eletromagnetismo, notamos que as
equações possuem certas similaridades, apesar de assimetrias. Olhando a tabela 3.1, na equação 1,
temos do lado direito a carga elétrica Qno interior , mas na equação 2 não encontramos o correspondente
magnético no lado direito da equação. Essa assimetria se deve ao fato que embora exista centros
de cargas isolados (elétrons, prótons e outros), não foi até hoje observado na natureza centros
magnetismo isolados, os chamados monopólos magnéticos. De tal modo, na Lei de Faraday
(equação 4) observamos do lado direito a corrente elétrica I, mas não encontramos uma corrente
de monopólos magnéticos na Lei de Ampère (equação 3). Essas duas assimetrias nas equações foi
motivação para procurar monopólos magnéticos, coisa que ainda não foi observada.
Ainda na tabela 3.1, podemos observar na lei de Faraday que se há variação do
campo magnético, existe um campo elétrico (equação 3). Na Lei de Ampère, o efeito contrário
correspondente (variação do campo elétrico produz um campo magnético) não é contemplado.
Maxwell apontou uma falha na lei de Ampère. O problema não é só de simetria, mas surge quando
a corrente é descontínua, com no caso de um capacitor. A figura 1 mostra um capacitor sendo
carregado. Tanto as superfícies S1 e S2 são limitadas pela curva C. A corrente que atravessa a
superfície S1 é I, mas a corrente que atravessa a superfície S2 é nula. A Lei de Ampère afirma que
a integral do campo magnético ao longo de qualquer curva fechada é proporcional à corrente
que atravessa qualquer superfície limitada pela curva. Na figura 3.1, vemos um caso em que a
corrente depende da superfície limitada pela curva. Experimentos mostram realmente a existência
de campo magnético produzido em campos elétricos variáveis no interior de um capacitor.
Figura 3.1 Capacitor de placas paralelas e duas superfícies S1 e S2, delimitadas pela curva C (tracejada).
Podemos observar que a corrente passa pela superfície S1, mas não passa pela curva S2
Maxwell sugeriu que a lei de Ampère pode ser generalizada para cobrir todas as situações
somando um outro termo, que chamou de corrente de deslocamento I d , assim definido:
42
Id = ε 0
d Φe
dt
onde Φ e é o fluxo do campo elétrico e a forma generalizada da lei de Ampère fica assim,
Equações de Maxwell e
ondas Eletromagnéticas
 
B
.dl µO ( I + I d )
∫ =
C
 
d Φe
dl µO I + µOε 0
C∫ B.=
dt
Como o fluxo elétrico Φ e =∫En dA
S
 
dl
∫ B.=
C
µO I + µOε 0 ∫En dA
S
Exemplo 1
Considerando o capacitor da figura 1, com 10 cm de lado, sendo carregado, determine o campo
magnético no interior das placas, em um ponto a 2 cm do centro, se a corrente instantânea que
entra na placa positiva é de 2A.
Solução:
Se o capacitor está sendo carregado, a corrente que chega às placas não é constante. Desta forma
o campo elétrico entre as placas varia com o tempo, assim sendo, temos pela lei da Ampère
generalizada um campo magnético entre as placas e paralelo as placas. Usando a lei de Ampère
generalizada, sem corrente (no interior das placas não temos corrente I)
 
dΦ
B
C∫ .dl = µOε 0 dt e
d Φe
dt
O fluxo elétrico Φ e é o produto da área delimitada pelo raio r (π r 2 ) e o campo elétrico entre
as placas E = σ / ε 0 . A densidade de carga σ é igual à carga total dividida pela área das placas
A. Assim,
d (π r 2Q / ε 0 A )
d ( Aσ / ε 0 )
ε
µ
ε
=
B ( 2π r ) µ=
O 0
O 0
B (2π r ) = µOε 0
dt
dt
Somente a carga varia com o tempo e a variação da carga em relação ao tempo é a corrente
( dQ / dt = I ), assim sendo,
µOε 0π r 2 dQ µOπ r 2
B ( 2π r ) =
I
=
A
ε 0 A dt
=
B
µO r
=
I 2,5 ×10−6 T
2A
Com a modificação da Lei de Ampère, Maxwell resumiu o comportamento dos campos
elétrico e magnético, bem como suas interações com a matéria, em um grupo de quatro equações,
vistos na tabela 3.2. Este grupo é denominado de Equações de Maxwell, assim chamadas em honra
de James Clerk Maxwell, e funciona em meios isotrópicos e não dispersivos (vácuo).
1)
C
2)
3)
4)
 
1
 
0
∫ E.dA = ε
∫ B.dA = 0
C
Qno interior
  d
C∫ E.dl − dt ∫S Bn dA
 
d
dl µO I + ε O µO ∫En dA
C∫ B.=
dt S
Lei de Gauss
Lei de Gauss para o magnetismo
Lei de Faraday
Lei de Ampère-Maxwell
Tabela 3.2 Equações de Maxwell para meios isotrópicos e não dispersivos (vácuo).
43
FÍsiCa gEral iv
A lei de Gauss garante que o fluxo do campo elétrico ( Φ =∫ En dA ) através de qualquer superfície
C
fechada é proporcional à carga no interior dessa superfície.
Por sua vez, a lei de Gauss para o magnetismo afirma que o fluxo do campo magnético através
de uma superfície fechada é nulo. Ela é uma consequência da não existência de pólos magnéticos
isolados.
A lei de Faraday relaciona a integral do campo elétrico ao longo de qualquer curva fechada e
o negativo da taxa de variação do fluxo do campo magnético através de qualquer superfície
fechada é nulo.
Lei de Ampère-Maxwell ou Ampére generalizada mostra que a integral do campo magnético ao
longo de qualquer curva fechada é igual à soma de dois termos: o primeiro é o proporcional à
corrente que atravessa qualquer superfície limitada pela curva: o segundo é o proporcional à taxa
de variação do fluxo do campo magnético através da mesma superfície.


Em meios anisotrópicos e dispersivos,
os campos E e B da Lei de Gauss e a Lei de


Ampère-Maxwell são relacionados D e H por:




D = ε E e H = µB
onde:

D é o campo elétrico de deslocamento ou densidade superficial de campo elétrico (unidade SI:
coulomb
por metro quadrado),

H é a intensidade de campo magnético (unidade SI: ampère por metro),
ε é a constante dieléctrica ou permissividade elétrica,
μ é a permeabilidade magnética,
 
1)
Lei de Gauss
∫ D.dA = Qno interior
S
2)
S
3)
4)
 
∫ B.dA = 0
 
d
Bn dA
d
t ∫S
C
 
d
C∫ H .dl = I + dt ∫S Dn dA
∫ E.dl
= −
Lei de Gauss para o magnetismo
Lei de Faraday
Lei de Ampère-Maxwell
Tabela 3.3 Equações de Maxwell para meios anisotrópicos e dispersivos
Figura 3.2 a) Lei de Faraday - variação do fluxo magnético induz um campo elétrico. b) Lei de
Amperè-Maxwell sem corrente elétrica - variação do campo elétrico produz um campo magnético.
c) Lei de Faraday e Lei de Amperè-Maxwell sem corrente elétrica - variação do fluxo magnético
induz um campo elétrico que por sua vez produz um campo magnético
A implicação das equações de Maxwell é que os campos elétricos e magnéticos induzem
os outros (figura 3.2). Este efeito pode ser bastante semelhante ao fato que uma compressão de gás
44
gera uma pressão e por sua vez faz uma deformação da área circundante (compressão). Maxwell
questionou, portanto, se não existe uma onda eletromagnética, análoga à onda mecânica, e quais as
características que ela deva ter. Para analisar isto, aqui vamos considerar uma onda progressiva na
direção x. O campo elétrico deve depender do tempo e do espaço no eixo x, assim,
Equações de Maxwell e
ondas Eletromagnéticas
 x
E E0 senw  t − 
=
 v
onde w é a frequência e v é a velocidade da onda.
Como resultados das equações de Maxwell temos:
x

E E0 senw  t −  , dependente do tempo, induz um campo magnético, também
=
- O campo elétrico
 v
dependente do tempo.
- Este campo magnético deve estar perpendicular ao campo elétrico.
- O campo magnético e elétrico estão em fase, isto é tem os valores máximos e mínimos nas
mesmas posições.
Usando estes resultados das equações de Maxwell, podemos intuir que o campo magnético
de uma onda eletromagnética é
 x
B B0 senw  t − 
=
 v
A figura 3.3 mostra os vetores campo elétrico e campo magnético de um modelo de onda
eletromagnética
Figura 3.3 Vetores campo elétrico e campo magnético de uma onda eletromagnética
3.2
Velocidade de uma Onda Eletromagnética
Figura 3.4 Onda eletromagnética passando por dois retângulos de altura h e base dx.
A alteração do fluxo do campo elétrico no retângulo da figura (a) induz um campo magnético.
Ao mesmo tempo, a variação do campo magnético no retângulo da figura (b) induz um campo elétrico
A variação do fluxo do campo magnético da figura 3.4b induz um campo magnético,
portanto,
 
dΦB
(lei de Faraday)
E.dl = −
∫
dt
C
 
∫ E.dl
sobre um caminho retangular de base dx



e altura é hda figura 4a. Nas bases de tamanho dx , o campo elétrico E é perpendicular a dx ,
assim, E.dx = 0 . Fica somente a contribuição dos lados de altura h, assim,
Escolhemos fazer a integral de caminho
C
 
∫ E.dl = ( E + dE ) h − Eh = hdE
C
45
FÍsiCa gEral iv
Considerando que o campo magnético B é constante dentro do retângulo de lados h e dx,
o fluxo magnético é dado por,
ΦB =
B(hdx)
 
Substituindo o fluxo magnético Φ B e a integral de ∫ E.dl na lei de Faraday, temos,
C
dB
dt
dE
dB
= −
dx
dt
hdE = −hdx
 x
 x
E E0 senw  t −  =
=
B B0 senw  t −  , assim
Como
e
v


v

dB
 x
= B0 wcosw  t −  , deste modo,
dt
 v
w
 x
 x
E0 cosw =
t −  B0 wcosw  t − 
v
 v
 v
dE
w
 x
=
− E0 cosw  t − 
dx
v
 v
e
E0
=v
B0
Fazendo um procedimento análogo para a figura 3.4a, onde a variação do campo elétrico
induz um campo magnético, devemos usar aqui a lei de Amperè-Maxwell. Como não temos
corrente elétrica I, a lei de Amperè-Maxwell fica,
 
dΦ
C∫ B.dl = ε O µO dt E
Escolhemos fazer a integral de caminho
 
B
∫ .dl sobre um caminho retangular de base dx e

 C

dx
altura
é
h
da
fi
gura
6b.
Nas
bases
de
tamanho
, o campo elétrico B é perpendicular a dx , assim,
 
B.dx = 0 . Fica somente a contribuição
  dos lados de altura h, assim,
B
− ( B + dB ) h + Bh =
−hdB
∫ .dl =
C
Considerando que o campo magnético E é constante dentro do retângulo de lados h e dx,
o fluxo elétrico é dado por,
ΦE =
E (hdx)
Substituindo a integral de
 
dΦ
C∫ B.dl = ε O µO dt E , temos,
 
B
∫ .dl e o fluxo elétrico Φ B na lei de Amperè-Maxwell
C
dE
dt
dB
dE
−
=
ε O µO
dx
dt
−hdB =
hdx
 x
 x
B B0 senw  t −  =
=
Como
e E E0 senw  t −  , portanto

dE
 x
= E0 wcosw  t −  , logo,
dt
 v
− B0
v

v
dB
w
 x
=
− B0 cosw  t − 
dx
v
 v
e
w
 x
 x
cosw
=
 t −  ε O µO E0 wcosw  t − 
v
v


 v
E0
1
=
B0 ε O µO v
Usando o resultado anterior
E0
= v , temos,
B0
1
v=
ε O µO v
1
v=
ε O µO
Esta equação descreve a velocidade de onda eletromagnética e é função da constante
dieléctrica ou permissividade elétrica no vácuo ε O e da permeabilidade magnética no vácuo µO
ε O 8,85 ×10−12 C 2 / N .m 2 e µ=
4π ×10−7 Ns 2 / C 2 , obtemos,
. Substituindo os valores tabelados de =
O
1
=
v = 299863380m / s
−12 2
(8,85 ×10 C / N .m 2 )(4π ×10−7 Ns 2 / C 2 )
46
A velocidade das ondas eletromagnéticas no espaço livre é denominada frequentemente
por c, assim sendo,
c = 299863380m / s
Foi uma incrível fusão de toda a óptica na eletrodinâmica. A primeira demonstração
satisfatória veio com Heinrich Hertz, em 1880, quinze anos depois que Maxwell havia predito
teoricamente. Hertz construiu um aparelho para produzir e detectar ondas de rádio VHF ou UHF,
como mostrado na figura 3.5
Equações de Maxwell e
ondas Eletromagnéticas
Figura 3.5 Descoberta das ondas eletromagnéticas por Heinrich Hertz
3.3
Energia de uma Onda Eletromagnética
A energia é descrita por sua intensidade e o momento por unidade de tempo e por unidade
de área é denominada pressão de radiação.
A intensidade I é igual a potência média Pméd por unidade de área A perpendicular a
propagação da onda, assim,
P
I = méd
A
A potência média de uma onda é:
Pméd =
( ∆E )med
∆t
A taxa temporal da energia é igual ao produto entre a densidade média da energia uméd e
o volume. O produto entre a área A e a velocidade da onda é igual ao volume, assim sendo,
Pméd = uméd Av

P

Portanto, a intensidade de uma onda eletromagnética  I = méd  é igual ao produto da
A 

velocidade c pela densidade média da energia uméd , assim
I = c uméd
A densidade de energia total de uma onda eletromagnética é a soma das densidades de
energia do campo elétrico e do campo magnético (ver quadro abaixo), portanto,
1
B2
u = ue + u m = ε 0 E 2 +
2
2 µ0
47
FÍsiCa gEral iv
Densidades De Energia Do Campo Elétrico
Para um capacitor de Placas paralelas temos que a capacitância C = ε 0 A / d e o campo elétrico
é relacionado com o potencial por V = Ed , assim, a energia é dada por:
=
U
1
1  ε0 A 
1
1
2
=
CV 2
Ed )
ε 0 E 2=
( Ad ) ε 0 E 2V

 (=
2
2 d 
2
2
U 1
1
energia por volume=
ue
ε 0 E 2 →=
ε0E2
V 2
2
Densidades De Energia Do Campo Magnético
Para um solenóide, o campo magnético é correlacionado com a corrente por B = µ0 nI e a auto
indutância é L = µ0 n 2 Al , portanto a energia é:
2
 B 
1 2 1
B2
B2
U =
LI
V
=
=
µ0 n 2 Al  =
( Al )

2
2
2 µ0
2 µ0
 µ0 n 
U
B2
B2
energia por volume =
→ um=
V 2 µ0
2 µ0
assim,
Como B = E / c para uma onda eletromagnética no espaço livre e c 2 = 1/ (ε 0 µ0 ) ,
( E / c ) =1 ε E 2 + ε 0 µ0 ( E ) =1 ε E 2 + 1 ε E 2
1
u = ε0E2 +
0
0
0
2
2 µ0
2
2 µ0
2
2
2
2
u = ε0E2
Utilizando as relações
E = cB e c =
1
, podemos estabelecer a densidade de
ε O µO
energia total de uma onda eletromagnética de várias formas:
B 2 EB
2
u ε 0 E=
=
=
µ0 µ0 c
Esta relação nos define a densidade de energia e para calcular a intensidade precisamos da
densidade média de energia. Para obter a densidade média de energia de uma onda eletromagnética,
podemos substituir os valores instantâneos dos campos elétrico e magnético por seus valores
rms (valores médios quadráticos), isto é Erms = E0 / 2 e Brms = B0 / 2 . E0 e B0 são os
valores máximos dos campos. Como a intensidade de uma onda eletromagnética I = c uméd , temos,
=
I c=
uméd

Erms Brms 1 E0 B0
=
= S
méd
2 µ0
µ0

S é chamadode vetor de Poyting, onde o valor médio do módulo é a intensidade e a
direção e o sentido de S são a direção e sentido de propagação da onda.
vetor de Poyting
3.4
 
 E×B
S=
µ0
Momento de uma Onda Eletromagnética
As ondas eletromagnéticas possuem momento. Vamos considerar uma onda
eletromagnética quese choca
 com uma partícula estacionária de carga +q. Inicialmente, a partícula
sentirá uma força =
F qE
= qEjˆ e, portanto, será acelerada na direção positiva do eixo y pelo
campo elétrico. A velocidade alcançada por ação do campo elétrico é dada por:

v
=
por:
48
at ) ˆj
(=
 qE  ˆ
t j

 m 
Quando a carga está se movendo na direção do eixo y, sentirá uma força magnética dada

 q 2 EB  ˆ
 
Fm = qv × B = q ( v ) ˆj × ( B ) kˆ = ( qvB ) iˆ = 
t i
 m 

Podemos observar que a direção e sentido da força Fm é na mesma direção e sentido da
propagação da onda. Quando o campo elétrico muda de direção a partícula mudará de direção e
será acelerada na direção negativa do eixo y. Portanto,

v=
( at ) ( − ˆj=)
Equações de Maxwell e
ondas Eletromagnéticas
 qE  ˆ
t − j

 m 
( )
O campo magnético também mudará sentido, assim sendo, a partícula sentirá uma força
dada por:
2

 q EB  ˆ
 
Fm = qv × B = q ( v ) − ˆj × ( B ) −kˆ = ( qvB ) iˆ = 
t i
m 


Observamos que a direção e sentido da força Fm não muda de direção e é na mesma
( )
( )
direção e sentido da propagação da onda. Resumindo, o campo elétrico faz com que a partícula
oscile na direção do campo elétrico, este movimento oscilatório em interação com o campo
magnético resulta em uma força na direção e sentido da propagação
da onda eletromagnética.

Como força é igual à variação temporal do momento linear p . Este momento linear associado à
onda tem a mesma direção de propagação da onda magnética e é dado por:
p=
U
c
onde U é energia associada à onda. Como a intensidade é a energia por unidade de tempo e por
unidade de área, a intensidade dividida por c é o momento linear associado à onda por unidade
de tempo e área. Momento por unidade de tempo equivale à força. A intensidade dividida por c é
por conseguinte uma força por unidade de área, ou seja, uma pressão. Esta pressão é a pressão de
radiação Pr , que é dada por:
I
Pr =
c
Como a intensidade de uma onda eletromagnética é dada por:
I=
1 E0 B0
2 µ0
Temos que a pressão de radiação Pr pode ser escrita como:
I EB
Pr= = 0 0
c 2 µ0 c
Relações entre campo elétrico e
campo magnético em uma onda
eletromagnética
E
E0
1
e 0 = v= c
=
B0 ε O µO v B0
E0 e B0 são os valores máximos de E e B
Velocidade de uma onda
eletromagnética
Densidade de energia
Intensidade de uma onda
eletromagnética
c=
1
ε O µO
B 2 EB
=
µ0 µ0 c
2
u ε 0 E=
=
=
I c=
uméd
Erms Brms 1 E0 B0
=
2 µ0
µ0
E0 e B0 são os valores máximos de E e B
 
 E×B
S=
Vetor de Poyting
µ0
Momento linear de uma onda
eletromagnética
p=
Pr =
Pressão de radiação
U
c
I
c
Tabela 3.3 Onda eletromagnética
49
FÍsiCa gEral iv
Exemplo 2
Qual é a pressão de radiação, o campo magnético e o campo elétrico a 2 metros de uma lâmpada
de 100W. Considerar que toda a potência seja emitida em ondas eletromagnéticas e que a emissão
seja isotrópica.
Solução:
Como a emissão é isotrópica (igual em todas as direções), a intensidade I é igual a potencia
dividida pela área A.
=
I
A pressão de radiação é dada por:
Pr=
O campo magnético é:
100W
= 1,989W / m 2
4π r 2
I 1,989W / m 2
=
= 6, 63 ×10−9 Pa
c 3 ×108 m / s
Bo =
2 µ0 Pr =
2(4π ×10−7 Tm / A)(6, 63 ×10−9 Pa ) =
1,3 ×10−7 T
O campo elétrico é
3.5
Eo ==
cB0 (3 ×108 m / s )(1,3 ×10−7 T ) =
38, 72V / m
Produção e Detecção de Ondas Eletromagnéticas
b)
a)
c)
t=0
d)
t=1/4T
t=1/8T
t=3/8T
e)
t=1/2T
Figura 3.6 A antena do tipo dipolo elétrico é constituída por duas barras condutoras. No instante t=0, as
barras estão carregadas e há um campo elétrico entre elas. No t = 1/8T (onde T é o período completo), as
barras começam a se descarregar e o campo elétrico diminui. Como há mudança do campo elétrico existe um
campo magnético, perpendicular ao campo elétrico. Em t = 1/4T, as barras estão descarregadas e o campo
elétrico é nulo. A partir daí, a carga inverte e o campo magnético é negativo. Em t = 3/8T, o campo aumenta
negativamente, e, em t = 1/2T, a carga é máxima nas barras e o campo é máximo negativamente. A variação
do campo elétrico cria o campo magnético, que é perpendicular ao campo elétrico e não foi desenhado aqui
50
a)
b)
c)
d)
Equações de Maxwell e
ondas Eletromagnéticas
e)
Figura 3.7 Emissão de onda eletromagnética devido ao movimento de um dipolo elétrico. O dipolo elétrico
oscila, aumentando a sua distância entre a) e c) e diminui a distância entre c) e e). Como existe um movimento
do dipolo elétrico, o campo elétrico não é constante, portanto, existe a formação de um campo magnético,
representado nas figuras por pontos • (campo magnético saindo do plano da página) e por cruzes × (campo
magnético entrando no plano da página)
As ondas de rádio são obtidas quando correntes elétricas circulam nas antenas transmissoras.
A frequência das ondas emitidas é idêntica à frequência da corrente elétrica uma antena de rádio
do tipo dipolo elétrico é mostrado na A figura 3.6. A figura mostra o desenvolvimento do campo
elétrico conforme as barras são carregadas e descarregadas em função da corrente elétrica aplicada.
Em função da mudança do campo elétrico, o campo magnético também se desenvolve, mas não é
mostrado na figura 3.6. Os campos magnéticos e elétricos oscilam em fase e são perpendiculares à
direção de propagação da onda.
A desaceleração de elétrons ao se chocarem com um alvo produz um espectro contínuo de
raios X. Acompanhando o espectro contínuo, algumas linhas bem definidas podem ocorrer, que são
produzidas quando os elétrons acelerados têm energia suficiente para retirar elétrons das camadas
mais internas do alvo.
Quando um campo magnético muda a direção do vetor velocidade de elétrons ou
prótons em altas velocidades é produzido também ondas eletromagnéticas. Esta radiação é
denominada de radiação sincrotron. Comprimentos de onda produzidos em um sincrotron vão
desde o infravermelho até raios gama (ver tabela 2). O sincroton do Laboratório Nacional de Luz
Sincrotron, em Campinas, Brasil, é capaz de produzir ondas eletromagnéticas com o comprimento
−11
de onda de até 5 × 10 m . Este equipamento é utilizado para pesquisa básica, principalmente
na física, química, materiais, biologia e farmácia, e também pelas indústrias, especialmente no
controle e desenvolvimento.
Movimento de cargas devido ao calor em moléculas também resulta na emissão de ondas
eletromagnéticas. Este processo de movimento de cargas é muito parecido com o visto na figura 3.7.
A luz visível é obtida por transições eletrônicas dos átomos. Espalhamento elástico,
Espalhamento inelástico ou Raman, absorção ressonante, fluorescência, efeito foto elétrico,
espalhamento Compton e emissão estimulada são algumas das transições eletrônicas responsáveis
pela emissão de radiciação eletromagnética pelos átomos em materiais.
A figura 3.8 mostra uma antena de ondas de rádio e dois processos de detecção. O campo
magnético oscilante da onda eletromagnética passando, perpendicularmente, por uma antena
circula induz uma corrente com a mesma frequência da onda eletromagnética. O campo elétrico
oscilante da onda eletromagnética paralelo à antena dipolar induz uma diferença de potencial na
antena.
51
a)
FÍsiCa gEral iv
b)
Figura 3.8 a) antenas do tipo circular e b) antena do tipo dipolar


Em uma onda eletromagnética o campo
 elétrico E e o campo magnético B são
perpendiculares entre si, e os dois campos E e B são perpendiculares à direção de propagação
em espaço livre. A relação entre os campos em uma onda eletromagnética é dada por:
E = cB
onde c = µ0ε 0 é a velocidade da onda no vácuo. A direção de propagação da onda eletromagnética
  
é dada pelo vetor de Pointing, assim,
S= E × B
Exemplo 3
Uma antena é construída por uma espira de 10 cm de raio é usada para detectar ondas
eletromagnéticas com intensidade de 2 × 10−5 W / m 2 . Calcule o valor rms da tensão induzida
na antena se a frequência f é 500 kHz e 500 MHz.
Solução:
A relação entre a intensidade e os campos é
I=
1 E0 B0
2 µ0
Substituindo E0 = cB0 e colocando B0 em evidência, temos,
B=
0
2 µ0 I
=
c
2(4π ×10−7 Tm / A) *(2 ×10−5 W / m 2 )
= 4,1×10−10 T
c
O valor do campo magnético rms é
=
Brms
B0 4,1×10−10 T
=
= 2,9 ×10−10 T
2
2
Considerando que o plano da antena está paralela ao campo magnético B, o fluxo
ΦB =
BA . A área da antena A é constante e só o campo B varia com o tempo. Portanto, a tensão
induzida é dada por:
dΦB
 dB 
ε rms =
π r 2 (2π fBrms )
=
A =

dt
 dt  rms
Para 500 kHz, temos,
e para 500 MHz, temos,
52
ε rms
= π r 2 (2π fBrms=
) 2,8 ×10−5V
ε rms
= π r 2 (2π fBrms=
) 2,8 ×10−2 V
3.6
Espectro Eletromagnético
A diferença entre ondas de rádio, microondas, luz visível, raios X e raios gama está no
comprimento de onda. O produto entre o comprimento de onda e a frequência é igual à velocidade
da luz. A tabela 3.4 mostra o espectro magnético e os nomes usados para cada faixa de comprimento
de onda ou freqüência. Essas faixas não tem limites bem definidos e às vezes se superpõem. Ondas
de comprimento por volta de 0,1 nm são normalmente denominadas de raios X, mas se forem
produzidas por material radioativo são chamadas de raios gama.
O olho humano é sensível à faixa da luz visível, que incluem ondas eletromagnéticas com
comprimentos de onda na faixa de 400 a 700nm. As diferentes cores percebidas pelo olho humano
estão conectadas a diferentes comprimentos de onda na faixa da luz visível. Em principio é possível
produzir qualquer comprimento de onda. A interação entre as ondas eletromagnéticas e a matéria
em princípio depende do comprimento de onda. Por exemplo, os raios X têm comprimento de onda
pequeno e penetram em materiais que são opacos às ondas da luz visível. Os processos de absorção
ressonante são também extremamente importantes na interação das ondas eletromagnéticas e
a matéria, onde a energia da onda eletromagnética é idêntica a alguma energia de transição no
material (eletrônica ou nuclear).
Equações de Maxwell e
ondas Eletromagnéticas
Tabela 3.4 O espectro eletromagnético
53
FÍsiCa gEral iv
Exercícios
1) Em uma região o campo elétrico é dado por E = (5V / m)sen [ (1000 Hz) t ] . Calcule a corrente

