UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE PATOLOGIA E MEDICINA LEGAL MESTRADO EM PATOLOGIA NEOPLASIAS ESCAMOSAS INTRA-EPITELIAIS E INVASORAS DA VULVA: EXPRESSÃO DE RECEPTORES DE ESTRÓGENO E DE PROGESTERONA, DE p53 E DE Ki-67 (MIB1) SEGUNDO A PROGRESSÃO TUMORAL Luciana Gomes da Rocha de Arruda FORTALEZA-CEARÁ 2004 Luciana Gomes da Rocha de Arruda NEOPLASIAS ESCAMOSAS INTRA-EPITELIAIS E INVASORAS DA VULVA: EXPRESSÃO DE RECEPTORES DE ESTRÓGENO E DE PROGESTERONA, DE p53 E DE Ki-67 (MIB1) SEGUNDO A PROGRESSÃO TUMORAL Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Patologia Tropical, do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Universidade Federal de Ceará, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de mestre. Orientador: Prof. Dr. Francisco Valdeci de Almeida Ferreira FORTALEZA-CEARÁ 2004 A819n Arruda, Luciana Gomes da Rocha de, Neoplasias escamosas intra-epiteliais e invasoras da vulva: expressão de receptores de estrógeno e de progesterona, de p53 e de Ki-67 (MIB1) segundo a progressão tumoral / Luciana Gomes da Rocha de Arruda. --Fortaleza, 2004. 109 f. : il. Orientador: Prof. Dr. Francisco Valdeci de Almeida Ferreira. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal do Ceará. Departamento de Patologia e Medicina Legal. 1. Vulva - neoplasia. 2. Vulva – lesões pré-malignas. I. Ferreira, Francisco Valdeci de Almeida (Orient.). II. Título. CDD 611.67 Luciana Gomes da Rocha de Arruda NEOPLASIAS ESCAMOSAS INTRA-EPITELIAIS E INVASORAS DA VULVA: EXPRESSÃO DE RECEPTORES DE ESTRÓGENO E DE PROGESTERONA, DE p53 E DE Ki-67 (MIB1) SEGUNDO A PROGRESSÃO TUMORAL Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Patologia Tropical, do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Universidade Federal de Ceará, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de mestre. Aprovada em: 05 / 03 / 2004 BANCA EXAMINADORA ____________________________________________________ Prof. Dr. Francisco Valdeci de Almeida Ferreira ____________________________________________________ Prof. Dr. Francisco Dário Rocha Filho ____________________________________________________ Prof. Dr. Roberto Wagner Bezerra de Araújo ____________________________________________________ Prof. Dr. Antônio Wilson de Vasconcelos A meu marido Danilo e meu filho Danilinho. AGRADECIMENTOS Especialmente ao meu orientador, Prof. Dr. Francisco Valdeci de Almeida Ferreira, patologista admirável, exemplo ímpar de dedicação à causa científica. Por toda sua contribuição e disponibilidade constante durante o curso e na orientação desse trabalho e demais incentivos profissionais e pessoais. Muito obrigada. Ao meu pai, Dr. José Ferreira da Rocha Filho, pelo amor, proteção, incentivo e investimento pessoal e profissional não só durante este período, mas sempre. Ao meu amado marido, Sérgio Danilo Pontes de Arruda, por sempre estar ao meu lado em todos os momentos difíceis de minha vida nos últimos 3 anos, e por tornar minha caminhada pela vida mais suave e calma. Ao meu filhinho, Danilinho, que tantas vezes esteve privado da minha companhia em dias árduos de trabalho incessante, e que Deus me ajude a poder recompensá-lo por essa ausência. Minhas sinceras desculpas. À minha querida amiga Marília, que me fez ver que mesmo que o mundo não seja como gostaríamos que fosse, ainda assim vale a pena lutar. À minha amiga Fernanda, pelas dicas ímpares para a conclusão desse trabalho e pelos momentos “lights” durante a elaboração dos seminários apresentados. Agradeço ao Franzé, por executar a parte técnica do meu trabalho com tanta presteza e qualidade. À Paula, secretária do Mestrado, pela dedicação e amizade dispensadas a todos os mestrandos. A todos os meus colegas pós-graduandos do Curso de Mestrado, pela experiência de estarmos caminhando juntos. À Universidade Federal do Ceará (UFC), que me concedeu a oportunidade de subir mais um degrau da longa escada da vida. “Um dia você aprende que... ... não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás. Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar, que realmente é forte e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida. Nossas vidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar. William Shakespere RESUMO O câncer de vulva, embora entidade rara, envolve problemas sérios de tratamento devido à extensão cirúrgica e conseqüente mutilação. É uma neoplasia que acomete preferencialmente mulheres em idade mais avançada, tendo havido uma crescente incidência em pacientes de menor faixa etária com infecção pelo HPV. Com o objetivo de identificar fatores envolvidos na gênese e na progressão dessas neoplasias, foi avaliada, por imunoistoquímica (StrepABC), a presença de receptores hormonais de estrógeno e de progesterona no epitélio e estroma de 45 lesões vulvares, sendo 22 carcinomas epidermóides invasores (CEC), 12 lesões intraepiteliais escamosas de alto grau (LIEAG) e 11 lesões intra-epiteliais escamosas de baixo grau (LIEBG); também, a expressão da proteína p53 e o índice de proliferação celular, mediante o MIB1, conforme a idade. Os casos foram oriundos do Instituto de Prevenção do Câncer do Ceará (IPCC), do Laboratório de Patologia Dr. Hamilton Monteiro (LHM) e do Laboratório de Patologia da UFC. Procedeu-se à análise descritiva dos parâmetros e de suas correlações, com nível de significância de pelo menos 95% (p≤0,05). Resultados e inferências: 1- idade: os CEC incidiram dos 34 aos 76 anos de idade (média aos 58,59 anos e mediana aos 60,5 anos); as LIEAG ocorreram dos 18 aos 59 anos (média aos 40,91 anos e mediana aos 42 anos) e as LIEBG, dos 18 aos 58 anos (média aos 32,63 anos e mediana aos 32 anos), dentro das faixas e intervalos etários esperados conforme relatos da história natural de tais lesões, destacando-se a ocorrência crescente de CEC em pacientes de faixa etária cada vez menor; 2- receptores hormonais: os receptores nucleares de estrógeno e de progesterona estão presentes nos três grupos analisados, com tendência crescente com a progressão tumoral; todavia, sem correlação estatisticamente significativa ao nível do epitélio, não podendo ser considerados como marcadores preditivos / prognósticos no seguimento dessas lesões. Entretanto, no estroma, é significativa a presença maior de núcleos marcados (mais com RE) nas LIEAG e nos CEC, o que pode ter importância no crescimento tumoral. Viu-se, ainda, marcação citoplasmática forte e freqüente para progesterona em lesões escamosas in situ e invasoras ceratinizantes, devendo esses achados serem mais bem avaliados em pesquisas subseqüentes; 3- p53: houve expressão de p53 em todos os grupos, CEC (68,18%), LIEAG (66,66%) e LIEBG (63,63%), sendo significativa a preponderância de escores altos nos carcinomas (53,33%) em relação às LIEBG (0,00%). O comportamento das LIEAG em relação à p53 é similar ao comportamento dos CEC; fica patente que há alteração acumulada da p53 com a progressão tumoral; 4- MIB1: houve diferença significativa dos núcleos marcados para MIB1 entre os CEC e as LIEBG (p=0,00), assim como entre as LIEAG e as LIEBG (p=0,03). Não houve diferença significativa entre os CEC e as LIEAG. Isso expressa uma tendência ao maior índice de proliferação celular com a progressão tumoral. Verificou-se ainda a independência das variáveis p53 e MIB1. Palavras-chave: Câncer de vulva; Infecção pelo HPV; Expressão de Receptores de Estrógeno – p53. ABSTRACT Vulvar cancer, although a rare neoplasia, implicates in serious problems due to the extensive surgery and consequent mutilation. It affects primarily elderly women, and has been more frequent in young patients associated with HPV infection. With the aim to identify pertaining factors evaluated in the genesis and progression of this tumor, an evaluation was carried out by immunohistochemistry (StrepABC), to identify the presence of estrogen and progesterone receptor in the epithelia and stroma of 45 vulvar lesions, of which 22 are invasive squamous cell carcinomas (ISCC), 12 are high-grade intraepithelial lesions (HSIL) and 11 are low-grade intraepithelial lesions (LSIL). Furthermore p53 protein expression and the cell proliferating index, through MIB1, were evaluated. The cases came from the Cancer Institute of Ceará (CIC), the Hamilton Monteiro Laboratory of Pathology (HML) and the Laboratory of Pathology of UFC. A descriptive analysis of the parameters and their correlations were carried out with a statistical significance level of at least 95% (p ≤ 0,05). Results and inferences: 1 - Age: The ISCC occurred between the ages of 34 and 76 years (average 58.59 and median 60.5), the HSIL ranges from 18 to 59 years (average 40,91 and median 42) and the LSIL-papilloma within the ages of 18-58 (average 32.63 and median 32), in the expected age groups and interval ranges, according to the natural history reports of such lesions, highlighting the growing of ISCC in patients ever younger. 2 Hormonal receptor: The nuclear receptors of estrogen and progesterone were detected in the three groups analyzed, with a growing tendency of tumoral progression, however without significant statistical correlation in the epithelia level. Thus they cannot be considered a predictive and prognostic factor in the follow-up of these lesions. However in the stroma the presence of nuclear immunostain is significant (more with ER) in the HSIL and ISCC, which can be important to the tumor growth. The high and frequent immunostain was also observed in the cytoplasm of keratinocytes of in situ carcinomas and keratinizing invasive squamous cell carcinoma. These findings will be evaluated in the future. 3 - p53: The expression of p53 was detected in all groups, ISCC (68,18%), HSIL (66,66%) and LSIL (63,63%), having more frequent high scores in carcinomas (53,33%) than in LSIL (0,00%). The behavior of HSIL is similar to the behavior of ISCC. It is evident that there is an accumulation alteration of p53 with the tumoral progression. 4 - MIB1- There were significant differences between ISCC and LSIL (p=0,00), also among HSIL and LSIL (p=0,03). There was no significant difference between ISCC and HSIL. This expresses the tendency of high index cell proliferation with tumoral progression. In addition, the independence of the variables, MIB1 and p53, were verified. Keywords: Vulvar cancer; HPV infection; p53 protein expression. LISTA DE QUADROS 1 Estadiamento do Câncer de Vulva .............................................................. 32 2 Demonstrativos dos anticorpos e seus clones ............................................ 49 3 Lesões intra-epiteliais escamosas de baixo grau (LIEBG) da vulva conforme a idade, e segundo a imunoexpressão para Receptores de Estrógeno e Progesterona ........................................................................... 105 Lesões intra-epiteliais escamosas de alto grau (LIEAG) da vulva conforme a idade, e segundo a imunoexpressão para Receptores de Estrógeno e Progesterona ........................................................................... 106 Carcinomas escamosos invasores da vulva (CEC) conforme a idade e o tipo histológico, segundo a imunoexpressão para Receptores de Estrógeno e Progesterona ........................................................................... 107 Lesões intra-epiteliais escamosas de baixo grau (LIEBG) da vulva: avaliação segundo a idade, a proliferação celular (MIB1) e a expressão da proteína p53 por imunoistoquímica ........................................................ 108 Lesões intra-epiteliais escamosas de alto grau (LIEAG) da vulva avaliação segundo a idade, a proliferação celular (MIB1) e a expressão da proteína p53 por imunoistoquímica ........................................................ 109 Carcinomas escamosos invasores da vulva (CEC), conforme a idade e o tipo histológico, segundo a proliferação celular (MIB1) e a expressão da proteína p53 por imunoistoquímica ............................................................. 110 4 5 6 7 8 LISTA DE GRÁFICOS 1 2 3 4 Distribuição proporcional das principais causas de morte no Brasil – . 2000 ............................................................................................................. 19 Tipos de câncer mais incidentes, estimados para 2003, na população brasileira ...................................................................................................... 19 Taxa bruta de mortalidade para o período de 1979 a 2000 e estimativas para o ano 2003, em homens, para algumas localizações primárias (Brasil) .......................................................................................................... 22 Taxa bruta de mortalidade para o período de 1979 a 2000 e estimativas para o ano 2003, em mulheres, para algumas localizações primárias (Brasil) .......................................................................................................... 22 5 Distribuição Etária ....................................................................................... 54 6 Análise comparativa da expressão de receptores de estrógeno (RE) no epitélio e estroma entre os grupos de lesões vulvares ............................... 55 Análise comparativa da expressão de receptores de progesterona (RP) no epitélio e estroma entre os grupos de lesões vulvares .......................... 58 7 LISTA DE TABELAS 1 Distribuição absoluta e proporcional de óbitos por câncer no Brasil, em 2000 ............................................................................................................. 18 Estimativas para o ano de 2003 de número de casos novos e de óbitos por câncer, em homens e mulheres, segundo localização primária no Brasil ............................................................................................................ 20 Estimativas para o ano 2003 das taxas brutas de incidência e mortalidade por 100.000 e de número de casos novos e de óbitos, em homens, segundo localização primária ...................................................................... 21 Estimativas para o ano 2003 das taxas brutas de incidência e mortalidade por 100.000 e de número de casos novos e de óbitos, em mulheres, segundo localização primária ...................................................................... 21 Distribuição Etária: Média, Mediana e valores de p para correlação de médias ......................................................................................................... 53 Dados referentes ao tipo de lesão e à porcentagem da expressão imunoistoquímica do receptor de estrógeno (RE) no epitélio e estroma de lesões vulvares ............................................................................................ 54 Comparação da expressão do epitélio para receptores de estrógeno (RE) entre os grupos de lesões vulvares ............................................................. 55 Comparação da expressão do estroma para receptores de estrógeno (RE) entre os grupos de lesões vulvares ..................................................... 56 Expressão do epitélio e estroma para receptor de estrógeno (RE), conforme subdivisão pontual em escores: escore baixo (01 a 06) e escore alto (07 a 12) nos grupos de lesões vulvares .............................................. 56 10 Dados referentes ao tipo de lesão e à porcentagem da expressão imunoistoquímica do receptor de progesterona no epitélio e estroma de lesões vulvares ............................................................................................ 57 11 Comparação da expressão do epitélio para receptores de progesterona (RP) entre os grupos de lesões vulvares ..................................................... 58 12 Comparação da expressão de receptores de progesterona (RP) no estroma entre os grupos de lesões vulvares ............................................... 59 13 Expressão do epitélio e estroma para receptores de progesterona (RP), conforme subdivisão pontual em escores: escore baixo (01 a 06) e escore alto (07 a 12) nos grupos de lesões vulvares .............................................. 60 14 Dados referentes ao tipo de lesão e à porcentagem da expressão imunoistoquímica da proteína p53 entre grupos de lesões vulvares .......... 61 2 3 4 5 6 7 8 9 15 Avaliação da expressão da proteína p53, conforme pontuação em escores de marcação em alto (06 a 09) e baixo (01 a 05), entre grupos de lesões vulvares ............................................................................................ 61 16 Expressão da proteína p53: comparação entre os grupos de lesões vulvares. Avaliação por nº de casos positivos e negativos. Teste exato de Fisher. Valores de p ..................................................................................... 62 17 Ocorrência de positividade da expressão de p53, pelos escores altos (06 a 09) e baixos (01 a 05): comparação entre os grupos de lesões vulvares ....................................................................................................... 62 18 Médias Percentuais de MIB1 por Grupos de Lesão. Valores de p (EPI6OMS) ........................................................................................................... 