07- ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA 07.01- A Função do Administrador Financeiro O principal objetivo de qualquer empresa privada é a obtenção de lucros para os seus proprietários, mediante a produção de bens e serviços para venda no mercado.Para que tal meta possa ser alcançada, a empresa adquire os fatores de produção e com eles produz venda. A parte essencial da administração financeira é a formulação de uma estratégia empresarial para se determinar a utilização mais eficiente dos recursos, disponíveis a qualquer momento, bem como selecionar as fontes mais adequadas de fundos adicionais, que eventualmente possam tornar -se necessários. Do nosso ponto de vista, o administrador financeiro desempenha uma função operacional. É um dos membros da alta administração, incumbido de assumir responsabilidades de planejamento, organização, execução e controle das atividades financeiras da empresa. Em firmas de maior porte, é designado vice-presidente para assuntos financeiros, tesoureiro ou “controler”. Em firmas menores, tal função é geralmente desempenhada pelo presidente, no caso de sociedade anônima, ou pelo proprietário, quando a empresa é organizada de outra forma; neste caso, essa função é exercida cumulativamente com outros encargos que normalmente lhe competem. O bom ou mau desempenho que o administrador financeiro dá a seus encargos determinam o êxito ou o insucesso da empresa. I. FUNÇÕES DO ADMINISTRADOR FINANCEIRO O conjunto de responsabilidades do administrador financeiro reúne cinco funções principais: 1. Análise financeira em profundidade dos registros e demonstrativos contábeis. 2. Estimativa do movimento (entrada e saída) de caixa, para o trimestre ou ano seguintes, com o objetivo de determinar o provável grau de liquidez da empresa. 3. Escolha do investimento mais interessante, de retorno rápido, para os excedentes de caixa ou quase moeda da empresa. 4. Fornecimento à alta administração de informações relativas às condições financeiras atuais e futuras da firma, como base para a tomada de decisões sobre operações de compra, comercialização e fixação de preços. 5. Por último e como função mais importante, a elaboração de planos financeiros detalhados para a obtenção (fontes) e utilização (aplicações) de fundos pela firma, tanto a longo quanto a curto prazo. O administrador financeiro é responsável pela avaliação do custo provável dos recursos, comparado com o lucro previsto na aplicação desses fundos em diferentes unidades operacionais. 1. Dados Contábeis. O contador registra os resultados das atividades econômicas da empresa. Enumera todas as receitas, as despesas explícitas (ou observáveis) e os lucros ou prejuízos resultantes. O administrador financeiro analisa, além de todos esses itens, os custos implícitos (ou não observáveis). Enquanto o contador registra somente as variações de valor dos ativos que estão “de perfeito acordo com os princípios contábeis”, o administrador financeiro analisa a importância de outros fatores, que podem afetar a posição de crédito da empresa, sua capacidade de obtenção de empréstimos, bem como sua avaliação, na eventualidade de uma fusão ou venda. O administrador financeiro preocupa-se, ainda, com as causas específicas dos lucros ou prejuízos apresentados pela firma. Por exemplo, poderá interessar-se em saber se os lucros obtidos decorreram de um nível mais alto de eficiência ou simplesmente do fator “sorte”, no caso de seus principais concorrentes terem sofrido paralisação temporária, resultante de greve, incêndio ou qualquer outro transtorno inesperado. Procura igualmente projetar as condições e necessidades financeiras da empresa para os meses subseqüentes, baseado em dados recentes sobre vendas, lucros ou prejuízos. 2. Fluxo de Fundos. O administrador financeiro deve estimar a entrada de caixa decorrente das vendas efetuadas, bem como as s aídas de caixa resultantes de pagamentos de salários, serviços, compra de mercadorias, impostos etc. Êste fluxo de fundos pode ser projetado tanto em bases semanais, quanto mensais, constituindo ponto de partida para a determinação da necessidade, ou não, de empréstimos de fundos para fazer frente a um déficit de caixa, caso em que deverá ser determinado o período de tempo deste empréstimo. O administrador financeiro também é responsável pela avaliação das vantagens financeiras de outras alternativas, além da tomada de empréstimo. Por exemplo, deveria a empresa, quando necessário, adquirir mercadorias e materiais auxiliares em pequenas quantidades, sem aproveitar o desconto concedido pela aquisição de maior quantidade? Ou deveria aproveitar integralmente o crédito concedido pelos fornecedores ao invés de obter um desconto pelo pagamento das mercadorias, alguns dias após o seu recebimento? 3. Fundo Excedente. A existência de um saldo substancial de caixa em relação às necessidades financeiras programadas, con stitui experiência bastante comum para uma firma, especialmente em se tratando de empresa de grande porte. Tal situação surge periodicamente por influências de caráter sazonal; em outras palavras, registra -se no período de ritmo mais lento de produção e/ou volume de vendas mais reduzido. Saldos de caixa superiores às necessidades conhecidas podem provir da venda, pela firma, de um ativo fixo, ou do lançamento de ações ou “bonds”. Embora esses recursos possam ser posteriormente aplicados em novos ativos fixos, constituem-se em fundos excedentes, até que sejam desembolsados. São tarefas do administrador financeiro: 1) a estimativa do período de tempo em que a firma poderá dispor desses recursos monetários excedentes, e 2) a escolha dos projetos de investimento temporário, para os quais esses recursos poderão ser canalizados. Dentre outros, poderia o investimento ser feito sob a forma de depósito bancário, de certificado de depósito ou de obrigações governamentais a curto prazo, aplicações essas que apresentam e levado grau de liquidez, rendem juros e envolvem riscos mínimos. 4. Perspectivas Financeiras. Em qualquer empresa, cabem aos diversos membros da administração áreas específicas de supervisão, planejamento e tomada de decisões, e todos os atos administrati vos exercem influências diretas sobre a disponibilidade de recursos financeiros da empresa. Compete ao administrador financeiro avaliar os efeitos de tais atos sobre as condições financeiras da firma e comunicar suas descobertas e conclusões aos demais membros da equipe administrativa. Enquanto as principais preocupações dos gerentes de compras ou produção restringem-se às suas respectivas esferas de responsabilidade, o administrador financeiro analisa uma dada iniciativa em função de uma perspectiva empresarial global. Uma despesa que poderá ser considerada conveniente para um determinado departamento, poderá privar um outro dos recursos necessários ao seu adequado funcionamento. 5. Planejamento Financeiro. Por último, mas não menos importante, cabe à alta administração a tomada de decisões quanto ao momento, fonte e forma de obtenção de fundos para aumentos da produção corrente ou expansão da planta, ou mesmo para ambos, seja em intervalos regulares de tempo ou esporadicamente. Ao administrador financeiro compete avaliar as fontes alternativas de fundos, seus respectivos custos, e a extensão em que a obtenção de recursos de uma determinada fonte pode influir sobre as condições futuras da política de dividendos, da capacidade de obtenção de empréstimos ou do s poderes decisórios da alta administração. 6. Resumo. As três primeiras funções são, por sua natureza, fundamentalmente financeiras. Sua execução efetiva exige competência em assuntos financeiros e adequados conhecimentos analíticos. Não envolvem decisões muito importantes da parte do presidente da firma e nem a aprovação da diretoria. Contrastando com as três primeiras funções, as duas últimas exigem a tomada de decisões pela alta direção. Isto é particularmente verdadeiro no caso do planejamento finance iro. Decisões relativas à obtenção de fundos mediante a venda de ações ou “bonds” não exigem apenas a aprovação da diretoria; muitas vezes requerem, também, a aprovação dos próprios acionistas. O administrador financeiro prepara a proposta e reúne os argumentos e dados subsidiários, mas a solução final escapa à sua autonomia decisória. 7. Tipos de Ativos. Constitui axioma, tanto em Contabilidade como em Finanças, dizer-se que cada ativo da firma gera automaticamente um passivo. A tudo que uma firma possui deve corresponder um débito para com terceiros, sejam estes seus credores ou proprietários. Os ativos das empresas privadas dividem-se, comumente, em duas categorias: ativos correntes (ou circulantes) e ativos fixos (ou imobilizados). A administração financeira trata do problema da obtenção de fundos para a posse ou uso de ativos pela firma ao custo mais reduzido possível. No caso dos ativos correntes, a firma desembolsa numerário para a compra de matérias-primas, materiais auxiliares e pagamento de salários e honorários. Estas despesas mantêm uma reação funcional com o volume de vendas previsto, o qual, por sua vez, é afetado por fatores sazonais e influências de caráter cíclico. Representam estas despesas o custo variável da firma. Considerando-se o resultado final verifica-se que o montante de fundos e o período pelo qual estes são necessários variam de mês para mês e, em muitos casos, mesmo de um dia para outro. As decisões de maior relevância que competem ao administrador financeiro envolvendo as fontes e aplicações de fundos - são conseqüentemente, por sua natureza, decisões a curto prazo. Contrastando com o que vimos acima, os ativos fixos de uma firma tornam-se parte integrante da empresa, até que os respectivos itens tenham alcançado o limite de sua vida útil. Os custos do ativo imobilizado - envolvendo depreciação, manutenção e consertos - são de caráter fixo. Se um ativo fixo foi adquirido com fundos obtidos de terceiros, os custos fixos deverão também englobar os juros sobre a dívida contraída com os fornecedores de seguros. Os ativos de uma empresa, seja qual for sua forma, constituem seu sangue vital. Vitaliza toda a anatomia empresarial. Daí existir uma íntima relação entre o administrador financeiro e cada uma das divisões da firma. O administrador financeiro deve estar disposto e capacitado a comunicar-se com os demais membros da alta administração, tanto no que respeita à elaboração, como à execução do programa financeiro. 8. Alocação de Fundos. Ao contrário dos demais executivos da firma, o administrador financeiro avalia o êxito de sua atuação em uma perspectiva global, ou seja, tomando a firma como um todo. O gerente do departamento de produção pode referir-se ao nível de produção e ao custo unitário, como padrão de medida de sua capacidade e eficiência. O gerente de vendas pode aferir, pelo volume de vendas alcançado, a medida de seu próprio êxito. O diretor de pesquisas e desenvolvimento pode apresentar, por sua vez, as melhorias experimentadas pelos produtos da firma ou os novos projetos e inovações que se tenham originado em seu departamento, como prova de sua participação específica no progresso alcançado pela empresa. A contribuição do administrador financeiro, porém, não se restringe a determinado setor da empresa, prontamente identificável. Sua função e responsabilidade abrangem todas as operações da firma. Uma de suas tarefas consiste em avaliar, em termos monetários, o desempenho de cada departamento ou divisão, em função dos objetivos específicos. Ao mesmo tempo, cabe-lhe estimar o efeito financeiro das operações de um dado departamento sobre os fundos exigidos por outros departamentos. Deve, por fim, avaliar o rendimento, o desempenho da empresa como um todo. Imaginemos o caso de uma firma varejista ou de uma empresa industrial, que possui três divisões principais: A, B e C. Admitamos que, baseado nas previsões de vendas, o gerente da divisão A solicita um aumento substancial de fundos para expandir seus estoques e realizar uma agressiva campanha promocional, enquanto que as divisões B e C não prevêem qualquer modificação significativa nos seus respectivos volumes de vendas. Suponhamos, entretanto, que o administrador financeiro verificou ser impossível a obtenção de recursos adicionais para atender à solicitação feita pela divisão A. Deverá aprovar o pedido de fundos adicionais? No caso da resposta ser o reajustamento da alocação de fundos deverá ser feito na divisão B, C ou em ambas? Em que medida deverá isso ocorrer? De que forma a redução de recursos disponíveis poderá afetar os lucros da divisão (ou divisões) que a tiver sofrido, e quais os efeitos sobre a firma como um todo? A redução de recursos disponíveis a B ou C irá prejudicar a “imagem” da firma? Provocará reações desfavoráveis da parte de clientes que normalmente compram n as três divisões, mas que reduzirão suas compras, em A, se B e C não mais oferecerem uma linha completa? Do ponto de vista do administrador financeiro, uma divisão isolada constitui apenas parte de uma entidade integrada a que denominamos firma ou empresa. Enquanto o administrador ou gerente de cada divisão se preocupa com a rentabilidade do segmento da empresa pelo qual responder, o administrador financeiro - e isto também é válido, para a alta administração - deve sempre analisar a divisão, estabelecendo sua relação com a firma em seu conjunto. O administrador financeiro prepara a análise que serve de base à alta administração, na tomada de decisões concernentes à distribuição dos fundos disponíveis pelos diversos departamentos ou divisões da empresa. Cada elemento operacional da firma exige recursos monetários, e dele se espera que contribua para o lucro total. Entretanto, os fundos disponíveis podem ser limitados. Para garantir o emprego mais proveitoso desses recursos, o administrador financeiro deve examinar e comparar cada uma das alternativas de usos. Se, por exemplo, for o caso de fundos adicionais serem utilizados em pesquisa e desenvolvimento, essa decisão provocará uma redução das somas disponíveis para as outras divisões da firma. Admitiremos, por hipótese, que uma firma disponha de $100.000 para despesas de capital e que a alta administração esteja levando seriamente em consideração os seguintes fatos: 1) uma despesa de $50.000 para a compra de uma frota de caminhões para entrega de mercadorias; espera-se que essa compra represente substancial economia de recursos, comparada com o atual custo dos serviços de transporte prestados por outra empresa; 2) a compra de novas máquinas, no total de $50.000, para substituir equipamentos menos eficientes; 3) uma despesa de $30.000 para instalação de um sistema moderno de ar condicionado e calefação, com o objetivo de aumentar o grau de eficiência da força de trabalho empregada; e 4) a instalação de um moderno sistema de contabilização e controle por $20.000. Os recursos exigidos totalizam $150.000, sendo que a firma dispõe apenas de $100.000. Um dos membros da alta administração deverá definir a forma de distribuição dos recursos disponíveis. O administrador financeiro deverá avaliar e comparar a rentabilidade relativa de cada alternativa e recomendar, dentre as solicitações concorrentes, a alocação de fundos mais promissora. Na verdade, uma das tarefas básicas do administrador financeiro é, em relação aos fundos utilizados na empresa, a comparação dos seus usos alternativos. Seu objetivo consiste em fazer com que a empresa obtenha “a máxima quilometragem” de cada unidade monetária utilizada em suas operações diárias, bem como dos fundos investidos em ativos fixos, tais como planta, equipamentos, maquinaria e outros ativos. 9. Fontes de Fundos. Os fundos que o administrador financeiro pode distribuir pelos diversos departamentos da firma provêm de duas fontes. A principal fonte provém do capital investido pelos proprietários da firma e dos lucros nela reinvestidos. Além disso, qualquer empresa tem acesso às mais variadas fontes externas. Estas últimas incluem o crédito concedido por seus fornecedores; empréstimos obtidos de instituições financeiras, de emprestadores particulares ou de instituições governamentais de empréstimos; e ainda, as receitas obtidas pela venda de títulos (“bonds”, debêntures), ou de novas ações emitidas. Geralmente, a decisão de recorrer a fontes externas de fundos envolve a tomada de empréstimos, o que gera custos sob a forma de pagamentos de juros. Além disso, os fundos tomados por empréstimo são obtidos por um dado período de tempo e exigem, com freqüência, o pagamento de prestações em determinados intervalos. Isto obriga o administrador financeiro a determinar que o uso de fundos obtidos de fontes externas gere, com razoável probabilidade, um lucro bruto superior ao seu custo. Cabe-lhe ainda estimar a probabilidade de a firma dispor de recursos suficientes para resgatar o empréstimo ou pagar suas prestações nas datas preestabelecidas. Os supridores externos de fundos oferecem uma escala de taxas de juros e discriminam os prazos pelos quais se dispõe a conceder crédito ou fazer empréstimos, assim como o montante do empréstimo (ou crédito) que pretendem conceder a uma empresa de determinado vulto. Além do mais, as políticas e critérios para a concessão de empréstimos não se mantêm inalterados indefinidamente. Mesmo no âmbito de um dado grupo de supridores de recursos, podem existir instituições que decidam reduzir seus empréstimos, por um certo período, enquanto outros bancos mantêm uma política “liberal”. Destarte, cada fornecedor em potencial, de recursos e emprestador representa uma, dentre numerosas fontes de fundos externos, a curto ou a longo prazo. A seleção da fonte externa de recursos, tida como mais favorável dentre as várias que estejam à disposição da firma, constitui -se em mais uma importante tarefa da competência do administrador financeiro. O efetivo desempenho dessa tarefa exige, em primeiro lugar, adequado conhecimento das políticas e condições vigentes dos diversos tipos de fontes externas de recursos. Em segundo lugar, requer a avaliação dos efeitos financeiros de diversos métodos concorrentes para a obtenção de fundos dessas fontes externas, seus custos, e os compromissos de resgate assumidos pela empresa. Por exemplo, o uso de capital de terceiros deverá afetar a disponibilidade e o custo do financiamento mediante capital próprio, ou seja, a venda de ações ordinárias. Em certas ocasiões, apresenta-se o problema adicional da escolha entre fontes internas e externas de recursos. Geralmente esse problema aparece conjugado à decisão relativa a pagamento de dividendos, quando a firma pretende realizar amplo programa de expansão. Se a empresa decidir-se pelo não-pagamento de dividendos e, ao invés disso, reinvestir os lucros em instalações adicionais, poupará o custo dos fundos a serem obtidos por empréstimo e não será obrigada a efetuar pagamentos de amortização pelo empréstimo. Por outro lado, o não-pagamento de dividendos poderá provocar reação desfavorável nos acionistas e determinar a queda do preço das ações. Não há dúvida, portanto, de que a escolha, dentre diversas alternativas da maneira de agir, constitui problema dos mais importantes. II. OBJETIVOS DO ADMINISTRADOR FINANCEIRO O objetivo da empresa é a maximização da riqueza nela aplicada pelos seus proprietários.Na maioria dos casos, esta meta pode ser alcançada pela adoção de uma política de maximização de lucros. Entretanto, as decisões alternativas referentes à produção, volume e preços desta, podem envolver resultados potenciais com riscos variáveis. A alternativa que prometer lucros máximos poderá não conduzir à maximização da riqueza, se os resultados não corresponderem às expectativas. Como uma das funções do administrador financeiro compreende o planejamento da alocação de fundos, cabe-lhe avaliar não apenas a taxa de lucro previsto, correspondente aos usos alternativos de recursos nas diferentes divisões operacionais da firma, mas, também, estimar as probabilidades relativas de detenção do lucro previsto. Êste problema será analisado mais detalhadamente em capítulos posteriores. Outro objetivo básico, particularmente relacionado às operações a curto prazo da firma, diz respeito à manutenção de adequado grau de liquidez. A empresa precisa dispor de recursos monetários suficientes para pagar salários e honorários, cumprir suas obrigações para com, fornecedores de bens e serviços, de conformidade com os termos da compra, e pagar, nas épocas determinadas, os impostos devi dos. A firma pode possuir ativos de valor bastante superior a esses passivos. Mas, se os ativos consistirem em prédios, máquinas e equipamentos, a firma será “solvente”, ou seja, disporá de ativos que excedem, em valor, o total de seus compromissos em relação aos credores — mas “não liquida”, visto não ter possibilidades de pagar suas dívidas a curto prazo na ocasião apropriada. 1. Maximização do Lucro. Um dos enfoques fundamentais baseia-se no conceito de ciclo único. Segundo esta abordagem, a política da firma referente a lucros e preços é analisada apenas em relação ao ciclo de vendas mais imediato, ou seja, estudam-se as condições da empresa no ciclo ou período presente de vendas. Neste caso, a alta administração procura obter um lucro máximo, em função das condições correntes de mercado, sendo mínima, senão nula, a preocupação com o período subseqüente. Tal situação predomina, por exemplo, no caso dos produtores de artigos baratos de vestuário, como roupas de baixo e no dos atacadistas de frutas e legumes frescos. A segunda abordagem poderia ser denominada política de lucros e preços decrescentes. O produto analisado é inicialmente vendido a um preço máximo em mercado limitado. A seguir, o preço vai sendo reduzido, com o objetivo de englobar progressivamente um segmento maior do mercado. Um exemplo evidente desta técnica é a indústria cinematográfica. Um filme que espera conseguir sucesso será apresentado inicialmente em pequeno número de casas de espetáculo, cobrando -se entrada relativamente alta. Após essa exibição especial por vários meses, o filme será liberado para os cinemas de primeira classe a preços ainda elevados. Finalmente, um ou dois anos depois de sua estréia, estará sendo apresentado a preços normais em todos os cinemas. A publicação de obra s de escritores renomados é inicialmente feita em edições encadernadas, sendo em seguida apresentada em brochuras a preços bastante inferiores ao original. A terceira abordagem exige penetração máxima no mercado a preços que proporcionem uma taxa uniforme e prefixada de lucro, 10% por exemplo. Ao fixar essa taxa de lucro, a alta administração deseja conseguir para a firma uma participação no mercado que se estenda por toda uma série de ciclos de vendas e não apenas para o período analisado. A firma é constituída para proporcionar lucros aos seus acionistas — mais exatamente aos portadores de suas: ações ordinárias. Assim sendo, o melhor objetivo de rentabilidade que pode ser escolhido pela direção da empresa é a maximização, a longo prazo, dos lucros dos portadores de suas ações ordinárias.A política de maximização dos lucros a curto prazo pode provocar nos clientes uma reação capaz de prejudicar a existência da empresa a longo prazo. A busca de preços em situações de escassez de oferta, por exemplo, deverá ser mais indicada para conseguir mantos clientes até que esse período termine. Uma política visando o máximo preço possível no mercado poderá proporcionar lucros vultosos a curto prazo, mas provocar, ao final, uma redução do volume de vendas. 2. Custo Explicito e Implícito de Fundos. Sendo um recurso escasso, o capital empregado na empresa possui um valor econômico. No mercado, esse valor é expresso pelo pagamento de juros. No caso de fundos obtidos por empréstimo, a taxa de juros estabelecida representa o custo explícito do capital. A prática contábil leva em conta tal custo, reconhecido pela legislação fiscal como despesa passível de dedução no cálculo do rendimento (lucro) tributável da empresa. Mas, que dizer do custo do capital investido pelos proprietá rios da firma ou acionistas? As autoridades fiscais não permitem a dedução desse montante do rendimento total da firma. Portanto, segundo as normas fixadas pelo “Internal Revenue Service”, o contador não deduz o custo do capital dos proprietários da empresa (capital próprio). Do ponto de vista da firma como contribuinte, esse procedimento é lógico. Suponhamos, por exemplo, que a empresa obtenha uma receita total de $500.000, sendo suas despesas totais, com exclusão do custo do capital próprio, de $350.000. Seu lucro é, portanto, de $150.000. Admitamos ainda que os proprietários tenham investido $500.000, que poderiam ter rendido 6% num investimento de risco relativamente pequeno. Se o contador lançasse os 6% ou $30. 000 como despesa, o lucro total da empresa seria tão-somente de $120.000. Entretanto, o rendimento tributável da firma seria de $120.000 (lucro) + $30.000 = $150.000. As autoridades fiscais não fazem distinção alguma entre “lucro” e “juros”, para efeito de pagamento de imposto, pois êste é tributo lançado sobre rendimentos e não sobre o lucro econômico. O administrador financeiro interessa-se pelo lucro da firma. Além dos custos explícitos, leva em conta todos os custos implícitos em que a firma incorre ao aplicar os fatores de produção. Os custos implícitos incluem, por exemplo, o valor de mercado dos serviços prestados pelo proprietário de uma firma individual ou pelos sócios, no caso de uma sociedade de pessoas, o valor correspondente ao aluguel dos prédios ou equipamentos pertencentes aos proprietários ou sócios da empresa e os juros que poderiam ser obtidos sobre os recursos monetários aplicados na empresa por seus proprietários. A importância dos custos implícitos evidencia-se imediatamente ao se considerar a venda de uma empresa. Suponhamos que duas firmas do mesmo ramo apresentem cada uma, no encerramento do exercício, um volume de vendas igual a $1.000.000. O lucro da firma A antes do pagamento de impostos é de $60.000, ao passo que o da firma B é de $90.000. A firma A é uma sociedade anônima, aluga suas instalações por $20.000 anuais e o seu presidente recebe honorários no total de $15.000 por ano. Os dois itens mencionados, aluguel e honorários, são despesas dedutíveis para efeito de imposto lançadas pelo contador, portanto, como custos explícitos. A nossa hipótese seguinte é a de que a empresa B é uma firma individual. Seu proprietário retira $15.000 como remuneração; pertence-lhe o imóvel em que a firma opera e as respectivas instalações têm um valor locativo de $20.000. Neste caso, o contador lançará somente a depreciação da propriedade, os impostos municipais, custos de manutenção, seguros, e se a propriedade estiver hipotecada, as prestações de juros. Suponhamos que todos esses itens totalizem $10.000. Nesta hipótese, o lucro de $90.000 da firma B omite custos implícitos de $15.000, retirados por seu proprietário a titulo de remuneração e $20.000, valor locativo líquido da propriedade. Se esses dois itens forem subtrai dos do lucro contábil de $90.000, ficará comprovado que a firma B obte ve lucros inferiores aos da firma A, sendo a diferença de $5.000. Afora a circunstância especial de venda ou fusão, a determinação do lucro da empresa como elemento distinto de seu rendimento, desempenha importante papel em questões administrativas relacionadas com: a rentabilidade da empresa comparada com a de concorrentes de proporção aproximadamente iguais, a rentabilidade relativa dos vários produtos fabricados ou distribuídos, a conveniência ou não do acréscimo de um novo produto ou da descontinuidade da fabricação de produtos já existentes. 3. Liquidez versus Rentabilidade. O administrador financeiro deve estar sempre preparado para assegurar a liquidez da firma. Literalmente falando, qualquer empresa é um devedor constante. Compra a prazo de seus fornecedores. Obtém empréstimos de instituições financeiras. Suas instalações operacionais podem ser alugadas e parte de seu equipamento arrendado de outras empresas. Na medida em que uma firma vai operando, cria-se uma obrigação fiscal para com as autoridades federais, estaduais e municipais. Se fabrica ou distribui produtos sob licença ou concessão, incorre em débito representado por royalties. Qualquer que seja a natureza de tais débitos, devem ser pagos nas datas predeterminadas. Se o pagamento correspondente não for feito na data estabelecida de vencimento, a firma passa a ser “inadimplente”. Na melhor das hipóteses, a reputação da firma fica comprometida e, na pior, o credor poderá levar a firma a encerrar suas atividades. Em essência, a liquidez é representada pelos fundos não utilizados nas operações da firma. Na realidade, o administrador financeiro “troca” rentabilidade por liquidez. Se dá ênfase excessiva à liquidez, a empresa deixa de aproveitar oportunidades que poderiam elevar sua rentabilidade. Dando destaque demasiado à obtenção de lucro, o administrador financeiro põe em perigo a capacidade da firma para pagar suas contas e títulos dentro dos prazos de vencimento. A relação entre moeda, quase-moeda e o exigível a curto prazo reflete a capacidade do administrador financeiro para manter um equilíbrio efetivo entre liquidez e rentabilidade. A “administração” dos assuntos financeiros da firma deve ser efetuada de forma a proporcionar uma disponibilidade de fundos não apenas para atendimento de necessidade interna — salários, honorários e comissões — mas, também, para saldar compromissos externos. Se o administrador financeiro for bem sucedido nessa tarefa, a firma poderá ser considerada em posição favorável de liquidez. É capaz de satisfazer seus compromissos para com terceiros. O não-pagamento de contas dentro do prazo tem efeitos desfavoráveis sobre a posição de crédito da firma. A reincidência na impontualidade pode levar a procedimentos visando a decretação da falência da empresa. III. DIMENSÕES DA ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA O administrador financeiro interessa-se pelo desempenho, tanto passado quanto futuro, da firma. Analisa os registros financeiros da companhia relativos ao último ano, trimestre ou mês, conforme exigirem as circunstâncias, e elabora a previsão das condições financeiras prováveis da empresa para os próximos meses, trimestres ou anos. A função de exame dos acontecimentos passados, essencial mente analítica, compreende o estudo do fluxo de fundos: pagamentos a fornecedores ou somas recebidas de clientes, pagamento de salários, imposto de renda etc. A mais importante tarefa do administrador financeiro — o ponto central da administração financeira — é o planejamento. Avalia as necessidades presentes e futuras de numerário, os diferentes departamentos em função das possibilidades de gerar entradas de recursos, as fontes disponíveis de capital e seus custos, as alternativas de levantamento de fundos externos e outros problemas correlatos. Estes aspectos serão expostos detalhadamente nos diversos capítulos dêste livro. Entretanto, complementado pelo é indispensável controle. Os que o resultados planejamento obtidos seja devem ser confrontados com as projeções efetuadas. Por exemplo, estará o volume real de vendas acompanhando o nível previsto para o período? Se não estiver, como poderá a firma saldar suas dívidas para com os fornecedores? Admitindo-se que o volume de vendas corresponda ao previsto, o pagamento de contas pelos clientes estará correndo na proporção prevista? Os custos de produção estarão sendo mantidos dentro dos limites estabelecidos? Estará a firma acumulando estoques, superiores ao volume exigido pelas vendas? Estas e numerosas outras perguntas acabam surgindo. Em cada um dos casos o efeito poderá ser o desequilíbrio dos planos financeiros, inicialmente formulados para o período. O único modo, de restaurar o equilíbrio entre a saída e a entrada de fundos consiste na implantação de um adequado controle de despesas e receitas. Rentabilidade O controle e o planejamento possuem um denominador comum — o lucro.Cabe ao administrador financeiro examinar com freqüência — normalmente em bases mensais ou trimestrais — as condições de rentabilidade do funcionamento da empresa. No caso da firma obter lucro, deverá verificar se a taxa alcançada é adequada e satisfatória. Cabe-lhe verificar se o desempenho da firma permitiu-lhe superar, igualar ou se colocar em posição de inferioridade em relação ao nível fixado pela administração como meta a ser atingida no período. O exame do último trimestre constitui, portanto, a avaliação retrospectiva dos planos e realização da firma nesse período de tempo. Igualmente, ao estimar as necessidades de recursos das diversas divisões, o administrador financeiro avalia: 1) a rentabilidade projetada, 2) a adequação da taxa de lucro previsto e 3) o custo financeiro de obtenção dos fundos necessários. A atribuição das funções de planejamento e controle a um só indivíduo ou sua distribuição por dois ou mais membros da administração, é mera questão de organização administrativa da empresa. Seja qual for o caso, o objetivo fundamental da administração financeira permanece inalterado, no sentido de tornar mais eficaz o uso dos recursos aplicados nas operações da firma. No desempenho da função dupla de planejamento e controle, o administrador financeiro leva em consideração três dimensões ou períodos de tempo: passado e presente, o futuro próximo ou curto prazo e o futuro mais distante ou longo prazo. 1. Diagnóstico. Como indicamos anteriormente neste capítulo, o administrador financeiro responde pela obtenção de fundos e aplicação dêstes nas operações diárias; da empresa. Para desincumbir-se adequadamente dessas tarefas, é necessário que conheça, principalmente, os fundos à disposição da empresa no momento. Em seguida, d eve estimar o movimento provável de entrada e saída de caixa nos dias ou semanas subseqüentes. Assim, passado, presente e futuro combinam-se em fluxo contínuo de fontes e aplicações financeiras de recursos. Entretanto, embora contínuo, êsse fluxo apresenta-se desigual, num período qualquer de tempo, digamos uma semana, as receitas de vendas podem exceder de muito os pagamentos feitos a fornecedores, empregados e outras pessoas, das quais a empresa adquire produtos e obtém serviços. O inverso também poderá ocorrer em período posterior. Para determinar a importância dessas flutuações do movimento de caixa e seus prováveis efeitos sobre a liquidez da firma, o administrador financeiro prepara uma projeção do movimento de caixa para um ano, digamos. Essa projeção, por sua vez, é parcelada mensalmente (e algumas vezes também em semanas), com a indicação dos valores dos fluxos positivos (saldo de caixa) e negativos (déficit de caixa). Posteriormente, o administrador financeiro compara a experiência real com a previsão originalmente formulada. Se descobrir uma defasagem substancial entre os dados reais e os que foram projetados, deverá determinar se as diferenças verificadas devem-se a elementos não considerados na projeção inicial. Ao elaborar a projeção do movimento de caixa, o administrador financeiro utiliza como ponto de partida os demonstrativos financeiros mais recentes da firma: o balanço e os demonstrativos de lucros e perdas. O balanço assemelha-se aos dados biométricos de altura, pêso, idade e sexo de um paciente, usados pelo médico como ponto de partida de sua análise. O demonstrativo de lucros e perdas é análogo, por sua vez, aos diferentes testes de pulsação, respiração, pressão sanguínea e tudo que possa dar ao médico uma idéia da anatomia de seu paciente como organismo vivo. Entretanto, o administrador financeiro poderá não se satisfazer apenas com o exame do balanço e dos demonstrativos de lucros e perdas e aceitá-los como totalmente representativos da situação corrente da empresa. Tal como o médico, o executivo financeiro deverá, em seguida, examinar os dados da vida pretérita da empresa. Deverá interpretar os dados contábeis à luz aos diferentes elementos que afetaram favorável ou desfavoravelmente as operações da companhia e que produziram os resultados expressos nos demonstrativos financeiros. 2. Interpretação. A segunda questão é a seguinte: oferece o desempenho passado da firma uma base sólida às operações previstas para os seis ou doze meses subseqüentes? Na análise anterior os demonstrativos financeiros refletem os resultados de operações passadas. São inadequados para determinar as causas específicas desses resultados. O administrador financeiro deve examinar o significado dos valores obtidos e assinalar os fatores específicos que levaram a empres a às condições atuais. Suponhamos que o lucro obtido pela Companhia XY no ano passado tenha sido substancial. Um exame mais acurado dos fatos subjacentes aos valores numéricos indica ao administrador financeiro que as vendas e os lucros da empresa se elevaram rapidamente em virtude de dificuldades que seu principal concorrente, a L. M. Inc., enfrentou ao se ver obrigado a reduzir a produção e o volume de suas vendas por vários meses, em conseqüência de uma prolongada greve na fábrica de seu principal fornecedor. A redução das vendas teve efeitos adversos sobre os lucros. No momento em que é feito o exame ao fim do último ano fiscal para ambas as empresas, a situação da XY parece bem melhor do que a da L. M. Inc. Mas, se analisarmos o que poderá ocorrer nos próximos meses, não haverá dúvidas de que o volume de vendas e a taxa de lucro da XY poderão reduzir-se, enquanto que a L. M. Inc. poderá ter esperanças de recuperar seu volume de vendas e nível de produção, assim como obter lucro adequado. 3. Planejamento. A administração financeira preocupa-se não apenas com as perspectivas do mercado e as necessidades financeiras das semanas ou meses vindouros. Ocasionalmente, a alta administração da empresa deve pensar em termos de períodos de vários anos. Há decisões a tomar que criam compromissos e obrigações que se estendem por diversos anos. A consumação de um projeto de arrendamento da fábrica, loja ou escritório envolve, normalmente, um período de cinco, dez ou mais anos. O arrendamento é apenas uma alternativa em relação à compra de uma fábrica já existente ou à construção de uma nova planta. É função do administrador financeiro estimar as conseqüências de natureza financeira de cada uma dessas alternativas. Se a companhia adquire uma fábrica já existente, é provável que o custo anual de impostos, consertos e seguros, mais os juros e a amortização da hipoteca, sejam inferiores ao aluguel anual de um prédio comparável. Entretanto, a aquisição de uma fábrica significa normalmente que a firma será obrigada a investir certa soma, ou seja, a diferença entre o preço de compra e o valor da hipoteca. Este investimento em fábrica implica no desvio de fundos que poderiam ser utilizados em outras operações da firma. Se esta não puder acumular o dinheiro necessário para o investimento (o preço de compra menos hipoteca) sem incorrer em escassez de disponibilidades, a economia representada pela compra da fábrica, em relação ao seu arrendamento, pode ser mais do que anulada pela “deseconomia” oriunda da insuficiência de recursos monetários para as atividades de produção, comercialização dos produtos e outras. Contudo, mesmo que a firma disponha de fundos inativos, em quantidade suficiente para o investimento, poderão surgir outras questões que deverão ser respondidas pelo administrador financeiro, antes de se chegar a uma decisão racional. Os mesmos problemas básicos surgem no planejamento em longo prazo da expansão de instalações para atividades de produção, seja pela compra de novas máquinas, arrendamento ou em decorrência de subcontratos efetuados com outras firmas para a produção adicional, total ou parcial. Quando se trata de pesquisa e desenvolvimento de produtos, a empresa defronta-se com alternativas iguais, ou monta instalações próprias ou contrata com outra firma a realização das tarefas necessárias. Os resultados da programação das despesas a longo prazo são expressos pelo Orçamento de Capital. Este orçamento mostra detalhadamente: 1) as despesas propostas para cada modalidade de ativo (ou seja, melhorias em plantas, máquinas e equipamentos); 2) a distribuição, no tempo, de cada uma das despesas; 3) a previsão das receitas em cada projeto de investimento; 4) o custo dos recursos a serem aplicados nesses projetos; 5) o lucro liquido, antes de deduzidos os impostos, a ser obtido pela firma na execução desses projetos de investimentos. IV. ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA NA TOMADA DE DECISÕES Um programa financeiro, como qualquer outro plano, não é melhor do que as pessoas incumbidas de sua execução. Depois do administrador financeiro ter elaborado o programa, é necessária sua aprovação pela alta administração antes de ser executado. Em seguida, os diversos chefes de departamento devem transformar o programa em um adequado conjunto de normas de ação. Freqüentemente mais fácil de se dizer do que fazer. A. Desejabilidade versus Rentabilidade Ao analisar o desempenho passado da empresa e ao preparar o programa financeiro para o futuro, o administrador financeiro raciocina principalmente em termos de custos e lucros. Expressa em cifras as atividades passadas e futuras da empresa. Políticas alternativas recebem igual tratamento e são expressas em termos de despesas, receitas e lucros prováveis, de valores monetários, portanto. Em outras palavras, o administrador financeiro indica à alta administração da empresa as somas envolvidas em cada uma das diferentes propostas ou alternativas, o custo dessas somas ou as dificuldades em sua obtenção e o lucro que se pode esperar. Basicamente, portanto, as sugestões do administrador financeiro devem orientar-se por um critério impessoal, objetivo e racional. Esse executivo procura determinar a solução que promete o maior retorno (lucro) em termos monetários e, ao mesmo tempo, assegurar a liquidez da firma. O grau de liquidez da empresa é medido em termos monetários. Oferecendo-se opção, por exemplo, pela alternativa de compra de componentes acabados ou pela produção na própria fábrica, as questões que se colocam, para o administrador financeiro, são: quanto poderemos poupar e, assim, acrescentar os lucros da firma, se produzirmos nós mesmos as peças? Qual será o custo de obtenção dos empréstimos, se não dispusermos de dinheiro para pagamento de salários e matérias -primas adicionais? Se o custo de fabricação mais o de obtenção do empréstimo for inferior ao preço pago pelos componentes produzidos por terceiros, a resposta matemática é evidente (a menos que existam outros fatores que devam ser levados em consideração): produzir internamente as peças, ao invés de adquiri-las prontas. Em termos quantitativos e impessoais, esta é a melhor alternativa do ponto de vista financeiro. Fatores Qualitativos. Existe outro aspecto igualmente importante neste campo: o aspecto qualitativo da atividade empresarial. A equação (receita menos custo igual a lucro) não reflete diretamente a ação do fator humano. Enquanto o administrador financeiro trabalha, pelo menos inicialmente, com valores monetários, os chefes de departamento devem preocupar-se com relações humanas. Clientes, fornecedores, empregados, dirigentes sindicais e os próprios executivos são pessoas humanas. Denotam emoções, atitudes, preferências e preconceitos, expressos em seu comportamento econômico na firma ou no mercado. Estas atitudes pessoais acrescentam uma dimensão qualitativa, que traz à baila o confronto do que é desejável e do que é possível ou praticável. Embora um determinado plano seja o mais desejável do ponto de vista dos lucros prováveis, pode mostrar-se pouco viável por outro motivo. O seguinte caso simplificado ilustra uma situação em que a desejabilidade de um projeto entra em conflito com a sua viabilidade. O administrador financeiro de uma companhia com receitas anuais de vendas no total de $3 milhões conclui que sua firma é demasiadamente liberal na concessão de crédito aos clientes. É muito grand e a soma de recursos imobilizados em valores a receber, sendo que parcela substancial desses valores representa contas já vencidas. Portanto, sua proposta à alta administração é a de não permitir que os clientes, cujos pagamentos estejam atrasados no fim do período de concessão de crédito, recebam qualquer mercadoria, até que as contas já vencidas sejam pagas. Insiste ainda em que se exija pagamento imediato para se aceitar novas aberturas de crédito da clientela inadimplente. Aparentemente, essa sugestão parece ser racional e válida. Suponhamos, porém, que o gerente de vendas apresente a seguinte contra argumentação. Em primeiro lugar, as contas atrasadas pertencem a clientes com longa tradição de pontualidade no pagamento de seus débitos. Infelizmente, uma queda repentina do nível local de emprego ou qualquer outra circunstância desfavorável, como o caso de condições climatéricas anormalmente adversas, provocaram redução súbita e temporária das cobranças desses clientes. A diminuição de novas entregas iria agravar, ao invés de melhorar, as perspectivas de negócio da empresa. Em segundo lugar, o gerente de vendas chama a atenção para o fato de que os concorrentes da firma adotaram política mais liberal de concessão de crédito. Tornar as condições de crédito mais rigorosas, nesta altura, poderia provocar substancial queda do volume de vendas da firma. Por último, o gerente de vendas destaca o fato de que a modificação da política de crédito poderá tender a apresentar efeitos desestimulantes na organização de vendas, que se arriscará a perder as comissões sobre vendas dos atuais clientes. Os argumentos apresentados pelo gerente de vendas podem e devem pesar, até certo ponto, nas decisões analisadas pela alta administração da empresa. Esta deve procurar decidir-se por uma alternativa que ofereça a melhor combinação entre o desejável e o praticável. B. Flexibilidade e não Rigidez Antes de tomar uma decisão final, a alta administração necessita avaliar todos os elementos envolvidos no funcionamento das diversas divisões da empresa. Uma decisão segura exige, portanto, muita flexibilidade. Embora seja importante que a empresa preserve sua liquidez, por exemplo, isto não deve constituir objetivo totalmente inflexível. Diversos fatores subjetivos e de mercado exigem com freqüência a modificação de normas rigidamente estabelecidas. No exemplo anterior, a firma poderia eliminar a defasagem entre contas a pagar e valores a receber, adotando qualquer uma das diferentes normas de ação. Poderia pedir aos seus fornecedores para prorrogarem o prazo de vencimento das contas a pagar ante as razões expostas pelo gerente de vendas. Ou poderia tentar obter empréstimo bancário a curto prazo e absorver o seu custo. Alternativamente, poderia decidir-se pela obtenção de fundos de companhia financeira a uma taxa de juros mais elevada do que a de um banco. Qualquer dessas alternativas, se bem sucedida, resultaria na manutenção das boas graças dos clientes, em especial daqueles que estivessem em más condições de liquidez. Manteria, igualmente, o moral da organização de vendas, fato de grande importância para a alta administração da firma. Maior flexibilidade também contribui para a coordenação dos esforços desenvolvidos pela alta administração. Muitas vezes, os melhores planos financeiros podem desarticular-se, ameaçando as relações entre departamentos. Este problema pode ser evitado por reuniões realizadas antes e depois da elaboração do plano pelo administrador financeiro. Um plano poderá ser eficientemente executado somente se as pessoas por ele responsáveis 1) compreenderem claramente o objetivo estabelecido e sua razão básica, 2) estiverem dispostas a desempenhar seus respectivos papéis, e 3) forem capazes de fazê-lo. C. “Feedback” no Processo de Planejamento Suponhamos que nenhuma das pessoas que trabalham na firma seja: especializada em todos os setores de seu funcionamento. Se aceita essa premissa, cada membro da administração poderá oferecer uma contribuição pessoal importante para a formulação de um programa financeiro global. E poderemos concluir que cada um dos membros da equipe terá possibilidade de melhor compreender seu papel específico, se puder fazer uma auto-análise e examinar a sua tarefa do ponto de vista da empresa como um todo. Este processo de passagem do específico para o geral, e depois do geral para o específico, assemelha-se ao que na moderna tecnologia denomina-se “feedback”: um fluxo constante em dois sentidos destinado a promover um equilíbrio entre seus componentes. Neste processo de “feedback” administrativo, a função do administrador financeiro compreende a elaboração e apresentação de sua análise financeira objetiva como meio de comunicação entre os diversos setores funcionais da empresa. O Processo de “Feedback”: Exemplo. O seguinte caso pode ilustrar a natureza do processo de “feedback” e sua aplicação a um importante problema financeiro. A Companhia XY fabrica equipamento de escritório, cujo preço varia de $500 a $10.000. Seus clientes são repartições do governo federais grandes empresas, instituições de ensino e estabelecimentos comerciais do ramo gráfico. Suas vendas, no último exercício fiscal, totalizaram aproximadamente $2,5 milhões. As vendas do corrente ano são aproximadamente 20% superiores às do ano passado. A alta administração deseja uma projeção do volume de produção, de vendas e das necessidades financeiras para o próximo exercício. Numa reunião da administração, cada chefe de divisão apresenta suas previsões referentes às perspectivas dos doze meses seguintes. O gerente de vendas está certo de poder elevar o volume de vendas em mais 20%. O chefe do setor de produção afirma que o equipamento existente é capaz de produzir êsse excedente utilizando cerca de 5 horas semanais de trabalho extraordinário. Naturalmente, prevalecendo a taxa de salário igual a uma vez e meia o salário-horário padrão para cada hora extra trabalhada. Como alternativa desse trabalho extraordinário, o gerente de produção julga-se apto a aumentar 20% do volume de atividade no caso de ser possível expandir a força de trabalho em 10% e acrescentar duas máquinas novas. O gerente de pessoal informa que a oferta de mão-de-obra no mercado pode apresentar problemas no tocante ao recrutamento dos operários necessários, e que o custo do treinamento na própria fábrica, dos novos operários, tenderá a alcançar, em média, o equivalente a três semanas de salário para cada um deles. O departamento de entregas de mercadorias afirma ser preciso arrendar espaço externo mais amplo para armazenar parte do estoque adicional de peças e matérias-primas, bem como para o maior volume de produtos acabados. Ao administrador financeiro impõe-se responder várias questões, antes de ter condições para executar sua tarefa. São elas: 1) Concordarão os atuais operários e seu sindicato em trabalhar horas extras por várias semanas? 2) Quanto custarão as duas máquinas novas? 3) Em quanto tempo poderá o gerente de pessoal assegurar, se for necessário, o recrutamento de novos empregados? 4) Existe disponibilidade de espaço externo para arrendamento em local adequado e qual será o aluguel mensal? Cada um dos participantes do processo aceita o encargo de contribuir com argumentos próprios para responder a essas perguntas em reunião marcada para a próxima semana. O administrador financeiro recebe, então, as informações e as estimativas de custos desejadas. Prepara, em seguida, uma série de tabelas indicando os diferentes custos e necessidades financeiras. Um aumento de 20% do volume de vendas, conforme demonstra o administrador financeiro, exige fundos adicionais desde um mínimo d e $75.000 até um máximo de $125.000, destinados a financiar o aumento de espaço, de estoques, da folha de pagamento e assim por diante. É de opinião que seria bastante difícil obter de fontes externas empréstimos superiores a $50.000. Convoca, então, uma nova reunião. Nessa ocasião, sugere as seguintes alternativas para exame pelos chefes dos respectivos departamentos: 1) revisão da programação de compras de matérias -primas para que se mantenha um nível mais baixo de estoques; 2) manutenção de menor suprimento de produtos acabados; 3) redução dos, estoques existentes responsáveis pela inatividade de alguns recursos, mediante a promoção de venda especial a preços inferiores aos normais; ou 4) obtenção de contratos de crédito mais liberais aos fornecedores. Ma is uma vez entra em ação o processo “feedback”. Desta vez, dirige-se do administrador financeiro para os chefes dos vários departamentos. As relações dêstes representam outra fase do processo. Este intercâmbio de ações e reações prossegue até que se chegue a uma convergência de idéias. D. O Processo de Tomada de Decisões Chegando-se ou não a um acordo, a decisão final deve ser tomada pelo presidente da firma ou pela diretoria desta, ou então por ambos. Em problemas de menor importância, esta responsabilid ade administrativa da tomada de decisões pode ser delegada a executivos de escalões menores. Entretanto, quando se trata de questões de maior importância, a palavra final normalmente é dada pelo presidente. Admitamos que o programa defendido pelo administrador financeiro — após uma série de reuniões — exija: 1) a compra de duas máquinas novas e 2) um empréstimo bancário de $50.000. No que se refere ao item (2), a negociação do empréstimo cabe, normalmente, ao presidente da firma. Sendo concedido o empréstimo, o presidente e um ou mais executivos autorizados da empresa deverão assinar o instrumento da dívida — uma nota promissória — em nome da empresa. O presidente deverá decidir se realmente deseja aprovar um investimento dessa natureza em que estará comprometida por vários anos uma parte dos recursos da firma. 1. Avaliação da Previsão de Vendas. Quais os fatores que, neste caso, devem ser levados em consideração pelo presidente da firma? Em primeiro lugar, deve decidir-se pela aceitação ou não da previsão otimista formulada pelo gerente de vendas. Cada previsão contém sempre um elemento de incerteza. Além disso, baseia-se em determinadas hipóteses relativas ao provável nível geral da atividade econômica, seja no sistema econômico como um todo, seja num de terminado setor de negócios, ou em ambos. Estará o presidente preparado para aceitar estas hipóteses? Coincidem elas com a sua própria visão das perspectivas futuras? Se não coincidirem, serão suficientemente convincentes para levá-lo a modificar seu ponto de vista? Em segundo lugar, o presidente necessita avaliar os resultados desta previsão no caso de que os fatos reais se mostrem menos favoráveis do que o previsto. Qual a importância relativa dos compromissos financeiros fixos, ou seja, o aluguel anual de um armazém? Existem alternativas que permitam reduzir os riscos, mesmo que a algum preço? Por exemplo, seria mais aconselhável pagar um aluguel mensal do que fazer um contrato anual de arrendamento para o espaço a ser usado como depósito de materiais? 2. Avaliação das Vantagens Fiscais. Em terceiro lugar, quais as vantagens ou desvantagens fiscais dos diversos caminhos possíveis? Estaria muito além dos limites de um simples capítulo introdutório a análise mais profunda de assunto tão complexo como êste. Entretanto, à guisa de ilustração, um conjunto bastante simplificado de alternativas poderá ser suficiente. Se a firma obtiver fundos por empréstimo e adquirir as máquinas, será obrigada a pagar a amortização a ele correspondente e os juros, o que poderá fazer de uma só vez ou periódica e parceladamente. O pagamento das prestações de amortização e dos juros deverá ser feito na data de vencimento, quer as máquinas sejam integralmente utilizadas, quer sejam empregadas em nível aquém de sua capacidade máxima. N o caso de arrendamento, pode-se admitir que caberá à empresa o direito de rescindir o contrato mediante notificação com três meses de antecedência. O arrendamento de máquinas normalmente envolve um pagamento mensal mais elevado do que as prestações pagas no caso de compra direta. Como indicamos anteriormente neste capítulo, o custo mais elevado do arrendamento, quando comparado com o de aquisição — se as máquinas forem utilizadas durante todo o período da vida útil projetada —, poderá ser parcialmente compensado pelo pagamento de impostos mais reduzidos. No presente exemplo, a firma poderá comprar as duas máquinas a um preço de $50.000 ou pagar um aluguel que supomos estar fixado em $15.000 anuais. Para simplificar, iremos admitir que a firma possui recursos excedentes no valor de $50.000 passíveis de serem aplicados na compra dessas máquinas. As alternativas são as seguintes: 1. Investir $50.000 ;em duas máquinas, cuja estimativa de vida útil é de cinco anos e cujo valor residual é nulo, sendo a depreciação anual de $10.000. 2. Alugar as duas máquinas e pagar, por cinco anos, o aluguel anual de $15.000. No caso (1) as despesas anuais da firma sofrerão uma redução de $5.000 e, supondo que o lucro tributável seja de 50%, a despesa relativa ao imposto de renda será da ordem de $2.500 por ano sobre essa economia de $5.000. A diferença líquida em termos de lucros depois de deduzidos os impostos será, desta maneira, de $2.500, se as máquinas forem compradas ao invés de alugadas. Por outro lado, sendo escolhida a segunda alternativa, a empresa disporá dos $50.000 para quaisquer necessidades futuras que não tenham sido previstas. Advertência. No presente caso, analisamos o papel do administrador financeiro e do presidente da empresa como indivíduos distintos. A situação pode não ser esta. Varia de uma firma para outra. Em algumas empresas, o presidente poderá incumbir-se do desempenho de ambas as funções. Em outras, o planejamento financeiro pode ser delegado a um executivo, reservando-se o presidente o direito de aceitar, modificar, ou rejeitar as sugestões apresentadas. V. RESUMO A administração financeira compreende a função dupla de planejamento e controle. Constitui importante instrumento do processo de formulação das políticas operacionais da empresa. Na execução de suas tarefas, o administrador financeiro utiliza como ponto de partida os demonstrativos elaborados pelo contador ou contadores da firma. O diagnóstico resultante da análise desses demonstrativos deverá procurar revelar as razões, favoráveis ou não, do desempenho passado da empresa. Enquanto o balanço fornece uma visão dos recursos (ativos) e compromissos (passivos) da firma, os demonstrativos de lucros e perdas indicam a rentabilidade das operações de exercícios passados. Á análise do desempenho passado da firma segue-se a interpretação de sua situação atual. A principal questão, neste caso, é a seguinte: qual a situação atual da companhia e como se compara com as demais empresas de tamanho equivalente, na mesma indústria e operando no mesmo mercado? Esta interpretação é, simultaneamente, absoluta e relativa. É absoluta no sentido de procurar determinar a solidez, ou não, da atual posição financeira da firma. A interpretação destina-se também a mostrar sob que aspectos a firma pode ser comparada, em termos favoráveis ou desfavoráveis, a suas concorrentes, bem como em que medida isto ocorre. O principal aspecto da administração financeira é a formulação da estratégia da empresa, determinando-se o uso mais adequado dos fundos à disposição da empresa no momento e procedendose à escolha da fonte mais apropriada de recursos adicionais de que o empreendimento necessitará no futuro. A análise e a interpretação dos demonstrativos financeiros constituem as bases da formulação dos planos futuros da empresa. Ao preparar a estimativa das necessidades financeiras da firma para os meses ou anos seguintes, o administrador financeiro deverá trabalhar em contato direto com os diferentes chefes de departamentos, tanto em termos individuais como coletivos. Este processo deverá compreender um “feedback” administrativo. Em primeiro lugar, é necessário colocar em termos monetários o volume de atividade previsto para cada departamento. Pela comparação das entradas mensais de caixa projetadas com as previstas para cada mês — valendo-se da projeção do movimento de caixa — o administrador poderá estimar o provável excesso ou escassez de fundos em qualquer mês em que se considere. Em seguida, deverá avaliar as várias alternativas para eliminar a defasagem entre entradas e saídas de fundos. Um conjunto de alternativas poderá ser apresentado, graças a uma combinação de qualquer dos seguintes elementos: volume de estoques, prazos de créditos concedidos por fornecedores e dos concedidos a clientes ou o volume do saldo mínimo de caixa da firma. Outra alternativa consiste em obter empréstimo de uma instituição financeira. Ocasionalmente, uma firma poderá considerar a necessidade de aumentar suas instalações físicas de operação, ou seja, edifícios, máquinas e equipamentos. No caso de máquinas e equipamentos, o administrador financeiro trabalhará com projetos de investimento cuja vida útil estimada é de três a dez ou mais anos. São investimentos que envolvem financiamento a médio prazo. Os edifícios apresentam perspectivas de vida útil bem mais prolongada, até mesmo de várias décadas. Tais investimentos são financiados por títulos a longo prazo: ações, “bonds” ou debêntures. Esses instrumentos de crédito são algumas vezes utilizados também no processo de obtenção de fundos a médio prazo. A aprovação final, modificação ou rejeição definitiva do plano ou dos planos apresentados pelo administrador financeiro cabem ao presidente da empresa. É da competência dêste a decisão final, que é tomada com ou sem a aprovação da diretoria. A tomada de decisões c om ou sem a aprovação da diretoria depende do alcance das propostas e da autoridade atribuída pela própria diretoria ao presidente. Em qualquer caso, para que sua ação seja eficaz, a alta administração deve ser competente em assuntos financeiros. A análise efetuada pelo administrador financeiro serve ainda como valiosíssimo meio de comunicação entre os vários departamentos. Proporciona um denominador comum (moeda) e um padrão uniforme de medida (custo dos fundos e rendimento). Além disso, a análise financei ra fornece à alta administração um instrumento de avaliação de desempenhos passados e dos planos futuros. Apêndice A I. A SOCIEDADE ANÔNIMA Os objetivos da administração financeira são exatamente os mesmos, qualquer que seja a forma jurídica de organização da empresa: firma individual, sociedade por quotas ou sociedade anônima: maximização dos lucros. Entretanto, os recursos colocados à disposição de uma firma de determinado vulto dependem da sua forma jurídica de organização. Isto é especialmente válido em se tratando de financiamento a longo e médio prazos. É ,neste caso que a sociedade anônima desempenha papel de relêvo. A Tab. 1.1 indica a importância relativa das três formas jurídicas de organização de empresa, em termos de volume de vendas e lucros. Natureza Jurídica A sociedade anônima é uma pessoa jurídica. Cada estado tem adotado legislação própria, ao regulamentar a emissão de certificados de incorporação quando da organização das sociedades anônimas. Embora difiram quanto a alguns detalhes, tais leis revelam grande uniformidade no que diz respeito à organização estrutural, direitos e obrigações da sociedade anônima. Como entidade criada por lei, a sociedade anônima é uma pessoa jurídica. Em outras palavras, a sociedade anônima pode mover processos e ser acionada judicialmente, pode assumir obrigações e adquirir direitos. Deve-se ressaltar, entretanto, que cada estado tem adotado leis especiais para regulamentar a organização de bancos, outras instituições financeiras, companhias de seguro e empresas de utilidade pública. 07.02- ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DE VALORES A RECEBER Como afirmamos no capítulo anterior, a maior parte das transações das empresas norte-americanas são feitas a crédito. Além disso, essas vendas a crédito são realizadas em conta corrente. Em outras palavras, a nota recebida pelo comprador é o documento comprobatório da transação e das condições por ele aceitas. Entretanto, ao contrário do pagador, no caso de um título negociável (como uma nota promissória), o devedor em uma transação em conta-corrente poderá utilizar vários recursos legais em defesa do não-pagamento; por exemplo, mercadorias defeituosas, impossibilidade de o fornecedor realizar consertos ou reposições, atrasos do vendedor no cumprimento de alguns dos itens d o contrato de venda. Assim sendo, uma transação em conta corrente envolve sempre um certo elemento de risco, além da possibilidade de falência do cliente; é possível que o pagamento não seja efetuado na data do vencimento e que possa haver uma perda considerável de tempo e custos elevados, envolvendo ações legais para a cobrança da dívida. Em geral, as vendas a crédito significam que o vendedor está financiando a compra de seu cliente, por um período que vai do envio da mercadoria até o recebimento da quantia expressa na nota de compra. Todo e qualquer volume de vendas a crédito transforma-se automaticamente em igual montante de valores a receber, nos lucros contábeis da firma vendedora. Este capítulo procura examinar o papel do administrador financeiro na formulação de uma política empresarial de vendas a prazo e práticas de concessão de crédito. I. CAUSAS DA EXISTÊNCIA DE VALORES A RECEBER O objetivo do administrador financeiro consiste em manter um equilíbrio entre a demanda dos clientes que dá origem a vendas a crédito e a oferta de fundos (recursos) da firma em um nível de vendas capaz de maximizar os lucros e reduzir a um mínimo os riscos assumidos; examinaremos, primeiramente, os fatOres determinantes da procura dos clientes interessados nas vendas a crédito. A. Análise da Demanda de Bens Vendidos a Prazo A procura dos produtos de uma empresa é influenciada substancialmente pelos prazos de concessão de crédito oferecidas aos seus clientes. Estes dispõem de uma certa quantia em mãos, quer se trate de empresas ou de consumidores finais. Se suas compras forem superiores a essa, disponibilidade de caixa, poderão conseguir a diferença mediante transações a crédito. Esse crédito pode ser fornecido pela firma vendedora ou por uma instituição financeira em condições de adiantar as somas necessárias. A empresa que compra a crédito, pretende saldar seus compromissos (contas a pagar) com o resultado da venda das mercadorias por ela oferecidas no mercado. Assim, a disposição da firma vendedora ao aceitar o pagamento dentro de 30 dias após o recebimento da nota pelo cliente, por exemplo, significa conceder a êste último aproximadamente um mês para realizar a venda de seus produtos e obter, os recursos suficientes para saldar sua dívida. Se êsse cliente obtiver um prazo de 60 dias para realizar êsse pagamento, a probabilidade de revenda dentro desse período será evidentemente superior, à de apenas um mês. Quanto mais liberais as condições de crédito, maior será a probabilidade de aumento das vendas — no caso de o cliente sentir-se razoavelmente seguro de vender seus produtos antes do prazo de concessão do crédito; ou, alternativamente, de poder recorrer a um empréstimo bancário para efetuar os devidos pagamentos ao fornecedor. Influências caracteriza-se por Cíclicas. O um conjunto nível de de atividade oscilações econômica denominado ciclo econômico. Suas quatro principais fases são: 1) expansão ou prosperidade, 2) declínio, 3) depressão, 4) recuperação. Ao mesmo tempo em que o sistema econômico experimenta a repetição dessas oscilações, para cima e para baixo, cada indústria também passa por essas mesmas quatro fases. Entretanto, a amplitude da oscilação entre o máximo de prosperidade e o mínimo da recessão ou depressão, bem como a duração de cada uma das fases ou do ciclo completo diferem de indústria e de uma indústria em relação à economia como um todo. Nas fases de declínio e depressão, o índice de insolvabilidade e falências eleva-se substancialmente. A firma que vende a crédito assume, portanto, maior risco de prejuízos resultantes de dívidas incobráveis. Contas consideradas aceitáveis em termo de risco na fase de prosperidade, poderão apresentar-se menos favoráveis na fase de declínio. Neste caso, impõe-se ao administrador financeiro determinar as possibilidad es de a firma assumir riscos de não-pagamento de contas e de absorver os prejuízos decorrentes de dívidas incobráveis, e em que medida tal poderá ocorrer. O primeiro sintoma visível da recessão econômica consiste, normalmente, em uma redução acentuada das vendas, freqüentemente acompanhada de uma queda de preços e lucros. Se a firma decidir restringir suas vendas a crédito somente aos clientes que representam menores riscos, poderá automaticamente perder uma parcela substancial de sua clientela, o que resultará em maior agravamento da redução das vendas e dos lucros. Outra alternativa consistiria em tentar resistir à queda do volume de vendas mediante a concessão de crédito mais liberal a todos os clientes regulares da firma. Entretanto, pode ocorrer que nes te caso o banco, ou companhia financeira, não estejam dispostos a proporcionar os empréstimos necessários. Portanto, em um período de recessão, uma das responsabilidades do administrador financeiro consiste em estimar até que ponto sua empresa poderá avançar para satisfazer à procura de crédito de seus clientes. Entretanto, também os períodos de recuperação e prosperidade criam problemas para o administrador financeiro. Em primeiro lugar, existe a tendência de novas firmas entrarem no mercado, quando os negócios encontram-se em fase ascensional. É perfeitamente concebível que um novo estabelecimento seja mais progressista e agressivo em seus métodos de comercialização. Em conseqüência, esses clientes em perspectiva poderão exigir condições mais liberais de crédito para sustentar seu crescente volume de vendas. O administrador financeiro é responsável pela atitude assumida pela firma na concessão de crédito, tanto a novos clientes, quanto aos mais antigos. Além disso, mesmo dentre os clientes antigos, a taxa de expansão deverá variar em períodos de recuperação ou prosperidade. Nessas circunstâncias, é igualmente necessário que se determine a medida em que uma firma poderá atender à procura adicional de produtos vendidos a prazo. B. Variações Sazonais Na maior parte dos ramos de atividade, o volume de vendas sofre influências favoráveis ou desfavoráveis, decorrentes de modificações sazonais. Enquanto os aparelhos de ar condicionado são vendidos, com certa facilidade, no final da primavera, muito poucos são negociados nos meses mais frios do ano, período em que se registram os níveis máximos das vendas de aquecedores a gás ou a óleo. As festas de Páscoa e Natal exercem fortes influências sazonais sobre os gastos dos consumidores na compra de presentes. Do ponto de vista do administrador financeiro, as variações sazonais do volume de vendas dos clientes da firma apresentam as seguintes implicações. Sendo previsto um aumento sazonal do volume de vendas, os clientes da empresa tenderão a fazer encomendas maiores, com instruções para entrega no início da temporada, ou mesmo antes. Além disso, em muitos casos, tanto o comerciante atacadista como o varejista, desejam obter uma linha completa (isto é, maior seletividade) e um estoque amplo de cada um dos produtos, tendo em vista a maximização do seu potencial de vendas, no momento em que a demanda sazonal alcançar seu nível máximo. Para a firma, isto significa que a procura de mercadorias a crédito também se elevara substancialmente. O fator estacional decorre da estrutura básica do fator cíclico. Assim, se a projeção efetuada indicar um crescimento generalizado da economia ou de uma determinada indústria, a influência sazonal deverá provocar um correspondente efeito intensificador. Em conseqüência, o administrador financeiro deverá prever um crescimento das vendas e da demanda de transações a crédito atribuído, em parte, à expansão cíclica da economia e, em parte, ao elemento sazonal. Ao mesmo tempo, o administrador financeiro necessita estimar o aumento dos fundos exigidos pelo maior volume de produção – ou, no caso de uma firma distribuidora, de estoques — que antecede essa venda mais intensa. O passo subseqüente consiste em determinar o grau de adequação dos recursos possuídos pela firma para: 1) assumir os compromissos representados por um maior volume de compras e 2) financiar os valores a receber até que sejam cobrados. É perfeitamente concebível que a projeção de vendas, cobranças e lucros da firma não seja compartilhada pela sua fonte tradicional de fundos (por exempl o, um banco ou uma companhia financeira). Nesses casos, uma política empresarial errônea seria estimular o departamento de vendas a aceitar tantas encomendas quanto possível e, em seguida, deixar de entregar as mercadorias, por não estar a firma em condições de conceder crédito, mesmo a clientes que não Inversamente, seria uma tolice representam riscos muito grandes. — em termos de oportunidades desperdiçadas de lucros — restringir antecipadamente o volume de encomendas porque a administração da empresa não poderia dispor de fontes externas de fundos, a curto prazo, em volume suficiente. Como as variações sazonais são, por natureza, acontecimentos que se repetem periodicamente, até certo ponto previsíveis, o papel do administrador financeiro pode ser prontamente definido. Qual aumento das vendas sazonais a crédito poderá ser esperado pela firma, e qual o volume máximo capaz de financiar, recorrendo às mais diversas fontes? C. Condições de Crédito e Concorrência A concessão de crédito, em comparação com uma transação a vista, significa uma redução invisível de preço. Suponhamos que a Companhia ABD receba duas ofertas de mercadorias de crédito a preços idênticos, uma delas devendo ser paga no momento do recebimento da mercadoria, e outra após trinta dias. Permanecendo constantes outros fatores, não há dúvida de que a Companhia ABD escolherá a oferta que possibilita o pagamento dentro de 30 dias. Como se vê, a concessão de crédito é um importante instrumento de concorrência no mercado. Na verdade, algumas firmas podem estar dispostas a pagar um preço ligeiramente mais alto, em troca de condições de crédito mais liberais. Este fato deve ser observado na prática adotada por muitas firmas de fixar dois preços distintos: um, a vista e outro, a crédito. Uma das técnicas consiste, por exemplo, em fixar um preço de $5 e oferecer um desconto de 1%, no caso do pagamento ser efetuado dentro de 10 dias e, estabelecendo prazo máximo de 30 dias para pagamento sem desconto. Embora cada firma estabeleça suas próprias condições de venda, estas são, em grande parte, determinadas pela concorrência. Em um mercado concorrencial, a estrutura básica das condições de venda tende a ser relativamente uniforme. Ao mesmo tempo, porém, uma firma poderá modificar suas condições de venda, no intuito de conseguir vantagem em relação a seus concorrentes. Analisando novamente o problema do ponto de vista do administrador financeiro, surgem de imediato duas questões. Em primeiro lugar, qual a vantagem que uma firma poderá oferecer a seus clientes, n o caso de um pagamento dentro de 10 dias? Em segundo lugar, qual será o custo em juros, reais e estimados, e de outras despesas possíveis, se a firma concordar em manter a conta aberta por 30, 45 ou mais dias? Esses problemas constituem-se em uma reafirmação, em termos financeiros, do princípio econômico da utilidade marginal — o acréscimo de receitas líquidas decorrente do crescimento das vendas, possibilitado pela concessão de crédito — em relação à desutilidade marginal, representada pelo custo do financiamento dessas vendas adicionais. II. AVALIAÇÃO DE VALORES A RECEBER Para muitas firmas, os valores a receber representam o item mais vultoso dentre seus ativos correntes, diferindo dos demais por substancial margem. A liquidez desses ativos — refletida na taxa de entrada de pagamentos, comparada com o prazo concedido pela firma — determina, em grande parte, a capacidade da firma para saldar seus compromissos em relação a fornecedores de matérias--primas e fontes de recursos financeiros. O papel estratégico dos valores a receber exige do administrador financeiro uma avaliação periódica da política creditícia da empresa. Classificação de Clientes Os dados relevantes para êste trabalho são extraídos dos registros de vendas da firma. O primeiro passo consiste em dividir os clientes em categorias, segundo vários tipos. Dependendo do mercado em que a firma opera, seus clientes normalmente situam-se em uma ou mais das quatro categorias básicas abaixo apresentadas: 1) instituições não empresariais, ou seja, organismos governamentais (federais, estaduais e municipais) e seus departamentos, agências e repartições; sociedades de fins não-lucrativos (universidades, organizações de pesquisa, associações de caridade, hospitais, entidades religiosas e outras organizaçõe s semelhantes); 2) empresas privadas, clientes compradores dos produtos da firma para utilização direta; 3) distribuidores, ou seja, atacadistas e varejistas que compram para revenda a outras empresas ou a consumidores finais; e 4) consumidores finais. Cada uma dessas quatro categorias pode ser subdividida em grupos mais específicos. Proceder-se ou não a um,a classificação mais detalhada dependerá das operações da firma ou de suas experiências anteriores. O objetivo da classificação dos clientes é duplo. Pr oporciona ao administrador financeiro um instrumento estatístico para medir o provável período de tempo (dias) necessário ao pagamento das compras de determinados tipos de clientes. Em segundo lugar, permite a avaliação da qualidade de algumas contas. Deve ser salientado que um cliente que normalmente não paga suas contas no vencimento ou antes dêste prazo, não representa, necessariamente, elevado risco de crédito. Na verdade, alguns clientes que representam menores riscos, podem ser pagadores de contas reconhecidamente lentos. As prefeituras de algumas das maiores cidades do país são conhecidas pelo seu habitual atraso no pagamento de compras de bens ou serviços; às vezes levam seis ou mais meses para saldá -las. Isto, de certo modo, pode ser atribuído ao excessivo trabalho burocrático realizado em um dado departamento, até que o pagamento da conta seja aprovado e processado. Situação semelhante encontra-se em alguns dos departamentos do Governo Federal. Mesmo em grandes firmas, não é raro o fato de uma divisão fazer uma compra e, posteriormente, pedir ao vendedor para pós-datar de 30 dias ou mais a nota de compra, visto seus recursos já estarem comprometidos em outras atividades, nos dois ou três meses subseqüentes. Mediante a classificação das vendas por tipos de clientes e por período decorrido, da data de vencimento à de pagamento, poderá o administrador financeiro ter uma imagem realista da taxa de liquidez dos vários tipos de valores a receber. Esta informação, por sua vez, fornece uma base para a estimativa do período de tempo em que essas contas atrasadas deverão ser financiadas. 1. Instituições não Empresariais. A Tab. 5.1 apresenta uma especificação de clientes não empresariais, realizada por um fabricante de equipamento especializado para escritório, cujos clientes incluem-se em todas as categorias anteriormente mencionadas. Esta companhia classifica suas vendas segundo: a) o tipo de cliente, b) o valor das vendas anuais, c) o período de tempo decorrido até o pagamento e d) a percentagem do total vendido, representada pelos pagamentos recebidos em diferentes prazos. Ao analisar essa tabela, o administrador financeiro examina, em primeiro lugar, a linha inferior. Verifica que 35% de todas as contas foram pagas no período de 10 dias. No outro extremo, acima de 60 dias, percebe que 10% das vendas foram realizadas a clientes classificados nessa categoria. Analisando a coluna correspondente, observa que as prefeituras municipais foram as que mais se atrasaram no pagamento. O mesmo pode ser feito para outros períodos e percentagem de todas as contas. A próxima seção deste capítulo analisará as várias alternativas que podem ser exploradas pelo administrador financeiro para reduzir o “período de espera”, ou, não sendo isto possível, para levantar os fundos necessários para o financiamento dos clientes que mais se atrasam em seus pagamentos. É necessário chamar a atenção do leitor para a importância da especificação existente na Tab. 5.1, no processo de análise das alternativas existentes. Todas as encomendas do Governo Federal e seus departamentos ou agências estipulam, expressamente, que o vendedor não pode transferir os seus direitos a terceiros. Esse dispositivo contratual impede automaticamente, que a firma vendedora obtenha empréstimos em uma companhia financeira ou de um comissário, os quais exigem que o empréstimo seja garantido pela transferência desses direitos. Entretanto, essa cláusula não proíbe a firma de conseguir um empréstimo bancário, visto muitos bancos comerciais concederem empréstimos não-garantidos, ou seja, sem a adjudicação específica ou penhora de valores a receber, por exemplo. A classificação dos clientes é uma das formas de orientação, utilizada pelo administrador financeiro ao elaborar seus planos. Outra vantagem reside no fato dessa análise de clientes conduzir freqüentemente, a um reexame da política de vendas. Por exemplo, uma revisão das condições de venda para uma repartição governamental ou associação de fins não-lucrativos, ampliando o prazo de desconto de 10 para 20 dias, poderá ocasionalmente fazer milagres. Elevando a vigência do desconto para 20 dias, a firma poderá aumentar substancialmente a probabilidade da nota de compra chegar até o encarregado do pagamento, antes desse prazo ter-se esgotado. Muitas vezes, essas notas recebem aprovação para pagamento, enquanto outras, que ultrapassaram o estipulado são arquivadas, retardando-se, então, seu pagamento por várias semanas, ou mesmo por alguns meses. A principal razão desta desigualdade de tratamento dos fornecedores reside na complexidade do processo burocrático. As faturas devem passar por vários níveis administrativos até chegarem às mãos da pessoa encarregada de autorizar o pagamento. Enquanto alguns departamentos podem processar faturas, com relativa rapidez, seja por possuírem uma equipe adequada ou trabalharem com um número relativamente pequeno de notas, outros exigem períodos consideráveis de tempo para a mesma atividade. 2. Empresas Privadas. Num certo sentido cada firma é um “consumidor” de bens duráveis. Máquinas, ferramentas, móveis e muitos outros itens representam os ativos fixos de uma empresa. São adquiridos para expandir a capacidade instalada de produção ou para substituir ativos totalmente inúteis. A compra desses ativos, que possuem uma vida útil de alguns anos, é muitas vezes “financiada” pelo vendedor mediante a concessão de um crédito por vários meses, ou estabelecimento de um contrato de compra a prestação pelo período de um ou mais anos. No último caso, o vendedor normalmente consegue de antemão, vender os títulos comprobatórios da venda a prazo a uma instituição financeira, um banco ou companhia financeira, por exemplo. O efeito é idêntico ao de uma transação a vista, exceto, no tocante ao fato do vendedor poder ser obrigado a assumir o compromisso do pagamento no caso do comprador não pagar a mercadoria adquirida. Se a venda fôr a prazo, o vendedor deverá decidir-se quanto à manutenção da conta até o vencimento da fatura ou a tomada de empréstimos garantidos por valores a receber, em uma instituição financeira, pagando os custos daí resultantes, ou seja, os juros do empréstimo. 3. Distribuidores. Os comerciantes atacadistas e varejistas são agentes intermediários. Compram mercadorias para revender. A taxa de rotação de estoques e das condições de suas vendas determinam, em grande parte, a possibilidade de aproveitar o desconto oferecido pelo vendedor das mercadorias, no caso de pagamento a vista. Muitos atacadistas operam em áreas geográficas que abrangem parte de um estado, diversos estados, ou toda uma região do país. Cada atacadista deverá ajustar suas condições de venda às condições vigentes no comércio varejista, de sua área de ação. Estas condições, no entanto, variam de estado para estado e de região para região. Em uma área predominantemente agrícola, os varejistas concedem créditos por períodos consideravelmente longos aos seus clientes-fazendeiros. Por sua vez, os varejistas esperam que as condições oferecidas pelos atacadistas sejam mais liberais. Os varejistas de centros urbanos, com exceção das g randes lojas especializadas e das lojas de departamentos, vendem a prazos mais curtos. Um fabricante que vende seus produtos por intermédio de atacadistas, em diferentes regiões econômicas, poderá verificar que seus distribuidores apresentam distintos padrões de comportamento em relação ao pagamento de suas contas. Alguns aproveitarão os descontos oferecidos no caso de pagamentos a vista. Outros, freqüentemente, excederão o prazo estipulado, em virtude de condições locais do comércio varejista. Os registros financeiros da empresa poderão ou não revelar as diferenças de comportamento dos clientes no tocante ao pagamento de suas contas, decorrentes de práticas comerciais locais ou regionais. Se tal ocorrer, uma especificação regional dos clientes atacadistas p ermitirá ao administrador financeiro verificar, prontamente, dois fatos: 1) os montantes relativos às regiões em que os pagamentos são efetuados com maior lentidão e 2) a defasagem entre o prazo normal oferecido pela firma — 30 dias, por exemplo — e o número de dias realmente decorridos até o pagamento ser recebido. Além disso, o administrador financeiro poderá elaborar uma projeção da taxa de entrada de caixa dos diferentes territórios, baseado na previsão do gerente de vendas relativa ao volume de transações das várias regiões. Suponhamos que o gerente de vendas de uma firma preveja, para a região D, 10% das vendas no próximo ano. Admitamos ainda que no ano anterior, a média do período transcorrido desde a data da entrega das mercadorias até seu efetivo pagamento tenha sido de 50 dias. O administrador financeiro poderá, então, estimar que, no próximo exercício fiscal, dez por cento de todos os valores a receber terão um pagamento “lento”, admitindo-se ser de 30 dias líquidos o prazopadrão de crédito da firma. O mesmo processo aplica-se a fabricantes e atacadistas que vendem a comerciantes varejistas. Neste caso, uma nova classificação dos varejistas por região, poderá revelar tendências de afastamento das condições normais de crédito da empresa. 