de deslocamento máxima em uma área de 0,0001 m2 perpendicular ao campo elétrico E .
2) Considerando o capacitor da abaixo, com duas placas circulares de 10 cm de diâmetro de lado,
sendo carregado, determine o campo magnético no interior das placas, em um ponto a 3 cm do
centro, se a corrente instantânea que entra na placa positiva é de 2 A.
3) Calcule a corrente de deslocamento no capacitor do exercício anterior
4) Prove que a corrente de deslocamento I d = CdV / dt para um capacitor de placas paralelas,
onde V é a tensão entre as placas e C é a capacitância.
5) Uma antena é construída por uma espira de 20 cm de raio é usada para detectar ondas
eletromagnéticas de campo elétrico de 0, 05V / m . Calcule o valor rms da tensão induzida na
antena se a frequência f é 700 MHz.
6) Qual é a pressão de radiação, o campo magnético e o campo elétrico a 3 metros de uma holofote
de 1000W. Considerar que toda a potência seja emitida em ondas eletromagnéticas em um
ângulo sólido de 600.
7) Um astronauta de 100 kg se encontra no espaço e deseja voltar a sua espaçonave, que está a 3
metros de distância. Ele só tem um laser de 3 kW. Como ele volta e quanto tempo demora para
voltar.
8) Uma onda eletromagnética tem uma intensidade de 10 W/m2. Calcule a pressão de radiação, o
valor do campo elétrico (rms) e do campo magnético (rms).
9) Um laser de 3500W com um feixe de 1 mm de raio incide verticalmente sobre um pequeno
objeto refletor. Determine a massa do objeto para que ele fique flutuando.
10) Quais as ondas eletromagnéticas que tem o maior comprimento de onda?
11) Qual é a frequência de uma microonda de 3,5 cm?
54
Equações de Maxwell e
ondas Eletromagnéticas
Anotações
55
FÍsiCa gEral iv
Anotações
56
4
Óptica Geométrica
4.1
introdução histórica
4.2
Corpos, Fontes, raios e Feixes
4.3
a velocidade da luz
4.4
princípios da Óptica geométrica
4.5
reflexão da luz
4.6
reflexão e a Cor dos objetos
4.7
reflexão regular da luz
4.8
Índice de refração
4.9
refração da luz
4.10
reflexão interna total
4.11
dispersão da luz Branca
57
FÍsiCa gEral iv
4.
ÓPTICA GEOMÉTRICA
4.1
Introdução Histórica
A luz tem uma importância enorme para o ser humano, inclusive, tem grande papel em
todas as crenças religiosas. Em torno de 600 a.C., Isa Upanishad (Índia) escrevia: “Há mundos
assombrados pelos demônios, regiões de absoluta escuridão”.
Grande parte de nosso conhecimento sobre o meio ambiente nos chega através do sentido
da visão. Com os olhos podemos apreciar a cor verde das florestas, o azul celeste e dos lagos, as
várias cores de um arco-íris, as inúmeras cores de casas e prédios de uma cidade. A sensação de
ver os objetos ao nosso redor é provocada por uma forma de energia radiante capaz de provocar
sensações visuais, denominada de luz ou energia luminosa.
Com relação ao nosso sentido da visão, desde a Antiguidade, os filósofos como Platão
e Aristóteles já indagavam a respeito da luz e como conseguíamos ver os objetos à nossa volta.
Platão dizia que nossos olhos emitiam partículas que, ao atingirem os corpos, os tornavam
luminosos e visíveis. Era uma afirmação ousada para a época, mas incorreta, pois se assim fosse,
poderíamos ver no escuro. Aristóteles tratava a luz como se fosse um fluido imaterial, propagandose entre o olho e o objeto visto, com velocidade muito grande. Muitos estudiosos da antiguidade
contribuíram para o estudo da luz e das sensações visuais, dentre eles, destacamos: Tales de Mileto,
Anaximandro, Pitágoras, Euclides, Arquimedes. Aliás, Euclides (325 a.C. a 265 a.C.) estudou a
óptica dos espelhos esféricos, matéria constante de sua obra “Catroptics”, datada de 300 a.C. e
também escreveu “Os elementos”, obra padrão de Geometria por mais de 2000 anos.
A reflexão da luz já era conhecida e utilizada muito antes da história escrita, como evidencia
a descoberta arqueológica nas pirâmides do Egito, de um espelho datado de 1900 a.C. A Bíblia,
no livro do Êxodo, de cerca de 1200 a.C., registra que Bezalell, por ordem de Moisés, construiu
e decorou um tabernáculo com ofertas feitas pela comunidade, e dentre elas, havia “espelhos de
mulheres”. Leonardo da Vinci, por volta de 1500, percebendo a semelhança entre a reflexão da luz
e o fenômeno do eco, levantou a hipótese de que a luz, assim como o som, poderia ser um tipo de
movimento ondulatório Tal hipótese ficaria conhecida mais tarde como teoria ondulatória da luz.
Mas, o conhecimento formal de ótica está relatado na história da segunda guerra púnica
entre romanos e cartaginenses. Consta que Cartago, cidade do norte da África, estava em guerra
contra o Império Romano e, Siracusa, cidade fundada pelos gregos na ilha italiana de Sicília, aliouse aos cartaginenses. Segundo os historiadores gregos da época, ao tentarem destruir Siracusa,
os romanos se depararam com um conjunto de “espelhos ardentes” que provocavam incêndios
nas velas das galeras romanas utilizando da concentração de raios solares. Tais espelhos foram
construídos por Arquimedes (287 a.C. a 212 a.C.), matemático e engenheiro grego, autor do livro
“Ensaios sobre Óptica Geométrica”, conhecedor da óptica dos espelhos esféricos, já desenvolvida
por Euclides.
Com relação às lentes, consta a descoberta de uma lupa de quartzo de 10 dioptrias nas ruínas
do palácio do rei Senaqueribe (708 a.C a 581 a.C), da Assíria. Os chineses, que já conheciam a técnica
de fabricação de vidro desde o século VI a.C., também conheciam e fabricavam lentes de aumento e
diminuição, além de vidros “queimadores”, ou seja, lentes de aumento para fazer fogo com auxílio
da luz solar. Nas ruínas romanas de Pompéia, cidade romana destruída pelo vulcão Vesúvio em 79
d.C., foi encontrada uma lente plano-convexa. Os romanos também conheciam a técnica de construir
vidros “queimadores”, como relata o historiador Plínio, o Velho (23 a.C. a 79 d.C.).
O Império Romano já utilizava lentes para corrigir certos defeitos da visão. As lentes
corretoras são componentes de óculos, mesmo os mais rudimentares, o que implica dizer que, os
romanos já conheciam a refração da luz, que é a base para o funcionamento das lentes. São prováveis
que a miopia, a hipermetropia e a presbiopia sejam os defeitos corrigidos, visto utilizarem lentes
divergentes e convergentes.
Séculos se passaram sem grandes novidades, até que ocorreu o grande salto da história da
óptica, em 1608, na Holanda, com a invenção do telescópio refrator (luneta astronômica). Ficando
sabendo da novidade, Galileu Galilei adquiriu um aparelho, logo depois o aperfeiçoando. Com
ele, aprofundou seus conhecimentos de Astronomia, descobrindo montanhas e crateras na Lua,
algumas luas de Júpiter, as fases de Vênus, contribuindo enormemente para a derrocada da teoria
de que tudo girava em torno da Terra (Geocentrismo). Também tentou medir a velocidade da luz,
através de seu método de duas lanternas, pois não acreditava que a velocidade da luz fosse infinita,
como era apregoado na época. Não obteve resultados satisfatórios, pois não havia forma de medir
a diferença temporal entre os pulsos de luz das lanternas.
No campo da Óptica, Isaac Newton (1644-1727) desenvolveu o telescópio de reflexão
e em sua obra “Nova teoria sobre a luz e o calor” (1672), e, em Optiks (1704), discorre sobre a
natureza da luz e uma teoria sobre as cores dos corpos e a dispersão da luz branca. Até o começo
do século XIX, a maioria dos cientistas, inclusive Newton, achava que a luz era constituída por
um fluxo contínuo de partículas emitidas por uma fonte. De acordo com esse modelo, as partículas
de luz emitidas pelo corpo estimulavam o sentido da visão ao adentrarem no olho. Tal teoria ficou
conhecida como modelo corpuscular da luz, que teve seu maior idealizador, o próprio Newton. Ela
conseguia explicar alguns fenômenos simples, como a reflexão e a refração da luz, mas apresentava
problemas ao tentar explicar a difração e interferência.
Ainda em vida, Newton viu surgir um novo modelo sobre a natureza da luz. O novo modelo
58
considerava a luz como tendo propriedades semelhantes às das ondas longitudinais, como as do som.
Em 1678, Christiaan Huygens (1629-1695), físico e astrônomo holandês, demonstrou que o modelo
ondulatório também explicava a reflexão e refração da luz, mas encontrava dificuldades em explicar
a propagação da luz do Sol até a Terra sem a necessidade de um meio específico, já que todas as
ondas então conhecidas (som, ondas em água) se propagavam em um meio material. Além do mais,
muitos cientistas argumentavam que, se a luz apresentasse comportamento ondulatório, ela deveria
contornar obstáculos (difração), o que parecia não acontecer. Embora a difração da luz já tivesse sido
apresentada experimentalmente por Francesco Grimaldi (1618-1663) em 1663, portanto bem antes da
teoria Newtoniana corpuscular da luz, vários cientistas não aceitaram a teoria ondulatória da luz por
mais de um século, talvez, pelo grande prestígio que Newton possuía entre os pensadores da época.
Em 1801, Thomas Young (1775-1829), propiciou a primeira demonstração experimental da
natureza ondulatória da luz, demonstrando que, sob certas condições apropriadas, a luz apresentava
comportamento de interferência, ao somar-se a anular-se num certo ponto do espaço, quando emitidas
por única fonte em trajetórias distintas. Tal fato não podia ser explicado pela teoria corpuscular da luz
porque duas partículas, emitidas por uma mesma fonte em direções distintas, não poderiam juntarse e anular-se umas às outras. Vários anos depois, Augustin Fresnel (1788-1827) realizou vários
experimentos sobre interferência, consolidando ainda mais o modelo ondulatório. Segundo o modelo
corpuscular da luz, a velocidade da luz deveria ser maior na água do que no ar como consequência
da força de atração da água ser maior do que a do ar. Em 1850, Jean Foucault (1819-1827), mostrou
que a velocidade a luz era menor nos líquidos e nos vidros do que no ar, derrubando uma das bases
de sustentação da teoria corpuscular da luz. Durante o século XIX, outros experimentos vieram
confirmar a visão ondulatória da luz em detrimento da visão corpuscular.
Em 1865, James Clerk Maxwell (1831-1879) apresentou um trabalho onde confirmava
o caráter ondulatório da luz e, além do mais, também apresentava a luz como uma forma de
onda eletromagnética de alta frequência. Em 1888, Heinrich Hertz (1857-1894), confirmou
experimentalmente a teoria de Maxwell, produzindo e detectando ondas eletromagnéticas. Hertz
e outros cientistas também apresentaram experimentos mostrando que tais ondas apresentavam
reflexão, difração e todas as outras características inerentes ao modelo ondulatório.
Embora o modelo ondulatório, que tratava a luz uma onda eletromagnética de alta
frequência, explicasse a maioria das propriedades ondulatórias, alguns fenômenos não podiam ser
explicados pela proposta ondulatória. A emissão e a absorção da luz não podiam ser explicadas
utilizando-se a teoria ondulatória, principalmente o efeito fotoelétrico, descoberto por Hertz, mas
solucionado por Max Planck (1858-1947) e Albert Einstein (1879-1955), em 1906.
A única forma de explicar a emissão de elétrons por um metal quando exposto à luz era
voltar à velha teoria corpuscular da luz, tratando-a como feixe de partículas, no sentido de que a
energia transportada pela onda incidente no metal deveria estar concentrada em pacotes discretos
de energia, denominados de quanta ou fótons, que seriam as “partículas” de luz. Dessa forma,
podemos apresentar a luz como possuindo características ondulatórias e corpusculares, dependendo
do problema a ser considerado. Esta é a visão dual da luz, onde, em alguns experimentos, medimos
suas propriedades ondulatórias e, em outros, medimos suas propriedades corpusculares.
4.2
Óptica geométrica
Corpos, Fontes, Raios e Feixes
A Geometria procura estudar as várias propriedades das retas, planos, arcos, circunferências,
mas sem se preocupar com os processos físicos que os produzem, ou seja, a régua, o compasso,
o transferidor. Desta forma, as propriedades geométricas independem dos procedimentos físicos
utilizados.
Os conhecimentos acumulados sobre as propriedades da luz são enormes, assim,
começaremos a analisá-los do ponto de vista meramente geométrico. A Óptica Geométrica utiliza
a geometria euclidiana para estudar certos fenômenos luminosos, deixando para mais adiante
indagações mais profundas sobre a natureza da luz (Óptica Física).
Observando os corpos que nos cercam, notamos que alguns possuem luz própria, como
o Sol, uma lâmpada acesa, a chama de uma vela, o pisca-pisca dos vaga-lumes. Outros corpos
não possuem luz própria, como as paredes, mesas, livros, quadro-negro. Os corpos que possuem
luz própria são chamados de luminosos e os que não possuem, de iluminados. Alguns corpos
iluminados permitem que a luz passe através deles, chamados de corpos transparentes (vidro,
água, ar). Outros bloqueiam a passagem da luz, denominados de corpos opacos (madeira, metais,
paredes), e por fim, existem corpos que permitem a passagem de luz, mas de forma irregular, sem
nitidez, sendo denominados de corpos translúcidos, como o vidro fosco, papel vegetal.
Com relação às fontes de luz, pode-se classificá-las como puntuais ou como extensas,
dependendo de suas dimensões em relação à situação de estudo. Se suas dimensões geométricas
forem desprezíveis em relação à distância do observador, podendo ser representada por um ponto
luminoso, serão chamadas de fontes puntuais, caso contrário, de fontes extensas, mas lembrando
que tais conceitos são relativos às situações em estudo.
O Sol, sob certas condições, pode ser considerado como uma fonte puntual em relação à
Terra devido a sua grande distância de nós e os raios luminosos que nos atingem, serão tratados
como raios paralelos (Fig. 3). A luz do Sol, denominada de luz branca, na realidade é uma
59
FÍsiCa gEral iv
composição de luzes de inúmeras cores (comprimento de onda ou frequência). Newton foi um dos
pioneiros ao estudar a decomposição da luz branca por prismas (dispersão da luz), percebendo que
havia várias bandas luminosas de cores distintas compondo a luz branca (arco-íris). Existem fontes
de luz que emitem somente em uma cor (lasers), denominadas de monocromáticas e, outras que
emitem em várias cores (Sol, lâmpada, chama), sendo chamadas de fontes policromáticas.
Considera uma fonte que emite luz em todas as direções. As direções em que a luz se
propaga pelo espaço podem ser indicadas por setas orientadas, denominadas de raios de luz (fig.
4.1). Qualquer conjunto de raios de luz é chamado de feixe de luz. Se os raios do feixe tiverem todos
um ponto em comum, o feixe é denominado de pincel de luz, que pode ser de raios divergentes
(fig. 4.2 a), convergentes (fig. 4.2 b).de raios paralelos (como os do Sol que atingem a Terra – figs.
4.2 c e 4.3)
Fig. 4.1 - Raios de luz
Fig. 4.2 - (a) pincel divergente; (b) pincel
convergente; (c) pincel paralelo.
Fig. 4.3 - Raios solares paralelos atingem a Terra
Quando falamos de raios de luz, na realidade estamos utilizando um conceito simplificado,
denominado de “modelo de raio”, “óptica de raios” ou de “aproximação retilínea”, visto que, um
raio é uma linha reta traçada ao longo da direção de propagação de uma única onda e mostra como
ela evolui no espaço. Na aproximação retilínea não são considerados efeitos de difração nas bordas
de superfícies ou em orifícios ( λ << d), envolvendo apenas modelos geométricos baseados na reta.
Assim, os fenômenos explicados com o uso da aproximação retilínea não dependem explicitamente
da natureza ondulatória da luz, com exceção de sua propagação ao longo da linha reta. Também, a
aproximação retilínea é muito utilizada no estudo de espelhos, lentes, prismas e dos instrumentos
ópticos associados, tais como, microscópios, telescópios, óculos, lupas e máquinas fotográficas.
Quando usamos a visão ondulatória da luz, geralmente utilizamos o conceito de frente de
onda (extremidade dianteira de uma onda) para descrever a propagação de uma onda. Quando o
meio material for homogêneo e isotrópico, os raios de luz são as linhas retas perpendiculares às
frentes de onda. Assim, quando as frentes de onda são planas, os raios de luz são paralelos entre
si e perpendiculares às frentes e, quando as frentes de onda são esféricas, os raios de luz possuem
direção radial, isto é emanam para fora do centro das esferas (fig.4.4).
Fig. 4.4 – Frentes de onda e raios de luz
60
Na superfície que separa dois meios materiais (ar-vidro; vidro-água) os raios de luz nos
meios são sempre linhas retas orientadas, indicando a direção da frente de onda no meio. Isto ficará
claro quando estudarmos a reflexão e a refração da luz, pois faremos uso do modelo de raio.
4.3
Óptica geométrica
A Velocidade Da Luz
Durante muito tempo, a velocidade da luz era tida como infinita, isto é, a luz era transmitida
de um ponto a outro instantaneamente. Essa posição foi duramente criticada por Galileu, que
julgava falhos os argumentos apresentados pelos defensores da ideia. Para refutar tal posição,
Galilei procurou obter elementos através de seu método experimental, conhecido como método
das duas lanternas. Apesar do método estar correto, ele não conseguiu calcular a velocidade da luz,
pois não tinha equipamento suficiente para tal empreitada.
A primeira evidência experimental de que a luz não se propaga instantaneamente foi
conseguida pelas observações do astrônomo dinamarquês Ole Roemer, logo após a morte de
Galileu. Seu método consistiu na observação de um dos satélites de Júpiter, que ao se movimentar,
periodicamente era ocultado pelo astro. Mas a Terra também se movimentava em torno do Sol e, a
cada seis meses, ele media de novo a eclipse do satélite jupiteriano. Em tais medidas, verificou-se que
o tempo era diferente a cada posição ocupada pela Terra em torno do Sol. Analisou corretamente o
fenômeno e calculou o valor da velocidade da luz, obtendo um valor em torno de 200.000 km/s. Era
a primeira medida experimental da velocidade da luz, que demonstrava não ser a mesma infinita.
Em 1849, Louis Fizeau, físico francês, mediu a velocidade da luz utilizando-se do método
das rodas dentadas, obtendo o valor de, aproximadamente, 3,13 x 108 m/s. Em 1862, o médico e
físico francês Leon Foucault, mediu a velocidade da luz, substituindo a roda dentada por espelhos
rotativos obtendo o valor de 2,98 x 108 m/s. Também mediu a velocidade da luz na água, obtendo o
valor de 2,23 x 108 m/s, causando um enorme impacto nos cientistas da época, porque Newton, em
sua teoria corpuscular da luz, previa que a velocidade da luz nos meios materiais deveria ser maior
do que no ar/vácuo.
Em 1932, o cientista americano Alberto Michelson, através de medidas de grande precisão,
obteve o valor de 2,9977 x 108 m/s. Atualmente, utilizando tecnologia a laser e de radiofrequência,
o valor adotado é de 2,997925 x 108 m/s, que para fins de cálculo aproximado, adota-se o valor de
3x 108 m/s.
Exemplo
No mês de agosto de 1988, o planeta Marte teve a máxima aproximação da Terra. Nesse dia, as
pessoas ao observarem o planeta Marte, estavam vendo a luz do Sol refletida em Marte alguns
minutos antes. Aproximadamente quantos minutos antes o Sol havia emitido a luz que a pessoa
estava vendo? Considere as órbitas de Marte e da Terra como coplanares, com raios de 231.000.000
km e 150.000.000 km em relação ao Sol, respectivamente, conforme diagrama abaixo.
Solução:
Considerando a velocidade da luz como uma constante do universo (MRU) e que caminha em
linha reta, temos que a distância percorrida pela luz solar é dada por,
ΔS = RMarte+ (RMarte – RTerra) = 3.12 x 108 km
O tempo médio do percurso será:
Λt =
ΛS
vluz
3,15 x108
→→ Δt ≈ 17 min.
3 x105
→→ Λt =
Obs. A luz solar demora em torno de 8 min. e 20 seg. para chegar até a Terra. Faça este cálculo.
61
4.4
FÍsiCa gEral iv
Princípios da Óptica Geométrica
A base de estudos da óptica geométrica é o traçado dos raios luminosos, que estão
fundamentados em 3 princípios, a saber:
* Princípio da propagação linear da luz. Estabelece que em meios homogêneos e
transparentes, a luz se propaga em linha reta (fig.4.5).
Figura 4.5 - A luz atravessa os anteparos se os orifícios estão em linha reta
Este princípio tem aplicações relevantes em nossas vidas. As dimensões aparentes de um
objeto dependem do ângulo visual de que é visto, pois mudam de tamanho à medida que nos
aproximamos ou nos afastamos do objeto (fig.4.6). Outros exemplos simples são a sombra (fonte
puntual) e penumbra (fonte extensa), a câmara escura de orifício.
Fig.4.6 - O tamanho aparente da árvore aumenta à medida
que o homem se aproxima dela (ângulo α aumenta)
Exemplo 1: Câmera escura com orifício
A imagem formada por uma câmera escura dista 50 mm do orifício e tem uma altura de 20 mm.
Uma árvore está a uma distância de 15 m do orifício (desenho abaixo). Qual a altura da árvore?
Solução:
O desenho ilustrativo permite, através da semelhança de triângulos, calcular a altura da árvore.
Assim,
di
h
=
do H
→→ H = 6 m
Exemplo 2
Uma criança observa o mastro da bandeira de sua escola, de 6 metros de altura, enquanto caminha
em sua direção. Quais os ângulos visuais que ela vê o mastro quando ela está a uma distância de
100 m e 50 m?
62
Solução:
Para estas distâncias, vamos considerar desprezível a altura da criança, conforme esquema abaixo.
Óptica geométrica
As distâncias são calculas usando a definição de tangente do ângulo, assim,
tg=
α1
cat.op.
=
cat.adj.
6
tgα=
=
2
50
6
−1
(0, 06) 3, 4
→→ α1 tg=
= 0, 06 =
100
−1
(0,12) 6,8
→→ α 2 tg=
0,12 =
Obs. Se for considerado a altura da criança o ângulo muda e o cálculo deve ser modificado.
Aparentemente, um dos ângulos é o dobro do outro, mas deve-se cuidar da percepção, pois em
muitos casos ela engana o observador.
* Princípio da reversibilidade dos raios luminosos. Estabelece que a trajetória dos raios
não depende do sentido de propagação se o meio for homogêneo e isotrópico (fig. 4.7).
Figura 4.7 - A trajetória independe do sentido de propagação
Como se pode ver, a trajetória de um raio de luz não se modifica quando se inverte o sentido
de sua propagação. Uma aplicação prática é a dos espelhos retrovisores dos automóveis e também
a famosa afirmação “olho no olho”, quando uma pessoa observa os olhos da outra, os olhos desta
podem ver os olhos da primeira.
* Princípio da independência dos raios de luz. Estabelece que cada raio luminoso propagase de forma independente, como se os outros não existissem, inclusive na reflexão (fig. 4.8).
Figura 4.8 - A luz de cada holofote não interfere na propagação dos outros
Nas salas de aula, é comum existir mais de uma luminária e, no entanto, uma não interfere
na outra. O mesmo acontece nos shows, como se depreende da figura anterior.
* O Princípio de Fermat. O físico e matemático francês Pierre de Fermat (1601-1665)
elaborou um princípio pelo qual se conseguem sintetizar várias leis e princípios da óptica
geométrica, inclusive os princípios referidos anteriormente. É um princípio “econômico” e diz:
“O percurso efetuado pela luz para se propagar entre dois pontos é tal que o tempo gasto
nesse deslocamento é mínimo”.
É interessante discutir a afirmação acima e procurar situar os três princípios enunciados
anteriormente dentro do princípio econômico de Fermat.
63
4.5
FÍsiCa gEral iv
Reflexão da Luz
É possível dizer que a característica mais importante da reflexão da luz pelos objetos é tornálos iluminados, transformando-os em fontes de luz, tornando-os visíveis, tridimensionalmente.
Quando uma onda luminosa, representada por um raio de luz (raio incidente), atinge uma superfície
de separação lisa (interface lisa) separando dois meios transparentes (ar-vidro; ar-água), em geral o
raio é parcialmente refletido e parcialmente refratado (transmitido) para o outro material, inclusive,
podendo ocorrer que uma parte da energia luminosa é absorvida pelo meio material, normalmente,
aquecendo-o. As direções dos raios incidente, refletido e refratado na interface lisa que separa os
dois meios, usualmente são representadas por ângulos que formam com a reta normal à superfície
de separação no ponto de incidência (fig. 4.9).
Figura 4.9 - Reflexão e refração da luz
A menos que a superfície seja um absorvedor perfeito, alguma parcela de luz será refletida
por ela. O fenômeno da reflexão ocorre quando um raio de luz incide numa superfície de separação
de dois meios distintos e retorna para o mesmo meio de origem.
Se a superfície for lisa, polida, chamada de superfície regular, a reflexão é denominada de
reflexão regular ou de reflexão especular (fig. 4.10).
Figura 4.10 - Reflexão regular
Não importa o formato geométrico da superfície refletora (plana, curva), pois o fenômeno
sempre irá ocorrer. Exemplo de reflexão regular acontece nos espelhos, nas superfícies planas e
bem polidas de metais, nas superfícies dos lagos com água parada, nos vidros das casas e edifícios
(o famoso “ar”). A reta normal de todos os raios incidentes possui sempre a mesma direção e a luz
refletida terá sempre o mesmo ângulo de reflexão.
Mas o que é uma superfície polida, lisa? Na realidade, não existe superfície perfeitamente
lisa, o que existe são superfícies cujas irregularidades produzem reflexões difusas desprezíveis.
Uma superfície comporta-se como uma superfície polida quando suas variações, saliências ou
irregularidades forem pequenas quando comparadas ao comprimento de onda da luz incidente.
Na porta dos fornos de microondas existem uns buraquinhos cujos diâmetros são maiores do
que o tamanho do comprimento de onda utilizada. A microonda não sai, mas permite que você
veja o que há dentro do forno. O mesmo ocorre nas antenas parabólicas, nos radiotelescópios e
outros aparelhos. Para as ondas incidentes, mesmo a superfície apresentando pequenos furos, já é
o suficiente para refleti-las, pois e seus comprimentos de onda são maiores do que o tamanho dos
furos.
Se a superfície refletora for áspera, rugosa, apresentar irregularidades superficiais, ela refletirá
os raios de luz em várias direções, difundindo-os para todos os lados (vários ângulos de reflexão).
Este tipo de reflexão é denominado de reflexão difusa ou irregular. As saliências das paredes, das
folhas de papel, das mesas, do rosto das pessoas, das árvores e terrenos que nos cercam, da tela de
cinema, refletem a luz de forma difusa. Nelas, o comprimento de onda da luz solar é muito menor do
que a profundidade das saliências, sendo refletida de forma irregular em cada ponto de incidência. A
reta normal ter diferentes direções em cada ponto da superfície (fig. 4.11).
64
Óptica geométrica
Figura 4.11 - Reflexão difusa. No detalhe, irregularidades superficiais.
A reflexão especular é necessária para a formação de imagens claras a partir das superfícies
refletoras, direcionando a luz refletida em ângulo específico igual para todos os raios, enquanto
que a reflexão difusa é responsável pela nossa visão dos objetos iluminados que nos cercam,
independentemente de suas distâncias até nós. Numa sala de aula, todos veem um ponto na lousa
devido à reflexão difusa, não importando se os raios estão se cruzando ou não (independência das
trajetórias). Deve ficar claro ao aluno que a irregularidade na reflexão se deve às irregularidades nas
superfícies das superfícies refletoras ou nas interfaces de separação entre dois meios transparentes.
4.6
Reflexão e a Cor dos Objetos
A cor dos objetos que nos cercam está diretamente relacionada com a reflexão da luz.
Quando nos referirmos à cor de um objeto, estamos sugerindo que ele esteja sendo iluminado
pela luz branca proveniente do Sol ou de uma lâmpada qualquer. A luz branca é caracterizada
pela superposição de várias luzes de diferentes cores (frequências ou comprimentos de onda),
como seja visto ao estudarmos a refração da luz. Um corpo se apresenta verde porque reflete,
predominantemente, a cor verde, absorvendo quase totalmente as demais cores da luz branca. Se
ele se apresenta amarelo, é porque reflete o amarelo, absorvendo as demais, e assim por diante. Um
objeto é branco é porque reflete todas as cores em conjunto, não absorvendo, praticamente nada.
Se for preto, ele absorve todas as cores, praticamente não refletindo nada. O que dizer de um corpo
transparente? Explique em termos de reflexão/absorção/transmissão.
A partir deste momento somente nos reportaremos à reflexão regular, e o termo reflexão
sempre significará reflexão regular.
4.7
Reflexão Regular da Luz
As leis da reflexão são válidas para qualquer superfície refletora, lisa ou rugosa, plana ou
curva. Vamos supor um raio de luz propagando-se no ar e incidindo num ponto da superfície de
separação (plana e polida). No ponto de incidência, levanta-se uma reta perpendicular (normal) à
superfície de separação, de tal forma que o ângulo entre o raio incidente e a reta normal seja θ1. O
ângulo de reflexão entre a reta normal e o raio refletido é igual a θ’1. O plano que contem o raio
incidente (i), o raio refletido (r) e a reta normal (N) é chamado de plano de incidência, simbolizado
por π, fazendo um ângulo reto com a superfície de separação (fig. 4.12).
Figura 4.12 - Raios incidente e refletido, reta normal e plano de incidência
65
FÍsiCa gEral iv
Por convenção, os ângulos de incidência e de reflexão são medidos a partir da normal aos
raios e não a partir da superfície de separação até os raios. Da observação experimental, e para raios
monocromáticos, podemos retirar a primeira lei da reflexão, uma lei qualitativa estabelecendo que,
“O raio incidente, o raio refletido e a reta normal pertencem ao plano π (plano de
incidência), normal à superfície refletora”.
Também, experimentalmente, é possível estabelecer a segunda lei da reflexão, neste caso,
uma lei quantitativa que diz:
“O ângulo de reflexão é igual ao ângulo de incidência”
Matematicamente temos,
θ’1 = θ1
(4.1)
A segunda lei da reflexão é conhecida desde a Antiguidade, sendo muito utilizada na
construção de espelhos de telescópios refletores, superfícies refletoras de faróis, holofotes, fornos
solares, reflexões em superfícies aluminizadas de satélites, antenas parabólicas, inversão de
palavras prisma de reflexão total (prisma de Porro) e outros dispositivos. Utilizaremos as leis da
reflexão no estudo da formação de imagens em espelhos planos e curvos
Uma importante observação está relacionada à reversibilidade dos raios luminosos. Na figura
4.12, se trocarmos de posição os raios incidente e refletido, não ocorre qualquer problema com a
primeira lei da reflexão. Também, é fundamental observar que os raios de luz são independentes
uns dos outros, visto que ao se cruzarem em um ponto, cada um segue sua trajetória sem ser
perturbado pelo outro.
4.8
Índice de Refração
Antes de conceituarmos a refração da luz em meios materiais, vamos tratar de uma
grandeza que está relacionada com a velocidade de propagação da luz nos meios transparentes ou
translúcidos. O vácuo pode ser caracterizado como um meio homogêneo, isotrópico e transparente
(dentre outras propriedades) e a velocidade da luz no vácuo torna-se independente da frequência de
oscilação e possui velocidade constante e máxima, em torno de 300.000 km/s.
Sua representação simbólica é c. Em qualquer outro meio material, a velocidade da luz
é sempre menor do que no vácuo. O fator (a razão) segundo a qual a velocidade no meio (v) é
reduzida denomina-se índice de refração do meio em relação ao vácuo, simbolizado pela letra n. É
um parâmetro que caracteriza o meio óptico. Assim, temos que,
n=
c
v
(4.2)
Note que o valor de n não apresenta unidade de medida (número puro), pois é uma relação
entre velocidades. Quando um dos meios for o vácuo, o índice de refração é denominado de índice
de refração absoluto do meio. Se considerarmos dois meios diferentes do vácuo (ar-vidro; vidroágua) o índice de refração é denominado de índice de refração relativo do meio 1 em relação ao
meio 2 (n1,2), que é a razão entre o índice de refração absoluto do meio 1 (n1) e o índice de refração
absoluto do meio 2 (n2). Assim, ficamos,
n1, 2 =
n1
n2
(4.3)
O índice de refração para o vácuo é definido com sendo igual a 1. Qualquer outro índice
de refração é sempre maior que a unidade (n ≥ 1). O índice de refração da luz num meio qualquer
depende do meio e do comprimento de onda da luz incidente, causa da dispersão da luz pelo meio
(arco-íris).
Podemos, também, definir o índice de refração de um meio em relação ao vácuo. Sendo um
dos meios o vácuo, com comprimento de onda (λ0), e outro meio qualquer, com comprimento de
onda (λn), a relação entre os comprimentos de onda nos dá o índice de refração absoluto do meio,
ou seja,
λ
n= 0
(4.4)
λn
Note que falamos do meio e do comprimento de onda da luz no meio, mas não falamos
da frequência de vibração da luz. A frequência é determinada pela fonte e se mantém invariante,
independentemente do meio através da qual o raio se propaga. Quando um raio passa de um meio
a outro, muda sua velocidade de propagação e seu comprimento de onda, mas sua frequência
permanece constante (fig. 4.13). Aqui o raio é tratado como onda.
66
Óptica geométrica
Figura 4.13 - Meios distintos. Comprimento de onda e
velocidades diferentes. Frequência constante.
Alguns índices de refração, para uma frequência específica, são enumerados na tabela 1.
Tabela 4.1 - Índices de refração absolutos. Frequência fixa.
Exemplo
O comprimento de onda da luz vermelha emitida por um laser hélio-neônio é igual a 633 nm no
ar, porém, no humor aquoso existente no interior do globo ocular, o comprimento de onda é igual
a 474 nm. Calcule o índice de refração do humor aquoso, a velocidade e a frequência da luz nesse
líquido. Tome o índice de refração no ar igual a 1.
Solução:
O índice de refração relativo é dado por,
n=
λo 633nm
=
= 1,335.
λ 474nm
A velocidade da luz no ar é praticamente igual à velocidade da luz no vácuo, logo,
c 3 x108 m / s
v= =
= 2, 25 x108 m / s
n
1,335
A freqüência no humor aquoso
f=
v 2, 25 x108 m / s
=
= 4, 74 x1014 Hz
λ
474 x10−9 m
Obs. É importante notar que a frequência no ar e no humor aquoso é igual, mesmo que o
comprimento de onda e a velocidade de propagação mudem. Prove esta afirmação!
67
4.9
FÍsiCa gEral iv
Refração da Luz
Vamos supor um raio incidindo na interface (fronteira) de separação de dois meios
transparentes fazendo um ângulo de incidência em relação à reta normal igual a θ1. O raio é
refratado (desviado) fazendo um ângulo de refração com relação à normal igual a θ2. Como mostra
a figura, os ângulos não são iguais entre si (fig. 4.14), mas pertencem ao mesmo plano, inclusive
a reta normal.
Figura 4.14 - Refração da luz numa interface
Durante muitos séculos, tentou-se descobrir uma relação entre os ângulos de incidência e
de refração. Somente em 1620, o matemático holandês Willebrord Snell (1591-1626), analisando
um grande número de ângulos de incidência e de refração obtidos experimentalmente, chegou à
conclusão de que havia uma relação constante entre os senos destes ângulos1. Snell descobriu que
quando a luz passava de um meio transparente para outro, a relação entre os senos dos ângulos em
relação à reta normal, era uma constante característica dos dois meios. Se trocarmos de meios ela
tem valor diferente. Assim, a Lei de Snell, como ficou conhecida, é dada por,
senθ1
= constante
senθ 2
(4.5)
senθ1 v1
= = constante
senθ 2 v2
(4.6)
O efeito observável da mudança de direção que um raio de sofre ao passar de um maio a
outro, denominada de refração, tem como causa a mudança de velocidade sofrida pelo raio na
fronteira entre os meios. Suponha que no meio 1, a velocidade do raio incidente seja igual a v1
e, no meio 2, a velocidade do raio refratado seja igual a v2. É possível estabelecer uma relação
matemática, decorrente da experimentação, entre a velocidade dos dois raios, de tal forma que,
A figura 4.15 retrata a formulação anterior (eq. 6), onde o ângulo de refração θ2 depende das
propriedades dos dois meios envolvidos e do ângulo do raio incidente θ1.
Figura 4.15 - Raios incidente e refratado. Mudanças de direção e velocidade numa interface.
Outra constatação experimental é que a trajetória de um raio através de uma superfície
refratora é reversível, como foi na reflexão. É o princípio da reversibilidade aplicado à refração da
luz. Também, a direção do raio refratado pode ser de aproximação ou de afastamento em relação
à reta normal, dependendo do material de que é constituído o meio (fig. 4.16 a e b). Tal raciocínio
também é válido para a velocidade, que pode ser menor ou maior. Se a incidência for perpendicular
1 A mesma lei foi deduzida em 1637, pelo filósofo e matemático francês, René Descartes, a partir da teoria
corpuscular da luz defendida por Newton. Na França, ela é conhecida por Lei de Descartes.
68
à interface de separação entre os dois meio, o raio luminoso não se desvia porque o ângulo de
incidência é nulo (fig. 4.16 c), mas a velocidade muda. Explique!!!
Óptica geométrica
Figura 4.16 - Direção dos raios refratados e seus comportamentos em relação à normal
Uma outra forma de apresentar a Lei de Snell, também conhecida como Lei de SnellDescartes, é substituir as velocidades pelos índices de refração dos meios. Assim, ficamos com,
senθ1 n2
= = constante
senθ 2 n1
(4.7)
Das equações 4.4, 4.6 e 4.7, é possível estabelecer a relação entre os índices de refração, as
velocidades e os comprimentos de onda dos raios incidentes e refratados nos dois meios, ou seja,
n2 v1 λ1
= =
n1 v2 λ2
(4.8)
É importante observar que a velocidade no meio é inversamente proporcional ao índice de
refração do meio. Se tivermos “n” meios, podemos escrever, então,
n1v1 = n2 v2 = ⋅⋅⋅⋅ = nn vn
(4.9)
Podemos definir duas leis que regem a refração regular da luz entre dois meios transparentes,
homogêneos e isotrópicos, para um raio de luz monocromático. A primeira lei é qualitativa e diz:
“O raio incidente, a reta normal e o raio refratado estão contidos em um mesmo plano,
perpendicular à superfície de separação”.
A segunda lei é uma lei quantitativa, facilmente verificada pela experimentação, diz:
“A razão entre os senos dos ângulos de incidência e de refração é inversamente
proporcional à razão entre os índices de refração nos dois meios, respectivamente”.
Na literatura, é comum encontrar os termos “mais refringente” ou “menos refringente”
quando se trata da refração da luz nos meios. Meio mais refringente é o meio que mais refrata o
raio luminoso que o atravessa, ou seja, o raio se aproxima mais da reta normal (menor ângulo de
refração) e, menos refringente, é quando o raio que o atravessa possui ângulo de refração maior em
relação à normal. Se nos referirmos à velocidade, um raio oriundo de um meio menos refringente
terá sua velocidade diminuída ao penetrar num meio mais refringente. Quanto mais refringente,
menor a velocidade de propagação e, obviamente, maior o índice de refração absoluto do meio.
Exemplo
Um raio proveniente da água (meio a), com índice de refração igual a 1,33, penetra no vidro
(meio b) com índice de refração igual a 1,52. Se o raio incidente forma um ângulo de 60° com a
reta normal, quais são os ângulos (direções) de reflexão e de refração em relação à reta normal.
Solução:
De acordo com a segunda lei da reflexão, o raio refletido é igual ao raio incidente em relação à
normal, logo,
θ=
θ=
60
r
a
Para o raio refratado, pela Lei de Snell-Descartes, ficamos com,
n
1,33
θ=
49,3
senθb =a ⋅ senθ a = ⋅ sen60 =
0, 758 →→ θ=
R
b
nb
1,52
69
4.10
FÍsiCa gEral iv
Reflexão Interna Total
Antes de conceituarmos a reflexão interna total, vamos introduzir uma observação
experimental fundamental, sem a qual o fenômeno não acontece.
“Só ocorrerá reflexão interna total se o raio luminoso vir de um meio mais refringente e se
dirigir a um meio menos refringente”.
Em termos de índice de refração, o índice do meio 1 (n1) é maior do que o índice do meio
2 (n2). Quando o raio de luz passa de um meio mais refringente (meio 1) para um meio menos
refringente (meio 2), ele se afasta da reta normal. Se aumentarmos cada vez mais o ângulo de
incidência, maior, também, será o ângulo de refração. À medida que o ângulo de incidência
aumenta se chegará a uma situação em que o raio refratado na interface emergirá rasante à mesma,
fazendo um ângulo de refração de 90° (sai tangente à superfície de separação entre os dois meios).
Na figura 4.17, o ponto C é onde o ângulo de refração atinge seu valor máximo.
Figura 4.17 - Reflexão interna total. Ângulo limite θL
Se aumentarmos ainda mais o ângulo de incidência, verifica-se que não há mais luz refratada
na interface, ficando o raio totalmente refletido internamente no meio 1 (fig. 4.17 – ponto D). Nesta
situação, diz-se que há reflexão interna total do raio incidente, isto é, o raio fica retido no material
de índice de refração maior, havendo, portanto, somente reflexão interna. Uma consequência dessa
situação é que podemos definir um ângulo de incidência limite, um ângulo de incidência crítico,
onde o raio refratado atinge seu valor máximo de 90° (fig. 4.18)
“Define-se ângulo crítico (θc) ou ângulo limite (θL) ao ângulo de incidência para o qual o
ângulo de refração vale 90°”.
Figura 4.18 - Ângulo crítico θc ou ângulo limite θL.
Existem textos didáticos que se referem ao ângulo crítico de refração ou ângulo limite
de refração ( θ RL ). Neste caso, a luz vem do meio menos refringente e vai para o meio mais
refringente. O raio incidente passa rasante à interface (θi = 90°) sendo refratado num ponto (raio
refratado RL), obtendo assim um ângulo de refração máximo ( θ RL ), conforme a figura 4.19.
Figura 4.19 - Ângulo crítico de refração
A fibra ótica é um material que utiliza a reflexão interna total da luz incidente para
transmiti-la através dele. A tecnologia do quartzo permitiu um amplo desenvolvimento das fibras
óticas, que por reflexão total nas paredes internas da fibra, a luz ou outra radiação eletromagnética
(Microondas, IV, luz visível, luz laser), pode ser conduzida por qualquer trajetória e, praticamente,
70
sem gasto da energia transportada. A transparência do quartzo e a obtenção de fios muito finos
e flexíveis são propriedades físicas importantíssimas, superando as propriedades do vidro. Sua
utilização na medicina e na comunicação é amplamente conhecida (figs. 4.20 e 4.21).
Figura 4.20 - Fibra ótica. Múltiplas reflexões internas
Óptica geométrica
Figura 4.21 - Construção de fibra ótica
Na medicina, são utilizadas nos fibroscópios, endoscópios e, nas comunicações, nos cabos
de fibras óticas que transmitem pulsos eletromagnéticos com inúmeras frequências, com grande
economia, sem interferência externa e com maior eficiência superando, em muito, os fios de
cobre. Outra utilização das fibras óticas ocorre num certo tipo especial de telescópio, que permite
observação simultânea de vários objetos através de vários braços mecânicos dotados de fibra ótica,
onde cada braço focaliza um objeto, independentemente, dos demais. Também encontramos fibra
ótica em lanternas, objetos de decoração de residências e, a propriedade de reflexão total com
nitidez é usada em binóculos e periscópios construídos com prima de reflexão total.
Podemos utilizar a Lei de Snell-Descartes para encontrar o ângulo limite na reflexão interna.
Neste caso teremos que θ1 = θL e θ2 = 90°. Assim, ficamos com,