63 19 Dados referentes ao tipo de lesão e à porcentagem da expressão imunoistoquímica de MIB1 entre grupos de lesões vulvares ...................... 64 20 Ocorrência de positividade da expressão de MIB1, pelos escores altos (06 a 09) e baixos (01 a 05): comparação entre os grupos de lesões vulvares ....................................................................................................... 64 21 Expressão de p53 e de MIB1, nos grupos de lesões invasoras (CEC), de alto (LIEAG) e de baixo (LIEBG) grau da vulva. Relação entre os escores alto (06 a 09) e baixos (01 a 05) de MIB1 da expressão de p53 ................. 65 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 17 1.1 Epidemiologia do câncer no Brasil ...................................................... 17 1.2 Câncer de vulva ....................................................................................... 23 1.2.1 Incidência .................................................................................................... 23 1.2.2 Fatores de risco e vias patogenéticas para o carcinoma escamoso. vulvar............................................................................................................ 30 1.2.3 Tipos histopatológicos e patogênese........................................................... 30 1.2.4 Estadiamento tumoral ................................................................................. 31 1.3 Fatores prognósticos .............................................................................. 33 1.3.1 Marcadores prognósticos ........................................................................... 33 1.4 Bases moleculares do câncer .............................................................. 37 1.4.1 Gene p53 .................................................................................................... 38 1.4.2 MIB1 ....................................................................................................... 41 1.5 Importância do estudo ............................................................................ 42 2 OBJETIVOS ................................................................................................. 45 2.1 Objetivo geral ............................................................................................ 45 2.2 Objetivos específicos ............................................................................. 45 3 METODOLOGIA ........................................................................................ 47 3.1 Casuística .................................................................................................. 47 3.2 Análise histopatológica .......................................................................... 47 3.3 Técnica de imunoistoquímica ............................................................... 48 3.4 Análise imunoistoquímica ...................................................................... 49 3.4.1 Análise semiquantitativa da expressão dos receptores de estrógeno e . progesterona ................................................................................................ 49 3.4.2 Análise semiquantitativa da expressão de p53 .......................................... 50 3.4.3 Análise semiquantitativa da expressão do MIB1 ........................................ 50 3.5 Análise estatística .................................................................................... 50 4 RESULTADOS ............................................................................................ 53 4.1 Avaliação da incidência das lesões em relação à idade ................ 53 4.2 Expressão imunoistoquímica do receptor de estrógeno ................ 54 4.3 Expressão imunoistoquímica do receptor de progesterona .......... 57 4.4 Expressão da proteína p53 ................................................................... 60 4.5 Índice de proliferação celular - MIB1 (Ki-67) .................................... 63 5 DISCUSSÃO ................................................................................................ 67 5.1 Idade ........................................................................................................... 67 5.2 Receptores de estrógeno e de progesterona ................................... 68 5.3 Proteína p53 ............................................................................................. 73 5.4 MIB1 ........................................................................................................... 80 6 CONCLUSÕES ............................................................................................ 85 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 88 APÊNDICES .................................................................................................... 105 INTRODUÇÃO 17 1 INTRODUÇÃO 1.1 Epidemiologia do câncer no Brasil A publicação “Estimativas da Incidência e Mortalidade por Câncer” vem sendo atualizada anualmente pelo INCA desde 1995 (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER-INCA, 2003). Neste ano, foi possível contar com informações oriundas de dezesseis Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP) (de um total de 23 já implantados e em atividade operacional), a citar as cidades de Belém (período entre 1987 e 1991 e entre 1996 e 1998); Manaus (ano de 1999); Palmas (ano de 2000); Goiânia (período entre 1988 e 1998); Brasília (período entre 1996 e 1998); Cuiabá (ano de 2000); Fortaleza (período entre 1978 e 1983; ano de 1985 e ano de 1996); Salvador (período entre 1996 e 2000); João Pessoa (anos de 1999 e 2000); Natal (ano de 1999); Recife (período entre 1995 e 1997); São Paulo (anos de 1983, 1988, 1993, 1997 e 1998); Campinas (período entre 1991 e 1995); Belo Horizonte (ano de 2000); Vitória (ano de 1997); e Porto Alegre (períodos entre 1979 e 1982 e entre 1990 e 1997); obtendo-se considerável acréscimo tanto em quantidade e qualidade, como também na atualidade das informações. A fonte de dados sobre o número de óbitos por câncer é o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde. Na Tabela 1, encontram-se os óbitos por câncer registrados em 2000, no Brasil, pelas localizações primárias mais freqüentes. A base de dados utilizada para mortalidade, embora de crescente qualidade, está defasada no mínimo dois anos; portanto, o efeito de uma mudança aguda no quadro da mortalidade no período entre 2001 e 2003 não será captado pelas projeções atuais. Sua incidência obedece à estrutura e dinâmica de cada um dos Registros de Câncer de Base Populacional. Atualmente, o período de informações disponível varia desde 1985 até 2000. A qualidade das informações difere de registro para registro e também varia de ano para ano, uma vez que os RCBP modificam sua série de casos, seja melhorando a qualidade das suas informações, seja ampliando a sua base de dados. Embora haja limitações, acreditase que as estimativas sejam capazes de descrever padrões atuais de incidência e 18 mortalidade por câncer, possibilitando o dimensionamento da magnitude e do impacto desta doença no Brasil. TABELA 1 ESTIMATIVAS O gráfico 1 traz a distribuição proporcional das principais causas de morte no Brasil, em 2000; o gráfico 2 traduz a estimativa dos tipos de câncer mais incidentes para 2003 e o gráfico 3, a distribuição do número de casos novos estimados para 2003. O Ministério da Saúde estima que, para 2003, em todo o Brasil, ocorrerão 402.190 casos novos e 126.960 óbitos por câncer (Tabela 2). Para o sexo masculino, são esperados 186.155 casos novos e 68.350 óbitos, enquanto para o sexo feminino são estimados 216.035 casos novos e 58.610 óbitos. Estima-se que o principal 19 câncer a acometer a população brasileira será o câncer de pele não melanoma (82.155 casos novos), seguido pelas neoplasias malignas da mama feminina (41.610 casos novos), próstata (35.240 casos novos), pulmão (22.085 casos novos) e estômago (20.640 casos novos). GRÁFICO 1 GRÁFICO 2 20 TABELA 2 Fonte: (INCA, 2003). As maiores taxas de incidência entre os homens (tabela 3) serão devidas ao câncer de pele não melanoma (44,84/100.000), próstata (40,49/100.000), pulmão (17,41/100.000), estômago (15,67/100.000) e cólon e reto (10,96/100.000), enquanto, nas mulheres (tabela 4), destacam-se as neoplasias malignas da pele não melanoma (47,80/100.000), mama (46,35/100.000), colo do útero (18,32/100.000), cólon e reto (11,73/100.000) e estômago (7,81/100.000). 21 TABELA 3 Fonte: (INCA, 2003). TABELA 4 Fonte: (INCA, 2003). Utilizando-se a série histórica disponível de taxas de mortalidade por câncer no Brasil, por topografia, estima-se para o ano 2003 que o câncer de pulmão (13,00/100.000) será a primeira causa de morte por câncer no sexo masculino (gráfico 3), seguido do câncer de próstata (9,47/100.000), estômago (8,45/100.000), 22 esôfago (4,97/100.000) e cólon e reto (4,24/100.000). Estima-se que o câncer da mama feminina (10,40/100.000) manter-se-á como a primeira causa de morte em mulheres (Gra´fico 4), seguido pelo câncer de pulmão (5,45/100.000), cólon e reto (4,73/100.000), colo do útero (4,58/100.000) e estômago (4,27/100.000). GRÁFICO 3 GRÁFICO 4 23 1.2 Câncer de vulva 1.2.1 Incidência Entre as neoplasias malignas próprias do sexo feminino, o câncer de vulva apresenta-se como uma das mais raras, com incidência mundial de aproximadamente 1,8 / 100.000 mulheres, aumentando para até 20 / 100.000 após a idade de 75 anos (CRUM, 1992). Devido a sua baixa incidência, esses casos de neoplasia ficam registrados como “cânceres de outros órgãos genitais femininos” — CID-O C51 —, constantes nos Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP), onde são incluídas em conjunto as neoplasias de vulva, vagina e glândulas de Bartholin. Nesse grupo, o câncer de vulva representa a grande maioria dos tumores, podendo-se avaliar sua magnitude nessas estatísticas. A incidência do carcinoma escamoso vulvar no Brasil é uma das mais altas do mundo (WORLD HEALTH ORGANIZATION-WHO, 1982). 1.2.2 Fatores de risco e vias patogenéticas para o carcinoma escamoso vulvar O risco de desenvolvimento do câncer vulvar relaciona-se a aspectos comportamentais, reprodutivos, hormonais e genéticos. Fatores que aumentam este risco incluem outros carcinomas genitais, doenças inflamatórias crônicas vulvares, fumo, história de verrugas genitais e carcinomas vulvares incipientes, atualmente denominados neoplasias intra-epiteliais vulvares (NIV) (GOSLING et al., 1961; CRAMER, 1978; PETERS; MACK; BERNSTEIN, 1984; ZAINO, 1987; HENSON; TARONE, 1990). Dados obtidos durante os últimos 20 anos corroboram o conceito de que o carcinoma escamoso da vulva, ao contrário do cervical, origina-se a partir de ao menos duas vias patogenéticas (CRUM, 1992). A primeira consiste na infecção pelo papilomavírus humano (HPV), originando uma lesão precursora do carcinoma escamoso vulvar, a neoplasia intraepitelial vulvar (NIV), a qual, em uma proporção de mulheres, progride para 24 carcinoma invasivo, acometendo mulheres mais jovens. Outros fatores de risco associados com o processo carcinogênico neste grupo incluem fatores imunológicos, idade e consumo de cigarros. Sobre o tabagismo, faz-se importante um comentário: nitrosaminas específicas do tabaco foram identificadas no muco do trato genital feminino há mais de uma década (HELLBERG et al., 1988), embora os metabólitos do tabaco por si só não sejam carcinógenos: eles diminuem os mecanismos de defesa imunológica local, além de diminuírem as células de Langerhans e induzirem congestão local, onde o HPV poderia atuar sinergicamente. Na década passada, o consumo de cigarros foi apontado por estudos epidemiológicos como de risco para o câncer anogenital (EDWARDS; BALAT, 1996; DALING et al., 1992) e um co-fator do HPV em tumores vulvares associados a este vírus (MADELEINE et al., 2000). O outro caminho é menos conhecido, mas provavelmente requer o desenvolvimento de alterações em genes do hospedeiro, as quais acumulam-se no epitélio escamoso vulvar. Entre os participantes deste cenário, estão as doenças inflamatórias vulvares, como o líquen escleroso ou a hiperplasia epitelial, o processo de envelhecimento e o desenvolvimento de atipia citológica. Considerando-se dados morfológicos e clínicos, aproximadamente 30% de carcinomas vulvares estão associados com HPV e formas clássicas de NIV, enquanto uma mesma proporção está associada com anormalidades epiteliais, as quais demonstram atipia em um grupo de líquen escleroso e hiperplasia, configurando lesões denominadas neoplasias intra-epiteliais vulvares diferenciadas. Outro terço de carcinomas vulvares desenvolve-se na ausência de lesão precursora aparente (LEIBOWITCH et al., 1990; PINTO, 2002) (Figura 1). Estas duas vias patogenéticas acima relatadas estariam ligadas às duas categorias de carcinomas escamosos vulvares descritos a seguir. 25 FIGURA 1 Diagrama mostrando os vários caminhos patogenéticos do carcinoma escamoso vulvar. NIV = Neoplasia Intra-Epitelial Vulvar Fonte: (INCA, 2003). O Fator Viral O papilomavírus humano tem sido proposto como agente etiológico para um grande espectro de doenças do trato genital, entre elas a neoplasia escamosa vulvar (ANDERSEN et al., 1991; CRUM, 1992). Como no carcinoma cervical (VILLA, 1997; PINTO; TÚLIO, 2002), o HPV é fortemente associado com um subgrupo de carcinoma vulvar e presumidamente atua por meio do desenvolvimento de uma lesão precursora, a NIV. Neoplasias intra-epiteliais do tipo clássico e carcinomas invasores com padrões de crescimento que se assemelham à doença intra-epitelial (carcinomas intra-epitelióides ou verrucóides / basalóides) resultam positivas para HPV em torno de 80% dos casos testados por PCR (DI PAOLO et al., 1989). Em contraste, tumores compostos por epitélio escamoso queratinizante bem diferenciado (carcinomas 26 queratinizantes), ou associados a hiperplasias vulvares, líquen escleroso ou atipias (NIV diferenciado), resultam positivos apenas em 13,3% a 16,4% dos casos (ANDERSEN et al., 1991; TOKI et al., 1991; PINTO et al., 1999a). A maior parte dos estudos concorda que o tipo 16 é o mais freqüentemente encontrado, seguido de longe pelos tipos 33 e 18 (BUSCENA et al., 1988; HORDING et al., 1993; HAEFNER et al., 1995; PINTO et al., 1999a). O HPV 16 é o protótipo do HPV de alto risco em neoplasia vulvar, ocorrendo em aproximadamente 80% dos tumores HPV positivos. O ciclo de vida do HPV está intimamente associado com o programa de diferenciação da célula epitelial hospedeira (TAICHMAN; LAPORTA, 1987). O papilomavírus humano infecta as células escamosas. Uma vez nas células, a expressão do vírus é firmemente controlada e a replicação inicia-se em função da maturação epitelial. Este processo é associado com a expressão de genes estruturais tardios e a produção de capsídeos virais e/ou proteínas tardias (L1 e L2), na superfície epitelial. O fato de as células superficiais serem submetidas à diferenciação impede a transformação neoplásica. Além disso, as influências regulatórias de certas unidades de tradução do HPV (E1 e E2), no contexto do ciclo viral normal, podem impedir a expressão de seqüências críticas para a transformação neoplásica nas células em replicação (Figura 2). Papilomavírus associados a câncer, como o HPV 16, tipicamente não progridem de maneira regular em direção ao processo de maturação viral, acumulando-se no epitélio infectado. Aceita-se que a expressão desregulada de oncogenes virais, especificamente E6 e E7, ocorra na população celular em replicação (células parabasais) e altere irreversivelmente suas características de crescimento (MUNGER et al., 1989) (Figura 2). De maneira semelhante ‘as oncoproteínas de outros vírus de DNA, como o adenovírus e o vírus símio 40, as proteínas E6 e E7 do HPV interagem com proteínas reguladoras do ciclo celular, como a p53 e a proteína do retinoblastoma (pRb) (DYSON et al., 1989; WERNESS; LEVINE; HOWLEY, 1990). Além disso, indução de defeitos mitóticos e instabilidade genômica também ocorrem como conseqüências da ação destes dois genes, que induzem (E7) e potencializam (E6) distúrbios mitóticos relacionados à duplicação anormal de centrossomas (DUENSING et al., 2000). 27 FIGURA 2 Esquema demonstrando os principais elementos virais envolvidos no processo de oncogênese: a expressão dos oncogenes E6 e E7 e a integração do genoma viral, o qual rompe o controle regulatório de elementos de E1 e E2 sobre a transcrição. Fonte: (INCA, 2003). Em algum momento na patogênese do carcinoma, geralmente no ponto de transição entre a doença intra-epitelial e a invasiva, o vírus é covalentemente ligado ao DNA cromossômico. Diferente da integração do DNA viral no genoma do hospedeiro, aparentemente randômica (POPESCU; DIPAOLO, 1989; COUTURIER et al., 1991; SMITH et al., 1992), a integração do genoma viral no DNA da célula carcinomatosa hospedeira ocorre sempre entre E1 e E2, resultando na perda ou alteração de E2, enquanto outras regiões do genoma viral permanecem intactas (BAKER et al., 1987; SHIRASAWA et al., 1988). O produto do gene E2 é uma proteína ligante de DNA, exercendo papel indireto na transformação, por meio da regulação da transcrição do promotor de E6 / E7 dos HPV 16 e 18 (THIERRY; YANIF, 1987; BERNARD et al., 1989; ROMANCZUCK; THIERRY; HOWLEY, 1990). Deste modo, a integração e a perda da função de E2 resultam na produção excessiva das proteínas E6 e E7 (VOUSDEN; WREDE; CROOK, 1991); E1, por sua vez, tem atividade helicase, a qual influencia positivamente a replicação de DNA. Conseqüentemente, a perda funcional de ambos os genes pode contribuir, direta ou indiretamente, para a perda da função viral normal e desenvolvimento de imortalização da célula hospedeira (ALANI; MUNGER, 1998). 