4. Consumidores Finais. Os varejistas que vendem a prazo a consumidores finais, defrontam-se com um problema mais sério do que os fabricantes e atacadistas que também assim procedem. As únicas exceções referem-se aos varejistas que operam segundo determinados planos de venda a prestação, e que tenham efetuado contratos prévios para financiamento integral desse plano com instituições financeiras. Nesses casos, o administrador financeiro não se defronta com problema algum. O consumidor paga a vista ou assina um contrato de comprar a prazo, que em seguida é transferido para a instituição financeira. Esta última entrega ao varejista o valor nominal da conta e responsabiliza-se pelos custos de cobrança e os riscos de não-pagamento. Esses custos são cobertos pela diferença entre os juros fixados no contrato e a taxa normal de juros de empréstimos bancários, ou por um desconto sobre o valor nominal da conta. Uma parcela substancial do crédito ao consumidor concedido pelo comércio varejista assemelha-se às transações em conta-corrente realizadas entre empresas. Por exemplo, muitos varejistas oferecerão crédito por três meses, sem juros, se um terço do valor da compra for mensalmente pago. Outra modalidade de crédito é representada pela “charge account” sem despesas de juros, se o pagamento fôr efetuado dentro de 30 dias a contar do recebimento da nota. Freqüentemente, muitos varejistas anunciam vendas a crédito fora de estação, sem entrada e com parcelamento do preço, em duas ou três prestações, a partir do início da estação, embora esta possa estar distante vários meses. Os varejistas de equipamentos de calefação normalmente oferecem-se para fazer a instalação na primavera, sendo o pagamento iniciado no outono. Ao contrário de muitas empresas, o consumidor médio pouco se preocupa com atrasos no pagamento de compras a crédito. Isto ocorre, principalmente, em transações a crédito entre varejistas e consumidor, mas igualmente se registra em contratos de venda a prestação. A avaliação periódica da experiência da firma em relação à concessão de crédito direto ao consumidor toma-se, portanto, problema de grande relevância para o administrador financeiro. Na verdade, o varejista pode e deve conseguir uma linha de crédito de uma instituição financeira, para financiar as contas de seus clientes. O varejista, entretanto, responsabiliza-se por quaisquer falhas no pagamento pelo cliente. Além disso, espera-se que o varejista restitua o montante do empréstimo nos prazos estabelecidos. Se suas receitas não se verificarem no momento e volume previstos, poderá encontrar-se em uma situação que não lhe permita saldar seus compromissos dentro dos prazos estipulados. Mediante uma análise do registro dos vários tipos de crédito e do ritmo de entrada de caixa desses valores a receber, o administrador financeiro poderá ter uma visão importante da magnitude e da modalidade dos fundos a curto prazo, necessários a financiamentos das vendas a crédito. Poderá negociar empréstimos com prazos que coincidam quase que perfeitamente com os períodos reais de crédito e não com os prazos contratuais concedidos aos clientes da empresa. III. APERFEIÇOAMENTO DA ESTRUTURA DE VALORES A RECEBER O levantamento de fundos externos para financiamento de vendas a crédito, a curto prazo, não apresenta maiores problemas para o administrador financeiro de uma grande empresa, que vende somente a outras firmas. Pelo menos neste caso, uma grande empresa poderá, normalmente, estar segura quanto à obediência de seus clientes às condições de crédito fixadas. Os clientes mais importantes costumam pagar suas contas sem atraso, aproveitando-se dos descontos que lhes serão oferecidos, ou efetuar seus pagamentos na data de vencimento. As firmas menores procurarão não colocar em risco sua posição creditícia perante um grande fornecedor, esforçando-se para efetuar pontualmente seus pagamentos. É bastante difícil, portanto, que uma grande empresa encontre dificuldades na obtenção de empréstimos bancários a curto prazo para financiar seus valores a receber. A pequena empresa goza de poucas dessas vantagens. Seus clientes de maior porte deverão, também nesse caso, aproveitar -se do desconto por pagamento a vista ou pagar até a data de vencimento. Entretanto, os clientes menores não hesitarão em se atrasar no pagamento de suas contas. Um plausível motivo é o fato de o pequeno fornecedor estar freqüentemente sob pressão concorrencial, tanto em relação a preços, quanto condições de crédito, ou mesmo ambos. Além disso, o pequeno fornecedor, ao contrário da grande empresa não suspende com facilidade o crédito concedido a um cliente habitualmente atrasado em seus pagamentos, caso não haja possibilidade de insolvência do devedor. Finalmente, a pequena empresa nem sempre pode contar com empréstimos bancários em volume suficiente para o financiamento de seus valores a receber. Em conseqüência, seu administrador financeiro estará sempre envidando esforços para reduzir o volume de valores a receber, sem criar obstáculos ao potencial de, vendas da empresa. Se fôr bem sucedido, poderá proporcionar duas vantagens à sua firma: o volume de valores a receber a serem financiados por empréstimos a curto prazo se reduzirá; além disso, a capacidade de obtenção de fundos a custos mais baixos e de uma parcela maior de seus valores a receber tenderá a ser apreciavelmente superior. Existem várias alternativas capazes de proporcionar ao administrador financeiro meios de alcançar êste duplo objetivo. 1. Modificações do Desconto no Caso de Pagamento a Vista. Uma das alternativas envolve aumento do desconto de caixa, oferecido no caso de pagamento de contas dentro de um período estabelecido. Assim, ao invés de oferecer, por exemplo, um desconto de 1%, poderá a firma julgar que um aumento para 1½% induzirá apreciável número de clientes a aproveitar essa maior vantagem. O administrador financeiro verificará que mesmo um modesto aumento da taxa do desconto de caixa representa substancial elevação do custo de concessão de crédito pela empresa. Assim, se as condições oferecidas pela firma forem de 1% em 10 dias, e 30 dias líquidos, ela estará indiretamente pagando aos seus clientes uma taxa anual de 18%, pelo fato de dispor do numerário somente 20 dias antes da data de vencimento. Se a taxa de desconto for elevada para 1,5%, para pagamento dentro de 10 dias, o efeito dessa alteração correspon derá a uma taxa anual de 27%. Evidentemente, se a firma puder obter empréstimos de uma instituição financeira a 8% ao ano, por exemplo, será melhor não oferecer desconto algum, mas esperar até o pagamento das contas na data de vencimento. Entretanto, o administrador financeiro não poderá deixar de reconhecer a existência de dois fatores que levam a firma a oferecer um desconto de caixa bastante superior à taxa cobrada pelos bancos e outras instituições financeiras. Um deles é a concorrência existente entre vendedores. Na maior parte dos ramos de atividade, uma tradição de há muito estabelecida, é a de as firmas oferecerem descontos de caixa. Quaisquer que sejam as condições normais vigentes em sua indústria, uma dada firma deverá geralmente aceitar tais condições como diretrizes de sua política nesse setor. Portanto, uma empresa que disponha de recursos internos suficientes para financiar os 20 dias adicionais da concessão de crédito, renunciando à oferta de um desconto de caixa, estará mais propensa a perder clientes, que se dirigirão aos seus concorrentes. Muitos clientes consideram esses descontos como uma parcela substancial da sua própria margem de lucro. Outro fator importante é a capacidade da firma obter empréstimos de fontes externas, em quantidade suficiente para saldar seus compromissos com fornecedores e financiar suas contas até a data de vencimento dos valores a receber. Explica, em grande parte, a prática adotada na concessão de descontos e a magnitude dos descontos oferecidos nas diferentes indústrias. Em uma indústria dominada por poucas empresas de grande porte, as condições podem ser de 1½% para pagamentos dentro de 10 dias, sem desconto, no caso de pagamentos efetuados até 30 dias; entretanto, em uma indústria caracterizada por um grande número de firmas relativamente pequenas, as condições podem ser de 11/2% para pagamentos dentro de 10 dias e sem desconto para pagamentos realizados até 30 dias. Embora exista uma tendência no sentido de uniformização das condições de crédito em uma indústria, pelo menos em uma área geográfica limitada, tal não significa que uma firma não possa oferecer condições mais liberais a seus clientes. Mediante a elevação do desconto de 1% para 1½%, a empresa oferece, na verdade, o equivalente a mais 9% ao ano. O administrador financeiro deverá comparar o preço que a firma paga pela utilização dos recursos, em menor período de tempo — ao final de 10 e não de 30 dias com o custo da obtenção de fundos em fontes externas. Além disso, deverá analisar a vantagem, em termos de vendas, proporcionada pelo aumento do desconto. Também deverá levar em consideração a outra face da moeda. Em outras palavras, é concebível que a vantagem obtida em termos de aumento do volume de vendas possa constituir-se em um ganho apenas temporário, no caso de os concorrentes oferecerem as mesmas condições de crédito. A determinação da provável reação dos concorrentes é a principal responsabilidade dos membros da administração encarregados da formulação de políticas de comercialização. Se a decisão tiver sido a de experimentar uma política mais liberal de concessão de crédito, o administrador financeiro deverá comparar o preço pago ao comprador pela antecipação do pagamento com as poupanças da firma decorrentes da obtenção de empréstimos pelo prazo de apenas 10 dias, e não de 30. A antecipação do pagamento pelos clientes, em virtude da oferta de um desconto mais elevado, poderá redundar em importante vantagem auxiliar ao vendedor, sob a forma de maior capacidade de obtenção de empréstimos. Suponhamos que os ativos e passivos correntes de uma firma possibilitem a obtenção de um empréstimo a curto prazo, no valor máximo de $100.000, à taxa de 6,% ao ano. Neste caso, pareceria ser mais proveitoso para a firma, utilizar a totalidade do empréstimo oferecido e financiar seus valores a receber por 40 dias, ao invés de proporcionar a seus clientes um desconto de 1%, válido por 10 dias. As receitas líquidas de vendas aumentariam de 1%, admitindo que o cancelamento do desconto não exercesse qualquer efeito desfavorável sobre o volume de vendas. Suponhamos que uma parcela significativa das contas não seja paga no fim de 30 dias, mas que se atrase, 10, 20 ou mais dias. Isto automaticamente reduzirá, em idêntico montante, o volume de novas vendas que poderiam ser financiadas no segundo mês, visto a firma já ter alcançado o limite de crédito de $100.000 e não poder, ao mesmo tempo, financiar contas atrasadas e mais $100.000, representados por vendas adicionais. A perda desse volume potencial de vendas facilmente poderá superar o custo implícito em um desconto mais liberal de caixas. 2. Prorrogação do Prazo de Desconto. Outra alternativa referese a prorrogação do período de validade do desconto. Por exemplo, a empresa pode oferecer desconto a pagamentos efetuados dentro d e 30 dias, sendo possível o pagamento sem desconto até 45 dias. Este tipo de procedimento freqüentemente é eficaz para acelerar os pagamentos feitos por agências governamentais e instituições de finalidades não -lucrativas. Como já foi dito, o encarregado da autorização do pagamento poderá não receber a nota de compra antes do término do período tradicional de 10 dias, para pagamento com desconto. Este indivíduo pouco teme em relação a uma possível perda de reputação creditícia do organismo governamental ou instituição de fins não-lucrativos, decorrente de um atraso no pagamento de contas. Como também já foi observado, as ?aturas que concedem desconto por um período suficientemente extenso para contrabalançar o atraso decorrente de processamento burocrático, apresentam maior probabilidade de serem pagas, de imediato, do que outras faturas cujo prazo de vencimento estejam mais próximas. Estas últimas, indubitavelmente, serão pagas, mas talvez com um atraso de algumas semanas ou mesmo meses. Nas empresas de maior porte tem sido dado um enfoque diferente ao pagamento de notas de compra de mercadorias. Este enfoque resume-se na prática de se insistir em que as faturas e as condições de crédito refiram-se ao último dia do mês (FDM — “fim do mês”) em que as mercadorias são recebidas. Por exemplo, a firma entrega as mercadorias ao cliente no início do mês, oferecendo um desconto de 1%, para pagamento em 10 dias, e sem desconto para pagamento em 30 dias, “FDM”. O período de dez dias, para desconto inicia-se, portanto, no primeiro dia do segundo mês, e os 30 dias para pagamento sem desconto coincidem com o último dia desse mesmo mês. Mediante a oferta de condições “FDM”, a firma poderá estimular alguns de seus clientes a efetuar pagamentos a vista, com desconto, em uma data anterior à do pagamento feito, em outras circunstâncias. Basicamente o faturamento “FDM” provoca as mesmas conseqüências oriundas de um aumento médio do prazo de desconto para 15 dias. A diferença essencial reside no seguinte: uma prorrogação do prazo d e desconto é aplicada uniformemente a partir da data real de entrega. Por exemplo, um prazo de 20 dias para desconto de 1% inicia-se no dia em que o cliente recebe os produtos. Por outro lado, um prazo de dez dias para desconto idêntico, “FDM”, pode representar um prazo máximo de 40 dias, se as mercadorias forem entregues no primeiro dia do mês, e um mínimo de 15 dias, se entregues no dia 25 desse mês. O problema com que se defronta o administrador financeiro pode ser colocado nos seguintes termos: Se a firma adotar o faturamento “FDM”, quantos clientes anteciparão seus pagamentos, aproveitando o desconto oferecido? Inversamente, quantos utilizarão integralmente o prazo de trinta dias, a contar não da data de entrega, mas do final do mês? As respostas a estas duas questões fornecerão os elementos para a determinação do andamento do nível médio de valores a receber, em função de um dado volume de vendas, decorrente da prorrogação do prazo de concessão de crédito. Uma prorrogação do período de validade do desconto objetiva, normalmente, acelerar os pagamentos dos clientes habitualmente atrasados. Apesar disso, provoca um retardamento dos pagamentos dos clientes pontuais, visto aproveitarem os benefícios do período mais dilatado, além de um desconto mais alto. Cabe ao administrador financeiro comparar ai vantagens e desvantagens dessa política. 3. Política de Compras. O problema do financiamento de valores a receber pode ser minorado por uma modificação na política de compras, com vistas a ampliar o prazo para pagamento das contas devidas pela empresa. Neste caso, o administrador financeiro necessitará de fundos a curto prazo para saldar os compromissos da firma com seus fornecedores, bem como para pagar outras despesas correntes, ao mesmo tempo em que aguardarão o recebimento das quantias correspondentes às vendas efetuadas a seus clientes. As datas de vencimento das contas a pagar, relacionadas com as de valores a receber, determinam o intervalo ou período em que a firma necessita recorrer a fontes internas ou ex ternas de financiamento. Suponhamos que uma firma tenha, tradicionalmente, utilizado o desconto oferecido por seus fornecedores para pagamento de compras dentro de 10 dias, enquanto seus próprios clientes têm usado integralmente o prazo de 30 dias. Admitamos ainda que, em média, transcorram 20 dias desde o recebimento de matérias-primas e peças até sua transformação em produtos finais e seu envio aos clientes da empresa. Neste caso, a firma necessitará de fundos a curto prazo, em primeiro lugar para o período de 10 dias que completam o ciclo de produção (20 menos 10 dias, correspondentes ao prazo do desconto) e, em segundo lugar, para os 30 dias referentes à concessão de crédito a seus clientes. Suponhamos, como exemplo, que a firma seja capaz de obter um prazo de crédito de 50 dias concedido por seus fornecedores. Embora seus valores a receber não se alterem, será necessário à firma menor financiamento de vendas a crédito por um banco ou companhia financeira. Seus fornecedores, na verdade, terão proporcionado à empresa parte dos fundos exigidos a curto prazo. Entretanto, ainda seria preciso obter fundos para o pagamento de salários, materiais auxiliares e para cobrir outros custos diretos, excetuando-se a compra de matérias-primas ou peças. Como se observa na Tab. 5.2, a utilização do crédito comercial como fonte de recursos financeiros difere bastante de indústria para indústria, bem como entre fabricantes, atacadistas e varejistas de uma mesma indústria. Tabela 5.2 CRÉDITO COMERCIAL COMO PERCENTAGEM DOS PASSIVOS TOTAIS EM INDUSTRIAS SELECIONADAS Manufaturas: Artigos femininos de vestuário Bebidas alcoólicas Caixões e materiais funerários Drogas e remédios Carnes congeladas Jóias Máquinas e implementos agrícolas Latas Livros Concreto e Cimento 23,38% 6,68 12,53 9,84 10,39 13,52 8,49 9,72 9,94 9,40 Comércio atacadista: Aparelhos elétricos Flores Alimentos congelados Móveis Ferragens 28,22 16,17 21,71 19,49 19,61 Comércio varejista: Aviões (novos e usados) Livros e artigos de papelaria Materiais de construção Lojas de departamentos Drogarias 13,21 14,78 12,23 11,78 16,47 Fonte: Zobert Morris Associates, Annual Statement Studies, 1966 Suponhamos, em seguida, que a firma suspenda sua política em relação ao aproveitamento do desconto e, ao invés disso, decida pagar suas contas somente no fim do prazo de 30 dias. Isto reduzirá o período de financiamento de compras de matérias-primas de 40 para 20 dias; ou seja, 20 dias para produção e envio dos produtos, mais 30 dias de concessão de crédito aos clientes, menos 30 dias correspondentes ao crédito concedido por fornecedores. Serão observados dois resultados: em primeiro lugar, a firma provocará levantar fundos a curto prazo em uma instituição financeira por apenas 20 dias, em média. Em conseqüência, haverá uma redução das despesas de juros compensando, parcialmente, a perda do desconto. E, além disso, a empresa estará em condições de suportar um volume maior de valores a receber em relação a um dado montante de empréstimos a curto prazo, como demonstraremos em seguida. Montante do empréstimo $ 100.000 a) Período médio de 40 dias (= rotação anual de nove vezes) correspondendo a vendas anuais de $ 900.000 ou b) Período médio de 20 dias (= rotação anual de dezoito vezes) correspondendo a vendas anuais de $1.800.00 Indubitavelmente, o exemplo acima é uma simplificação exagerada, visto levar em consideração apenas uma fonte de recursos. Apesar disso, permite chamar a atenção para o fato de uma modificação na política de compras proporcionar meios de expandir o volume de vendas, dada uma certa disponibilidade de fundos para a empresa. IV. CUSTO DE FINANCIAMENTO DE VALORES A RECEBER O preço que uma firma paga pelos fundos utilizados no financiamento de seus valores a receber representa uma parcela do custo direto de venda de seus produtos. Como a escolha da fonte externa de fundos a curto prazo é de responsabilidade do administrador financeiro, defronta-se ele com um problema duplo. Em primeiro lugar, deverá manter-se informado em relação às políticas e condições vigentes nos organismos financeiros acessíveis à sua firma. E, em segundo lugar, deverá comparar e analisar as taxas de juros e respectivos prazos com as exigências de sua própria firma. A. Comparação de Custos Ao analisar os custos de fundos para empréstimo das mais diversas fontes, precisa o administrador financeiro levar em consideração vários elementos que, em conjunto, representam o custo total do financiamento. São os seguintes: 1) a taxa efetiva ou real de juros, que não deve ser confundida com a taxa nominal; 2) outras despesas além dos juros cobrados; 3) a existência de cláusula contratual prevendo a renovação automática ou negociável do empréstimo; e 4) o volume do empréstimo realmente colocado à disposição da empresa. 1. Taxa Efetiva de Juros. No caso de companhias financeiras e comissários, as taxas efetiva e nominal de juros são idênticas. O tomador do empréstimo paga uma taxa estipulada de juros diários sobre o valor fixado do adiantamento ou das faturas. Neste caso, os juros serão calculados sobre os fundos obtidos e em função do número real de dias em que esses recursos foram utilizados. Se a firma retirar, por exemplo, $25.000 no primeiro dia do mês, $50.000 no décimo, reduzir seu débito para $30.000 no décimo-quinto dia, retirar mais $45.000 no vigésimo dia e resgatar o empréstimo no último (trigésimo) dia do período, seus custos serão: os abaixo mencionados, admitindo -se que a taxa diária de juros é de 1/20 de 1%. 10/20 de 1% 5/20 de 1% 5/20 de 1% 10/20 de 1% Total do período sobre sobre sobre sobre $25.000 $50.000 $30.000 $75.000 (10 dias)$125 (5 dias) $125 (5 dias) $ 75 (10 dias) $375 $700 A taxa efetiva de juros no exemplo acima permaneceu inalterada ao nível anual de 18% (1/20 de 1% por dia = 1,5% por mês = 18% ao ano). A situação é diferente no caso de um empréstimo bancário a curto prazo. Os bancos comerciais efetuam dois tipos de empréstimo às empresas. Um deles consiste em um empréstimo simples de uma determinada soma, por um dado período, a uma taxa fixa de juros. Os juros são pagos sobre o valor nominal do empréstimo, não importando o montante utilizado pelo seu tomador e o número de dias de sua utilização efetiva. Suponhamos uma taxa de 6% ao ano para um empréstimo de $75.000, por 30 dias. Seu custo será, portanto, de $375. Entretanto, qual será a taxa real de juros cobrada pela utilização dos recursos efetivamente aplicados na empresa? Admitiremos utilização de recursos idêntica à do caso anterior. Para calcular a taxa efetiva de juros, determinaremos, primeiramente, a retirada diária feita do empréstimo concedido. $25.000.(10) + $50.000.(5) + $30.000.(5) + $75.000.(10) = $46.667. 30 Juros de $357 por 30 dias sobre um débito diário médio de $46.667 representam 0,8%; ou seja, uma taxa anual de 9,6%. Alguns bancos, particularmente os de menor porte, insistem na conservação de um saldo mínimo em depósito de aproximadamente 20% do valor do empréstimo. Utilizando os mesmos valores acima mencionados, verificamos que a firma deverá tomar um empréstimo de aproximadamente $95.000 a 6%, para poder dispor de um máximo de $75.000, durante os 10 últimos dias do mês. O custo correspondente a essa operação será de $475. Essa quantia, paga pelo uso de $46.667 diários em média, por um período de 30 dias, representa aproximadamente 1% ao mês, ou seja, pouco mais de 12% em termos anuais. Como observamos anteriormente neste capítulo, a exigência de um saldo mínimo é contrabalançada na medida em que a firma costumeiramente mantenha saldos de caixa em depósito no banco. Admitamos, a seguir, que a firma necessita de $100.000 por 10 dias, e $20.000 por 20 dias. Um empréstimo obtido em uma companhia financeira, sendo a taxa diária de 1/20 de 1%, ainda representaria uma taxa anual de 18%. No caso do empréstimo bancário de $100.000 por 30 dias, à taxa nominal de 6% ao ano, os juros de $500 correspondem ao preço mensal da utilização de $46.667 por dia, em média. Assim teríamos uma taxa efetiva de 1,08% ao mês ou, aproximadamente, 13% ao ano. Da mesma forma, se a firma utilizasse os $100.000 durante os trinta dias, a taxa nominal de 6% ao ano seria equivalente à taxa efetiva de juros. Outra modalidade de empréstimo bancário consiste no estabelecimento de uma linha de crédito. Em nosso exemplo, a firma seria autorizada a retirar, durante o mês, qualquer soma até o limite máximo de $75.000. Os juros, à taxa anual de 6%, seriam cobrados sobre o(s) montante(s) efetivamente retirado(s) e calculados em função do número de dias utilizados. As taxas nominal e efetiva de juros seriam portanto idênticas. 2. Outras Despesas além de Juros. Alguns bancos podem, ainda, cobrar uma taxa fixa de 1/4 de 1% sobre o valor nominal de uma linha de crédito. Assim, se essa linha for estabelecida para o período de um mês, a taxa será de 6% ao ano, mais a comissão de 1/4 de 1%, o que elevará a taxa efetiva para 9% ao ano. As companhias financeiras costumam cobrar uma taxa única — a taxa diária de juros. Esta taxa pode variar de 9 a 20% ou mais por ano. Existem três fatores básicos determinantes da taxa cobrada por uma companhia financeira: 1) o volume das necessidades financeiras projetadas e aprovadas pela firma; 2) a percentagem dos valores a receber correspondente ao montante do adiantamento efetuado; e 3) a qualidade das contas a serem financiadas. O contrato normalmente estabelecido exige o seguinte procedimento: o tomador do empréstimo notifica a companhia financeira do total dos valores a receber adjudicados à medida em que as mercadorias vão sendo enviadas aos clientes. A firma poderá, então, fazer retiradas de fundos contra os valores a receber, digamos, na proporção de 80% de seu valor nominal. A taxa cobrada dos clientes, cuja média mensal de adiantamentos é superior oi.i igual a $400.000, normalmente varia de 9 a 11%, ao ano, dos fundos efetivamente utilizados. Os tomadores que aplicam menos de $400.000 por mês deverão pagar uma taxa variável entre 11 e 15%, na hipótese de que seus clientes efetuaram prontamente seus pagamentos. Essa taxa poderá, entretanto, ultrapassar 15% ou mesmo 20% ao ano, se tais clientes não tiverem tradição de pagamento imediato. Referindo-se mais uma vez ao exemplo anterior, verifica-se que a firma será provavelmente obrigada a pagar uma taxa efetiva entre 12 e 15%. Admitimos que os clientes, em geral, são rápidos em seus pagamentos; em caso contrário, a firma teria dificuldades para obter empréstimos bancários não-garantidos contra seu saldo de valores a receber. Enquanto o banco cobra taxas relativamente iguais pela concessão de empréstimos à totalidade ou à maioria das empresas sujeitos a riscos semelhantes, uma única companhia poderá apresentar uma enorme variedade de taxas. Isto significa, na realidade, que uma firma que utiliza menos intensamente os serviços de uma companhia financeira, em relação a outra empresa de mesmo tamanho e volume comparável de vendas, é obrigada a oferecer uma compensação pela tomada de empréstimos em quantidade inferior à fornecida pela companhia financeira. Finalmente, o comissário cobra uma taxa efetiva de juros de 6% ao ano, em relação aos adiantamentos efetuados, além de uma comissão de 1 a 2% sobre o valor nominal dos valores a receber, que resolveu adquirir. Esta taxa ou comissão representa uma compensação, em parte, pelos recursos fornecidos à firma e, também em parte, pelo desempenho de suas funções de analista de crédito e cobrança. 3. Renovação de Empréstimos. Em geral, os bancos comerciais acham-se preparados para negociar empréstimos únicos para períodos de um a vários meses, ou empréstimos automaticamente renováveis pelo prazo de um ano. Um empréstimo para um único ciclo apresenta como vantagem o fato de a firma pagar juros apenas pelo período de tempo em que necessita de fundos. Se, posteriormente, houver necessidade de recursos financeiros adicionais, a firma deverá fazer novo pedido de empréstimo ao banco. Este fato poderá ou não constituir-se em desvantagem para a firma, o que dependerá das políticas de empréstimo do banco, no momento considerado. As companhias financeiras e os comissários normalmente exigem a elaboração de um contrato anual. Garante-se à firma a obtenção de fundos, de acordo com as condições do contrato, pelo menos durante êsse período de tempo. Entretanto, a firma perde sua mobilidade no mercado de fundos a curto prazo. Em outras palavras, não poderá passar para uma nova fonte de recursos financeiros — um banco, companhia financeira ou comissário — pela simples verificação de que condições mais favoráveis são oferecidas por outras instituições. 4. Volume do Empréstimo. Tanto a companhia financeira como o comissário, normalmente estão em condições de oferecer um empréstimo mais vultoso do que um banco, considerada a mesma garantia colateral. Isto ocorre porque a companhia financeira e o comissário efetuam suas próprias avaliações dos clientes da empresa, o que lhes garante condições mais propícias para estimar o fator risco, isto é, a probabilidade de falhas no pagamento e de dívidas incobráveis, enquanto que ao banco só resta confiar na firma tomadora do empréstimo. Ao determinar o volume de empréstimos que um banco está disposto a conceder, o encarregado da seção de crédito basicamente procura examinar as condições financeiras passadas e presentes da firma. Avalia os índices de liquidez corrente e de liquidez seco, bem como seu capital de giro. Para um banco, o elemento de importância decisiva na concessão de um empréstimo é a reputação creditícia da firma tomadora do empréstimo. Por outro lado, a companhia financeira e o comissário preocupam-se principalmente com a qualidade, em termos de crédito, apresentada pelos clientes da firma. O capital de giro da empresa pode estar imobilizado em estoques, ou representar insignificante parcela de seus ativos correntes. O que realmente importa a esses fornecedores de recursos é o risco apresentado pelos clientes da empresa. Sendo êste aspecto satisfatório, poderão fornecer à firma 70 ou 80% do montante dos valores a receber, não se preocupando muito com o fato de a margem de lucro obtida nessas vendas ser muito baixa ou os estoques muito grandes em relação ao volume de vendas, ou a empresa não cumprir pontualmente suas obrigações em relação a alguns fornecedores. B. Avaliação das Fontes Potenciais de Fundos Assim sendo, o administrador financeiro da empresa vê-se diante de uma enorme tarefa. Se quiser determinar o volume máximo de empréstimos e os custos mínimos possíveis, deverá examinar todas as fontes imagináveis de fundos. Os gerentes de crédito de diferentes bancos, mesmo que essas instituições sejam de porte quase equivalente, nem sempre utilizam os mesmos padrões para determinar o limite máximo de empréstimos a serem concedidos a um cliente. Do mesmo modo, os bancos não são muito estáveis em suas políticas e práticas de empréstimos. Enquanto alguns desenvolvem esforços agressivos no sentido de atrair empresas industriais e comerciais, como. tomadores de fundos, outros preferem aplicar seus recursos financeiros em hipotecas imobiliárias, “bonds” e crédito ao consumidor, sob a forma de financiamento de vendas a prestação. Dentre as instituições organizadas para conceder empréstimos a empresas, existem variações consideráveis quanto à habilidade analítica e ao “know-how” financeiro de seus gerentes de crédito. Essas diferenças são ainda mais pronunciadas entre os companhias financeiras e os comissários. Enquanto os bancos estão sujeitos à regulamentação, supervisão e controle por parte das autoridades bancárias federais e/ou estaduais, as companhias financeiras e os comissários não sofrem essas limitações. Fixam seus próprios padrões, utilizam as técnicas analíticas que preferem e cobram o que o mercado permitir. Esta ausência de uniformidade de políticas e de condições de concessão de empréstimo obriga o administrador financeiro a realizar estudos relativamente profundos. Neste sentido, os fornecedores de fundos assemelham-se aos fornecedores de bens e serviços e, tal como ocorre com o encarregado das compras da empresa, o administrador financeiro deverá negociar, com as diferentes instituições financeiras, o prazo e o montante dos empréstimos. Além disso, os fornecedores de fundo alteram suas políticas e prazos no correr do tempo. Uma reavaliação periódica das diversas fontes poderá, portanto, propiciar a transferência para outras fontes fornecedoras de recursos. Isto é particularmente válido para uma firma que apresente elevada taxa de expansão. Esta modalidade de empresa poderá crescer, além da capacidade de sua fonte normal de fundos fornecer recursos suficientes para atender suas crescentes necessidades financeiras a curto prazo. Ao mesmo tempo, a firma poderá muito bem atingir um nível operacional capaz de interessar a ela uma fonte de fundos anteriormente indiferente. Mais importante, porém, é o fato de a análise ampla das fontes potenciais de recursos e da reavaliação periódica pelo administrador financeiro deverem ser realizadas muito antes de surgirem as necessidades de fundos. O estabelecimento de contatos com fornecedores de recursos e a discussão das necessidades financeiras previstas da empresa demandam algum tempo. Maior tempo ainda é consumido pelo fornecedor de fundos para estudar os registros financeiros da firma e determinar o montante e o prazo dos empréstimos que está disposto a conceder. Por fim, o administrador financeiro deverá proceder a uma seleção dentre os diversos possíveis fornecedores. Freqüentemente, uma firma limita suas investigações a uma ou duas fontes de fundos. Esta limitação deve-se, em parte, ao desconhecimento da administração da empresa quanto à natureza e às práticas operacionais dos diferentes tipos de fornecedores de recursos financeiros e, em parte, ao fato de que a firma somente inicia sua própria análise no momento em que a necessidade de fundos já é premente. O tempo é que se constitui, portanto, em problema fundamental. E indispensável tomar-se uma decisão, o mais rápido possível. Os resultados são inevitáveis. Uma precipitação qualquer poderá levar a um desperdício de oportunidades. A firma não obterá o montante máximo e as melhores condições de financiamento que poderiam ter sido oferecidas por outros fornecedores de recursos ou uma instituição financeira que tivesse analisado mais adequadamente as suas potencialidades. Na verdade, a firma coloca -se em uma posição em que o fornecedor de fundos assume as vantagens características de um agente da oferta em um mercado de vendedores. V. ANÁLISE MARGINAL DO FINANCIAMENTO DE VALORES A RECEBER A análise até aqui efetuada baseou-se na hipótese de que o volume total dos empréstimos concedidos à firma pelas diferentes fontes de recursos financeiros era idêntico, sendo, porém, variáveis os prazos. Esta é uma hipótese raramente verificada na prática. O administrador financeiro que se preocupa em examinar as condições oferecidas por todas as fontes existentes descobre, em geral, que uma companhia financeira é mais liberal do que um comissário e que um banco é relativamente menos liberal em relação ao montante que está disposto a emprestar. Por sua vez, o fornecedor “liberal” de fundos, mantidos constantes outros fatores, deverá, normalmente, cobrar uma taxa de juros mais elevada e/ou taxas especiais superiores às de um fornecedor “conservador”. No processo de determinação dos custos dos fundos provenientes das diferentes fontes, o administrador financeiro deverá comparar os custos marginais, e não os custos totais dos, fundos obtidas por empréstimo a curto prazo. Além disso, é necessário que esses custos marginais sejam posteriormente confrontados com as receitas marginais. Análise Marginal dos Custos. Suponhamos que uma dada firma tenha sido capaz de financiar seus valores a receber com recursos cedidos por seus proprietários. A administração da empresa prevê uma expansão das vendas e um aumento de $100.000 dos valores a receber. A firma não dispõe dos recursos internos exigidos por esse volume adicional de valores a receber. Entrando em contato com: 1) um banco, 2) uma companhia financeira, e 3) um comissário obterá as seguintes propostas: 1. O banco está disposto a abrir uma linha de crédito de $80.000, não garantida, a 6% ao ano, exigindo o depósito de um saldo mínimo de $10.000. 2. A companhia financeira propõe o estabelecimento de uma linha de crédito de $90.000 à taxa de 1/40 de 1% por dia sobre os valores efetivamente utilizados. 3. O comissário está disposto a comprar valores a receber até um máximo de $100.000, na data de vencimento, por uma comissão de 3/4 de 1%, propondo-se a fazer adiantamentos de até $100.000, antes dessa data, à taxa de 6% ao ano. Os custos reais das três hipóteses deverão ser os seguintes, supondo-se que a empresa esteja em condições de utilizar integral mente os montantes oferecidos. A. Empréstimo bancário: $70.000 (efetivamente utilizados); custo: $400 por 30 dias (1/2 de 1% ao mês, sobre o empréstimo de $80.000). B. Companhia financeira: $90.000; custo: $900 por 30 dias. C. Operador: $100.000; custo: comissão de $750 mais juros de $500 = $1.250. A Tab 5.3 sintetiza os valores marginais envolvidos neste caso hipotético. Tabela 5.3 Valores a receber que podem ser financiados ($) A 70.000 B 90.000 C100.000 Custo ($) 400 900 1.250 Acréscimo de valores a receber ($) 20.000 10.000 Custo Marginal Custo adicional ($) como % dos valores a receber adicionadas 500 350 2,5% 3,5% Se os custos marginais fossem traduzidos em percentagens do total de valores a receber, descobriríamos que os $20.000 adicionais proporcionados pela companhia financeira deveriam equivaler a 2,5% dos valores a receber adicionais. A obtenção do acréscimo de $10.000 de valores a receber envolveria um custo de 3,5%. A comparação acima realizada entre vendas e custos adicionais de fundos baseia-se na hipótese de que a firma não dispõe de outras fontes de fundos para financiar a expansão de suas vendas. Surge, então, o problema de se saber se o lucro adicional correspondente aos níveis, $90.000 a $100.000, respectivamente, poderá ou não exceder os acréscimos de custos. Se o lucro adicional, isto é, a eficiência marginal do capital (obtido por empréstimo a curto prazo) — superar o acréscimo de custos, a firma deverá conseguir um lucro liquido decorrente do acréscimo de seus valores a receber, acima de $70.000. Suponhamos que a margem de lucro da firma, antes de descontados os juros sobre recursos tomados por empréstimo, seja de 5%. Se o volume de vendas for de $70.000, seu lucro alcançará $3.500. Descontado o custo do empréstimo bancário, o lucro líquido antes do pagamento de impostos será de $3.100. Ao nível de vendas de $90.000, o lucro será de $4.500. Depois de pagos $900 de juros, a firma disporá de um lucro de $3.600. E, no caso de valores a receber, no total de $100.000, seus lucros serão de $5.000 menos $1.250 de juros, ou seja, 3.750 líquidos. Por outro lado, se sua margem de lucros fosse de 3% das vendas, os valores passariam a ser: para o volume de vendas de $ 70.000 - $2.100 menos $ 400 = $1.700 para o volume de vendas de $ 90.000 - $2.700 menos $ 900 = $1.800 para o volume de vendas de $1.000.000 - $3.000 menos $1.250 = $1.750 Neste caso, os lucros serão maximizados quando o volume de vendas atingir $90.000. RESUMO A maior parte das transações entre empresas, nos Estados Unidos, é feita sob a forma de operações de crédito em conta corrente. Uma transação em conta corrente envolve sempre um certo elemento de risco para o credor, visto o devedor dispor de uma série de argumentos legais para justificar o não-pagamento de contas, além do perigo de falência. As vendas a crédito significam, em geral, que o vendedor financia a compra efetuada pelo cliente, durante o período compreendido entre o envio dos produtos e o efetivo pagamento da transação. O administrador financeiro deverá esforçar-se no sentido de manter um equilíbrio entre a procura de bens vendidos a crédito e os recursos financeiros da firma em um nível de vendas capaz de possibilitar a maximização dos lucros e minimização dos riscos assumidos. O administrador financeiro deverá, em primeiro lugar, analisar a procura de bens vendidos a prazo. O nível de atividade econômica (abrangendo a teoria do ciclo econômico) deverá ser examinado. Além disso, não se pode deixar de lado possíveis variações estacionais. As condições de crédito dos concorrentes também deverão ser analisadas, por constituírem elementos importantes da procura dos produtos de uma firma. Os valores a receber deverão ser cuidadosamente analisados pelo administrador financeiro, visto representarem, freqüentemente, o ativo corrente de maior valor, além de determinarem, em grande parte, a capacidade da empresa pagar suas contas aos fornecedores e saldar suas dívidas com os credores. FatOres tais como a estrutura dos valores a receber e o custo de seu financiamento deverão ser cuidadosamente analisados pelo administrador financeiro. O administrador financeiro de cada firma, e em especial de pequenas empresas, deverá esforçar-se por reduzir o volume de valores a receber, sem contudo diminuir o potencial de vendas da empresa. Deverão ser exploradas algumas alternativas referentes à modificação do desconto oferecido, à prorrogação do prazo de validade do desconto, e à alteração da política de compras da firma. Igualmente, impõe-se a comparação entre os custos e a adequação do financiamento dos valores a receber. Neste caso, é necessário analisar as taxas efetivas de juros e outras despesas, as possibilidades de obtenção do empréstimo, o montante disponível e a reputação da fonte fornecedora de recursos. Por fim, também poderão ser aplicadas na execução dessas tarefas, as técnicas de análise marginal dos custos, utilizados pelos economistas. 