=
n1senθ L n=
n2
2 sen90
→→→→
senθ L =
n2
n1
(4.10)
Exemplo
Qual é o ângulo limite para a interface vidro-ar, sabendo que o índice de refração do vidro vale
1,52?
Solução:
Aplicando-se a Lei de Snell-Descartes (eq. 4.10) e considerando o índice de refração do ar igual
a 1, temos,
1
sen
=
θ L = 0, 658 →→ θL = 41,1°
1,52
4.11
Dispersão da Luz Branca
Um outro fenômeno importante explicado pela refração da luz é a dispersão da luz branca.
Vamos supor um feixe de luz branca incidindo sobre um bloco de vidro. Quando a luz oriunda do ar
atinge a superfície de separação, penetrando no vidro, ela sofre refração dando origem a um feixe
colorido, composto por sete cores visíveis a olho nu.
Tal fenômeno ocorre porque a luz branca é uma composição de várias luzes de diferentes
frequências ou comprimentos de onda (luz policromática) e, portanto, todo e qualquer feixe de luz
branca se comporta desta forma. A cor menos refringente é aquela que sofre menor refração (desvia
menos) e, a mais refringente, é aquela que sofre maior desvio. No nosso caso, a luz que sofre menor
refração é a cor vermelha e a mais refratada é a cor violeta (fig. 4.22).
Figura 4.22 - Refração da luz branca.
71
FÍsiCa gEral iv
O vidro, ou qualquer outro corpo transparente, apresenta um índice de refração diferente
para cada cor, que apesar de ser muito pequena, permite que vejamos as várias cores da luz branca.
Uma gota de água em suspensão na atmosfera se comporta como o vidro e a dispersão da luz no
interior da gota permite que vejamos um leque de cores distintas, denominado de arco-íris. Quando
um raio de luz branca penetra na gota ele se refrata na interface, sofrendo a primeira dispersão.
Atingindo a superfície posterior da gota as várias cores se refletem internamente e voltam à
interface anterior, mas em pontos distintos e, novamente, é refratada, aumentando ainda mais a
separação entre as cores que emergem da gota. Assim, temos uma dupla refração e uma reflexão
interna na formação do arco-íris. A dispersão ocorre em todas as gotas de chuva que estiverem
recebendo luz solar (fig. 4.25.a).
Um observador no solo, não recebe todas as cores oriundas de uma única gota, mas recebe
cores provenientes de inúmeras gotas, de tal forma que a cor vermelha que chega ao observador
é proveniente de gostas mais altas na atmosfera e as de cor violeta, de gotas mais baixas (fig.
4.23–b). Evidentemente, as outras cores do espectro da luz branca (conjunto de cores) são oriundas
de gotas situadas entre estes dois pólos. O resultado é o maravilhoso fenômeno do arco-íris (fig.
4.24), resultado de efeitos combinados de dispersão, refração e reflexão da luz branca. Em certas
situações, também é possível visualizar um segundo arco-íris, acima do primeiro. Como você
explicaria tal fenômeno? Seus extremos são os mesmos (mesmas cores) ou eles estão invertidos?
Como você explicaria o fato do arco-íris se apresentar de forma circular. Será que é divido à
curvatura da Terra ou tem a ver com os ângulos de entrada e saída das gotas e concentrações de luz
refletida nos extremos?
Figura 4.23 - Dispersão da luz branca
em gotas de chuva..
Figura 4.24 - O arco-íris e seus extremos
Inúmeros outros fenômenos podem ser entendidos através da refração. A refração atmosférica
(elevação aparente dos astros), a duração prolongada do dia, a imagem virtual de objetos no fundo
de reservatórios (piscina, copo), as miragens no deserto, estradas que parecem molhadas em dias
ensolarados, espelhismos nos mares terrestres (lenda do navio-fantasma “holandês voador” dos
mares do Norte).
Exercícios
1) Uma nave espacial, à distância de 1,404 x 106 km da Terra, envia fotos de Saturno através de
sinais que se propagam à velocidade da luz no vácuo. Calcule o tempo que o sinal gasta para
chegar à Terra.
2) Admita que o Sol subitamente “morresse”, deixando de emitir luz. Uma hora após esse evento,
olhando para o céu, sem nuvens, o que você veria?
a)- a Lua e as estrelas;
b)- somente a Lua;
c)- somente as estrelas;
d)- uma completa escuridão;
e)- somente os planetas do Sistema Solar.
72
5) Um método para se medir o diâmetro do Sol consiste em determinar o diâmetro de sua imagem
nítida produzida sobre um anteparo, por um orifício pequeno feito em um cartão paralelo ao
anteparo, conforme ilustração abaixo. Em um experimento realizado utilizando esse método,
foram obtidos os seguintes dados: a)- o diâmetro da imagem = 9,0 mm, b)- a distância do orifício
até a imagem = 1,0 m e c)- a distância Sol-Terra = 1,5 x 1011 m. Qual é, aproximadamente, o
diâmetro do Sol por esse método?
Óptica geométrica
6) Um feixe de luz de comprimento de onda igual a 589 nm, no vácuo, atravessa um pedaço de
sílica (n = 1,458). Determine: a) a velocidade da luz na sílica; b) o comprimento de onda da
luz na sílica.
5) Um feixe de luz de comprimento igual a 550 nm propagando no ar, incide sobre uma placa de
material transparente. O feixe faz um ângulo de 40° com a normal no ponto de incidência e é
refratado com um ângulo de 26° com a normal. Qual o índice de refração do material?
6) a) Qual é o ângulo crítico na interface água-ar, sabendo-se que o índice de refração da água é
igual a ¾ e do ar é igual a 1.
b) Utilize o resultado do item (a) para prever o que um peixe veria se olhasse em direção à
superfície da água em ângulos iguais a 40° , 48,8° e 60°, conforme ilustração.
7) Um tanque retangular de 2 m de altura está cheio de água (n = 1,33). Um raio de luz incide na
água com ângulo de 60°, em um dos lados do tanque. Determine a distância atingida pelo raio
no fundo do tanque, adotando-se nar = 1.
8) Um raio de luz proveniente do ar incide sobre uma superfície líquida de tal maneira que os raios
refletido e refratado são perpendiculares entre si. Determine o ângulo de incidência, sabendo
que o índice de refração do líquido em relação ao ar é igual a √3.
9) Foi medida a velocidade da luz amarela do sódio, num certo líquido, obtendo-se o valor de 1,92
x 108 m/s. Qual o índice de refração do líquido em relação ao ar?
10) O índice de refração do benzeno é igual a 1,8. Qual o ângulo crítico de incidência para um raio
propagando do benzeno para o ar? Comente porque não é possível haver reflexão interna total
se o raio viesse do ar para o benzeno.
11) Um feixe de luz passa do meio 1 (ar) para um meio (2) e chega novamente ao meio 1, conforme
ilustração abaixo. A linha tracejada representa o prolongamento do raio incidente se não houvesse
o meio 2. Sendo θ = 30°, e = 2√3 cm e x = 1 cm, calcule o índice de refração do meio 2.
73
FÍsiCa gEral iv
Anotações
74
Óptica geométrica
Anotações
75
FÍsiCa gEral iv
Anotações
76
5
Reflexão da Luz em
Superfícies Planas
e Esféricas.
Formação de Imagens.
5.1
superfícies planas
5.2
superfícies Esféricas
77
5.
REFLEXÃO DA LUZ EM SUPERFÍCIES PLANAS E ESFÉRICAS.
FORMAÇÃO DE IMAGENS.
5.1
Superfícies Planas
FÍsiCa gEral iv
Como já foi visto, o fenômeno da reflexão da luz ocorre quando um raio luminoso incide
numa superfície de separação de dois meios e retorna ao meio de origem. A superfície pode ser
plana ou curva, mas as leis da reflexão continuam válidas para todas (fig. 5.1).
Figura 5.1 - Reflexão em superfícies plana e curva.
Antes de analisarmos o que significa uma imagem de um objeto, necessitamos conceituar
o que é um objeto para a ótica. Denomina-se objeto qualquer coisa da qual emanem raios de
luz. Podemos, também, denominar objeto como sendo um ponto ou um conjunto de pontos
determinado pelo cruzamento dos raios luminosos incidentes no sistema ótico pertinente
(divergente, convergente ou cilíndrico) Se a luz é emitida pelo próprio objeto, ele possui luz própria
(objeto luminoso), caso contrário é um objeto iluminado, que reflete a luz incidente. Dependendo
do objeto, ele pode ser entendido como objeto puntiforme (pontual – sem dimensão) ou objeto
estendido (possui dimensão), podendo ser real quando definido pelo cruzamento efetivo dos raios
luminosos incidentes, ou virtual quando definido pelo cruzamento do prolongamento dos raios
luminosos incidentes.
Também definimos imagem real de um objeto quando ela é formada pelo cruzamento
efetivo dos raios luminosos emergentes e, imagem virtual, quando ela é formada pelo cruzamento
do prolongamento dos raios luminosos refletidos ou refratados.
Para iniciar nossos estudos, vamos considerar um objeto pontual e uma superfície plana,
regular, portanto, produzindo reflexão regular ou especular (tipo espelho). Tal superfície pode ser
a interface de um objeto com índice de refração diferente do meio de onde a luz vem (lago, vidro)
ou a superfície refletora de um espelho, de um metal polido.
De acordo com a segunda lei da reflexão, para todo raio que atinge a superfície, o ângulo
de reflexão é igual ao ângulo de incidência, ou vice-versa (fig. 5.2-a). Como a superfície é plana,
a reta normal é sempre perpendicular à superfície refletora em todos os seus pontos e a reflexão
é especular Se a luz é emitida de um ponto P (objeto puntiforme), depois de refletida, ela parece
estar sendo emitida de um ponto P’ (imagem puntiforme). Nesta situação, dizemos que a superfície
refletora forma uma imagem virtual do ponto P. Sempre há essa conjugação entre objeto-imagem
(fig. 5.2-b).
Figura 5.2-a - Objeto pontual.
Ângulos de incidência e reflexão iguais
Figura 5.2-b - Simetria do ponto. Imagem-objeto
em relação ao espelho. Equidistância.
Nas figuras anteriores, pode-se ver que os pontos objeto e imagem são simétricos em
relação ao espelho, ou seja, eles estão na mesma perpendicular em relação ao plano do espelho e
78
são equidistantes do plano. É a propriedade de simetria do espelho plano.
Se o observador não puder ver o ponto objeto, para ele é como se a luz tivesse como origem
o ponto imagem (figs. 5.2-b). Se a superfície não for lisa, regular, a reflexão é difusa e os raios
refletidos possuem direções diferentes, não formando uma imagem nítida do objeto.
Vamos utilizar um diagrama de raios para determinar a distância do objeto à superfície
refletora e a distância da imagem à superfície refletora. A técnica é válida tanto para objetos
pontuais como para objetos extensos. No caso em questão, o objeto é extenso e de altura h. A grande
vantagem do diagrama de raios é que, de uma infinidade de raios, podemos escolher uns poucos
raios incidentes e emergentes para descrever os fenômenos da reflexão e da refração, quando for o
caso. Para determinar a imagem de um objeto, devemos utilizar pelo menos dois raios incidentes e
refletidos, como mostra a figura 5.3.
reflexão da luz em
superfícies planas e
Esféricas.
Formação de imagens.
Figura 5.3 - Diagrama de raios
Os raios incidentes emanados do ponto final da fecha e suas extensões (prolongamentos)
permitem construir um modelo geométrico para a formação da imagem baseada nos triângulos
PQR e P’QR. Como estes dois triângulos são idênticos, podemos escrever que “p = q ” (simetria
na distância). O módulo (valor absoluto) no tamanho da imagem é porque existe uma regra de
sinais envolvida nos valores de p e q. Em termos de tamanho, concluímos que a altura da imagem
formada por um objeto colocado na frente de um espelho plano é numericamente igual à altura do
objeto. A razão entre as alturas do objeto e da imagem é chamada de ampliação linear transversal
(ou lateral) da imagem ou, simplesmente, de ampliação, simbolizada pela letra AL, onde,
AL =
h′
h
(5.1)
Para um espelho plano, a ampliação linear transversal é igual a 1, isto é, o tamanho da
imagem é igual ao tamanho do objeto. A imagem formada por um espelho plano é sempre ereta
(direita), virtual e possui sinal positivo. Encontraremos casos em que a imagem é invertida e a
ampliação é negativa.
Uma observação importante é que, em um espelho plano, a imagem de um objeto em 3
dimensões é ereta na direção paralela ao espelho e do mesmo tamanho, mas é reversa na direção
frontal ao espelho, ou seja, somente ocorre a inversão no sentido de frente para trás em relação ao
espelho e não uma inversão esquerda-direita (fig.5.4). Ela não é invertida em todos os sentidos! É
só você observar a imagem da sua mão em um espelho. É a propriedade da reversão da imagem.
Figura 5.4 - A imagem S’P’Q’’ é virtual, direita, reversa e do mesmo tamanho do objeto.
Também há que se destacar que uma imagem formada por um dispositivo ótico pode servir
de objeto para a formação de outra imagem para um segundo dispositivo ótico, como ocorre no
microscópio e no telescópio refrator.
Quando um espelho plano se movimenta, sua imagem também se movimenta. Se o movimento
for de translação, o deslocamento de sua imagem também será de translação, deslocando-se o
dobro do deslocamento do objeto. Se o espelho gira, a posição da imagem também gira. Se o
ângulo de rotação do espelho for igual a α, o raio de luz refletido vai gira de um ângulo 2α (dobro).
79
FÍsiCa gEral iv
Exemplo 1: Nos esquemas a seguir, a mãe está a 0,40 m da filha que se encontra a 0,80 m do um
espelho plano à sua frente. Determine a distância da:
a) mãe à imagem da filha;
b) filha à imagem da mãe.
Solução:
Para resolver o problema vamos estilizar as pessoas (considerá-las como pontos materiais)
e ver como ficam as reflexões das pessoas no espelho plano, Temos então,,
Assim, ficamos com,
a)- dMF’’ = 1,20 + 0,80 = 2,0 m
b)- dFM’ = 0,80 + 1,20 = 2,0 m
5.2
Superfícies Esféricas
Vimos que um espelho plano produz uma imagem do mesmo tamanho do objeto. Mas
existem aplicações onde se deseja imagens maiores ou menores do que o objeto. Como exemplo,
podemos destacar o espelho usado pelos dentistas (imagem maior que o objeto); espelho de
monitoramento de lojas ou de trânsito; telescópio refletor (imagem real de estrelas distantes) e
muitas outras aplicações. Somente um espelho curvo pode desempenhar tais tarefas. O caso mais
simples são as imagens formadas por espelhos esféricos.
Uma superfície lisa, de forma esférica, que reflete especularmente a luz, é chamada de espelho
esférico. Se a luz estiver se refletindo na superfície interna, dizemos que o espelho é côncavo (fig. 5.5
a), e se a reflexão ocorrer na parte externa, dizemos que o espelho é convexo (fig. 5.5 b).
Figura 5.5 - Espelhos côncavo e convexo.
Para um espelho côncavo bidimensional (fig.5.6), o raio de curvatura é R e seu centro de
curvatura localiza-se no ponto C. O ponto V é o centro do segmento esférico (vértice) e uma linha
traçada de C para V é chamada de eixo ótico principal do espelho (segmento de reta s). Qualquer
outro eixo que passe por C, divergindo do centro esférico é chamado de eixo secundário (segmento
de reta s’). O ângulo α (abertura) está no plano que contém o eixo principal, sendo formado pelas
semi-retas com origem em C e extremidades na borda da calota especular.
Figura 5.6 - Espelho côncavo. Elementos
80
De acordo com as condições de nitidez de Gauss, o ângulo α deve ser pequeno, não
superando 10° (região útil do espelho), caso contrário, a imagem aparecerá sem nitidez, como
uma mancha ou borrada (aberração esférica – sistema astigmático). Para a condição de ângulo
pequeno dizemos que o sistema é estigmático (para cada ponto-objeto conjuga um ponto-imagem).
Também, adotaremos um modelo simplificado, onde os raios luminosos que atingem o espelho
devem ser paralelos ou pouco inclinados em relação ao eixo principal (outra condição gaussiana).
Tais raios são chamados de raios paraxiais (aproximação paraxial), garantindo, assim, que todo
raio incidente ao ser refletido, intercepta o eixo principal num único ponto, chamado de ponto
imagem real, e nestas condições, o espelho côncavo é chamado de espelho convergente.
Vamos usar o modelo geométrico baseado no diagrama de raios para determinar a equação
do espelho (equação dos pontos conjugados), que nos permite relacionar analiticamente as
abscissas do objeto (p), da imagem(q) e do centro de curvatura C (R), nas condições de Gauss, já
mencionadas anteriormente (referencial de Gauss). A figura 5.7 contém os dados que precisamos.
reflexão da luz em
superfícies planas e
Esféricas.
Formação de imagens.
Figura 5.7 - Imagem de objeto nas condições de Gauss.
Se conhecermos a distância do objeto e o raio de curvatura do espelho, é possível calcular a
posição da imagem. Por convenção, tais distâncias (abscissas) são medidas a partir do vértice V. A
figura 5.7 mostra dois raios que passam pela extremidade do objeto com ordenada (altura) h. Um
passa pelo centro de curvatura C, reflete no espelho perpendicularmente e volta sobre si mesmo.
Essa é uma propriedade de todo raio incidente que passa pelo centro de curvatura C. O segundo
raio incide no vértice V fazendo um ângulo θ com o eixo ótico principal, refletindo-se, com ângulo
de reflexão θ obedecendo à segunda lei de reflexão. A ordenada da imagem (altura) é h’ estando
localizada onde os dois raios efetivamente se cruzam e possuindo uma abscissa q. É uma imagem
invertida (h’<0). No referencial de Gauss, se o objeto ou imagem estiverem na parte de cima do
eixo ótico principal, seus valores (ordenadas) são positivos, caso contrário, negativos.
Pela figura 5.7 é possível identificar dois triângulos retângulos com ponto comum em V e
ângulo θ. Do triângulo maior temos que tg θ = h/p e, do triângulo menor ficamos com tg θ = -h’/q.
A ampliação linear transversal da imagem é dada pela equação 5.1, ou seja,
AL =
h′
q
=−
h
p
(5.2)
Também pode identificar mais dois triângulos retângulos com ponto comum em C e ângulo
α. Assim temos,
tgα =
h
p−R
e
tgα = −
Igualando e comparando com a equação 5.2, ficamos com,
h′
R−q
1 1 2
+ =
p q R
(5.3)
(5.4)
A equação 5.4 é chamada de equação dos pontos
conjugados (equação de Gauss) ou equação do espelho
esférico. É aplicável somente ao modelo simplificado do
raio paraxial.
Se o objeto está muito longe quando comparado
com R (p→∞), temos que, 1/p→o, assim, q = 2/R. Isso
significa que quando o objeto está muito longe do espelho,
o ponto imagem está a meio caminho entre o centro de
curvatura e o vértice (fig.5.8). Os raios incidentes que
partem do objeto são praticamente paralelos uns aos
outros e paralelos ao eixo óptico principal. Os raios não
Figura 5.8 - Distância focal do espelho
paralelos ao eixo não incidem sobre o espelho.
esférico côncavo
81
FÍsiCa gEral iv
O ponto onde os raios paralelos, após refletirem-se no espelho, se encontram é chamado de
ponto focal (F), sendo ”f” sua distância focal (abscissa). Assim,
f =
R
2
(5.5)
A equação do espelho pode ser expressa em termos da distância focal, ou seja,
1 1 1
+ =
p q f
(5.6)
Em um holofote ou em um farolete, a lâmpada deve ser fixada no foco do espelho esférico
côncavo do aparelho, de tal forma que os raios refletidos saiam paralelos ao eixo central (eixo ótico
principal em 3 dimensões) do sistema.
A ampliação linear transversal (AL) ou aumento visual (Av) em termos da distância focal (f)
e da abscissa da imagem (q) pode ser expressa por,
AL =
f −q
f
(5.7)
Para um espelho esférico convexo, chamados de espelhos divergentes, os raios que partem
de qualquer ponto do objeto são refletidos divergindo-se, como se eles estivessem vindo de algum
ponto atrás do espelho. Nesta situação, a imagem é virtual, direita (ereta) e menor que o objeto.
Aplicando o modelo simplificado, a equação dos pontos conjugados é a mesma, tomando o cuidado
de definir o que é lado da frente e lado de trás do espelho, pois as abscissas e ordenadas sofrem
mudança de sinal. A figura 5.9 é uma representação esquemática do espelho esférico convexo.
Figura 5.9 - Espelho convexo. Imagem virtual
Além do aumento linear transversal, podemos definir também, o aumento linear longitudinal
(ALo), que é a relação entre o comprimento da imagem (Li) e o comprimento do objeto (Lo), medidos
ao longo do eixo ótico principal do espelho.
AL o =
Li
Lo
(5.8)
A imagem só será geometricamente semelhante ao objeto se for colocada frontalmente ao
espelho, caso contrário, suas dimensões mudam. Para objetos em três dimensões, a razão entre as
distâncias da imagem e do objeto medida ao longo do eixo óptico (ampliação linear longitudinal)
é diferente da razão medida perpendicularmente ao eixo óptico (ampliação linear transversal). Em
particular, quando a ampliação linear transversal for uma pequena fração do objeto, a imagem
tridimensional de um objeto tridimensional ao longo do eixo óptico principal será muito mais
reduzida que a imagem transversal. Uma coisa é certa, a imagem formada por um espelho esférico
ou por um espelho plano é sempre reversa ao longo do eixo óptico.
Podemos generalizar as convenções de sinais para todas as grandezas envolvidas (Tabela 2).
p é positiva se o objeto está em frente ao espelho (objeto real).
p é negativa se o objeto está atrás do espelho (objeto virtual).
q é positiva se a imagem está em frente ao espelho (imagem real).
q é negativa se a imagem está atrás do espelho (imagem real).
Tanto f quanto R são positivos se o centro de curvatura está em frente ao espelho (espelho côncavo).
Tanto f quanto R são negativos se o centro de curvatura está atrás do espelho (espelho convexo).
Se M é positiva, a imagem é direita.
Se M é negativa, a imagem é invertida.
Tabela 2 - Convenção de sinais para espelhos esféricos.
82
Exemplo 2: Imagem formada por um espelho côncavo.
Suponha que um determinado espelho esférico côncavo tem uma distância focal de 10 cm.
Encontre a localização da imagem para distâncias do objeto iguais a (a) 25 cm; (b) 10 cm e (c) 5
cm. Descreva a imagem em cada caso.
reflexão da luz em
superfícies planas e
Esféricas.
Formação de imagens.
Solução:
Em todas as situações utilizaremos a equação de conjugada do espelho esférico (eq.3.6) e a
ampliação linear transversal (eq. 3.2).
a)- Quando p = 25 cm, o objeto está longe do espelho, assim, substituindo os valores na equação
do espelho, ficamos com,
q = 16,7 cm
A ampliação é dada por,
AL = −
q
= −0,668 vezes
p
Descrição: O módulo da ampliação linear é menor do que a unidade significando que a imagem
é menor que o objeto e, o sinal negativo, indica que ela é invertida. Como q é positivo, a imagem
está localizada na frente do espelho e é real (Tabela 2).
b) quando p = 10 cm, ele está localizado no ponto focal do espelho. Substituindo os valores na
equação do espelho ficamos com,
q=∞
Descrição: Nessa situação, os raios refletidos são paralelos, não se cruzando, o que implica dizer
que imagem se forma no infinito.
c) para p = 5 cm, o objeto encontra-se entre o ponto focal e o vértice V do espelho, assim,
q = - 10 cm e AL = 2 vezes
Descrição: O valor negativo de q implica que a imagem é virtual e está localizada atrás do
espelho. Ela é ampliada de duas vezes (imagem maior que o objeto) e, sendo positiva, implica
que ela é direita.
Exemplo 3: Imagem formada por um espelho convexo
Um objeto de 3 cm de altura está localizado a 20 cm de um espelho convexo que tem uma
distância focal igual a 8 cm. Encontre a posição da imagem e sua altura final.
Solução:
Como o espelho é convexo, sua distância focal é negativa (f < 0). Utilizando as equações do
espelho da ampliação e da altura (eq. 3.1), ficamos com,
q = - 5,71 cm; AL = 0,286 vezes e h’ = 0,858 cm.
Descrição: O valor negativo em q é negativo implica que a imagem é virtual e está atrás do
espelho. Quando a ampliação é positiva significa que a imagem é direita e, neste caso, menor
que o objeto.
83
FÍsiCa gEral iv
Exercícios
1) Dois espelhos planos formam um ângulo de 110° entre si. Um raio de luz incide em um dos
espelhos com um ângulo de 40°, conforme mostra a ilustração. Determine o ângulo de reflexão
do raio no outro espelho.
2) Uma casa está situada à beira de um lago de águas tranquilas. Numa certa hora do dia,pela
posição do beiral, a luz direta do Sol não penetra na sala, mas uma parte da luz refletida pela
superfície do lago (reflexão especular) invade a sala da casa pela janela AB, conforme mostra
a ilustração a seguir. A inclinação dos raios no lago é iguala 53°. Determine: a)- a dimensão do
segmento CD, relativo à luz refletida projetada no teto, se AB= 0,75 m; b)- o desvio sofrido
pelos raios de luz na reflexão.
3) Um estudante usando cartola está defronte a um espelho plano vertical a uma distância “d”
conforme ilustração abaixo. Do extremo superior da cartola até os pés, a distância é igual a 2
m, e, dos olhos do estudante até o solo, é igual a 1,60 m. Considere a ponta dos pés, o extremo
superior da cartola e os olhos do estudante como situados no mesmo plano vertical Determine:
a) a dimensão vertical mínima que deve ter o espelho para que a imagem do estudante seja vista
integralmente; b)- Considerando que esteja sendo utilizado um espelho de dimensão mínima, a
que distância do solo deve se situar a sua borda inferior? Sugestão: A resolução deve ser feita
usando semelhança de triângulos.
4) Na falta de figurantes, um diretor de cinema lembra-se das aulas de Óptica Geométrica e
resolve utilizar uma associação de dois espelhos planos para simular a presença de muitas
pessoas. Com apenas 4 figurantes, ele consegue fazer uma tomada que aparenta ter 32
pessoas em cena. a)- Das 42 pessoas que “aparecem” em cena, quantas são imagens? b)Considerando uma das equações que determinam o número de imagens formadas por dois
espelhos planos ( n
84
=
360 
θ
− 1 ), qual foi o ângulo usado entre os espelhos?
5) Quando aproximamos um objeto de um espelho côncavo, desde o infinito até próximo do centro
de curvatura, sua imagem é:
a)- real, invertida e diminui;
b)- virtual e se afasta do espelho;
c)- real, invertida e se afasta do espelho;
d)- virtual e aumenta.
reflexão da luz em
superfícies planas e
Esféricas.
Formação de imagens.
6) A ilustração abaixo representa um espelho nas condições de Gauss (espelho gaussiano), com
vértice V, foco principal F e centro de curvatura C. O Objeto real O colocado diante dele tem
altura de 5 cm. a)- Faça o diagrama de raios e ache a imagem do objeto, dizendo se a imagem é
real ou virtual, direita ou invertida, maior ou menor que o objeto; b)- Ache a distância o objeto
e da imagem ao espelho e a ampliação linear transversal da imagem (tamanho).
7) Uma estreita barra AB (ilustração abaixo), tem 18 cm de comprimento e está disposta ao longo
do eixo principal de um espelho esférico côncavo de distância focal igual a 24 cm. Verifica-se
que a imagem da barra se superpõe à da própria barra. Qual é a distância do ponto B da barra
ao vértice do espelho.
8) O filamento de uma lâmpada de lanterna está a uma distância de 10 cm em frente a um espelho
côncavo que forma uma imagem sobre uma parede situada a uma distância de 3 m do espelho
(ilustração abaixo). a)- quais as características da imagem? b)- qual é o raio de curvatura e a distância
focal do espelho? c)- qual é a altura da imagem sabendo que a altura do objeto é de 5 cm?
9) Um ponto luminoso desloca-se com velocidade constante sobre o eixo de um espelho côncavo,
de raio igual a 20 cm. A posição “p” desse ponto é medida a partir do vértice do espelho e está
representada como função do tempo “t”, conforme ilustração abaixo. Obtenha a expressão da
posição “q” da imagem do ponto em função do tempo.
10) Uma barra de vidro cilíndrica no ar possui índice de refração igual a 1,52. Uma das
extremidades foi cortada e polida formando uma superfície hemisférica de raio igual a 2 cm,
conforme ilustração. Calcule: a)- a distância formada por um pequeno objeto situado sobre o
eixo principal da barra e a uma distância de 8 cm à esquerda do vértice b)- a ampliação linear
transversal da imagem do objeto; c)- quais são as características da imagem? d)- se a barra for
imersa na água (n = 1,33), calcule novamente os itens a) e b), mantendo as demais grandezas
constantes;. e)- quais são as novas características da imagem?
85
FÍsiCa gEral iv
Anotações
86
Anotações
reflexão da luz em
superfícies planas e
Esféricas.
Formação de imagens.
87
FÍsiCa gEral iv
Anotações
88
6
6.1
superfícies planas
6.2
superfícies Esféricas
Refração da Luz
Superfícies Planas
e Esféricas
89
FÍsiCa gEral iv
6
REFRAÇÃO DA LUZ – SUPERFÍCIES PLANAS E ESFÉRICAS
6.1
Superfícies Planas
No capítulo 4, tratamos dos princípios gerais da refração luminosa, estabelecendo leis
válidas para superfícies regulares e transparentes. Neste capítulo, faremos um apanhado de
situações cotidianas envolvendo a refração em vários objetos planos e curvos. Em todos os casos,
sempre usaremos o modelo simplificado de raios paraxiais, a Lei de Snell-Descartes e as condições
de Gauss, quando for o caso.
6.1.1
Dioptro Plano
Quando olhamos para dentro de uma piscina cheia de água, ela parece mais rasa do que
realmente é. Um objeto mergulhado na água aparenta estar a uma profundidade menor do que a
real. Essa aparente “ilusão de óptica” ou “imagem virtual” pode ser explicada através da refração
que a luz sofre ao vir da água e atingir nossos olhos. A esse par de meios (ar-água) separado por
uma interface lisa, dá-se o nome de dioptro plano, que pode ser generalizado para qualquer par de
meios homogêneos e transparentes, separados por uma superfície plana.
Vamos nos relatar à figura 6.1. Nela, estamos olhando para dentro da piscina e vendo um
objeto que está no ponto O. Aparentemente, o objeto parece estar no ponto I (imagem virtual –
profundidade dI), a uma distância menor do que deveria estar (profundidade do). A profundidade
aparente pode ser obtida pela aplicação da lei de Snell-Descartes na passagem da luz proveniente
da água (nágua – meio 1) para o ar (nar-meio 2).
Figura 6.1 - Dioptro plano – Profundidade aparente
Para ângulos pequenos em radianos (0 ≤ θ ≤ 15°), podemos fazer as seguintes aproximações
trigonométricas,
x
senθ1 ≅ tgθ1 =
d0
sen=
θ 2 tg=
θ2
e
Substituindo na Lei de Snell-Descartes, ficamos com,
nágua ⋅
Assim,
x
x
= nar ⋅
d0
dI
d=
d0 ⋅
I
nar
nágua
x
dI
(6.1)
(6.2)
(6.3)
Esta situação ocorre quando você está pescando num lago calmo e vê um peixe numa certa
profundidade. O peixe parece estar mais perto do que realmente está. Explique como um índio
consegue atingir um peixe com uma lança. Onde ele deve mirar a lança?
Uma situação oposta é quando um observador está mergulhando e quer ver um pássaro
fora da água, ou um submarino submerso querendo atingir um helicóptero planando acima do mar
calmo. Nesta situação, o objeto está a uma altura ho, mas aparentemente parece estar a uma altura
hI, maior do que deveria estar (fig. 6.2). Fazendo as mesmas aproximações, ficamos com,
h=
h0 ⋅
I
90
nágua
nar
(6.4)
refração da luz
superfícies planas e
Esféricas
Figura 6.2 - Dioptro plano. Altura aparente
Obs. Mesmo que o observador estiver com ângulo de visada vertical, é possível aplicar as
aproximações da equação 6.1
Exemplo 1
Um fotógrafo, desejando captar a figura existente nos azulejos do fundo de uma piscina, posiciona
sua câmera bem próxima à superfície calma da água e verticalmente ao fundo. Nessa situação,
verifica que a câmera fica bem focalizada se a distância entre o azulejo e ela for igual a 3 m,
conforme ilustração a seguir. Qual é a profundidade real da piscina. Dados: nágua = 4/3 e nar = 1.
Solução:
A luz vem da água (meio 1) para o ar (meio 2). A distância aparente é d1 = 3 m. A profundidade
real da piscina (d0) será calculada utilizando a equação 4.3, assim,
d1 n2
=
→→ d0 = 4 m.
d o n1
6.1.2
Lâmina de Faces Paralelas
Outro dispositivo muito utilizado em residências, em automóveis, estabelecimentos
comerciais e em pesquisas são as lâminas de faces paralelas. Um corpo transparente limitado
por duas superfícies planas e paralelas constitui uma lâmina de faces paralelas (fig. 6.3). Estando
imersa, por exemplo, no ar, temos um conjunto de três meios, a saber: ar-vidro-ar. Uma janela de
vidro, uma lâmina de microscópio, para brisas de automóveis, películas que recobrem embalagens
de produtos, mesas recobertas com vidro. Podemos ter vários meios transparentes envolvidos com
um aquário, uma associação de lâminas paralelas, uma forma de vidro com água, etc.
Figura 6.3 - Lâmina de faces paralelas imersa no ar.
Vejamos o que acontece quando um raio de luz monocromático proveniente de ar (meio
menos refringente) atravessa a placa de vidro de espessura “e” (meio mais refringente) e retorna ao
ar, novamente. O ar e o vidro possuem índices de refração absolutos distintos e, neste caso, podese ver que o raio de luz sofre duas refrações nas faces paralelas da lâmina [interface ar-vidro (A) e
vidro-ar (B)]. Aplicando a Lei de Snell-Descartes para as duas faces (pontos A e B), temos,
nar ⋅ senθ1 =nvidro ⋅ senθ R
e
nvidro ⋅ senθ R =
nar ⋅ senθ 2
(6.5)
91
FÍsiCa gEral iv
É possível observar que após atravessar a lâmina de vidro, o raio emergente para o ar
mantém-se paralelo ao raio incidente no vidro (θ1 = θ2 = θ). Assim, o efeito físico que a lâmina
provoca é o deslocamento lateral do raio incidente-emergente (d). Vamos calcular o deslocamento
lateral sofrido pelo raio.
Do triângulo retângulo ABD, temos que,
sen (θ1 − θ=
R)
d
d
→→→ AB
=
AB
sen (θ1 − θ R )
(6.6)
e
e
→→→ AB
=
AB
cos θ R
(6.7)
sen(θ1 − θ R )
cos θ R
(6.8)
Do triângulo ABC, temos que,
cos=
θR
Igualando as equações 6.6 e 6.7, ficamos com,
d = e⋅
Se a lâmina possui índice de refração menor que o meio em que está imersa, o deslocamento
também existe e aumenta, pois há um aumento do ângulo de refração.
A figura 6.4 (a e b) permite a visualização das condições em que o deslocamento do raio
incidente é mínimo e máximo.
(a)
(b)
Figura 6.4 - (a) Deslocamento nulo. Incidência normal.
(b) Deslocamento máximo. Incidência rasante.
Exemplo 2
Um feixe de luz passa de um meio 1 para um meio 2 e depois volta ao meio 1, conforme mostra a
representação abaixo. Mostre que o ângulo de incidência é igual ao ângulo que o raio sai da placa.
Solução:
Aplicando a lei de Snell-Descartes na superfície superior e na superfície inferior, ficamos com,
senϑ2 =
n1
senθ1
n2
e
senθ 3 =
n2
senθ 2
n1
Substituindo senθ2 na segunda equação temos,
senθ 3 =
n2
n1