28 Fatores do Hospedeiro A maior parte dos carcinomas vulvares (cerca de 70%) não parece estar relacionada ao HPV (HORDING et al., 1994; PINTO et al., 1999a). Este grupo de tumores apresenta e é precedido por alterações genéticas específicas verificadas por estudos de clonalidade e perda alélica, entre outros que serão discutidos a seguir. Gene Supressor de Tumor p53 Estudos genéticos moleculares têm associado mutações em p53 a tumores HPV negativos. Três artigos correlacionaram cuidadosamente mutação em p53 e a presença de HPV em tumores vulvares. Lee et al. (1994), Milde-Langosch et al. (1995) e Kim et al. (1996) encontraram uma forte correlação entre mutações em p53 e cânceres vulvares HPV negativos. Tumores vulvares HPV positivos, a exemplo de seus pares na cérvice, raramente apresentam mutações. Estudos imunoistoquímicos não têm obtido sucesso em discriminar tumores HPV negativos, devido ao fato de a expressão aumentada da proteína p53 poder refletir outros fenômenos além de mutação genética (WALTS; KOEFFLER; SAID, 1993; KAGIE et al., 1997a). Apesar deste fato, um estudo recente demonstrou que alterações neste gene parecem estar envolvidas no desenvolvimento de NIV diferenciado e que a imunoistoquímica para a proteína p53 pode ser útil no diagnóstico diferencial desta entidade (YANG; HART, 2000). Esses achados são minuciosamente mais detalhados em relatos descritivos mais à frente. Gene Supressor de Tumor PTEN Um candidato a gene supressor de tumor designado PTEN localizado no cromossoma 10q23.3 tem sido demonstrado em cerca de 40% dos carcinomas endometriais, bem como em hiperplasias de endométrio (YOKOYAMA et al., 2000; SUN et al., 2001). Recentemente, um estudo demonstrou que este mesmo gene encontra-se transformado em carcinomas vulvares e NIV, podendo estar relacionado também com a patogênese do carcinoma vulvar (HOLWAY et al., 2000). 29 Estudos de Perda Alélica (Perda de Heterozigosidade – LOH) e Instabilidade Genética em Mucosa / Pele Adjacente ao Tumor Um estudo de Worsham et al. (1991), baseado em citogenética, demonstrou uma alta freqüência de anormalidades no cariótipo de células derivadas de carcinoma escamoso vulvar. Um outro estudo determinou, recentemente, as freqüências de perda alélica em carcinomas escamosos invasores vulvares HPV positivo e negativo, por meio de PCR, com marcadores de regiões micro-satélites (PINTO et al., 1999b). Estudos de Clonalidade de Lesões Precursoras HPV Positivas e Negativas A ocorrência de mutações no epitélio vulvar, no decorrer do processo de envelhecimento, é a melhor explicação para o aumento significativo da incidência de câncer vulvar após os 75 anos de idade (KRAIN, 1973; CRAMER; CUTLER, 1974; SILVERBERG, 1980). Um método para determinação de clonalidade, baseado na inativação (metilação) do gene receptor de androgênio, situado no cromossomo X, foi desenvolvido recentemente para caracterizar este epitélio (VOLGELSTEIN et al., 1985; ALLEN et al., 1992). Monoclonalidade tem sido considerada sinônimo de neoplasia escamosa, e tem sido demonstrada em neoplasia intra-epitelial cervical (NIC) em estudos recentes (PARK; FUJIWARA; WRIGHT, 1995). No caso do epitélio vulvar, as questões que têm sido sugeridas referem-se à possibilidade de NIV, líquen escleroso e hiperplasia epitelial serem monoclonais. Neoplasias intra-epiteliais vulvares do tipo clássico (CNIV) têm se apresentado, quase na sua totalidade, monoclonais (TATE et al., 1997), principalmente nos graus mais avançados (NIV III) (WADA et al., 2000). Em contrapartida, num estudo de hiperplasias vulvares e líquen escleroso associados a carcinomas invasores, aproximadamente metade das hiperplasias e o líquen escleroso foram monoclonais (TATE et al., 1997). Em outro estudo, hiperplasias vulvares adjacentes a quatro carcinomas vulvares HPV negativos mostraram-se policlonais, e não apresentaram mutações de p53 no estudo de Kim et al. (1996). Com base nesses estudos, pode-se afirmar que hiperplasias vulvares representam uma categoria heterogênea e podem ou não estar relacionadas com os carcinomas aos quais estão justapostas. A presença de monoclonalidade em líquen escleroso é discutível, e poucos estudos têm sido executados nestas lesões 30 com o objetivo de determinar se este achado é uma constante ou um fenômeno raro, ou, ainda, se é um marcador para progressão neoplásica. Pinto (2002), em seu artigo de revisão sobre a etiopatogenia do câncer de vulva, enfatizou a possibilidade de que alterações genéticas precoces influenciem ambos os caminhos da carcinogênese, abrindo um intrigante percurso para pesquisas futuras. 1.2.3 Tipos histopatológicos e patogênese Estudos baseados em dados epidemiológicos, clínicos, histopatológicos e moleculares indicam a existência de duas categorias de carcinomas escamosos vulvares: uma relacionada ao papilomavírus humano (HPV) e a outra não (CRUM, 1992; OKON; BASTA; STACHURA, 1998; CANAVAN; COHEN, 2002). A primeira categoria de carcinomas escamosos vulvares relaciona-se à doença sexualmente transmissível, oncogênica, causada pelo HPV. Devido ao agente etiológico viral comum, esta classe de tumores vulvares está freqüentemente associada a carcinomas escamosos genitais de outros sítios, principalmente o cervical. Estes tumores aparecem prevalentemente em mulheres com idade inferior a 65 anos, associados a lesões multicêntricas, freqüentemente coexistindo ou sendo precedidos por neoplasia intra-epitelial vulvar, conhecida como NIV. Em 70% dos casos, a NIV está presente no epitélio adjacente à neoplasia, sendo o líquen escleroso detectado com uma freqüência de 6 a 25% (ZAINO et al., 1982; HACKER et al., 1984). Há evidências de que dois tipos histológicos distintos de carcinomas escamosos, denominados preferencialmente neste verrucóides grupo de e carcinomas basalóides, vulvares enquadram-se (KURMAN; TOKI; SCHIFFMAN, 1993). As neoplasias intra-epiteliais vulvares são caracterizadas por distúrbios de estratificação celular e por anormalidades de diferenciação celular (BUCKLEY; BUTLER; FOX, 1984; RIDLEY; BUCKLEY; FOX, 1995). A NIV pode-se desenvolver em um epitélio previamente normal, hiperplásico, em lesão condilomatosa ou em pele com sinais de líquen escleroso (LAVERY; PINKERTON; MIDDLETON, 1984; 31 BUCKLEY, 1992). De acordo com a severidade da atipia, a NIV pode ser graduada em I (leve), II (moderada) e III (acentuada). Clinicamente, tais lesões aparecem como placas brancas ou pigmentadas na vulva. O risco de progressão de uma NIV III a um carcinoma, particularmente em pacientes jovens com lesões verrucosas, está em torno de 2 a 4% (RIDLEY; BUCKLEY; FOX, 1995; FIORICA et al., 1988), havendo relatos que referem até 10% (HEROD et al., 1996; JUNGLE et al., 1997). O risco de progressão aumenta em pacientes mais idosas (JONES; MCCLEAN, 1986), em pacientes imunocomprometidas (PENN, 1986), em NIV verrucosa multifocal e em NIV basalóide com baixa ploidia (FU et al., 1981), podendo também haver recorrência tumoral em pele enxertada de reparos de defeitos cirúrgicos (COX; KAUFMAN; KAPLAN, 1986). A segunda categoria de carcinomas escamosos vulvares, por sua vez, é de etiologia desconhecida, não estando relacionada com o HPV. Esta classe de tumores prevalece em mulheres com mais de 65 anos, sendo três a quatro vezes mais freqüente que a primeira (HORDING et al., 1994). O aspecto histológico observado é geralmente o de carcinoma escamoso clássico, queratinizante. Alguns relatos demonstram, ainda, associação destes tumores com doenças inflamatórias idiopáticas vulvares, que incluem a hiperplasia epitelial e o líquen escleroso (MITCHELL et al., 1993). 1.2.4 Estadiamento tumoral Uma vez diagnosticado o câncer de vulva, vários testes serão realizados a fim de identificar se este se estendeu da vulva para outras partes do corpo, sendo tal procedimento denominado estadiamento tumoral. É baseado no conhecimento do estádio da doença que se planeja o tratamento. Segue o Quadro 1 com o estadiamento tumoral. 32 QUADRO 1 Estadiamento do Câncer de Vulva T – Tumor Primário TX O tumor primário não pode ser avaliado T0 Não há evidência de tumor primário Tis Carcinoma in situ (carcinoma pré-invasivo) T1 Tumor limitado à vulva, ou à vulva e períneo, com 2 cm ou menos em sua maior dimensão T1a Tumor confinado à vulva, ou à vulva e períneo, com 2 cm ou menos em sua maior dimensão e com invasão estromal não maior do que 1 mm* T1b Tumor confinado à vulva, ou à vulva e períneo, com 2 cm ou menos em sua maior dimensão e com invasão estromal maior do que 1 mm. T2 Tumor confinado à vulva, ou à vulva e períneo, com mais de 2 cm em sua maior dimensão T3 Tumor que invade qualquer das seguintes estruturas: uretra inferior, vagina, ânus T4 Tumor que invade qualquer das seguintes estruturas: mucosa vesical, mucosa retal, mucosa uretral superior; ou tumor fixo ao osso púbico Nota: * A profundidade da invasão é definida como a medida do tumor, da junção epitélio-estroma da papila dérmica adjacente mais superficial até o ponto mais profundo da invasão. N- Linfonodos Regionais NX Os linfonodos regionais não podem ser avaliados N0 Ausência de metástase em linfonodos regionais N1 Metástase em linfonodo regional unilateral N2 Metástase em linfonodo regional bilateral M - Metástase à Distância MX A presença de metástase à distância não pode ser avaliada M0 Ausência de metástase à distância M1 Metástase à distância (incluindo metástase em linfonodo pélvico) 33 1.3 Fatores prognósticos Dentre os fatores prognósticos de relevância para o câncer de vulva, destacam-se o estadiamento patológico, o grau histológico, o número de linfonodos envolvidos, a invasão do espaço linfovascular e o diâmetro do tumor. 1.3.1 Marcadores prognósticos Nas últimas décadas, a imunoistoquímica tem revolucionado a prática da anatomia patológica. Além do inestimável auxílio ao diagnóstico de diferentes tipos de neoplasias, vem permitindo a identificação de diferentes tipos de marcadores (enzimas, receptores, produtos de genes, entre outros) relacionados ao comportamento biológico das neoplasias (SCHMITT et al., 1992). O desenvolvimento de um marcador prognóstico possibilita a capacidade de, no momento do diagnóstico ou cirurgia da neoplasia, fornecer informações a respeito da sua evolução clínica. Para tal, esse marcador deve estar relacionado a determinadas características biológicas envolvidas na transformação celular neoplásica, no crescimento tumoral ou no processo da cascata metastática. Esse mesmo marcador também poderá ser considerado como preditivo, quando fornecer informações úteis na seleção de pacientes suscetíveis a determinada terapêutica específica. O protótipo do marcador preditivo são os receptores hormonais que medeiam a resposta à terapêutica hormonal adjuvante. Receptores Hormonais A produção de anticorpos monoclonais contra receptores de estrógeno (GREENE et al., 1980) e progesterona (PRESS; GREENE, 1988) tem possibilitado uma nova abordagem histoquímica para localização de RE e RP em tecidos normais e neoplásicos, como mama (HELIN et al., 1988), endométrio (GARCIA et al., 1988; LESSEY et al., 1988) e ovário (IWAI et al., 1990). 34 Hormônios ligandes de RE e RP expressam seus efeitos nos núcleos das células. A marcação imunoistoquímica nuclear de ambas as proteínas receptoras pode ser demonstrada no ácino mamário normal, que usualmente serve de controle positivo nos procedimentos-teste. A coloração nuclear no tecido mamário normal é heterogênea e varia conforme o ciclo menstrual (JACQUEMIER et al., 1990). A presença de positividade neoplásica no carcinoma de mama é indicativa de menor risco de recorrência e maior sobrevida geral (CLARK; MCGUIRE, 1988) e a quantificação de RE tem-se tornado procedimento “standard” no seguimento clínico desses carcinomas. O status do receptor também informa a respeito da eficiência da resposta ao tratamento com uso de anti-estrogênicos, antes representando um fator preditivo a essa resposta, havendo correlação com o curso clínico dos carcinomas de mama (WITLIFF, 1984; HARVEY et al., 1999). Um dos efeitos do estrógeno é induzir o RP e depois coordenar a expressão de ambos os hormônios na mesma célula, refletindo assim a fidelidade do eixo RE / RP. Em carcinomas de mama, a maioria dos tumores RP positivo é também RE positivo, e apenas 10% dos tumores RP positivo são RE negativo. Pacientes com RP positivo têm uma sobrevida livre de doença significativamente maior que aqueles RP negativo (LESSER et al., 1981; CROWE et al., 1982; CLARK et al., 1983; BRDAR et al., 1988; CLARK; MCGUIRE, 1988; REINER et al., 1988; JACQUEMIER et al., 1990; GASTAGNETTA et al., 1992; PICHON et al., 1992). Verifica-se ainda que apenas cerca da metade dos pacientes RE positivo respondem a várias terapêuticas hormonais seguidas e, daqueles que inicialmente respondiam, muitos eventualmente desenvolverão doença não responsiva a terapia hormonal após certo período do uso da droga, mesmo que RE ainda esteja presente. Sluyser e Mester (1985) supõem que a perda da dependência hormonal de alguns tumores de mama pode estar associada à presença de receptores esteróides mutados ou truncados, que ativam a via mesmo na ausência do hormônio. Bioquimicamente, RP tem sido demonstrado em “up-regulation” pelo estrógeno e em “down-regulation” pela progesterona no tecido endometrial (KATZENELLENBOGEN, 1980). Imunoistoquimicamente, tanto RE como RP estão expressos nas células glandulares endometriais na fase folicular, mas sua expressão decai na fase lútea (GARCIA et al., 1988; LESSEY et al., 1988). Considerando-se as células estromais endometriais, a expressão de receptores sexuais no estroma difere 35 da expressão glandular. RP é expresso não somente na fase folicular do ciclo menstrual, mas também na fase lútea, embora a expressão de RE nas células estromais decaia nesta fase (GARCIA et al., 1988; LESSEY et al., 1988). Células estromais decidualizadas também exibem uma forte expressão de RP, acompanhados pela expressão de Ki-67 (observação não publicada, citada por Kinoshi et al., 1991). Em adição, RP é expresso nas células musculares lisas do miométrio (LESSEY et al., 1988) e nas células estromais do colo uterino durante todo o ciclo menstrual. A estimulação excessiva de estrógeno sem oposição da progesterona predispõem fortemente ao desenvolvimento de câncer do endométrio, devido aos efeitos anti-proliferativos da progesterona recrutando o receptor de progesterona (DEVIVO et al., 2002). O colo uterino é um tecido alvo bem conhecido dos esteróides ovarianos, desde que o tecido cervical normal contém proteínas ligandes específicas com elevada afinidade para RE e RP (SANBORN; KUO; HELD, 1978; CAO et al., 1983). O desenvolvimento e a maturação do epitélio escamoso cervical tem sido sugerido estarem sob o controle da regulação dos esteróides sexuais via seus receptores (SANBORN; KUO; HELD, 1978; FERENCZY; WINKLER, 1987). No entanto, a relação entre a expressão de receptores e os sinetes de proliferação do epitélio escamoso cervical durante o ciclo menstrual e gravidez ainda está por ser esclarecida. Estudos têm demonstrado o status hormonal da cérvice normal no período pré e pós-menopausa. Em mulheres pré-menopausa demonstrou-se expressão forte de RE nas células basais e ausência de RP durante todo o ciclo. Nas células parabasais, fase folicular, houve expressão de RE e ausência de RP; na fase lútea e gestação, viu-se diminuição de RE e presença de RP. As células da camada intermediária obtiveram RE positivo fraco / RP negativo e ausência de expressão para RE e RP nas células superficiais, durante todo o ciclo. Na pós-menopausa viuse RE positivo / RP negativo, e ainda células na zona de transição foram positivas para RE durante todo o ciclo e durante a gravidez e RP negativo na fase folicular, e RP positivo fraco na fase lútea e gravidez. O estroma e musculatura lisa do colo foram RE positivo / RP positivo durante todo o ciclo (LESSEY et al., 1988; KINOSHI et al., 1991). O autor definiu ainda que o perfil RE positivo / RP negativo indicaria 36 células em repouso no ciclo celular, uma vez que não exibem expressão de Ki-67; e o perfil RE negativo / RP positivo indicariam células em ciclo de atividade, uma vez que houve aumento significativo dos níveis de Ki-67 (KINOSHI et al., 1991). Kinoshi et al. (1991) demonstraram que a maioria das células neoplásicas das neoplasias intra-epiteliais cervicais (NIC) e carcinomas invasores da cérvice perdiam sua expressão de RE e que isso deveria estar relacionado à infecção pelo HPV-DNA tipo-dependente. Nas lesões condilomatosas da cérvice, o perfil hormonal demonstrado foi de RE positivo fraco, RP positivo forte e expressão de Ki-67 nas três camadas da cérvice. As neoplasias intraepiteliais cervicais (NIC) expressaram RE negativo, RP positivo e Ki-67 positivo nas três camadas e os carcinomas invasores não demonstraram perfil diferente desse. Em relação à detecção e tipificação do HPV nesse estudo, demonstrou-se que a expressão de RE era fortemente suprimida nas lesões neoplásicas, mostrando HPV-DNA tipos 16 / 18, e fracamente suprimida naqueles com HPV-DNA tipo 31 / 33 / 35. Contudo, a função de RP nas lesões neoplásicas da cérvice permanece obscura. Carcinomas escamosos da cérvice não são marcantemente influenciados por esteróides (HOFFMAN; SIITERI, 1980). No entanto, condilomas genitais conhecidamente aumentam de volume durante a gravidez, mostrando regressão espontânea após o delivramento (WOODRUFF; PETERSON, 1958). Contraceptivos esteróides têm sido relacionados ao aumento do risco de progressão da displasia cervical (STERN et al., 1977). Alguns tipos de HPV-DNA têm-se relacionado a um papel importante na carcinogênese cervical (ZUR HAUSEN, 1990). Condilomas genitais benignos usualmente mostram HPV-DNA tipos 6/11, enquanto a maioria dos NIC ou carcinomas invasores exibem HPV-DNA tipos 16 / 18 (ZUR HAUSEN, 1987). Algumas lesões malignas têm demonstrado HPV-DNA tipos 31 / 33 / 35 ou outros subtipos (LORINEZ et al., 1986; BEAUDENON et al., 1986). Pater, Bayatpour e Pater (1990) reportaram a transformação de células em cultura por HPV-DNA tipo 16, ocorrendo na presença de progesterona ou progestágenos de contraceptivos orais, podendo ainda a progesterona influenciar o curso natural de condilomas genitais e NIC (KINOSHI et al., 1991). Poucos estudos vêm pesquisando a associação de receptores hormonais com o exame de lesões vulvares, na tentativa de interpretar os mecanismos de ação dos esteróides na vulva, identificando possíveis correlações entre o quadro 37 histológico e a ordem receptorial, no intuito de descobrir prováveis “marcadores preditivos” que auxiliem na terapêutica e prognóstico das pacientes. 