07.03- ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DE ESTOQUES Dentre os ativos correntes, os estoques situam-se acima ou logo abaixo dos valores a receber, em termos de magnitude. Apenas êsse fato bastaria para justificar a necessidade de dedicar maior atenção aos aspectos financeiros do volume dos estoques e da concorrência. Existem, no entanto, características próprias dêste item do ativo, que aumentam a complexidade do problema e elevam o risco financeiro de falhas em seu planejamento, sua administração e seu controle. Os prejuízos potenciais de uma firma, em decorrência de uma administração deficiente dos estoques, freqüentemente superam os prejuízos que podem resultar de dívidas incobráveis. Por exemplo, em um período de expansão, uma firma pode sofrer prejuízos provocados por dívidas incobráveis de, no máximo, um ou dois por cento de seus valores a receber. Este índice poderá dobrar, ou mesmo triplicar, em um período de recessão. Por outro lado, não é raro uma firma sofrer prejuízos de dez por cento ou mais do valor de seus estoques, mesmo em épocas favoráveis, e uma percentagem ainda mais elevada em uma recessão, em virtude de mau planejamento e deficiente administração, de estoques. I. ANÁLISE E AVALIAÇÃO DOS ESTOQUES O volume dos estoques mantidos por uma firma é função de seu volume de vendas projetado. Esta projeção poderá alcançar um mês, um trimestre, ou mesmo um período de tempo mais longo, dependendo da imediata disponibilidade dos itens componentes dos estoques, da duração do ciclo de produção e dos hábitos de compra dos clientes da firma. Os fabricantes de cigarros deverão comprar sua matéria-prima por ocasião da safra de fumo. As destilarias poderão manter estoques por vários anos, até que o produto atinja sua “idade” mais adequada. Por outro lado, uma grande panificadora poderá precisar de um estoque de farinha e de vários ingredientes, necessários à produção de apenas uma semana. O departamento de alimentos, em uma loja de departamentos, poderá operar eficientemente com um estoque equivalente ao volume de vendas de uma semana, enquanto a seção de joalheria da mesma loja talvez requeira um estoque igual ao volume de vendas de um semestre. Os estoques, sejam de matérias-primas ou bens finais, representam imobilização de fundos até o momento em que os produtos são vendidos e transformam-se em valores a receber. Além de seu custo (preço de compra), os estoques poderão exigir um certo processamento, o que implica despesas adicionais correspondentes a salários, materiais auxiliares etc. Também existem alguns custos de armazenagem, despesas de seguros e possíveis perdas resultantes de deterioração. Estes custos tomam-se cada vez mais elevados, quanto mais longo for o período entre o momento da compra de matérias-primas e a venda do produto final. A Tab. 6.1 apresenta a relação percentual entre os estoques e o total dos ativos de uma série de indústrias selecionadas. Essas percentagens variam de um mínimo de 11,33%, para os fabricantes de cerveja, até um máximo de 57,74% (drogarias). A firma espera poder vender seus estoques e conseguir um preço que cubra todos seus custos e ainda lhe proporcione lucro. Esta expectativa envolve, entretanto, um elemento de incerteza ou risco. O administrador financeiro é responsável pela determinação da magnitude financeira dêste risco, bem como pela escolha da linha de ação capaz de minimizar os custos daí decorrentes. O desempenho dessas duas funções, o administrador financeiro deverá, primeiramente, analisar os estoques mantidos pela firma. Este processo de análise destina-se a responder questões tais como as seguintes: Quanto e quando a firma espera gerar entradas de caixa, pela venda de seus estoques? É provável que essa venda proporcione lucros? Possui a firma estoques excessivos de alguns itens, em relação às suas necessidades imediatas, ou seja, para um ou dois ciclos de vendas? Deverá a companhia vender parte de seus estoques a preço de compra ou mesmo com prejuízo, ao invés de conservar os itens estocados até a temporada seguinte, cujo início pode estar distante vários meses? Quais os custos reais diretos do processo de estocagem, e quais os custos de oportunidade dos fundos imobilizados em estoques duran te êsse mesmo período? Além de seu interesse pelos estoques existentes, o administrador financeiro deverá calcular o custo do financiamento de um estoque programado, isto é, o custo de compras planejadas para o futuro. Do ponto de vista financeiro, será mais desejável comprar pequenas quantidades mensalmente, pagando um preço unitário mais alto, ou fazer encomendas maiores para atender às necessidades previstas para os próximos três meses, conseguindo apreciável desconto sobre o preço da lista? O problema de análise do estoque disponível da firma será discutido nesta seção. Trataremos, posteriormente, dos aspectos financeiros do planejamento de estoques. Tabela 6.1 ESTOQUES COMO PERCENTAGEM DO TOTAL DOS ATIVOS DE ALGUMAS INDUSTRIAS SELECIONADAS Manufaturas: Artigos femininos de vestuário Bebidas alcoólicas Caixões e materiais funerários Drogas e remédios Carnes congeladas Jóias Máquinas e implementos agrícolas Latas Livros Concreto e cimento 36,53% 11,33 30,36 29,45 24,20 40,69 42,15 31,23 25,87 16,44 Comércio Atacadista: Aparelhos elétricos Flores Alimentos congelados Móveis Ferragens 41,24 24,53 37,93 35,99 49,44 Comércio Varejista: Aviões (novos e usados) Livros e artigos de papelaria Materiais de construção Lojas de departamentos Drogarias 40,23 43,89 28,72 35,53 57,74 Fonte: Robert Morris Associates, Annual Statement Studies,1996 A. Heterogeneidade na Composição dos Estoques O balanço de uma firma manufatureira comumente apresenta um único item para “estoques”, não indicando, porém, a sua composição. Em tais empresas, êsse ativo normalmente compreende três categorias distintas: 1) matérias-primas, 2) bens em processamento; e 3) bens finais. Essas distinções desempenham papel importantíssimo no caso de a firma repentinamente julgar necessário dispor de parte de seus estoques. Os bens finais acham-se prontos para venda. Se preciso, a firma poderá desfazer-se desses bens, reduzindo moderadamente o preço. As matérias primas, antes de mais nada, devem ser processadas envolvendo gastos com mão-de-obra e outros itens, além do tempo dispendido. E perfeitamente concebível que a firma decida ser o volume de vendas previsto, para os meses seguintes, muito pequeno em relação ao fornecimento de matérias-primas programado para fins de transformação em bens finais. Neste caso, surge o problema da viabilidade da venda do excedente de matérias-primas. A solução dêste problema depende, em grande parte, da adequação dessas matérias-primas, ou componentes, às atividades de outros fabricantes. Por exemplo, peças e componentes de tamanho padronizado normalmente poderão ser vendidos a outros fabricantes, com pequena redução de preço. Por outro lado, componentes de tamanho especial, ou já com marca da firma, não apresentam utilidade alguma para outros produtores e, se não forem mais necessários à empresa, deverão ser literalmente “jogados no lixo”. Os estoques de comerciantes atacadistas ou varejistas encontram-se freqüentemente nessa situação. Embora um distribuidor não processe as mercadorias mantidas em estoque, estas podem ser representadas por produtos de consumo corrente, artigos de primeira necessidade, enquanto outras podem estar sujeitas a variações da moda, influências sazonais, ou serem perecíveis. Os estoques ainda podem incluir itens de consumo comum, de tamanho ou formato especial, cuja procura seja esporádica, e não permanente. Seja qual for a composição dos estoques, o administrador financeiro deverá preocupar-se com o seu grau de liquidez. Qual é o índice de rotação dos estoques e quanto poderão proporcionar em termos de receita? B. Avaliação de Estoques Os processos contábeis tradicionais exigem a avaliação dos estoques de acordo com o seu preço de compra (custo) ou com o preço (corrente) do mercado, qualquer que seja o mais baixo. Suponhamos que uma empresa tenha comprado, em janeiro, uma certa quantidade de tecido ao preço de $3 a jarda, e que ainda o possua em estoque no fim do exercício fiscal. Admitamos que, nesse momento, o preço de lista do fornecedor seja $2,50. O contador avaliaria o tecido em $2,50 a jarda. Por outro lado, se o preço corrente de lista for superior a $3 a jarda, o contador usará o preço de compra de $3 como valor-base. Este método de avaliação de estoques baseia-se, claramente, na idéia de que é preferível uma cautela excessiva a ser otimista. Se o preço de mercado estiver acima do custo, a hipótese é a de que o preço de venda da firma baseou-se no custo real dos estoques. Por outro lado, se o preço de mercado for inferior ao custo, espera-se que a concorrência force a firma a reduzir seu preço de venda, considerando a diminuição do preço dos estoques, a serem adquiridos. Ambas as hipóteses são arbitrárias e, como já afirmamos, refletem uma avaliação de estoque muito conservadora. Do ponto de vista da firma, êste método de avaliação de estoques não é consentâneo com a realidade, em períodos de contínuas elevações de preços de custo e de venda — ou seja, em “espiral inflacionária” — bem como em um período de sucessivas reduções de preço. Não há dúvida de que a tendência geral do nível de preço, nas três últimas décadas, tem sido ascendente. Em pequeno número de indústrias, verificou-se o inverso, em conseqüência de melhoramentos tecnológicos que permitiram redução dos custos totais. Por exemplo os preço s de aparelhos de televisão e de diversas utilidades domésticas, (whit goods) têm apresentado tendência a se reduzir, nos últimos anos. C. FIFO versus LIFO Esses fatos reais provocaram modificações no método contábil tradicional de avaliação de estoques. Atualmente, uma empresa dispõe de três alternativas: 1) preço de custo ou preço de mercado, aquele que fôr baixo, 2) FIFO, e 3) LIFO. Estas siglas são abreviaturas das expressões “First In, First Out” e “Last In, First Out”, respectivamente. Como indicaremos em exemplos subseqüentes, o emprego de um dos dois métodos afeta o lucro contábil da empresa e, portanto, os impostos sobre a renda que deverá pagar. D. Vantagem Fiscal Versus Capacidade para a Tomada de Empréstimos A utilização do método LIFO, em um período de preços crescentes oferece vantagens bastante evidentes de natureza fiscal. Se os preços dos produtos adquiridos se elevarem, durante um determinado ano, a firma avaliará o estoque final pelos preços mais baixos de compra correspondentes aos valores do início do ano. Em conseqüência, as compras que foram canalizadas para o processo de produção e posterior venda serão avaliadas a preços mais altos. O inverso é verdadeiro para o método FIFO. Suponhamos, por exemplo, que os registros contábeis de u ma empresa mostrem para o exercício fiscal recentemente encerrado, o seguinte: Estoque existente no início do ano: Compras realizadas durante o ano: 500 unid. a $5,00 = $ 2.500 1º/2: 500 unid. a $6,00 = $ 3.000 1º/5: 1.000 unid. a $6,50= $ 6.500 1º/7: 3.000 unid. a $6,50 = $19.500 1°/11:2.000unid. a $7,00 = $14.000 Estoque existente no fim do exercício: 31/12: 800 unid. Lançando-se as compras como parte do custo dos produtos vendidos, os resultados obtidos serão os seguintes: FIFO FIFO 500 unidades a $5,00 $ 2.500 500 unidades a $6,00 $ 3.000 200 a $ 6,00 $ 1.200 1.000 unidades a $6,50 $ 6.500 1.000 a $ 6,50 $ 6.500 3.000 unidades a $6,50 $19.500 3.000 a $ 6,50 $ 19.500 1.200 unidades a $7,00 $ 8.500 2.000 a $ 6,50 $ 14.000 6.200 $ 41.200 6.200 $ 39.900 - - As cifras acima evidenciam claramente a vantagem fiscal do emprego do método LIFO. Reduz o rendimento tributável de $1.30 0. Segundo a legislação atualmente em vigor, uma empresa pode escolher se prefere utilizar o método LIFO ou FIFO. Entretanto, uma vez feita a escolha, a firma não pode abandoná-la, exceto nos casos permitidos pelas autoridades fiscais. Deve ser ressaltado ainda que, em um período subseqüente de reduções de preço, o método LIFO amplia o rendimento tributável. Partindo do mesmo exemplo, admitamos que os preços dos produtos adquiridos no ano anterior caiam. Ao calcular o custo das compras, a firma avaliará as 800 unidades em $4.600 (500 X $5 mais 300 X $7); entretanto, de acordo com o método FIFO, o valor calculado será de $5.600 (800 X $7). Em termos de capacidade para a obtenção de empréstimos, o balanço elaborado de acordo com o método LIFO indicaria a exist ência de estoques no valor de $4.600. Na verdade, o valor corrente dos estoques é de $5.600, a menos que tenha havido deflação logo após o encerramento do exercício fiscal. Deve ser observado, entretanto, que o administrador financeiro pode preparar, de imediato, um relatório suplementar dos valores reais, ou seja, o valor corrente dos estoques, distinguindo -o das cifras apresentadas no balanço. E. Enfoque do Administrador Financeiro A avaliação de estoques realizada pelo contador refere-se a uma data particular, ou seja, , a data de encerramento do exercício fiscal. Por outro lado, o administrador financeiro parte do ponto em que o contador concluir sua tarefa. Em outras palavras, a principal preocupação do administrador financeiro diz respeito ao efeito dos estoques sobre a posição de caixa da firma, durante um período futuro. Para o administrador financeiro, os problemas fundamentais são: quanto custará para a firma a manutenção de um dado volume de estoques, no próximo ciclo de produção e vendas? Quais os riscos decorrentes desses estoques? Será possível reduzir o nível de estoques sem afetar desfavoravelmente a continuidade das atividades de produção e venda? Estas questões referem-se aos estoques existentes. Em certo sentido, envolvem o mesmo ativo avaliado pelo contador, ao elaborar o balanço e o demonstrativo de lucros e perdas. Ao administrador financeiro caberá, também, analisar a futura política de estoques de sua empresa. Tal, acarreta, dentre outras, as seguintes questões: quais as economias proporcionadas por estoques relativamente vultosos, em termos de preço unitário mais baixo, descontos especiais e atendimento rápido dos clientes? Por outro lado, poderíamos mencionar as “deseconomias” decorrentes de um estoque relativamente grande. Quanto custará para a firma a manutenção do nível de estoques proposto em termos de juros sobre os recursos obtidos por empréstimos, custos de armazenagem e prêmios de seguro? Além disso, quais serão os custos de oportunidade resultantes da aplicação em estoques de uma certa soma de recursos financeiros, ao invés de utilizá-los em propaganda ou pesquisa de mercado, ou mesmo em outras alternativas desejadas pela companhia, mas impossíveis de serem realizados por terem sido os recursos canalizados para a manutenção do estoque previsto. F. Desequilíbrio Funcional Para um fabricante, a situação ideal relativa a matérias-primas e materiais auxiliares é aquela em que os níveis de estoques de todos os itens são proporcionais às quantidades consumidas no processo de produção do bem final. Se o produto final exigir, por exemplo, 10 unidades de A, 15 de B, 40 de C etc., a firma deverá, teoricamente, fazer encomendas dos diversos itens utilizados nas proporções exigidas. Tal situação, porém, dificilmente poderá ser encontrada na prática. As causas e as possíveis soluções dêste desequilíbrio são, em parte, tecnológicas e, em parte financeiras; serão analisadas mais detalhadamente na Seç. II dêste capítulo. Para o administrador financeiro, um estoque desequilibrado constitui sério problema, quando a tendência do volume de venda do produto final fôr de queda, abaixo do nível previsto. Enquanto as vendas permanecerem acima ou ao nível fixado como meta a atingir, a firma não precisará se preocupar com o fato de possuir um estoque de C, D e F, por exemplo, superior ao necessário para a produção de um dado mês. O excedente será transferido para o mês posterior, reduzindo-se à medida em que novas encomendas forem recebidas. Via de regra estes estoques em “desequilíbrio” temporário, podem ser previstos, visto o programa de compras basear-se nó volume de vendas projetado para uma série de meses, e os pedidos relacionarem-se com as necessidades mensais da firma. Entretanto, quando as vendas alcançam níveis inferiores aos esperados durante vários meses consecutivos, um desequilíbrio de estoques constitui sério problema financeiro. Itens que possuam estoques superiores às exigências do processo de produção transformam-se, pelo menos durante êsse período, em investimento “congelado”. Recursos financeiros serão imobilizados durante período mais longo do que o previsto. Ao mesmo tempo, o menor volume de vendas diminui a taxa prevista de rotação dos estoques dos itens que pareciam estar em equilíbrio. Em conseqüência, será pressionada a capacidade d a firma de pagar suas dívidas correntes. O fluxo de caixa se retardará, visto as receitas serem inferiores às saídas de caixa previstas. Parte dos fundos da empresa perderam as características de ativos considerados de elevada rotação e liquidez, transformando-se em itens de baixa rotação e liquidez. Coloca-se, pois, a seguinte questão: Devem os estoques ser mantidos por mais tempo, ou liquidados? Se quantidades excessivas forem mantidas em estoque, não poderão gerar o fluxo de caixa previsto, no momento desejado. Se forem imediatamente vendidas a qualquer preço no mercado, a companhia receberá um volume de caixa inferior ao previsto. O administrador financeiro deverá, nesse momento, avaliar a posição do caixa da firma, bem como o sacrifício representado por uma entrada maior de caixa, em decorrência da liquidação de estoques excessivos. Estoques superiores aos níveis necessários imobilizam recursos monetários que poderiam ser utilizados, com proveito, em outras divisões da firma. Neste caso, os estoques darão origem a “custos de oportunidade”, que deverão ser acrescentados aos seus custos monetários. Se a firma não dispuzer de imediato emprego alternativo para esses recursos, poderá reduzir seu custo de levantamento de fundos — se os estoques tiverem sido financiados por empréstimo a curto prazo — ou, não conseguindo financiamento externo, poderá auferir os juros de investimento a curto prazo (fazendo depósitos a prazo fixo, aplicações em títulos comerciais etc.). Além desses custos de oportunidade, um estoque excessivo provoca diversas despesas de armazenagem, seguros e deterioração. Assim sendo, o administrador financeiro precisa avaliar: 1) a posição corrente de caixa da firma e suas necessidades de recursos monetários, 2) os custos de oportunidade resultantes da manutenção de estoques até que possam ser vendidos pelo preço inicialmente previsto, 3) outras despesas diretas. Supondo-se que a firma possa financiar o estoque excedente até sua venda ao preço previsto, recorrendo a fontes internas ou externas, poderemos quantificar o problema da seguinte maneira: A diferença entre a venda futura ao preço de lista (PL) e o preço corrente de liquidação forçada (PLF) será superior ou inferior aos custos de oportunidade (CO) somados a outras despesas diretas (DD), tais como juros de empréstimos, por exemplo. Se PL — PLF CO + DD, será vantajosa para a firma a manutenção dos estoques. Será melhor liquidá-los quando PL — PLF = CO DD. Entretanto, se a firma encontrar dificuldade no financiamento dos estoques — ou seja, se estiver sofrendo pressões de seus fornecedores e/ou instituições financeiras no sentido de saldar imediatamente suas contas e/ou promissórias — o problema da decisão entre “manter e liquidar” os estoques será automaticamente solucionado. A empresa não conta com outra alternativa além da venda dos estoques excedentes, ao preço que puder conseguir no mercado. A decisão entre a manutenção e a liquidação de estoques assume especial relevância no comércio varejista; apesar disso, o princípio básico aqui enunciado aplica-se também a um fabricante cuja linha de produtos está sujeito a variações estacionais (por exemplo, artigos de vestuário, sapatos, móveis, material esportivo etc.). À medida em que se aproxima o término do período sazonal, o problema que se coloca é o de liquidar os estoques com substancial redução de preços, ou conservar essa linha de produtos até o ano seguinte, quando poderão ser vendidos pelo preço “normal” admitida a hipótese de não ter havido obsoletismo decorrente de alterações de moda ou estilo. Na prática, a administração não hesitará em vender os estoques sazonais a um preço bastante inferior ao de lista, por não se considerar vantajosa a sua estocagem até o ano seguinte. Mas, qual poderá ser essa redução de preço? Qual será o preço mínimo, ou de “equilíbrio”, isto é, o ponto em que o custo de oportunidade mais os gastos de armazenagem e seguros serão iguais à redução de preço necessária à liquidação total do estoque de mercadorias? De imediato, ocorrerão ao leitor diversos casos em que firmas varejistas poderão efetuar drásticas reduções de preço de gêneros de consumo corrente, embora sazonal, no final da temporada; seria, por exemplo, o caso de bicicletas, patins, raquetas de tênis, piscinas no final do verão e equipamentos para esportes de inverno em fevereiro ou março. Outros itens tradicionalmente vendidos em liquidações de fim de estação são: móveis e artigos de vestuário. G. Alterações Iminentes de Modelos Se o fabricante ou distribuidor de um produto tiver programado a exibição e oferta do modelo do ano seguinte, antes de ter tido a oportunidade de vender todo o estoque do modelo atual, pelo seu preço corrente, surgirá o seguinte problema: Qual a redução de preço que deverá ser feita, e quando? A resposta inicial será dada pelo gerente de vendas. Envolve, fundamentalmente, uma estimativa da elasticidade de preço da procura em um dado período, ou seja, até que o novo modelo seja colocado à venda. Por exemplo, o gerente de vendas poderá recomendar, no presente, uma redução de 10%, um mês antes da venda do novo modelo, estimando um aumento de 25% do número de unidades vendidas; duas semanas mais tarde, porém, poderá ser necessária nova redução de 25% para estimular um aumento de 15% das vendas. Em ambos os casos, a elevação do número de unidades vendidas será medida a partir do nível previsto, baseado no preço corrente. Algumas empresas adotam uma política de modesta redução de preço — por exemplo, de 10 ou 15% — 2 ou 3 meses antes do final do período para o qual foi lançado o modelo. Outras preferem esperar até o último mês antes do lançamento do novo modelo, realizando nessa época ofertas a preços bem mais reduzidos. II. CAUSAS DA ACUMULAÇÃO DE ESTOQUES Os valores a receber resultam de vendas da empresa. Os estoques representam o volume previsto de vendas. Portanto, os fundos imobilizados em estoques apresentam duas espécies de riscos: Em primeiro lugar, o nível previsto de vendas pode não ser atingido. E, em segundo lugar, essas vendas podem não se realizar ao preço unitário fixado para o volume de unidades projetado. Os riscos de menor volume de vendas e/ou de preços inferiores ao previsto são inerentes a todas as projeções das futuras condições da procura, em qualquer mercado. Todo estoque excedente resultante de redução das vendas é por definição, inesperado e, portanto, não planejado. As alternativas para a solução desses problemas foram analisadas na seção anterior. Trataremos agora de casos em que uma política de estoques deliberadamente formulada pela administração da empresa, resultando em volume superior às suas exigências imediatas. As causas de uma política deliberada de estoques “excessivos” classificam-se em cinco categorias: 1) internas-tecnológicas; 2) internas-financeiras; 3) externas-fornecedoras; 4) externas-cíclicas; e 5) outras causas. A. Causas Internas: Tecnológicas A programação das atividades do departamento de produção baseia-se nas projeções do volume de vendas, mas a elas não se restringe. Em muitos casos, a própria natureza tecnológica do processo de prod ução é a causa determinante do volume mensal real de produção. Embora a programação anual ou semestral do gerente de produção deva, normalmente, aproximar-se bastante da projeção de vendas para o mesmo período, não se pode afirmar que o mesmo seja válido para as quotas mensais , de produção. O motivo fundamental dessas discrepâncias pode ser encontrado no fato de ser o custo unitário mínimo de produção função do volume produzido, sendo independente da taxa mensal de vendas. Suponhamos que, para o exercício fiscal seguinte, o gerente de vendas projete um volume total de vendas de 900.000 unidades. Tendo em vista o caráter sazonal dos produtos, estima que as vendas mensais variem de um mínimo de 25.000 até o máximo de 150.000. A alta administração aceitou esses valores e transmitiu-os ao gerente de produção, de quem se solicita a apresentação do programa de atividades de produção, estimativas de custos e necessidades de estoques. O principal objetivo do gerente de produção é produzir o volume anual de 900.000 unidades ao mais baixo custo possível. Ignorando aqui os detalhes de contabilidade de custos, que são irrelevantes para os problemas básicos dêste caso, o gerente de produção sabe que seus custos fixos unitários serão sempre os mesmos, não importando se a p rodução for programada para um nível mensal regular de 75.000 unidades ou para um nível irregular, desde que a produção total seja de 900.000 unidades. Entretanto, o mesmo não se verifica com os custos variáveis de mão -deobra. Como o custo de mão-de-obra é, na maioria dos casos, o mais importante elemento dos custos totais de produção, defronta -se o gerente de produção com três alternativas para programá-la, cada uma delas envolvendo um fluxo mensal diferente de fundos para fins de pagamento de salários, matérias-primas e materiais auxiliares. 1. Produção em Nível Constante. De acordo com êste método, a produção mensal é fixada em 75.000 unidades, não importando o volume real de vendas e o envio de mercadorias efetuado em um mês qualquer. A força de trabalho exigida é utilizada integral e regularmente. Como, por definição, a força de trabalho disponível é suficiente para produzir 75.000 unidades por mês, não haverá custos de trabalho extra compreendendo o pagamento do equivalente a uma hora e meia de trabalho normal, para cada hora extraordinária. Além disso, como a força de trabalho é mantida em um mesmo nível, não haverá despesas relativas a períodos de inatividade — no caso de redução da produção e conservação de todos os empregados na folha de pagamento — ou admissão de novos elementos, sempre que a produção elevar -se subitamente e for necessário ampliar a força de trabalho. Esta preocupação do gerente de produção com um nível constante de emprego é reforçada pela recente evolução das negociações com os sindicatos, em que são reivindicados a garantia de um salário anual, o pagamento de indenizações baseada no tempo de serviço, e, também, a manutenção da tradicional regra de antiguidade tanto para promoções, quanto demissões. Entretanto, embora os custos de mão-de-obra sejam mantidos em um nível constante e os estoques de matérias-primas em níveis muito próximos ao seu mínimo, admitida a hipótese de que as compras também sejam programadas a níveis mensais constantes, o estoque de bens finais oscilará bastante. Toda vez que as vendas sazonais caírem abaixo de 75.000 unidades por mês, o estoque de bens finais começará a se acumular, até que as vendas e as entregas ultrapassem novamente 75.000 unidades. Este excesso de estoques imobiliza recursos financeiros que poderiam ser gastos com mão-de-obra e matérias-primas. Além disso, a firma incorre em custos mais elevados de armazenagem e seguros. Evidencia-se, pois, a necessidade de compensar as reduções de custos de mão-de-obra com os acréscimos de despesas, incluindo o custo de financiamento do estoque excedente. 2. Produção ao Nível da Projeção de Vendas. No outro extremo, temos a política de programação mensal da produção em função das vendas projetadas para o período. Se, por exemplo, as vendas de um certo mês forem inferiores ao volume previsto, a quota de produção para o mês seguinte deverá ser ajustada para incluir o transporte do saldo anterior. Inversamente, se as vendas superarem o volume projetado, a produção será intensificada ou a entrega das mercadorias será suspensa temporariamente. A alternativa escolhida dependerá da reação dos clientes; interessa indagar se exigem entrega imediata dos produtos ou não se importam em esperar mais uma ou duas semanas. Entretanto, ao mesmo tempo em que os custos de estoques são mantidos em um valor mínimo, o custo de mão-de-obra tende a oscilar violentamente. Se a firma adotar a política de manutenção de uma força de trabalho mínima, será obrigada a pagar horas extras no caso de a produção ser intensificada, ou incorrer em despesas relativas à admissão de novos operários. Tomando-se o exercício fiscal como um todo, o custo unitário de mão-de-obra será mais elevado, segundo êste último método de produção. A política de quotas mensais variáveis freqüentemente também acarreta substanciais acréscimos de investimento de capital nas instalações de fabricação, em épocas de maior volume de vendas. Por outro lado, como afirmamos acima, os custos relacionados com a manutenção de estoques tendem a se reduzir. Tendo em vista a redução e, se possível, a eliminação de custos desnecessários para manutenção de estoques excessivos, deve -se coordenar as decisões de produção e compra. Este procedimento permitirá minimizar o custo de vendas. Na prática, a decisão de ajustar a produção e as compras freqüentemente envolve a combinação de dois objetivos conflitantes: preço unitário de compra mais baixo e custo de financiamento. Por exemplo, o gerente de compras está ansioso por conseguir o mais baixo preço unitário dos fornecedores. Desejará aproveitar a oferta de preços especiais fora de estação ou, durante a mesma, procurará conseguir descontos apreciáveis sobre quantidades. Do ponto de vista desse individuo, uma transação dessa natureza será vantajosa para a firma e reflete-se favoravelmente em sua habilidade em conseguir preços de compra mais baixos do que o normal. Entretanto, as quantidades poderão exceder às necessidades programadas pelo gerente de produção para os meses seguintes. Em conseqüência, o excesso resultante provocará automaticamente imobilização dos recursos financeiros da firma ou gerará despesas de juros, armazenagem e seguros. A tarefa da alta administração da empresa consiste em comparar tais custos com as economias conseguidas graças a um preço de compra mais baixo. 3. Programação por Ciclos de Produção. Este método é uma variante da programação da produção a um nível mensal constante. Suas linhas gerais são as seguintes: Suponhamos que a linha de produtos da firma compreenda seis itens diferentes. Segundo o sistema de um nível constante de atividade, o gerente de produção iria programar, para cada mês, a fabricação de uma décima-segunda parte da quota anual relativa a cada um dos produtos. Se, ao contrário, utilizar o sistema de ciclos, programará, por exemplo, o item 6 para a última semana de janeiro, quando não mais necessitar mão-de-obra e equipamentos para a fabricação dos outros itens, tendo em vista o atendimento das exigências de entregas aos clientes em fevereiro. Assim sendo, a produção do item 6 poderá alcançar um nível adequado ao atendimento das necessidades da firma pelo resto do ano. Em fevereiro, outro item poderá ser escalado para produção por duas semanas completas, obtendo-se um estoque suficiente para atender os requisitos estabelecidos para vários meses; e assi m por diante. O princípio inerente ao processo de programação por ciclos é o da minimização da substituição dos equipamentos utilizados para a fabricação de um dado produto, por outros necessários à produção de outro item, do tempo de ajustamento das máquinas para a fabricação de um novo produto, e da perda de horas de trabalho em conseqüência da reaplicação da força de trabalho em outros serviços. Mormente, a programação por ciclos apresenta como vantagem a possibilidade de utilização integral da força de trabalho e do conjunto de equipamentos. A produção, segundo êsse método, também pode ser realizada quando as vendas de um certo produto caem abaixo do nível previsto. Ao invés de se reduzir a produção, o gerente da fábrica eleva a quota de outros produtos, que se espera alcançarem o volume de vendas projetado. Suponhamos que em março, a produção do item 4 seja igual às vendas previstas para o período de abril a maio, e que as vendas desse produto, nesse período, fiquem muito aquém dos níveis esperados estando as vendas do item 5 acima de suas quotas. Caberia ao gerente da fábrica remover o item 4 para o mês de maio substituindo-o pelo item 5. Em essência, portanto, a programação da produção por ciclos objetiva proporcionar maior economia do emprego de mão-de-obra do que a obtida pelo método do nível mensal constante de produção. O presente método provocará, entretanto, uma elevação do estoque médio de bens finais, especialmente se a sua aplicação fôr feita em caso de ampla diversificação de produtos. 4. Lucro ou Liquidez? Ao preparar a programação da produção e escolher o método a ser empregado, o gerente de produção tem como objetivo minimizar os itens de custo sob seu controle imediato. Neste caso, trata-se de gastos em mão-de-obra, matérias-primas utilizadas no processo de fabricação, instalações, materiais auxiliares e possível emprego de subprodutos. O gerente de produção considerará sua tarefa como bem desempenhada se conseguir reduzir os custos sobre os quais tem direto controle e autoridade. Até certo ponto, o administrador financeiro também participa da sua preocupação com a minimização do custo unitário de produção. Deixa de acompanhar o gerente de produção quando a política de minimização do custo de produção começa a ameaçar a liquidez da empresa. E m outras palavras, mesmo que a despesa de manutenção de um estoque excessivamente grande seja inferior às economias proporcionadas, por exemplo, pelo método de programação da produção em ciclos, poderá o administrador financeiro apresentar motivos válidos ao fazer objeções a essa política de produção. É perfeitamente concebível que o levantamento dos fundos necessários possa agir de forma adversa sobre o acesso da firma às fontes externas. Poderá ser forçado a ir até o limite máximo de sua capacidade de obtenção de empréstimos para conseguir o volume de recursos necessário. Neste caso, a empresa correrá o risco de um comportamento desfavorável imprevisto das vendas criar-lhe encargos muito pesados em relação à manutenção de um nível razoável de liquidez. B. Causas Externas: Fornecedores Ao programar as necessidades de matérias-primas, peças e materiais auxiliares do departamento de produção, seu gerente poderá encontrar-se diante de um dilema. Poderá necessitar de X unidades de um certo item (por exemplo, rodas dentadas, engrenagens, prensas, armários etc.) de tamanho não padronizado, e portanto não mantido em estoque pelos fornecedores. Será, pois, necessário que sejam produzidos especificamente para atender às exigências da firma. Entretanto, o volume do produto X poderá ser muito pequeno para que um fornecedor o inclua em seu processo regular de produção. O preço de lista do fornecedor baseia-se em uma encomenda equivalente, por exemplo, ao dobro das necessidades da empresa para os seis meses seguintes. Se a firma solicitar apenas X unidades, será obrigada a pagar um preço unitário de, digamos, 50 cents, comparados com 35 cents se a encomenda fosse duas vezes maior. Isto se deve ao fato de, em grande parte; os custos de fabricação desse item pelo fornecedor dependerem mais do tempo gasto para ajustamento das máquinas e dos equipamentos às especificações dos clientes, e do tempo necessário para posteriormente desfazer esta ajustagem especial, do que do número total de horas de uso efetivo das máquinas neste serviço particular. Em casos desta natureza é normalmente mais rentável fazer-se uma encomenda maior, por um preço unitário substancialmente inferior. Em conseqüência, verifica-se um significativo aumento dos estoques do item em questão. Em termos de recursos totais imobilizados em estoques, esta encomenda poderá ou não assumir alguma importância. Antes de mais nada, dependerá muito do número de itens sujeitos a diferenciais muito grandes de preço, em face das exigências mensais relativamente pequenas da empresa; em segundo lugar, dependerá também do valor monetário dessas compras em comparação com o volume total de compras do departamento de produção. C. Causas Externas: Cíclicas A situação dos estoques de uma firma está sujeita a fortes influências do ciclo econômico. Isto é válido tanto para a fase de expansão, quanto a do declínio das atividades econômicas. Entretanto, essas duas fases envolvem comportamentos e efeitos distintos. 1. Expansão. Nas fases de recuperação e prosperidade do ciclo econômico, os estoques tendem a crescer mais rapidamente do que o volume de vendas. Este fato é denominado princípio de aceleração. Seu funcionamento será exemplificado, a seguir, para o caso de uma firma varejista. Esta firma havia adotado uma política de manutenção de estoques em níveis equivalentes às vendas de dois meses. Sua previsão de vendas mensais para março, abril e maio foi de $75.000. No fim de março, observou-se que as vendas haviam alcançado $80.000, refletindo um movimento cíclico ascensional. Para simplificar nossa análise, admitamos a inexistência de qualquer influência sazonal. O volume de vendas do mês de março reduziu os estoques de abril para $70.000 (estoque de $150.000, no início de março, menos as vendas de $80.000). No começo de abril, a firma deveria encomendar, portanto, $10.000 de mercadorias adicionais, para elevar os estoques de abril a $80.000, além de igual montante de mercadorias para o mês de maio visto esperar -se que as vendas desse mês também alcancem o volume do mês de março. Assim, o total de encomendas, no início de abril, seria de $90. 000, em lugar de $75. 000, quantidade a ser solicitada nesse mês, se não tivesse havido uma expansão em março. Assim sendo, o efeito líquido dessa expansão consiste em aumentar 20% as compras para a constituição de estoques em abril — $90.000 ao invés de $75.000 — enquanto se espera que as vendas desse mês sejam 6 e 3/4% superiores à estimativa de $75.000, originalmente feita. Se as vendas do mês de abril também ultrapassarem a nova estimativa de $80.000, as encomendas feitas no início de maio deverão englobar: a) o volume mais alto de vendas de abril, mais b) o excedente das vendas de abril em relação à estimativa (modificada) para o período. À medida em que as vendas crescerem, as novas encomendas tenderão a aumentar ainda mais rapidamente. A expansão das vendas também apresenta efeitos secundários. Em resposta às perspectivas mais favoráveis do mercado, o varejista tenderá a ampliar sua linha de mercadorias em uma ou mais das seguintes direções. Poderá lançar produtos, estabelecendo nova linha de preços. Em outras palavras, substituirá sua atual linha de produtos na expectativa de aumentar a procura de produtos mais caros. Poderá além disso, expandir os estoques dos produtos das diversas linhas de preço, objetivando oferecer aos seus clientes maior variedade de modelos, materiais, cores, ou quaisquer outras características especiais de suas mercadorias. Os comerciantes atacadistas e os fabricantes tendem a apresentar uma política de estoques semelhante à do comerciante varejista dêste exemplo. Também nesses casos o volume de estoques tende a crescer mais rapidamente do que as vendas. 2. Contração. Uma política oposta é a adotada pelas empresas em período de redução das vendas, em decorrência de declínios cíclicos. Os estoques se reduzem, não apenas porque seu nível ao fim de um mês ou trimestre é superior ao originalmente planejado, mas, também porque a firma prevê uma redução adicional nas vendas. Além disso a empresa tende a diminuir o sortimento de produtos oferecidos e a variedade de linhas de preços. O efeito conseguido apresenta, portanto, dois aspectos. As reduções de encomendas para estoque são feitas mais rapidamente que o decréscimo das vendas. Além disso, a firma tende a reduzir seus estoques pela fixação de preços mais baixos. Na economia, como um todo, esta tendência reflete-se em uma liquidação generalizada de estoques. Trata-se de uma recessão induzida por estoques. Em outras palavras, a acumulação acelerada de estoques na fase de prosperidade, passou a ser demasiada ao voltarem as vendas ao nível normal. Nesse momento, novas encomendas foram rapidamente diminuídas pelos varejistas, que procuravam liquidar seus estoques mediante reduções de preço. A queda do volume de novas encomendas pelos varejistas provocou uma reação em cadeia, que afetou os atacadistas, os produtores de bens finais e materiais auxiliares e ainda os de matérias-primas. D. Outras Causas Como os estoques são acumulados e novamente encomendados na previsão de vendas futuras, seu volume é significativamente influenciado pelo período entre compras e vendas, denominado “lead time”. Em alguns casos pouco comuns, a firma consegue solicitar as mercadorias de que necessita e recebê-las em um ou dois dias. Nestas circunstâncias, não é necessário manter mais do que um estoque mínimo para atender às exigências imediatas de venda. 1. “Lead Time”. Normalmente, porém, a firma não consegue repor diariamente os estoques vendidos no dia anterior. Em primeiro lugar, porque não dispõe dos registros das operações ao fim de cada dia. Em segundo lugar, o próprio processo de preenchimento de formulários para encomendas consome algum tempo. Em terceiro lugar, a compra de quantidades relativamente pequenas, ditadas pelas necessidades diárias de produção, normalmente implicam um preço unitário mais elevado e custos de entrega desproporcionalmente altos. Por fim, o fornecedor pode insistir em: a) encomendas de tamanho mínimo e b) uma antecedência de alguns dias para poder atender o pedido de seu cliente. A combinação desses diversos fatores dá origem ao que se chama “lead time” no processo de reposição de estoques. Esse período é determinado por: 1) o prazo mínimo exigido pelo fornecedor e 2) a política de renovação de pedidos da empresa compradora. Em certas ocasiões, os fornecedores podem ter um volume tão grande de encomendas, que se tornam impossibilitados de aceitar novos pedidos para entrega dentro do prazo habitual. A firma que deseja dispor de um certo volume de mercadorias em dado momento deve, portanto, fazer seu pedido antes da época normal. Ao mesmo tempo, também é provável que a firma deseje aumentar o volume de suas encomendas. Desta maneira, espera evitar o risco de os novos pedidos serem satisfeitos com atraso, em virtude do acúmulo de encomendas a serem atendidas pelos fornecedores. Por exemplo, um fabricante normalmente pode manter matérias-primas em quantidade suficiente para a produção de um mês. Se tiver razões para supor que seus fornecedores não consigam a continuidade desse fluxo, pelo motivo acima citado, deverá fazer uma encomenda proporcional ao volume de produção de dois ou três meses. Normalmente, um varejista pode fazer encomendas para atender metade de suas necessidades estacionais previstas. Suponhamos que julgue estar o fabricante totalmente ocupado até o início da temporada. É provável, então, que faça uma encomenda superior ao nível correspondente à metade da sua previsão de vendas. 2. Iminência de Greves. O temor de uma greve na fábrica de um fornecedor poderá conduzir uma firma a acumular estoques superiores ao normal. O efeito imediato desta medida é a constituição de um estoque que, para uma pessoa estranha à empresa, poderá parecer exageradamente grande em relação ao volume de vendas. Mesmo que êste aumento de estoques envolva grande drenagem de recursos financeiros da firma, além de despesas apreciáveis com armazenagem temporária, esses custos especiais representam, basicamente, uma forma de prêmio de seguros. É o preço que a firma deverá pagar para garantir um satisfatório fornecimento de matérias-primas. 3. Aumentos de Preço. A acumulação de estoques além do nível normal é um recurso comum de uma firma que prevê substancial elevação dos preços de lista de seu fornecedor, em um futuro próximo. Neste caso, o efeito sobre os lucros difere bastante do resultante de ameaça de greve. No caso anterior, o preço de venda da empresa pode não se alterar, mesmo que a fábrica de seu fornecedor deixe de funcionar em virtude de uma greve. Os custos adicionais decorrentes da acu mulação excessiva de estoques acabarão reduzindo os lucros obtidos pelas vendas. Por outro lado, a acumulação de estoques decorrente da previsão de um aumento dos preços cobrados pelos fornecedores visa proporcionar maior lucro. A empresa espera fixar preços mais altos no futuro, baseada na elevação dos preços das matérias-primas e dos custos de mão-de-obra. Entretanto, como seus estoques foram adquiridos aos preços correntes, que são inferiores, seus lucros futuros serão ainda maiores, visto serem acrescidos da diferença entre o preço das matérias-primas e o custo de manutenção dos estoques durante êsse período de tempo. 4. Um Modelo de Custo-Rendimento. Ao estimar as economias e os custos prováveis, respectivamente, resultantes de diferentes políticas alternativas de estoques, o administrador financeiro estabelece, em primeiro lugar, os custos do estoque mínimo exigido pela firma (EM = estoque mínimo). Suponhamos que uma firma industrial necessite de um estoque de matérias-primas e produtos finais correspondentes a, pelo menos, um mês de vendas, para garantir o processo de produção e as entregas aos clientes. Todo estoque acima desse nível mínimo poderá, pois, ser considerado como estoque excedente (EE). O EE gera custos adicionais de financiamento, armazenagem, controle, seguros e impostos. Por outro lado, poderá criar oportunidades para a obtenção de um preço unitário de compra mais reduzido, produção mais eficiente, proteção contra ameaça de greve na fábrica de um fornecedor, aumentos de preços dos fornecedores, e assim por diante. Cada um desses motivos para a manutenção de estoque excedente envolve um elemento de custo e, também, de rendimento acima do EM. A Tab. 6.2 apresenta uma escala hipotética de custos e rendimentos parciais, relativa a três políticas alternativas de manutenção de estoques de matérias-primas. Estas alternativas, representando três possíveis escalas de compras, baseiam-se nas seguintes hipóteses: 1. Estoques necessários para os próximos seis meses: 300.000 unidades; de acordo com a escala do EM, na primeira coluna. 2. Preço corrente de lista do fornecedor: $1 por unidade. 