 n1
 senθ1  = senθ1

 n2
Assim, θ 3 = θ 1 . A placa não altera a direção do feixe, como é mostrada pela linha tracejada no
desenho acima, produzindo apenas um deslocamento lateral do feixe, representado pela letra “d”.
92
6.1.3
Prismas
Quando tratamos da refração luminosa, vimos que a dependência do índice de refração
com o comprimento de onda, que resulta da dependência da velocidade com seu comprimento, é
chamada de dispersão da luz. Uma vez que o índice de refração n é uma função do comprimento de
onda, a Lei de Snell-Descartes indica que o ângulo de refração, quando a luz penetra num material,
depende do comprimento de onda da luz, com exceção para o vácuo.
Um prisma é um sistema composto por três meios homogêneos e transparentes (ar-vidroar), separado por duas superfícies não-paralelas, sendo um dispositivo importante para o estudo
da refração da luz em suas interfaces, provocando a dispersão luminosa. A trajetória do raio de luz
não é apenas deslocada (como na lâmina de faces paralelas), mas também desviada (refratada). Em
função destas características, os prismas apresentam muitas aplicações tecnológicas. Imaginando
um raio de luz monocromática atravessando um prisma, quando emerge do outro lado, ele forma
com a direção do raio incidente um ângulo de desvio δ (fig. 6.5).
refração da luz
superfícies planas e
Esféricas
Figura 6.5 - Refração da Luz - Desvio angular δ
Para um feixe policromático (luz branca) com inúmeros comprimentos de onda, cada raio
monocromático sofrerá um desvio específico como função de seu comprimento de onda, resultando
num leque de cores (espectro), denominado de arco-íris (fig.6.6). A dispersão total depende da
diferença entre o índice de refração da luz violeta e o índice de refração da luz vermelha, dando-nos
uma medida da dispersão.
Figura 6.6 - Dispersão da luz branca por um prisma
Vamos imaginar um prisma triangular (meio 2), imerso no ar (meio 1), atravessado por
um raio de luz monocromático, cuja diferença entre a direção do raio incidente-emergente seja o
ângulo δ, conforme a figura 6.7.
Figura 6.7 - Prisma imerso no ar
93
FÍsiCa gEral iv
O ângulo  entre as faces atravessadas pelo raio é chamado de ângulo de refringência e
θ1 e θ2 são os ângulos de incidência e de emergência, respectivamente. Aplicando a Lei de SnellDescartes nos pontos de incidência-emergência e o teorema dos ângulos externos no prolongamento
dos raios incidente-emergente e no prolongamento das retas normais às faces, temos que,
ˆ
δ= θ1 + θ 2 − Α
(6.9)
À medida que variamos o ângulo de incidência, o desvio angular δ também varia. No caso
do prisma estar imerso no ar (meio menos refringente), o desvio por refração é mínimo δmin. quando
os ângulos de incidência-emergência são iguais (θ1 = θ2 = θ), o que implica, também, que θ’1 = θ’2
= θ’. A situação fica exatamente simétrica em relação ao plano bissetor do prisma (linha divisória
do prisma, onde o ângulo de refringência é dividido ao meio), donde ficamos com,

A = θ1′ + θ 2′ = 2θ ′
(6.10)
O desvio angular mínimo, fica,

δ min . = 2θ − A
(6.11)
Dependendo da forma geométrica do prisma, o raio de luz pode sofrer refração na primeira
face e reflexão total na segunda face, sendo denominada de prisma de reflexão total. A figura 4.1
apresenta os dois prismas de reflexão total mais utilizados em aplicações práticas, principalmente
em substituição aos espelhos planos nos instrumentos ópticos. Ambos têm formato de um triângulo
retângulo isósceles, porém, a luz incide de forma diferente nas faces. No prisma de Amici, o raio
emergente é perpendicular ao raio incidente devido à reflexão total na face maior do triângulo,
enquanto que, no prisma de Porro, o raio emergente sai na mesma direção do raio incidente, mas
com sentido contrário, sofrendo duas reflexões totais nas faces menores do triângulo.
Figura 6.8 - Prisma de Amici e prisma de Porro.
Exemplo 3
Um prisma retangular de vidro crown imerso no ar (nar = 1), tem ângulo de refringência igual a
60°, e índice de refração np = 1,52, para uma certa luz monocromática. Determine o desvio do
raio de luz que incide no prisma (ilustração abaixo).
Solução:
Para calcularmos o desvio δ, precisamos calcular o ângulo de emergência θ2. Para isso, devemos
calcular antes os ângulos internos ao prisma θ 1′ e θ 2′ . Aplicando a Lei de Snell-Descartes para
o raio luminoso na face 1 temos,
nar ⋅ senθ1 =
n p senθ1′
→→
θ 2′ ,
θ 2′ =32,3°
θ1′ = 27, 7
Aplicando a equação 4.10 achamos o valor de
Aplicando a Lei de Snell-Descartes na face 2, acharemos θ2. Assim,
θ2 = 54,3°
O desvio é dado pela equação 4.9, logo,
δ = 39,3°.
94
6.2
Superfícies Esféricas
As imagens podem ser formadas por reflexão ou refração dos raios em superfícies espelhadas
ou não. Nesta parte, estudaremos a refração que ocorre na interface esférica entre dois materiais
transparentes com índice de refração diferentes. É um estudo interessante, pois sua aplicação
ocorre em sistemas óticos reais, como lentes, olho humano e instrumentos óticos em geral.
Vamos considerar dois meios transparentes com índices de refração n1 e n2 onde a interface
entre os dois meios é uma superfície esférica com raio de curvatura R. Vamos supor, também, que n1
< n2 (p. ex. ar-vidro). Um objeto puntual O está localizado no meio 1 e todos os raios paraxiais que
emergem dele são refratados na superfície esférica, convergindo para um único ponto I (meio 2), o
ponto imagem do objeto (fig.6.9).
refração da luz
superfícies planas e
Esféricas
Figura 6.9 - Imagem formada por refração na interface esférica entre os meios.
Para fazermos um estudo analítico da situação, vamos desenvolver a construção geométrica
para um único raio que emerge do ponto O (ponto objeto), passando, por refração, pelo ponto
imagem I (fig. 6.10).
Figura 6.10 - Geometria e parâmetros para o estudo analítico.
Aplicando a lei de Snell-Descartes na fronteira, ficamos com,
n1 senθ1 = n2 senθ 2
(6.12)
Para raios paraxiais, os ângulos de incidência e de refração são pequenos, daí podemos
utilizar a aproximação senθ ≈ θ (em radianos). Assim, a equação 29 fica,
n1θ1 = n2θ 2
(6.13)
Faremos uso de triângulos, mas o estudante deve lembrar que um ângulo externo de
qualquer triângulo é igual à soma dos dois ângulos externos opostos do triângulo. Dessa forma,
para os triângulos OPC e PIC, obtemos as seguintes relações,
θ1 = α + β
e
β = θ2 + γ
(6.14)
Combinando as equações 6.13 e 6.14, eliminamos os ângulos de incidência e refração, assim,
n1α + n2 γ = (n2 − n1 )β
(6.15)
Para ângulos pequenos (aproximação paraxial), temos as seguintes relações matemáticas
aproximadas,
tgα ≈ α ≈
d
;
p
tg β ≈ β ≈
d
R
e
tgγ ≈ γ ≈
d
q
(6.16)
Substituindo as aproximações na equação 6.15 e dividindo por d, ficamos com,
n1 n2 n2 − n1
+
=
p q
R
(6.17)
95
FÍsiCa gEral iv
A equação 6.17 estabelece a relação objeto-imagem para uma superfície esférica de raio
R, imersa num meio com índice de refração diferente do dela. Para um objeto extenso de altura h
frente a uma superfície refratora esférica que conjuga uma imagem h’ do objeto, a ampliação linear
transversal de um objeto frente a uma superfície refratora é dada por,
A L=
nq
h′
=− 1
h
n2 p
(6.18)
As equações 6.17 e 6.18 podem ser aplicadas para superfícies refratoras côncavas ou
convexas, desde que o estudante use as regras de sinais de modo correto. O sinal negativo indica
que a imagem está invertida em relação ao objeto (referencial de Gauss). A tabela 3 fornece a
convenção de sinais para superfícies refratoras esféricas, inclusive, também são válidas para as
lentes delgadas, que serão estudadas na próxima seção. Uma observação que deve ser feita é que
as convenções de sinais para superfícies refratoras esféricas são similares às convenções para
espelhos, mas deve ser tomado cuidado com relação à mudança nos lados da superfície para
imagens reais e virtuais (Tabela 3).
p é positiva se o objeto está em frente à superfície (objeto real).
p é negativa se o objeto está atrás da superfície (objeto virtual).
q é positiva se a imagem está atrás da superfície (imagem real).
q é negativa se a imagem está em frente à superfície (imagem real).
R é positivo se o centro de curvatura está atrás da superfície.
R é negativo se o centro de curvatura está em frente à superfície.
Tabela 3 - Convenção de sinais para superfícies refletoras transparentes
Um caso interessante é quando a superfície refletora é uma superfície plana entre dois
meios transparentes. O raio de uma superfície plana é infinito, ou seja, R → ∞. Neste caso, a
equação 6.17 se reduz a,
n1 n2
n
+
= 0 →→ q = − 2 p
p q
n1
(6.19)
A ampliação linear transversal possui a mesma orientação do objeto, podendo ser real ou
virtual.
Exemplo 4
Um pequeno peixe está nadando a uma profundidade “d” abaixo da superfície plana de um
lago. Qual é a profundidade aparente “q” do peixe visto diretamente de cima, conforme desenho
ilustrativo a seguir.
Solução:
A superfície refletora é plana, portanto, o raio R é infinito, assim, aplicando a equação 4.19
ficamos com,
q=−
n2
1,0
p=−
= −0,752d
n1
1,3
O sinal negativo indica que a imagem é virtual, como pode ser visualizado pelo desenho acima,
estando no mesmo lado da superfície que o objeto. A profundidade aparente é aproximadamente
três quartos da profundidade real (ver exemplo dioptro plano). Qual é o valor a ampliação linear
transversal do peixe?
96
Exemplo 5
Uma moeda de 2,00 cm de diâmetro está embutida em uma bola maciça de vidro com 30,0 cm
de raio, conforme mostra o desenho abaixo. O índice de refração do vidro é 1,50 e a moeda está
a 20 cm da superfície. Encontre:
a)- a posição aparente da moeda (imagem);
b)- a ampliação da imagem da moeda.
refração da luz
superfícies planas e
Esféricas
Solução:
O índice de refração do ar é igual a 1. Como o índice do vidro é maior que do ar, os raios que se
originam na moeda são refratados se afastando da normal. A imagem formada se localiza dentro
do vidro, sendo virtual (do mesmo lado que a moeda)
a) Aplicando a equação 4.17, ficamos com,
1,50 1 1, 00 − 1,50
+ =
−30, 0
20, 0 q
→→
q = - 17,1 cm
O sinal negativo indica que a imagem é virtual e está no mesmo meio que a moeda (luz incidente).
O Raio é negativo porque o centro de curvatura está em frente da superfície côncava (Tabela 3).
b) A ampliação é dada pela equação 4.18, assim,
AL = −
n1 q
n2 p
AL = 1,28 vezes
A imagem parece ser 28% maior que o objeto.
6.2.1
Lentes
O dispositivo ótico mais utilizado no mundo atual depois do espelho plano é a lente, que
é um sistema ótico transparente, limitado por duas faces refratoras, das quais pelo menos uma é
curva. As lentes sempre estão imersas em meios com índices de refração menor ou maior que o
delas. Se o índice de refração do meio for menor que o delas, elas apresentam um comportamento
óptico (aumento ou diminuição da imagem), e se for maior que o delas, ocorre o inverso. Quando as
duas faces são esféricas ou uma é esférica e a outra não, a lente é denominada de lente esférica. Se
as duas superfícies esféricas estão suficientemente próximas de tal forma que podemos desprezar a
distância entre elas (espessura da lente) ou, quando a espessura é desprezível em relação aos raios
de curvatura das faces, chamamos este dispositivo de lente esférica delgada.
De acordo com tais critérios, existem seis tipos de lentes esféricas delgadas, dependendo
se as faces apresentam superfícies côncavas, convexas ou ambas. As lentes mais grossas no centro
do que nas bordas são chamadas de lentes esféricas de bordas delgadas, que quando imersa em
meios com índice de refração menor que o da lente apresenta a propriedade de convergir os raios
que passam por ela, recebendo o nome de lente convergente. Se a espessura da lente é mais fina no
centro que nas bordas, recebe o nome de lente esférica de bordas espessas, e quando imersas em
meios com índice de refração menor que o delas, apresentam características que fazem divergir os
raios que por elas passam, recebendo a denominação de lente divergente. A figura 6.11 dá o perfil,
em corte, de cada uma dessas lentes, enunciando em primeiro lugar o nome da face que possui o
maior raio de curvatura R, com exceção para as lentes bicôncavas e biconvexas.
97
FÍsiCa gEral iv
Figura 6.11 - Lentes esféricas divergentes e convergentes
Para definir os elementos de uma lente esférica vamos considerar uma lente biconvexa
(convergente no ar), cujo perfil está representado pela figura 6.12.
Figura 6.12 - Lente esférica biconvexa. Elementos geométricos
Vamos considerar a luz incidindo na face 1, mas a mesma análise é válida caso a luz incida
na face 2, visto o princípio da reversibilidade dos raios luminosos. Por definição (fig. 6.12), os
elementos de uma lente são:
C – Centro de curvatura das faces;
V – Vértice das faces;
R – Raio das faces;
S – eixo principal (contém os vértices e os centros de curvatura).
A distância entre os vértices é a espessura da lente (e). Um ponto no interior da lente situado
sobre o eixo principal e a igual distância entre os vértices é chamado de centro ótico da lente,
símbolo O. Qualquer outro eixo que passe pelo centro ótico é chamado de eixo secundário da lente.
Os raios luminosos ao incidir numa direção qualquer, mas que passam pelo centro ótico,
emergem da lente na mesma direção, sofrendo um pequeno deslocamento lateral δ, que é menor
do que a espessura da lente (e), considerado desprezível quando empregamos o modelo de raios
paraxiais, portanto, para todos os fins, o raio que passa pelo centro ótico não sofre desvio.
Para nossa análise, vamos considerar o diagrama de raios visualizado pela figura 6.13.
Figura 6.13 - Diagrama de raios. Construção geométrica
98
Fazendo uso de relações trigonométricas de triângulos da figura e da ampliação da imagem,
obtemos uma equação idêntica à dos espelhos esféricos, ou seja,
1 1 1
+ =
p q f
(6.20)
refração da luz
superfícies planas e
Esféricas
A equação 6.20 é denominada de equação da lente delgada, equação dos pontos conjugados
ou equação de Gauss, válida para lentes convergentes ou divergentes, desde que sejam observadas
as convenções de sinais, descritas na tabela 4.
p é positiva se o objeto está em frente à lente.
p é negativa se o objeto está atrás da lente.
q é positiva se a imagem está atrás da lente.
q é negativa se a imagem está em frente à lente.
R1 e R2 são positivos se o centro de curvatura está atrás da lente.
R1 e R2 são negativos se o centro de curvatura está em frente à lente.
f é positiva se a lente é convergente.
f é negativa se a lente é divergente.
Tabela 4 Convenções de sinais para lentes delgadas
Observe que, ao utilizar a convenção de sinais da tabela 4, uma lente convergente tem uma
distância focal positiva e uma lente divergente tem uma distância focal negativa. A ampliação
linear transversal de uma lente é idêntica à dos espelhos esféricos, dada por,
AL =
h′
q
f
f −q
=− =
=
h
p f −p
f
(6.21)
A convergência C ou Potência P de uma lente é definida como o inverso da abscissa focal
(f), apresentando o mesmo sinal da distância focal.
C=P=
1
f
(6.22)
Sua unidade no SI é a dioptria (di), tal que uma di = 1/m = m-1. Quanto maior o módulo da
convergência de uma lente, maior será sua capacidade de desviar (refratar) raios provenientes do
objeto. Popularmente a unidade da convergência (dioptria) é chamada de grau, ou seja, 1 grau =
1 di = 1 m-1. Pela equação acima, quanto maior a distância focal, menor é a convergência de uma
lente (desvia pouco os raios incidentes).
Exemplo 6
Uma lente convergente projeta uma imagem real a 72 cm de um objeto real, conforme desenho abaixo.
Qual é a convergência da lente (di), sabendo-se que a imagem tem 5 vezes o tamanho do objeto.
Solução:
Como o objeto e a imagem são reais, as distâncias p e q são positivas, sendo a imagem invertida.
A ampliação linear é dada por,
h′
= −5 vezes, mas a ampliação pode ser dada pela equação 3.2, ou seja,
h
q
AL = −
→→ q = 5p (I)
p
AL =
Do desenho temos que, q + p = 72 (II). Assim,
p = 12 cm e q = 60 cm.
Aplicando a equação dos pontos conjugados (4.20) temos,
f = 10 cm.= 0,1 m.
A convergência é dada pela equação 4.22, com a distância focal em metros. Assim,
C = 10 dioptrias
99
FÍsiCa gEral iv
Exemplo 7
Duas lentes delgadas e convergentes com distâncias focais iguais a 10 cm e 40 cm estão
justapostas para se obter uma maior convergência. Calcule a convergência final da associação.
Solução:
Para se saber a convergência final, as distâncias focais devem ser expressas em metros (SI),
Assim,
Ceq. = C1 + C2 =
1 1
1
1
+ =
+
f1 f 2 0,1 0, 4
→→
Ceq. = 12,5 di
Toda lente está imersa em determinado meio que influencia sua convergência. Edmond
Halley (1656-1742), físico e astrônomo inglês, propôs uma equação, que ficou conhecida como
fórmula dos fabricantes de lentes, que relaciona a influência do meio que envolve a lente no valor
de sua distância focal. A distância focal está relacionada com a curvatura das faces da lente, com o
meio que a envolve e com o material de que é feito a lente. A equação proposta permite mostrar que
todas as lentes convergentes possuem distâncias focais positivas e que todas as lentes divergentes
possuem distâncias focais negativas. A equação é encontrada em livros da área e cabe ao aluno
procurar deduzi-la. A figura 6.14 serve como auxílio.
Figura 6.14 - Lente bicôncava imersa em meio
No processo de dedução da relação entre a distância do objeto (p), da imagem (q) e da
distância focal (f) de uma lente delgada (equação da lente delgada), também é possível deduzir uma
relação matemática entre a distância focal (f) de uma lente em função de seu índice de refração e
do meio que a envolve, bem como dos raios de curvatura de suas faces. A equação dos fabricantes
de lentes é dada por,
C=
 1
1 1 1  n2
1 