1.4 Bases moleculares do câncer Segundo a hipótese genética do câncer, um tumor maligno resultaria da expansão clonal de uma simples célula progenitora que sofreu danos genéticos provocando mutações. Essas mutações poderiam ocorrer por ação de agentes ambientais, substâncias químicas, radiações, vírus ou até serem hereditárias (COTRAN; KUMAR; ROBBINS, 1994). Evidências epidemiológicas, experimentais e moleculares indicam a necessidade de uma seqüência de eventos para a transformação maligna (PARK; FUJIWARA; WRIGHT, 1995; DARNTON et al., 1998). Uma vez gerada a neoplasia, essa adquire gradativamente atributos próprios de malignidade, um fenômeno conhecido como progressão tumoral, que em nível molecular caracteriza-se por acúmulo de lesões genéticas (COTRAN; KUMAR; ROBBINS, 1994). Dentre esses atributos, estão o crescimento excessivo, a invasão local e a capacidade de dar metástases à distância. Os principais alvos dos danos genéticos ocorrem ao nível de (1) protooncogenes, genes que promovem o crescimento e a diferenciação das células normais e que, quando mutados são chamados de oncogenes; (2) genes supressores tumorais, que freiam a proliferação celular. Sua função é regular o crescimento da célula, e não, impedir a formação de tumores, sendo seu nome erroneamente empregado, porém esse nome persiste até os dias atuais como supressor tumoral ou anti-oncogene; (3) uma terceira categoria de genes seria a dos que controlam a morte celular programada ou apoptose (COTRAN; KUMAR; ROBBINS, 1994). Dentre todos esses genes que regulam o ciclo celular, mencionaremos apenas ao gene supressor tumoral p53, que correlaciona-se com esta pesquisa. 38 1.4.1 Gene p53 O gene p53 foi identificado pela primeira vez em 1979 como oncogene, em virtude da sua associação com o “Simian virus” (Sv 40) de macaco e por sua alta semelhança química com os indutores de tumor (HUIBREGTSE et al., 1994; TENDLER et al., 1995; VELCULESCU; EL-DEIRY, 1996). O gene p53 está localizado no braço curto do cromossomo 17, na região17p133, sendo composto de 11 éxons, que codificam 393 aminoácidos, formando a proteína p53, assim nomeada pelo seu peso molecular (POLLANEN et al., 1993; WALTS et al., 1993; MITTAL et al., 1995; BREMER et al., 1995). Trata-se de uma fosfoproteína nuclear com funções na parada do ciclo celular, morte programada das células (apoptose), inibição do crescimento tumoral e preservação da estabilidade genética, sendo mais conhecida como vigilante da integridade do genoma (WALTS et al., 1993; BENITEZ, 1997; POLLANEN et al., 1993). Essas funções podem ser executadas através de vários caminhos bioquímicos, incluindo ativação de transcrição, supressão transcricional e inibição da replicação do DNA (VELCULESCU; EL-DEIRY, 1996). É encontrada em pequenas quantidades no interior da maioria das células normais, sendo a meia vida do tipo selvagem “Wild type” extremamente curta, em média de 20 minutos (KASTAN; ONYEL, 1991; LAMBKIN; MOTHERSILL; KELLEHAN, 1994), tornando o nível da proteína baixo para ser identificado por imunoistoquímica, embora ceratinócitos humanos ainda possam demonstrar intensa coloração para proteína p53 (RANKI et al., 1995). A forma mutante tem vida longa e esta estabilidade permite ser facilmente detectada pelos métodos usuais (HOLM et al., 1993; BUSBY-EARLE et al., 1994; RAJU; TEH; WEE, 1996; KAGIE et al., 1997a; CASTREN et al., 1998). A função da fosfoproteína p53 controlando a progressão do ciclo celular na transcrição de G1 – S tem se tornado cada vez mais clara (GALL, 1995; VELCULESCU; EL-DEIRY, 1996; CASTREN et al., 1998). Células que carregam o gene p53 são capazes de retardar a entrada na fase S do ciclo celular, depois de injúria no DNA, enquanto aquelas sem p53 ou com p53 mutante podem entrar na fase S antes do reparo do DNA. Desta maneira, as mutações do p53, podem permitir 39 que rearranjos ou amplificações gênicas possam ocorrer (BREMER et al., 1995; GALL, 1995). A propriedade do p53 na manutenção da integridade do genoma não é detectada na célula normal, tendo, por este motivo, sido descrita inicialmente como oncogene quando descoberta. Acidente genético que danifica o DNA por agentes mutagênicos, sejam químicos, físicos ou biológicos, estimula a expressão de p53, que fica acumulada no núcleo da célula, ligando-se ao DNA lesado, impedindo, assim, o início da mitose, paralisando o ciclo celular em G1, que só será autorizado após a correção do DNA (MATSUMURA et al., 1996; GOMPEL; KOSS, 1997). Se o reparo falhar, a p53 leva a célula à morte celular programada, fenômeno descrito como apoptose. Quando acumulada, p53 ativa a transcrição de certos genes celulares como mdm2, gadd45 e p21 (VELCULESCU; EL-DEIRY, 1996). A proteína mdm2 serve como controle de “feedback”, por ligar-se ao p53 e regular sua atividade. Foi observada em sarcomas através de sua amplificação e ligação com a p53 e conseqüente perda funcional da p53 (VELCULESCU et al., 1993). A gadd45 interage com PCNA e parece funcionar no reparo do DNA. A progressão do ciclo celular é regulada por cinases dependentes de ciclinas (CDKs), sendo ativadas por ciclinas e inativadas por inibidores de CDKs como a p21 (VELCULESCU; EL-DEIRY, 1996; GUO; BALUDA; PARK, 1997; FERREIRA, 1999). A proteína p21 é um inibidor universal da quinase dependente de ciclina e se apresenta em complexos quaternários (CDK : p21 : PCNA). Através da prevenção da fosforilação da proteína Rb pelas CDKs, esta proteína pára a célula na fase G1, provavelmente para permitir o reparo do DNA, antes da entrada na fase S. Em adição, a proteína p21 também interage diretamente com o PCNA, inibindo a síntese progressiva da replicação do DNA e favorecendo a síntese do reparo (CHOW; BROKER apud BARRADON; GREEN, 1987). 40 A outra opção para a eliminação das células com o genoma gravemente danificado é o disparo do fenômeno da apoptose induzido pela expressão de bax, através de mecanismos ainda desconhecidos (FERREIRA, 1999). Quando esses mecanismos não funcionam, as células com p53 mutado ou inativado perdem a capacidade de induzir o bloqueio em G1 ou de desencadear a apoptose em resposta ao dano do DNA. A instabilidade genética e as mutações decorrentes destes danos apóiam a tumorigênese, seja por ativação de oncogenes ou inativação de genes supressores tumorais que podem acumular e eventualmente levar ao câncer (WIELAND; PFISTER, 1999). Outra via utilizada pela p53 é a transcrição e a expressão de p21, que é um inibidor do ciclo celular. A p21 se liga a vários complexos de CDKs, em diferentes fases do ciclo celular (G1, S ou M), inibindo a atividade destas quinases. Na fase G1, p21 se liga ao complexo ciclina E / CDK2. Assim, este complexo ciclina / CDK, necessário à progressão do ciclo celular, inibido por p21, pára o ciclo (VELCULESCU; EL-DEIRY, 1996). p53 e Câncer O gene supressor de tumor p53 é um alvo freqüente para alterações estruturais em um grande número de tumores humanos. A proteína p53 tem sido mostrada como um regulador negativo do crescimento celular e um inibidor da transformação celular (LUKÁS et al., 1995). Dentre as alterações genéticas encontradas em diversos tipos de câncer humano, a mais comum é a mutação do p53 (HOLM et al., 1993; KESSIS et al., 1993; YANDELL; THOR, 1993; BUSBY-EARLE, 1994; MINCIONE et al., 1994; BREMER et al., 1995; LAM et al., 1995; MILDE-LANGOSCH et al., 1995; MITTAL et al., 1995; MIWA et al., 1995; VELCULESCU; EL-DEIRY, 1996). Segundo Velculescu e El-Deiry (1996), um estudo compilado de todo o mundo demonstrou que a mutação do p53 foi observada em cerca de 37% de todas as neoplasias, variando de 7 -85%, depedendo do sítio anatômico. A perda da proteína p53 normal permite que as células expostas a agentes mutagênicos repliquem seu DNA lesado, e as mutações ficam fixas no genoma 41 (KASTAN; ONYE, 1991; POLLANEN et al., 1993). Uma só mutação não é suficiente para a transformação das células, mas, com a p53 inativa, existe predisposição para mutações adicionais que podem levar à malignização (COTRAN; KURMAN; ROBBINS, 1994). A inativação da p53 pode ocorrer basicamente por dois mecanismos (CHENG et al., 1995; CHOW; BROKER apud BARRADON; GREEN, 1987): Mutações que são geralmente “missenses” (aleatórias) (VOGELSTEIN; KINGERL, 1992). Ligação com proteínas de vários vírus DNA como o Sv40, adenovírus ou HPV, que inativam a p53 (POLLANEN et al., 1993; HOPE-SEYLER; BUTZ, 1995; PARK et al., 1995). No câncer de vulva, ocorrem os dois tipos de mecanismo de inativação da p53, como veremos adiante (LEE et al., 1994; HIETANEN et al., 1995; KIM et al., 1996). 1.4.2 MIB1 A proliferação celular observada pelo aumento da atividade mitótica é uma das principais características do crescimento tumoral. Os tumores crescem e invadem, sem impunidade, ignorando os mecanismos que mantêm a integridade do tecido normal (KAMB, 1995). Todas as células, quer tumorais ou normais, executam uma ordenada série de passos denominada ciclo celular, este sub-dividido, por convenção, em quatro fases: fase G1, fase durante a qual as células se preparam para sintetizar DNA; fase S, período de síntese de DNA; fase G2, período quando preparações são feitas para divisão celular; e fase M, fase mitótica propriamente dita (KAMB, 1995). Para se obter uma estimativa das taxas de crescimento neoplásico, é necessária a identificação do índice de proliferação celular, o qual, durante muito tempo, foi avaliado apenas pela contagem do número de figuras de mitose, que, como vimos, representa apenas uma das fases do complexo ciclo celular. Outros 42 métodos foram então desenvolvidos, com esta finalidade (RABENHORST; BURINI; SCHIMITT, 1994). Para se identificarem às células em proliferação, algumas proteínas relacionadas com a fase replicativa têm sido utilizadas como marcadores e detectadas através de anticorpos monoclonais. Um dos mais utilizados é o marcador Ki-67. Foi assim designado por ter sido produzido na Universidade de Kiel (Alemanha), tendo sido o clone produtor detectado na 67ª placa de cultura de tecido. Sabe-se que corresponde ao produto de uma seqüência gênica do cromossoma 10, que codifica uma proteína de vida curta não histônica de massa molecular aparente de 345-395 Kda. O antígeno é expresso durante todo o ciclo celular, exceto na fase G1 precoce e G0. A sua expressão aumenta na segunda metade da fase S, alcançando o máximo em G2 e M (RABENHORST; BURINI; SCHIMITT, 1993, 1994; SCHIMIDT; FERREIRA, 1995; BULTEN et al., 1996). Anticorpos monoclonais Ki-67 só podem ser usados em materiais a fresco ou congelados, limitando sua aplicação e, principalmente, impossibilitando estudos retrospectivos (OKA; ARAI, 1996; RABENHORST; BURINI; SCHIMITT, 1993). Um anticorpo monoclonal murino, equivalente ao Ki-67, foi gerado e pode detectar atividade proliferativa em tecidos processados rotineiramente. MIB1, anticorpo monoclonal, reconhece o epítopo equivalente ao Ki-67 e funciona em tecidos fixados em formalina e embebidos em parafina, após recuperação antigênica tecidual em microondas (OKA; NAKANO; ARAI, 1995; BULTEN et al., 1996; MCCLUGGAGE et al., 1996; AVALL-LUMDQVIST et al., 1997; MCCLUGGAGE; MAXWELL; BHARUCHA, 1998). MIB1 tem demonstrado ser um anticorpo promissor para a marcação de neoplasias intraepiteliais em diversos graus e de lesões não neoplásicas displásicas, tipo NIC / NIV. 1.5 Importância do estudo O câncer de vulva, embora entidade rara, envolve problemas sérios de tratamento devido à extensão cirúrgica e conseqüente mutilação. Antes de invadir o 43 estroma, transpondo a membrana basal, o carcinoma da vulva permanece confinado ao epitélio. Nessa fase de pré-invasão, o diagnóstico tem extraordinária importância, visto que as células neoplásicas ainda não têm penetrado na corrente linfática ou sanguínea. Por se tratar, portanto, de neoplasmas circunscritos, pode ser curado através de intervenções cirúrgicas relativamente simples, embora acarrete problemas sérios para o tratamento, uma vez que — apesar de sua localização externa e visível — os casos são surpreendidos, em sua maioria, apenas tardiamente. Isso se deve a vários fatores, dentre eles o constrangimento da paciente e a falta de familiaridade e relutância por parte do examinador de considerar os sintomas e avaliar o caso (COLEMAN; SANTOSO, 2000). O estudo dos receptores hormonais de estrógeno e de progesterona visa buscar subsídios para a interpretação dos mecanismos de ação dos esteróides ovarianos na vulva, na tentativa de identificar marcadores prognósticos e preditivos que possam auxiliar no tratamento dessa entidade tão agressiva, embora infreqüente, a modelo do que ocorre na mama e endométrio. Observa-se, ainda, a existência de poucos estudos que correlacionem alterações na proteína p53 e MIB1 em relação ao potencial evolutivo nas lesões intraepiteliais da vulva. Hoje, as relações do HPV com tais lesões têm sido estudadas a ponto de serem descritas as predileções de tipos por sede e a sua aptidão específica para desenvolverem ora lesões de baixo potencial agressivo (tipos 6 e 11), ora de alto risco (tipos 16, 18, 31, 33, 35), que, por vezes, se associam. Com o objetivo de melhor conhecer a evolução das lesões vulvares, analisaremos a expressão imunoistoquímica da proteína p53 nas neoplasias invasivas da vulva, lesões de alto e baixo grau e papilomas. Estudaremos também a atividade proliferativa destas lesões, através da análise imunoistoquímica do MIB1. 44 OBJETIVOS 45 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Identificar fatores envolvidos na gênese e na progressão das neoplasias escamosas intraepiteliais e invasoras da vulva, assim como possíveis marcadores preditivos, prognósticos ou terapêuticos que auxiliem no tratamento cirúrgico e clínico complementar. 2.2 Objetivos específicos Avaliar, por imunoistoquímica, a presença de receptores hormonais de estrógeno e de progesterona no epitélio e no estroma de vulvas acometidas por lesões escamosas de baixo e alto grau e invasoras, e se há correlação com progressão tumoral. Avaliar, por imunoistoquímica, a expressão da proteína p53 e do índice de proliferação celular, mediante o MIB1, em lesões vulvares escamosas invasoras e in situ, de alto e baixo grau, e se há correlação com progressão tumoral. Todos esses dados serão analisados levando em consideração a idade das pacientes. 46 METODOLOGIA 47 3 METODOLOGIA 3.1 Casuística Casos oriundos dos Arquivos do Serviço de Anatomia Patológica da Universidade Federal do Ceará (UFC), do Instituto de Prevenção do Câncer do Ceará (IPCC) e do Laboratório de Patologia Dr. Hamilton Monteiro (LHM), totalizando quarenta e cinco (45) amostras de pacientes da capital do estado do Ceará, Fortaleza e outras cidades do interior, que foram biopsiadas ou submetidas a cirurgia devido a lesões vulvares de interesse para estudo. A amostragem consiste de 11 lesões intra-epiteliais escamosas de baixo grau ou papiloma vulvar, 12 lesões intra-epiteliais escamosas de alto grau e 22 carcinomas espidermóides, totalizando 45 casos. O material selecionado consistiu de amostragens em blocos de parafina, de material previamente fixado em formalina 10%, com espessura do fragmento suficiente para retirada de pelo menos 10 cortes, a fim de serem usados para realização de coloração de H&E e reação imunoistoquímica com anticorpos, os demais armazenados como reservas. 