3. Desconto por quantidade comprada, oferecido pelos fornecedores: Menos de 50.000 unidades: 0% De 50.000 a 74.999 unidades: 2% De 75.000 a 99.999 unidades: 3% Acima de 100.000 unidades: 4% 4. Despesas (armazenagem, seguros, juros de empréstimos): 3% ao mês. 5. Está programado para o quarto mês um aumento de 5% sobre o preço fixado pelo fornecedor; as encomendas recebidas para entrega no início do terceiro mês ainda serão cotadas ao preço corrente. Como se observa na Tab. 6.2, uma programação de compras em um nível mensal constante de 50.000 unidades deverá elevar os custos dos estoques de $150 (rendimento líquido = $150), montante êste superior ao obtido na programação baseada na previsão do volume de vendas. Este valor negativo de $150 poderá ou não ser mais do que contrabalançado pelo aumento da produtividade da mão-de-obra e/ou das máquinas, em decorrência do método de programação da produção a um nível mensal constante. Do mesmo modo, uma política de compras de 200.000 unidades no terceiro mês, tendo como objetivo evitar os problemas provocados pelo aumento iminente de preço no quarto mês, proporcionará poupanças no valor de $5.750 (ou seja, o desconto sobre o preço de lista), mais $7.750 (correspondentes ao diferencial do preço de compra). Estas poupanças totais de $13.500 serão, em parte, anuladas pelos custos de manutenção dos estoques, ou seja, $9.450, o que nos deixa um saldo líquido de $4.050. A êste valor deverá ser acrescentado o ganho líquido resultante dos descontos obtidos nos dois primeiros meses, deduzindo -se os custos dos estoques, quer dizer, $650. Portanto, o ganho total líquido será de $4.700. III. AVALIAÇÃO DE RISCOS E CUSTOS A responsabilidade pela definição de riscos e custos de manutenção de um dado volume de estoques recai sobre os ombros do administrador financeiro da empresa. Riscos e Tipos de Avaliação A relação a seguir é uma recapitulação dos diferentes riscos analisados em seções anteriores. 1. Desequilíbrio funcional. 2. Procura estacional. 3. Alterações Iminentes de Modelos. 4. Influências Cíclicas. 5. Variações de Preço. Em cada um desses casos, o administrador financeiro trabalha com eventos que podem ou não ocorrer. É possível, mas não inevitável, que algum desses eventos se verifique. Portanto, o problema básico consiste em estimar o grau de certeza da ocorrência de um evento, isto é, sua probabilidade. Uma vez feita esta estimativa, essa probabilidade poderá ser quantificada, exprimindo-se por um valor inferior a 1,0, cifra indicadora da certeza absoluta de ocorrência, enquanto que o valor 0,0 representa a certeza total de não-ocorrência do evento. 1. Ilustração. Por exemplo, o problema de demanda estacional, analisado na Seç. II, poderá ser novamente discutido em termos de um caso hipotético. Suponhamos que os estoques de um varejista, na primeira semana de dezembro, totalizem $60.000. Sua previsão, na temporada anterior às festas de fim de ano, fora a de um volume de vendas que resultou em um estoque de apenas $15.000 no fim desse período. Este estoque compreendia apenas mercadorias destinadas à venda no período de Festas. Uma estimativa das perspectivas de venda para o período restante desse mesmo ano levou a direção da loja às seguintes conclusões. Poderia adotar uma, dentre três alternativas possíveis de ação. Em primeiro lugar, poderia supor que a procura aumentasse rapidamente, sendo o estoque vendido aos níveis correntes de preço. As receitas seriam, portanto, de $60.000. A segunda alternativa consistiria em uma redução imediata de preços, da ordem de 25%. A direção da loja julgava que esta política permitiria liquidar os estoques, proporcionando $45.000 em uma semana. A terceira alternativa seria prever o prosseguimento da at ual tendência das vendas em um ritmo bastante lento. Neste caso, talvez conseguisse a firma vender somente $15.000 até as Festas de Natal. Os produtos restantes teriam que ser vendidos, depois desse período, mediante uma redução de preços de 75%, o que renderia apenas $11.000; ou seja, um total de $26.000. Reexaminando-se as três alternativas, poderemos concluir que pelo menos uma coisa é certa em relação à direção da firma. Se for aceita a segunda alternativa, suas receitas serão de $45.000. Se decidir nad a fazer de imediato, acabará obtendo $60.000 (de acordo com a primeira hipótese), ou $26.000, no terceiro caso. A questão se resume, pois, na seguinte indagação: deverá a loja reduzir imediatamente os preços e perder $15.000, ou esperar obter $60.000, correndo o risco de uma perda de receitas da ordem de $33.000? A resposta dependerá do grau de probabilidade de uma recuperação suficientemente grande da procura, capaz de absorver todo o estoque existente aos preços correntes. A questão apresentada pelo administrador financeiro quantitativamente colocada à direção nos da seguintes empresa termos: poderá Qual será ser a probabilidade de uma recuperação da demanda, 75, 60, 50% ou outra percentagem? Para que a resposta seja significativa não poderá ser qualitativa, ou seja, definida em termos de “razoável”, “regular”, “boa”, mas sim quantitativa. Admitamos que, para a direção da empresa a probabilidade de ocorrência do evento seja de 70%. Isto equivale a um nível de aceitação de 0,7 e de 0,3 de rejeição da hipótese nula de que a procura se recupere totalmente absorvendo todo o estoque existente aos preços correntes. Baseado nessa quantificação das expectativas, poderá o administrador financeiro passar para a construção da tabela de resultados (Tab. 6.3). De acordo com a alternativa A 1 , a firma tem completa certeza — probabilidade 1,0 — de que suas receitas serão de $45.000, como pode ser observado na última coluna. Na alternativa A 2 , a expectativa de que todo o estoque será vendido a $60.000 apresenta a probabilidade de apenas 0,7 sendo o seu valor: $60.000 X 0,7 = $42.000. A probabilidade de vender 3/4 dos estoques com uma redução de preço de 75%, obtendo -se $26.000, representa $7.800, ou seja, $26.000 X 0,3. Se somarmos essas duas cifras teremos $49.800 para a segunda alternativa (A 2 ) conforme indicado na última coluna da tabela. Tabela 6.3 Alternativas Ocorrência da firma (Resultados possíveis (A) (OA) A 1 Vender agora, com um O 1 A 1 $45.000 desconto de 25% A 2 Manter os preços O 2 A 2 $60.000 correntes O 2 A 2 $26.000 Probabilidade (de cada ocorrência) (PROB) Valor Esperado (VE) 1,0 0,7 0,3 $45.000 = $42.000 $ 7.800 $49.800 2. Medidas Alternativas. O valor esperado de A 2 é $50.100, superior ao de A 1 , que é de apenas $45.000. Portanto, A 2 é uma alternativa preferível à A 1 . Entretanto, se a administração da empresa tivesse estimado em 50% a probabilidade da segunda alternativa, seu valor esperado seria: ($60.000 X 0,5) + ($27.000 X 0,5) = $43.500. Isto tornaria a primeira alternativa conveniente. Contudo, antes de aceitarmos essa conclusão, devemos fazer uma advertência. A conclusão acima baseia-se no conceito estatístico de probabilidade, que a seguir demonstraremos em termos não-matemáticos. Suponhamos que esta firma tenha escolhido a mesma alternativa (A 2 ), com idêntica probabilidade de ocorrência (0,7 e 0,3, respectivamente), em 20 oportunidades consecutivas. Se as duas probabilidades permanecerem constantes, o resultado deverá ser: em 70% dos 20 casos, ou 14 casos, a $60.000 cada um $ 840.000 em 30% dos 20 casos, ou 6 casos, a $27.000 cada um $ 162.000 $1.002.000 Portanto, em vinte alternativas, o retorno total obtido será de $1.002.000, o que equivale a um retorno médio de $50.100 por tentativa ($1.002.000/20). É exatamente o resultado obtido na Tab. 6.3. Voltemos agora à nossa firma. É esta comparação de alternativas uma experiência rotineira? Em caso afirmativo é mais provável que a longo prazo, o resultado mais favorável seja proporcionado pela escolha de A 2 , em detrimento de A 1 . Entretanto, em uma única tentativa (escolhendo-se A 2 ), ou mesmo em duas ou três, envolvendo ainda a escolha de A 2 , a firma poderá obter um máximo de $60.000, ou um mínimo de $26.000. (Situação idêntica à de “cara ou coroa” no lançamento de uma moeda.) A longo prazo, se as probabilidades não se alterarem, teremos sete resultados favoráveis ($60.000) contra três desfavoráveis ($26.000). A questão fundamental que se coloca é: Poderá a firma suportar uma série de resultados desfavoráveis — obtendo $27.000, ao invés de $45.000, pela venda imediata das mercadorias — até que se inicie uma série de resultados proporcionando $60.000? Admitamos que a atual situação da firma seja de grande dificuldade financeira e que sua principal preocupação seja apenas a de sobreviver a êste período de Festas. A decisão tomada poderá significar a absorção de uma perda de $15.000, decorrente da venda imediata, ao invés do risco de uma perda maior, de $34.000, apesar de 70% de probabilidade de que possam ser integralmente recuperados $60.000. IV. ALTERNATIVAS DE OPERAÇÃO O diagnóstico das tendências atuais e futuras do nível de estoques, acrescido de uma avaliação em termos quantitativos das diversas projeções efetuadas pelos departamentos de compras, produção e vendas constitui o quadro geral de uma política de estoques. Fornecem ao administrador financeiro uma escala das prováveis saídas de caixa, em face das necessidades de estoques. Dispondo dessa informação, o administrador financeiro deverá, em seguida, responder às seguintes questões: Poderá contar com entradas de caixa suficientes para manter seus estoques? Se tal não ocorrer, de que modo poderá reduzir as saídas de caixa para constituir estoques, sem prejudicar o nível de eficiência da produção ou a entrega imediata dos artigos produzidos aos clientes da firma? Por fim, poderá a situação dos estoques indicar produtos que possam dar origem a problemas de estoques — por exemplo, obsoletismo excessivo, custos de manutenção, oscilações violentas de preço — em desacordo com o lucro que possam proporcionar? Respostas a estas questões envolvem políticas de manutenção de estoques. Devem ser dadas antes de o administrador financeiro procurar levantar fundos externos, exigidos pela estocagem. É necessário que o administrador financeiro examine as principais alternativas a serem exploradas para minimizar os fundos comprometidos em estoques, para cada nível de eficiência operacional da empresa. Alteração da Política de Compras O primeiro setor a ser explorado é o da política de compras da empresa. Envolve três aspectos distintos: 1) o “lead time”, 2) os prazos de crédito estabelecidos pelos fornecedores, 3) o método de pagamento. 1. “Lead Time”. Qualquer alteração no sentido de reduzir o período de tempo decorrido entre o recebimento das matérias-primas e dos componentes utilizados e seu emprego efetivo no processo produtivo, pode ser considerado um recurso para diminuir o volume de estoques e, conseqüentemente, da quantidade de recursos financeiros imobilizados nesse ativo. Qualquer um dos motivos a seguir apresentado poderá provocar um “lead time” muito prolongado. Alguns fornecedores podem fixar um certo preço para encomendas com prazo de entrega de três semanas. Fixarão preço mais elevado para pedidos mais urgentes, de mercadorias que devam ser entregues, no máximo, dentro de uma semana. Para tirar vantagem desse diferencial de preço, o administrador financeiro poderá fazer os pedidos para entrega três semanas antes da ocasião necessária. Neste caso, talvez seja muito mais proveitoso, do pon to de vista da empresa, e não do departamento de produção, pagar um preço mais elevado para entrega mais rápida, do que imobilizar recursos financeiros durante mais duas semanas, em cada ciclo de produção. Um reexame da programação de produção de uma firma poderá também indicar a viabilidade da redução do período entre o acabamento do produto e seu envio ao comprador. Por exemplo, o departamento de produção poderá programar suas operações baseado em ciclos de atividade, ou seja, concentrando-se em um artigo de cada vez, com o objetivo de maximizar a produtividade da mão-de-obra. Entretanto, a conseqüência poderá ser uma acumulação de bens acabados para venda, muito antes do momento estipulado para entrega. Evidentemente, uma alteração na programação de produção poderia reduzir apreciavelmente os estoques de produtos que representassem uma imobilização muito grande de fundos. O desenvolvimento do transporte de cargas por via aérea, acompanhado por uma redução da taxa por tonelada/milha, abriu novo caminho para a diminuição do período de tempo compreendido entre a produção dos bens e seu recebimento pelos clientes da empresa. Suponhamos que uma firma localizada em Massachusetts tenha clientes na Califórnia e que estes contem com o recebimento das mercadorias set e dias após a encomenda. Se os produtos forem enviados por terra — trem ou caminhão — a entrega pode levar exatamente sete dias. O fabricante deverá portanto, manter em estoque uma dada quantidade de mercadorias, para poder enviá-las no momento em que receber as encomendas. Talvez isto não seja mais necessário, graças ao transporte por via aérea. Pode -se processar um pedido proveniente da Califórnia, em quatro ou cinco dias, e, depois, enviar as mercadorias por avião, chegando ao seu destino em menos de 24 horas. No caso de transporte transoceânico, a economia de tempo proporcionada pelo serviço aéreo pode ser de até três semanas. 2. Prazos de Crédito Estabelecidos pelos Fornecedores. Uma ampliação dos prazos concedidos pelos fornecedores deverá exercer efeitos favoráveis sobre a posição de caixa da firma, isto é, tenderá a reduzir o período compreendido entre entradas e saídas. Admitamos que uma firma adquira suas mercadorias com um prazo de 30 dias e que o intervalo entre o recebimento desses produtos, sua venda e o pagamento pelos clientes varie entre 50 e 60 dias. Nestas condições, a empresa vê -se obrigada a financiar suas vendas durante 20 a 30 dias. Aumentando para 60 dias o prazo concedido pelos fornecedores, a firma poderá separar as receitas de suas vendas na data de vencimento de suas contas ou mesmo antes. Suponhamos, ainda, que essa empresa tenha anteriormente percebido a necessidade de financiar o prazo de 20 a 30 dias por empréstimos obtidos em fontes externas. O prazo mais longo, de 60 dias, habilitará a empresa a: 1) poupar os custos de financiamento externo, ou 2) utilizar esses fundos para obter outras oportunidades de lucro. Admitamos que a firma mantenha, como política de liquidez, um depósito bancário de $5.000. Solicita e obtém desse banco um empréstimo de $5.000 a 7% ao ano, sem a obrigação de conservar um saldo mínimo em depósito como garantia de pagamento. Os fundos obtidos são utilizados para financiar valores a receber e o maior volume de estoques. Suponhamos ainda que a administração da firma esteja pensando em tomar um empréstimo adicional de $35.000 a 7%, e também em aproveitar o desconto de 1%, oferecido pelos fornecedores, para pagamento de compras no ato da entrega. O banco está disposto a aumentar o atual volume de empréstimos e conceder os $35.000 adicionais; porém, exige em troca, a manutenção de um saldo mínimo de 20%. E, pois, necessário um empréstimo total de $100.000 para conseguir-se um acréscimo de $35.000: (empréstimo de $100.000 mais o depósito de $5.000) menos (o saldo mínimo exigido, $20.000, mais $50.000 já emprestados) = $35.000. O custo mensal dos $50.000 adicionais é de $350 (1/12 de 7% ao ano). Este também será o custo dos recursos para empréstimo efetivamente disponíveis, isto é, $35.000. A taxa efetiva aplicada sobre $35.000 é de 1%, igual ao desconto oferecido pelo fornecedor. Portanto, o custo marginal do empréstimo é equivalente ao ganho marginal proporcionado pelo desconto; isso indica que a firma tirará maior proveito se pagar suas compras em 30 dias, do que se gozasse do desconto de 1%. 3. Operações de Limitação de Estoques. Uma modalidade diferente de compra é conhecida por limitação de estoques. Trata -se de um processo amplamente utilizado pelas firmas que necessitam de quantidades muito grandes de matérias-primas ou produtos agrícolas, negociados nas chamadas bolsas de mercadorias, sujeitos a flutuações de preços. Basicamente, uma operação de limitação de estoques compreende, simultaneamente, a compra imediata de um determinado número de unidades e o estabelecimento de contratos para entregas futuras dessa mesma mercadoria. Suponhamos que uma certa empresa fabrique artigos de couro. Sua programação de produção para 26 semanas exige 500 peles de bezerro por semana, ou seja, 13.000 peles. Êsse cálculo baseia -se em pedidos feitos por seus clientes. O preço unitário corrente das peles é $5. No mercado de peles, também estão cotados os preços “futuros” de $5,15 para entrega em 30 dias, $5,30 em 60 dias e $5,45 em 90 dias etc. Existem, pois, três alternativas. Poderá comprar semanalmente 500 peles e correr o risco de o preço permanecer constante ao nível de $5 ou então oscilar. No primeiro caso, obterá um lucro correspondente à diferença entre o preço de venda e seus custos totais, incluindo o custo das peles, calculado ao preço corrente de mercado. Se o preço da matériaprima diminuir, a firma obterá um lucro adicional não previsto. Também poderá ocorrer o contrário, se o preço das peles aumentar. A segunda alternativa é a compra de 13.000 peles, o mais rápido possível, acrescentando-se ao preço de compra os custos de estocagem, manipulação, seguros etc., calculando-se o custo médio por pele e utilizando-se êste valor para determinar o provável lucro da empresa. A terceira alternativa é comprar imediatamente 3.000 peles, firmando-se cinco contratos futuros para aquisição das demais unidades, de 2.000 peles cada um, sendo o primeiro contrato pagável 30 dias a contar dessa data, e os outros quatro em sucessivos intervalos de um mês. O preço pago pela firma por esses contratos, é em geral, superior ao preço corrente, ou seja, o preço “a vista”, para entrega imediata. A diferença entre os preços futuros e o preço corrente é, normalmente, igual ao custo incorrido pelo vendedor para manutenção e financiamento dos estoque em um, dois ou mais meses, além de pequena margem de lucro. Na verdade, alguns fornecedores de peles mediante contratos futuros, não pretendem adquiri-las e conservá-las para posterior entrega. Ao invés disso, poderão especular sobre a possibilidade de mais tarde saldarem seus compromissos, adquirindo-as no mercado a vista, por um preço inferior ao que a empresa tenha concordado em pagar conforme os contratos futuros. Às vezes, os especuladores poderão julgar que o preço futuro do mercado seja bastante inferior ao preço corrente. Neste caso, é perfeitamente concebível que a diferença entre o preço futuro e o preço corrente de mercado possa ser inferior ao “markup” normal sobre o preço a vista. A firma que tiver a garantia de um fluxo de matérias-primas necessárias no momento adequado, mediante o estabelecimento de uma série de contratos futuros, reduzirá proporcionalmente seu investimento em estoques. Ao mesmo tempo, conhecerá, com precisão, os custos (futuros) de suas matérias-primas. Terá, portanto, certeza absoluta da margem de lucro determinada para fins de fixação de seu preço de venda. Em essência, a firma colocou “barreiras” em torno de seus custos de matérias-primas e lucros prováveis. Uma vantagem adicional da limitação de estoques é contribuir, freqüentemente, para o fortalecimento da posição creditícia da empresa. Como os custos futuros dos estoques já estão fixados, a firma poderá eliminar os riscos de uma posterior elevação dos preços de matérias primas, cujo efeito poderia anular grande parte do lucro decorrente da política de limitação de estoques. Mediante tal política, poderá a firma especializar-se na fabricação de artigos de couro, transferindo o risco especulativo proveniente das flutuações dos preços das peles para aqueles que, precipuamente, estabelecem contratos futuros. 4. Alteração na Política de Vendas. O administrador financeiro poderá também tentar reduzir o volume de estoques mediante uma análise da política de vendas da empresa e de acordo com as seguintes linhas gerais: a) Vendas de Pré-Estação. Freqüentemente, um estoque excessivo é conseqüência de uma substancial acumulação de bens acabados efetuada pouco antes da procura estacional de parte dos clientes. Esta prática é bastante comum entre fabricantes ou até mesmo comerciantes. Os fabricantes que adotam uma política de produção a nível constante acham-se particularmente expostos à tendência de acumular estoques substanciais, antes que o pico estacional da procura dos clientes seja alcançado. Uma redução de preços nas compras de pré-estação proporciona aos clientes de uma empresa a possibilidade da obtenção de lucros adicionais. Embora provoque uma redução, de igual valor, da margem bruta da firma, a queda de preço permitirá diminuir os custos da manutenção dos estoques. Normalmente, estas poupanças apenas constituem parte da redução dos preços. Entretanto, a vantagem obtida em termos de maior liquidez poderá ser bastante importante, embora não mensurável em dólares e cents. Liberará a alta administração da necessidade de manter um equilíbrio precário entre a entrada de recursos, relativamente pequena antes da temporada de vendas, e os vultosos compromissos assumidos com os fornecedores que dependem do volume de produção. Mais especificamente, a firma reduzirá suas necessidades de empréstimos. Este fator desempenha importante papel numa firma de pequeno porte, ao contrário da grande empresa, que tem facilidade de acesso a recursos bancários. b) Aperfeiçoamento do Controle de Estoques. Um ponto que também pode ser explorado, e que tende a proporcionar resultados bastante proveitosos, é o método empregado pela firma para controlar seus estoques. Controle de estoques refere-se ao método utilizado para verificar se as estimativas de estoques disponíveis estão ajustadas às saídas reais de mercadorias para fins de produção, venda ou ambas. Dois casos ilustrativos mostrarão a importância e o papel desempenhado pelo controle de estoques da firma. c) Armazenagem. Por vários anos, a firma A manteve um único depósito central no qual todas as encomendas eram feitas. Os produtos eram enviados aos clientes por trem ou caminhão, dependendo da distância que o comprador estivesse do depósito. Os estoques existentes nesse depósito alcançavam, em média, $300.000. Esta prática foi satisfatória até o momento em que a área de vendas da firma começou a se expandir. Em conseqüência, as entregas de mercadorias aos clientes mais distantes passaram a levar até uma semana, ou mesmo mais. Atrasos em entregas tornaram-se típicos no caso de pequenas encomendas de valor inferior a mil dólares. Começaram, então, os clientes mais distantes, a reclamar freqüentemente contra esses atrasos. Cancelamentos tornaram-se bastante comuns. Os vendedores também registraram inúmeros casos de clientes que não renovaram suas encomendas dada a impossibilidade da garantia da entrega dentro do prazo. Para atender a tais reclamações, a firma estabeleceu dois depósitos menores em dois novos centros geográficos. Reduziu o estoque do depósito central para $200.000, recebendo cada um dos novos depósitos bens acabados no valor de $100.000, o que elevou o valor global dos estoques da empresa para $400.000. Apesar do aumento do custo da estocagem, a firma verificou ser êste novo processo mais lucrativo, em relação ao acréscimo do volume de encomendas e tendo em vista a maior satisfação dos clientes. Com a expansão do volume de vendas, o estoque armazenado ultrapassou $500.000. Nesta altura, o administrador financeiro propôs um reexame da política adotada. De acordo com suas recomendações, foi realizado um estudo do custo de fretes aéreos, desde o depósito central até os clientes atendidos pelos dois pequenos depósitos auxiliares, levando -se em conta o volume e a freqüência dos pedidos e comparando -se o custo do frete aéreo com os gastos correntes de transporte. Os resultados mais importantes dessa análise mostraram que o depósito central, com um estoque de $250.000 poderia, graças ao transporte aéreo, atender a todos os clientes mais distantes tão eficientemente quanto no momento atual, e a um custo total mais reduzido. As poupanças de aluguel dos depósitos, despesas de controle de estoques, seguros etc., contrabalançariam, com vantagem, o custo mais elevado do frete aéreo, quando comparado com os fretes ferroviários ou rodoviários. Além disso, as necessidades de capital para a formação de estoques seriam reduzidos à metade, permitindo economias adicionais de gastos financeiros. d) Coordenação do Fluxo de Estoques. No segundo caso, o administrador financeiro procedeu a uma análise dos pedidos de peças para reposição comparando-o com os estoques mantidos para essa finalidade. O estudo mostrou que aproximadamente metade do estoque correspondia a 90% dos pedidos. Em outras palavras, a rotação de metade do estoque era nove vezes superior à da outra metade. Os itens de menor rotação poderiam ser reduzidos, e o foram, para menos de um quarto do seu volume anterior, sem que provocassem atrasos injustificados no atendimento de pedidos. Tal como no caso anterior, o custo de manutenção do estoque foi sensivelmente reduzido, havendo liberação de recursos financeiros para outros fins operacionais, bem como aumento da liquidez geral da firma. RESUMO Os estoques e os valores a receber representam um ativo de enorme importância para o administrador financeiro. Os risco s financeiros de inadequados planejamento, administração e controle de estoques podem levar a prejuízos financeiros ainda maiores do que os resultantes de dívidas incobráveis. Um planejamento deficiente de estoques poderá, facilmente, acarretar prejuízos de 10% ou mais, em parte de seus estoques, mesmo em épocas favoráveis. O volume de estoques é função das vendas previstas. Assim sendo, o estabelecimento de adequados níveis de estoques baseia-se, freqüentemente, na precisão das previsões de vendas. Outros fatores, inclusive o dilema entre liquidez e rentabilidade, exercem influências sobre os níveis de estoques. Para que se proceda a uma análise realmente significativa, é necessário classificar os “estoques” em função de seus componentes, ou seja, matérias-primas, bens de processamento e produtos acabados. O conhecimento do método contábil de avaliação dos estoques é necessário ao administrador financeiro. Qual o método a ser utilizado pela firma: o do preço de custo ou de mercado, qualquer que seja o mais b aixo, LIFO ou FIFO? Os fundos imobilizados em estoques apresentam o risco duplo de impossibilidade de realização das vendas previstas ou de obtenção do preço de venda, anteriormente calculado. Portanto, o administrador financeiro deverá planejar cuidadosamente a política de estocagem de sua empresa. Uma política que estabeleça a manutenção de níveis de estoques superiores às necessidades futuras mais imediatas poderá ser conveniente por vários motivos, tais como, por exemplo, níveis mais econômicos de produção, receio de faltas de estoques, previsão de aumentos dos preços de. matérias-primas, “lead time”, ou iminência de greves. Diversas técnicas quantitativas podem auxiliar o administrador financeiro no planejamento dos níveis de estoques. Outros métodos de controle de estoques, como a análise das políticas relativas à armazenagem e transporte, poderão contribuir para a redução dos níveis de estoque da empresa. 07.04- FINANCIAMENTO DE CAPITAL DE TERCEIROS A LONGO PRAZO A importância do financiamento de capital de terceiros a longo prazo para as empresas norte-americanas é demonstrada na Tab. 14.1. Em cada um dos anos do período 1959-1966, a venda dos novos títulos de dívida variou de 71 a 88,1% do volume total dos novos títulos emitidos pelas sociedades anônimas. Os valores monetários absolutos oscilaram entre um mínimo de $8.081 milhões e um máximo de $15.561 milhões. Sem dúvida, estes dados, comprovam o papel predominante desempenhado pelos títulos de dívida, como instrumento de obtenção de fundos a longo prazo em fontes externas de capital. Problemas do Tomador dos Recursos Para decidir-se pela emissão ou não de títulos de dívida, deverá o executor financeiro considerar quatro. problemas fundamentais. Em primeiro lugar, precisará comparar as vantagens relativas — ou seja, os custos e a incerteza — de uma emissão de títulos de dívida a longo prazo, com uma série de empréstimos a médio prazo. Suponhamos que uma firma necessite de $1 milhão para investir em novas máquinas e melhorias essenciais em sua planta, por um período de 15 anos. Um banco está disposto a efetuar um empréstimo, por cinco anos, a uma taxa de juros inferior à taxa corrente de emissão de títulos de dívida, com idêntico prazo. Todavia, poderemos concluir pela permanência dessa situação daqui a cinco anos? É perfeitamente concebível o fato de a firma enfrentar algumas dificuldades nos meses que precedem o vencimento do empréstimo. Nesse caso, conseguirá a firma um novo empréstimo para resgatar o primeiro? Será a taxa de juros então vigente tão favorável quanto a atual? E quanto à situação geral da economia? Se houver recessão, qual a probabilidade de obter-se um empréstimo para resgate de outro empréstimo conseguido anteriormente? Mesmo que tal seja possível, é provável que o emprestador dos recursos exija o estabelecimento de condições mais restritivas e, com toda a certeza, insista na fixação de uma taxa de juros mais elevada. Estas incertezas deverão ser comparadas com a taxa de juros, mais reduzida, do empréstimo a médio prazo. Em segundo lugar, se o executivo financeiro e a alta administração da firma decidirem-se pela emissão de títulos de divida com prazo de 15 anos, quem será responsabilizado pela sua emissão? Deverá a empresa procurar um comprador (por exemplo, um fundo de aposentadoria, uma companhia seguradora), ou deverá oferecer os títulos diretamente ao público? Será mais vantajoso utilizar os serviços de um subscritor ou banco de investimento como intermediário? Em terceiro lugar, se recorrermos a um intermediário, deverá a firma abrir concorrência para propostas de vários corretores ou banco de investimento? Ou, deverá escolher um único banco de investimento e regatear com vistas à obtenção das melhores condições possíveis? E, por último, embora não menos importante, de que modo poderá o administrador financeiro avaliar os custos “invisíveis” (por exemplo: opções, “warrants”, direitos de conversão), que poderão ser solicitados pelo subscritor ou pelo comprador dos títulos? As respostas a estas questões dependerão de experiências e julgamentos pessoais. O mercado de capitais, em várias décadas, criou grande variedade de cláusulas e condições de compra. É indispensável conhecer estes problemas, para que a firma obtenha um acordo que considere justo e que seja, ao mesmo tempo, aceitável para o ofertante de recursos. A análise a que nos propomos realizar no presente capítulo abrange quatro áreas principais: 1. Modalidades de títulos de dívida (capital de terceiros). 2. Investidores. 3. O ponto de vista da administração da empresa. 4. O mercado de títulos de dívida (capital de terceiros). I. MODALIDADES DE TÍTULOS DE DÍVIDA As duas modalidades mais comumente encontradas de títulos de dívida a longo prazo são: 1) as letras hipotecárias e 2) as debêntures. Além desses dois tipos, outros têm surgido com o passar do tempo, visando algum objetivo especial. As principais modalidades desses títulos híbridos serão analisadas ao final desta parte. Características Comuns. O acordo estabelecido entre a sociedade anônima (que é o devedor) e os compradores dos títulos (credores) denomina-se contrato emissão. Este instrumento apresenta, de forma detalhada, o tipo do título emitido pela empresa, as obrigações assumidas pelo devedor, os direitos ou privilégios especiais concedidos aos portadores, e outras condições aceitas pelo devedor. Freqüentemente êste documento contém várias páginas impressas. O título propriamente dito é, normalmente, um documento de uma página. Este documento define o título claramente e especifica o seu valor nominal (em geral, $1.000), que representa uma fração do total da dívida, o qual por sua vez está expresso no contrato. Enquanto o contrato é o acordo firmado entre a empresa e os credores como um todo, o titulo especifica os direitos básicos de seu portador; por exemplo, a t axa de juros, a data de pagamento, a data de vencimento do principal e outras condições importantes concernentes a relações financeiras. Em termos práticos, seria impossível a cada um dos portadores certificar-se do cumprimento pela empresa, de todas as obrigações estabelecidas no contrato. Com o objetivo de proteger adequadamente o grande número de portadores, e fazer com que seus interesses sejam resguardados, conforme os termos do contrato, o acordo prevê a indicação de um “trustee”, de sua confiança, agindo em seu nome. O “trustee” é obrigado a assegurar-se de que o devedor está cumprindo as cláusulas do contrato. Isto implica em um exame periódico dos relatórios financeiros e outros, que o devedor tenha concordado em apresentar, em prazos preestabelecidos. Em caso de violação das normas fixadas no contrato, o “trustee” fica automaticamente autorizado e obrigado a tomar as medidas necessárias. O “trustee” também recebe, da sociedade anônima, os recursos a serem distribuídos aos portadores dos títulos sob a forma de juros e de pagamento do principal. Se o contrato exigir o estabelecimento de um fundo de amortização, o “trustee” será o seu administrador. Em regra, cabe às sociedades anônimas o pagamento dos honorários cobrados pelo “trustee”, embora êste aja somente em defesa dos interesses dos credores. Para minimizar os riscos de um conflito de interesses, o Trust Indenture Act de 1939 impôs ao “trustee” uma série de obrigações específicas e responsabilizou civil e criminalmente os violadores destas regras. Afora isso, o “trustee” indicado no contrato deverá ser uma pessoa jurídica e possuir, no mínimo, $150.000 de capital mais reservas. A execução dessa lei foi atribuída à Securities and Exchanges Commission. Todavia, cumpre notar que se aplica somente às emissões de títulos de dívida, cujo valor é superior a um milhão de dólares. A. Letras Hipotecárias Como seu próprio nome indica, esta modalidade de título de dívida é garantida pela hipoteca de certos ativos fixos da sociedade anônima apenas. Em seus aspectos formais, a hipoteca de uma sociedade anônima é semelhante à de uma propriedade residencial. Existem, entretanto, importantes diferenças de conteúdo. Merecem estas, análises mais detalhadas. O portador de uma hipoteca sobre uma residência considera ês se imóvel como garantia real de seu empréstimo. Sabe que poderá executar e vender a propriedade, pelo menos, pelo valor da hipoteca. Se possuir uma primeira hipoteca, não deverá preocupar-se com o estabelecimento de uma segunda, ou mesmo de uma terceira hipoteca sobre essa mesma residência. No que lhe diz respeito, possui direito prioritário sobre a receita decorrente da venda forçada da propriedade. O portador da primeira hipoteca espera que, mesmo no caso de uma venda mal sucedida, a receita seja suficiente para cobrir os custos de execução, as comissões de venda, além de todos os direitos de primeira hipoteca. Se o devedor não puder pagar os juros correspondentes à segunda e à terceira hipotecas, os portadores destas poderão executá-las, se assim o desejarem. Porém, seus respectivos direitos não serão atendidos antes de o possuidor da primeira hipoteca receber integralmente o que lhe fôr devido. A situação é bastante diferente no caso de uma hipoteca sobre ativos de uma sociedade anônima. Neste caso, o portador das letras considera, como sua maior garantia, a capacidade de obtenção de rendimentos da firma. O valor da propriedade penhorada poderá reduzir se substancialmente, se a empresa fôr levada a liquidar o ativo. Isto é particularmente verdadeiro no caso de bens de uso industrial e que se destinem a atender a necessidades específicas das firmas, no que se refere a tamanho, disposição física, construção, localização etc. Assim sendo, o portador de uma letra hipotecária de uma sociedade anônima possui interesse vital em se proteger contra o excessivo comprometimento dos rendimentos da firma a novos credores privilegiados. Portanto, o contrato de uma letra de primeira hipoteca poderá exigir que o volume total da emissão de primeira hipoteca não seja, por exemplo, superior a $3 milhões, sobre um ativo cujo valor estimado é de $5 milhões, digamos. Trata-se, no caso, de uma hipoteca fechada. É de se admitir que, neste caso hipotético, a sociedade anônima não deseje obter mais do que $2 milhões mediante a venda d e letras hipotecárias. Pretende, entretanto, manter aberta a porta para uma posterior emissão, de mais de um milhão de dólares. Além disso, os atuais planos da empresa podem prever a aquisição de novos ativos, em futuro não muito distante. Em qualquer dos dois casos, uma oferta de segunda hipoteca implicaria condições menos favoráveis para a empresa. O recurso empregado, em casos como êste, é o de uma hipoteca aberta, prosseguindo nosso exemplo, a empresa ofereceria letras de primeira hipoteca, até o limite de 60% do valor da propriedade oferecida como garantia. Assim sendo, se não adquirir novos ativos, poderá emitir, posteriormente, outro milhão de dólares, sob a forma de letras. E, se mais tarde, adquirir um ativo avaliado em $2 milhões, poderá emitir mai s $1,2 milhões de letras de primeira hipoteca. Teríamos, então, uma primeira hipoteca totalizando $2 milhões, mais $1 milhão, acrescido de $1,2 milhões, ou seja, $4,2 milhões, garantidos por um ativo avaliado em $7 milhões. Outro dispositivo freqüentemente encontrado em contratos de emissão de letras hipotecárias é a cláusula de aquisição posterior. Esta cláusula estipula que toda e qualquer propriedade subseqüente -mente adquirida pela empresa constitui-se, automaticamente, em garantia adicional das letras anteriormente lançadas. A cláusula em questão pode criar sérios problemas relativos a financiamento, no caso de uma emissão fechada de letras hipotecárias. Suponhamos, em nosso exemplo, que a empresa tenha lançado letras de primeira hipoteca, no valor de $3 milhões, sobre um ativo avaliado em $5 milhões. Deseja adquirir um novo ativo no valor de $2 milhões, e necessita de $1,2 milhões, sob a forma de capital de terceiros, para financiar a transação. De acordo com a cláusula de aquisição posterior, êste novo ativo seria incluído na garantia da primeira hipoteca. A sociedade anônima poderia, portanto, vender títulos não prioritários, à taxa de juros mais elevada do que a das letras de primeira hipoteca. Em geral, os investidores potenciais deverão exigir emissões fechadas, enquanto as sociedades anônimas preferem as abertas. Esta regra, entretanto, possui algumas exceções. Uma companhia distribuidora de água, por exemplo, não encontra dificuldade alguma na venda de uma emissão aberta de letras hipotecárias. Uma compra subseqüente de novos ativos — ou seja, a expansão do reservatório, maior quantidade de bombas etc. — normalmente implicará um acréscimo correspondente da produção, das receitas, e dos lucros. Se esses ativos puderem ser financiados por uma emissão aberta de letras hipotecárias, a taxa de juros tenderá a ser inferior à de letras de segunda hipoteca. Por sua vez, isto implicará em maiores lucros. Ao contrário de uma empresa de utilidade pública, que goze de uma situação monopolística legalizada , uma firma industrial ou comercial não tem seu campo de operações limitado a um produto particular e não desfruta da ausência de concorrentes na oferta desse bem. Nestes casos, portanto, o investidor geralmente reluta em aplicar seus recursos na emissão aberta de letras “hipotecárias”. Todavia, deve-se observar que as sociedades anônimas têm criado diversos dispositivos para escapar à cláusula de aquisição posterior. Basta mencionar apenas duas. O primeiro refere-se ao arrendamento do novo ativo, e o outro estabelece a criação de uma empresa subsidiária, que compre o novo equipamento, sujeito a uma hipoteca do tipo “purchase-money”, no valor de $1,2 milhões. B. Debêntures Dois motivos principais podem impedir uma sociedade anônima de recorrer à emissão de letras hipotecárias, para obtenção de capital de terceiros. As companhias de financiamento, por exemplo, não possuem ativos físicos que possam oferecer como garantia dessa emissão. As firmas que realizam atividades de distribuição e prestação de serviços, por exemplo, geralmente apresentam um ativo total representado por um volume relativamente pequeno de bens imóveis. As grandes lojas de departamentos, possuem grandes estoques, móveis e instalações diversas, quando comparado com o montante de “real property”. Nestes casos, o montante que pudesse ser levantado em emissão de letras hipotecárias poderia ser insuficiente em relação às necessidades da empresa. A segunda razão impeditiva da utilização de letras hipotecárias poderá advir do fato de a companhia ter elevada posição creditícia no mercado de capitais, sendo possível o levantamento dos recursos exigidos, sem necessidade de uma hipoteca, como garantia. Em outras palavras, a firma não é obrigada a penhorar parte ou a totalidade de seus bens para obter o necessário volume de capital de terceiros. Sua tradição de lucratividade e perspectivas futuras constituem suficiente garantia para os prováveis investidores. A debênture transforma-se, então, em instrumento de dívida. Como a debênture está diretamente ligada ao rendimento previsto da sociedade anônima, as cláusulas contratuais de natureza protecionista relacionam-se, principalmente, com a distribuição dos lucros futuros da firma, assim como o contrato de títulos refere-se, essencialmente, à propriedade dos ativos. O alcance e os detalhes do contrato dependem de uma série de fatores; por exemplo, do tipo de indústria, do tamanho da empresa, da taxa de lucro, dos futuros planos de expansão, da política de dividendos, das condições vigentes no mercado de capitais e, por último, mas não menos importante, do poder de regateio da firma. Basicamente o contrato deverá incluir cláusulas abrangendo as áreas abaixo mencionadas. Normalmente, limita a ação da firma no tocante a sua política de dividendos, ou seja, estipula que uma determinada percentagem do lucro, depois de deduzidos os impostos, seja retida na empresa. Além disso, a firma não poderá emitir debêntures adicionais, a menos que estas últimas se subordinem às originais, ou sejam debêntures com direitos não prioritários. Freqüentemente, o contrato também conterá uma cláusula de aquisição posterior. Segundo êste dispositivo, toda e qualquer hipoteca sobre propriedade da firma, lavrada posteriormente, não possui prioridade em relação à debênture, nos casos de não pagamento ou liquidação. A debênture também possuirá direitos equivalentes aos de qualquer letra hipotecária que venha a ser emitida. Também é bastante comum a imposição de restrições à venda de ativos pela empresa. As cláusulas restritivas acima citadas poderão, perfeitamente, interferir em futuras decisões administrativas que possam fortalecer a empresa e realmente melhorar a qualidade da debênture. Por exemplo, a firma poderá receber uma oferta de compra de um imóvel, a um preço altamente atraente. Os recursos levantados graças a esta venda poderiam ser posteriormente utilizados pela firma em operações mais lucrativas. Para impedir que a empresa fique rigidamente presa às cláusulas do contrato, durante todo o período de vigência da debênture, poderá ser introduzido um dispositivo que permita a alteração de determinadas restrições, depois de aprovada por um certo número de portadores desses títulos. C. Instrumentos Híbridos O administrador financeiro de uma empresa desejosa de obter financiamento a longo prazo descobre, com freqüência, que a melhor forma de estabelecer um acordo, em termos de custo, quanto de estratégia a longo prazo, implica conceder ao credor alguns direitos em relação à expansão e aos lucros futuros da firma. Esses acordos podem ser estabelecidos de várias maneiras. Freqüentemente, novas empresas são financiadas por transações de lotes. Por exemplo, o investidor deve comprar, simultaneamente, debêntures de ações ordinárias de uma firma. Quando a Belco Petroleum, produtora de petróleo e gás relativamente desconhecida, democratizou seu capital em 1959, sua primeira oferta foi de debêntures, cujo valor unitário era de $36, e duas modalidades de ações ordinárias de $54,30 por unidade. Mais comuns ainda são os warrants ou opções para “atenuar” uma emissão de títulos de dívida a longo prazo, ou refinanciamento. Os “warrants”, geralmente concedidos em proporção ao número de títulos garantidos, permitem ao portador a compra de ações ordinárias da empresa, a um preço estipulado, e em um dado período. Quando a Mack Trucks, Inc., em 1961, emitiu debêntures subordinadas no valor total de $20 .000.000, cada título no valor de $1.000 era acompanhado por cinco “warrants”, cada um dos quais autorizava o portador a adquirir, por $46, uma ação ordinária da firma, até 1 o de abril de 1971. Estes “warrants”, como normalmente ocorre, podem ser destacados do título para facilitar sua venda, sendo negociados separadamente. No caso da Mack, os “warrants” valiam $10 cada um, logo após a emissão. Nessas condições, o comprador de um titulo da Mack, ao invés de pagar $1.000, realmente comprava-o por $950, supondo-se que, logo em seguida, venderia os “warrants”. Por outro lado, conseguiu a Mack melhor receptividade para suas emissões de títulos de dívida, do que ocorreria em outras condições. Em contrapartida, porém, o valor do crescimento futuro da firma, do ponto de vista de seus acionistas, foi diluído, já que a emissão de debêntures atribuía direitos sobre sua propriedade, a um número maior de indivíduos. Além de serem utilizados para atenuar as emissões de títulos de dívida e operações de financiamento, concedem-se “warrants” a subscritores, como parte de seus honorários. Do ponto de vista administrativo, o efeito imediato desta técnica sobre a estrutura financeira da empresa pode ser relativamente pequeno. Na verdade, como observamos, estes atenuantes podem minimizar os custos imediatos da tomada de empréstimos. A longo prazo, porém, podem reduzir o valor da ação ordinária da firma, visto aumentarem o número de ações, provocando uma diluição dos lucros disponíveis para distribuição aos acionistas. 