+ = =  − 1 +
p q f  n1
 R1 R2 
(6.23)
Deve-se observar a convenção de sinais para as lentes e, em especial, se o sinal do raio de
curvatura R é positivo, a lente é convergente (superfície externa convexa) e quando R for negativo,
a superfície externa é côncava (lente divergente).
Obs: Tem que ser analisado os dois lados da lente e ver se os centros de curvaturas estão na
frente ou atrás da lente e se possuem os mesmos valores.
Exemplo 8
Uma lente biconvexa imersa no ar tem um índice de refração igual a 1,50. O raio de curvatura
da superfície frontal vale 10 cm e o da traseira é igual a 15 cm. Qual é a distância focal da lente?
Solução:
Pela tabela 4, vemos que R1 = 10 cm e R2 = - 15 cm. Utilizando a equação dos fabricantes de
lentes (4.23), temos que,
 1
1  n2
1 
 →→ f = 12 cm.
=  − 1 +
f  n1
 R1 R2 
As lentes são representadas por setas orientadas que procuram dar a ideia de que a lente é mais
fina nas bordas ou mais grossa. É uma forma estilizada que não faz uso da espessura real da lente, mas
considera o eixo ótico principal e o centro ótico das lentes. A seta perpendicular e orientada para fora
do eixo (extremidades) representa uma lente convergente e orientada no sentido do eixo representa
uma lente divergente. A figura 6.15 visualiza a representação estilizada das lentes convergentes e
100
divergentes, que será utilizada para a construção de imagens produzidas por lentes.
refração da luz
superfícies planas e
Esféricas
Figura 6.15 - Representação pra as lentes convergentes e divergentes
Toda lente possui dois focos que podem ser reais ou virtuais. Eles serão denominados de
foco objeto principal e foco imagem principal (fig. 6.16). Situados em planos paralelos à lente,
numa distância igual à distância focal, temos dois planos denominados de planos focais. Qualquer
segmento de reta que contenha o centro ótico da lente é denominado de eixo, que pode ser principal
ou secundário. Em particular, se a reta for o eixo principal, obtemos os focos principais, objeto ou
imagem. Fora desta condição, obtemos os focos secundários. As figuras a seguir, visualizam os
focos das lentes convergentes e divergentes.
Figura 6.16 - (A) Foco objeto principal (F0) – Lente convergente.
(B) Foco objeto principal (F0) – Lente divergente.
O foco objeto principal é relativo à luz que incide na lente (fig. 6.16). Observa-se que os
raios incidentes que passam pelo foco objeto emergem paralelos ao eixo principal. Para a lente
convergente o foco é real (cruzamento efetivo dos raios luminosos), enquanto que, para a lente
divergente, o foco é virtual (cruzamento do prolongamento dos raios incidentes).
Figura 6.17 - (A) Foco Imagem principal (Fi) – Lente convergente
(B) Foco Imagem Principal (Fi) – Lente divergente
O foco imagem principal se refere à luz que emerge da lente (fig. 6.17). Quando raios incidem
paralelos ao eixo principal, estes emergem da lente numa direção que contém o foco imagem. Para
as lentes convergentes, o foco imagem é real, enquanto que, para as lentes divergentes, o foco
imagem é virtual.
Uma observação importante é que se os meios externos à lente forem os mesmos (dos dois
lados da lente), os dois focos principais, objeto e imagem, são simétricos em relação ao centro
ótico da lente. A distância entre um foco principal (F) e o centro ótico da lente (O) é chamada de
distância focal (f).
Também podemos definir três raios, chamados de raios notáveis ou raios principais
(fig.6.18), porque possuem um comportamento específico e serão de grande valia para a obtenção
das imagens formadas por lentes e pelos instrumentos óticos. Tais raios para as lentes convergentes
e divergentes são visualizados a seguir.
101
FÍsiCa gEral iv
Figura 6.18 - Raios notáveis para lentes convergentes e divergentes.
Os raios notáveis apresentam as seguintes características:
1- Todo raio luminoso incidente que passa pelo centro ótico da lente não sofre desvio (não
é refratado).
2- Todo raio luminoso incidente que passa pelo foco objeto principal da lente é refratado,
emergindo paralelamente ao eixo principal.
5. Todo raio de luz que incide paralelamente ao eixo principal da lente, ao sofrer refração,
emerge passando pelo foco imagem principal.
Também podemos definir os pontos antiprincipais das lentes esféricas delgadas. São pontos
cuja distância ao centro ótico é o dobro da abscissa focal (fig. 6.19), possuindo a seguinte propriedade:
Todo raio de luz que incide na lente numa direção passando pelo ponto antiprincipal objeto
(A0) emerge numa direção que passa pelo pronto antiprincipal imagem (Ai).
Figura 6.19 - Pontos antiprincipais para lentes convergentes e divergentes.
Utilizando os raios notáveis, os focos e os pontos antiprincipais, vamos construir as imagens
formadas por lentes convergentes e divergentes. Dado um ponto objeto principal (P), faremos uso
de apenas dois raios principais, para determinar o ponto imagem principal (P’). Poderíamos usar os
três raios notáveis, mas somente dois raios que concorrem para um mesmo ponto são necessários,
inclusive, para que nosso diagrama não fique sobrecarregado de retas atrapalhando a visualização.
Vamos iniciar nosso diagrama para as lentes convergentes, pois elas são importantes na construção
de telescópios, microscópios, óculos, lupas e outros. Dependendo da posição do objeto real em relação ao
centro óptico da lente, ela associa uma imagem real ou virtual, direita ou invertida, maior ou menor do que
o tamanho do objeto. Podemos ter cinco posições distintas ocupadas pelo objeto, que são:
a)- Objeto colocado aquém do ponto antiprincipal A0. Nesta situação, a imagem será real,
invertida e menor do que o objeto, situada entre o foco imagem e o ponto antiprincipal imagem,
conforme pode ser visualizado pela figura 6.20. Este tipo de imagem ocorre nas máquinas
fotográficas e filmadora, que conjuga a imagem sobre o filme.
Figura 6.20 - Imagem real, invertida e menor que o objeto.
102
b)- Objeto colocado no ponto antiprincipal A0. Nesta posição, a imagem é real, invertida
e do mesmo tamanho que o objeto, localizada sobre o ponto antiprincipal imagem, conforme se
depreende da figura 6.21.
refração da luz
superfícies planas e
Esféricas
Figura 6.21 - Imagem real, invertida e do mesmo tamanho que o objeto.
c)- Objeto colocado entre o ponto antiprincipal objeto A0 e o foco objeto F0. Para esta
disposição, a imagem é real, invertida e bem maior que o objeto, estando localizada além do
ponto antiprincipal imagem. Tal situação ocorre nos projetores de filmes e de slides, que do objeto
conjuga uma imagem sobre a tela, podendo ser visualizada por vários observadores ao mesmo
tempo, conforme a figura 6.22.
Figura 6.22 - Imagem real, invertida e maior que o objeto.
d)- Objeto sobre o foco objeto F0. A imagem é chamada de imprópria, pois está formada
no infinito. Na realidade, não há cruzamento dos raios (imagem real) e nem do prolongamento
dos raios (imagem virtual), conforme se percebe da figura 6.23. Os raios refratados são paralelos,
portanto, nunca se encontram para formar imagens.
Figura 6.23 - Imagem imprópria. Raios refratados paralelos.
e)- Objeto colocado entre o foco objeto F0 e o centro óptico da lente 0. Nesta situação, a
imagem é virtual, direita e maior que o objeto, estando do mesmo lado da lente que o objeto. É
o caso das lupas ou microscópio simples e parece que ela está atrás da lente, sendo que, para o
observador, dá a impressão que os raios refratados emergem do ponto P’ (ponto imagem), conforme
pode ser visualizado pela figura 6.24.
103
FÍsiCa gEral iv
Figura 6.24 - Imagem virtual, direita e maior que o objeto.
As lentes divergentes, como o próprio nome diz, em vez de concentrar os raios refratados
no ponto imagem, ela os divergem, sempre produzindo imagens direitas, menores e virtuais.
Muitas vezes, pode-se pensar que as lentes divergentes não possuem utilização tecnológica, visto
as características de suas imagens, mas esta visão não é verdadeira. As lentes divergentes são
utilizadas nos “olhos-mágicos” das portas de segurança, nos óculos e lentes de contato de pessoas
míopes, na lente panorâmica de máquinas fotográficas (associação de lentes). Em todas estas
situações, a lente divergente cria uma imagem pequena de um grande campo de visão (ângulo de
visão grande). A figura 6.25 representa a lente divergente.
Figura 6.25 - Lente divergente. Imagem virtual, direita e menor que o objeto.
6.2.2
Aberrações em Lentes e Espelhos
Um dos problemas que surge ao usarmos lentes, sistemas de lentes ou espelhos esféricos são
as imperfeições nas imagens. Ao adotarmos o modelo de raio paraxial para imagens formadas por
lentes ou espelhos esféricos, estamos supondo que os raios incidentes fazem pequenos ângulos com
o eixo principal e que todos os raios que incidem partindo de uma fonte puntual são focalizados em
um único ponto, chamado de ponto imagem, que deveria ser nítida, clara e perfeita. Na realidade,
as imagens formadas não são sempre assim, havendo imperfeições, falta de nitidez, borradas,
demonstrando que o modelo de raios paraxiais não vale para todo e qualquer ângulo de incidência.
Para analisar de forma correta a formação de imagens, devemos a cada raio traçado, aplicar
a lei de reflexão, para o caso das superfícies refletoras e, a Lei de Snell-Descartes a cada superfície
refratora. Tal procedimento mostra que não existe um ponto único no qual ocorre a formação
da imagem, mas pode existir uma infinidade de pontos, resultando numa pequena área, onde a
imagem aparece borrada, sem nitidez. As discrepâncias entre as imagens reais (imperfeitas) e
as imagens ideais prescritas pelo modelo de raios paraxiais, são chamadas de aberrações, que
podem ser esféricas ou cromáticas.
A aberração esférica, já comentada quando tratamos do modelo de raios paraxiais para
superfícies esféricas, resulta no fato de que os pontos focais dos raios luminosos distantes do
eixo principal de uma lente ou espelho esférico são diferentes dos pontos focais para os raios
(de mesmo comprimento de onda) que passam próximos do eixo ótico principal. Ela consiste
na impossibilidade de um objeto puntiforme situado sobre o eixo principal convergir para uma
imagem puntiforme (P’), assim, os raios convergem para uma região no interior de um círculo
que possui raio mínimo, denominado de círculo de confusão mínima (C), e a seguir, divergem
104
novamente (fig. 6.26). Para as aberrações esféricas situadas fora do eixo ótico principal, as imagens
aparecem na forma de cone, em vez de círculos, efeito este denominado de coma.
refração da luz
superfícies planas e
Esféricas
Figura 6.26 - Aberração esférica – Círculo de confusão mínima
Quando o ângulo que o raio forma com o eixo ótico principal é grande (raios que incidem nas
extremidades da superfície), o ponto imagem onde os raios interceptam o eixo ótico principal fica
mais próximo do vértice do que no caso dos raios paraxiais, resultando numa imagem imperfeita,
borrada, uma mancha. Assim, a superfície esférica não tem uma distância focal única (fig.6.27).
Figura 6.27 - Aberração esférica – Foco imagem distintos.
As imagens borradas produzidas, inicialmente, pelo telescópio espacial Hubble, deveramse muito às aberrações esféricas de seu espelho primário, posteriormente, corrigidas.
As aberrações cromáticas são vinculadas às lentes esféricas, visto que a distância focal
de uma lente é determinada pela refração da luz que a atravessa. Já vimos, quando tratamos da
dispersão luminosa, que a refração da luz depende do comprimento de onda da radiação incidente,
assim, a distância focal de uma determinada lente delgada depende da cor da luz que a atravessa. A
distância focal é maior para a luz vermelha do que para a luz violeta (fig. 6.28).
Figura 6.28 - Aberração cromática – Foco imagem distinto
Outros comprimentos de ondas visíveis teriam pontos focais intermediários aos da luz
vermelha e violeta, que são os extremos do arco-íris. Quando a luz branca atravessa uma lente, cada
cor é refratada para formar uma imagem nítida em um ponto distinto. Esse fenômeno é chamado de
aberração cromática, que uma deficiência da lente delgada. Se a lente for divergente, a aberração
cromática é oposta daquela da lente convergente. Para reduzir a aberração cromática, normalmente
usa-se uma combinação de lentes convergentes e divergentes, feitas de materiais transparentes,
mas diferentes. Espelhos não sofrem aberrações cromáticas, sendo esse o principal motivo do uso
de espelhos esféricos em telescópios astronômicos de grande porte.
105
FÍsiCa gEral iv
Exercícios
1) Um pescador deixa cair uma lanterna acesa em um lago de 10 m de profundidade. No fundo
do lago a lanterna emite um feixe luminoso formando um pequeno ângulo θ com a vertical,
conforme ilustração. Considerando θ pequeno (tgθ = senθ = θ) e o índice de refração da água
igual a 1,33, determine a profundidade aparente do lago “h” vista pelo pescador.
2) Um raio de luz incide numa lâmina de vidro de faces paralelas, imersa no ar, conforme ilustração
abaixo. Depois de atravessar a lâmina, emerge do vidro para o ar. Nessa situação podemos
afirmar:
a) i1 = r2; b) i1> r2; c) i1 = i2; d) i1 < r2.
3) Um raio luminoso monocromático, propagando-se no ar, incide sobre a superfície de um
prisma, conforme ilustração abaixo. O índice de refração do prisma em relação ao ar é igual a
√2. Determine:
a) o ângulo de refração na face incidente;
b) o desvio angular sofrido nesta primeira refração;
c) o ângulo de incidência na face oposta (segunda face do prisma);
d) o desvio sofrido nesta face;
e) o desvio total que o raio sofre ao atravessar o prisma.
4) Considere uma lente plano-convexa, de índice de refração igual a 1,50, cuja face curva tenha
um raio de 50 cm, mergulhada num líquido de índice de refração igual a 2,0. Qual é a distância
focal da lente. Por que a lente é convergente?
5) O tamanho de um objeto é igual a 15 cm, situado a 30 cm de uma lente que forma uma imagem
virtual do objeto de tamanho igual a 3 cm. a)- Faça o diagrama de raios e ache as características
da imagem. b)- Qual a distância da imagem à lente. c)- Determine a distância focal da lente.
Obs. Verifique a tabela para a regra de sinais.
6) Querendo determinar o “grau” de uma lente convergente, um estudante coloca
perpendicularmente à direção dos raios solares e vai ajustando sua posição até verificar que a
menor mancha luminosa possível é obtida a 50 cm da lente. Qual o grau obtido (dioptria)?
106
7) Uma lente convergente possui distância focal de 10 cm. Para um objeto a 5 cm da lente, como
aparecerá sua imagem para um observador posicionado do outro lado da lente?
a) invertida, virtual e do tamanho do objeto;
b) invertida, real e menor que o objeto;
c) invertida, real e maior que o objeto;
d) direita, virtual e maior que o objeto;
d) direita, real e menor que o objeto.
refração da luz
superfícies planas e
Esféricas
8) Uma lente convergente de distância focal igual a 4 cm forma uma imagem de um objeto
localizado a 6 cm de seu centro óptico. A imagem formada está a 12 cm, do outro lado da lente.
Sobre a altura da imagem, pode-se afirmar:
a) há uma redução de 4 vezes em relação à do objeto;
b)há uma aumento de 2 vezes em relação à do objeto;
c) não há mudança alguma;
d) há uma redução no tamanho da imagem de 5 vezes.
9) Uma lente convergente de abscissa focal 10 cm é justaposta a uma outra divergente, de abscissa
focal de 20 cm. Qual a abscissa focal do conjunto da associação.
10) Aberração cromática - Em uma lente plano-convexa de vidro, sua face plana é voltada para
o objeto. A outra face tem raio de curvatura de 30 cm. A lente está imersa no ar. O índice de
refração do vidro para a luz violeta (λ = 400 nm) é de 1,537 e para a luz vermelha (λ = 700 nm)
é de 1,517. A cor púrpura é uma mistura da cor vermelha com a cor violeta. Quando um objeto
de cor púrpura é colocado a uma distância de 80 cm dessa lente, onde se formam as imagens
vermelha e violeta? Obs. Utilize a tabela de convenções sinais para as lentes (tabela 4)
107
FÍsiCa gEral iv
Anotações
108
Anotações
refração da luz
superfícies planas e
Esféricas
109
FÍsiCa gEral iv
Anotações
110
7
Olho Humano e
Instrumentos Ópticos
7.1
o olho humano
7.2
anomalias da visão
7.3
instrumentos Ópticos de observação
7.4
instrumentos Ópticos de projeção
111
FÍsiCa gEral iv
7
OLHO HUMANO E INSTRUMENTOS ÓPTICOS
7.1
O Olho Humano
Nesta parte, apresentaremos as características e o funcionamento do olho humano, órgão
sensorial fotorreceptor, que percebe a luz, as cores, as formas, os movimentos, o espaço. Devemos
distinguir o olho humano do olho dos insetos e de alguns animais marinhos, que são olhos
multifacetados, também denominados de olhos compostos, formados por muitas pequenas facetas
receptoras de luz, chamadas de omatídeo.
O globo ocular humano é opticamente equivalente a uma máquina fotográfica comum,
sendo constituído por um sistema de lentes, um sistema de diafragma variável e uma retina que
corresponde a um filme fotográfico em cores. Suas características especiais são:
a)- um sistema automático de focalização que permite ver objetos a curta e longa distâncias quase
que simultaneamente;
b)- um diafragma, a íris, que controla automaticamente a quantidade de luz que entra o olho,
suficiente para estimular o nervo óptico que leva informações ao cérebro;
c)- é eficiente para operar tanto em ambientes claros como em escuros, inclusive, distinguindo as
cores dos objetos;
d)- a imagem de um objeto formada na retina é sempre menor, real e invertida, mesmo que o olho
apresente defeitos de visão e necessite de correção;
e)- possui ampla visão angular a partir do ponto central do olho. Na horizontal, 90° na direção da
têmpora e 50° na direção do nariz; na vertical, 50° para cima e 65° para baixo.
O olho humano é quase esférico, com diâmetro aproximado de 2,5 cm. A parte frontal,
chamada de córnea (índice de refração entre 1,37 – 1,38), é ligeiramente encurvada, recoberta
por uma membrana dura, clara e transparente, responsável por, aproximadamente, dois terços da
focalização da luz na retina. Os raios incidentes na parte externa da córnea são refratados em
decorrência de sua curvatura e à diferença entre seu índice de refração e o do ar. A refração dos
raios luminosos nas diversas partes do olho é que produz sua focalização na retina, membrana
semitransparente e constituída de terminações do nervo óptico, que leva as sensações luminosas
ao cérebro.
A região atrás da córnea é preenchida por um líquido gelatinoso, claro, transparente, chamado
de humor aquoso (índice de refração igual a 1,34). Ele é produzido continuamente e o excesso é
eliminado pelo canal de Schlemm. O humor aquoso mantém a pressão no olho (15mmHg), além
de fornecer nutrientes à córnea e ao cristalino que não são vascularizados.
Após a córnea está a íris, diafragma de cor azul, verde, castanha ou cinza, composto
principalmente por músculos circulares que ao se contraírem ou se distenderem, diminuem ou
aumentam o tamanho da abertura – a pupila – por onde entra a luz, cuja função principal é a de
regular a quantidade de luz que penetra no olho. O diâmetro da pupila pode variar desde 1,5 mm
(luz intensa) até 8 mm (escuridão), não respondendo instantaneamente às variações de intensidade
luminosa, de tal forma que são necessários 5 segundos para se fechar ao máximo (luz intensa) e
300 segundos para se abrir ao máximo (escuridão).
Depois de atravessar a córnea, o humor aquoso e a pupila, os raios luminosos encontram
o cristalino (lente biológica), responsável pelo outro um terço da focalização da luz na retina.
O cristalino tem o formato de uma lente biconvexa, parecida comum grão de feijão, constituído
por um número muito grande de fibras transparentes (gelatina fibrosa), dura no centro (índice de
refração iguala 1,41) e, progressivamente mais macia à medida que se aproxima de sua periferia
(índice de refração igual a 1,38). A lente cristalina é sustentada por ligações com o músculo ciliar,
localizado em sua volta que podem alterar a forma da lente, tornando-a mais convexa, aumentando
sua capacidade de refratar raios luminosos, isto é, aumentando seu poder de focalização. Este
processo de mudar a forma da lente cristalina (mudança da convergência) para convergir na retina
raios refratados provenientes do objeto, que pode estar a uma pequena ou grande distância, é
conhecido por acomodação visual. A mudança de formato se processa quase instantaneamente,
mas o olho só focaliza objetos numa dada posição por vez. Quando os músculos ciliares estão
relaxados e o cristalino achatado, o olho apresenta o mais baixo poder de refração, focalizando
somente objetos que estão a grande distância dele, mas quando os músculos ciliares se contraem,
o cristalino fica mais convexo, aumentando seu poder de refração e focalizando objetos mais
próximos dele.
Atrás do cristalino encontra-se o humor vítreo (índice de refração igual a 1,34), uma
substância clara e gelatinosa que preenche o espaço entre o cristalino e a retina, Seu índice de
refração é praticamente igual ao do cristalino, mantendo assim, os raios luminosos na direção
estabelecida pela lente cristalina.
Finalmente, a luz refratada chega à retina, que é cor-de-rosa e com espessura aproximada
de 0,5 mm, cobrindo quase toda a superfície interna do olho, sendo altamente vascularizada e
112
contendo uma rede de nervos. A imagem é formada sobre a retina, uma membrana sensível à
luz (rica em células fotossensíveis) que desempenha o mesmo papel de um filme fotográfico em
cores. Os cones (em torno de 7 x 106) e os bastonetes (em torno de 1,3 x 108) são minúsculas
fotocélulas que captam a imagem e transmitem os impulsos elétricos através do nervo óptico para
o processamento cerebral. Os cones são responsáveis pela visão mais detalhada à luz do daí (visão
a cores) e os bastonetes são responsáveis pela visão sob luz fraca (visão nas cores preto e branco).
A figura a seguir dá os detalhes simplificados de um olho humano.
olho humano e
instrumentos Ópticos
Figura 7.1 - Olho humano e suas partes
Utilizando a teoria da dualidade onda-partícula, pode-se dizer que um fóton de radiação
luminosa com energia suficiente causa uma reação fotoquímica nas células fotorreceptoras que dá
origem a um potencial de ação. Um fóton de radiação infravermelho não tem energia suficiente
para iniciar a reação fotoquímica e, portanto, não é detectado pelo olho. Um fóton de radiação
ultravioleta possui energia suficiente para iniciar uma reação fotoquímica, mas é absorvido antes
de atingir a retina e também não é detectado. Isto explica a faixa de radiação eletromagnética (400
– 700 nm) visível ao ser humano.
Para simplificar nosso estudo, vamos utilizar um esquema denominado de olho reduzido,
constituído por uma lente convergente variável e de um anteparo posicionado a uma distância
constante de 2 cm em relação à lente (ponto q), conforme a figura 7.2.
Figura 7.2 - Olho reduzido – Lente cristalina e retina
Para que um objeto seja visto com nitidez, a imagem deve ser formada exatamente sobre
a retina (ponto F’). O olho se ajusta para diferentes distâncias do objeto, fazendo alterações na
distância focal de sua lente cristalina. A distância entre o cristalino a retina não varia (q é fixo).
Para um olho normal (olho emetrope), o ponto mais distante de visão nítida, denominado de ponto
remoto ou distante, localiza-se no infinito (p → ∞). Nesta situação, o cristalino está totalmente
relaxado e a visão ocorre sem esforço de acomodação (convergência mínima). Utilizando a equação
da lente delgada (eqs. 6.20 e 6.22), temos que,
C=
1 1
+
p q
→
C=
1
1
+
∞ 0,2
→ C= 0 + 50 → C = 50 di
(7.1)
Continuando com o olho normal, para um esforço máximo de acomodação, isto, com os
músculos ciliares totalmente contraídos (convergência máxima), o ponto mais próximo da visão
nítida, chamado de ponto próximo, fica a 25 cm do cristalino (q = 0,25 m), também conhecido
como distância normal de leitura, então,
=
C
1
1
+
0, 25 0, 2
→
C = 54 di
(7.2)
113
FÍsiCa gEral iv
A diferença entre a convergência máxima e a mínima é chamada de amplitude de
acomodação visual, que para um olho normal, vale 4 dioptrias (di) O intervalo de acomodação
diminui à medida que a pessoa envelhece, pois o cristalino aumenta de tamanho durante a vida e os
músculos ciliares tornam-se menos capazes de contrair uma lente maior, por isso é que a distância
do ponto próximo vai aumentando com a velhice. Este aumento na distância do ponto próximo
com a velhice recebe o nome popular de vista cansada, e cientificamente, o nome de presbiopia.
Na linguagem popular, fica faltando braço para poder enxergar. A tabela 1 mostra a variação do
ponto próximo com o passar da idade.
Tabela 1 - Variação do ponto próximo com a idade.
7.2
Anomalias da Visão
As principais anomalias (defeitos) da visão, também denominadas de ametropias, são:
miopia, hipermetropia, presbiopia, astigmatismo, estrabismo e daltonismo.
Um olho normal forma sobre a
retina uma imagem nítida, que apresenta as
características de ser real, menor e invertida,
estando o objeto no infinito ou bem próximo do
olho (fig. 7.3a). Para muitas pessoas, a imagem
de um objeto não se forma exatamente sobre
a retina e, assim, estas pessoas não enxergam
com nitidez A razão pode ser uma deformação
do globo ocular ou uma acomodação defeituosa
do cristalino. Nesta parte, vamos descrever
as anomalias mais encontradas nas pessoas,
conforme mostra a figura 7.3. No olho míope, o
globo ocular é muito alongado em comparação
com o raio de curvatura da córnea (ou a córnea
é encurvada fortemente) e os raios provenientes
do infinito são focalizados antes da retina (fig.
7.3b). Neste caso, há uma convergência muito
grande dos raios paralelos vindos do infinito
(refrata muito os raios). No olho hipermetrope,
o globo ocular é muito curto (ou a córnea não
é suficientemente encurvada), assim, os raios
provenientes de um objeto situado no infinito
Figura 7.3 - Anomalias da visão.
são focalizados atrás da retina (fig. 7.3c). Neste
(a)-Olho normal.
caso, há uma insuficiência de convergência dos
(b)-Olho míope.
raios paralelos originados no infinito (refrata
(c)-Olho hipermetrope.
pouco os raios).
Os defeitos relatados são perfeitamente corrigidos mediante o uso de lentes corretoras. Para
o caso da hipermetropia, o ponto próximo está mais longe do que o ponto próximo de um olho
normal, neste caso, deve-se usar uma lente convergente (positiva) que desloque a imagem sobre a
retina. Na realidade, a lente convergente faz o objeto se deslocar para uma distância mais afastada
do olho para que a imagem seja focalizada sobre a retina. A imagem virtual formada pela lente
convergente serve como um objeto situado sobre o ponto próximo ou depois dele (fig. 7.4).
Figura 7.4 - Olho hipermetrope. Imagem formada depois da retina.
114
A lente convergente conjuga a imagem, para um objeto a 25 cm do olho, no ponto mais
próximo de visão nítida (fig. 7.5). O objeto parece estar mais longe do olho (dmin.> 25 cm).
olho humano e
instrumentos Ópticos
Figura 7.5 - Olho hipermetrope. Distância mínima do olho maior que 25 cm.
Matematicamente temos,
p = 25 cm = 0,25 m
q = dmin.
A convergência é dada pela equação da lente delgada, ou seja,
C=
1 1
1
1
+ =
+
p q 0, 25 d min
→
C = 4−
1
d min .
(7.3)
A expressão 7.3 fornece a convergência (di) para uma lente que corrige a hipermetropia,
sendo dmin dado em metros e maior que 25 cm. É importante observar que, embora a imagem
esteja numa distância maior que 25 cm, ela é vista sob o mesmo ângulo visual α e com a mesma
nitidez que teria uma pessoa de visão normal que a observasse a 25 cm de distância. Para o ponto
remoto ou no infinito, a visão ocorre sem alterar a acomodação, como se o olho fosse normal, não
necessitando usar lente corretora.
Um caso interessante ocorre quando o hipermetrope necessita de uma lente corretora com
a convergência maior que 4 dioptrias (C > 4 di). Neste caso, o grau de hipermetropia é tão grande
que o ponto próximo da visão nítida está “além do infinito”, isto é, é “virtual”, significando que
sem o uso de lente corretora nenhum objeto será visto nitidamente pela pessoa, por mais afastado
que esteja do olho.
Com o passar dos anos, a lente cristalina vai ficando cada vez mais rígida, perdendo sua
amplitude de acomodação. Nesta situação, a pessoa vai ficando com a “vista cansada”, no jargão
popular. O cristalino não se contrai como deveria para visualizar com nitidez objetos a 25 cm
de distância do olho, mesmo que, anteriormente, a pessoa não apresentava anomalias de visão.
Neste caso, deve ser corrigida a visão para o ponto próximo, visto que o problema se localiza no
enrijecimento do cristalino e não na geometria do globo ocular. Assim, o problema é idêntico ao
olho hipermetrope, devendo ser corrigido com lente convergente. Normalmente, a visão para o
ponto remoto não é prejudicada, não necessitando de óculos para enxergar longe.
Exemplo
A lente corretora usada por um hipermetrope possui 2 di. Qual a distância mínima entre os
olhos dessa pessoa e um jornal, para vê-lo nitidamente, embora, talvez, sem definição para lê-lo,
quando estiver sem óculos.
Solução:
A distância requerida é a distância do ponto mais próximo da visão nítida (dmin). Assim a
convergência da lente corretora é dada pela equação 5.3, ou seja,
C = 4 – 1/dmin , então,
2 = 4 – 1/dmin →→ dmin = 0,5 m
Para o olho míope, também conhecido popularmente com “vista curta”, o globo ocular
possui um alongamento maior do que o olho normal, de tal forma que, mesmo estando com o olho
relaxado, a imagem se forma antes da retina, por isso o míope não consegue acomodação visual
para um objeto no infinito. Para corrigir a miopia, é necessário o uso de lente divergente (negativa)
fazendo o objeto se deslocar para uma distância mais próxima do olho do que a distância real
do objeto (compensa a convergência excessiva do olho). A imagem virtual formada pela lente
divergente serve como um objeto situado sobre o ponto distante, ou antes, dele. A função da lente
divergente é conjugar a imagem de um objeto no infinito sobre o ponto remoto (dr), que está a uma
distância finita do olho. As figuras a seguir mostram as afirmações deste parágrafo.
115
FÍsiCa gEral iv
Figura 7.6 - Olho míope. Imagem formada antes da retida do olho.
A distância focal (f) da lente corretora, em módulo, é igual à distância máxima (dr) da visão
nítida, mas é negativa, visto a lente ser divergente, ou seja, f = -dr. Assim, a convergência da lente
corretora é negativa (fig. 7.7 ), ou seja,
C=
1
f
→
C=−
1
dr
(7.4)
Figura 7.7 - Olho míope. Objeto no ponto remoto. Imagem sobre a retina
Pelo fato do olho míope ser mais alongado, o ponto próximo fica a uma distância menor
do que 25 cm. Neste caso, a pessoa míope, sem óculos, coloca os objetos bem perto do olho para
enxergá-los com nitidez, o que não seria possível para uma pessoa com olho normal.
Exemplo
Um míope enxerga nitidamente, sem uso de óculos, somente a 2 m de distância. Determine a
convergência da lente corretora para esse míope.
Solução:
C = -1/dr (eq. 5.4)
C = ½ →→ C = -0,5 di
O astigmatismo ocorre devido a irregularidades na superfície externa da córnea, não a
deixando esférica, sendo mais encurvada num plano do que no outro. Devido a este fato, uma reta
vertical (eixo y) pode formar uma imagem num plano diferente da formada no plano horizontal
(eixo x), focalizando fora da retina. O astigmatismo pode tornar impossível a focalização simultânea
de barras verticais e horizontais de uma janela quadriculada, por exemplo. A figura 7.8 retrata a
visão astigmática.
Figura 7.8 - Olho astigmático. Planos dos eixos não coincidentes.
O astigmatismo é corrigido através do uso de lente com superfície cilíndrica, fazendo com
que a focalização dos dois planos coincida sobre a retina, conforme a figura 7.9.
116
olho humano e
instrumentos Ópticos
Figura 7.9 - Olho astigmático. Correção lente cilíndrica. Planos coincidentes.
Na visão estrábica, os eixos ópticos não estão alinhados para a visão no infinito, como estão
para um olho normal. Em função disso, o estrábico localiza duas regiões distintas. O resultado
não é uma visão tridimensional única, mas sim uma visão dupla, sem que o cérebro consiga a
composição das imagens numa só e de forma tridimensional.
A retina humana dispõe de células fotossensíveis, chamadas de cones e bastonetes. Os cones
são responsáveis pela visão a cores e os bastonetes são mais sensíveis à luz e não muito às cores.
Pelo fato dos bastonetes serem mais abundantes na região periférica da retina, eles se prestam
mais às percepções de vultos e figuras com baixa iluminação, fora de nosso foco central de visão.
A ausência de certos tipos de cones, determinada por características genéticas do indivíduo, causa
falha de percepção de algumas cores, algumas vezes de todas. A cor para a qual o daltônico não
possui percepção (não vê a cor) é interpretada por ele como apenas mais um tom cinza.
7.3
Instrumentos Ópticos de Observação
7.3.1
Lupa ou Microscópio Simples
A lupa, microscópio simples ou, simplesmente, lente de aumento, é o mais elementar dos
instrumentos ópticos, constituído por uma lente convergente, de distância focal pequena (grande
convergência), produzindo uma ampliação do tamanho do objeto observado. È um instrumento
óptico de observação que produz uma imagem virtual, direita e maior do que o objeto. Como já foi
visto no estudo de construção gráfica de imagens por lentes, para que a imagem de um objeto seja
ampliada e direita é necessário que o objeto seja colocado entre o foco objeto e o centro óptico da
lente.
Primeiramente, para calcular o tamanho do objeto, sem uso de lente de aumento, vamos
nos reportar a um conceito que envolve ângulos de observação, mais precisamente, ao tamanho
angular ou ângulo visual. À medida que nos aproximamos de um objeto, o mesmo parece cada vez
maior, não porque o objeto aumenta de tamanho, mas porque o visualizamos sob um ângulo maior.
O tamanho aparente de um objeto é determinado pelo tamanho da imagem formada sobre a retina
e, se o olho não possui ajuda de qualquer lente adicional, o tamanho do objeto depende do ângulo
α subentendido pelo objeto no olho do observador, denominado de tamanho angular α (fig. 7.10).
Para a primeira situação, temos que,
tgα =
y
−1  y 
→ α = tg  
d
d 
(7.5)
Figura 7.10 - Tamanho angular α para diferentes distâncias
O aumento visual relaciona os ângulos de observação e distâncias do objeto ao olho
(ordenada y), sem a ajuda de um instrumento óptico. Assim, temos
117
FÍsiCa gEral iv
y
α ′ tgα ′ d ′ d
=
= =
A=
v
y d′
α tgα
→
Av =
d
α′ d
=
α d′
(7.6)
Na equação 7.6, foi feita a aproximação para ângulo pequeno (em radianos), tal que α ≈ tgα.
Apesar de Av ser adimensional, é comum adicionar o termo “X” (vezes) após seu aumento visual.
Quanto mais próximo está o objeto, maior será o ângulo de observação, mas não se pode aproximar
indefinidamente o objeto sem prejuízo de sua nitidez. Isto quer dizer que existe uma distância
mínima de resolução (dmín) para o olho humano, variável de pessoa a pessoa, mas adotada como
distância mínima, igual a 25 cm, já denominada de ponto próximo.
Para observar mais detalhadamente um pequeno objeto ou área de uma superfície que,
sem o auxílio de uma lente, não possuem nitidez (imagem borrada), utilizamos uma lupa, que ao
ampliar o tamanho do objeto, nos fornece mais detalhes do mesmo (maior nitidez). Uma lente
convergente serve para formar uma imagem virtual maior e, “aparentemente” mais afastada do
que o próprio objeto está. Utilizando uma lente de aumento, o objeto pode se deslocar para uma
distância mais próxima do olho (menor do que o dmin) e o tamanho angular da imagem pode ser
muito maior do que o tamanho angular do objeto se ele estivesse a 25 cm do olho sem o uso da
lente (dmin). Nesta situação, a imagem virtual pode ser vista com mais conforto pelo olho, pois os
nervos ópticos estão mais relaxados.
As figuras a seguir, mostram duas situações para um mesmo objeto. Uma, quando colocado
sobre o ponto próximo (dmin) sem uso de lente e, a outra, quando colocado entre o foco objeto (Fo)
e seu centro óptico (O).
(a)
(b)
Figura 7.11 - ângulo visual. Sem lupa (a) e com lupa (b)
A ampliação angular, aumento visual, ampliação linear transversal ou aumento angular
fornecida pela lente de aumento é dado pela relação entre os ângulos alfas, com a lupa e sem a lupa.
A ampliação linear, simbolizada pela letra Av, é dada por,
α ′ tgα ′
=
=
A=
v
α tgα
y′
d = y′ ⋅ d min
y
y d
d min
(7.7)
Na equação 7.6, fizemos uso da aproximação para ângulo pequeno (α << ), ou seja, α ≈ tgα
e α’ =tgα’.Vimos também que,
y′ f − q
e q = -d
=
y
f
(7.8)
Nesta situação, q é negativo visto a imagem estar na frente da lente (convenção de sinais
para equação 4.21). Substituindo e igualando as equações 7.7 e 7.8, ficamos com,
Av =
d min
f
f