3.2 Análise histopatológica A leitura das lâminas coradas pelo H&E foi realizada em microscópio óptico comum – NIKON, com revisão feita por 2 (dois) patologistas, separadamente, e em concordância de dados. Para análise dos resultados, os casos foram divididos em três grupos: Lesões Intra-Epiteliais Escamosas de Baixo Grau (Grupo 1), Lesões Intra-Epiteliais Escamosas de Alto Grau (Grupo 2) e Carcinomas Epidermóides (Grupo 3). 48 3.3 Técnica de imunoistoquímica A expressão das proteínas de RE, RP, p53 e MIB1 foi obtida através da técnica de imunoistoquímica, utilizando-se o método da Streptavidina-Biotina (SABC), realizada no Laboratório de Patologia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Cortes teciduais, realizados em micrótomo rotativo com 4µm de espessura, foram estendidos sobre lâminas de vidro, previamente lavadas em álcool absoluto, secas e mergulhadas por dois minutos em solução de 3-aminopropyltriethoxy-silano (Sigma Chemical CO., St Louis, MO/USA) a 10% em álcool absoluto. Seguiu-se a desparafinização em dois banhos de xilol. Os cortes foram reidratados em série descendente de etanóis, a partir de três passagens em etanol absoluto, seguidas por etanol 95%, 85% e 80%, durante 5 minutos cada. Em seguida, os cortes foram imersos em solução de hidróxido de amônio a 10% durante 10 minutos, para a retirada do pigmento formólico. Então, procedeu-se à lavagem em água corrente e água destilada e as lâminas seguiram para os tratamentos de recuperação antigênica. Procedeu-se ao tratamento de recuperação antigênica com tampão citrato a 10mM, pH 6.0 por 30 minutos em forno de microondas, por duas etapas de 10 minutos cada. Seguiu-se o bloqueio da peroxidase endógena por 2 ciclos de 5 minutos cada, com metanol contendo 0,03% de peróxido de hidrogênio e incubação over-night com o anticorpo primário, Receptores de Estrógeno e de Progesterona, Proteína p53 e MIB1, separadamente em cada caso. As lavagens entre as etapas foram realizadas com solução tamponada de Tris-HCl (TRIS-Hydroximetil- Aminometano/Ácido clorídrico; SIGMA CHEMICAL CO., St. Louis, MO, USA) 0,05M, pH 7,4. O soro secundário utilizado foi o polivalente, anticabra, anticoelho e anticamundongo, e o soro terciário foi a streptavidina-biotina com peroxidase conjugada. Essas soluções são pré-fabricadas e requerem incubação em temperatura ambiente por 30 minutos (Kit LSAB+, DAKO CORPORATION, Carpinteria, CA, USA, No K0690). A revelação da reação foi realizada através de solução cromógena, contendo 0,03% de 3-3’-diaminobenzidina (3,3’,4,4’-tetraaminobiphenyl- 49 tetrahydrochloride, SIGMA CHEMICAL CO., St. Louis, MO, USA) em tampão Tris-HCl 0,05M, pH 7,4 e adicionando peróxido de hidrogênio a 0,3%. Após a revelação, foram realizadas a contra-coloração das lâminas com hematoxilina de Meyer, a desidratação em cadeia de concentrações ascendentes de etanóis (etanol 50% a etanol absoluto), diafanização em xilol e montagem em bálsamo Canadá. Para cada tipo de anticorpo, foi utilizado um controle positivo (tecido sabidamente positivo), e o controle negativo foi realizado pela abolição do anticorpo primário desses casos. QUADRO 2 Demonstrativos dos anticorpos e seus clones Anticorpos Origem Receptor de Estrógeno Dako, clone 1D5 Receptor de Progesterona Dako, clone Pgr636 Proteína p53 Dako, clone DO7 MIB1 Dako, clone KiS5 3.4 Análise imunoistoquímica 3.4.1 Análise semiquantitativa da expressão dos receptores de estrógeno e de progesterona Análise semiquantitativa da expressão para RE e RP foi realizada em microscópio óptico comum – Nikon, com ocular de 10x e objetiva de 40x. A marcação foi classificada em escores de 0 a 12, conforme o grau de intensidade (1 = leve; 2 = moderada; 3 = forte) multiplicado pela dispersão (1 = ocasional; 2 = até 1/3; 3 = até 2/3; 4 = mais de 2/3), avaliando-se epitélio e estroma, considerando-se apenas o padrão de marcação nuclear. 50 3.4.2 Análise semiquantitativa da expressão de p53 A análise semiquantitativa da expressão para p53 foi realizada em microscópio óptico comum – Nikon, com ocular de 10x e objetiva de 40x. A classificação foi dada em positivo, para expressão de p53, e negativo, para ausência de marcação. Houve ainda sub-classificação por intensidade de coloração (1 a 3) e pela dispersão focal (1) ou difusa (2 e 3), com a obtenção de escores de 0 a 9. A análise foi procedida em 10 campos aleatórios do epitélio da lesão, considerando-se apenas a marcação nuclear. 3.4.3 Análise semiquantitativa da expressão do MIB1 Análise semiquantitativa da expressão para MIB1, foi realizada em microscópio óptico comum – Nikon, com ocular de 10x e objetiva de 40x, observando-se núcleos corados pela reação, em 10 campos de grande aumento, ao nível epitelial, com contagem percentual de núcleos marcados. Também foram estabelecidos escores de marcação conforme a intensidade da reação (1 a 3) e pela dispersão, se focal (1) ou difusa (2 e 3) com a obtenção de escores de 0 a 9. 3.5 Análise estatística A análise estatística foi realizada da forma descritiva, utilizando-se dados seqüenciais, o teste exato de Fisher e o EPI 6, OMS para a avaliação de independência dos resultados e grau de probabilidade. Tomou-se 5% como nível mínimo de significância, ou seja, sempre que p menor ou igual a 0,05, foi considerado significativo do ponto de vista estatístico. Foram utilizadas as seguintes variáveis de estudo: 51 Grupo 1 – Lesões Intra-epiteliais Escamosas de Baixo Grau (LIEBG, NIV I, Papilomas ou Condilomas). Grupo 2 – Lesões Intra-epiteliais Escamosas de Alto Grau (LIEAG, NIV II e III, Carcinoma in situ). Grupo 3 – Carcinomas Epidermóides Invasores. Os escores atribuídos demonstraram a expressão imunoistoquímica dos marcadores em estudo em relação ao percentual de células positivas aos antígenos pesquisados, a saber: RE (0 a 12), RP (0 a 12), p53 (0 a 9) e MIB1 (0 a 9). Os dados referentes aos registros dos casos, idade de acometimento das lesões, diagnósticos por quadros e avaliação da expressão de receptores de estrógeno e progesterona no epitélio e estroma por escores de marcação podem ser avaliados nos quadros de 3 a 5 (apêndices A, B e C), conforme esquema a seguir. Os quadros com resultados da avaliação da expressão de p53 e MIB1 por escores de marcação e percentuais no caso do MIB1 estão identificados sob a numeração de 6 a 8 (apêndices D, E e F). 52 RESULTADOS 53 4 RESULTADOS 4.1 Avaliação da incidência das lesões em relação à idade As lesões de baixo grau (LIEBG) ocorreram dos 18 aos 58 anos, com média de idade aos 32,63 anos e mediana aos 32 anos. As lesões de alto grau (LIEAG) ocorreram dos 18 aos 59 anos, com média de idade aos 40,91 anos e mediana aos 42 anos. Os carcinomas incidiram dos 34 aos 76 anos de idade, com média aos 58,59 anos e mediana aos 60,5 anos. A análise dos resultados permite a verificação da tendência ao aumento da idade com o agravamento do tipo de lesão, dados destacados na ilustração do gráfico 5, onde se vê a diferença altamente significativa das idades entre os grupos, conforme esperado diante do que se conhece sobre a história natural da progressão das lesões escamosas, em faixas etárias e nos intervalos (de 10 a 15 anos) comparáveis aos da literatura; como se verifica na diferença entre médias e medianas dos grupos. A tabela 5 expressa os dados relacionados às médias, medianas e índice de significância estatística (p) das idades em relação aos tipos de lesões e tendência da distribuição etária. TABELA 5 Distribuição Etária: Média, Mediana e valores de p para correlação de médias. GRUPOS MÉDIAS (anos) MEDIANAS (anos) p LIEBG x LIEAG 32,63 e 40,91 32 e 42 0,12 LIEBG x CEC 32,63 e 58,59 32 e 60,5 0,00 LIEAG x CEC 40,91 e 58,59 42 e 60,5 0,00 54 GRÁFICO 5 Distribuição Etária LIEBG 8 LIEAG CEC 7 Nº de casos 6 5 4 3 2 1 0 Ate 20 anos 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 71-80 Faixa etária 4.2 Expressão imunoistoquímica do receptor de estrógeno A positividade do Receptor de Estrógeno no epitélio foi verificada em 11 (24,44%) dos 45 casos analisados, sendo 01/11 (9,09%) LIEBG, 03/12 (25,00%) LIEAG e 07/22 (31,81%) carcinomas epidermóides; todos os outros casos foram negativos (75,55%). Em relação à positividade do estroma, verificou-se marcação nuclear em 25 (55,55%) dos 45 casos analisados, sendo 02/11(18,18%) LIEBG, 09/12 (75,00%) LIEAG e 14/22 (63,63%) carcinomas epidermóides; todos os outros casos foram negativos (20 casos / 44,45%) (Tabela 6 e Gráfico 6). TABELA 6 Dados referentes ao tipo de lesão e à porcentagem da expressão imunoistoquímica do receptor de estrógeno (RE) no epitélio e estroma de lesões vulvares. Estrógeno – RE + Tipo da Lesão N° de casos Epitélio Estroma LIEBG 11 01 (9,09%) 02 (18,18%) LIEAG 12 03 (25,00%) 09 (75,00%) CEC 22 07 (31,81%) 14 (63,63%) Total 45 11 (24,44%) 25 (55,55%) 55 GRÁFICO 6 Análise comparativa da expressão de receptores de estrógeno (RE) no epitélio e estroma entre os grupos de lesões vulvares. 100 % 80 60 ESTROMA EPITÉLIO 40 20 0 LIEBG LIEAG CEC Quanto à expressão dos receptores de estrógeno (RE) no epitélio dos tecidos vulvares, vê-se que a expressão de RE nas lesões de baixo grau (LIEBG) é menor do que nas lesões de alto grau (LIEAG) e carcinoma invasor (CEC) (Gráfico 6). Entretanto, por análise estatística não foi possível estabelecer uma associação significativa entre a expressão de RE no epitélio e essas diferentes lesões (p>0,05) (Tabela 7). TABELA 7 Comparação da expressão do epitélio para receptores de estrógeno (RE) entre os grupos de lesões vulvares. GRUPOS RE + RE - p LIEBG X LIEAG 01/03 10/09 0,3 LIEBG X CEC 01/07 10/15 0,1 LIEAG X CEC 03/07 09/15 0,4 56 A análise estatística comparativa das lesões de baixo e alto grau (LIEBG X LIEAG) e lesões de baixo grau e carcinoma (LIEBG x CEC) quanto à expressão do estroma de lesões vulvares foi estatisticamente satisfatória, com p=0,02 e p=0,03, respectivamente, ambos com p≤0,05. No entanto, ao considerar-se lesões de alto grau e carcinomas (LIEAG X CEC), a diferença de expressão foi insignificante do ponto de vista estatístico (p=0,4), conforme avaliado na tabela 8. TABELA 8 Comparação da expressão do estroma para receptores de estrógeno (RE) entre os grupos de lesões vulvares. GRUPOS RE + RE p LIEBG X LIEAG 02/09 09/03 0,02 LIEBG X CEC 02/14 09/08 0,03 LIEAG X CEC 09/14 03/08 0,4 Houve ainda uma subdivisão pontual na interpretação da positividade de receptores esteróides ao nível do epitélio e estroma de lesões vulvares, conforme estabelecimento de corte em escore baixo, nos casos com resultado de escores de 01 a 06 e escore alto, com resultado de escores de 07 a 12, conforme demonstrado na Tabela 9. TABELA 9 Expressão do epitélio e estroma para receptor de estrógeno (RE), conforme subdivisão pontual em escores: escore baixo (01 a 06) e escore alto (07 a 12) nos grupos de lesões vulvares. Grupos EPITÉLIO ESTROMA ALTO BAIXO ALTO BAIXO LIEBG 0 01 00 02 LIEAG 0 03 01 08 CEC 0 07 03 11 Total 00 (0,00%) 11(100,00%) 04 (16,00%) 21(84,00%) 57 Verificou-se uma predominância quase absoluta de escores baixos em todos os casos avaliados, como é demonstrado na tabela 9, onde os casos com positividade epitelial para RE (11-100%) demonstraram escores entre 01-06, sendo 01 LIEBG, 03 LIEAG e 07 CEC. A marcação do estroma foi semelhante em 84% dos casos (21/25), apresentando escores alto em apenas 04 (16%) deles com pontuação entre 07-12 (Tabela 9). 4.3 Expressão imunoistoquímica do receptor de progesterona Verificamos a positividade do epitélio para Receptor de Progesterona em 18 (40%) dos 45 casos analisados, sendo 04/11 (36,36%) LIEBG, 05/12 (41,67%) LIEAG e 09/22 (40,90%) carcinomas epidermóides; todos os outros casos foram negativos (27 casos / 60,00%). Em relação à positividade do estroma, verificou-se marcação nuclear em 24 (53,33%) dos 45 casos analisados, sendo 05/11(45,45%) LIEBG, 08/12 (66,67%) LIEAG e 11/22 (50,00%) carcinomas epidermóides; todos os outros casos foram negativos (21 casos / 46,67%) (tabela 10 e gráfico 7). TABELA 10 Dados referentes ao tipo de lesão e à porcentagem da expressão imunoistoquímica do receptor de progesterona no epitélio e estroma de lesões vulvares. Tipo da Lesão Nº de casos Progesterona Epitélio Estroma LIEBG 11 04 (36,36%) 05 (45,45%) LIEAG 12 05 (41,67%) 08 (66,67%) CEC 22 09 (40,90%) 11 (50,00%) Total 45 18 (40,00%) 24 (53,33%) 58 GRÁFICO 7 Análise comparativa da expressão de receptores de progesterona (RP) no epitélio e estroma entre os grupos de lesões vulvares. 100 % 80 60 ESTROMA EPITÉLIO 40 20 0 LIEBG LIEAG CEC Quanto à expressão dos receptores de progesterona (RP) no epitélio dos tecidos vulvares em análise, observou-se que a expressão de RP nas lesões de baixo grau (LIEBG) é menor do que nas lesões de alto grau (LIEAG) e carcinoma invasor (CEC). Entretanto, por análise estatística não se foi possível estabelecer uma associação significativa entre a expressão de RP no epitélio e essas diferentes lesões (p > 0,05) (tabela 11). TABELA 11 Comparação da expressão do epitélio para receptores de progesterona (RP) entre os grupos de lesões vulvares. Grupos RP + RP - p LIEBG x LIEAG 4/11 7/11 1,0 LIEBG x CEC 5/12 7/12 1,0 LIEAG x CEC 9/22 13/22 1,0 59 A análise estatística comparativa (Tabela 12) das lesões de baixo e alto grau (LIEBG X LIEAG), das lesões de baixo grau e carcinoma (LIEBG x CEC), assim como das lesões de alto grau e carcinomas (LIEAG x CEC), quanto à marcação do estroma, também não foi estatisticamente significativa, com p sempre acima de 0,05. TABELA 12 Comparação da expressão de receptores de progesterona (RP) no estroma entre os grupos de lesões vulvares. GRUPOS RP + RP - p LIEBG X LIEAG 05/11 06/11 0,4 LIEBG X CEC 08/12 04/12 0,9 LIEAG X CEC 11/22 11/22 1,0 Conforme a subdivisão pontual para interpretação da positividade de receptores esteróides ao nível do epitélio e estroma de lesões vulvares, foi estabelecido corte em escore baixo e escore alto, onde se verificou também uma predominância de escores baixos, com evidência de escores baixos em 15 dos 18 casos positivos para RP ao nível epitelial, totalizando 83,33% dos casos. A marcação do estroma não demonstrou particularidades, havendo escore baixo em 87,50% dos casos, ou seja, em 21 dos 24 casos avaliados, entre eles lesões de baixo e alto grau e carcinomas (tabela 13). 60 TABELA 13 Expressão do epitélio e estroma para receptores de progesterona (RP), conforme subdivisão pontual em escores: escore baixo (01 a 06) e escore alto (07 a 12) nos grupos de lesões vulvares. GRUPOS EPITÉLIO ESTROMA ALTO BAIXO ALTO BAIXO LIEBG 01 03 02 03 LIEAG 00 05 00 08 CEC 02 07 01 10 Total 03 (16,66%) 03(12,50%) 21(87,5%) 15 (83,33%) É nítido o predomínio de casos RP negativos em todos os grupos. Também, evidencia-se a predominância de escores baixos nos três grupos de lesões, com ausência de escores altos nas LIEAG, com retomada conspícua nos CEC. Esses dados não obtiveram, contudo, relevância estatística. Vale ainda ressaltar a marcação citoplasmática freqüente em ceratinócitos, especialmente com RP, em lesões escamosas in situ e invasoras ceratinizantes, devendo esses achados serem mais bem avaliados em pesquisas futuras, dada sua provável importância no curso de resposta à terapêutica anti-hormonal em pacientes com ausência de marcação nuclear para receptores hormonais de estrógeno e progesterona, como segue atualmente a linha de pesquisa em mama. 4.4 Expressão da proteína p53 A detecção imunoistoquímica da proteína p53 mostrou-se localizada no núcleo das células escamosas. A coloração teve variação na intensidade e na distribuição ao longo do epitélio. No grupo 01 das LIEBG da vulva, houve expressão em 07 dos 11 casos, correspondendo a 63,63%, todos com marcação para escore baixo (01–05), com fraca intensidade de marcação. No grupo 02 das LIEAG da vulva, a marcação ocorreu em 08 dos 12 casos com percentual de 66,66% e distribuição de escores em 75,00% para baixo (06 casos) e 25,00% para escore alto, em que apenas 61 02 casos foram fortemente positivos para p53. No grupo 03 dos CEC, a distribuição foi de 68,18% de marcação para p53, correspondendo a 15 dos 22 casos, com 07 casos com escore baixo (46,66%) e 08 deles com marcação forte nuclear (53,33%) (tabelas 14 e 15). TABELA 14 Dados referentes ao tipo de lesão e à porcentagem da expressão imunoistoquímica da proteína p53 entre grupos de lesões vulvares. Tipo da Lesão p 53 Nº de casos Positivo Negativo LIEBG 11 07 (63,63%) 04 (36,36%) LIEAG 12 08 (66,66%) 04 (33,33%) CEC 22 15 (68,18%) 07 (31,81%) Total 45 30 (66,66%) 15 (33,33%) TABELA 15 Avaliação da expressão da proteína p53, conforme pontuação em escores de marcação em alto (06 a 09) e baixo (01 a 05), entre grupos de lesões vulvares. Tipo da Lesão p 53 + Alto Baixo LIEBG 00(0,00%) 07(63,63%) LIEAG 02(25,00%) 06(75,00%) CEC 08(53,33%) 07(46,66%) Total 10 20 A expressão de p53 é maior nos carcinomas invasores (CEC), seguido das lesões de alto grau (LIEAG), do que nas lesões de baixo grau (LIEBG), com percentual de 68,18%, 66,66% e 63,63%, respectivamente (tabela 14). No que se refere à pontuação em escores, percebe-se uma predominância de escores altos nos 62 casos de carcinomas invasores (CEC), onde dos dez casos com escore alto, oito (80,00%) são carcinomas e dois (20,00%) LIEAG. Quanto à análise estatística, verifica-se que há nítido predomínio dos casos positivos nos CEC e LIEAG sobre as lesões de baixo grau, havendo significância estatística a correlação das lesões de baixo grau em relação às LIEAG e carcinomas, conforme valores de p na tabela 16. TABELA 16 Expressão da proteína p53: comparação entre os grupos de lesões vulvares. Avaliação por nº de casos positivos e negativos. Teste exato de Fisher. Valores de p Grupos p53+/p53 - p LIEBG x LIEAG 0/7 x 8/4 0,01 LIEBG x CEC 0/7 x 15/7 0,00 LIEAG x CEC 8/4 x 15/7 1,00 É significativo o predomínio dos escores altos nos CEC em relação às lesões de baixo grau (p=0,02), conforme valores de p na tabela 17. As demais correlações não foram estatisticamente significativas. TABELA 17 Ocorrência de positividade da expressão de p53, pelos escores altos (06 a 09) e baixos (01 a 05): comparação entre os grupos de lesões vulvares. Grupos p53 Alto/ Baixo- p LIEBG x LIEAG 00/07 x 02/06 0,4 LIEBG x CEC 00/07 x 08/07 0,02 LIEAG x CEC 02/06 x 08/07 0,3 63 4.5 Índice de proliferação celular - MIB1 (Ki-67) A detecção imunoistoquímica do MIB1 foi exclusivamente nuclear. A coloração teve variação na intensidade e na distribuição ao longo do epitélio. As médias percentuais de marcação nuclear foram de 19,09% para as LIEBG, 40,67% para as LIEAG e 51,09% para os carcinomas (CEC), com desvio padrão de 12,18; 25,84 e 18,03, respectivamente. Aqui se pode observar uma tendência ao maior índice de proliferação celular à medida do agravamento do tipo de lesão, havendo significância estatística a relação entre as lesões de baixo grau com carcinoma e lesões de alto grau (tabela 18). TABELA 18 Médias Percentuais de MIB1 por Grupos de Lesão. Valores de p (EPI6OMS). Média % p Grupos MIB1 LIEBG x LIEAG 19,09 x 40,67 0,03 LIEBG x CEC 19,09 x 51,09 0,00 LIEAG x CEC 40,67 x 51,09 0,34 No grupo 01, das LIEBG da vulva, houve predominância da expressão de escores baixos, assim sendo em sete dos onze casos, correspondendo a 63,64%. No grupo 02, das LIEAG da vulva, houve predominância da marcação de escores altos em 75,00% dos casos (09/12). No grupo 03, dos CEC, a distribuição foi de 50,00% de marcação para escores alto / baixo (tabela 19). 