Sexualidade mal compreendida

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Sexualidade mal compreendida
Sempre que pronunciamos a palavra “sexualidade” um certo desconforto reina no ambiente.
Felizmente, nosso senso de pudor nos alerta que este assunto deveria ser tratado de uma
maneira discreta, confidente e delicada, sem ser afetado por discursos curiosos em locais
impróprios e idades prematuras.
Todavia, desde os anos sessenta e o estouro da revolução sexual, certos grupos políticos e
certas linhas de pesquisa têm defendido uma abordagem liberal da sexualidade humana,
defendendo que o ser humano, dono de seu próprio corpo, pode fazer dele o que bem
entender, inclusive para o próprio prazer.
Deste tipo de pensamento advém a defesa e uso da pornografia, prostituição, e – o mais
preocupante atualmente – a sexualização precoce de crianças.
Algumas linhas de pesquisa – de embasamentos duvidosos – indicam que é bom e saudável
cada pessoa, especialmente a criança, buscar o prazer próprio como modo de
autoconhecimento.
Todavia, estudos recentes da Neurologia indicam que a sexualidade desordenada,
especialmente influenciada pela pornografia e masturbação, levam o cérebro a liberar
grandes doses de dopamina, um neurotransmissor que nos dá sensações de prazer e
satisfação. Quando a descarga deste componente começa a ser constante, o cérebro, em um
tipo de mecanismo de proteção, começa a bloquear a passagem desta substância, o que
resulta em um número cada vez menor da sensação de prazer. O bloqueio de sensações
agradáveis se estende para outras situações da vida que gerariam bem estar – estar com os
amigos, tomar sorvete, ir ao cinema, estar em família.
O resultado são pessoas – e, infelizmente, muitas vezes crianças e adolescentes –
depressivos e insatisfeitos com suas vidas, pois perderam a capacidade de encontrar sentido
e sentir prazer nas pequenas situações cotidianas.
Outros estudos mostram que quando o cérebro se acostuma com a pornografia ou o prazer
solitário, tende a passar a enxergar as outras pessoas apenas por um aspecto sexual. Este
tipo de objetificação de pessoas traz aos relacionamentos humanos a característica do
utilitarismo, egocentrismo e narcisismo, problemas que levam a maioria dos namoros e
casamentos ao fracasso.
A sexualidade humana foi criada para ser ordenada buscando o “bem no outro”. É sobre isto
que argumenta o psiquiatra austríaco Viktor Frankl, quando afirma que “quando é negada a
autotranscendência da existência, a própria existência é desfigurada. Ela é materializada. O
ser fica reduzido a mera coisa. O ser humano é despersonalizado. E, o que é mais
importante, o sujeito é transformado em objeto”.
É no plano do amor, algo muito maior que sentimentalismos ou genitalismos, que o ser
humano atinge seu ápice como humano. O oposto do amor não é o ódio, mas o “usar” a
outra pessoa. Se não ensinamos às crianças estes aspectos da sexualidade e dos
relacionamentos, como podemos almejar um mundo mais humano e menos utilitarista?
■■ Letícia Maria Barbano é estudante de Terapia Ocupacional, participa de grupos de
pesquisa sobre o Desenvolvimento Humano, escreve para o blog “Modéstia&Pudor”
(www.modestiaepudor.com) e coordena o IFE São Carlos.
Artigo publicado no jornal Correio Popular, Página A2 – Opinião, em 05 de Outubro de 2015.
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