1 + 
d

(7.9)
Variando a distância d, variamos o aumento visual, que será máximo quando d = dmin, onde, então,
Avmax =
d min
+1
f
(7.10)
A condição para d→∞ é chamada de condição nominal (An), sendo uma condição onde o
observador não necessita de esforço de acomodação visual para visualizar a imagem produzida
pela lente, pois a imagem do objeto (fig. 7.11-b) “parece” estar no infinito (ponto remoto = q).
118
Assim ficamos com,
An=
d min 0, 25
=
= d min ⋅ C= Av ,no min al
f
f
(7.11)
olho humano e
instrumentos Ópticos
A ampliação linear também é conhecida por aumento nominal da lente An, que é gravado
nas lentes pelo fabricante. A relação 51 sugere que seria possível conseguir uma ampliação muito
grande se diminuíssemos a distância focal, contudo, as aberrações de uma lente convexa, mesmo
que corrigidas, impõem limites práticos, não permitindo ampliações infinitas. Se quisermos
ampliações maiores e nítidas, devemos fazer uso do microscópio.
Exemplo 1
Duas lentes de plástico, uma biconvexa e outra bicôncava, cada uma delas com distância focal
com valor absoluto igual a 10 cm. a) - Qual das duas lentes pode ser usada com uma lupa? b)Qual é sua ampliação linear?
Solução:
a)- Pelo que vimos até agora, a lupa é uma lente de aumento que do objeto colocado entre
seu foco e centro óptico, conjuga uma imagem virtual, direita e maior (fig. 7.11-b), portanto,
devemos empregar a lente biconvexa para termos uma lente de aumento, já que a bicôncava
diminui o tamanho do objeto.
b) – Pela equação 7.11 temos que,
=
Av
25cm 25cm
= = 2,5 ou 2,5 X.
f
10cm
Exemplo 2
Para visualizar mais detalhes de um objeto, uma pessoa utiliza uma lupa com convergência igual
a 16 di. a)- Qual é o aumento nominal que a pessoa consegue com essa lente? b)- Com o olho
praticamente encostado na lente, a que distância do centro óptico essa pessoa deve colocar um
objeto para que a imagem se forma a 25 cm de seu olho?
Solução:
a)- a distância focal é dada por,
C=
1
→→ f = 6,25 cm
f
O aumento nominal máximo (gravado na lente) é dado por,
=
An
d min.
25cm
=
= 4 →→
f
6, 25cm
An = 4 vezes
b)- Para uma lupa, a imagem é virtual, assim, q = -25 cm (Tabel 4). Aplicando a lei dos pontos
conjugados, ficamos com,
1
1
1
=+
=
5 →→ p = 5 cm
6, 25 p −25
7.3.2
Microscópio Óptico Comum (M0C) ou Microscópio Composto Comum
O tipo de microscópio comumente encontrado nos laboratórios de ensino e de pesquisa é o
microscópio óptico comum (MOC) ou microscópio composto comum, que utiliza a luz visível para
iluminar os objetos a serem analisados. Ele é “comum” porque existem outros microscópios que
também empregam a luz visível, mas são opticamente mais complicados, como o microscópio de
contraste de fase, de interferência e polarização. O MOC consiste basicamente de uma fonte de luz
e três conjuntos de lentes, denominadas de lentes condensadora, objetiva e ocular.
Para analisar as imagens formadas pelo MOC faremos uso da óptica de raios, ou seja, vamos
supor que a luz caminha em linha reta sofrendo refração ao penetrar em meios refrativos diferentes,
além de utilizar o princípio de que a imagem formada por um sistema óptico pode servir de objeto
para outro, utilizado quando deduzimos a equação da lente delgada (eq. 4.20), onde se aplicou a
equação para a refração da luz nas duas faces da lente.
Quando necessitamos observar objetos muito pequenos necessitamos de um aumento maior do
que o fornecido por uma lupa. Para isso, fazemos uma associação de dois conjuntos de lentes convergentes
que efetivamente participam do processo de ampliação, pois o sistema de lente condensadora (que também
119
FÍsiCa gEral iv
é convergente) não participa diretamente do processo ampliatório, mas somente condensa (aumenta) o
número de raios que atingem a lente objetiva oriundos da fonte luminosa. As distâncias focais dos
conjuntos de lentes objetivas e oculares são pequenas, mas altamente corrigidas para eliminar aberrações.
A distância (caminho óptico) que a luz percorre dentro do tubo do microscópio (da lente objetiva
à ocular) é fixa e vale L. Note que o objeto está colocado levemente fora do foco objeto da objetiva (F1),
sendo que sua imagem também está fora do foco imagem (F2), sendo formada entre o centro óptico
e o foco imagem da lente ocular (F’1), que funciona como uma lupa fixa. A imagem intermediária é
real, invertida e maior que o objeto e a imagem final é virtual, invertida e bem maior que o objeto
(duplamente ampliada), sendo formada no plano óptico do microscópio, que pode estar situado entre o
ponto próximo (dmin) e o ponto distante do olho do observador. O diagrama de raios para o microscópio
comum tem o esquema a seguir (fig. 7.12). Na figura não está colocada a lente condensadora.
Figura 7.12 - Diagrama de raios para o microscópio composto comum.
Aplicando-se a óptica de raios, podemos calcular a ampliação linear oferecida pelo
microscópio. A ampliação linear da lente objetiva, em módulo, e da ocular, são dadas por,
Aobj =
h
o
e
Aoc =
h′
h
(7.12)
O aumento linear total é a multiplicação dos dois aumentos, assim,
AL = Aobj ⋅ Aoc =
h′
o
(7.13)
Normalmente, os aumentos lineares máximos fornecidos pelas lentes veem gravados nas
lentes do microscópio, sendo que para a lupa, o aumento é fixo e, para a objetiva, é variável, porque
existe mais de uma objetiva num único aparelho. Também, conhecendo-se as distâncias focais
das lentes, seu arranjo mútuo no sistema. E a condição nominal para a ocular, também podemos
expressar o aumento linear como sendo,
AL =
d min ⋅ q
f oc ⋅ f obj
(7.14)
Onde, a ampliação da ocular (lupa) é dada por dmin/foc e a ampliação da objetiva é dada por
q/fobj. Também, se o comprimento do tubo óptico for igual a L, temos que,
AL =
d min ⋅ L
f oc ⋅ f obj
(7.15)
Exemplo: Associação de lentes convergentes, independente das distâncias focais.
Duas lentes convergentes de distâncias focais de 10,0 e 20,0 cm estão separadas por uma distância
de 20,0 cm, como indicado no desenho abaixo. Um objeto é colocado 15,0 cm à esquerda da
primeira lente. Ache a posição e a ampliação da imagem final.
120
Solução:
Vamos encontrar a posição da imagem devido à primeira lente, ignorando a presença da segunda
lente. Utilizando a equação da lente delgada temos,
1
1
1
+ =
15, 0 q1 10, 0
→→
olho humano e
instrumentos Ópticos
q1 = 30,0 cm.
A imagem formada pela primeira lente está a 30 cm dela, portanto, q1 é maior que a separação
entre as lentes, assim, a imagem da primeira lente está 10,0 à direita (atrás) da segunda lente.
Nesta situação, a imagem da primeira lente é um objeto virtual para a segunda lente, sendo que,
neste caso, q2 = - 10,0 cm. As distâncias agora serão medidas a partir da segunda lente, com
distância focal f = 20,0 cm. Aplicando novamente a equação de Gauss temos,
1
1
1
+ =
−10, 0 q2 20, 0
→→ q2 = 6,67 cm
A imagem final encontra-se a 6,67 cm à direita da segunda lente. A ampliação de cada lente é dada por,
q
30, 0
AL1 =
− 1 =
−
=
−2, 00 vezes
p1
15, 0
q
6, 67
0, 667
AL2 =
− 2 =
−
=
p2
−10, 0
A ampliação total é o produto das ampliações individuais, assim
A=
AL1 ⋅ AL2 =
−1,33
A imagem final é real, invertida e maior que o objeto.
7.3.3
Telescópio Astronômico Refrator ou Luneta Astronômica
A luneta astronômica (luneta de Kepler), comumente chamada de telescópio, é empregada
para observar astros ou objetos que estão à grande distância do observador, situação que a olho
nu não conseguiríamos vê-los em detalhes, porque o ângulo visual α é muito pequeno. A função
do telescópio é produzir um aumento considerável no ângulo visual para podermos observar à
distância, ou seja, o ângulo visual final α’ deve ser muito maior que o ângulo visual α a olho nu.
O sistema óptico do telescópio é semelhante ao do microscópio composto. Em ambos, a
imagem formada pela objetiva serve de objeto para a ocular. A ampliação de um telescópio é
definida com sendo a razão entre o ângulo visual subentendido pela imagem final no olho (α’) e
o ângulo subentendido pelo objeto quando visto a olho nu (α). A objetiva possui grande distância
focal que conjuga uma imagem real e invertida do objeto observado. A ocular possui uma pequena
distância focal. Quando está na condição nominal, a imagem formada pela objetiva está exatamente
sobre o foco da ocular. A ocular amplia a imagem da objetiva formando-a no infinito, sendo uma
imagem virtual, invertida e muito maior, que é a imagem vista pelo observador. A figura 7.13
mostra o arranjo para a condição nominal (d→∞ = olho relaxado).
Figura 7.13 - Diagrama de raios para o telescópio refrator.
Condição nominal. Imagem final formada no infinito.
O aumento angular do telescópio é a relação entre os ângulos α e α’. Utilizando as
aproximações angulares já vistas anteriormente e tomando os módulos dos ângulos, ficamos com,
121
FÍsiCa gEral iv
A=
v
α ′ tgα ′
=
=
α tgα
ou seja,
Av =
L
f oc
=
L
f obj
f obj
f oc
f obj
f oc
(7.16)
(7.17)
A equação 7.17 nos dá o aumento nominal da luneta astronômica (os valores focais vêem
inscritos nas envoltórias das lentes). Fica claro que devemos procurar uma objetiva de grande
distância focal e uma ocular de pequena distância focal, mas isto acarreta consequências quanto ao
tamanho do tubo do telescópio, pois como pode ser visualizada pela figura 5.13, a extensão do tubo
(D) é a soma das duas distâncias focais, ou seja,
D = f obj + f oc
(7.18)
Um tubo muito grande causa desconforto ao observador. Outro problema existente está
ligado à imagem final imprópria, pois os raios refratados pela ocular que atingem o olho do
observador são paralelos, assim como os raios oriundos dos corpos distantes que estão sendo
observados. Também, um telescópio astronômico deve permitir a visualização de corpos distantes
e com fraca iluminação. Para que isso seja possível, a objetiva deve captar a maior quantidade de
luz possível oriunda do objeto, mas isso só é possível se ela possuir uma área de secção transversal
perpendicular ao eixo óptico principal grande, ou seja, seu diâmetro deve ser o maior possível,
acarretando problemas de fabricação e distorções.
No telescópio newtoniano ou refletor, a lente objetiva é substituída por um espelho curvo,
de construção mais fácil e apresentando outras vantagens práticas e teóricas. Um espelho não
apresenta nenhuma aberração cromática (dependência da distância focal com o comprimento de
onda) e as aberrações esféricas (associadas com a aproximação paraxial) são mais fáceis de serem
corrigidas. Geralmente usa-se uma superfície parabólica em vez de esférica, aumentado a nitidez
quando obedecidas as condições de Gauss. O material do espelho não necessita ser transparente,
podendo ser mais rígido e preso pela superfície externa, o que não é possível numa lente que
somente pode ser suportada pela sua periferia. Lentes com diâmetro de 1 metro são difíceis de serem
fabricadas e não são práticas. Os maiores telescópios do planeta possuem espelhos parabólicos
como objetiva e não lentes biconvexas. Para o telescópio refletor (fig. 7.14) a ampliação também é
dada pela equação 7.17, mas para o tamanho do tubo não é válida a equação 7.18.
Figura 7.14 - Telescópio refletor ou newtoniano
Para observação de objetos terrestres acrescenta-se à luneta astronômica um dispositivo
óptico chamado de veículo (prisma de Porro), cuja função é desinverter a imagem. Com tal
modificação a luneta passa a se chamar luneta terrestre, sendo o binóculo, o exemplo típico de
luneta terrestre. O binóculo possui dois tubos para que o observador possa usar a visão binocular e
ter a noção de profundidade. A luneta de Galileu utiliza como ocular uma lente divergente, sendo
que a imagem conjugada pela objetiva é imagem virtual para a ocular. Ela não necessita de veículo,
pois sua imagem final é direita, além de ser mais curta, mas apresenta pouco aumento visual, menor
campo visual e aberração cromática.
122
Exemplo
Uma luneta astronômica possui aumento nominal de 20 X. Se a distância focal da ocular for de 5
cm, determine: a)- a distância focal da objetiva; b)- o tamanho da luneta nas condições normais.
olho humano e
instrumentos Ópticos
Solução:
O aumento nominal é dado por,
An =
f obj
f oc
→→
fobj = 100 cm
b)- Nas condições normais (condição nominal), o tamanho da luneta é dado pela soma das
distâncias focais da ocular e da objetiva, ou seja,
=
D f oc + f obj →→ D = 105 cm.
7.4
Instrumentos Ópticos de Projeção
7.4.1
Câmera Fotográfica
Os instrumentos ópticos de projeção produzem uma imagem final real, invertida ou
não, gravada em filme, podendo ser projetada sobre um anteparo e vista por muitas pessoas ao
mesmo tempo. A origem da câmera fotográfica está no mais antigo dispositivo óptico construído,
denominado de câmera escura de orifício, que aplica o princípio da propagação retilínea da luz. A
imagem do objeto é real, invertida e menor, formada em um anteparo ao fundo da câmera.
A câmera fotográfica moderna registra a imagem sobre um filme por reações físicoquímicas ou em sensores eletrônicos cujos impulsos elétricos são decodificados eletronicamente e
gravados em disco (câmera digital). Em geral, uma câmera fotográfica apresenta um conjunto de
lentes sofisticadas convergentes (objetiva), além de possuir um diafragma de abertura regulável
(em vez de orifício) associados a obturadores que controlam a intensidade luminosa proveniente
do objeto. No lugar do anteparo é colocado um filme fotossensível que registra a imagem formada
(fig. 7.15). Quando a focalização é bem feita, a imagem formada sobre o filme é nítida, caso
contrário aparece borrada. Como os objetos fotografados estão normalmente a uma distância bem
maior que a distância focal da objetiva, a imagem se forma, praticamente, no plano focal imagem
da lente objetiva e, se por acaso houver pequenas diferenças, as mesmas são ajustadas alterando-se
a posição da objetiva em relação ao filme.
7.15 –- (A) - Máquina fotográfica - (B) Prisma pentagonal para visualização
Na figura 7.15, o espelho articulado é levantado e sai da direção da luz incidente
imediatamente antes da abertura o obturador, permitindo que a luz atinja o filme ou os sensores.
O pentaprisma, em conjunto com o espelho, é utilizado para que o observador veja o objeto a ser
fotografado de forma ereta.
É necessário ficar claro que a distância focal fornece a distância entre a imagem e a lente
quando o objeto encontra-se no “infinito” (olho relaxado), valendo aqui a equação para a ampliação
linear transversal para lentes convergentes. As máquinas fotográficas mais sofisticadas apresentam
o chamado número f da lente objetiva, que é a razão entre a distância focal (f) e o diâmetro de
abertura do diafragma (D), que fornece a capacidade de entrada de luz de uma lente, assim,
f-número =
f
D
(7.19)
A ampliação linear transversal fornecida por uma lente de aumento é a razão entre a altura
da imagem (h’) e a altura do objeto (h), que é igual, em módulo, a razão entre a distância da imagem
123
FÍsiCa gEral iv
(q) e a distância do objeto (p), conforme equação 5.1 e 5.2, assim em uma máquina fotográfica
estilizada (fig. 7.16), temos que,
Figura 7.16 – Máquina fotográfica estilizada
Exemplo
Uma pessoa deseja fotografar um objeto que tem 2 m de altura, dispondo de uma câmera de 3,5
cm de profundidade (distância da objetiva ao filme), que proporciona uma imagem de 2,5 cm
de altura no filme. Calcule: a)- a mínima distância entre a pessoa e o objeto; b) Sabendo que a
objetiva possui uma distância focal de 35 mm e que contem dispositivos para ajuste da imagem
sobre o filme, calcule a nova distância do centro óptico da lente ao filme para se tirar uma foto
de um objeto distante 1metro da objetiva.
Solução:
a) - a relação entre alturas e distâncias é dada pela equação 3.2, assim, temos que,
h′ q
=
h p
→→
2,5 3,5
→→ p = 2,8 m
=
200
p
b) – Aplicando a equação dos pontos conjugados, temos que,
1 1 1
→→ q ≈ 36,3 mm
= +
f
p q
7.4.2
Projetor de Slides, Filmes e Retroprojetores.
Estes instrumentos apresentam três elementos
básicos, que são: sistema óptico, em geral composto
por um conjunto de lentes convergentes; o objeto a
ser projetado (slide, filme, transparência) e uma tela
ou anteparo para visualização da imagem. O conjunto
de lentes, que equivale a uma única lente convergente,
conjuga uma imagem real e invertida de um objeto real,
transformado em um objeto plano por filmes, slides,
etc. É necessária uma boa iluminação, que normalmente
possuem lentes condensadoras e espelhos, além de uma
tela que reflita muito bem a luz projetada.
O esquema de um projeto de slide é o inverso do
de uma câmera fotográfica. A posição e o tamanho da
imagem projetada sobre a tela são determinados pela
posição e pela distância focal da lente do projetor. Os
projetores de cinema são semelhantes aos de slides,
acrescidos do sistema de movimentação da fita. A
figura a seguir mostra o projetor de slides (a) e de um
retroprojetor (b). A lente de Fresnel é um dispositivo de
plástico sobre o qual se coloca a transparência e possui
propriedades específicas.
124
Figura 7.17 - Projetor de slides (a) e
retroprojetor (b).
Exemplo.
Um operador cinematográfico deve saber selecionar a lente de projeção adequada para que a tela
fique totalmente preenchida pela imagem do filme. A largura de um quadro na fita de um filme
de longa metragem é de 35 mm. Para um cinema em que a tela possui 10,5 m de largura e está a
30 m da lente da máquina de projeção, determine: a)- a ampliação necessária para que a tela seja
totalmente preenchida; b)- a distância entre o filme e a lente para que a ampliação necessária seja
obtida; c) a distância focal da lente objetiva.
olho humano e
instrumentos Ópticos
Solução:
a) – a ampliação linear da imagem, em módulo, dada pela máquina, vale;
AL =
h′
h
→→ AL =
10,5
35 x10−3
→→ AL = 300 vezes
b) – a distância entre a fita e a lente objetiva (em módulo) será;
AL =
h′ q
30
=
→→ 300 =
h p
p
→→ p = 0,1 m
c) – a distância focal da objetiva será:
1 1 1
= +
→→
f
p q
1
1
1
=
+
f 0,1 30
→→ f = 10 cm
Exercícios
1) No olho humano, a distância focal da córnea à retida é, em média, de 25 mm. Para que a
focalização da vista passe do infinito para um ponto a 250 mm (ponto próximo) do olho de um
observador normal, a distância focal do sistema córneo-cristalino deve apresentar o seguinte
comportamento:
a) diminuir 23 mm;
b) diminuir 2,3 mm;
c) permanecer a mesma;
d) aumentar 2,3 mm;
e) aumentar 23 mm.
2) Um biólogo utiliza uma lente convergente com distância focal de 30 cm para observar insetos.
Supondo um inseto de 2 cm a uma distância de 20 cm da lente, determine: a)- o aumento linear
transversal; b)- o aumento visual, supondo que a distância mínima de visão nítida do biólogo
seja de 25 cm e que seu olho esteja encostado na lente.
3) Uma lupa, quando produz uma imagem a 30 cm da lente,para fornecer um aumento linear
transversal de 16 vezes, deve ter sua distância focal de:
a) 2 cm;
b) 2,5 cm;
c) 3 cm;
e) 3,5 cm;
e) 4 cm.
4) Uma luneta foi construída com duas lentes convergentes de distâncias focais iguais a 100 cm e 10
cm, respectivamente Uma pessoa de visão norma regula a luneta para observar a Lua e depois
focaliza um objeto a 20 m de distância. Para tanto, deve deslocar a ocular de, aproximadamente:
a) 10 cm, aproximando-se da objetiva;
c) 10 cm, afastando-se da objetiva;
c) 5 cm, aproximando-se da objetiva;
d) 5 cm, afastando-se da objetiva.
5) Um microscópio é composto por duas lentes convergentes de distâncias focais diferentes.
Considere uma situação na qual a objetiva amplia 50 vezes e a ampliação total é de 600 vezes.
Qual é a ampliação devida à lente ocular?
125
FÍsiCa gEral iv
6) A objetiva de uma máquina fotográfica tem distância focal de 100 mm e possui um dispositivo
que permite seu avanço e retrocesso. A máquina é utilizada para tirar duas fotografias, a saber:
uma de um objeto no infinito e outra de um objeto distante 30 cm da objetiva. O deslocamento
da objetiva, de uma foto para outra, em mm, deve ser de:
a) 50;
b) 100;
c) 150;
d) 200;
e) 250.
7) A ilustração abaixo representa um projetor de slides contendo um slide (objeto) fortemente
iluminado pela lâmpada, uma lente de 100 mm de distância focal a 102 mm do objeto e uma
tela de projeção onde se formará a imagem nítida do objeto. Calcule:
a)- a distância ideal entre a tela e a lente; b)- a razão entre o tamanho da imagem e do objeto.
8) Manoel fez um exame de vista e o médico oftalmologista preencheu a receita ilustrada abaixo.
Pela receita podemos concluir que:
a)- Manoel possui miopia, astigmatismo e “vista cansada”, no olho direito;
b)- o olho direito apresenta apenas miopia e astigmatismo;
c)- o olho esquerdo apresenta apenas hipermetropia;
d)- o olho direito apresenta apenas astigmatismo e hipermetropia;
e)- o olho esquerdo apresenta somente “vista cansada”.
126
olho humano e
instrumentos Ópticos
Anotações
127
FÍsiCa gEral iv
Anotações
128
8
Óptica Ondulatória
8.1
introdução
8.2
a experiência de Young da dupla fenda
8.3
interferências de ondas luminosas
8.4.
amplitude, intensidade e diferença de Fase
na interferência produzida por duas Fendas.
8.5
interferência em películas Finas
8.6
difração – poder de resolução.
8.7
difração de Fraunhofer
8.8
resolução de Fendas simples e de aberturas Circulares
8.9
difração de raios X
129
FÍsiCa gEral iv
8
ÓPTICA ONDULATÓRIA
8.1
Introdução
No Capítulo 5, do livro de Física Geral II, estudamos as ondas mecânicas que ocorrem em
cordas, na superfície de líquidos ou no som, onde caracterizamos os conceitos de pulsos, velocidade
de propagação, reflexão, transmissão, interferência e efeito Doppler. Todo o estudo estava
relacionado às ondas mecânicas unidimensionais no tempo e nada se falou das ondas luminosas.
Nos capítulos anteriores do presente livro, tratamos de ondas luminosas, utilizando a aproximação
retilínea dos raios de luz (óptica geométrica) e, assim, definimos a reflexão, a refração, estudamos
espelhos e lentes, passando pelo olho humano e instrumentos ópticos.
No presente capítulo, vamos estudar a óptica ondulatória, uma parte da óptica que estuda
aspectos da luz que não podem ser explicados adequadamente mediante o uso de um modelo
simplificado de raios (óptica geométrica). Vamos estudar explicitamente a interferência e a difração
da luz, fenômenos que só podem ser compreendidos e explicados utilizando a natureza ondulatória
da luz (tratando a luz como onda), inclusive, processando-se no espaço bi ou tridimensional.
O primeiro cientista a tratar a luz como uma onda foi o físico holandês Christian Huygens,
em 1678. É uma teoria matematicamente simples e que permanece útil até nossos dias. Suas
grandes vantagens são a de explicar as leis da reflexão e refração da luz em termos de ondas e
atribuir um significado físico ao índice de refração entre meios transparentes. A teoria ondulatória
de Huygens utiliza uma construção geométrica que permite prever onde estará uma dada frente de
onda (superfície esférica de fase constante) em qualquer instante futuro a partir do conhecimento
de sua posição atual. É uma teoria determinística que se baseia no seguinte princípio:
“Todos os pontos de uma frente de onda funcionam
como fontes puntuais para ondas secundárias. Depois
de certo intervalo de tempo, a nova posição da frente
de onda será dada por uma superfície tangente a essas
ondas secundárias”.
O princípio de Huygens aplica-se a qualquer
tipo de onda. É importante notar que a velocidade de
propagação das frentes secundárias é igual à das fontes
primárias e que a superfície que tangencia as ondas
secundárias funciona como uma envoltória das novas
ondas secundárias. Se a velocidade de propagação da
onda for constante, o movimento é uniforme em todas
as direções (fig. 8.1). Observe que as ondas primárias
são produzidas por uma mesma fonte.
Figura 8.1 – Nova frente de onda BB’.
Envoltória esférica com movimento
uniforme no tempo
Para o caso de interferência de ondas mecânicas unidimensionais, utilizaremos sempre o
princípio da superposição que nos diz que quando duas ou mais ondas mecânicas progressivas se
combinam em um determinado ponto, o deslocamento resultante das partículas do meio naquele
ponto é o somatório dos deslocamentos devidos às ondas individuais. Veja que, nesse caso, falamos
de deslocamento de partículas do meio. No modelo para a interferência de ondas luminosas, devemos
adicionar duas importantes mudanças na discussão, que são: a) devemos construir modelos geométricos
para analisar a situação em duas ou três dimensões; b) iremos estudar ondas eletromagnéticas e não
ondas mecânicas, de tal forma que, o princípio da superposição precisa ser adaptado para a soma de
campos vetoriais elétricos e magnéticos em vez da adição de deslocamentos de partículas.
O termo interferência indica a superposição de duas ou mais ondas na mesma região
do espaço, cuja onda resultante é determinada pelo princípio da superposição, um dos mais
importantes princípios da óptica física ou óptica ondulatória. As ondas eletromagnéticas também
sofrem interferência como consequência da combinação dos componentes dos campos elétricos
e magnéticos que constituem suas ondas individuais. Deve ficar claro para o estudante que para
ocorrer o fenômeno da interferência, devemos ter duas ou mais ondas na mesma região espacial,
superpondo-se uma às outras. Uma única onda não produz interferência!!!
A interferência em ondas mecânicas é mais fácil de ser visualizada (água) ou sentida (som),
mas, no caso das ondas eletromagnéticas, os efeitos visíveis não são fáceis de serem observados
devido ao fato do comprimento de onda ser muito pequeno (400 a 700 nm). Para esta situação, são
necessárias duas fontes produzindo ondas de mesmo comprimento de onda para criar interferência,
mas, para produzir um padrão estável de interferência, as ondas individuais devem manter uma
130
relação de fase constante entre si (vibram em sintonia), isto é, elas precisam ser coerentes.
Diz-se que duas fontes com a mesma frequência são coerentes quando há uma relação de fase
constante entre si. Se as ondas emitidas pelas duas fontes são transversais, como no caso de ondas
eletromagnéticas, também devemos supor que as ondas produzidas por ambas as fontes devam
possuir a mesma polarização em relação à direção de propagação.
Então, para haver interferência de ondas luminosas, as duas fontes devem possuir o mesmo
comprimento de onda e estar sempre em fase, mas isso não é fácil de se obter com duas fontes
independentes. Nas fontes luminosas comuns (lâmpadas, velas, Sol), há uma emissão contínua de
comprimentos de onda (espectro contínuo), sendo que a maneira como a luz é emitida decorre do
excesso de energia que os átomos ganham em virtude da colisão com elétrons livres ou por causa
da agitação térmica. Um átomo “excitado” começa a irradiar energia até perdê-la completamente
em um intervalo de tempo muito curto, da ordem de 10-8s. Os inúmeros átomos existentes em
uma fonte geralmente irradiam de modo não-sincronizado e as relações de fase são aleatórias, não
possuindo relação de fase constante. O resultado é que nenhum efeito de interferência é observado,
mesmo porque o olho humano não pode acompanhar alterações tão rápidas, assim, tais fontes
naturais de luz são ditas incoerentes.
Luz coerente é produzida por lasers, onde a emissão de luz ocorre devido ao sincronismo
dos átomos na frequência (luz monocromática) e na fase. Também podemos produzir luz coerente
utilizando uma única fonte e dividindo-a em dois através de duas fendas em um anteparo, de tal modo
que cada parte tenha a mesma frequência de vibração (ou mesmo comprimento de onda) e mesma
fase, formando dois feixes de ondas secundárias idênticos. Se alterarmos a fase da fonte, as duas ondas
secundárias também terão suas fases alteradas de forma igual. Tal arranjo permite que tenhamos efeitos
de interferências perceptíveis. Considerando as propriedades descritas, dizemos que:
Óptica ondulatória
“A interferência é um fenômeno estritamente ondulatório que se caracteriza pelo efeito
produzido pela superposição de ondas que atravessam, ao mesmo tempo, o mesmo meio em uma
mesma região”.
Existem autores que não utilizam o termo “interferência”, preferindo usar o termo
“superposição”. Alegam que na realidade as ondas não se interferem no ponto, ocorrendo sim, a
superposição de ondas no mesmo ponto, resultando numa superposição construtiva, destrutiva ou
parcial, sendo que o termo “interferência”, só é mantido por motivos históricos, decorrentes da
experiência de Young. Apesar de tal questionamento, manteremos o termo interferência em nosso
texto.
Antes de entrarmos em definitivo em nossos estudos sobre interferência e difração, vamos
relembrar a famosa experiência realizada em 1801, pelo físico e linguista inglês, Thomas Young
(1773-1829).
8.2
A experiência de Young da dupla fenda
A interferência com ondas luminosas a partir de duas fendas foi demonstrada pela primeira
vez por Young, que usou furos de alfinete para provocar as fendas circulares. Como a luz que
atinge as duas fendas tem origem comum (S0), elas possuem a mesma frequência e estão em fase
(luz sincronizada = luz coerente), ou seja, chegam às fendas S1 e S2 ao mesmo tempo, percorrendo
distâncias iguais e com a mesma velocidade, pois o meio não muda. De acordo com o princípio de
Huygens, S1 e S2 comportam-se como fontes secundárias e coerentes cujas ondas se interferem no
lado direito da segunda barreira, conforme a figura a seguir (fig. 8.2). É importante ressaltar que a
interferência ocorre em todo lugar entre as fendas e o anteparo, não apenas no anteparo!
Figura 8.2 – (a) Interferência por dupla fenda – Padrão de interferência –(b) Franjas de interferência.
131
FÍsiCa gEral iv
No experimento, a luz incide num anteparo S0 (primeira barreira) emergindo dele (formato
circular) e atingindo o segundo anteparo que contém duas fendas estreitas e paralelas S1 e S2,
espalhando-se por causa da difração. A difração é o fenômeno que ocorre quando uma onda encontra
um pequeno obstáculo ou fenda (com dimensões comparáveis ao comprimento de onda da mesma),
contornando-o e recompondo-se, chegando a regiões que não seriam atingidas caso apresentassem
somente propagação retilínea. A luz proveniente das fendas produz um padrão visível no anteparo
de observação, que consiste numa série de faixas paralelas brilhantes ou escuras, chamadas de
franjas de interferência, que determinam as distribuições de intensidades no anteparo.
As franjas brilhantes são características da interferência construtiva, onde as frentes de onda
se somam (chegam em fase = pontos pretos na figura 8.2) e as franjas escuras são características
de regiões onde as ondas se anulam (chegam fora de fase = pontos em branco na figura 8.2). Cada
fenda produz uma perturbação na onda incidente e, as ondas assim produzidas, interferirão em
pontos específicos (claros ou escuros). A figura 8.2 mostra a combinação da interferência e difração
produzidas pelas duas fendas. Cada fenda difrata uma pequena parte da onda incidente e, as ondas
assim geradas por cada fenda, se sobrepõem em pontos específicos, resultado no anteparo em
regiões claras e escuras. Note que a figura de interferência de duas fendas é modulada pela figura
de difração de cada fonte (fenda). É bom não confundir interferência com difração!!!
A figura 8.3 é ilustrativa para as interferências construtiva e destrutiva, equacionadas
matematicamente mais adiante.
Figura 8.3 – Interferências construtiva e destrutiva.
A figura 8.3 é um diagrama representativo da figura 8.2, permitindo modelar a interferências
como se as ondas se combinassem no anteparo, somente. Na situação (a), as duas ondas saem das
fendas em fase e atingem o anteparo no ponto central P, propagando-se por distâncias iguais. Elas
chegam ao ponto central em fase e se somam, resultando num ponto brilhante (franja brilhante).
Na situação (b), as duas ondas começam em fase, mas a onda gerada pela fonte S1 propaga-se
um comprimento de onda a mais que a gerada pela fenda S2, até atingir o anteparo no ponto Q,
mas elas ainda chegam em fase, produzindo uma nova faixa brilhante (interferência construtiva).
Na situação (c), o ponto R localiza-se na região intermediária entre P e Q. Nesta posição, a onda
superior chega meio comprimento de onda defasada (atrasada) em relação à onda inferior. Isto
quer dizer que a depressão da onda superior se sobrepõe à crista da onda inferior, resultando numa
interferência destrutiva em R. Nesta posição, observa-se uma faixa escura.
Deve ficar claro que o fenômeno da interferência não é gerado apenas por fendas duplas,
podendo existir para diferentes configurações, como fendas múltiplas, películas com diferentes
espessuras, bolhas de sabão, películas de óleo que bóiam sobre superfícies aquosa, reflexões em
um CD/DVD, etc.
Vamos agora desenvolver a matemática envolvida na superposição de ondas num ponto do
espaço onde ondas se interferem.
8.3
Interferências de ondas luminosas
A descrição quantitativa da experiência de Young com o auxílio de um modelo geométrico,
inicia-se posicionando o anteparo a uma distância L das fendas e com uma separação d entre elas,
onde “L >> d”. A figura 8.4 é ilustrativa para a descrição matemática que faremos.
132
Óptica ondulatória
Figura 8.4 – Geometria para o experimento de Young.
Considere o ponto P no anteparo, distante “y” do ponto central O, que por sua vez, está
na mesma horizontal do ponto Q que divide a distância entre as fontes em partes iguais (d/2). O
ângulo θ é interno ao triângulo QPO e as trajetórias r1 e r2 são as distâncias que as ondas refratadas
percorrem das fontes até atingirem o ponto P. Vamos considerar a fonte geradora da perturbação
como sendo monocromática (comprimento de onda λ), de tal forma que as ondas secundárias
possuam o mesmo comprimento de onda e estão em fase (luz sincronizada). A intensidade de luz
no ponto P é consequência da superposição dos pulsos provenientes das duas fontes secundárias. A
diferença de percurso entre as duas ondas difratadas é simbolizada por δ= r2 – r1, conforme a parte
(b) da figura 8.4.
Considerando a condição “L >> d”, as duas trajetórias estão muito próximas, podendo
adotá-las como “paralelas entre si” (modelo simplificado). Neste caso, temos que,
δ = r2 − r1 = dsenθ
(8.1)
A diferença de percurso definirá se as ondas estarão em fase ou não quanto atingirem o
ponto P, diferença de fase φ que está relacionada à diferença de percurso δ. Se a diferença for nula
ou igual a um múltiplo inteiro do comprimento de onda λ, as duas ondas estarão em fase no ponto
P, resultando numa interferência construtiva (franja brilhante), assim, a condição de interferência
construtiva é dada por,
(8.2)
dsenθ = mλ →→ m = (0, ± 1, ± 2, ± ......)
O número “m” é um número inteiro chamado de ordem. A franja brilhante central em θ =
0 (m= 0) está associada à ordem 0, sendo denominada de máximo central ou máximo de ordem
zero. O primeiro máximo em qualquer um dos lados do ponto central, onde m = ± 1 é chamado
de máximo de primeira ordem, ou primeiro máximo superior e primeiro máximo inferior, e assim
por diante.
De forma semelhante, quando a diferença de percurso for um múltiplo ímpar de λ/2 (ou
um número semi-inteiro de comprimento de onda), as duas ondas chegarão no ponto P fora de
fase (180° defasadas), originando franjas escuras (interferência destrutiva), assim, a condição para
ocorrer interferência destrutiva é dada por,
1
dsenθ = (m + )λ →→ m = (0, ± 1, ± 2, ± .....)
2
(8.3)
As equações 8.2 e 8.3 fornecem as posições angulares das franjas de interferência. Também
é possível obter equações que forneçam as posições lineares das franjas, medidas ao longo do
anteparo (posição y). Vamos supor também, que d >> λ. Nessa situação para θ << (θ em radianos),
podemos fazer a aproximação que senθ ≈ tgθ. A partir do triângulo QPO, temos que,
senθ = tg θ =
y
L
(8.4)
Substituindo a equação 8.2, teremos o valor da distância entre o máximo central e os dois
máximos, superior ou inferior, para m = ± 1, e assim por diante, ou seja,
y max = m
λL
d
(8.5)
Substituindo a equação 8.3, teremos o valor da distância do máximo central aos mínimos de
primeira ordem, se m = ± 1, e assim por diante, então,
1 λL
y min = (m + )
2 d
(8.6)
133
FÍsiCa gEral iv
As equações 8.5 e 8.6 são as várias representações matemáticas dos padrões de interferência
de duas fontes coerentes. Note que a experiência da dupla fenda fornece um método para se fazer
medida de comprimento de onda da luz incidente, aliás, método que foi utilizado por Young para
medir pela primeira vez o comprimento de onda médio da luz solar, achando o valor de 570 nm, que
está bem próximo do valor adotado atualmente, que é de 555 nm. O estudante deve compreender
o experimento de Young claramente, porque muitas das aplicações tecnológicas atuais utilizam
o modelo de análise da superposição de ondas descrito acima. Também deve ficar claro que as
interferências ocorrem em inúmeros pontos entre a fonte e o anteparo. O anteparo é um recurso
utilizado para vermos a superposição naquela posição.
Obs. Embora as equações 8.2 e 8.3 sejam válidas para qualquer ângulo θ, as equações 8.5
e 8.6 são válidas somente para ângulos pequenos. Elas só podem ser usadas quando a distância
L entre o anteparo e as fendas for muito maior que a distância entre as fendas (L>>d) e quando
L for muito maior que a distância ym, isto é, entre o centro da figura de interferência e o centro
da franja brilhante de ordem m. Uma outra informação importante é que a distância entre duas
franjas brilhantes adjacentes é inversamente proporcional à distância entre as fendas. Quanto mais
próximos estão as duas fendas, maior será o espaçamento entre as franjas. Quando a distância entre
as fendas for muito grande, as franjas ficam muito próximas. A experiência de Young, embora
descrita para a luz, ela é válida para qualquer tipo de onda, desde que resulte da superposição de
dois pulsos coerentes detectados num ponto muito distante quando comparado com a separação
entre as fontes.
Exemplo 1
Um laser é utilizado para iluminar uma fenda dupla separada uma duma distância de 0,030 mm.
O anteparo está separado das fendas por 1,20 m. A franja brilhante de segunda ordem está a 5,1
cm da linha central (centro do máximo principal). Determine:
a)- o comprimento de onda da luz laser;
b)- a distância entre as franjas brilhantes adjacentes.
Solução:
A situação descrita obedece a eq. 8.5, sendo m = 2 (franja de segunda ordem). Assim, temos que,
a)=
λ
dy2 (3 x10−5 )(5,1x10−2 )
=
= 640nm
mL
2(1, 2)
b) ym +1 − ym =
λ L(m + 1) λ Lm
d
−
d
=
λL
d
=
(6, 4 x10−7 )(1, 2)
= 2, 6cm
3, 0 x10−5
Exemplo 2
Em uma experiência de interferência com fenda dupla, a distância entre as fontes é igual a 0,20
mm e o anteparo está colocado da 1,0 m de distância. A terceira franja brilhante se forma a 7,5