64 TABELA 19 Dados referentes ao tipo de lesão e à porcentagem da expressão imunoistoquímica de MIB1 entre grupos de lesões vulvares. Tipo da Lesão Nº de casos MIB1 Baixo Alto LIEBG 11 07 (63,64%) 04 (36,36%) LIEAG 12 03 (25,00%) 09 (75,00%) CEC 22 11 (50,00%) 11 (50,00%) TOTAL 45 21 (46,67%) 24 (53,33%) A observação da variável de escores alto e baixo reflete a tendência da maior predominância de escores altos nas lesões mais graves (LIEAG e CEC) em relação às lesões de baixo grau, onde predomina a marcação de fraca intensidade e com dispersão focal. As diferenças são significativas; trata-se de uma tendência sem alcançar níveis plenos de significância (tabela 20). TABELA 20 Ocorrência de positividade da expressão de MIB1, pelos escores altos (06 a 09) e baixos (01 a 05): comparação entre os grupos de lesões vulvares. Grupos MIB1 Alto/ Baixo P LIEBG x LIEAG 04/07 x 09/03 0,06 LIEBG x CEC 04/07 x 11/11 0,4 LIEAG x CEC 09/03 x 11/11 0,6 Observa-se ainda que não há correlação entre os escores altos e baixos de MIB1 e p53 em qualquer dos grupos. Mostram-se, assim, variáveis independentes entre si (tabela 21). 65 TABELA 21 Expressão de p53 e de MIB1, nos grupos de lesões invasoras (CEC), de alto (LIEAG) e de baixo (LIEBG) grau da vulva. Relação entre os escores alto (06 a 09) e baixos (01 a 05) de MIB1 da expressão de p53. Grupos Proliferação Celular p53 alto p53 baixo CEC MIB1 alto baixo 04 04 02 05 LIEAG MIB1 alto baixo 01 01 06 00 LIEBG MIB1 alto baixo 00 00 02 05 66 DISCUSSÃO 67 5 DISCUSSÃO 5.1 Idade A média de idade das 22 pacientes com carcinoma vulvar foi 58,59 anos (mínima de 34 e máxima de 76 anos). Observa-se que difere das médias de outros trabalhos, como os de Balloukk et al. (1993), com média de 69,8 anos; Dolan et al. (1993), 69,9 anos; Hording et al. (1994), 70 anos; Drew et al. (1996), 68 anos; Kagie et al. (1997b), 68 anos e McConnell et al. (1997), 72 anos. Destaca-se em nosso trabalho uma tendência ao aparecimento desse tipo de lesão em pacientes cada vez mais jovens, podendo ser devido a fatores locais como promiscuidade, baixo nível sócio-econômico, hábito de fumar, entre outros. Dados bastante similares em relação ao nosso estudo, foram observados no Brasil por Souen e Pinotti (1992), com média aos 59,5 anos. Hoje, está bastante clara a participação do HPV na precocidade das lesões em pacientes mais jovens, de forma semelhante ao que acontece no colo uterino; nas pacientes mais idosas, a maior influência diz respeito às alterações próprias do envelhecimento e de suas perdas hormonais (lesões distróficas-atróficas), sendo assim mais uma vez reforçado que a origem do carcinoma vulvar segue pelo menos essas duas vias patogenéticas (CRUM, 1992). O grupo das LIEAG apresentou uma média de idade de 40,91 anos (mínima aos 18 e máxima aos 51 anos), significativamente mais baixa que a do grupo dos carcinomas (p= 0,00), o que é de se esperar, levando-se em consideração a evolução das lesões intra-epiteliais, mais estudadas no colo uterino (LLADO, 1971). Na vulva, poucos trabalhos relatam essa tendência de progressão, como o fez Kohlberger et al. (1998), em que encontraram uma média de 44,2 anos nos 28 casos de NIV III estudados, em concordância com dados de nosso estudo. As LIEBG tiveram média de 32,63 anos, assim denotando claramente o intervalo médio de 10 a 15 anos entre os grupos de lesões, como referido na literatura (LLADO, 1971). 68 5.2 Receptores de estrógeno e de progesterona Desde 1982, Onnis e colaboradores vêm pesquisando a associação de receptores hormonais com o exame histológico das lesões vulvares, na tentativa de interpretar os mecanismos de ação dos esteróides na vulva, identificando possíveis correlações entre o quadro histológico e a ordem receptorial, no intuito de descobrir prováveis “marcadores preditivos” que auxiliem na terapêutica e prognóstico das pacientes. Ele analisou a presença de RE, RP e receptores de andrógeno em seis espécimes de tecido vulvar normal e nove espécimes de tecido vulvar carcinomatoso, não sendo uma constante suas presenças, nem seus níveis variáveis. Assim, demonstrou já aqui, que nenhum dos três receptores avaliados poderia ser considerado como marcador preditivo ou prognóstico no seguimento das neoplasias vulvares (ONNIS et al., 1985). Dados semelhantes foram observados neste trabalho, no qual foi avaliada a expressão de RE e RP em 45 casos de lesões vulvares, dentre elas, 11 LIEBG, 12 LIEAG e 22 casos de CEC: como resultado foi vista uma tendência a menor expressão de RE e RP no epitélio e estroma das lesões de baixo grau em relação às lesões de alto grau e carcinomas, sendo esta observação estatisticamente insignificante, com p sempre maior que 0,05, não havendo, portanto, representatividade da ordem receptorial no tecido vulvar avaliado para ação de hormônios esteróides, tanto ao nível do epitélio como no estroma. Saarikoski et al. (1982) estudaram a presença de receptores esteróides em tecido normal e neoplásico do trato genital feminino. A amostragem consistiu em espécimes da cérvice uterina normal, endométrio, miométrio, tubas e corpo lúteo ovariano, contendo ainda amostras de tecido neoplásico do trato feminino. A metodologia empregada foi a medida de RE e RP nas amostras teciduais obtidas de mulheres férteis e na menopausa, com análise pela técnica “dextran-coated charcal”. Verificaram que não havia expressão de RE e RP no corpo lúteo, nem diferença de expressão entre mioma e miométrio normal, e que os níveis mais elevados de RE e RP no endométrio foram vistos nas amostragens de fases proliferativa tardia ou intermediária do ciclo menstrual. Os níveis de RP dos espécimes do miométrio pósmenopausa foram inferiores se comparados a amostras miometriais de mulheres em fase fértil, em contraste com os níveis de RE, dados esses concordantes com os observados por Lessey et al. (1988). Nos espécimes de carcinomas de vulva e 69 cérvice uterina, os níveis de RE foram muito baixos, sem valores mensuráveis para RP, aqui, novamente correlacionando-se com nossos resultados estatísticos, para os quais a expressão epitelial comparativa das LIEBG X LIEAG, LIEBG x CEC e LIEAG X CEC para RE e RP foram sem significado estatístico (tabelas 7 e 11). Nas amostras de carcinoma endometrial, a relação RP / RE foi mais baixa que no endométrio normal, havendo ainda detecção de RE em quatro de sete espécimes de adenocarcinoma do ovário e RP em dois dos sete casos. Becagli et al. (1983) estudaram a presença de receptores hormonais em doenças vulvares distróficas e neoplásicas, evidenciando padrões distintos nas formas hipertróficas e atróficas, com níveis consideravelmente mais altos de receptores de progesterona nas lesões hipertróficas não correlacionadas com receptores de estrógeno. O tecido neoplásico não demonstrou alteração em relação ao tecido normal ou às formas distróficas. Ford et al. (1983) estudaram a presença de RE e RP em tumores malignos da cérvice uterina, vulva e vagina, demonstrando que nenhum carcinoma epidermóide da vagina e vulva demonstrou atividade para os receptores pesquisados, podendo a terapia hormonal ser benéfica apenas nos casos de adenocarcinomas da cérvice. Zipple, Sander e Wurz (1985) estudaram a presença de receptores hormonais em tecidos vulvares normais, displásicos e carcinomatosos. A amostragem consistia de 63 exemplares analisados pelo método agar gel eletroforese, consistindo em 17 espécimes de tecido vulvar normal, 13 do período final da gestação, 07 distrofias, 11 lesões displásicas e 15 carcinomas epidermóides. Os resultados foram que os níveis de RE são maiores durante o período da pósmenopausa que na pré-menopausa, sem diferenças significativas entre lesões distróficas e o tecido normal. Verificaram perda de receptores, particularmente de RP, nas lesões pré-neoplásicas, nos carcinomas in situ e CEC. Nossos dados são discordantes com os achados do autor, pois que foi nítido em nosso estudo o predomínio de casos RP negativos em todos os grupos (LIEBG, LIEAG e CEC) e com manutenção da tendência a maior expressão tanto ao nível do epitélio quanto do estroma dessas lesões com o agravamento do tipo lesional, embora sem alcançar significado estatístico (Tabelas 11 e 12). Em contrapartida, Forcucci-Zulli et al. (1985) demonstraram que os carcinomas da vulva não apresentavam alterações 70 significativas nos níveis de receptores esteróides hormonais em relação ao tecido normal. Mosny, Brito e Bender (1990) realizaram estudo imunoistoquímico para investigação de RE em tecido normal e neoplásico escamoso da vulva, demonstrando que doenças vulvares de natureza atrófica podem ser tratadas com esteróides, mas o carcinoma da vulva não pode ser influenciado por qualquer terapia hormonal. Esse estudo consistiu de 71 amostras vulvares testadas para RE, com marcação fraca em 17 dos 22 espécimes de epitélio escamoso não queratinizante e marcação nas camadas basal e parabasal em apenas dois dos 17 espécimes de epitélio escamoso queratinizante. Nenhuma marcação foi evidenciada no tecido neoplásico vulvar ou estroma adjacente podendo a perda de RE nas células neoplásicas explicar o insucesso da terapêutica anti-hormonal nos carcinomas da vulva, evidenciados clinicamente. Correlação foi aqui demonstrada apenas parcialmente em nosso estudo, em que dos 45 casos avaliados para pesquisa de RE, apenas 01 de 11 (09,09%) casos de LIEBG, 03 de 12 (25,00%) das LIEAG e 07 de 22 (31,81%) dos casos de CEC obtiveram marcação do epitélio para RE, mas é nítido o incremento e a tendência ao aumento com a progressão da lesão, embora sem significado estatístico, havendo ainda predominância absoluta de escores baixos (tabelas 6 e 9). Nardelli (1988) demonstrou modificações no status de receptores hormonais vulvares (estrógeno, progesterona e testosterona) durante tratamento tópico com esteróides, enfatizando a utilidade da terapêutica local em lesões vulvares não neoplásicas. Grenman et al. (1990), demonstrou em seu trabalho “Caracterização Fenotípica, Análise Cariótipa e Sensibilidade ao Tamoxifen in vitro em Linhagens de Células de Carcinomas Vulvares RE-negativos, UM-SCV-1A e UM-SCV-1B”, retiradas do tumor primário e da efusão pleural maligna de uma paciente de 62 anos de idade, que, embora o tecido do tumor primário contivesse baixos níveis de atividade de RE, nenhuma atividade foi detectada nas linhagens celulares. Contudo, as duas linhagens foram sensíveis à inibição do crescimento por Tamoxifen. Esse efeito não era reversível ao uso de estradiol, indicando um mecanismo receptor de estrógeno-independente. MacLean, Nicol e Hodgins (1990) realizaram estudo imunoistoquímico para a localização de RE em vulva e vagina, utilizando material a fresco e a técnica 71 peroxidase-antiperoxidase. Amostragens de tecido vaginal pré e pós-menopausa, vulva e pele não-genital foram examinadas. RE foi detectado em alguns, mas não todos os núcleos das células das camadas basal e parabasal da vagina, sendo identificado nos fibroblastos e músculo liso do estroma subjacente. Na vulva e períneo, foram vistos nos ceratinócitos da epiderme e fibroblastos da derme, das áreas com e sem pêlos, mas em uma freqüência bem menor que na vagina. Marcação específica não foi identificada na maioria dos espécimes de pele extragenital. Em nosso estudo para caracterização da ordem receptorial hormonal esteróide das lesões displásicas e neoplásicas da vulva, verificou-se que o estroma dessas lesões exibia uma marcação geral média de 55,55% (25/45 casos) para RE e 53,33% (24/45 casos) para RP, com distribuição de 02/11 (18,18%) nas LIEBG, 09/12 (75,00%) nas LIEAG e 14/22 (63,63%) nos CEC e 05/11 (45,45%) nas LIEBG, 08/12 (66,67%) nas LIEAG e 11/22 (50,00%) nos CEC, respectivamente (tabelas 6 e 10). No entanto, quanto à análise estatística comparativa, apenas as relações das lesões de baixo grau e alto grau (LIEBG X LIEAG) e das lesões de baixo grau e carcinomas (LIEBG X CEC) quanto à expressão de RE no estroma foram estatisticamente significativas, com p≤0,05 (tabela 8); havendo, assim, uma tendência à maior expressão de RE e RP no estroma de lesões de baixo grau em relação às de alto grau e CEC, essa última sem relevância estatística. Sherman et al. (1994) estudaram os fatores hormonais no câncer de vulva, fazendo um estudo caso-controle, onde novamente — já subsidiado por resultados semelhantes de estudos anteriores, inclusive quantitativos, da pesquisa de RE em tecido vulvar — demonstraram que nem o carcinoma in situ nem o carcinoma invasor da vulva são tumores hormônio-dependentes. Um outro trabalho ainda caracterizou a distribuição de receptores esteróides na vulva e vagina (HODGINS et al., 1998), demonstrando RE nas células basais e parabasais do epitélio vaginal e epiderme do lábio menor, estando restrito a ceratinócitos basais em pele verdadeira. Foram identificados em fibroblastos do estroma e musculatura lisa da vagina e fibroblastos dérmicos da pele, sendo sua expressão (RE) sempre mais elevada no epitélio e estroma da vagina que na região supra-púbica. RP foi identificado no epitélio vaginal, fibroblastos e musculatura lisa da vagina, mas não na vulva. Não houve diferenças significantes nos níveis de RE e andrógeno (RA) na vulva em mulheres em pré e pós-menopausa, concluindo-se que 72 a transição da vagina para vulva é marcada por uma diminuição progressiva de RE e RP e aumento de RA. Schwartz (2000) verificou que a presença de RE em tecido vulvar, vaginal e ovariano não se traduz em terapia eficiente anti-neoplásica para tumor maligno originado nesses sítios. Já Zheng, Peng e Cao (2000) estudaram a relação entre distrofia vulvar, tumores malignos e receptores de estrógeno e progesterona em 31 casos de distrofia e 19 casos de carcinoma, usando o método “dextran-coated charcoal”, demonstrando que em lesões mistas de distrofia vulvar, a expressão de RE era maior do que em lesões tipo atróficas; que a expressão de RP era mais elevada também em lesões mistas do que nas do tipo hiperplásicas, estando a relação entre RE e RP nas distrofias vulvares e o tecido normal adjacente em correlação positiva. Os níveis de RP no carcinoma epidermóide da vulva diminuía à medida que o tumor se desdiferenciava, estando seus níveis bem mais abaixo que no tecido normal circunjacente, sugerindo, assim, que seu estudo proporcionara uma base teórica para a endocrinopatia das distrofias vulvares e que RP em tumores malignos poderia ser considerado um provável marcador preditivo / prognóstico, não estando esses últimos dados em correlação com estudos anteriores nem os nossos também. Portanto, o presente trabalho, em concordância com a maioria dos poucos trabalhos publicados sobre esse tema, demonstrou que o tecido vulvar displásico e neoplásico realmente não parece sofrer influências dos hormônios esteróides sexuais, não podendo se beneficiar de terapêutica hormonal anti-neoplásica. Vale salientar ainda que foi observada uma exuberante marcação citoplasmática nas células escamosas atípicas dos CEC da vulva em análise, com predominância nos subtipos mais bem diferenciados, queratinizantes, assim sendo aqueles provavelmente não induzidos por HPV. Esses resultados preliminares merecem consideração futura, uma vez que, em recente trabalho de dissertação de tese envolvendo pesquisa de receptores de estrógeno e progesterona em colo uterino, foi referido esse mesmo padrão de alteração nos carcinomas escamosos da cérvice (SILVA, 2004). Somado a isso, acrescente-se o papel em estudo dos carcinomas de mama com marcação nuclear negativa para RE e RP, porém com marcação ao nível citoplasmático para esses mesmos receptores, algumas vezes responderem a terapêutica anti-hormonal como se fossem positivos, estando em 73 cogitação a presença de uma proteína citoplasmática que seqüestra o estrógeno e a progesterona para o citoplasma, impedindo sua chegada ao núcleo. 