1. Debêntures Conversíveis. A modalidade mais comum de instrumento híbrido de dívida é a debênture conversível. São emitidas exatamente como as outras modalidades de debêntures, com todas as restrições relativas à administração empresarial. Além disso, entretanto, o portador de debêntures conversíveis tem o direito de converter tais títulos em ações ordinárias da empresa devedora, em condições previamente estabelecidas. Neste caso, a dívida da empresa poderá apresentar todos os elementos de uma letra ou de uma debênture: taxa fixa de juros, cláusulas de resgate, prazo de vencimento e de pagamento pelo devedor, fundo de amortização, e assim por diante, além do privilégio de conv ersão, por opção do credor, em ações ordinárias. Quase 10% das 5.000 companhias constantes do Moody’s Industrial Manual de 1963, haviam lançado emissões de debêntures conversíveis. Um exemplo da utilização desta modalidade de financiamento é a emissão de Debêntures Subordinadas Conversíveis a 4 3/8%, pela American Greetings Corporation, no valor total de $7.500.000, em julho de 1963. Tratando-se de um empréstimo puro de recursos, as debêntures em questão deveriam apresentar uma taxa de juros de aproximadame nte 5 3/8%, a considerar-se a classificação Ba que lhe foi atribuída. A diferença observada em relação à taxa de juros (um montante significativo, de $75.000), corresponde à concessão do privilégio de conversão aos credores. Estes poderão, quando o desejarem, desde que durante o prazo de vencimento, converter as debêntures em ações, à razão de $41,64 do montante do empréstimo por ação ordinária da firma. Pode-se perguntar, a esta altura, porque o administrador financeiro da empresa não recorreu diretamente a uma emissão de ações ordinárias. São bastante complexos os motivos de tal estratégia. a) Custo. Na época em que foram emitidas, as ações ordinárias da American Greetings alcançaram o preço unitário de $37,25, Graças ao lançamento das ações, por meio de uma emissão de debêntures conversíveis, a companhia poderá obter um ágio de, pelo menos 12% ($41,64 contra $37,25), em relação ao preço de lançamento da ação ordinária. E bastante provável que seu preço seja inferior ao de mercado, para atrair novos investidores. Deve-se notar, entretanto, que a notícia do lançamento de debêntures conversíveis pela firma tende a reduzir o preço das ações ordinárias. Não obstante, o efeito final é relativamente inferior ao de uma oferta direta equivalente de ações ordinárias. A companhia pagava um dividendo de $0,67 por ação, ou seja, aproximadamente 1,8% do seu preço de mercado. A taxa de 4 3/8%, fixada para as debêntures conversíveis constitui, portanto, motivo de atração de investidores potenciais para a empresa, desejosos de aumentar o rendimento de seus recursos. Ao mesmo tempo, contudo, o custo da emissão de debêntures da American Greetings não difere radicalmente do que aparentemente se observa. Ao pagar $18 para cada $1 .000 de ações ordinárias, a companhia será obrigada a conseguir um lucro de aproximadamente $36, antes da dedução dos impostos. Como os juros pagos sobre as debêntures, mesmo que sejam conversíveis, constituem despesa operacional e dedutível para fins de pagamento de impostos, correspondem a um lucro de $43,75, antes da dedução dos impostos. A diferença real, em termos de custo, depois de levarmos em consideração o impacto dos impostos, é de $7,75 por $1.000 ($43,75 menos $36), ou seja, 0,775%. Do ponto de vista da empresa, esta diferença é insignificante . Além disso, os custos de subscrição das debêntures conversíveis tendem a ser bastante inferiores aos relativos a uma emissão, de igual valor, de ações ordinárias. A American Greetings, por exemplo, pagou $150.000 aos seus subscritores pelos serviços por eles prestados no lançamento das debêntures. Uma emissão de ações no montante de $7.500.000, por outro lado, provavelmente custaria à firma, em torno de $250 .000, em termos de honorários de subscritores. A utilização de debêntures conversíveis, entretanto, está longe de apresentar aspectos apenas positivos. Em troca do privilégio da utilização desse instrumento de divida, a administração da firma compromete-se a aceitar, pelo menos inicialmente, um credor com muitos direitos e privilégios, que não podem deixar de ser respeitados. Ao contrário do pagamento de dividendos aos portadores de ações ordinárias, as despesas de juros relativos às debêntures conversíveis devem sempre ser pagas, além de ser necessária a restituição do principal, se o portador não converter os títulos em ações ordinárias. b) Conversão Forçada. Se o preço da ação ordinária ultrapassar o preço de conversão — se, por exemplo, a ação ordinária da American Greetings subir, no futuro, para $62 — as debêntures valerão aproximadamente $1.500 ($62/41,64 X 1.000). Existe ainda outro fator a ser ressaltado. Se o preço da ação ordinária superar o de conversão, o preço de mercado da debênture também elevar-se-á, proporcionalmente, acima de seu valor nominal. O portador do título possui, portanto, d upla vantagem. Recebe a soma correspondente à. taxa de juros convencionada, e tem ainda a oportunidade de auferir um ganho de capital. Se a administração chamar os títulos para resgate (como é de seu direito, de acordo com o contrato de emissão), a um preço ligeiramente superior a $1.000 para proteger seu investimento, os portadores serão obrigados a convertê-los em ações ordinárias. Desta maneira, a firma poderá evitar a restituição do empréstimo mediante a transformação de uma dívida em um direito de propriedade. Por outro lado, se a ação ordinária conservar-se aquém do preço de conversão, não haverá forma possível de induzir os portadores de debêntures a renunciarem a seus empréstimos por ações ordinárias, sendo a empresa obrigada a operar em obediência às restrições estabelecidas no contrato, pelo menos no que se refere às suas políticas operacionais e de investimento. Além do mais, as exigências rígidas de taxas de juros, fundos de amortização e resgate deverão ser cumpridas religiosamente. Na medida em que o preço da ação ordinária permanecer abaixo do preço de conversão das debêntures, seu portador estará imobilizado ou “preso” à sua condição de credor. Um dos perigos das debêntures conversíveis “congeladas” (ou seja, quando os preços das ações são tais que impedem a companhia de forçar a sua conversão), é a proibição da emissão de novas ações ordinárias. Os investidores relutam, freqüentemente, em comprar novas ações ordinárias de empresas que apresentam debêntures conversíveis nessas condições, pois a possibilidade de conversão desses títulos no momento em que os lucros se elevarem deverá levar a uma diluição do lucro por ação, além de reduzir o poder de decisão: correspondente às novas ações, uma vez ocorrida a conversão. Como os investidores não podem saber quando as debêntures serão convertidas, tendem a evitar a compra de ações da firma. A existência de debêntures conversíveis nessas condições pode, também, limitar a capacidade da firma para emitir mais títulos de dívida, visto as debêntures conversíveis “congeladas” poderem ser consideradas, essencialmente, como parte da dívida regular da empresa, na medida em que a probabilidade de sua conversão, em um futuro próximo, for pequena. A decisão de vender debêntures conversíveis ao invés de ações ordinárias depende, freqüentemente, de uma série de outros fatores, além de uma comparação dos respectivos custos; ou seja, poderá, igualmente, depender de um confronto entre os dividendos, depois de deduzidos os impostos, e os juros antes dessa dedução, mais as despesas de subscrição. Outro fator refere-se ao problema da diluição da propriedade e, portanto, do controle administrativo da empresa. Até as debêntures serem convertidas em ações ordinárias, os interesses em relação ao controle da organização permanecerão inalterados. Outro fator importante é representado pelas condições vigentes no mercado de títulos. Em um mercado em que ações ordinárias estejam em baixa, uma nova emissão poderá não ser prontamente vendida, a não ser a um preço bastante inferior ao preço corrente de mercado das ações anteriormente emitidas pela firma. Além disso, os subscritores poderão relutar em subscrever novas ações, mesmo a um preço relativamente mais baixo; isto é, comprar as ações e assumir o risco de manter grande quantidade de ações que não serão adquiridas pelos investidores ao preço da emissão. Outrossim, é preciso ressaltar que, se novas ações forem oferecidas a um preço inferior ao de mercado, o preço das ações “antigas” rapidamente cairá ao nível mais baixo. As debêntures conversíveis são altamente atraentes aos investidores em um mercado em alta. Como a conversão será realizada no momento em que o portador de debêntures o desejar, poderá jogar nos dois lados da mesa. Como credor terá direito a uma taxa de juros fixa. Ao mesmo tempo, poderá especular, a longo prazo, com um movimento ascendente do valor da ação. Se êste movimento de fato ocorrer, poderá converter em ações ordinárias os títulos que possui. Evitará, desta maneira, os riscos de uma reversão repentina das condições do mercado de ações. Entretanto, o investidor paga um certo preço por esta opção entre o papel de credor e o de proprietário da empresa. Esse preço é representado pela diferença entre o preço da debênture e o valor corrente da ação ordinária. Lembramos que, no caso da American Greetings, êste preço foi equivalente a 12% do preço corrente da ação ordinária. 2. Income Bonds. Os “income bonds”, também conhecidos como “preference bonds” ou “adjustment bonds”, são normalmente emitidos a portadores de títulos, cuja empresa encontra-se em processos de reorganização, com o objetivo de reduzir as taxas fixas de juros dos títulos anteriormente emitidos. Os “income bonds” estabelecem o pagamento de juros apenas na medida da disponibilidade de lucros líquidos. Todavia, o principal deve ser pago exatamente da mesma maneira que as demais modalidades de títulos de dívida. Podem ser garantidos por hipotecas ou assumir a forma de debêntures. Em geral, os “income bonds” estipulam o pagamento de juros na proporção dos lucros obtidos pela empresa em cada ano, algumas vezes depois de terem sido efetuadas determinadas deduções. Os juros dos “income bonds”, como os dividendos preferenciais, pedem ser cumulativos ou não. No primeiro caso, os juros deverão, em geral, ser pagos para todos os períodos devidos, antes de os acionistas poderem receber dividendos. Em alguns casos, os juros não pagos deverão sê -lo no vencimento dos “bonds”. Os “income bonds” não cumulativos perderão todos os direitos sobre os juros que deixarem de ser pagos em qualquer período. Como outros tipos de títulos de dívida, suas características particulares variarão de acordo com o documento de emissão. Nos últimos anos, os “income bonds” têm sido utilizados, em certos casos, em substituição a ações preferenciais, visto os juros por eles exigidos constituírem despesa dedutível de imposto, enquanto que o mesmo não se dá em relação aos dividendos de ações preferenciais. Entretanto, como muitos “income bonds” são emitidas por força de dificuldades financeiras em reorganizações de sociedades anônimas, numerosas firmas relutam em emitir tais títulos temendo que a comunidade financeira acredite estar a empresa em dificuldades. D. Impacto do Capital de Terceiros O capital de terceiros constitui a principal fonte externa de fundos empregados por sociedades anônimas norte-americanas. O período pelo qual esses recursos são solicitados, o tamanho da empresa e a natureza dos ativos fixos cedidos em garantia da dívida determinam, em grande parte, o tipo de instrumento de dívida utilizado, bem como as condições do contrato. Em cada caso, contudo, a firma devedora sofre restrições substanciais em relação às suas políticas – o que é definido por cláusulas contratuais — para que o investidor ou credor sinta-se induzido a colocar os recursos solicitados à sua disposição. Ao negociar os termos do contrato, a administração da empresa deve comparar a vantagem de possuir fundos a longo prazo a uma taxa fixa de juros, embora esteja sujeita a cláusulas restritivas, com a vantagem de menores limitações, em um empréstimo a médio prazo, apesar da incerteza em relação às taxas futuras de juros, quando se fizer necessária a renovação do empréstimo, além da possibilidade de pagamento de prestações mais vultosas. Os empréstimos a curto prazo, por um ano ou dois, são relativamente mais flexíveis, no que diz respeito à própria limitação de período, do que os empréstimos a médio prazo. Apesar de todos os aspectos interessantes apresentados pelo levantamento de capital de terceiros, no tocante à parte fiscal e ao “leverage”, deverá ser examinado e comparado com os perigos originados da existência que deverão ser religiosamente saldados A obtenção de capital próprio implica a divisão dos ganhos decorrentes do crescimento futuro da firma entre seus atuais e novos acionistas. Contudo, em períodos de lucros muito reduzidos, os dividendos poderão ser suspensos; o pagamento de dívidas não. A empresa também deverá levar em consideração o provável impacto do capital de terceiros sobre o movimento de caixa. Os p aga. mentos fixos de juros representam um escoamento de ativos monetários. Em períodos de vendas reduzidas, êsse escoamento poderia ameaçar seriamente a liquidez da firma. Este efeito desfavorável será ampliado ainda mais se o contrato exigir pagamentos periódicos do principal, seja mediante a chamada de uma proporção fixa dos títulos, seja por meio de recolhimentos a um fundo de amortização, II. INVESTIDORES O proprietário de recursos de capital, que deseja aplicá-los em uma sociedade anônima, pode escolher entre títulos de capital de terceiros ou de propriedade. Quais as características que tornam os títulos de dívida atraentes, e que razões específicas levam uma pessoa ou instituição a aplicar recursos financeiros nessa modalidade de título? As respost as a essas perguntas referem-se, em parte, aos objetivos dos investidores e, ainda, em parte, às restrições legais ao possuidor de fundos possíveis de investimento. 1. Segurança do Principal. Ao contrário de um título de propriedade — ação ordinária — um título de dívida constitui uma obrigação definitiva da parte do devedor de pagar uma certa quantia, em uma data (vencimento) estabelecida. Se a firma devedora for solvável, e apresentar adequado grau de liquidez na data de vencimento, o credor — isto é, o portador do título — receberá o montante convencionado. Se o título em questão estiver garantido por um vínculo a um ativo da firma, o credor receberá êsse montante se a empresa não pagar sua dívida, caso o ativo permita, mediante sua liquidação, a recuperação da soma correspondente. O investidor em títulos de dívida parte, portanto, da premissa de ser a segurança do principal, o seu objetivo primordial, além de supor ser a firma perfeitamente capaz de resgatar sua dívida. Dispõe-se a renunciar à oportunidade de conseguir um ganho de capital, que poderia ser obtido em um investimento em títulos de propriedade, ao mesmo tempo em que o risco de um prejuízo, no caso de a empresa não conseguir gerar lucros suficientes. Existem alguns casos, entretanto, em que os títulos de dívida também oferecem oportunidades para um ganho potencial de capital. Isto. verifica-se, por exemplo, em um período de taxas de juros elevadas. Em tais ocasiões, uma nova emissão de títulos de dívida deverá oferecer elevada taxa corrente de juros, se desejar que os títulos sejam vendidos ao seu valor nominal. Inversamente, o preço de mercados dos títulos previamente emitidos a uma taxa de juros mais baixa, tenderá a decrescer; por exemplo, se a taxa corrente de juros for de 6%, um título de $ 1.000, que esteja oferecendo 4,5%, poderá ser vendido por $850. Se, posteriormente, a taxa de juros reduzir-se para 5%, êsse título de 6% superará o valor nominal, enquanto os demais, que haviam caído para $850, poderão subir, digamos, a $950. Desta maneira, o investidor que tivesse adquirido qualquer um dos dois títulos de taxas de juros elevado, conseguiria um ganho de capital quando as taxas caíssem e o preço de mercado dos títulos se elevasse. 2. Retornos Constantes. A segurança do principal é apenas uma das faces da moeda. Além disso, também temos a exigência de pagamento de uma taxa fixa de juros, em determinados intervalos de tempo, ao portador do título. Êste compromisso de pagamento de juros não depende dos lucros obtidos pela empresa. Mesmo que esta opere com prejuízo, será obrigada a pagar os juros convencionados. O não pagamento desses juros equivale ao não cumprimento das obrigações correspondentes a toda a dívida contraída. Os portadores desses títulos poderão mover ação contra a firma, visando uma “receivership”, ou tomar outra medida legal prevista no contrato. Uma sociedade anônima que não consegue obter lucros não é obrigada a deixar de cumprir, automaticamente, os compromissos de pagamentos de juros. Poderá recorrer a recursos externos, provenientes de lucros retidos em exercícios anteriores. Esta medida reduzirá o patrimônio líquido da firma, apresentando efeitos adversos à sua liquidez. Permitirá, entretanto, a conservação de seu estado de solvência. Poderá, também, vender alguns de seus ativos, desde que não estejam penhorados. A conseqüência será, ainda, uma diminuição de seu patrimônio líquido, a menos que os ativos sejam vendidos a um preço superior (ou seja, proporcionando um ganho de capital) ao seu valor contábil. Por fim, para poder preservar sua liquidez, a empresa poderá levantar um empréstimo e utilizá-lo para pagar os juros dos títulos emitidos. Ao aceitar um retorno constante, o investidor renuncia a qualquer participação em futuros acréscimos de lucros da firma. Por outro lado, não está sujeito a uma redução da sua taxa de retorno, se a empresa, por qualquer motivo, não conseguir lucros. 3. Diretrizes Legais. O indivíduo que possui recursos de capital pode investi-los em ações ou títulos de dívida. Esta escolha não se estende às companhias de seguros de vida, aos administradores de “trusts” e a “trust funds”, exceto nos casos em que o “settlor” — isto é, o organizador do “trust” — autorizar especificamente o “trustee” a investir os recursos em ações. Em muitos estados, as companhias de seguros e os “trustees”, são obrigados, por lei, a aplicar seus recursos em determinados investimentos; por exemplo, hipotecas, obrigações governamentais, títulos de sociedades anônimas etc. Neste último caso, a legislação costuma, ainda, estabelecer a “classificação” que esses títulos devem apresentar para qualificarem-se para tal investimento. Alguns estados permitem, atualmente, às companhias de seguros de vida, o investimento de uma dada parcela de seus recursos em títulos de propriedade. a) Elementos de Risco. O investidor em títulos de dívida enfrenta dois riscos principais. O primeiro é a possibilidade de perda de poder aquisitivo decorrente da inflação. Mesmo que seu investimento seja integralmente restituído no vencimento, o valor real do principal, medido em termos de poder aquisitivo, poderá ser substancialmente inferior ao da mesma quantia, na época em que o título foi adquirido. O segundo risco é a possibilidade de não pagamento das sornas convencionais, pela empresa devedora. O fato de a dívida achar-se garantida por um vínculo, ou hipoteca de um ativo fixo (terrenos e prédios, máquinas e equipamentos, por exemplo) não assegura, automaticamente, sua total recuperação em uma execução de tais ativos. Muito dependerá das condições de venda. Se o ativo for um prédio altamente especializado, e destinado a um fim específico, poderão existir poucas firmas interessadas em sua compra, a menos que seja oferecido por um preço inferior ao custo da reprodução. Poderá ocorrer, ainda, que as condições fiscais e trabalhistas locais sejam tais que poucas empresas se sintam dispostas a pagar um preço superior ao de liquidação. Portanto, a verdadeira quantia da dívida não reside tanto no possível valor de liquidação do ativo penhorado, mas sim na sobrevivência da firma devedora. Se tal ocorrer, além de serem obtidos lucros satisfatórios, sua capacidade para saldar compromissos mediante acumulação de reservas ou refinanciamento constituirá a melhor garantia do pagamento da dívida. É por esta razão que os investidores dotados de alguma experiência procuram, antes de mais nada, examinar os lucros atuais e futuros da empresa e, somente depois de os considerarem satisfatórios, dispõem-se a adquirir títulos de dívida não garantidos por nenhum ativo. Uma elevação da taxa de juros de mercado exerce influência desfavorável sobre o valor de mercado dos títulos de dívida. Suponhamos que um investidor tenha adquirido um título a 5%, (ou seja, rendendo $50 anualmente), pelo prazo de 20 anos, faltando, porém, apenas 2 anos e meio para vencer. Admitamos ainda que, seis meses após a compra, a taxa de juros de novos títulos de qualidade equivalente tenha aumentado para 6%. Nosso investidor ainda receberá $50 anualmente pelos dois anos subseqüentes, além do principal, $1.000, na data de vencimento. Se por algum motivo for obrigado a vender o título hoje, receberá somente $980. Como os novos títulos renderão $60 ao ano, o título mais antigo sofrerá uma desvalorização anual de $10, ou seja, a diferença entre os rendimentos de $50 e $60, respectivamente. O contrário também é verdadeiro. Se a taxa de juros de mercado reduzir-se, o valor ou o preço de títulos com taxas mais elevadas deverá aumentar. No caso anterior, o título era vendido com “deságio”, enquanto, no presente caso, o é com “ágio”. Seja qual for o caso, se o investidor conservar o título até o vencimento, deverá receber o valor nominal (ou seja, $1.000). b) Classificação dos Títulos de Dívida. Com o objetivo de auxiliar o investimento em títulos de dívida, têm sido utiliz ados sistemas de classificação, nos últimos anos. Embora tenham sido criados por instituições privadas, os sistemas da Standard and Poor’s e do Moody’s Financial Service alcançaram um “status” praticamente oficial na determinação da qualidade de novas emissões. São métodos simples para a avaliação do risco apresentado pelas principais emissões ao público, sendo de grande utilidade para pequenos bancos do interior que não possuem analistas de investimentos, para o advogado responsável pela administração de um patrimônio, ou para o investidor privado. A Moody’s, por exemplo, classifica as emissões de títulos em função da seguinte escala: Aaa Baa Caa Aa Ba Ca A B C A categoria Aaa é reservada para um número pequeno de grandes empresas, cuja capacidade de pagar juros e o principal de suas dívidas está fora de qualquer dúvida, a não ser em situação de grande catástrofe econômica. Por outro lado, na categoria C encontram-se os títulos de empresas que freqüentemente deixam de saldar seus compromissos, compreendendo também os casos em que a esperança de recuperação é mínima. Na definição dos títulos classificados como Baa, segundo a própria Moody’s, os fatores levados em consideração estão muito bem caracterizados: “Os títulos classificados na categoria Baa são considerados como obrigações de nível médio inferior, ou seja: não são totalmente protegidos contra riscos e nem insuficientemente garantidos. A segurança do principal e os pagamentos de juros parecem não estar ameaçados, presentemente, embora determinados dispositivos de proteção sejam inexistentes, ou não mereçam muita confiança a prazo mais longo. Estes títulos não apresentam determinadas características importantes a um bom investimento, possuindo ainda alguns elementos especulativos.” A disposição do investidor para substituir moeda corrente por juros futuros e a promessa de retorno do capital dependem, quase sempre, de sua confiança no futuro do devedor. Os serviços de classificação de títulos permitem um conhecimento técnico da situação do devedor. S e suas perspectivas forem incertas, as taxas de juros deverão ser mais elevadas, como estímulo compensador dos riscos existentes. Em meados de 1963, por exemplo, títulos da categoria Aaa apresentavam uma taxa de 4,21%. Os títulos Aa eram vendidos a 4,35%, enquanto os títulos classificados como A rendiam 4,46%. O tesoureiro de uma empresa que pretendesse emitir títulos, verificaria que os juros dos classificados na categoria Baa eram de 4,8%, enquanto as firmas incluídas na classificação Ba seriam obrigadas a oferecer aos credores uma taxa entre 5 e 6%. Os custos de capital de terceiros a longo prazo, em condições ainda mais especulativas, tendiam a ser evidentemente mais elevados. III. A PERSPECTIVA DA ADMINISTRAÇÃO Quando e por que deverá o administrador financeiro de uma empresa recomendar a utilização de capital de terceiros a longo prazo, em detrimento de outras modalidades de financiamento? Este problema não é nada simples Numerosas questões precisam ser respondidas antes que as decisões finais sejam tomadas. 1. Poderão as necessidades financeiras futuras da firma ser projetadas satisfatoriamente? 2. Quais os custos imediatos diretamente resultantes da venda de títulos de dívida a longo prazo, em comparação com outras modalidades de financiamento? 3. Como a dívida a longo prazo implica obrigações fixas, durante vários anos, sem alterações das despesas, será êste o momento mais apropriado, em termos de taxas de juros, para a firma assumir êsse compromisso, ou deverá esperar o advento de condições mais p ropícias no mercado? 4. Que restrições de ordem operacional serão impostas à firma pelos fornecedores de recursos, como pré-requisito de sua aplicação por vários anos, nesta empresa? 5. De que maneira avalia o administrador financeiro o impacto global da dívida proposta, em termos do equilíbrio financeiro da empresa — ou seja, sua flexibilidade em face de exigências futuras? 6. Que efeito terá a nova dívida sobre o valor da firma? Aumentará seus lucros por ação? Irá o risco adicional reduzir o índice preço-lucro e, conseqüentemente, o preço de mercado da ação ordinária? Estas questões, de maneira alguma, esgotam a análise exigida por uma administração perspicaz. Por sua natureza, o empréstimo a curto prazo normalmente exerce uma influência transitória sobre a empresa. Sua existência encerra-se apenas alguns meses após, podendo ser utilizadas estratégias alternativas, no caso de a abordagem inicial ter sido insatisfatória. O capital de terceiros a longo prazo, por outro lado, exerce influência sobre o futuro da empresa, durante vários anos, exigindo, portanto, satisfatório conhecimento do instrumento da dívida, suas virtudes e suas limitações. A Tab. 14.2 apresenta a relação percentual entre o capital de terceiros e os ativos totais de uma série de indústrias selecionadas, em 1961. Observe-se que os índices variam de um mínimo de 6,7% até o máximo de 39,2%. Tabela 14.2 RELAÇÃO ENTRE CAPITAL DE TERCEIROS E ATIVOS TOTAIS DE INDÚSTRIAS, EM 1961 (EM MILHARES DE DÓLARES) Ativos Totais Todos os ramos Mineração Construção Civil Manufaturas Transportes, Comunicações, serviços de energia elétrica, gás e saúde pública Comércio atacadista e varejista Finanças e setor imobiliário Serviços Capital de Terceiros a longo prazo 1.289.516.071 17.943.960 17.745.002 275.963.520 165.520.929 2.977.333 1.961.593 35.133.299 Capital de Terceiros a longo prazo como percentagem dos Ativos Totais 12,8 16,6 10,5 12,7 155.534.789 94.590.990 699.887.834 22.829.046 60.955.175 10.389.767 46.794.899 6.353.433 39,2 11,0 6,7 27,8 Fonte: US Treasury Departament, Internal Revenue Service, Estatistics of Income – 1962. Declarações de Rendimentos das Sociedades Anônimas, p. 334 -335. Princípio do “Leverage” Financeiro As vantagens do financiamento a longo prazo mediante capital de terceiros podem ser facilmente definidas. Permite aos proprietários de uma empresa a obtenção de fundos adicionais, sem a necessidade de aceitação de novos “sócios”. Se os fundos em questão proporcionarem retorno superior ao seu custo, o acréscimo beneficiará integralmente os acionistas da firma. Além do mais, as despesas provenientes do pagamento de juros de empréstimos são dedutíveis para fins de impostos, enquanto os dividendos e aumentos de capital próprio (resultantes da retenção de lucros), que atraem compradores de ações, somente tornam-se disponíveis após o pagamento dos impostos. Um exemplo simples permite ilustrar o mecanismo do princípio do “leverage” financeiro no financiamento mediante capital de terceiros, em comparação com o financiamento por meio de capital próprio. A empresa A, apresenta um lucro de $200.000, antes da dedução dos impostos, e 100.000 ações ordinárias. Seu demonstrativo de lucros e perdas (admitindo uma alíquota de 50%, em relação .ao imposto de renda) encontra-se na Tab. 14.3. Tabela 14.3 Lucro da empresa A antes da dedução dos impostos – impostos (50%) Lucro da empresa depois da dedução dos impostos Lucro por ação (LPA) a Lucro depois da dedução dos impostos e dividendos preferenciais ( se houver) a LPA = Número de ações ordinárias $200.000 $100.000 $ 1.00 A administração da empresa defronta-se com a alternativa de levantar um empréstimo de $1 milhão à taxa de 6%, ou lançar 100 .000 ações novas, ao preço unitário de $10. O que acontecerá se o acréscimo do lucro, antes da dedução de juros e impostos (LAJI), for de 50%? O demonstrativo de lucros e perdas passará a apresentar-se tal como na Tab. 14.4. Tabela 14.4 Alternativa A $1.000.000 (títulos de dívida) Lucro antes da dedução de juros e impostos - juros Lucros antes da dedução de impostos - impostos (50%) Lucro depois da dedução dos impostos Números de ações ordinárias Lucro por ação $300.000 60.000 $240.000 120.000 $120.000 100.000 $ 1.20 Alternativa B 100.00 novas ações $300.000 $300.000 $150.000 200.000 $ 0.75 Nas condições da Alternativa A, o lucro por ação sofreu um aumento de 20%. Os acionistas verificaram que cada ação vale, agora, $1,20 em termos de lucro, sem ser necessário qualquer acréscimo de investimento. De acordo com a Alternativa B, o lucro por ação seria de $0,75. Entretanto, o “leverage” financeiro opera nos dois sentidos. O que ocorreria, se, ao invés de um acréscimo de 100. 000, tivesse havido uma redução idêntica? A aplicação de novos recursos teria efeitos muito pequenos sobre a empresa, em época de depressão, obsolescência de produtos, ou em qualquer situação desfavorável para sua rentabilidade. O novo demonstrativo de lucros e perdas encontra-se na Tab. 14.5. Tabela 14.5 Lucro antes da dedução de juros e impostos - juros Lucros antes da dedução de impostos - impostos (50%) Lucro depois da dedução dos impostos Lucro por ação Alternativa A $100.000 60.000 $40.000 20.000 $20.000 $ 0.20 Alternativa B $100.000 $100.000 50.000 $50.000 $ 0.25 Na primeira Alternativa, o lucro por ação, depois da dedução dos impostos, reduziu-se de 80%, em comparação com uma queda de 75% na segunda. alternativa. Suponhamos, em seguida, que a empresa tenha sofrido um prejuízo operacional de $100.000, antes da dedução de juros e impostos. Seu demonstrativo dê lucros e perdas está apresentado na Tab. 14.6. Em termos simples, o princípio do “leverage” financeiro apenas indica que o lucro por ação pode ser rApidamente acrescido, mediante a utilização de capital de terceiros. Entretanto, o lucro bruto adicional gerado por esses recursos poderá, antes de tudo, pagar o custo do empréstimo. Se não puder fazê-lo, o capital de terceiros obtido provocará uma diminuição dos lucros da firma, depois do pagamento de juros. O princípio fundamental da prioridade do pagamento de dívidas em relação à distribuição de lucros significa que, em uma empresa com elevado grau. de “leverage”, reduções pequenas do lucro bruto podem refletir -se em substanciais diminuições do lucro líquido à disposição dos acionistas. Inversamente, essas empresas podem, graças a acréscimos relativamente pequenos de lucro bruto, gerar consideráveis aumentos do lucro líquido por ação ordinária. A utilização de reduzidos volumes de capital próprio, decorrente de um alto índice de capital de terceiros é tentada freqüentemente, apesar dos péssimos resultados quase sempre apresentados por essas políticas financeiras, O exemplo mais evidente é dado pelas “holding companies” de bens imóveis; como seu cap ital é muitas vezes constituído por hipotecas, representando mais de 85% do custo de suas propriedades, não é raro seus lucros dobrarem ou desaparecerem completamente, em conseqüência de uma variação de 10% das receitas brutas. Do mesmo modo, as empresas cuja produção esteja sujeita a fortes oscilações no decorrer do ciclo econômico passam de lucros substanciais, em um ano favorável, a grandes prejuízos em época de recessão. Este fato explica a tradicional resistência das empresas das indústrias de mineração e construção civil à utilização de uma proporção superior à considerada modesta de capital de terceiros; veja a Tab. 14.2. Tabela 14.6 Prejuízos antes da redução de juros e impostos - juros Prejuízos depois da redução de impostosª Prejuízos por ação Alternativa A ($100.000) Alternativa B ($100.000) 60.000 ($160.000) ($100.000) ($1.60) ($0.50) ª Neste caso não haveria pagamento de impostos, já que a empresa teve prejuízo. De acordo com a cláusula de “carry-back”, da legislação fiscal, a empresa poderia transferir o prejuízo de $100.000 para o ano anterior, em que (segundo a hipótese formulada) a firma obteve um lucro tributável superior a $100.000; ou seja, permitindo a transferência de $50.000 para o exercício precedente, admitindo-se uma alíquota de 50%. O resultado seria o seguinte: Outras Considerações. Uma das funções do administrador financeiro é a manutenção de um equilíbrio entre os acréscimos de lucros resultantes do financiamento a longo prazo, mediante capital de terceiros, e os riscos provenientes de sua utilização. Neste processo de avaliação, a influência da legislação fiscal vigente não pode ser esquecida. Se admitirmos que a Empresa A, no exemplo anterior, tenha sido obrigada a pagar um dividendo de 5%, para atrair novos acionistas, os lucros brutos prováveis dos novos recursos deverão ser de, pelo menos, 10% (supondo se uma alíquota de 50%). Na verdade, o lucro antes da dedução dos impostos deverá ser superior a 10%, pois costuma-se não distribuir a totalidade do lucro líquido sob a forma de dividendos - Muitas empresas possuem um índice de “payout” de 50 a 60%. Admitindo-se que seja de 50%, a empresa será obrigada a obter um lucro de 20%, antes da dedução dos impostos. Por outro lado, um pagamento de juros de 5% poderia ser facilmente efetuado, se os lucros ficassem aquém de 10%, mas fossem superiores a 5%. A atração exercida pela possibilidade de deduzir os juros do pagamento de impostos é indubitavelmente forte, especialmente se fôr conjugada à não diluição do capital próprio, beneficiando integralmente os acionistas, no caso da obtenção de lucros superiores aos juros, depois da dedução dos impostos. Entretanto, como assinalamos anteriormente, esta vantagem do financiamento mediante capital de terceiros deverá ser comparada, com sua rigidez, pelo administrador financeiro. Os compromissos de pagamento de juros e constituição do fundo de amortização deverão ser respeitados, e o resgate da dívida é obrigatório. Por outro lado, a responsabilidade da administração face aos acionistas é bem mais flexível. Os dividendos poderão ser omitidos — o que no entanto apresenta um certo preço. O não pagamento de dividendos exerce uma influência depressiva em relação ao valor de mercado da ação ordinária. Embora isto afete diretamente o acionista — pois representa uma diminuição do valor do seu investimento — também reduz a posição de crédito da firma. Em uma fase de expansão das vendas e dos lucros, a administração poderá preferir a utilização de capital de terceiros, viSto prometer elevar a rentabilidade das ações da firma, e, portanto, facilitar uma subseqüente venda de ações ordinárias, tornando-a ao mesmo tempo mais compensadora. Entretanto, um índice de capital de terceiros excessivamente elevado produz uma série de efeitos paralelos, não facilmente observáveis. Uma conseqüência é o aumento do custo da obtenção de recursos adicionais. Para poder vender novas emissões de títulos de dívida, a empresa será obrigada a pagar taxas de juros cada vez mais altas. Em um dado momento, o mercado poderá simplesmente recusar a absorção de uma nova oferta de títulos. Além disso, o aumento da proporção de capital de terceiros restringe a capacidade da empresa para vender ações, como alternativa de um possível malogro na venda de títulos de dívida. Em síntese, a elevação do índice de capital de terceiros/capital próprio possui tendência para reduzir a categoria dos títulos da empresa. Controle da Empresa. O capital de terceiros a longo prazo recebe, freqüentemente, a preferência da administração, em relação à emissão de novas ações ordinárias, visto possibilitar a manutenção do controle da empresa. Na medida em que as exigências do contrato de empréstimo forem satisfeitas, os portadores de títulos de dívida não terão direito de voto nas eleições da diretoria da firma, ao contrário dos portadores de ações ordinárias. A administração de empresas “fechadas” é particularmente sensível a êste fenômeno e, portanto, recorre ao financiamento mediante capital de terceiros, mesmo que a utilização de novas fontes de capital próprio pareça mais adequada. Em uma pequena empresa, que se dedica à pesquisa e ao desenvolvimento de produtos, os proprietários-administradores relutam em ceder uma parcela dos lucros previstos, em decorrência da venda de parte de seus direitos em relação ao valor corrente da firma. Em outras. palavras, os atuais proprietários acreditam que o valor, por ação, seja substancialmente maior após a conclusão da pesquisa. Nesse momento, a venda de ações poderá ser efetuada a preço várias vezes superior ao que poderia ser obtido antes da conclusão das atividades de pesquisa e desenvolvimento do novo produto. IV. FATORES QUE AFETAM A EMISSÃO DE TÍTULOS DE DÍVIDA A capacidade de obtenção de capital de terceiros de uma empresa, e a disposição do investidor de adquirir os títulos dependem de outros elementos importantes, além da taxa de juros e da cessão de ativos em garantia. Esses elementos são os seguintes: 1. Fundo de amortização. 2. Cobertura de lucros. 3. Cláusulas restritivas. 