cm do centro do anteparo (máximo central). Calcule o comprimento de onda da luz usada.
Solução:
A terceira franja brilhante corresponde a m = 3. Como L>>d, podemos utilizar a equação 8.5.
y3 d (7,5 x10−3 )(0, 20 x10−3 )
=
λ =
= 500 x10−9 m
3(1, 0)
mL
8.4.
→→
λ = 500nm
Amplitude, Intensidade e Diferença de Fase na Interferência Produzida por Duas Fendas.
Na seção anterior, determinamos as posições dos máximos e mínimos de uma figura de
interferência produzida por duas fontes de luz coerente de ondas senoidais, com mesma frequência
angular ω e uma diferença de fase constante Φ. Embora as ondas tenham fases iguais nas fendas,
sua diferença de fase Φ no ponto P (fig. 8.4) depende da diferença de percurso δ. Vamos supor
também que asduas ondas senoidais possuam a mesma amplitude E, e que os campos elétricos
de cada onda E sejam paralelos a uma mesma direção (mesma polarização). Com isso, vamos
desprezar a diminuição da amplitude no ponto P que ocorre devido ao aumento da distância até a
fonte (diferença de percurso) para cada onda.
Para obter a amplitude da onda resultante, vamos fazer uso da intensidade da radiação
eletromagnética no vácuo (intensidade de uma onda senoidal no vácuo), que é dada por,
I=
134
1
ε 0 cE
2
2
max
(8.7)
Os dois campos elétricos defasados que se superpõem no ponto P são dados por,
E1 (t ) = E cos(ϖt + Φ )
e
E 2 (t ) = E cos(ϖt )
(8.8)
A superposição de dois campos elétricos no ponto P é uma função senoidal com amplitude
Ep (amplitude resultante), dependente da amplitude inicial E de cada onda e da diferença de fase
Φ entre elas, que vamos supor, conhecidas. Para somar duas funções senoidais com uma diferença
de fase entre elas, usaremos uma representação vetorial entre fasores, que é um vetor girante no
espaço, cuja projeção sobre o eixo horizontal em qualquer instante representa o valor instantâneo
da função senoidal de cada onda (fig. 8.5).
Óptica ondulatória
Figura 8.5 – Vetores girantes – Fasores – Decomposição no eixo X.
A figura 8.5 indica que o vetor campo elétrico E1 (onde emitida pela fonte S1) está adiantado no
tempo em relação ao vetor E2 (onda emitida pela fonte S2) por uma fase Φ. Ambos giram no sentido
anti-horário (positivo) com a mesma velocidade angular e o vetor instantâneo resultante é a soma das
projeções instantâneas sobre o eixo horizontal (eixo X). A amplitude Ep da onda senoidal resultante
no ponto P é o módulo do vetor resultante instantâneo Ep que fornece a soma vetorial dos dois vetores
girantes. Utilizando a lei dos co-senos e a identidade trigonométrica cos(π – Φ) = - cos Φ, temos que,
E p2 = E 2 + E 2 − 2 E 2 cos(π − Φ ) = 2 E 2 + 2 E 2 cos Φ = 2 E 2 (1 + cos Φ )
mas, pela identidade trigonométrica 1+cosΦ = 2cos2(Φ/2), ficamos com,
Φ
Φ
E p2 = 4 E 2 cos 2 ( ) →→ E p = 2 E cos( )
2
2
(8.9)
A equação 8.9 indica que quando as ondas estão em fase (Φ = 0), temos a amplitude
máxima, ou seja, Ep = 2E (franjas brilhantes). Quando elas estão completamente defasadas (meio
ciclo), ou seja, Φ = 180°, Ep = 0, isto é, as franjas apresentam-se escuras. Note que a frequência da
onda resultante não muda, mudando apenas a amplitude resultante que varia de zero até um valor
máximo igual a duas vezes a amplitude de cada onda, dependendo da diferença de fase.
Para obtermos a intensidade I (potência média por unidade de área) no ponto P, para uma
onda senoidal com módulo do vetor campo elétrico dado por Ep, devemos substituir Emax (eq. 8.7)
por Ep, donde ficamos com,
I=
1
ε 0 cE
2
2
p
(8.10)
Para uma onda senoidal (onda plana), o fluxo de energia por unidade de área (intensidade) é
2
proporcional ao quadrado da amplitude (I ∞ E p ). Substituindo a equação 8.9, na equação 8.10, temos que,
Φ
I = 2ε 0 cE 2 cos 2 ( )
2
(8.11)
Φ
I = I 0 cos 2 ( )
2
(8.13)
A intensidade máxima I0 (máximo central) que ocorre nos pontos para os quais Φ = 0, é
dada por,
(8.12)
I 0 = 2ε 0 cE 2
Assim, a intensidade I em relação à intensidade I0, em qualquer ponto para a interferência
de duas fontes é dada por,
135
FÍsiCa gEral iv
Obs. Note que a intensidade máxima é quatro vezes maior (e não duas vezes) do que a
intensidade de cada onda individual (1/2ε0cE2). Para isso, compare a equação 8.10 com a equação
8.12.
A diferença de fase angular está relacionada com a diferença de percurso espacial. Quando
a diferença de percurso (caminho) δ for igual a um comprimento de onda λ, a diferença de fase é
igual a um ciclo (Φ = 2π rad). Quando a diferença de caminho δ for igual a λ/2, a diferença de fase
Φ = π rad, e assim por diante. Logo, a igualdade das razões indica que,
δ
Φ
λ
2π
=
→→
Φ=
2π
λ
dsenθ
(8.14)
Também é possível expressar a diferença de fase da em função da diferença de caminho,
utilizando a equação 8.1. Nesse caso, ficamos com,
Φ=
2π
λ
(r2 − r1 ) = k (r2 − r1 )
(8.15)
A grandeza k = 2π/λ é chamada de número de onda. Substituindo a equação 8.14 na equações
8.13, achamos a intensidade longe das fontes, assim,
I = I 0 cos 2 (
πd
senθ )
λ
(8.16)
As intensidades máximas (interferências construtivas) ocorrem quando o co-seno adquire
valores iguais a ± 1, ou seja, quando
πd
senθ = mπ ,
λ
onde (m = 0, ± 1, ± 2,......)
ou seja, dsenθ = mλ, o que concorda com a equação 8.2.
A distância “y” (ordenada) medida ao longo do anteparo (ponto P) a partir do ponto médio
do máximo central (ponto 0), está relacionada com o ângulo θ, onde y = L tgθ. Para θ<< temos
que senθ ≈ tgθ, ou seja, senθ ≈ y/L. Substituindo este valor na equação da diferença de fase temos,
Φ=
2π yd
λL
(8.17)
A intensidade em qualquer ponto no anteparo em função da ordenada y é dada por,
I = I 0 cos 2 (
π dy
)
λL
(8.18)
A interferência construtiva, que produz as intensidades máximas, ocorre quando o argumento
do co-seno for um múltiplo de π, que corresponderá a uma ordenada dada pela equação 8.5. A
figura 8.6 apresenta tais considerações.
Figura 8.6 – Padrão de interferência – Gráfico de I = f(dsenθ).
136
Exemplo 3
Uma estação de rádio com frequência de 1500 kHz (1,5 x 106 Hz) opera com duas antenas
idênticas com dipolos verticais que oscilam em fase (desenho abaixo), separadas por uma
distância igual a 400 m. Para distâncias maiores que 400 m, em que direções a intensidade da
radiação transmitida torna-se máxima?
Óptica ondulatória
Solução:
O comprimento de onda é dado por (c = 3 x 108 m/s):
λ=
c
= 200m
f
Para distâncias maiores que 400 m podemos utilizar a equação 8.2 para determinar os máximos
de intensidade (valores de θ igual a um número inteiro de comprimento de onda). Assim,
senθ =
mλ
200m m
= m⋅
=
d
400m 2
para m = 0, ± 1, ±2
temos que;
θ = 0, ± 30°, ± 90°
Verifique o que acontece se m ≥ 3. ou ≤ -3.
Calcule os ângulos para as intensidades mínimas (interferências destrutivas), usando a equação
8.3. Para quais valores de m é possível utilizá-la? Explique porque não utilizamos as equações
8.5 e 8.6.
8.5
Interferência em Películas Finas
É comum vermos faixas brilhantes multicoloridas quando a luz solar é refletida em bolhas de
sabão ou em películas de óleo flutuando sobre a água. Esse efeito é produzido pela interferência da
luz. As ondas de luz são refletidas pelas superfícies opostas dessas películas e ocorre a interferência
construtiva entre duas ondas refletidas (com caminhos diferentes) em diversos pontos e em
diferentes comprimentos de onda. A figura 8.7 permite uma visualização melhor do que acontece.
Figura 8.7 – Interferência de raios de luz em película fina
A luz proveniente de uma fonte incide sobre a superfície superior da película fina com
espessura “t” é parcialmente refletida na parte superior (percurso abc). A luz transmitida é refletida
pela superfície inferior (percurso abdef). As duas ondas chegam juntas no ponto P (retina), que
dependendo da relação entre suas fases, pode ocorrer interferência construtiva ou destrutiva.
Sabemos que cores diferentes possuem diferentes comprimentos de onda, de tal forma que a
interferência pode ser construtiva para algumas cores e destrutiva para outras. É por causa disso
que vemos anéis e franjas multicoloridas em películas, bolhas, CD/DVD, em revestimentos nãorefletor e refletor de câmeras e vidros. As variações de espessura de uma película podem produzir
imagens com regiões coloridas quando a película é iluminada por luz branca. É como se víssemos
o arco-íris sobre a superfície.
Quando película fina possui espessura “t”, a luz apresenta incidência normal com comprimento
de onda λ no interior da película, quando nenhuma das duas ondas refletidas possui defasagem ou
quando possuem defasagem de meio ciclo, a condição para interferência construtiva é dada por,
(8.19)
2t = mλ , para m = (0, 1, 2,.....)
137
FÍsiCa gEral iv
A equação 8.19 estabelece a condição para interferência construtiva em películas sem
diferença de fase, contudo, quando uma das ondas sofrer uma defasagem de meio ciclo durante a
reflexão, a equação 8.19 fornece a condição para a interferência destrutiva entre as ondas.
Da mesma forma, quando as ondas estão em fase ou defasadas de meio ciclo na reflexão, a
condição de interferência destrutiva é dada por,
1
2t = (m + )λ ,
2
para m = (0, 1, 2,.......)
(8.20)
A expressão 8.20 fornece a condição para interferência destrutiva em películas sem diferença
de fase entre elas. Caso uma das ondas estiver defasada de meio ciclo em relação à outra, a equação
8.20 fornece a condição para interferência construtiva entre elas.
8.6
Difração – Poder de resolução.
Como foi enunciado anteriormente, a difração é o fenômeno que ocorre quando uma onda
encontra um pequeno obstáculo ou fenda (com dimensões comparáveis ao comprimento de onda
da mesma), contornando-o e recompondo-se, chegando a regiões que não seriam atingidas caso
apresentassem somente propagação retilínea. O obstáculo pode ser um anteparo com um pequeno
orifício circular ou fenda estreita que permite a passagem de uma pequena fração da frente de onda.
O obstáculo também pode ser um pequeno objeto, tal como um fio ou um disco, que bloqueia a
passagem de uma pequena parte da frente de onda. No caso da luz atingir um obstáculo que possui
uma abertura ou uma extremidade, a figura de interferência que se forma em consequência dessa
interação é estudada com a designação geral de difração. A luz, sob certas condições, também
contorna obstáculos, assim como fazem o som, as ondas em líquidos e gases, etc.
É necessário enfatizar que não existe diferença fundamental entre os fenômenos que
ocorrem na interferência e na difração. Na interferência estudamos os efeitos da superposição
envolvendo um número pequeno de fontes discretas em fase. Na difração, consideraremos uma
distribuição contínua de ondas secundárias de Huygens em fase, através da área de uma abertura
ou um número muito grande de fontes e de aberturas, mas, no entanto, ambos os fenômenos são
explicados a partir das mesmas leis da física da superposição de ondas e do princípio de Huygens.
Para o caso da luz, devido ao seu pequeno comprimento de onda, sua observação visual
se torna um tanto difícil. No presente texto, discutiremos a difração produzida por certas fendas
ou obstáculos de geometria simples, sob duas condições especiais, denominadas de difração de
Fraunhofer e difração de Fresnel.
Na difração de Fraunhofer, vamos supor que os raios incidentes sejam paralelos e que
observamos a figura de difração a uma distância consideravelmente grande, de tal forma que os
raios que chegam ao anteparo (tela) sejam efetivamente paralelos. Nessa situação, as distâncias
entre a fonte, o obstáculo e a tela são suficiente grandes para tratar os raios como retas paralelas.
Na difração de Fresnel, também conhecida por difração de campo próximo, os raios
incidentes originam-se de uma fonte puntual ou os raios difratados são observados em um
determinado ponto do espaço, ou ambos. Nessa difração, a fonte a tela estão relativamente próximas
do obstáculo que produz a difração. Essa difração não será tratada no presente texto.
Outro fenômeno interessante, que não será tratado neste texto, mas que está relacionado
com a difração, é o espalhamento, fenômeno que ocorre quando os obstáculos interpostos no
caminho das ondas tornam-se, eles próprios, fontes de novas ondas (fontes secundárias), como é o
caso do espalhamento de ondas eletromagnéticas por elétrons individuais.
8.7
Difração de Fraunhofer
Vamos considerar uma situação em que a luz passa através de uma abertura estreita (fenda)
e projetada sobre uma tela. Para simplificar, consideramos que o anteparo está longe da fenda de
tal forma que os raios que atingem a tela sejam aproximadamente paralelos. Se eles não forem
paralelos, podemos fazer uso de uma lente convergente para focalizar os raios paralelos sobre o
anteparo. Neste modelo simplificado, o padrão no anteparo é chamado de padrão de difração de
Fraunhofer.
A figura 8.8(a) a seguir mostra a luz penetrando numa fenda simples e sofrendo difração à
medida que se propaga em direção ao anteparo. A parte (b) é uma fotografia do padrão de difração
de Fraunhofer da fenda única. Observa-se uma região brilhante ao longo do eixo em θ =0 com
franjas brilhantes e escuras alternadas em cada lado da franja brilhante central, Note que a largura
das franjas diminui à medida que se distanciam da região central.
138
Óptica ondulatória
Figura 8.8 – Padrão de difração de Fraunhofer – Franjas brilhantes e escuras
Até esse momento, consideramos as fendas agem como fontes puntuais de luz. Vamos ver
como as larguras finitas das fendas permitem compreender o padrão de difração de Fraunhofer
produzido por uma fenda única. Para tal compreensão, vamos dividir a fenda em múltiplos
pequenos espaços (fontes puntuais) e examinar as ondas que deles emergem. Pelo princípio de
Huygens, cada porção de fenda age como se fosse uma fonte de onda que irá interferir com as
outras ondas das outras porções, cuja intensidade resultante sobre o anteparo depende do ângulo θ.
Para analisar o padrão de difração, é interessante dividir a fenda (largura a) em duas partes iguais
com largura a/2, conforme figura 8.9, a seguir.
Figura 8.9 – Difração por fenda estreita. Cada porção é uma fonte puntual.
Todas as ondas que se originam na fonte estão em fase e com a mesma velocidade, visto
o meio não mudar. Considere as ondas 1 e 3 que se originam na base e no centro da fenda,
respectivamente. Para chegar ao anteparo, a onda 1 percorre uma distância maior que a onda 3.
A diferença de percurso é igual a (a/2)senoθ, obtida através do triângulo retângulo pertinente.
De forma semelhante, a diferença de percurso entre as ondas 3 e 5 é a mesma. Se a diferença de
percurso espacial for exatamente a metade de um comprimento de onda λ/2, correspondendo a
uma diferença de fase Φ = 180°, as duas ondas sofrem interferência destrutiva. Isso ocorre para
quaisquer duas ondas que se originam em pontos separados por metade da largura da fenda,
portanto, as ondas da metade superior da fenda interferem destrutivamente com as ondas da metade
inferior da fenda, ou seja,
a
λ
senθ =
2
2
→→
senθ =
λ
a
(8.21)
Se dividirmos a largura da fenda em 4, 6, 8,.....,”m” partes, veremos que a condição para
interferência destrutiva será dada por,
senθ = m
λ
a
, para m = (±1, ± 2, ± 3, ±......)
(8.22)
A equação 8.22 fornece os valores do ângulo θ para os quais o padrão de difração tem
intensidade nula no anteparo, formando uma franja escura, mas não diz nada a respeito da variação
da intensidade ao longo do anteparo, para cima e para baixo em relação ao ponto central. As
características gerais da distribuição de intensidade podem ser vistas na figura 10, onde a franja
central brilhante e larga é ladeada por franjas alternadas brilhantes, mas bem mais fracas, até
sumirem da observação visual. A posição dos pontos de interferência construtiva (franjas claras)
fica aproximadamente na metade do caminho entre as fendas escuras. Note que a franja central
139
FÍsiCa gEral iv
brilhante é duas vezes mais larga que os outros máximos laterais, afirmação válida para ângulo
pequeno, tal que podemos fazer a aproximação senθ ≈ θ. O ponto de máximo central é observado
quando θ = 0°, que não é um ponto de mínimo, diferindo, portanto, da experiência de fenda dupla
de Young. Nesse ponto todas as ondas provenientes da fenda chegam em fase.
Figura 8.10 – Franjas de difração. Máximos e mínimos
Normalmente, o comprimento de onda λ é muito menor que a largura da fenda, que é de
aproximadamente 10-4 m. Para o ângulo dado em radianos, podemos fazer a aproximação para
ângulo pequeno (senθ ≈ θ), assim, a equação 8.22 torna-se,
θ =m
λ
a
,
para m = (± 1, ± 2, ± ......)
(8.23)
Também, se a distância entre a fenda e o anteparo for L, a distância vertical entre a franja
escura de ordem m (ym) e o centro da franja brilhante (ponto O), é dada por,
ym= L ⋅ tgθ ou
ym = m
λL
a
(para tgθ ≈ θ)
(8.24)
Da aproximação para ângulo pequeno, temos também que ym << L.
Exemplo 4
Um feixe de luz laser com λ = 633 nm incide sobre uma tela a 6 m de distância da fenda,
produzindo uma figura de difração. A distância entre o centro do primeiro mínimo acima do
máximo central e o primeiro mínimo abaixo do máximo central (m = ± 1) é de 32 mm. Qual é a
largura da fenda?
Solução:
Nesse caso, temos que ym << L, portanto podemos aplicar a equação para ângulos pequenos (eq.
8.2). Logo,
λL
(6)(633x10−9)
a m= (1).
=
= 0, 24mm
( y1 / 2)
(32 x10−3 ) / 2
Qual é a distância entre os dois segundos mínimos, um de cada lado do ponto de máximo central?
8.8
Resolução de Fendas Simples e de Aberturas Circulares
Imagine que você esteja dirigindo numa noite escura em uma estrada reta e plana. Quando
um outro veículo vem em sua direção, com os faróis ligados, se ele estiver bem longe, você verá
uma única fonte de luz. À medida que o veículo for se aproximando, chegará um momento que você
conseguirá ver os dois faróis separadamente. Nessa situação, dizemos que sua visão “resolveu” o
problema, isto é, os faróis que “pareciam” ser uma única fonte, agora “aparecem” como duas
fontes puntuais distintas.
A capacidade de um sistema óptico de distinguir dois objetos puntuais como duas entidades
distintas e não como uma só é chamada de poder de resolução ou poder resolvente do sistema. Se
o sistema for o olho humano, o poder de resolução é chamado de acuidade visual.
A capacidade dos sistemas ópticos de distinguirem corpos distintos quando muito próximos
é limitada pela natureza ondulatória da luz, que produz um padrão de difração para capa corpo. Se
eles estão muito próximos linearmente ou o ângulo de separação for muito pequeno, os padrões se
superpõem e a imagem parece ser uma só, implicando que o sistema não conseguiu “resolver“ a
situação. Se as duas fontes estiverem distantes (linear ou angular) para assegurar que seus máximos
centrais não se sobreponham, suas imagens podem ser distinguidas e o sistema óptico “resolveu”
o problema. A figura 8.11 permite uma visualização melhor.
140
Óptica ondulatória
Figura 8.11 – Situações resolvida (a) e não resolvida (b).
Para decidir quando as duas fontes estão resolvidas, usam-se certos critérios, sendo o mais
comum, denominado de critério de Rayleigh, que estabelece o seguinte:
“Quando o máximo central do padrão de difração de uma fonte incide sobre o primeiro
mínimo central do padrão de difração de outra fonte, diz-se que as duas fontes estão
minimamente resolvidas. Esta condição estabelece o limite de resolução para as duas
fontes”.
A figura 8.12, a seguir, que simula três situações distintas, mostra os padrões de difração
de aberturas circulares, como se fossem estrelas distantes. A intensidade está representa no
anteparo, onde os padrões individuais estão representados pelas curvas cheias e o padrão resultante
(somatório), pelas curvas tracejadas. Quando os corpos estão distantes, eles estão bem resolvidos
(esquerda da figura). Na parte central, eles obedecem ao critério de Rayleigh, estando minimamente
resolvidos e quando estão muito próximos, não estão resolvidos (direita da figura).
Figura 8.12 – Aplicação do critério de Rayleigh – Limite de Resolução
A partir do critério de Rayleigh, pode-se determinar a separação angular mínima de
resolução (θmín) subentendida pelas fontes em uma fenda que esteja minimamente resolvida. A
equação 8.21 estabelece a condição para o primeiro mínimo de difração de um padrão de difração
para uma fenda simples, permitindo determinar o valor do ângulo θ.
De acordo com o critério de Rayleigh, a equação 8.21 fornece a menor separação angular
para a qual as fontes podem ser resolvidas, ou seja, que o sistema óptico perceba que existem
dois corpos presentes e não apenas um. Como λ<< a, na maioria dos casos, podemos utilizar a
aproximação angular, tal que senθ = θ, para θ expresso em radianos. Assim, o ângulo limite de
resolução para uma fenda simples é dado por,
θ mín =
λ
a
(8.25)
O ângulo subentendido pelas duas fontes na fenda deve ser pouquíssimo maior do que o
valor λ/a para que as fontes estejam resolvidas (distinguidas com clareza). A distância angular
mínima de resolução é válida para fendas verticais ou longitudinais, olhos de felinos, cobras, etc.,
desde que sejam estreitos e com certo comprimento.
Muitos sistemas ópticos utilizam aberturas circulares em vez de fendas. O padrão de difração
observado na figura 8.12, consiste de um disco central brilhante, circundado por anéis escuros e
claros, os últimos, com intensidades cada vez mais fracas. O poder de resolução para tais sistemas
141
FÍsiCa gEral iv
é dado pelo ângulo mínimo de resolução (raio angular), conforme a expressão,
que usando a aproximação angular, fica,
θ mín = 1,2
senθ = 1,2
λ
D
λ
D
,
(8.26)
onde D é o diâmetro do orifício. A figura 8.13 é típica para refração porá abertura circular.
Figura 8.13 – Difração para abertura circular. Anéis concêntricos
O círculo central brilhante é denominado de disco de Airy. O raio angular do disco de Airy
é dão pelo raio angular do primeiro anel escuro obtido pela equação 8.26. As equações 8.25 e 8.26
são similares, com exceção do fator 1,22, que surge do padrão de difração para aberturas circulares.
É esta equação que regula a dificuldade de enxergar dois faróis quando estão muito distantes, dois
objetos circulares em um microscópio ou telescópio. Ela é válida para qualquer abertura circular do
tipo lente, orifício e olhos humanos, de animais, insetos, onde o diâmetro D é o diâmetro da pupila.
Exemplo 5
O telescópio Hale localizado no Mote Palomar, tem um diâmetro de 5,08 m (200 polegadas).
Qual é seu ângulo limite de resolução para a luz de 600 nm?
Solução:
λ
(6 x10−7 m)
−7
22
1, 22
rad 0, 03 s de arco.
θ min 1,=
=
= 1, 44 x10=
D
(5, 08m)
Obs. Para condições atmosféricas ideais, qualquer par de estrelas que estejam subentendendo
um ângulo maior ou igual a esse valor pode ser resolvido (distinguido). Devido às turbulências
atmosféricas, o telescópio Hale jamais atinge seu ângulo mínimo de resolução. O telescópio
espacial Hubble, pelo fato de não sofrer distorções atmosférica, mesmo tendo seu diâmetro
menor, pode tirar fotografias com melhor resolução (melhor qualidade).
Como sugestão, resolva o seguinte problema. O radiotelescópio de Arecibo, em Porto
Rico, tem um diâmetro de 305 m e é projetado para detectar ondas de rádio de até 0,75 cm de
comprimento. Qual é seu poder resolvente? Compare o valor obtido com o do telescópio Hale.
8.9
Difração de Raios X
Os raios X possuem propriedades eletromagnéticas, comportando-se como ondas
eletromagnéticas, portanto, numa chapa fotográfica, formam figuras de interferência. Os átomos de
um cristal se agrupam em rede cristalina regular e a difração de raios X se tornou uma ferramenta
fundamental, tanto para a medida do comprimento de onda dos raios X quanto para o estudo da
estrutura da rede cristalina. Cada átomo da rede funciona como um centro espalhador (refletor) da
radiação incidente (fonte secundária), que se reflete formando ângulo de reflexão igual ao ângulo de
incidência (lei da reflexão regular). Além disso, para uma rede regular, os átomos estão empilhados
em linhas horizontais e verticais, de tal forma que a reflexão em uma linha horizontal está sempre
em fase com a radiação incidente. Nestas condições, para que a radiação refletida por uma linha
atinja o anteparo, além dos ângulos de incidência e reflexão serem iguais, temos que a diferença de
caminho entre linhas adjacentes deve ser igual a mλ, sendo m um número inteiro, de tal forma que,
(8.27)
2dsenθ = mλ , para m = 1, 2, 3
A equação 8.27 é conhecida por Lei de Bragg para a interferência construtiva ou condição
de Bragg para interferência construtiva, sendo o ângulo θ medido a partir da superfície do cristal e
142
não da reta normal, conforme figura 8.14, abaixo.
Óptica ondulatória
Figura 8.14 – Condição de Bragg para interferência construtiva. Rede cristalina
Para uma rede de difração (rede múltipla), temos um conjunto de fendas paralelas, todas
com a mesma largura e com a mesma distância em relação aos centros de duas fendas consecutivas
(espaçamento d), a posição dos máximos obedece a mesma equação para a interferência de duas
fendas de Young (equação 8.2). Para uma rede de difração, o termo fenda é substituído pelo termo
ranhura ou linha com sulcos de mesma profundidade
Exercícios
1) Luz de comprimento de onda igual a 580 nm incide sobre uma fenda cuja largura é de 0,030
mm. O anteparo está a 2,0 m da fenda. Encontre as posições das primeiras franjas escuras e a
largura da franja brilhante central.
2) Luz monocromática com λ = 632,8 nm incide normalmente sobre uma rede de difração contendo
6.000 linhas/cm. Encontre os ângulos nos quais podem ser observados os máximos de primeira,
segunda e terceira ordens.
3) Calcule a espessura mínima de um filme fino de uma bolha de sabão (n = 1,33) que resulta da
interferência construtiva da luz refletida se o filme for iluminado com luz monocromática de
600 nm de comprimento, no vácuo. Que outras espessuras do filme produzem interferência
construtiva?
4) Estime a maior distância em que é possível distinguir os dois faróis de um carro. Admita
que o diâmetro da pupila seja de 5 mm, que os faróis estejam separados por 1 m e utilize o
comprimento de onda médio igual a 550 nm.
5) Duas fontes de comprimento de onda de 700 nm estão separadas por uma distância horizontal
“x” e a 5 m de uma fenda vertical de largura igual a 0,5 mm. Qual é o menor valor de “x” que
permite sejam as fontes resolvidas pelo critério de Rayleigh?
6) Luz de 700 nm incide sobre um orifício de 0,1 mm de diâmetro. (a) Qual o ângulo entre o
máximo central e o primeiro mínimo de difração, numa difração de Fraunhofer? (b) Qual a
distância entre o máximo central e o primeiro mínimo de difração num anteparo a 8 m de
distância do orifício?.
7) Um feixe de luz laser com comprimento de onda igual a 660 nm atravessa uma fenda vertical
de largura 0,04 mm. Determine a largura do máximo central em um anteparo localizado a 1 m
de distância da fenda.
8) Luz laser de 546 nm é utilizada para iluminar duas fendas separadas por 0,12 mm e distantes
55 cm de um anteparo. Calcule a distância que separa dois máximos adjacentes em relação ao
máximo central.
9) Determine a resultante E(t) das seguintes ondas.
E1(t) = E0 sem(ωt)
E2(t) = E0 sem(ωt + 60°)
E3(t) = E0 sem (ωt - 30°)
Obs. Suponha que os fasores saiam de t = 0
10) Duas fendas paralelas a 7,70 μm de distância uma da outra são iluminadas por luz monocromática
de 550 nm de comprimento. Calcule a posição angular da franja brilhante de terceira ordem em
radianos e em graus.
143
FÍsiCa gEral iv
Anotações
144
Óptica ondulatória
Anotações
145
FÍsiCa gEral iv
Anotações
146
9
Fótons, Elétrons
e Átomos
9.1
introdução
9.2
ideia de quantização
9.3
Efeito Fotoelétrico
9.4
Espectro atômico e o átomo de hidrogênio
147
FÍsiCa gEral iv
9
FÓTONS, ELÉTRONS E ÁTOMOS
9.1
Introdução
Muitos fenômenos, principalmente, os relacionados à emissão e absorção de ondas
eletromagnéticas por átomos, sugerem aspectos da luz diferentes dos até então considerados.
Nestes fenômenos, a energia de uma onda eletromagnética é quantizada. A onda eletromagnética é
emitida e absorvida em pacotes semelhantes a partículas com energias definidas. Nestes casos, os
pacotes são chamados de fótons ou quanta.
A energia interna de uma átomo é quantizada. Em um átomo, a energia não pode assumir
qualquer valor. Somente alguns valores de energia são possíveis. Estes valores de energia chamados
níveis de energia.
9.2
Ideia de Quantização
Ao final do século 19, a mecânica clássica tinha sério problema em explicar o espectro
eletromagnético emitido por corpo a uma determinada temperatura. Os dados experimentais não
concordavam com o resultado usando os conceitos da mecânica clássica. O experimento era uma
cavidade ou forno, e observava o espectro eletromagnético emitido através de um orifício pequeno.
Os dados experimentais indicavam que o espectro eletromagnético emitido depende somente da
temperatura de equilíbrio. O espectro eletromagnético emitido independe do material do qual o
forno é construído, e também da forma ou superfície.
Com o aumento da temperatura, a radiação visível passa de uma coloração avermelhada a um
vermelho vivo, depois vai-se tornando mais branca, indo após para o azulado. O espectro emitido
é contínuo, mas a coloração predominante se desloca para comprimentos de onda mais baixos com
o aumento da temperatura.
Figura 9.1 espectro eletromagnético de um forno a uma determinada temperatura.
Na figura 1 podemos observar o espectro eletromagnético a uma determinada temperatura.
Pela mecânica clássica, a troca de energia entre a radiação e a parede se dá de forma contínua, isto
quer dizer, qualquer quantidade de energia pode ser absorvida ou emitida. A previsão da mecânica
clássica da intensidade em função do comprimento de onda λ e temperatura T é
2π ckT
I (λ ) =
4
λ
onde c é a velocidade da luz e=
k 1,38 ×1023 J / K é a constante de Boltzmann. Esta equação é
apresentada na figura 1 juntamente com os dados experimentais. Como podemos ver na figura 1, a
previsão da mecânica clássica concorda razoavelmente com o experimento para comprimentos de
onda altos. O problema é que para comprimentos de ondas baixos existe uma alta divergência entre
a previsão da mecânica clássica e os dados experimentais. Esta altíssima divergência é chamada
de “catástrofe ultravioleta”.
Em dezembro de 1900, Max Karl Ernst Ludwig Planck apresentou em uma reunião
da sociedade alemã de física uma proposta que permitia obter a expressão da intensidade I em
dependência do comprimento de onda λ, a seguir
2π c 2 h
1
I (λ ) =
λ5
 hc 
exp 
 −1
 λ kT 
onde=
h 6.63 ×10−34 J .s é a constante de Planck. Esta expressão de Planck está em concordância
com os dados experimentais apresentados na figura 1. Para obter esta expressão, Planck deixou a
ideia da mecânica clássica, onde a troca de energia é continua, e postulou que a troca de energia
seria quantizada, isto é, um oscilador de frequência f só pode emitir ou absorver energia em
148
múltiplos inteiros de um quantum de energia. Valores de energia intermediários são proibidos.
Portanto, as trocas de energia dentro de um forno a uma determinada temperatura têm
valores discretos e bem definidos, não contínuos, como descrito pela mecânica clássica.
Fótons, Elétrons e átomos
Max Karl Ernst Ludwig Planck (1858 —1947) foi um físico alemão, considerado o pai da física
quântica. Seu professor de física Philipp von Jolly recomendou Planck a não estudar física,
dizendo: “neste campo, quase tudo já está descoberto, e tudo o que resta é preencher alguns
buracos”. Planck respondeu que ele não queria encontrar coisas novas, apenas compreender os
fundamentos conhecidos do assunto. Max Planck teve como professores os físicos Hermann von
Helmholtz e Gustav Kirchhoff e o matemático Karl Weierstrass. Teve sua vida conturbada pela
segunda guerra mundial, onde perdeu seu filho, morto pelo regime nazista. A termodinâmica
ocupou o jovem cientista desde cedo, o que levou a postular os princípios da mecânica quântica.
Planck foi agraciado com o Nobel de Física em 1918.
9.3
Efeito Fotoelétrico
Heinrich Rudolf Hertz, em 1887, verificou a ocorrência de centelhas entre duas esferas, com
uma grande diferença de potencial entre elas, quando iluminadas com luz. A luz que incidia sobre a
superfície das esferas promovia liberação de elétrons. Estes elétrons em condições normais não eram
liberados pois eles tinham que vencer uma barreira de potencial φ . Melhorias foram feitas na parte
experimental (figura 2a), o que possibilitou uma observação mais detalhado do efeito. Inúmeros
estudos foram realizados e descobriu-se que este efeito dependia estranhamente da diferença
de potencial, da frequência e intensidade da luz incidente. Foi observado que a frequência da luz
tinha que ser maior que um determinado valor para que os elétrons pudessem escapar da superfície,
chamada de frequência de corte. Foi observado que a corrente causada pelo movimento dos elétrons
independia da diferença de potencial, quando o experimento era feito em vácuo, isto quer dizer que
os elétrons saiam da superfície iluminada sem aplicação de potencial. Foi observado também, se
houvesse uma inversão do potencial elétrico, contrário ao movimento inicial dos elétrons, é possível
determinar a energia cinética máxima dos elétrons que saiam da superfície iluminada (figura 2b). Esta
energia cinética depende do comprimento de onda. A diferença de potencial Vo , em que a corrente
não era mais observada, foi chama da de potencial de corte.
Figura 9.2 (Nome da figura)
Em 1905, foi feita finalmente a análise correta por Albert Einstein do efeito. Ele utilizou
a ideia de pacotes de energia, desenvolvida por Max Planck cinco anos antes, para explicar a
radiação do corpo negro. Einstein postulou que um feixe de luz era constituído por pequenos
pacotes de energia chamados de fótons ou quanta. A energia E de um fóton é igual ao produto entre
a constante h e a frequência f, assim,
hc
(9.1)
=
E hf=
λ
onde
=
h 6, 626 ×10−34 J .s e é chamada de constante de Planck, c é a velocidade da luz e λ é o
comprimento de onda. Segundo Einstein, um fóton é absorvido por um elétron da superfície do
material. Essa transferência de energia se dá totalmente, isto quer dizer que o elétron só pode absorve
toda a energia do fóton, ou não absorve nada. Isso contraria o princípio de absorção contínua da
mecânica clássica. Quando esta energia absorvida é maior que a barreira de potencial φ que impede
o elétron de sair do material, o elétron escapa do material com uma energia potencial, portanto,
149
Ecin
=
FÍsiCa gEral iv
1
2
me v=
hf − φ
e
2
eV=
hf − φ
0
O potencial de corte Vo é uma função linear que depende da frequência e desta função é
possível determinar a barreira de potencial φ , ou também chamada de função trabalho. A tabela
9.1 mostra uma lista contendo valores da função trabalho φ de alguns elementos. Esses valores são
aproximados, pois o efeito é muito sensível a impurezas existentes na superfície. Quanto maior o
trabalho, menor deverá ser o comprimento de onda de corte necessária para emissão de fotoelétrons.
Para comprimentos de onda abaixo do comprimento de corte haverá emissão de fotoelétrons.
Função
trabalho
(eV)
5,1
5,1
5,0
4,8
4,7
4,6
4,3
4,3
2,7
2,3
elemento
Níquel
ouro
carbono
silício
cobre
tungstênio
alumínio
prata
sódio
lítio
φ
Comprimento
de onda de corte
(nm)
243
243
248
258
264
270
288
288
460
537
Tabela 9.1 Função trabalho φ e comprimentos de onda máximos
calculados a partir dos valores de φ (valores aproximados)
A quantização se aplica a todo o espectro de ondas eletromagnéticas. A relação entre o
momento p e a energia E de uma partícula é dada pela teoria da relatividade especial, assim,
E hf h
=
p = =
c
c λ
onde a direção e o sentido do momento linear do fóton são a direção e o sentido da propagação da
onda eletromagnética.
Exemplo 1
O potencial de corte necessário para impedir a emissão de elétrons é igual a 0,181 V para quando
um feixe de luz ultravioleta de 254 nm incide sobre uma superfície polida de cobre. Calcule o
comprimento de onda de corte e a função trabalho φ .
Solução:
Como a energia correspondente ao comprimento de onda da onda eletromagnética é dada por
E=
hc
λ
e a energia correspondente ao potencial elétrico Vo de 0,181V em elétrons volts é 0,181eV (1 eV
corresponde um elétron acelerado pelo potencial de 1 volt). A função trabalho é a diferença entre
a energia correspondente a onda eletromagnética e o potencial de corte, assim,
hc
=
φ
− V0 ( eV )
φ
=
λ
−15
4.1365
×
10
eV
.s ) .(3 ×108 m / s )
(
254 ×10−9 m
φ = 4, 7 eV
− 0,181eV
esta função trabalho corresponde a uma onda eletromagnética de comprimento de onda
4.1365 ×10−15 eV .s .(3 ×108 m / s )
hc
=
λ =
E
4, 7 eV
(
)
λ =2, 64 ×10−7 m =264 nm
Os valores da função trabalho φ e do comprimento de onda de corte λ concordam com os
valores para o cobre na tabela 1.
150
Fótons, Elétrons e átomos
Figura 9.3 Espectrômetro e espectros obtidos de diferentes átomos. Para obter o
espectro de um feixe de luz empregamos um prisma ou uma rede de difração para
separar os diversos comprimentos de onda que compõem a luz analisada.
9.4
Espectro Atômico e o Átomo de Hidrogênio
Quando um gás de um elemento é convenientemente excitado por uma descarga elétrica,
ele produz luz. Em 1859, Gustav Robert Kirchhoff e Robert Wilhelm Bunsen descobriram que
o espectro de emissão de um elemento quando excitado é característico desse elemento e este
espectro é formando por linhas bem definidas, como apresentado na figura 9.3., principalmente em
função das linhas bem definidas, o espectro de emissão eletromagnética era incompreensível pela
física clássica. Um espectro contínuo era esperado pelos modelos da mecânica clássica.
Figura 9.4 Órbita circular
Para compreender o espectro de emissão eletromagnética dos gases de elementos quando
excitados,vamos considerar o modelo de Bohr do hidrogênio (figura 9.4), onde um elétron tem
órbita circular em torno de um próton, sujeito apenas à forca columbiana, assim,
q2
F k=
ma
=
r2
A aceleração centrípeta é:
v2
a=
r
portanto,
q 2 mv 2
F k=
=
r2
r
2
q
(9.2)
k
= mv 2
r
Tomando o nível zero de energia total no infinito, ou seja, com o elétron infinitamente afastado
do núcleo e em repouso, a soma da energia cinética e da potencial é a energia E total do sistema.
1 2
q2
E
mv − k
=
2
r
A energia potencial tem sinal negativo, pois é necessário fornecer energia para levar o
elétron até o infinito. Como vimos (equação 9.2) mv 2 = kq 2 / r , assim, a energia total é dada por:
q2
2r
Quando o átomo tem sua energia diminuída quando emite um fóton. Por isso, associamos
a variação de energia com a variação do raio da órbita, que passa de um valor inicial maior ri a um
E = −k
151
FÍsiCa gEral iv
valor final menor rf .
q2 
q2 
−  −k