5.3 PROTEÍNA p53 As pesquisas sobre o câncer de vulva são escassas quando comparadas aos estudos sobre o câncer do colo uterino. Os primeiros estudos utilizando imunocoloração da proteína p53 em epitélios da cérvice humana embebidas em parafina foram realizados por Bosari et al. (1993), utilizando o anticorpo monoclonal (Mab) PAB 1801 (Oncogene Science, Inc, Manhasset, NY) como uma comunicação prévia. Nessa pesquisa, relataram imunorreação para p53 em 74% dos carcinomas da cérvice uterina, o que estava de acordo com a freqüente ocorrência de imunorreatividade para p53, em um grande espectro de tumores malignos humanos. Berchuck et al. (1994) referiram-se à freqüente alteração do gene supressor tumoral p53 em cânceres ginecológicos, pois que a mutação do gene p53 está correlacionada com a superexpressão da proteína mutante p53, sendo considerado o evento mais importante na carcinogênese humana. Em adenocarcinomas do ovário e endométrio havia superexpressão de p53 em 10-15% nos estádios precoces e 40-50% nos estádios mais avançados, sendo essas mutações predominantemente de padrão transicional, o que sugeria que fossem mutações espontâneas, ao invés de provocadas por agentes carcinógenos. Alterações de p53 não pareciam ser uma característica das hiperplasias endometriais ou dos tumores ovarianos benignos ou boderline. Já aqui, ele afirmava que mutações de p53 raramente ocorriam em cérvice, vulva e vagina, e que havia sido demonstrado que a oncoproteína E6 do HPV ligava-se e inativava a p53. Hietanen et al. (1995) estudaram alterações no gene p53 em oito linhagens celulares de carcinoma vulvar. Eles usaram PCR, análise de pleomorfismo conformacional de dupla fita e seqüenciamento direto. Como conclusão, conseguiram correlação com dados já descritos na literatura, em que a perda do gene supressor Informação dada em palestra proferida pelo Prof. Dr. Fernando Schmitt (IPATIMUP, Porto-Potugal), no auditório da Prevenção do Câncer Ginecológico no ICC, referindo-se a projetos de pesquisa em andamento, ainda sem resultados publicados. Fortaleza, 2004. 74 p53, tanto por mutação quanto por envolvimento com infecção pelo HPV, era um fenômeno freqüente nos carcinomas da cérvice e sendo ainda muito mais expressivo na vulva, onde a relação HPV / tumor não é tão expressiva. Tendler et al. (1995), em seu estudo imunoistoquímico para detecção da expressão da proteína p53 em condilomas acuminados HPV-induzidos, demonstrou sua expressão na membrana basal de todos os casos — 22 lesões de 12 pacientes — à representatividade de quatro lesões em pênis, seis em vulva e duas em períneo. A HIS realizada por eles evidenciou HPV 06 / 11 em todos os casos, não havendo presença de HPV e / ou p53 em tecido são avaliado / controle. Cooper et al. (1993), em seu trabalho entitulado “Antígeno p53 em Condiloma Cervical, Neoplasia Intraepitelial e Carcinoma: Relação entre HPV e Integração”, já havia encontrado resultados semelhantes. O presente estudo descreve a presença da superexpressão da proteína p53 em lesões vulvares de baixo (LIEBG) e alto (LIEAG) grau e carcinomas invasores da vulva, totalizando 45 espécimes para avaliação. Nosso trabalho avaliou onze casos de LIEBG em vulva, representativas de lesões típicas, chamadas de condilomas ou papilomas escamosos, onde se evidenciou positividade para p53 em 07/11 casos, um percentual de 63,63%, todos com marcação para escores baixos e basicamente restritos à camada basal, raramente acometendo a camada parabasal (Tabela 14). Todos os casos continham alterações morfológicas sugestivas de infecção pelo HPV (dois a quatro sinetes citohistológicos característicos de infecção pelo HPV), não tendo sido realizado detecção viral por nenhum método específico. Assim, viu-se a correlação de nossos achados com outros já descritos na literatura, permitindo-nos compartilhar da sugestão pré-existente de que o HPV, agindo sobre esses epitélios e lhes causando dano celular, faz que a produção de p53 normal aumente; por conseguinte, ela se acumula no núcleo celular a ponto de ser detectada por imunoistoquímica, não se tratando aqui, portanto, de proteína mutada, a priori. Sabe-se que a proteína p53 pode acumular-se no núcleo das células que estão sendo agredidas por agentes que lesem o DNA, como as radiações, a quimioterapia, entre outros, e que o HPV, com sua proteína E7, também pode ser considerado como fator (COTRAN: KUMAN; ROBBINS, 1994; RANKILASSUS; 75 NIEMI, 1995; LIMA, 1999). Os HPV de baixo risco e sua proteína E6 não seriam capazes de abolir totalmente a função da proteína p53 (TENDLER et al., 1995). NIV III não é um uma condição freqüente e pouco se sabe sobre sua história natural, mas a maioria dos trabalhos tem demonstrado um baixo índice de progressão tumoral para doença invasiva, normalmente abaixo de 10% (HEROD et al. 1996; JUNGLE et al., 1997). Estudos sobre p53 e NIV são raros, muitos deles associados a carcinomas invasores e com resultados contraditórios. Alguns têm demonstrado que a expressão de p53 aumenta com o grau de severidade da lesão, sugerindo que a expressão de p53 está relacionada com a proliferação anormal de células. No entanto, mais pesquisas são necessárias para demonstrar a utilidade da proteína p53 como um provável marcador de progressão de lesões intra-epiteliais (YANG; HART, 2000; CARLSON et al., 2001). A infecção pelo HPV está relacionada à NIV III e ao acometimento de pacientes mais jovens com carcinoma invasor da vulva, variante basalóide, a qual associa-se freqüentemente à NIV III em tecido adjacente (ANDERSEN et al., 1991; ACOG TECHINICAL BULLETIN, 1994; COSTA et al., 1995; TRIMBLE et al., 1996; KAGIE et al., 1997a). Em nossa casuística, as LIEAG expressaram positividade em 08/12 casos, representando 66,66%, à semelhança do que ocorreu com os carcinomas (68,18%, 15/22 casos). Escores altos foram obtidos em 02/08 casos (25,00%), representando apenas 06,66% de todos os casos positivos para p53. Os carcinomas (CEC) obtiveram positividade em 15/22 casos, correspondendo a 68,18%, confirmando o que está divulgado na literatura através de vários trabalhos, como seguem os relatos. Escores altos foram observados em 08/15 casos positivos (53,33%), representando um total de 26,66% de todos os casos positivos para p53, havendo significado estatístico válido a predominância de casos positivos nos CEC em relação às LIEBG (p=0,002), assim como o predomínio dos escores altos nos carcinomas (p=0,02) (Tabela 16). O câncer de vulva, diferente do câncer cervical, acomete mulheres mais idosas. Possivelmente, resulta de mutações espontâneas no gene p53, pois se sabe que erros na síntese e reparo do DNA aumentam com o nível de proliferação. Irritações crônicas da vulva, como acontece nas distrofias e líquen escleroso e 76 atrófico, têm sido relacionadas com o câncer de vulva. Essas proliferações contínuas podem expor as células a uma mutação espontânea. A perda funcional da proteína p53 quer por mutação, quer por ligação à proteína E6 dos HPV de alto risco, está fortemente associada à gênese dos carcinomas de todo o trato genital (HIETANEN et al., 1995; LIMA, 1999). Em relação ao papel das alterações da proteína p53 na gênese da neoplasia epidermóide maligna vulvar, podemos supor que as alterações nesses casos são pré-existentes, encontradas na lesão antes da invasão, como seguem relatos da maioria dos estudos sobre o assunto. Su et al. (1995) encontraram expressão da p53 por imunoistoquímica em 52,90% dos carcinomas vulvares estudados. Eles correlacionaram esses achados com hiperplasia atípica (54,50%), líquen escleroso e atrófico (13,60%), distrofia mista (20,80%) e distrofia hiperplásica (14,70%), não observaram marcação no epitélio normal; concluindo, assim, a maior expressão de p53 mutada nos carcinomas de vulva e lesões pré-cancerosas que nos variados tipos de distrofia vulvar (p < 0,01). Kohlberger et al. (1995) estudaram o valor prognóstico da detecção da expressão imunoistoquímica da proteína p53 em carcinomas da vulva, não encontrando nenhuma correlação com o estádio clínico da doença ou grau histológico, estando, no entanto, relacionada a uma pior sobrevida geral (p < 0,05). Milde-Langosch et al. (1995) estudaram a presença e persistência da infecção pelo HPV e mutação da proteína p53 em cânceres da cérvice e vulva, definindo o caráter de persistência do HPV como um evento importante na evolução e manutenção do carcinoma cervical, enquanto nos carcinomas da vulva, a mutação do p53 e não a ação do HPV definiu-se como o evento oncogênico central. Kim et al. (1996), estudando 18 carcinomas vulvares, observaram a presença por PCR de DNA de HPV em 38,80% dos casos e, por seqüenciamento de DNA, mutações em 22,00% no gene p53, todas nos casos HPV negativos. A gênese de aproximadamente 2/3 dos carcinomas estudados estaria relacionada à inativação da proteína p53. O outro 1/3 teria sua gênese relacionada com mecanismos independentes de p53 ainda não conhecidos, demonstrando, mais uma vez, a heterogeneidade do câncer da vulva. 77 Kagie et al. (1997b) focaram seus estudos em carcinomas vulvares e em lesões adjacentes ao tumor, pré-neoplásicas e distróficas, usando a imunoistoquímica para detectar expressão da proteína p53. Encontraram 53,00% de positividade para p53 nos carcinomas, 27,00% no líquen escleroso, 14,00% nas hiperplasias escamosas,18,00% nas NIV I, 18,00% nas NIV II, 13,00% nas NIV III e 18,00% relacionados com infecção pelo HPV; não houve correlação entre expressão de p53 ou infecção pelo HPV, com o subtipo do tumor ou tempo livre de doença. Aproximadamente 57,00% dos carcinomas HPV (-) e 33,00% dos carcinomas HPV (+) continham superexpressão de p53, não sendo este um parâmetro útil com prognóstico. McConnel et al. (1997), em 115 carcinomas vulvares analisados por imunoistoquímica para expressão da proteína p53, encontraram 68,00% de positividade para p53. Marcação forte foi encontrada em 41,00% do total de casos avaliados e 61,00% dos casos positivos para p53, seguidos de positividade para p53 em 37,50% das NIV III (LIEAG) por eles estudados. Em relação aos nossos dados, houve aqui concordância, havendo imunomarcação em 15/22 casos, correspondendo a 68,18% dos casos de carcinoma, com marcação forte em 53,33% deles. Em relação às LIEAG, a marcação foi da ordem de 66,66%, com apenas 02/08 casos positivos (25,00%) com escore alto. Kohlberger et al. (1998) demonstrou a ausência de superexpressão de p53 em lesões pré-cancerosas da vulva e em carcinomas do tipo basalóide e verrucoso de pacientes jovens, demonstrando que nesses casos a expressão de p53 não é um fenômeno precoce na patogênese desses carcinomas, devendo o HPV contribuir para o desenvolvimento da NIV. Esses achados vão ao encontro dos previamente analisados em mulheres mais idosas, com carcinomas escamosos queratinizantes, em que a presença de p53 representava 50,00% das pacientes. No entanto, não se correlacionam integralmente com nossos achados, onde 63,63% das LIEBG relacionadas à infecção pelo HPV e 66,66% das LIEAG e 68,18% dos carcinomas continham positividade para p53. Scheistroen et al. (1999), em seu estudo, mais uma vez demonstraram que a superexpressão de p53 parece estar envolvida com a patogênese dos carcinomas epidermóides da vulva, estando significativamente associada ao tempo livre de 78 doença, e seu impacto no prognóstico é apenas observado em estádios mais avançados da doença. Hoffmann et al. (1999), em seu trabalho avaliando os valores de p53, plasminogênio-uroquinase, PAI-1 e Ki-67 em carcinomas de vulva, encontraram correlações significativas em relação ao diâmetro do tumor (p=0,029) e espessura tumoral (p=0,048), sem correlações significativas entre p53, parâmetros de graduação, ceratinização e índice Ki-67. Lima (1999) demonstrou expressão de p53 em 60% dos carcinomas vulvares estudados, 50,00% das LIEAG e 92,80% das LIEBG, sendo significativa a predominância de escores altos nos CEC (50,00%) e LIEAG (50,00%) em relação aos papilomas (00,00%). A presença de escores altos para p53 correlaciona-se com a gravidade da lesão. Sendo aqui o comportamento dos CEC semelhante ao das LIEAG, demonstra-se que provavelmente as alterações na proteína p53 em muitos carcinomas vulvares são eventos precoces, existentes na lesão, antes da invasão; nossos dados reforçam esses achados, nos quais se verificou, em resumo, presença de expressão de p53 em 68,18% dos CEC, 66,66% das LIEAG e 63,63% das LIEBG. Estatisticamente, verificou-se que houve nítido e significativo predomínio dos casos positivos nos CEC e LIEAG sobre as lesões de baixo grau (tabela 16). Em relação à preponderância de escores altos, verificou-se predominância nos carcinomas invasores em relação as LIEBG (tabela 17). Tais achados, embora não impliquem em mutação primária de p53 em todos os casos, estão de acordo com o que se conhece sobre o mecanismo de inibição dessa proteína pelas E6 e E7 dos HPV. Ferreira (1999), em seu estudo sobre lesões escamosas do colo uterino, demonstrou expressão de p53 em 65,60% dos carcinomas epidermóides (CEC), 37,10% das LIEAG e 37,40% nas LIEBG, sendo altamente significativa à preponderância dos escores altos à medida da gravidade da lesão. Desta maneira, parece estar relacionada mais a mecanismos de transformação celular durante seu desenvolvimento (como as imputadas às proteínas E6 e E7 do HPV), do que à existência de mutações ou alterações prévias individuais, o que parece ocorrer diferentemente na vulva. 79 Brooks et al. (2000) demonstraram que a perda da heterozigose (LOH) do p53 nos carcinomas epidermóides da vulva ocorre por mecanismos dependentes e independentes de HPV. Salmaso et al. (2000), em seu estudo investigativo do papel prognóstico da proteína p53 e Ki-67 nos carcinoma epidermóides da vulva, avaliando 125 pacientes com carcinoma invasor, demonstraram que o grupo de pacientes p53 positivo e com distribuição difusa de Ki-67 obteve uma sobrevida menor (p=0,0001) em relação aos grupos p53 negativo e / ou com positividade focal de Ki-67, resultando em um fator prognóstico negativo. Nosso trabalho não encontrou correlação entre p53 e Ki-67, funcionando ambos como variáveis independentes, achados esses compartilhados por Lima (1999) (tabela 21). Yang e Hart (2000) estudaram neoplasia intra-epitelial vulvar do tipo simples (diferenciada) em relação às características clínico-patológicas, incluindo análise do HPV e expressão de p53 em mulheres menopausadas, com idade média de 66,80 anos. Histologicamente, a NIV simples difere da NIV clássica por seus caracteres morfológicos típicos, tais como paraceratose, espessamento da epiderme com alongamento e fusão de papilas, alargamento anormal de ceratinócitos com diferenciação citoplasmática eosinofílica prematura estendendo-se ao longo da espessura epidérmica, formação de pérolas córneas nas papilas epidérmicas ou enovelados de ceratinócitos alargados, proeminência de pontes intercelulares e células basais displásicas. Os autores concluíram que: 1) a NIV simples tem uma forte correlação com carcinomas invasores da vulva, sendo provavelmente uma lesão precursora dos carcinomas invasores HPV negativos; 2) o HPV é incomum com NIV simples; 3) a alteração do gene p53 parece estar correlacionada com o desenvolvimento de NIV simples e 4) a imunomarcação para p53 pode ser útil no diagnóstico diferencial para NIV simples. Brustmann e Naude (2002) encontraram expressão de p53 em 08,30% dos condilomas vulvares (n=24), 30,80% das NIV (n=26) e 54,45% dos carcinomas invasores (n=22), não havendo correlação entre p53, progressão tumoral, estadiamento da FIGO, grau tumoral, PCNA e Ki-67. Guimarães et al. (2002) estudaram a presença de p53 como prognóstico de recidiva/progressão de neoplasia intra-epitelial vulvar III (n=20, t=4 anos), 80 encontrando como resultado recidiva em 25,00% das NIV III e 05,00% dos carcinomas, com tempo médio de 24,50 meses, sendo a localização multifocal da lesão primária a mais freqüente (50,00%) em ambos os grupos. A presença de p53 foi vista em 50,00% das lesões primárias de NIV III e em 75,00% dos casos de recidiva/progressão, parecendo assim desempenhar papel importante na gênese e na predileção do curso clínico das NIV III. Engelman, Andrade e Vassallo (2003) estudaram a infecção pelo HPV e a expressão de p53 nas neoplasias intra-epiteliais e carcinomas epidermóides invasores da vulva, detectando HPV e p53 em 57,90% e 21,10% das NIV III, 33,30% e 66,70% nos carcinomas superficialmente invasores e 07,30% e 58,20% nos carcinomas francamente invasores, respectivamente. A infecção por HPV estava relacionada à idade mais jovem nas NIV III e nos grupos de carcinoma. A expressão de p53 foi mais elevada nas lesões superficialmente invasoras e francamente invasoras, não havendo correlação com infecção pelo HPV. Esses achados, compatíveis com outros já descritos, inclusive também com o nosso trabalho, fortalecem a hipótese da existência de duas oncogêneses distintas para essa doença; uma associada ao HPV, ao que se sabe em expansão, e acometendo preponderantemente mulheres mais jovens, com inibição da p53 por proteínas virais; outra independente, com a inativação/mutação da p53, possivelmente também implicada em alguns casos sem correlação viral conhecida. 