4. Privilégios de conversão, opções, “warrants”. Todos os fatores mencionados devem ser inicialmente analisados pelo administrador financeiro e, em um último estágio, pela alta administração da empresa. Fundo de Amortização Em algumas indústrias, é possível formular a hipótese de que a demanda de um bem ou serviço nos próximos 10, 20 ou mais anos continue aumentando. Exemplos diferentes são as firmas fornecedoras, de serviços de água, eletricidade, gás e telefone. Além do mais, trata -se de monopólio legal, protegendo-se assim contra eventual concorrência em seu mercado. Ao contrário, a concorrência entre firmas é efetiva na maioria das indústrias; freqüentemente existe entre indústrias, ou seja, no caso em que certos bens e serviços são sucedâneos. Para a maioria das empresas, o futuro mais distante contém um poderoso elemento de incerteza, em relação à posição e à capacidade de obtenção de lucros da firma nos anos subseqüentes. Para reduzir essa incerteza, muitos contratos estabelecem a constituição de um fundo de amortização. Os recursos transferidos a êste fundo são investidos em obrigações governamentais ou títulos de outras sociedades anônimas; podem ser utilizados, ainda, para readquirir parte dos títulos. Neste caso, o contrato normalmente possuirá uma cláusula permitindo que esses títulos possam ser “chamados para resgate”, em datas prefixadas. A decisão de chamar ou não os portadores de títulos para resgate fica a cargo da própria empresa. Em certas ocasiões, o contrato estabelece, em lugar da reaquisição dos títulos pela empresa, a utilização dos recursos transferidos ao fundo de amortização, com a finalidade de compra de novos ativos., Estes passam a constituir, automaticamente, garantia adicional dos títulos. Recorreremos a dois casos para exemplificar algumas cláusulas que estipulam a constituição de fundos de amortização Em 1962, a Container Corporation vendeu $25 milhões de debêntures à 4,40%, com vencimento em 1967. O seu contrato estabelecia o seguinte: Anualmente, de 1968 até 1986, a empresa deverá resgatar, em 1º de junho, $1.000.000 em debêntures, ao valor par (isto é, $1.000.000 ao valor nominal dos títulos). A firma poderá, ao mesmo tempo, e por decisão própria, resgatar idêntico montante adicional. As debêntures resgatadas em conseqüência de pagamentos voluntários e outr os que não destinados ao fundo de amortização, serão creditadas contra futuros pagamentos compulsórios. Além disso, foi concedido à empresa o direito de “chamar; para resgate” parte da emissão ou sua totalidade, antes de 1987, sendo para tal necessário aviso prévio de 30 dias, além do pagamento, aos credores, dos seguintes preços (preço original de emissão 100%): 1963: 104,40 * 1964: 104,20 1965: 104,00 1966: 103,80 * 1967: 103,60 1968: 103,40 1969: 103,20 * 1970: 103,00 1971: 102,80 1972: 102,60 * 1973: 102,40 1974: 102,20 1975: 102,00 1976: 101,80 1977: 101,60 1978: 101,40 1979: 101,20 1980: 101,00 1981: 100,80 1982: 100,60 1983: 100,40 1984: 100,20 1987: 100,00 (O asterisco indica: não poderá ser efetuada a chamada para resgate antes de 1º de junho de 1967, mediante fundos obtidos a menos de 4,40%.) No mesmo ano, ou seja, 1962, a Missouri Power and Light Company emitiu letras de primeira hipoteca, sendo estipulado o seguinte, em relação ao fundo de amortização: Letras de qualquer série poderão ser emitidas, de tempos em tempos, nas seguintes condições: 1) 60% dos Acréscimos à Propriedade, depois de reajustamentos destinados a atender eventuais exigências financeiras; 2) o resgate de letras vinculadas ou não, será efetuado com Fundo de Amortização; e 3) depósito de caixa. Com algumas exceções relativas ao item (2), a emissão de letras está sujeita a lucros líquidos reajustados, para 12 dos 15 meses precedentes, antes da dedução dos impostos, pelo menos duas vezes superiores aos pagamentos anuais de juros de todas as letras então existentes e outros títulos de prioridade, incluindo-se a nova emissão. Tais lucros líquidos reajustados são calculados com base na dedução das despesas de manutenção e provisões para resgate, além da depreciação dos ativos; isto no caso de ser utilizado, em lugar de uma provisão real para resgate e para a depreciação de determinados ativos cedidos em garantia, inclusive equipamentos móveis, um montante equivalente ao dos recursos concorrentes aplicados para fins de amortização no período. Além disso, se a empresa possui um índice de cobertura de lucro, o investidor pode aguardar que esta cubra o déficit, em um ou dois anos, mediante um forte aumento subseqüente nas vendas e nos lucros. O índice de cobertura de juros pode ser calculado mediante a divisão das despesas anuais de juros pelos lucros, antes da dedução de juros e impostos (LAJI). Quando houver mais do que uma emissão de títulos, as despesas de juros correspondentes a cada uma deverão ser combinadas com as demais emissões de direitos prioritários ou equivalentes, para fins de cálculo desse índice. Examinemos, por exemplo, uma parte do demonstrativo de lucros e perdas da Toonerville Railroad, para o exercício encerrado em 31 de dezembro de 1967: Lucro antes da dedução de juros e impostos $5.000.000 Juros sobre letras de primeira hipoteca 2.000.000 Juros sobre debêntures subordinadas 1.000.000 Lucro antes da dedução de impostos 2.000.000 Impostos (a 50%) 1.000.000 Lucro depois da dedução de impostos 1.000.000 Fundo de amortização das letras de primeira hipoteca 500.000 Lucro disponível aos portadores de ações ordinárias $500.000 As despesas de juros correspondentes às letras de primeira hipoteca foram cobertas duas vezes e meia, em 1967 ($5.000.000/ $2.000.000). Se tivéssemos calculado separadamente a cobertura de títulos de dívida com menor prioridade, o resultado seria uma cobertura de três vezes, para os juros de primeira hipoteca [($5.000.000 — $2.000.000/$1.000.000)]. Evidentemente, isto não seria válido, pois um título subordinado não pode possuir proteção maior do que um título com direitos prioritários. O único método apropriado de cálculo do índice de cobertura, para uma emissão sem direitos prioritários, consiste na combinação das despesas e juros a ela correspondentes, com as despesas de juros dos demais títulos, além da comparação do resultado com o lucro antes da dedução de juros e impostos (LAJI). No caso da Toonerville Railroad, os juros das debêntures subordinadas foram cobertos 1,67 vezes, em 1967 [$5.000.000/ /($2.000.000 + $1.000.000)]. Idêntica metodologia será adotada em uma sociedade anônima que tiver emitido ações preferenciais, além de títulos de dívida. Suponhamos que a Toonervilie Railroad possuísse $5.000 .000 em ações preferenciais cumulativas a 6,%. Como o pagamento de dividendos está subordinado aos pagamentos de impostos e aos recolhimentos do fundo de amortização, o índice de cobertura seria igual a 1,11, ou seja: $5.000.000 $2.000.000 + $1.000.000 + $1.000.000 + $500.000 Se os direitos prioritários fossem ignorados, o índice passaria para 1,66 ($500 . 000/$300 .000), correspondendo ao quociente do lucro depois da dedução dos impostos pelos dividendos. Alguns analistas de títulos de dívida acrescentam os fundos gerados pela depreciação aos lucros, antes da dedução de juros e impostos, no cálculo do índice de cobertura de juros. Esta técnica é justificada pelo raciocínio de que a reserva para depreciação não é um direito imediato sobre os fundos da empresa, constituindo, destarte, uma dedução “adiável” dos lucros futuros - A posição contrária, adotada pelos autores dêste livro, é a de que essa possibilidade de “adiamento” é idêntica ao pagamento de juros etc. com o capital da empresa, e não seus lucros. Além do mais, êsse adiamento, posteriormente, provocaria uma redução dos lucros do período, equivalente às despesas diferidas de depreciação, até então acumuladas. O investidor potencial em títulos de dívida também se interessa em conhecer a cobertura de todas as despesas fixas. Entretanto, como os recolhimentos para fins de constituição de um fundo de amortização são efetuados após a dedução dos impostos, sendo os pagamentos de juros dedutíveis dêstes últimos, o analista deverá converter todos os valores, tomando como base os períodos de antes ou depois da dedução dos impostos, para calcular os índices de cobertura dos encargos fixos. Em geral, é mais fácil e mais útil calcular êsse índice para valores antes da dedução dos impostos. Tal pode ser efetuado pela determinação do número de dólares, antes do pagamento dos impostos, necessários aos pagamentos ao fundo de amortização, acrescentando-se todas as despesas de juros e chegando-se, por fim, ao valor total dos encargos fixos, antes da dedução dos impostos. Êste valor pode, então, ser dividido pelo lucro antes da dedução dos impostos para ser obtido o índice desejado. No caso da Toonerville Railroad, exige-se um pagamento de $500.000, depois da dedução dos impostos, ao fundo de amortização. Como a alíquota d o impOsto é de 50%, serão precisos lucros de $1.000.000, antes da dedução dos impostos (depois do pagamento de juros), para atender a essa exigência. Em 1967, os encargos fixos totais da Toonervilie foram cobertos 1,25 vezes [$5.000.000! ($2.000.000 + $1.0 00.000 + + $1.00.000)]. Uma evolução desfavorável da economia como um todo ou de sistema de transporte ferroviário, em particular, poderá reduzir o LAJI da Toornerville para $3.000.000 ou até menos. Com um lucro de $3.000.000, antes da dedução de juros e impostos, a Toornerville ainda poderá pagar os juros devidos. Numerosas empresas estão sujeitas a flutuações cíclicas das vendas e dos lucros. Além disso, muitas indústrias caracterizam-se por diferentes graus de concorrência. Desta maneira, uma empresa pod erá apresentar, em um determinado ano, uma taxa de lucro superior à média de sua indústria e, no ano seguinte, situar-se abaixo da média ou até mesmo ter prejuízo, enquanto seus concorrentes obtêm taxas de lucros satisfatórias. Um elevado índice capital de terceiros/capital próprio poderá, portanto, constituir um encargo excessivamente pesado quando os lucros reduzirem-se substancialmente, tornando-se insuficientes para permitir o pagamento de débitos, estabelecidos mediante contrato. Uma situação como esta poderá conduzir à reorganização ou concordata. Em geral, quanto mais uma firma estiver sujeita às oscilações de vendas e lucros, maior será o cuidado exigido pela utilização de capital de terceiros. O investidor, por sua vez, está perfeitamente ciente do fato de que, em numerosas indústrias, uma redução de 20 a 25% das vendas converterá, rapidamente, um lucro substancial em prejuízo. Assim sendo, um elevado índice de cobertura de lucros oferece certa garantia de que uma queda do volume de vendas e dos lucros não porá em risco os pagamentos de juros e do fundo de amortização. Além disso, se a empresa apresentar, em geral, índices favoráveis de cobertura de lucros, o investidor poderá esperar que prejuízos de um ou dois anos sejam compensados por uma subseqüente elevação dos lucros e das vendas. Visando proteger o público em geral contra a utilização excessiva de capital de terceiros pelas empresas privadas, a Securities and Exchange Commission exigiu das empresas de utilidade pública a constituição de fundos de amortização de suas dívidas. Estas exigências não foram feitas para as firmas industriais. Em geral, como estas operam em mercados mais concorrenciais do que as empresas de utilidade pública, e, portanto, estão mais expostas a reduções de lucros, em vir tude da própria concorrência ou das oscilações cíclicas, os investidores geralmente esperam que os títulos de divida dessas firmas apresentem índices de cobertura mais elevados. Do mesmo modo, será mais fácil, para um investidor, aceitar um maior índice capital de terceiros/capital próprio em uma empresa de utilidade pública, do que em outra sociedade anônima, de tamanho e lucros equivalentes. RESUMO Os títulos de dívida têm desempenhado papel predominante, nos últimos anos, como fonte externa de fundos a longo prazo para as empresas norte-americanas. O administrador financeiro deve se manter a par dos principais tipos de títulos de divida (letras hipotecárias, debêntures, debêntures conversíveis e outros títulos híbridos). Deve conhecer quais os compradores potenciais dos seus títulos, e de que maneira poderá atraí-los (isto é, mediante colocação individual, subscritores ou por qualquer outro meio). As virtudes do capital de terceiros podem ser expressas em termos bastante simples. Permite aos proprietários de uma empresa obter fundos adicionais, sem a necessidade da inclusão de novos sócios. Se o “leverage” financeiro for favorável, os lucros adicionais pertencerão integralmente aos portadores de ações ordinárias. Além disso, os juros poderão ser deduzidos do pagamento de impostos sobre a renda. Também é preciso que o administrador financeiro leve em conta outras modalidades de financiamento para saber se o uso de capital de terceiros a longo prazo representa o método mais conveniente, considerando-se as necessidades da empresa, os riscos inerentes à dívida, e as condições previstas do mercado de capitais, na época em que planeja lançar seus títulos. Ao tomar uma decisão relativa à venda ou não de títulos de dívida, o administrador financeiro deverá levar em consideração quatro problemas fundamentais. Em primeiro lugar, impõe-se a comparação das vantagens relativas de uma emissão de títulos a longo prazo com uma série de empréstimos a médio prazo. Em segundo lugar, precisará decidir se a respeito do lançamento dos títulos por colocação individual, com a ajuda de um intermediário. Em terceiro lugar, se utilizar-se um intermediário, deverá ser tomada uma decisão entre a obtenção de várias ofertas e a transação com um único banco de investimento. Por último deverá ser determinado o valor monetário de custos decorrentes da concessão de opções, “warrants” e direitos de conversão. Entretanto, o “leverage” atua nos dois sentidos. Se os lucros adicionais, obtidos em decorrência da utilização dos fundos levantados por empréstimo, não forem suficientes para o pagamento de juros, os acionistas serão prejudicados. O não pagamento de juros e o não cumprimento das exigências de constituição de um fundo de amortização poderão provocar um pedido de concordata, ou conduzir à reorganização da empresa. Portanto, o administrador financeiro deverá evitar um índice de capital de terceiros/capital próprio excessivamente elevado. 07.05- FINANCIAMENTO POR CAPITAL PRÓPRIO CAPITAL PRÓPRIO Os acionistas de uma sociedade anônima são proprietários residuais do patrimônio líquido ou capital próprio da firma.Esta propriedade confere aos acionistas determinados direitos. Tais direitos, como freqüentemente ocorre, podem estar sujeitos a limitações expressas no certificado de incorporação ou nos estatutos da empresa, ou na legislação do estado ou país que concedeu o certificado a essa sociedade anônima. A existência ou inexistência de tais limitações ao exercício absoluto do direito de propriedade exerce influência direta sobre a escolha da fonte de recursos a longo prazo. I. AÇÕES ORDINÁRIAS Basicamente, o acionista possui direitos de proprietário, dentro dos limites estabelecidos pelo certificado de incorporação ou pela legislação estadual, em relação ao seguinte: 1. Votar em todas as decisões importantes para sua posição de proprietário da empresa. 2. Participar dos lucros ou prejuízos da firma. 3. Preservar sua participação na propriedade da empresa. 4. Receber o patrimônio líquido ou valor residual, no caso de liquidação da firma. 1. Direito de Voto. O acionista exerce seus direitos de voto principalmente na eleição dos membros da diretoria. Esta é responsável pela nomeação dos executivos, determinação das políticas globais da firma e declaração de dividendos, pagos aos acionistas graças aos lucros obtidos. Além disso, as medidas da diretoria, que afetem os interesses financeiros dos acionistas da firma, deverão ser submetidas à sua aprovação; por exemplo, a venda da empresa ou sua fusão com outra, uma alteração na estrutura de capital decorrente de nova emissão de ações ou de títulos de dívida. De acordo com o costume, a cada ação corresponde um voto. Cabe à maioria das ações, representadas na assembléia anual, eleger os membros da diretoria e aprovar o relatório e suas recomendações, em relação a assuntos que exigem aprovação dos acionistas. Um acionista que não possa estar presente à assembléia poderá nomear um procurador, que atuará em defesa de seus interesses. Entretanto, a regra de “uma ação, um voto” poderá ser modificada por uma cláusula específica, incluída no certificado de incorporação ou nos estatutos da sociedade anônima. Por exemplo, na década dos 20, numerosas sociedades de grande porte emitiram ações Classe A, sem direito a voto; a ação com direito a voto era Classe B. Esta prática foi abandonada na década dos 30. A Securities and Exchange Commission e as principais bolsas de valores do país foram, em grande parte, responsáveis por êsse fato. As bolsas recusam-se, em regra, a aceitar o registro de firmas que emitem ações ordinárias sem direito a voto. As empresas de menor porte ocasionalmente recorrem a êste artifício, por motivos que lhes são peculiares. Neste caso, as ações ordinárias estão em mãos de seus proprietários executivos. Suponhamos que uma pequena empresa necessite de recursos adicionais, e que seus proprietários não tenham capacidade para fornecê-los. É claro que não desejam diluir seu controle acionário, mediante a venda de ações ordinárias a pessoas estranhas à empresa. Poderão obter tais recursos junto a amigos pessoais, conhecidos ligados a outras firmas, e mesmo fornecedores, em troca de remuneração e garantia adequadas. A empresa poderá, então, vender ações preferenciais a esses indivíduos e, para cada ação preferencial, oferecer uma ação sem direito a voto, normalmente de Classe A. Estas ações normalmente são resgatáveis, mediante chamada, a um preço prefixado. Este preço destina-se a “atenuar” a emissão, constituindo privilégio adicional ao dividendo fixo da ação preferencial. Outro método utilizado, de vez em quando, pelas sociedades anônimas é a emissão de uma categoria de ações ordinárias com múltiplos direitos de voto; i.e., cada ação tem direito a mais de um voto. Esta ação comumente não participa dos lucros da empresa. Seu objetivo é assegurar a manutenção do controle acionário nas mãos dos seus portadores, mesmo que o número de ações com direito a apenas um voto seja substancialmente acrescido quando da emissão de tais ações. Por exemplo, as ações Classe B da Ford Motor Company, detidas pelos membros da família Ford, possuem direitos múltiplos de voto. O princípio do voto majoritário poderá representar uma injustiça bastante séria para a minoria. Pelo menos teoricamente 49% dos votos, em uma assembléia anual, poderão ser totalmente inoperantes se forem derrotados por uma maioria de 51%, em todos os assuntos que exigem decisões por maioria absoluta. Recorrendo à votação cumulativa, a sociedade anônima assegura à minoria um meio de eleger alguns membros da diretoria e, desta forma, conseguir representação nas deliberações dos diretores. Na verdade, as leis de vinte e um estados exigem, em termos específicos, que todas as sociedades anônimas aí incorporadas estabeleçam um sistema de votação cumulativa. De acordo com tal sistema, cada ação possuirá direito a tantos votos, quantos forem os diretores a serem eleitos. O acionista poderá fazer uso desses votos como lhe aprouver; por exemplo, poderá dar todos os seus votos a um único diretor. Suponhamos existirem 10.000 ações, sendo necessária a eleição de cinco diretores. Para assegurar a eleição de um diretor, poderá ser utilizada a seguinte fórmula: Número total de ações X Número desejado de diretores + 1 Número de diretores a serem eleitos + 1 Substituindo, caso se deseje eleger um diretor: 10.000 X 1 5 + 1 + 1 = 1.667 ações. No caso de se pretender eleger a maioria dos diretores: 10.000 X 3 5+1 + 1 =6.00l ações. O fato de se conseguir uma representação minoritária na diretoria não significa, necessariamente, que os que elegem a maioria estejam impedidos de exercer o controle da firma. A maioria da diretoria é perfeitamente capaz de tomar todas as decisões em problemas para cuja solução está autorizada pelos regulamentos da sociedade anônima. Não obstante, uma minoria articulada e experiente de diretores poderá obstaculizar as medidas tomadas pela maioria, que podem ser discutidas, nos tribunais, como não pertinentes aos interesses da empresa. Por outro lado, o grupo minoritário poderá utilizar sua posição para gerar desarmonia na diretoria, com o objetivo de preparar-se para uma luta pelo poder. Desta maneira, a votação cumulativa, em certas condições, poderá reduzir bastante a eficiência da administração. Embora 1.001 ações pudessem ser suficientes (utilizando o exemplo anterior) para eleger um diretor dentre um total de nove, seriam necessárias mais ações para elegê lo, se o número total de diretores fosse reduzido a sete, por exemplo. As leis de alguns estados podem fazer com que tais artifícios administrativos adquiram legalidade duvidosa. 2. Prazo de Vencimento. Ao contrário dos títulos de dívida (e mesmo de algumas ações preferenciais), as ações ordinárias não apresentam prazo de vencimento. Com excessão dos casos de reorganização ou concordata, os portadores de ações ordinárias não podem ser obrigados a sacrificar seus direitos aos lucros e ativos da emprEsa, sem consentimento prévio. 3. Terminologia da Sociedade Anônima. Talvez seja interessante, a esta altura, definir os diversos termos que aparecem, no balanço das sociedades anônimas, sob a rubrica Capital. Estes itens encontram-se no passivo, visto representarem compromissos da empresa em relação a seus proprietários-acionistas. O montante de ações é o número total de ações que a empresa está autorizada a emitir e vender. O item seguinte indica o número real de ações emitidas. Costumeiramente, uma sociedade anônima já prevê, em seu registro de incorporação, autorização para emitir ações além do número previsto, em um dado período. Isto torna desnecessário alterar o registro toda vez que os diretores decidem ser preciso vender novas ações. A ação poderá ser emitida com ou sem valor par. O fato de uma ação ter valor par significa que cada certificado de propriedade apresenta um dado valor monetário — $50, digamos — que representa o montante, em dinheiro, ou sua equivalência em termos de ativos, recebido pela empresa no momento da venda do título. Ao contrário, a ação sem valor par não apresenta essa cifra. O preço a que é vendida passa, dêste modo, a representar o valor monetário desta ação, para fins de inclusão no balanço. Os diretores registram um “valor declarado” para cada ação sem valor par. Este valor pode ser estabelecido, à sua vontade, abaixo do preço efetivamente obtido. A diferença seria, então, lançada na conta “excedente de capital” ou no “paid-in surplus”. O mesmo processo deverá ser adotado se as ações com valor par forem vendidas com ágio, ou seja, a preço superior ao valor nominal, expresso no certificado de propriedade. A conta treasury stock representa as ações vendidas, mas, anteriormente devolvidas à sociedade anônima, ou readquiridas de alguns acionistas. Uma doação de certo número de ações à empresa é ocasionalmente efetuada por um ou mais acionistas, em caso de sociedade anônima “fechada”. Um dos objetivos é elevar o valor contábil das ações em circulação. Ao mesmo tempo, os diretores podem vender as ações sob a rubrica treczsury stock, sem levar em conta seu valor ao par, ou o valor declarado da ação sem valor par. Por outro lado, os diretores de uma sociedade anônima poderão decidir readquirir parte das ações lançadas quando seu preço de mercado cair muito abaixo do preço original de emissão. 4. Direitos de Prevalência. O acionista é proprietário de uma parte da empresa, representada pela proporção que detém do total de ações. Sua participação nos êxitos ou insucessos da firma é proporcional a esse número de ações. Normalmente, o acionista tem o direito de subscrever idêntica proporção, em todo aumento de capital realizado pela empresa. As exceções, segundo o observado na prática, referem-se às ações da conta treasury stock, às ações não vendidas na oferta inicial da empresa, e às ações para cuja compra foi concedida opção a diretores e empregados. Não existe, entretanto, uniformidade alguma em relação a est e direito de prevalência na legislação dos diferentes estados. Poucos estados poderão conceder registros de incorporação limitando ou eliminando o direito de prevalência dos acionistas. Alguns estados estabelecem expressamente a existência de tal direito, não concedendo registros de incorporação que o excluam. Outros estados negam esse direito, a menos que os estatutos da empresa o estabeleçam, de forma explícita. O direito de prevalência possui valor considerável para um acionista desejoso de manter sua posição ou influência na empresa, embora detenha apenas uma parcela minoritária das ações. Se a sociedade anônima em questão utilizar o sistema de votação cumulativa, às ações desse indivíduo poderão ser suficientes para garantir a eleição de um ou mais diretores. A emissão de novas ações, entretanto, poderá reduzir seu poder de voto, abaixo do mínimo exigido para que possa eleger “seus” diretores. O direito de subscrever novas ações é importante para o acionista, não importando a forma pela qual o tenha adquirido, visto permitir-lhe a compra dessas ações a preço inferior ao corrente de mercado. Isto proporciona uma vantagem ao possuidor de direitos, em comparação com os indivíduos que são obrigados a comprar essa ação no mercado aberto. Poderão ser concedidos direitos a qualquer categoria de ação ou titulo de dívida, em relação à compra de título dessa ou de outra modalidade; entretanto, são usados, predominantemente, para possibilitar aos portadores de ações ordinárias da companhia a aquisição de novas ações. Uma vez anunciada uma emissão nessas condições, a negociação das ações em bolsa será realizada com direitos. Isto significa que o vendedor das ações concorda com o recebimento, pelo comprador, dos direitos de compra das novas ações a serem emitidas pela e mpresa, além dos títulos adquiridos nessa transação. A partir de uma data preestabelecida, os direitos deverão ser negociados separadamente, passando as ações a serem, agora, sem direitos. Poderão ser concedidos direitos válidos por período indeterminado, ou com valor exclusivamente até uma certa data. Por exemplo, admitamos que em 2 de janeiro de 1967, a Alpha Corporation tivesse anunciado a venda de direitos aos seus acionistas, nas seguintes condições: em 10 de janeiro, cada acionista receberia um direito correspondente a cada ação possuída; cada cinco direitos e mais $50, possibilitariam ao acionista receber uma nova ação da Alpha. Este título seria negociado com direitos até 6 de janeiro. Os direitos seriam válidos até 23 de janeiro, a menos que fossem exercidos. Se o acionista da Alpha não se preocupasse em exercer seus direitos, poderia vendê-los em bolsa. Como a empresa estava vendendo seus títulos sem direitos, o acionista poderia calcular facilmente o valor de um direito. Seria a diferença entre o preço de mercado de uma ação, sem direitos, e o preço de subscrição, dividido pelo número de direitos necessários para a aquisição de uma ação. Utiliza-se uma fórmula para realizar tal cálculo. Nessa fórmula, temos: P = Valor teórico de uma ação, sem direitos. S = Preço de subscrição. N = Número de ações antigas, que permitem ao acionista comprar uma nova ação. M = Valor de mercado de uma ação, com direitos. P—S = Valor teórico de uma ação, sem direitos. N O valor teórico de uma ação também poderá ser calculado quando estiver sendo vendida com direitos, mediante o uso da seguinte fórmula: M—S N+1 = Valor teórico de uma ação, com direitos. Tomando-se o exemplo da Alpha Corporation e admitindo-se que o preço da ação com direitos, no encerramento das transações, no dia 5 de janeiro, seja de $85, o cálculo desse valor torna-se bastante simples: M = $85 S=$50 N= 5 M—S M+1 85 — 50 = 5+1 = Valor teórico de uma ação da Alpha Corporation, com direitos. Se admitirmos a inexistência de qualquer outra influência sobre o preço das ações da Alpha, uma ação sem direitos deverá ser vendida por, aproximadamente, $79 1/8, visto o preço teórico de mercado de uma ação sem direitos, mais o valor de um direito, ser igual ao preço de mercado de uma ação com direitos (85 — 5,83 = = $79.17). Evidentemente, não haverá outra influência sobre o preço de mercado da ação, além da própria oferta de direitos. Suponhamos que o preço de mercado, sem direitos, alcance $82, em 20 de janeiro. O acionista poderá, então, utilizar a fórmula (P — S) /N para calcular o valor do direito nessa data. Pára o caso dessa empresa, (P — S) /N, ou seja, (82 — 50/5 = $6,40), o que corresponde ao valor teórico de um direito no dia 20 de janeiro. O valor real de mercado do direito poderá ser diferente, em decorrência de especulação provocada por investidores. Note-se que, ao haver um aumento de preço de mercado da ação sem direitos, de 79 1/8 para 82 (um acréscimo inferior a 4%), o valor de um direito subiu de $5,83 a $6,40, no mesmo período (o que equivale a um aumento de quase 10%). Como as variações dos preços de mercado tendem a ampliar -se em relação aos direitos, os especuladores preferem, freqüentemente, comprar os direitos a adquirir as ações. Entretanto, quando os direitos são emitidos com um prazo estipulado de vigência (como ocorreu no caso da Alpha), será necessário pensar duas vezes. Os direitos deverão ser exerc idos antes da data de encerramento desse prazo, caso contrário, perderão seu valor. Teoricamente, o valor de um direito será igual à redução prevista do valor de mercado da ação antiga. Portanto, se o acionista vender seus direitos, não incorrerá em perda alguma em relação ao valor total de mercado de seus títulos, não considerando quaisquer problemas referentes ao pagamento de impostos sobre a renda. A fórmula (P — S) /N poderá ser aplicada em todos os casos em que fôr concedido o direito de subscrição de ações preferenciais ou títulos de dívida, pois não haverá problema algum de redução do valor de mercado. 5. Emissão de “Filhotes” O parcelamento de ações em “filhotes” é um artifício empregado para elevar o número de ações, sem alterar o capital próprio da empresa. Assim sendo, enquanto o número de ações é aumentado, o valor monetário total do montante de ações permanece inalterado. Se a empresa tiver lançado ações com valor ao par, o número de títulos será aumentado em proporção ia-versa à redução do valor. Por exemplo, se a firma decidir parcelar suas ações pela metade (2 por 1), e o valor ao par da ação antiga fôr de $50, cada uma das duas novas ações possuirá um valor ao par de $25. No caso de ações sem valor par, êsse reajustamento não é necessário. A Tab. 15.1 apresenta uma relação parcial das 106 emissões de “filhotes”, realizadas em 1965 por sociedades anônimas, registradas na Bolsa de New York. Vários motivos podem ser atribuídos ao parcelamento de ações em “filhotes”. Em primeiro lugar, e mais freqüentemente, poderá estimular a negociabilidade das ações em mãos dos acionistas da firma. A redução do preço das novas ações colocadas em um nível de preço mais baixo e ao alcance, portanto, de maior número de investidores potenciais. Qualquer investidor prefere comprar 100 novas ações de uma dada empresa, a $20 por unidade, do que 10 ações antigas a $200 cada. Em segundo lugar, o aumento do número de ações lançadas possibilita um acréscimo equivalente da oferta de ações. As transações tendem a aumentar, sendo inferior a percentagem do número total de ações. Em conseqüência, o preço de mercado, em qualquer momento considerado, tenderá a sofrer oscilações menos violentas do que no caso de uma oferta de ações relativamente limitada. Por fim, o lançamento de “filhotes” permite ocultar vultosos lucros por ação. Ao invés de declarar um dividendo de, digamos, $20, para cada ação antiga, a empresa poderá declarar dividendos de $2 por ação nova, admitindo-se que as primeiras tenham sido divididas em 10 partes. Embora na análise acima o “menor” dividendo por ação seja mais aparente do que real, algumas empresas acreditam que sua imagem, perante o público, poderá ser prejudicada no caso de um dividendo superior a $10 por ação, mas escaparão de qualquer reação desfavoráv el, se o dividendo for de apenas $2 ou $3. A administração poderá sentir, ainda, que dividendos mais reduzidos tenderão a provocar menores exigências dos sindicatos. 6. Dividendos e Acionistas. O acionista avalia sua propriedade, em parte, em função dos dividendos distribuídos pela empresa. Estamos nos referindo tanto a dividendos correntemente pagos, quanto a futuros dividendos. Idêntica abordagem aplica-se ao investidor potencial. O preço de mercado de uma ação reflete o valor monetário atribuído aos dividendos pelo seu proprietário-vendedor e pelo investidor-comprador. Nos dois casos, os dividendos previstos são capitalizados, pelo menos em parte. Entende-se por capitalização do dividendo a determinação do montante em relação ao qual o dividendo proporciona o retorno desejado. Suponhamos que uma dada empresa distribua a totalidade de seus lucros e apresente uma tradição de pagamento de $5 por ação, sendo muito provável a sua continuação nos próximos anos. A que investimento corresponde o retorno de $5? Se o investidor estiver satisfeito com o retorno de 5%, o valor da ação, para ele, será de $100. Este exemplo é uma simplificação exagerada do problema da capitalização. Tanto o portador da ação, quanto o investidor, sabem que os diretores da empresa não são obrigados, legal ou contratualmente, a declarar um dividendo. Também estão cientes do fato de serem os lucros da empresa (e, portanto, seus dividendos), bastante incertos. Embora os lucros possam ser vultosos, a diretoria da firma poderá decidir não declarar um dividendo, e sim reinvestir todo o lucro na empresa. Neste caso, o acionista não obterá retorno imediato sobre seu investimento, apesar da rentabilidade apresentada pela empresa. Além disso, a taxa de retorno aceitável depende também de outras variáveis, tais como a taxa de juros vigente em relação a outros tipos de investimento, perspectivas de inflação ou deflação, e da existência ou não de um vultoso saldo de lucros retidos. O acionista também está ciente do fato de que a empresa não pode declarar dividendos até serem pagas as somas devidas a credores — portadores de títulos de dívida, fornecedores de empréstimos a médio prazo etc. Se a firma tiver emitido títulos de dívida ou levantado um empréstimo a médio prazo, o pagamento do principal e dos juro s, estabelecido no contrato, deverá ser efetuado, prioritariamente, com os lucros conseguidos; e, se o contrato do empréstimo o exigir, uma parcela dos lucros restantes deverá ser transferida para uma conta de, Reserva, antes de serem pagos os dividendos aos acionistas. Portanto, os dividendos serão distribuídos graças aos lucros obtidos, depois de saldados com os credores todos os compromissos contratuais obrigatórios. 7. Dividendos Pagos em Ações. Em regra, uma sociedade anônima paga dividendos em dinheiro. Entretanto, sua diretoria poderá decidir declarar dividendos em ações, em substituição ou complementação ao dividendo em dinheiro. Um dividendo em ações reduz as saídas de caixa da empresa. Além disso, não modifica a distribuição da propriedade entre os diferentes acionistas. Entretanto, se o acionista desejar receber o dinheiro e vender seu dividendo (constituído de ações), reduzirá sua participação no total das ações. Suponhamos que um investidor possua 100 ações, de um total de 10.000, e que a empresa declare um dividendo, em ações, à razão de uma ação para cada dez; a participação desse investidor, após a venda do dividendo em ações, reduzir-se-á de 1% para, aproximadamente, 0,9%. O dividendo pago em ações é, freqüentemente, fonte de confusões. Na verdade, trata-se de uma recapitulação, como poderá ser demonstrado no exemplo a seguir, em que é pago um dividendo de 25%, em ações: Antes do Dividendo: Ações ordinárias (100.000 ações de valor par de $1) $100.000 Lucros retidos $150.000 Depois do Dividendo: Ações ordinárias (125.000 ações de valor par de $1) $125.000 Lucros retidos $125.000 O que ocorreu não passou de uma transferência de $25.000 da conta Lucros Retidos à conta Ações Ordinárias. Do ponto de vista do acionista, é agora maior o seu número de ações, visto deter 125, quando antes era proprietário de apenas 100. Melhorou sua situação, em termos reais? Na verdade, ainda dispõe da mesma participação na propriedade da empresa. Além disso, um dividendo em ações não cria lucros adici onais para a empresa. Em conseqüência, o acionista não poderá exigir sua distribuição. Os lucros por ação reduzem-se, necessariamente, em função de um dividendo pago em ações. Se os lucros fossem de $50.000 antes do dividendo de 25%, seriam de $0,50, por ação (50.000/100.000 ações). Em decorrência do dividendo em ações, os lucros por ação passaram a $0,40 ($50.000/125.000 ações).. Entretanto, estas alterações não exercem influência alguma sobre os direitos dos proprietários em relação aos lucros (caso não s ejam vendidas as ações assim recebidas). A demonstração deste fato encontra se abaixo: Antes do dividendo Depois do dividendo Número de ações possuídas X 100 X 125 X Lucros Total dos direitos por ação = sobre os lucros $ 0,50 = $50,00 $ 0,40 = $50,00 8. Motivos do Pagamento de Dividendos em ações. Por que, então, as empresas realizam pagamentos de dividendos sob a forma de ações? Um dos motivos dessa política é o reconhecimento da retenção de uma parcela de lucros. Outro, prende-se à conservação de recursos monetários na empresa, ao mesmo tempo em que é oferecida “alguma coisa” ao acionista. Aqueles que necessitarem de recursos poderão vender as ações recebidas graças a essa distribuição de dividendos. Entretanto, sua participação na empresa (em relação a seus lucros e seu controle) deverá diminuir. Como os acionistas não recebem mais do que simples pedaços de papel, numerosos administradores financeiros têm combatido o pagamento de dividendos sob a forma de ações. Uma das justificativas do pagamento de dividendos em ações é a redução do preço de mercado da ação para atingir maior número de compradores. O preço de mercado da ação também poderá ser diminuído mediante a emissão de “filhotes”. As empresas em rápido crescimento reconhecem a necessidade de emitir “filhotes”, de tempos em tempos, visando manter, em nível razoável, o preço da ação. A IBM, por exemplo, lançou “filhotes” em 1966, emitindo uma nova ação para cada duas antes existentes, com o objetivo de ampliar seu mercado. Muito embora tal dividendo em ações, ou distribuição de “filhotes”, não proporcione ao acionista mais do que simples pedaços de papel representando idênticos direitos sobre os lucros e igual participação na empresa, a redução do preço de mercado poderá estimular a procura da ação no mercado, provocando um aumento de preço, o que beneficiará o acionista se, futuramente, desejar vender suas ações. Em certas ocasiões, as firmas realizam uma redução do número de suas ações, mediante a emissão de uma ação nova para várias ações já existentes, no caso de o título estar sendo negociado a um preço demasiadamente reduzido, para atrair compradores. Este processo dificilmente poderá elevar o preço de mercado de uma ação, a menos que os lucros e/ou os dividendos também aumentem. 9. Ganho de Capital. O investidor em ações ordinárias assume o risco inerente à propriedade de uma empresa. Beneficia-se com os acréscimos de lucros. O preço de mercado de uma ação depende tanto da magnitude atual ou futura dos lucros por ação, quanto do dividendo pago pela firma. Uma elevação de 10% do dividendo, por exemplo, poderá provocar um aumento de mais de 10% do preço da ação, supondo -se que os lucros, depois da dedução dos impostos, mas antes do pagamento dos dividendos, tenham também sofrido uma elevação de, pelo menos, 10%, e que a empresa, na opinião de investidores potenciais, apresente razoáveis possibilidades de crescimento dos lucros. O comprador de ações ordinárias poderá, desta maneira, considerar o rendimento sob a forma de dividendos como meio para atingir um fim. Seu último objetivo será, normalmente, a perspectiva de um ganho de capital. Isto é verdade, quer o acionista esteja ativamente identificado com a administração da empresa, quer seja um proprietário absentista. A única diferença refere-se ao fato de o primeiro pensar em termos de acumulação desse ganho de capital em um período de diversos anos, enquanto o típico proprietário absentista raciocina em termos de poucos meses ou anos. 10. Estrutura de Capital Baseada em Ações Ordinárias. Numerosas sociedades anônimas iniciam suas atividades com ações ordinárias e sem qualquer modalidade de capital de terceiros a longo prazo. Exceção a esta regra é o caso de novas sociedades anônimas que obtêm concessões para abastecimento de água ou gás e energia elétrica. Nestes casos de monopólios legais, não será muito difícil, para uma nova empresa, a obtenção de parte dos recursos necessários por intermédio da venda de títulos de dívida a, longo prazo. Uma firma nova, que deva forçar sua entrada em um setor concorrencial, defrontar-se-á com as incertezas do mercado. Tentará, geralmente, levantar os recursos necessários mediante venda de ações ordinárias. A magnitude de seu capital próprio — medida pelo quociente do patrimônio líquido sobre o exigível — determinará sua capacidade de obter crédito, a curto prazo, de fornecedores e bancos. Estes credores não deverão preocupar-se com os direitos prioritários sobre os lucros da firma, pertencentes a credores a longo prazo. Além disso, a inexistência de dívidas a longo prazo também significa a inexistência de limitações às decisões administrativas. Lembramos ao leitor, da análise dos empréstimos a médio prazo, efetuada no Cap. 11, que tais empréstimos normalmente impõem certas restrições contratuais. No caso de dívidas a longo prazo, examinadas no Cap. 14, tais restrições podem tornar -se bastante sérias. Deve-se notar que uma estrutura baseada em ações ordinárias não é característica pertinente apenas a empresas novas. Algumas das maiores sociedades anônimas desenvolveram-se exclusivamente graças à reaplicação de seus lucros e à venda de ações ordinárias adicionais. O Moody’s Investors Service relaciona, entre outras, as empresas da Tab. 15.2, como possuidoras de apenas ações ordinárias. Tais firmas preferiram levantar os recursos necessários a seu crescimento mediante a venda de ações aos seus proprietários ou ao público em geral. Empresas de pequeno porte freqüentemente dispõem Tabela 15.2 TOTAL DOS ATIVOS, AÇÕES ORDINÁRIAS E LUCROS RETIDOS DE EMPRESAS SELECIONADAS, EM 1967 (EM MILHÕES DE DÓLARES Great Atlantic ande Pacific Tea Company International Nicked Co. of Canada , Ltd. Phelps Dogde Corp. Ohio Oil Company United Fruit Company Norton American Aviation, Insc. Pullman, Inc. Libbey-Owens-Ford Glass Company Freeport Sulphurt Co. Otis Elevator Co. Total dos Ativos 884 1.116 591 977 398 573 * 411 291 274 340 Ações Ordinárias 25 90 126 155 193 8 91 53 77 26 Lucros Retidos 386 714 386 444 154 280 93 185 122 185 * Balanço em fins de 1966 de menor possibilidade de escolha da fonte de capital a longo prazo necessário ao financiamento de sua expansão. Não possuem ativos fixos em volume suficiente, ou seus lucros prováveis estão sujeitos a elevado grau de incerteza; isto impede-as de oferecer satisfatória segurança a credores a longo prazo. Em tais casos, a empresa não tem outra alternativa senão conservar uma estrutura de capital baseada, principalmente, em ações ordinárias. Entretanto, por que uma firma que tenha acesso a fontes de capital de terceiros a longo prazo a elas não recorre? A resposta será diferente em cada caso. As razões da utilização de ações ordinárias como fonte única de capital, além da retenção de lucros, são apresentadas a seguir. 