2ri  2rf 
q2  1 1 
k  − 
∆Ei →=
f
2  rf ri 
Associando a variação de energia a frequência f do fóton (equação 1), temos,
q2  1 1 
hc
∆Ei → f = k  −  = hf =


2  rf ri 
λ
∆Ei → f =−k
Por conseguinte, podemos escrever o comprimento de onda λ esperado como
1 kq 2  1 1 
(3)
=
 − 
λ 2hc  rf ri 
Portanto, o comprimento de onda emitido pelo átomo depende da transição entre duas
órbitas com raio maior e um raio menor. Portanto, temos que observar o espectro de emissão
experimental do hidrogênio visto na figura 9.3. O menor comprimento de onda emitido pelo átomo
de hidrogênio na faixa do visível é H δ = 364, 6 nm , o segundo é H γ = 410, 2 nm , o terceiro
é H β = 486,1 nm e o quarto é H α = 656,3 nm . Os H x são as notações das respectivas linhas.
A equação que descreve as linhas de emissão do hidrogênio da figura 9.3, havia sido descoberta
anteriormente pelo método das tentativas por Johann Balmer, e é dada por:
1
 1 1 
(9.4)
= R 2 − 2 
λ
2 n 
onde
=
R 1, 097 ×107 m −1 e é chamada de constante de Rydberg, e n pode ter números inteiros 3, 4,
5, ... . Esta série é chamada de série de Balmer e se aplica aos comprimentos de onda no visível.
Na região do ultravioleta temos a série de Lyman e na infravermelho temos três regiões que são
determinadas pelas séries de Paschen, Brachkett e Pfund, como podemos ver na figura 5.
A concordância entre a equação 9.3, desenvolvida por Bohr, e os dados experimentais
descritos pela série de Balmer (equação 9.4) é evidente. Portanto, as linhas de emissão do átomo
de hidrogênio podem ser explicadas usando as transições de um nível de energia para outro nível
e o conceito de fóton. Portanto, ocorre que quando um elétron faz uma transição de um nível de
energia para outro nível mais baixo emite um fóton com energia igual à diferença de energia entre
o nível inicial e o nível final.
Niels Henrick David Bohr nasceu, em 1885, em Copenhaga, Dinamarca. Estudando o átomo de
hidrogênio, Bohr conseguiu formular um novo modelo atômico. Bohr concluiu que o elétron
tinha orbita fixa e que não haveria emissão de radiação enquanto o elétron permanecesse na
mesma órbita. A emissão ocorre apenas quando o elétron se desloca de um nível de maior
energia (órbita mais distante do núcleo) para outro de menor energia (órbita menos distante do
núcleo). Formulou o princípio da correspondência, e teve diversos trabalhos que contribuíram
decisivamente para a compreensão da estrutura atômica e da física quântica. Foi contra a
construção da bomba atômica. Ele ganhou o prêmio Nobel de Física, em 1922, por seus trabalhos
da estrutura e a emissão dos átomos. Em 1957, Niels Bohr recebeu o Prêmio Átomos para a Paz.
Bohr faleceu em 1962, em Copenhaga, aos 77 anos.
152
Fótons, Elétrons e átomos
Figura 9.5 Modelo de Bohr - Orbitais permitidas para um elétron do átomo de hidrogênio (não em escala).
As linhas espectrais ocorrem das diversas transições entre os níveis de energias.
153
FÍsiCa gEral iv
Exemplo 2
Utilizando os dados da figura 5, calcule os comprimentos de onda dos fótons correspondentes a)
a transição entre n=6 e n=2 (série de Balmer) e b) a transição entre n=6 e n=4 (série de Brackett).
Solução:
a) A energia entre os níveis 6 e 2 é −3, 40 + 0,38 eV =
3, 02 eV , assim, o comprimento de onda
do fóton deve ser
hc
4.136 eV .s 3, 00 ×108 m / s
=
=
4,11×10−7 m =
411 nm
3.02 eV
E f − Ei
λ=
Este comprimento de onda está no visível (400 - 700 nm). O valor calculado está bem perto
do valor no texto. A pequena discrepância é devido à pequena precisão dos dados da figura e a
aproximação do valor da velocidade c.
0, 47 eV , assim, o comprimento de onda
b) A energia entre os níveis 6 e 2 é −0,85 + 0,38 eV =
do fóton deve ser
hc
4.136 eV .s 3, 00 ×108 m / s
=
=2, 64 ×10−6 m =2640 nm
λ=
0,
47
eV
E f − Ei
Este comprimento de onda está acima do visível, na região do infravermelho.
As linhas de emissão de um espectro não são produzidas por um único elétron. Os
espectros de emissão da figura 9.3 são produzidos por uma amostra de gás com uma quantidade
muito grande de átomos, que são excitados para diversos níveis de energia em consequência de
uma descarga elétrica no gás. O espectro do gás mostra a luz emitida pelo conjunto das transições
ocorridas em vários átomos da amostra.
Apenas alguns átomos e íons têm espectro de emissão que podem ser representados mediante
uma formula simples com a série de Balmer para o átomo de hidrogênio. No entanto, os espectros
mais complicados podem ser analisados usando transições entre diversos níveis de energia. Através
do espectro de emissão é possível determinar os valores numéricos destes níveis de energia.
O nível mais baixo de energia é denominado de nível fundamental, que corresponde ao
estado de energia interna mínima que o átomo pode possuir. Todos os demais níveis de energia mais
elevados são denominados de estados excitados ou níveis excitados. Um fóton correspondente a
uma linha espectral é emitido quando um átomo faz uma transição de um nível excitado até um
nível inferior ou até o nível fundamental. No átomo de hidrogênio, a série de Lyman corresponde
a uma transição de um nível excitado até o fundamental. As demais séries correspondem a uma
transição de um nível excitado até um nível mais inferior.
Quando um átomo faz uma transição de um nível até um nível inferior, ele emite um fóton
com uma determinada energia. Este fóton pode ser absorvido totalmente por um átomo semelhante
que esteja inicialmente neste nível inferior. Quando um feixe de espectro contínuo, também chamada
de luz branca, passa por um gás, observamos que o gás absorve em determinadas linhas, e uma série
de linhas negras aparecem no espectro. Essas linhas correspondem ao chamado espectro de absorção.
Em alguns casos um átomo absorve um fóton que atinge um nível excitado e a seguir
volta ao nível fundamental em etapas, isto quer dizer, ele vai para um estado inferior e depois para
um mais inferior e assim sucessivamente até atingir o estado fundamental. Neste processo, o átomo
emite diversos fótons, correspondentes a cada etapa do processo até chegar ao estado fundamental.
Este processo é chamado de Fluorescência. Em geral, o fóton inicialmente absorvido tem uma
energia alta e geralmente está na região do ultravioleta.
Exemplo 3
A lâmpada de vapor de sódio emite uma luz amarela com comprimento de onda de 586 nm. Qual
é a energia, em eV, dos prótons emitidos.
Solução:
6, 626 ×10−34 J .s
Como o resultado é solicitado em elétrons Volts, podemos usar o direto o valor da constante de
h 4.14 ×10−15 eV .s (o valor de h no S.I. é 6, 626 ×10−34 J .s e=
Planck=
1J 6, 242 ×1018 eV )
hc
=
E =
λ
154
( 4.14 ×10
eV .s ) (3, 00 ×108 m / s )
= 2,11eV
5,89 ×10−9 m
−15
Exercícios
Fótons, Elétrons e átomos
1) Em qual região do espectro eletromagnético um corpo a 0,02K emite radiação?
2) Calcule o comprimento de onda predominante a uma temperatura de 3000K.
3) Um fóton de luz vermelha possui comprimento de onda igual a 650 nm. Calcule a frequência do
fóton, o modulo de seu momento linear e sua energia.
4) O potencial de corte necessário para impedir a emissão de elétrons é igual a 0,4 V para quando
um feixe de luz de 400 nm incide sobre uma superfície polida de sódio. Calcule o comprimento
de onda de corte e a função trabalho φ . Compare os resultados com os valores da tabela 1.
5) Por volta de 1916, R. A. Milikan mediu diversos dados da voltagem de corte em função do
comprimento de ondas para o lítio. Usando estes dados encontre a função trabalho e a constante
de Planck.
Comprimento de onda (nm)
Potencial de corte (V)
433,9
0,55
404,7
0,73
365,0
1,09
313,5
1,67
253,5
2,57
6) Quando o hidrogênio é excitado ele emite uma luz verde com comprimento de onda de 486,1 nm.
Usando a série de Balmer encontre o estado n.
7) Um átomo absorve um fóton de comprimento de onda de 370 nm e imediatamente emite um
fóton com cumprimento de onda de 580 nm. Quanto de energia o átomo absorveu?
8) Usando a figura 5, qual é a energia, o momento e o comprimento de onda de um fóton quando o
hidrogênio passa do estado n=3 ao estado n=1.
9) Quais são as características da emissão do átomo de hidrogênio?
10) Comente a energia de um elétron em um orbital ligado a um proton e um átomo não ligado?
155
FÍsiCa gEral iv
Anotações
156
Fótons, Elétrons e átomos
Anotações
157
FÍsiCa gEral iv
Anotações
158
10
Referências
SERWAY, R. A.; JEWETT J. W. Jr., Princípios de Física. Óptica e Física Moderna.
3. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. v. 4.
YOUNG H. D., FREEDMAN R. A. Coleção Sears e Zemansky. Ótica e Física
Moderna – 10. ed. São Paulo: Pearson Addison Wesley, 2007. v. IV.
HALLIDAY, D., RESNICK R., WALKER, J., Fundamentos da Física. Ótica e Física
Moderna. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2004.
TIPLER, P. A., Física. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Dois, 1978. v. 2.
ALONSO, M., FINN, E. J., Física – Um Curso Universitário. Campos e Ondas. São
Paulo: Ed. Edgard Blucher, 1972. v. II.
EISBER, R. M., LERNER, L. S., Física – Fundamentos e Aplicações. São Paulo: Ed.
McGraw-Hill do Brasil, 1982. v. 4.
159
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