5.4 MIB1 As neoplasias geralmente apresentam distúrbios no controle do ciclo celular que levam ao aumento da proliferação celular e à formação de massas tumorais. O estudo da proliferação celular tem trazido informações importantes no que diz respeito à compreensão do crescimento neoplásico (RABENHORST; BURINI; SCHIMITT, 1993; LIMA, 1999). A investigação da expressão do marcador de proliferação celular (MIB1) e sua possível relação com o prognóstico e a gravidade da lesão têm sido extensivamente realizada no colo uterino. Em epitélios normais estudados, núcleos expressando marcação para MIB1 ficam confinados à camada parabasal e raras 81 células basais (KONISHI et al., 1991; ARBEIT; MÜNGER; HANAHAN, 1993; ISACSON et al., 1996; MCLUGGAGE; MAXWELL; BHARUCHA, 1998; LIMA, 1999). Isto está de acordo com o que se conhece por estudos prévios de incorporação de “H-thymidine” na cérvice normal. As células parabasais são a fonte das células que renovam o epitélio escamoso, e as basais são como células de reserva para eventual necessidade de renovação das células parabasais (KONISHI et al., 1991; MCLUGGAGE; MAXWELL; BHARUCHA, 1998; LIMA, 1999). Células em proliferação, como tem sido demonstrado por expressão de MIB1, são encontradas em nível progressivamente mais elevado no epitélio escamoso da cérvice uterina, do normal para as lesões de baixo e alto grau (ISACSON et al., 1996; STEINBECK, 1997; MCLUGGAGE; MAXWELL; BHARUCHA, 1998; LIMA, 1999). Esses dados oferecem suporte à teoria de que a neoplasia intraepitelial cervical envolve uma disfunção progressiva da atividade proliferativa das células epiteliais (BULTEN et al., 1996; LIMA, 1999). Isso foi também observado em nossa amostra de lesões vulvares. O grupo das LIEBG expressou um percentual médio de 19,09% inferior às LIEAG (40,67%) e aos carcinomas (51,09%). A distribuição dos núcleos marcados na espessura epitelial foi similar à dos estudos citados acima. Em condilomas, estudados por Isacson et al., (1996) e McCluggage et al. (1996), os núcleos positivos para Ki-67 estenderam-se para um a dois terços das camadas epiteliais, e também uma maior expressão nos núcleos da camada basal e parabasal foi observada. Constata-se um aumento da proliferação epitelial associada às lesões induzidas pelo HPV (CHOW; BROKER apud DEMETER; STOLER; BROKER, 1994; ISACSON et al., 1996). Em nosso grupo de LIEBG observamos sinetes citohistológicos de infecção pelo HPV (condiloma) em todos casos da amostra. A expressão de MIB1, neste grupo, deu-se na camada basal, parabasal e intermediária, com um percentual de núcleos corados relativamente elevado em alguns casos. Esses dados são preocupantes, já que estas lesões são consideradas lesões banais nos serviços de saúde e, como vimos, têm um comportamento similar em certos casos, ao comportamento das lesões de alto grau. O manejo dessas lesões deve ser repensado. Já Traiman et al. (1999) estudaram a ocorrência de carcinoma escamoso vulvar agressivo em três pacientes jovens, abaixo de 33 anos, em associação com lesão condilomatosa vulvar. 82 Nos carcinomas da cérvice uterina, alguns trabalhos mostram que a expressão de MIB1 possui considerável variação entre os vários carcinomas estudados, indicando que o câncer cervical mostra uma população celular heterogênea em relação à proliferação (OKA; NAKANO; ARAI, 1995; OKA; ARAI, 1996). Isso também pôde ser observado em relação à vulva. A maioria dos trabalhos envolvendo o índice de proliferação celular em lesões vulvares refere-se a dois padrões de imunocoloração, assim sendo um difuso e outro localizado/focal. Hendricks et al. (1994), Marchetti et al. (1996) e Salmaso et al. (2000) correlacionaram o padrão difuso de marcação para o MIB1 com menor tempo de sobrevida. O padrão difuso de reatividade e a alta percentagem de núcleos expressando Ki-67 apresentaram pior prognóstico. Hantschmann et al. (2000) referiram que o padrão de distribuição e não o percentual de células em proliferação parece conter significado prognóstico nos carcinomas escamosos vulvares. A percentagem média de núcleos expressando MIB1 em nossa amostra de carcinoma vulvar foi de 51,09%, variando de 12 a 79%. Ávall-Lundqvist et al. (1997), usando a mesma metodologia no colo uterino, encontraram média percentual de 67%, (variando de 21-99%) em 109 espécimes de carcinoma. Oka e Arai (1996) encontraram um índice percentual de 41% (variando de 20-86%), em 186 carcinomas do colo uterino. Observa-se a maior agressividade das neoplasias da cérvice uterina quando se compara com as da vulva. Já Marchetti et al. (1996), em 73 casos de carcinoma vulvar, encontraram percentuais bem mais baixos que os nossos, variando de 0,2 % a 9,0%. Esses dados nos levam a pensar que os carcinomas vulvares da nossa região apresentam um grau de agressividade maior que os estudados por eles, corroborando essa observação o estudo de Lima (1999), no qual obteve uma média de 35%, variando de 10 a 71%. Outros estudos são necessários para avaliar o valor do estudo da proliferação celular no prognóstico do câncer vulvar. Observa-se, entretanto, que foi significativa a diferença da média percentual de MIB1 quando se comparam as LIEBG com as LIEAG e carcinomas vulvares. As LIEAG se aproximam mais dos carcinomas em relação à proliferação celular, mantendo ainda uma tendência à progressão, mas sem alcançar índices significativos (p=0,34). Embora as LIEBGpapilomas, que, na nossa amostra, constituiu-se em alta proporção de condilomas, tenham um percentual de proliferação bem inferior às LIEAG e carcinomas, elas 83 apresentam uma atividade proliferativa aumentada, com células marcadas para MIB1 em camadas que normalmente não deveriam ser marcadas. Estes dados estão de acordo com o fato de que a infecção pelo HPV leva a um aumento da proliferação celular, através da ligação da proteína E7 com a proteína Rb e E5, aumentando a quantidade de receptores do Fator de Crescimento Epidérmico (WIELAND; PFISTER, 1999). Este comportamento das LIEBG-papilomas deve ser visto com cuidado, pois assemelha-se ao comportamento das lesões mais agressivas. 84 CONCLUSÕES 85 6 CONCLUSÕES A amostra analisada permite dizer que as Lesões Escamosas Invasoras (CEC), Intra-epiteliais de Alto (LIEAG) e de Baixo Grau (LIEBG) da Vulva, no Ceará, têm as seguintes características: quanto à idade Ocorrem em faixas etárias e nos intervalos esperados para regiões de prevalência, segundo a história natural das lesões. Nesta, destaca-se a ocorrência crescente de CEC vulvar em pacientes de menor faixa etária e a sua correlação com o crescimento da infecção por HPV. quanto à expressão de receptores de estrógeno e progesterona a) Os receptores nucleares epiteliais de estrógeno e progesterona estão presentes nos três gupos de lesões escamosas vulvares, com predomínio nas LIEAG e CEC. Não apresentam diferença estatisticamente significativa para que possam ser tomados como marcadores preditivos ou prognósticos. b) Em relação ao estroma, há presença maior e significativa de núcleos RE+ nas LIEAG e CEC, o que pode favorecer o crescimento tumoral, especialmente em mulheres mais jovens. c) Há freqüente marcação citoplasmática de ceratinócitos, especialmente com RP, de significado ainda não esclarecido e pioneiro. quanto à expressão de p53 Houve expressão de p53 em todos os grupos, CEC (68,18%), LIEAG (66,66%) e LIEBG (63,63%), sendo significativa à preponderância de escores altos nos carcinomas (53,33%) em relação às LIEBG (00,00%). O comportamento das LIEAG em relação à p53 é similar ao comportamento dos CEC. Provavelmente, as alterações na proteína p53 em muitos carcinomas vulvares são eventos precoces, existentes na lesão antes da invasão e correlacionadas mais às inibições 86 promovidas pelas proteínas E7 e E6 do HPV do que a mutações prévias de tp53; veja-se o acúmulo crescente de p53 à medida da progressão das lesões. quanto à proliferação celular (MIB1) Há uma tendência significativa a maiores índices e a escores mais altos com a progressão tumoral. Vale destacar o significado diagnóstico-prognóstico de p53 e MIB1 na caracterização de papilomas-LIEBG com potencial evolutivo como LIEAG. MIB1 e p53 mostraram-se variáveis independentes entre si nas lesões escamosas vulvares e não se mostram correlacionados à idade. 87 REFERÊNCIAS 88 REFERÊNCIAS ACOG TECHNICAL BULLETIN. Vulvar cancer. Int. J. Gynecol. Obstet., v. 44, p. 7986, 1994. ALANI, R.M.; MUNGER, K. Human papillomaviruses and associated malignancies. J. Clin. Oncol., v. 16, p. 330-337, 1998. 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ESTRÓGENO LIEBG PROGESTERONA REGISTRO IDADE PROCEDÊNCIA EPITÉLIO ESTROMA EPITÉLIO ESTROMA 1 5174/97 23 2 B 4 B 9 A 9 A IPCC 2 1781/95 28 0 - 6 B 2 B 4 B IPCC 3 264/01 23 0 - 0 - 0 - 2 B LHM 4 3390/01 21 0 - 0 - 0 - 0 - LHM 5 3639/01 18 0 - 0 - 2 B 4 B LHM 6 10174/01 40 0 - 0 - 0 - 0 - LHM 7 10295/01 32 0 - 0 - 3 B 12 A LHM 8 15820/01 58 0 - 0 - 0 - 0 - LHM 9 18641/01 44 0 - 0 - 0 - 0 - LHM 10 15075/01 40 0 - 0 - 0 - 0 - LHM 11 15530/01 32 0 - 0 - 0 - 0 - LHM TOTAL(n) 11 MÉDIA 32,63 MEDIANA 32 DESVIO PADRÃO 11,99 Escore pela intensidade da reação(0-3) e pela dispersão das células marcadas(1-4). Intensidade: (1)leve, (2)moderada e (3)forte. Dispersão: (1)ocasional; (2)até 1/3; (3)até 2/3 e (4)mais 2/3 de células marcadas. Escore Alto(A) de 7 a 12; Escore Baixo (B) de 1 a 6. Instituto de Prevenção do Câncer do Ceará (IPCC) e Laboratório de Patologia Dr. Hamilton Monteiro (LHM). 106 Apêndice B – Quadro 4 QUADRO 4 Lesões intra-epiteliais escamosas de alto grau (LIEAG) da vulva conforme a idade e segundo a imunoexpressão para Receptores de Estrógeno e Progesterona. ESTRÓGENO LIEAG PROGESTERONA REGISTRO IDADE PROCEDÊNCIA EPITÉLIO ESTROMA EPITÉLIO ESTROMA 1 3950/94 37 4 B 6 B 0 - 3 B IPCC 2 7989/96 56 0 - 2 B 2 B 4 B UFC 3 128/96 57 2 B 4 B 0 - 0 - IPCC 4 3747/98 45 0 - 2 B 4 B 0 - UFC 5 2562/97 51 0 - 2 B 4 B 6 B UFC 6 2006/97 59 0 - 4 B 6 B 4 B IPCC 7 928/98 42 0 - 8 A 0 - 2 B IPCC 8 3851/97 24 0 - 4 B 0 - 2 B UFC 9 9220/00 32 0 - 0 - 0 - 2 B LHM 10 9664/00 28 0 - 0 - 0 - 0 - LHM 11 7699/00 42 2 B 2 B 2 B 2 B LHM 12 27404/00 18 0 - 0 - 0 - 0 - LHM TOTAL(n) 12 MÉDIA 40,91 MEDIANA 42 DESVIO PADRÃO 13,05 Escore pela intensidade da reação(0-3) e pela dispersão das células marcadas(1-4). Intensidade: (1)leve, (2)moderada e (3)forte. Dispersão: (1)ocasional; (2)até 1/3; (3)até 2/3 e (4)mais 2/3 de células marcadas. Escore Alto(A) de 7 a 12; Escore Baixo (B) de 1 a 6. Instituto de Prevenção do Câncer do Ceará (IPCC), Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina (UFC) e Laboratório de Patologia Dr. Hamilton Monteiro (LHM). 107 Apêndice C – Quadro 5 QUADRO 5 Carcinomas escamosos invasores da vulva (CEC) conforme a idade e o tipo histológico, segundo a imunoexpressão para Receptores de Estrógeno e Progesterona. ESTRÓGENO CEC REGISTRO IDADE HIST 1 8367/96 47 mar 2 3530/96 63 3 2370/95 4 PROGESTERONA ESTROMA PROC EPITÉLIO ESTROMA EPITÉLIO ESCORE ESCORE ESCORE ESCORE 2 B 2 B 2 B 4 B IPCC pd 0 - 4 B 0 - 2 B IPCC 58 ver 0 - 2 B 2 B 2 B IPCC 5975/94 37 mar 0 - 6 B 2 B 4 B IPCC 5 3864/96 76 mar 2 B 6 B 4 B 0 6 4682/96 68 mar 0 - 2 B 0 - 2 B IPCC 7 8602/95 34 mar 2 B 4 B 8 A 12 A IPCC 8 1236/96 66 mar 3 B 12 A 2 B 0 UFC UFC 9 3744/95 75 verr 2 B 4 B 12 A 4 B IPCC 10 1607/95 64 verr 2 B 8 A 2 B 4 B UFC 11 3712/94 74 mar 4 B 4 B 2 B 4 B IPCC 12 3284/00 58 pd 0 - 4 B 0 - 2 B LHM 13 3839/00 49 pd 0 - 0 - 0 - 0 - LHM 14 4241/00 69 mar 0 - 0 - 0 - 0 - LHM 15 4489/00 62 mar 0 - 0 - 0 - 0 - LHM 16 418/01 56 mar 0 - 0 - 0 - 0 - LHM 17 3564/01 63 pd 0 - 0 - 0 - 0 - LHM 18 3723/01 59 mar 0 - 0 - 0 - 0 - LHM 19 3725/01 50 mar 0 - 0 - 0 - 0 - LHM 20 17689/01 40 pd 0 - 2 B 0 - 0 - LHM 21 21199/01 72 mar 0 - 9 A 0 - 4 B LHM 22 4205/01 49 pd 0 - - - 0 - 0 - LHM TOTAL(n) 22 MÉDIA 58,59 MEDIAN 60,50 DESVIO PADRÃO 12,22 Escore pela intensidade da reação ( 0 a 3) e pela dispersão das células marcadas (1 à 4) Intensidade (1) leve (2) moderada e (3) forte. Dispersão (1) ocasional; (2) até 1/3; (3) até 2/3 e (4) mais 2/3 de células marcadas. Hist = tipo histológico; pd = carcinoma epidermóide pouco diferenciado; mar = carcinoma epidermóide moderadamente diferenciado; verr carcinoma verrugoso; Proc= procedência; Escore Alto(A) de 7 a 12; Escore Baixo (B) de 1 a 6. Instituto de Prevenção do Câncer do Ceará (IPCC), Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina (UFC) e Laboratório de Patologia Dr. Hamilton Monteiro (LHM). 108 Apêndice D – Quadro 6 QUADRO 6 Lesões intra-epiteliais escamosas de baixo grau (LIEBG) da vulva: avaliação segundo a idade, a proliferação celular (MIB1) e a expressão da proteína p53 por imunoistoquímica. LIEBG REGISTRO IDADE PROTEINA p53 ESCORE MIB1 MIB1 ESCORE % PROCEDÊNCIA 1 5174/97 23 4 B 2 B 07 IPCC 2 1781/95 28 4 B 4 B 13 IPCC 3 264/01 23 3 B 9 A 35 LHM 4 3390/01 21 0 - 2 B 11 LHM 5 3639/01 18 3 B 9 A 32 LHM 6 10174/01 40 1 B 2 B 09 LHM 7 10295/01 32 1 B 2 B 12 LHM 8 15820/01 58 0 - 6 A 37 LHM 9 18641/01 44 3 B 4 B 11 LHM 10 15075/01 40 0 - 6 A 33 LHM 11 18530/01 32 0 - 2 B 10 LHM TOTAL 11 MÉDIA 32,63 MEDIANA 32 DESVIO PADRÃO 11,99 19,09 12,18 Escore pela intensidade da reação(0-3) e pela dispersão das células marcadas(1-3). Intensidade: (1)leve; (2)moderada e (3)forte. Dispersão: (1)focal ou difusa(2-3) = 1 a 9. Escore alto (A) de 6 a 9; Escore baixo(B) de 1 a 5. Instituto de Prevenção do Câncer do Ceará (IPCC), Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina (UFC) e Laboratório de Patologia Dr. Hamilton Monteiro (LHM). 109 Apêndice E – Quadro 7 QUADRO 7 Lesões intra-epiteliais escamosas de alto grau (LIEAG) da vulva avaliação segundo a idade, a proliferação celular (MIB1) e a expressão da proteína p53 por imunoistoquímica. LIEAG REGISTRO IDADE PROTEINA P53 MIB1 MIB1 ESCORE ESCORE % PROCEDÊNCIA 1 3950/94 37 9 A 1 B 09 IPCC 2 7989/96 56 6 A 6 A 60 UFC 3 128/96 57 0 - 4 B 14 IPCC 4 3747/98 45 0 - 9 A 69 UFC 5 2562/97 51 1 B 6 A 68 UFC 6 2006/97 59 4 B 9 A 63 IPCC 7 928/98 42 0 - 2 B 10 IPCC 8 3851/97 24 4 B 6 A 43 UFC 9 9220/00 32 4 B 6 A 17 LHM 10 9664/00 28 1 B 9 A 59 LHM 11 7699/00 42 4 B 6 A 12 LHM 12 27404/00 18 0 - 6 A 64 LHM TOTAL 12 MÉDIA 40,91 MEDIANA 42 DESVIO PADRÃO 13,05 40,67 25,84 Escore pela intensidade da reação(0-3) e pela dispersão das células marcadas(1-3). Intensidade: (1)leve; (2)moderada e (3)forte. Dispersão: (1)focal ou difusa(2-3) = 1 a 9;Escore alto (A) de 6 a 9; Escore baixo(B) de 1 a 5. Instituto de Prevenção do Câncer do Ceará (IPCC), Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina (UFC) e Laboratório de Patologia Dr. Hamilton Monteiro (LHM). 110 Apêndice F – Quadro 8 QUADRO 8 Carcinomas escamosos invasores da vulva (CEC), conforme a idade e o tipo histológico, segundo a proliferação celular (MIB1) e a expressão da proteína p53 por imunoistoquímica. PROTEINA p53 ESCORE 0 0 6 A MIB1 ESCORE 4 B 2 B 3 B MIB1 % 32 57 12 PROC CEC REGISTRO IDADE HIST. 1 2 3 8367/96 3530/96 2370/95 47 63 58 mar pd verr 4 5 6 5975/94 3864/96 4682/96 37 76 68 mar mar mar 6 0 0 A - 2 6 6 B A A 50 39 21 IPCC UFC IPCC 7 8 8602/95 1236/96 34 66 mar mar 6 4 A B 9 4 A B 71 61 IPCC UFC 9 3744/95 75 verr 1 B 6 A 50 IPCC 10 1607/95 64 verr 0 - 6 A 26 UFC 11 3712/94 74 mar 9 A 1 B 65 IPCC 12 3284/00 58 pd 2 B 9 A 64 LHM 13 3839/00 49 pd 0 - 6 A 62 LHM 14 15 16 4241/00 4489/00 418/01 69 62 56 mar mar mar 9 9 4 A A B 6 3 1 A B B 58 66 32 LHM LHM LHM 17 3564/01 63 pd 0 - 6 A 62 LHM 18 19 20 21 22 3723/01 3725/01 17689/01 21199/01 4205/01 22 59 50 40 72 49 mar mar pd mar pd 8 9 2 2 2 A A B B B 8 6 1 3 3 A A B B B 79 64 32 59 62 LHM LHM LHM LHM LHM TOTAL(n) MÉDIA 58,59 MEDIANA 60,50 DESVIO PADRÃO 12,22 IPCC IPCC IPCC 51,09 18,03 Escore pela intensidade da reação(0-3) e pela dispersão das células marcadas(1-3) Intensidade: (1)leve; (2)moderada e (3)forte. Dispersão focal(1) ou difusa(2-3) = 1 a 9Escore alto(A) de 6 a 9 e Escore baixo(B) de 1 a 5; Hist = tipo histológico; pd = carcinoma epidermóide pouco diferenciado; mar = carcinoma epidermóide moderadamente diferenciado; verr = carcinoma verrugoso; roc = procedência. Instituto de Prevenção do Câncer do Ceará (IPCC), Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina (UFC) e Laboratório de Patologia Dr. Hamilton Monteiro (LHM).