11. Vantagens da Conservação de uma Estrutura de Capital Baseada em Ações Ordinárias. Já fizemos menção a dois motivos, não sendo pois, necessário analisá-los novamente: insuficiência de ativos fixos e substanciais flutuações da taxa anual de lucro. Uma razão importante é o desejo da administração de manter total flexibilidade na tomada de suas decisões. Havendo lançado apenas ações ordinárias, a administração da empresa sentir-se-á totalmente livre para adquirir uma outra firma, mediante uma troca de ações. Poderá vender os ativos não mais úteis ao funcionamento efetivo da empresa. A diretoria poderá, livremente, firmar contratos de arrendamento. A companhia poderá tomar empréstimos a curto prazo, em função de suas necessidades e de sua capacidade de obtê-los. Poderá levantar empréstimos em companhias financeiras ou vender seus valores a receber, a comissários. E, por último, mas não menos importante, a diretoria terá total liberdade em distribuir, sob a forma de dividendos, a parcela dos lucros que julgar mais aconselhável. Na existência de uma estrutura de capital baseada apenas em ações ordinárias, as decisões relativas a tais problemas são de integral responsabilidade da diretoria da firma. Outra razão poderá ser o desejo da administração de aproveitar completamente as vantagens de um mercado propício para a emissão de novas ações. Existem períodos em que os proprietários de recursos de capital encontram-se literalmente falando, ansiosos por comprar ações ordinárias, dispondo-se a pagar um preço até mesmo vinte ou mais vezes superior ao lucro por ação. Na terminologia do mercado de ações, a situação é de otimismo, em relação a ações ordinárias. Esse clima constitui forte tentação à administração necessitada de capital para fins de expansão — ou que prevê tal necessidade em futuro não muito distante — com o objetivo de tirar proveito da grande disponibilidade de recursos. Também deve-se ter em mente o fato de que a decisão de emitir e vender novas ações é tomada em um dado momento. Suponhamos que, ao decidir entre a obtenção de maior quantidade de capital próprio e a de capital de terceiros, a empresa prefira a primeira modalidade. Isto não a impede de oferecer títulos de dívida para levantar recursos adicionais, quando idêntica escolha apresentar-se no futuro. Na verdade, se a firma tiver, em um período qualquer, efetuado duas ou três emissões consecutivas de ações ordinárias, por exemplo, seu patrimônio líquido ou capital próprio terá aumentado, a menos que tenha incorrido em grandes prejuízos. Uma base mais ampla de capital próprio permitirá a obtenção futura de capital de terceiros, quando o mercado de ações apresentar um clima pessimista, e a empresa precisar de recursos adicionais. II. AÇÕES PREFERENCIAIS A ação preferencial é um título de natureza híbrida. Combina algumas características da ação ordinária com elementos de um título de dívida. Sua participação em relação aos portadores de ações ordinárias e aos credores que adquiriram títulos de dívida é determinada por cláusulas constantes de seu certificado de emissão. O alcance da “preferência” é definido no contrato firmado entre a sociedade anônima e os compradores desse título. Na verdade, a “preferência” oscilará entre dois extremos: de um lado, será uma ação preferencial gozando de quase todos os privilégios dos portadores de ações ordinárias — participação nos lucros, direito de voto, e controle — bem como as prioridades de um credor no que diz respeito ao recebimento de uma taxa fixa de retorno, ao resgate em uma data de vencimento preestabelecida, além da prioridade em relação à ação ordinária, no caso de liquidação da firma. No outro extremo encontramos a ação preferencial que possui somente um direito limitado de prioridade no recebimento de dividendos. Quaisquer que sejam as características de uma ação preferencial, ela será tratada, pelas autoridades fiscais, como parte do capital próprio da empresa. O dividendo pago aos portadores de ações preferenciais não constitui, portanto, despesa passível de dedução do imposto sobre a renda. Tais dividendos são pagos, deste modo, com os lucros, após a dedução dos impostos. 1. denominação Específica. A ação ordinária é emitida com ou sem valor par. A ação preferencial possui, geralmente, um valor nominal fixo. Tal valor poderá ser de $5 ou até de $100. A cifra expressa no certificado de emissão representa uma obrigação da sociedade anônima em relação ao portador, no sentido do resgate do título, em uma data futura, a esse valor nominal ou outra quantia superior. 2. Vencimento. O compromisso de resgatar a ação preferencial em data determinada estabelece um limite de tempo ao risco assumido pelo portador do título. O não-pagamento do valor nominal equivale ao não-cumprimento do pagamento de dívidas, O credor, neste caso o portador da ação preferencial, poderá mover ação contra a socieda de anônima. Em geral, as ações preferenciais não possuem data fixa de vencimento, visto considerar-se o investimento em capital próprio como permanente. Entretanto, como os portadores das ações preferenciais são, num certo sentido, uma categoria especial de proprietários, estipulam-se condições para o resgate voluntário e, algumas vezes, compulsório, mediante a fixação de uma data de vencimento ou a constituição de um fundo de amortização. O resgate de uma ação preferencial poderá ser efetuado pelo valor nominal ou por um valor superior, com a concessão de um prêmio, portanto. Este prêmio, estabelecido contratualmente, consiste em um dispositivo para “atenuar” a emissão. Destina-se a facilitar a venda dessas ações, visto prometer ao comprador uma soma além dos dividendos distribuídos durante o prazo de vigência do título. A disposição da empresa de pagar êsse prêmio no resgate influi na taxa de dividendos prometida ao comprador da ação preferencial. Levando em conta tal prêmio, o investidor poderá ser induzido a aceitar uma taxa (prometida) de dividendos mais baixa. Assim sendo, uma ação preferencial a 5%, com prazo de 10 anos, resgatável a 115% do valor nominal, terá uma taxa anual idêntica a outra ação preferencial, a 6%, e com igual prazo de vencimento. Do ponto de vista da firma, sua imagem perante o público será melhorada, se lançar ações preferenciais a 5%, ao invés de a 6%. O contrato também estipula, freqüentemente, uma data de chamada para resgate. De acordo com essa cláusula, a sociedade anônima tem o direito de “chamar” os portadores de ações preferenciais e resgatar esses títulos antes da data de vencimento (se esta existir). Normalmente, o direito de chamada para resgate é acompanhado por um dispositivo, estabelecendo o pagamento de um prêmio acima do valor nominal. 3. Dividendos. Costuma-se estipular uma percentagem fixa do valor nominal das ações preferenciais, como dividendo anual prometido. Isto não significa que a empresa seja obrigada a pagar tal dividendo, ano após ano. A decisão de pagar ou deixar de pagar dividendos é tomada pela diretoria. Poderá não ser pago dividendo algum, mesmo que o lucro da empresa, depois da dedução. dos impostos, esteja acima do exigido para distribuição de dividendos. É perfeitamente concebível que a diretoria da firma decida pela retenção de lucros, para atender às exigências financeiras de seus projetos de expansão. O não-pagamento do dividendo estipulado ao portador de ações preferenciais impede, automaticamente, o pagamento de dividendos aos proprietários de ações ordinárias. Esta é uma das características fundamentais da ação preferencial. Possui prioridade ou preferência, em relação à ação ordinária. Mas esta preferência terá significado nulo se a empresa decidir não realizar pagamentos de dividendos, durante u m ou mais anos. A retenção de tais lucros simplesmente elevará o excedente de capital e, portanto, o valor contábil da ação ordinária, em detrimento das ações preferenciais, que deixam de receber dividendos. Visando garantir ao portador de ações preferenciais o recebimento do dividendo prometido, se isso for possível, costuma -se tornar o. dividendo cumulativo. Entende-se, por esse termo, a criação de direitos acumulados mediante a não-realização de pagamentos de dividendos em um ou vários anos sucessiVos. Até serem pagos os dividendos atuais e os acumulados, não poderão ser distribuídas outras parcelas dos lucros aos portadores de ações ordinárias. Por exemplo, se uma ação preferencial não tiver recebido seu dividendo de $5, durante três anos consecutivos, e a empresa decidir pagar dividendos a seus acionistas ao final do quarto ano, deverá, primeiramente, pagar $20 aos portadores de ações preferenciais, antes de distribuir tal dividendo aos portadores de ações ordinárias. Além disso, quaisquer dividendos não pagos, existentes na data de vencimento da ação preferencial, constituem direito adicional ao seu valor nominal, se existir algum. As ações preferenciais não cumulativas são normalmente emitidas em casos de reorganização de empresas, em conseqüência de processos de insolvência e falência. Nessas circunstâncias, os portadores de títulos com direitos não-prioritários — por exemplo, títulos de terceira hipoteca ou “income bonds” — que reconhecem a existência de reduzida possibilidade de recuperar mais do que uma pequena parte de seus direitos, poderão aceitar ações preferenciais, não cumulativas, em troca de seus títulos. Mediante esta troca, esperam que a empresa seja capaz de recuperar-se. Aceitam a ação preferencial não cumulativa como o menor dos males. Uma firma com premência de recursos adicionais de capital poderá, de vez em quando, concordar em vender ações preferenciais cumulativas de participação. Além da preferência e da acumulação de direitos, este tipo de ação preferencial também participa dos divi dendos pagos aos portadores de ações ordinárias. Suponhamos que uma ação preferencial a 5% tenha um valor nominal de $10. Depois de efetuado o pagamento desse dividendo, a cláusula de participação autoriza o portador da ação preferencial a receber dividendo idêntico aos distribuídos aos portadores de ações ordinárias. Se existirem 16.000 ações preferenciais, e 100.000 ordinárias, e estas obtiverem um dividendo de $2 por ação, cada ação preferencial receberá $2, além dos $0,50, representando o dividendo de 5% do valor nominal. A participação poderá ser ilimitada, como no exemplo acima, ou limitada, de acordo com o que tiver sido estabelecido no contrato de emissão. 4. Conversibilidade. Uma sociedade anônima também poderá conceder ao portador de ações preferenciais, o direito de converter seus títulos em ações ordinárias. Este direito de conversão normalmente é expresso em termos de ações; por exemplo, uma ação preferencial por duas ordinárias. Admitamos que a ação preferencial tenha um valor nominal de $25, e que o direito de conversão seja de 1 por 2. Se o preço da ação ordinária se elevar para $13, tudo indica que será compensador converter a ação preferencial em duas ações ordinárias, com um valor total de mercado de $26. Neste caso, o preço de mercado da a ção preferencial também ascenderá para, aproximadamente, $26. Seu portador talvez prefira aguardar uma nova elevação ou, então, que a administração chame os portadores para resgate, antes de ser realizada a conversão. Correrá, neste caso, o risco de conservar a ação ordinária e poderá sofrer um prejuízo, se a ação ordinária cair abaixo de $12,50. O direito de conversão poderá, portanto, ser anulado pela própria empresa, mediante a distribuição de “filhotes”, parcelando a ação ordinária em duas partes, à medida em que seu preço de mercado se aproximar de $12,50. Um parcelamento, na razão de 2 por 1, tenderá a fazer com que o preço da nova ação ordinária caia a $6,00, por exemplo. Para eliminar o risco de um direito de conversão perder todo seu significado, o contrato de emissão normalmente inclui uma cláusula impedindo a diluição do valor da ação. De acordo com esta cláusula, a taxa de conversão estipulada deverá ser automaticamente reajustada quando se realizar alguma distribuição de “filhotes”. Em nosso exemplo, cada ação preferencial poderia ser trocada por quatro ações ordinárias. 5. Direitos de Voto. Ainda neste caso, o direito do portador de ações preferenciais está expresso no certificado de emissão do título As ações preferenciais podem não ter direito a voto; em caso contrário, a votação poderá ser simples ou múltipla. A Bethlehem Steei e a Consolidated Edison, dentre outras, possuem ações preferenciais de votação simples; i.e., a cada ação corresponde um voto. Por outro lado, a Eastman Kodak emitiu preferenciais com direitos a 25 votos. A United States Steel, por sua vez, possui preferenciais com direito a 6 votos. Nestes casos de votação múltipla, o número de ações preferenciais é bastante pequeno, em relação ao de ações ordinárias. De outro modo, os acionistas preferenciais facilmente controlariam a firma. A votação múltipla destina-se a proporcionar a esses acionistas uma posição minoritária de certa importância na escolha e eleição dos diretores da empresa. 6. Poderes de Veto. Normalmente, a sociedade anônima concede aos portadores de ações preferenciais alguns poderes de veto, em assuntos de vital importância para a segurança dessas ações. Por exemplo, poderá ser exigido um voto de dois terços ou três quartos das ações preferenciais para a aceitação de uma proposta de fusão com outra empresa. Poderá ser requerida a aprovação de uma maioria específica dos acionistas preferenciais, para a emissão de novas ações dessa modalidade, com idênticos direitos, ou com privilégios adicionais. O contrato da General Motors exige a votação de três quartos dos acionistas preferenciais para que se considere aprovada a emissão de ações preferenciais “prioritárias”, ou seja, ações “preferenciais”, em relação às anteriormente emitidas. Contudo, não será necessária aprov ação para a emissão de novas ações preferenciais com direitos idênticos. Entretanto, a International Paper, por exemplo, deverá obter a aprovação de dois terços das ações preferenciais, para emitir novos títulos com direitos equivalentes. RESUMO Como os acionistas de uma sociedade anônima são os proprietários residuais de seu patrimônio líquido, possuem certos direitos. Estes direitos de propriedade exercem influência direta sobre a escolha das fontes de fundos a longo prazo. Uma estrutura de capital integralmente composta por ações ordinárias apresenta diversas vantagens, particularmente à empresa com ativos fixos limitados e sujeita a grandes oscilações de sua taxa anual de lucro. A ação preferencial é um título híbrido. Possui características tanto da ação ordinária, quanto de títulos de dívida, podendo variar de acordo com as cláusulas constantes de seu certificado. O administrador financeiro deverá manter-se a par das principais características das ações ordinárias e preferenciais. Numerosas empresas (com exceção das concessionárias de serviços públicos), geralmente iniciam suas atividades com uma estrutura de capital constituída apenas por ações ordinárias. A insuficiência de ativos fixos e as flutuações substanciais da taxa anual de lucro levam muitas sociedades anônimas a evitar a utilização de capital de terceiros. Um motivo importante poderá ser o desejo da administração de manter total flexibilidade na tomada de decisões, em assuntos tais como: venda de ativos, compra de outra empresa mediante troca de ações, e tomada de empréstimos a curto prazo. A diretoria de uma firma nessas condições também possui completa liberdade para distribuir qualquer percentagem de dividendos sobre os lucros obtidos. 07.06 - ARRENDAMENTO - ALTERNATIVA PARA O FINANCIAMENTO DIRETO A aquisição de ativos fixos por uma empresa normalmente exige a obtenção de recursos adicionais, sob a forma de capital de terceiros, em fontes externas, ou de capital próprio de acionistas, antigos ou novos, a menos que a firma disponha de lucros retidos, em montante suficiente possível, entretanto, que uma firma use ativos fixos sem necessidade de adquiri-los. Esta alternativa é o arrendamento.). No presente capítulo, trataremos somente do arrendamento como alternativa à compra de ativos. Existem numerosos casos em que a companhia não se defronta com essas alternativas. Por exemplo, uma cadeia de lojas de âmbito nacional poderá desejar abrir uma filial em um “shopping center”. A menos que compre todo o “shopping center”, o que será uma atitude deveras incomum, somente poderá arrendar (ou seja, alugar) a unidade que deseja ocupar. O mesmo acontece com espaço para escritório, em um prédio ou a utilização de todo um edifício, em um bairro industriaL Alguns fabricantes de máquinas para fins específic os, ou material de escritório, poderão oferecer seus produtos somente por arrendamento. Grande parte dos arranha-céus de New York, incluindo todo o complexo do Rockfeller Center e o Empire State Building, foram construídos em terrenos somente disponíveis para arrendamento a longo prazo. Existem, contudo, diversas oportunidades de uma companhia conseguir um arrendamento, em vez de comprar e possuir o bem. Nestes casos, o arrendamento é, de fato, embora não formalmente, um substituto do financiamento direto da companhia. É por este motivo que, algumas vezes, podemos nos referir ao financiamento por arrendamento. I. CARACTERÍSTICAS DO FINANCIAMENTO POR ARRENDAMENTO O arrendamento consiste em um acordo contratual entre o proprietário do ativo (arrendador) e o usuário (arrendatário), que estabelece detalhadamente as obrigações e os direitos das partes. As principais cláusulas dizem respeito ao prazo do arrendamento, opções de renovação (se houver), ao aluguel, à responsabilidade pelas despesas de manutenção, seguros e impostos. O arrendamento poderá conter também uma cláusula concedendo ao arrendatário a opção de compra do ativo, a um determinado preço, bem como o prazo de vigência dessa opção. Toda melhoria sofrida pelo ativo arrendado, incluída no balanço, cons istirá em vantagem para o arrendador, ao final do prazo do arrendamento. A. Crescimento O financiamento por arrendamento desenvolveu-se rapidamente a partir da Segunda Guerra Mundial. Muitas empresas de indústrias em crescimento encontraram grandes dificuldades ou acharam muito caro o levantamento dos fundos necessários no mercado de capitais. Por outro lado, as companhias de seguros, fundos de aposentadoria, bancos e outras instituições de investimento têm aplicado parte de seus recursos, que têm sofrido rápida expansão, no financiamento de transações seguras de arrendamento. Em resposta à esta situação de procura e oferta, desenvolveu-se um novo tipo de instituição: a companhia de financiamento para arrendamento. A companhia de financiamento para arrendamento atua como intermediária entre o provável arrendatário e o fornecedor de fundos. Suponhamos que uma empresa deseje obter o uso de um equipamento relativamente dispendioso, uma fábrica construída especialmente para atender suas necessidades, ou ativos necessários, mas inacessíveis devido ao preço. Neste caso, a empresa entrará em contato com uma companhia de financiamento para arrendamento. Esta última, por sua vez, avaliará as condições financeiras do arrendatário potencial, sua posição creditícia e outros elementos importantes. Se os riscos da transação forem aceitáveis, a empresa pagará ao vendedor o preço do ativo desejado, e assumirá a posição de arrendador. Seus recursos serão obtidos nas fontes previamente mencionadas. Estas fontes consideram vantajosos os serviços da companhia financeira, visto não serem obrigados a realizar investigações próprias e não se envolverem em negociações a respeito das condições do arrendamento, não sendo também necessário um exame periódico do arrendatário. Empresas de maior porte poderão decidir organizar suas próprias companhias de financiamento para arrendamento, como subsidiária. Estas últimas normalmente conseguem parte substancial de seus recursos das mesmas instituições acima citadas. B. Modalidades de Arrendamento Os contratos de arrendamento dividem-se em duas categorias: 1) arrendamentos financeiros e 2) arrendamentos operacionais. Um arrendamento financeiro consiste em um acordo mediante o qual o arrendatário concorda em realizar uma série convencionada de pagamentos periódicos, em um prazo determinado, abrangendo a maior parte da vida útil do ativo utilizado. Normalmente, o arrendador espera, durante esse período, ressarcir-se do preço pelo qual o ativo poderia ser vendido, além dos juros e outros custos que concordou em pagar; por exemplo, seguros, impostos, manutenção etc. Normalmente, um arrendamento financeiro não pode ser cancelado por qualquer das partes, exceto no caso de o acordo não ser respeitado. Um arrendamento operacional é freqüentemente estabelecido por período substancialmente inferior à vida útil do ativo. No final do período, e sujeito a notificação prévia de qualquer uma das partes, o arrendamento é concluído e o ativo reverte ao arrendador. Em geral, o arrendador espera recuperar, neste período, montante inferior ao preço integral de compra do ativo. Entretanto, deverá ressarcir-se de outros custos (por exemplo, juros, impostos etc.) e, talvez, obter um lucro, a menos que o arrendatário vá à falência ou deixe de cumprir os compromissos de pagamento. Um exemplo bastante simples destas duas modalidades de arrendamento é o de uma companhia que aluga caminhões. O arrendamento de um caminhão, pelo período de 5 anos, é um arrendamento financeiro. Se for por alguns dias ou meses, tratar -se-á de um arrendamento operacional. Arrendamentos operacionais, ou a curto prazo, ao invés da compra do ativo, mesmo a um custo substancialmente mais elevado, por unidade de tempo, serão especialmente desejáveis se o arrendatário não tiver muita certeza em relação à necessidade futura do ativo. Esta situação verifica-se, freqüentemente, em contratos com o Departamento de defesa. A firma que obtiver uma encomenda não poderá ter certeza de sua repetição no futuro. Se sua execução exigir equipamentos não possuídos pela firma no momento, e que não serão utilizados se não forem recebidas novas encomendas, será vantajoso conseguir os equipamentos mediante um arrendamento operacional. As pequenas empresas de construção obtêm a maior parte de seu equipamento pesado, se não a to talidade, graças a arrendamentos operacionais. As firmas de maior porte, ao contrário, “possuem” equipamento pesado em decorrência de arrendamentos financeiros, visto estarem razoavelmente seguras da necessidade de utilizá-lo, durante vários anos, abrangendo, assim, a maior parte de sua vida útil. C. Venda-retorno de Arrendamento Esta nova técnica de levantamento de recursos adicionais desenvolveu-se rapidamente após a Segunda Guerra Mundial, constituindo setor importante das atividades das companhias de financiamento para arrendamento. O processo em questão envolve, simultaneamente, a venda de um ativo a uma companhia de financiamento para arrendamento e seu posterior arrendamento, pelo próprio vendedor. O efeito é a colocação de recursos adicionais de capital à disposição da empresa, ao invés de ativos fixos. A firma é inteiramente livre para utilizar tais recursos, como capital de giro, na aquisição de ativos fixos, ou ambos. A companhia financeira torna-se, desta maneira, o proprietário legal e o arrendador de ativos existentes, já operados pelo arrendatário. O processo de venda-retorno em arrendamento tornou-se também importante instrumento para o investimento de recursos, por instituições educacionais, fundações isentas do pagamento de impostos, fundos de aposentadoria e companhias de seguros. Estes compradores arrendadores diferem da companhia de financiamento para arrendamento no tocante ao tipo de ativo que poderão adquirir e arrendar ao vendedor. Enquanto a companhia financeira poderá aceitar equipamentos, máquinas, caminhões e outros itens duráveis, os investidores acima mencionados normalmente restringem suas transações a bens de raiz. Como a instituição adquire esse bem, poderá pagar seu valor integral, ao contrário do empréstimo hipotecário, que seria substancialmente inferior ao valor de mercado dessa propriedade. Muitos estados, por exemplo, permitem que as companhias de seguros invistam até 5% de seus ativos totais em imóveis, embora limitem os empréstimos hipotecários, em geral, até 75% do valor de mercado do item hipotecado. II. COMPRAR OU ARRENDAR A decisão de comprar ou arrendar depende da resposta dada a duas questões. Quais os custos explícitos e implícitos das duas alternativas? Quais as vantagens secundárias, se houver, que a firma poderá obter em uma operação de arrendamento ou venda-retorno em arrendamento? A. Custos Explícitos Devemos ressaltar, de início, que um arrendamento financeiro representa, de fato, embora não formalmente, o mesmo que a compra do ativo desejado. Ao firmar um contrato a longo prazo, a empresa assume o compromisso de realizar os pagamentos periódicos convencionados, da mesma maneira que procederia em relação a títulos de dívida. Uma comparação dos custos das duas alternativas exige, antes de mais nada, a determinação das despesas relativas à obtenção de capital de terceiros. Estas despesas são: 1) custos de preparação dos vários documentos exigidos para a emissão de títulos; 2) pagamento, se houver, de comissões aos “finders”, aos intermediários entre a empresa e um subscritor; 3) despesas do subscritor ou banco de investimento; 4) deságio, se houver, do valor nominal dos títulos; e 5) por último, mas não menos importante, a taxa efetiva de juros; por exemplo, os juros pagos pela companhia sobre a receita líquida proveniente da venda dos títulos. No caso de uma companhia de financiamento, para arrendamento, os custos explícitos envolvem o pagamento periódico estipulado, que compreende: 1) juros sobre o montante investido pela companhia financeira e 2) amortização do investimento. Esta amortização é um pagamento direto, enquanto sua contrapartida, no caso da obtenção de capital de terceiros, é representada pela depreciação, que não passa de um lançamento contábil, exceto no caso de uma provisão para a constituição de um fundo de amortização, que também, exige transferências periódicas de caixa. A magnitude dos custos é função do tamanho da firma e de seu acesso às fontes de capital a longo prazo. Uma grande sociedade anônima, por exemplo, não encontrará dificuldades em negociar diretamente com uma companhia de seguros, uma instituição educacional, ou uma fundação, tendo em vista a venda privada de títulos de dívida. Ao contrário, uma empresa menor poderá precisar utilizar os serviços de um subscritor ou de um banco de investimento. Do mesmo modo, também é pouco provável que uma grande firma seja solicitada por um banco a manter um saldo mínimo de garantia, para um empréstimo a médio prazo, ao passo que uma empresa menor poderá ser obrigada a aceitar essa condição. Por fim, o simples volume dos recursos necessários a uma empresa de grande porte excede, freqüentemente, os recursos disponíveis a uma companhia de financiamento para arrendamento. B. Custos Implícitos O Certificado de Emissão, que representa o fundamento legal da emissão de títulos de dívida, estabelece condições além das relativas a taxas de juros e resgate da dívida. Essas cláusulas poderão criar restrições à política de dividendos, à compra de novos ativos fixos e outros empréstimos garantidos por esses ativos (ou seja, uma cláusula de aquisição posterior), ou estipular a conversibilidade dos títulos em ações ordinárias. Estas restrições constituem custos implícitos que deverão ser levados em conta pela administração, após analisar os custos explícitos. As empresas de pequeno porte não se encontram, freqüentemente, em condições de escolher entre capital de terceiros e financiamento por arrendamento. Seu tamanho e a natureza de suas operações poderão impedir-lhes o acesso ao mercado de títulos. Ao invés disso, lhes é possível escolher entre a obtenção de capital próprio e o financiamento, através de um contrato de arrendamento. A emissão de novas ações exige, pois, a avaliação do seu efeito sobre os acionistas, no que diz respeito à diluição da propriedade e do controle da firma. C. Vantagens Especiais em Termos de Custo As firmas que operam em contratos de produção, pelo custo mais comissão, com uma entidade governamental ou empresa privada, freqüentemente descobrirão ser um arrendamento financeiro mais vantajoso do que a compra do ativo desejado, mediante recursos obtidos no mercado de capitais. Se a empresa adquirir esse ativo, poderá depreciá lo somente a uma taxa anual durante sua vida útil. Na verdade, poderá utilizar um método de depreciação acelerada, amortizando dois terços do preço de compra, durante metade da vida útil normal do ativo. Esta depreciação anual consiste em um item de custo passível de dedução para fins de pagamento de imposto sobre a renda. Ao recorrer a um arrendamento financeiro, ao invés de comprar o ativo necessário, a firma poderá ajustar o prazo do arrendamento ao período previsto do contrato acima mencionado. Os pagamentos periódicos, realizados em um contrato de arrendamento, poderão ser deduzidos integralmente, como despesa operacional. Admitamos que o ativo em questão apresente uma vida útil de 12 anos, sendo seu preço de compra de $120.000. Se adquiri-lo diretamente, poderá a firma eliminar, como despesa dedutível de imposto (depreciação), aproximadamente $65.000, nos primeiros cinco anos. Suponhamos, ainda, que o custo efetivo do capital de terceiros seja de 8% ao ano. O contrato é firmado por quatro anos, exigindo a companhia de financiamento 16 pagamentos trimestrais de $7.100 cada. Uma tabela dos custos das duas alt ernativas indicaria o seguinte: Se o ativo for comprado: Custo do ativo Depreciação (saldo decrescente) durante quatro anos Valor contábil ao fim de quatro anos Custo do capital de terceiros, a 8% ao ano Se o ativo for arrendado: 16 pagamentos trimestrais de $7. 100 $120.000 $74.100 74.100 $45.900 38 400 $112.500 $113 .600 A primeira vista, pareceria haver pequena vantagem na compra, em termos de custo; aproximadamente $1.100 no período de quatro anos. Entretanto, o problema consiste em saber se a empresa conseguirá recuperar o valor contábil de $45.900 se o contrato não fôr renovado e o ativo tornar-se supérfluo. Nesse momento, a firma terá recuperado apenas $74.100 (mais juros sobre esses fundos), em relação ao resgate da dívida de $120.000. A venda forçada do ativo, no fim de quatro anos, poderá facilmente resultar em um preço bastante inferior ao valor contábil. Esta diferença terá de ser adicionada ao custo de $112.500, para atingir o custo total, no caso da compra do ativo. Por outro lado, a firma proteger-se-á contra tal custo adicional, aceitando as condições da companhia financeira. É. concebível que esta última possa dispor-se a conceder à firma uma opção de renovação, a bem menos de $7.100 por trimes tre. A companhia de financiamento poderá oferecer condições ligeira ou substancialmente inferiores — digamos, pagamentos trimestrais de $6.500, que totalizariam $102.000, ao final do período de quatro anos — por três razões. Em primeiro lugar, achar-se-á, freqüentemente, em condições de obter recursos a uma taxa de juros inferior à conseguida pela empresa, especialmente se tratar de uma firma de pequeno porte. Em segundo lugar, a companhia de financiamento poderá reduzir seus débitos periodicamente, graças aos pagamentos recebidos da firma, ou reinvestir os pagamentos em outros arrendamentos, com retornos superiores aos juros pagos pela companhia de financiamento. Por fim, a companhia de financiamento normalmente encontrar-se-á em melhores condições do que a firma para recuperar o valor contábil integral do ativo. Isto tenderá a ocorrer especialmente quando a companhia de financiamento especializar se neste campo de atividade ou for uma subsidiária do fabricante do equipamento. Por exemplo, as maiores companhias de aluguel de caminhões e automóveis, além de conseguirem adquiri-los com descontos especiais, mantêm suas próprias instalações de manutenção. 1. Obtenção de Ganhos de Capital. A técnica de venda-retorno em arrendamento oferece à empresa a oportunidade de obter lucros em conseqüência da valorização do ativo fixo, sem perder a possibilidade de utilizá-lo. Suponhamos que uma firma possua e ocupe um prédio, pelo qual pagou $1 milhão e cujo valor contábil é de $600.000, descontada a depreciação (baseado no custo histórico). Em conseqüência da inflação, do aumento dos preços de terrenos ou ambos, a propriedade em questão possui um valor de mercado de $1,3 milhões. Mediante sua venda -retorno em arrendamento, a empresa poderá obter $1,3 milhões em caixa, montante que poderá ser utilizado na compra de ativos operacionais, ou para aumento do capital de giro. O lucro de $700.000 (diferença entre o preço de venda e o saldo do valor contábil) está sujeito a um imposto de 25% sobre ganhos de capital. Em conseqüência, o capital próprio da empresa, de acordo com os procedimentos contábeis tradicionais, deverá aumentar de $525.000. Situação semelhante verificar-se-á se uma empresa possuir um ativo totalmente depreciado, em termos contábeis, mas que ainda possa ser utilizado por vários anos. Também neste caso, uma operação de venda-retorno em arrendamento representará uma fonte de recursos adicionais, além de redundar em um acréscimo do patrimônio líquido, no balanço da firma. 2. Redução de Prejuízos Contábeis. É possível que alguns ativos tenham sofrido uma redução de valor superior à depreciação acumulada, indicada no balanço. Um exemplo seria o de um computador ou outro equipamento adquirido pela empresa, anos antes, e que se tivesse tomado bastante inferior aos modelos novos, vendidos a preço igual ao custo original do computador. Outro exemplo seria o de uma redução, superior à depreciação indicada no balanço, do valor de mercado de um prédio possuído e ocupado pela firma, em conseqüência de deterioração da vizinhança. Se a firma estiver planejando utilizar o equipamento ou o prédio por mais alguns anos, o prejuízo não poderá ser anulado por lucros operacionais, a não ser quando o ativo for efetivamente vendido, havendo, então, um prejuízo contábil. A operação de venda-retorno em arrendamento permite determinar imediatamente o prejuízo, e anulá-lo mediante lucros operacionais; i. e., aproximadamente metade do prejuízo poderá ser absorvido pelo imposto sobre os lucros da firma. Se o exercício fiscal corrente for excepcionalmente lucrativo, a administração poderá, então, decidir contabilizar o prejuízo, ao invés de fazê-lo no futuro, quando poderá coincidir com uma taxa normal de lucro operacional, afetando desfavoravelmente a imagem da firma no mercado. Entretanto, para que a venda possa anular os prejuízos, graças aos lucros operacionais obtidos, para fins de pagamento de impostos, deverá ser negociada a um preço de mercado razoável, não podendo o retorno em arrendamento exceder o prazo de 30 anos, incluindo as opções de renovação. Além disso, o acordo de retorno em arrendamento não poderá conter a cláusula de opção de recompra do ativo, pelo vendedor arrendatário, a um determinado preço. Poderá, todavia, conceder ao arrendatário uma opção para readquirir o ativo, ao fim do prazo de arrendamento, e a um preço equivalente a qualquer outra oferta recebida pelo arrendador nessa época. 3. Vantagens em Termos de Apresentação do Balanço. Os recursos obtidos mediante um empréstimo a médio prazo ou a venda de títulos de dívida aparecem, no balanço, como itens do passivo. As obrigações fixas de pagamento periódico de juros e do principal dos empréstimos a médio prazo, ou juros e fundo de amortização, no caso de títulos de dívida afetam a posição creditícia da firma e sua capacidade de obter recursos adicionais, sob a forma de capital de terceiros. Contudo, as obrigações resultantes de um contrato de arrendamento não são, em geral, apresentadas nos demonstrativos financeiros, com exceção, talvez, de notas de rodapé. O investidor comum, que é obrigado a depender exclusivamente de demonstrativos financeiros para tomar decisões de adquirir títulos de dÍvida ou ações da empresa, não encontra -se em condições de determinar o valor exato do título. O mesmo acontece com fornecedores e outros credores a curto prazo, cujas decisões tendem a fundamentar-se, quase integralmente, em demonstrativos financeiros. Ao contrário, os fornecedores de empréstimos a médio prazo, subscritores e bancos de investimento, bem como analistas financeiros, quase sempre exigem informações e dados concernentes a contratos de arrendamento, com prazo superior a 3 anos para ser concluído, quando avaliam uma empresa. Entretanto, existem muitas discrepâncias quanto ao tratamento analítico dispensado aos pagamentos periódicos. A dificuldade encontrada resulta do fato de serem tais pagamentos obrigações fixas semelhantes aos juros pagos sobre títulos de dívida, sendo, portanto, registrados no demonstrativo de lucros e perdas, como parte dos custos operacionais. Entretanto, diferentemente dos títulos de dívida, que são incluídos no balanço como passivos da firma, os arrendamentos não são geralmente identificados como tal, de acordo com as práticas contábeis atualmente em voga. Além disso, os pagamentos estipulados por um contrato de arrendamento refletem-se na rubrica despesas operacionais. Entretanto, para fins de determinação do efeito desses pagamentos sobre o índice de capital de terceiros, “leverage” e cobertura de encargos da firma, é importante que tanto a administração quanto o analista financeiro determinem o impacto de tais pagamentos sobre a empresa. D. Obrigações Decorrentes de Arrendamentos e Cobertura de Dívidas Juros, transferências para fundos de amortização e o resgate final de títulos de dívida representam “encargos” que gravam os rendimentos da empresa, devendo ser eliminados antes de qualquer distribuição de lucros aos acionistas. Na verdade, tais encargos deverão ser suprimidos mesmo que a empresa não obtenha lucros. Basicamente, processo idêntico é aplicável ao tratamento dos pagamentos estipulados em um contrato de arrendamento. Neste caso, porém, é necessário determinar, em primeiro lugar, o valor do ativo envolvido no arrendamento. Este montante deverá ser considerado, então, como passivo imputado, contrabalançado pelo lançamento de um ativo imputado equivalente ao valor atribuído ao item arrendado. Admitamos que uma empresa apresente os passivos indicados na Tab. 19.1. Tabela 19.1 Passivos a longo prazo: Letras hipotecárias a 6%, vencimento em 1980 Capital próprio: 75.000 ações ordinárias, valor ao par $10 Lucros retidos $1.000.000 750.000 450.000 $2.200.000 Informações extraídas do demonstrativo de lucros e perdas: Lucros antes da dedução de juros e impostos Lucros antes da dedução de juros e impostos Menos juros sobre letras hipotecárias $ 260.000 60.000 Lucros depois da dedução de juros Menos impostos (50% de lucros) Lucro líquido $ 200.000 100.000 $ 100.000 Índices calculados: Capital próprio ($1.200.000 / $1.000.000) Cobertura de dívidas ($260.000/$60.000 Utilização de capital de terceiros: (B - 1) (E) (B) = (1,2) (3,33) (1,2) (3,33) 1,2/1E 4,33 B 0,92 Suponhamos, em seguida, que o valor do ativo arrendado seja de $250.000, e que os pagamentos anuais de aluguel totalizem $40.000. A Tab. 19.2 apresenta o balanço e o demonstrativo de lucros e perdas, já ajustados a esses valores. Os valores ajustados, nos demonstrativos financeiros, refletem claramente o grau de redução da cobertura dos compromissos fixos, decorrente dos pagamentos de aluguel. Indicam ainda que a empresa está utilizando capital de terceiros com intensidade maior do que a indicada nos demonstrativos não ajustados. Tal como ocorre com títulos de dívida, a companhia não poderá fugir aos compromissos do contrato de arrendamento, uma vez assinado. Os pagamentos anuais de aluguel deverão ser efetuados, quer o ativo arrendado gere lucros adicionais equivalentes, superiores, ou inferiores a esses pagamentos. Do ponto de vista do planejamento financeiro, a identificaç ão dos pagamentos de aluguel no balanço e no demonstrativo de lucros e perdas oferece várias vantagens. Em primeiro lugar, desempenha importante papel na tomada de uma decisão entre compra e arrendamento. Neste momento, as obrigações decorrentes do arrendamento poderão ser estimadas em relação ao balanço e aos índices mais importantes. Estes itens deverão ter grande importância em futuras negociações de empréstimos a médio prazo e emissões de títulos. A alta administração deverá, portanto, analisar cuidadosamente os efeitos Tabela 19.2 Passivos a longo prazo: Letras hipotecárias a 6% Valor do equipamento arrendado Capital próprio: Ações ordinárias Lucros retidos Informações extraídas do demonstrativo de lucros e perdas: Lucros antes da dedução de juros e impostos Menos juros sobre letras hipotecárias Aluguel Lucros antes da dedução de impostos Impostos Lucro líquido Índices calculados: Capital próprio ($1.200.000 / $1.250.000) Cobertura de dívidas ($300.000/$100.000 Utilização de capital de terceiros: (0,96) (2,00) (1,00) (3,00) $1.000.000 250.000 750.000 450.000 $2.450.000 $ 300.000 a $60.000 40.000 100.000 $ 200.000 100.000 $ 100.000 0,96/1 3/1 0,64 a O aluguel foi somado aos lucros, e depois lançado contra os mesmos, para que lhe fosse dispensado tratamento idêntico ao dos juros sobre letras hipotecárias. prováveis dos pagamentos decorrentes do arrendamento sobre a futura posição creditícia da empresa. Em segundo lugar, se o contrato de arrendamento já tiver sido assinado, os valores e índices ajustados poderão ser levados em conta na determinação do índice de “pay-out”; i.e., na política de dividendos. Geralmente, a prática adotada — na verdade, é uma exigência expressa no contrato de emissão de debêntures — é a retenção de parcela razoável dos lucros líquidos, como reserva contra possíveis quedas de lucros, ou prejuízos, de maneira a permitir o pagamento, pela firma, do aluguel estipulado, sem reduzir seu capital. Além disso, os lucros retidos reduzem, proporcionalmente, a dependência da empresa em relação a fontes externas de recursos. O ajustamento do demonstrativo de lucros e perdas e do balanço permitirá à alta administração visualizar mais claramente o grau de redução do índice de “pay-out”, exigido pelo acréscimo do aluguel a pagar, aos juros de outras dívidas. E. Rigidez do Arrendamento Ativos que pertencem à empresa poderão ser vendidos sempre que, na opinião da administração, essa operação for lucrativa, em virtude da sua valorização, ou se permitir a minimização de prejuízos, caso não seja mais possível utilizá-los proveitosamente em operações da firma. Esta alternativa não existirá no caso de um ativo arrendado. A companhia será obrigada a realizar os pagamentos anuais convencionados, até o encerramento do prazo do arrendamento. Esta rigidez poderá ser reduzida por cláusulas que permitam o subarrendamento. Entretanto, se o subarrendatário não realizar seus pagamentos, o responsável por eles será o arrendatário primitivo. Esta rigidez não existirá se a empresa tiver financiado a compra de um ativo mediante a obtenção de capital de terceiros e não tiver intenção alguma de vendê-lo durante sua vida útil. Ainda disporá de uma alternativa, se tiver emitido títulos de dívida. Poderá consolidar sua estrutura de capital de terceiros, se as taxas de juros se reduzirem durante o prazo de vencimento da dívida. Poderá vender novos títulos à taxa mais baixa, utilizando as receitas para resgatar a dívida inicial. Normalmente, os títulos de dívida a longo prazo possuem uma cláusula permitindo “chamada” para resgate; em outras palavras, após uma data especificada, durante o prazo de vencimento dos títulos, a firma tem o direito de resgatá-los. A prática, cada vez mais comum, do arrendamento e disponibilidade crescente de firmas fornecedoras desse serviço, abriram novos caminhos a empresas que não desejam emitir novos títulos ou aumentar sua dívida a longo prazo. O crescimento contínuo do arrendamento, como alternativa ao financiamento direto, deverá conduzir a modificações das atuais práticas contábeis, visando indicar o encargo implícito, decorrente do arrendamento. RESUMO O arrendamento possibilita a uma empresa utilizar ativos fixos sem adquiri-los. Um arrendamento é um acordo contratual entre o proprietário de um ativo (arrendador) e o usuário (arrendatário), estipulando detalhadamente as obrigações e direitos das duas partes. O administrador financeiro deverá conhecer as cláusulas mais importantes do contrato — prazo, opções de renovação, aluguel, responsabilidade por despesas de seguros e impostos e opções de compra. O financiamento por arrendamento desenvolveu-se rapidamente desde a Segunda Guerra Mundial. As companhias de seguros, os fundos de aposentadoria, bancos e outros investidores institucionais têm utilizado parte de seus recursos para o financiamento de transações seguras de arrendamento. Um novo tipo de instituição, a companhia de financiamento para arrendamento, desenvolveu-se para atuar como intermediário entre o arrendatário em perspectiva e o fornecedor de fundos. Os contratos de arrendamento podem ser divididos em duas categorias: arrendamentos financeiros e arrendamentos operacionais. Um arrendamento financeiro é um acordo em que o arrendatário aceita realizar uma série convencionada de pagamentos periódicos, em um prazo que abrange a maior parte da vida útil do ativo. Um arrendamento operacional normalmente é efetuado durante um período bastante inferior. Os custos e as vantagens auxiliares do arrendamento deverão ser levados em conta pelo administrador financeiro, quando da decisão entre a compra de um ativo e seu arrendamento.