Os rios paraenses: uma breve descrição potamográfica DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v1n2p88-104 Pedro Rocha SILVA ________________________________________________ OS RIOS PARAENSES: UMA BREVE DESCRIÇÃO POTAMOGRÁFICA Pedro Rocha SILVA1 Resumo Este artigo originou-se do desejo de estudar a potamografia do estado do Pará, e mostrar a organização da rede de drenagem dos rios que fazem parte da bacia hidrográfica do rio Amazonas e os demais rios que estão em outras bacias e micro bacias existentes no estado do Pará. As bacias de drenagem não possuem dimensões fixas, podem ser de tamanho pequeno, como rios de uma microbacia até as grandes bacias como os rios da bacia amazônica.No caso dos rios paraenses, possui a maioria desses rios pertencentes à grande Bacia do rio Amazonas com seus 6.112.000 km2,que segundo Cunha (2001 p.235) “ocupa mais da metade do território com divisores topográficos constituídos pelo Planalto das Guianas, Cordilheira dos Andes e Planalto Brasileiro. Administrativamente esse espaço é ocupado pelos estados do Amazonas, Rondônia, Acre, Roraima e parte dos estados do Pará, Mato Grosso e Amapá” No Pará esse espaço está constituído pelo Planalto das Guianas, e Planalto Brasileiro. O rio principal é na realidade o rio Amazonas que em território paraense a extensão do seu curso desde o limite do estado do Amazonas até a sua foz, é de cerca de 1000 km. De acordo com dados da Secretaria de Estado e Meio Ambiente – SEMA, o estado do Pará possui cerca de 20 bacias e micro bacias hidrográfica. Palavras-chave: Potamografia - Rede De Drenagem - Bacias Hidrográficas – Rios Resumen Este artículo se originó en el deseo de estudiar las potamografia el estado de Pará, y ver la estructura de la red de drenaje de los ríos que forman parte de la cuenca del río Amazonas y otros ríos que se encuentran en otras cuencas y micro cuencas existentes en el estado Pará. Las cuencas no tienen dimensiones fijas, puede ser pequeño en tamaño, como los ríos de una cuenca a las grandes cuencas como los ríos de la cuenca amazônica.No caso de los ríos Pará, tiene la mayoría de estos ríos pertenecen a la gran cuenca río Amazonas, con sus 6.112.000 km2, que según Cunha (2001 p.235) "ocupa más de la mitad del territorio con separadores topográficos consistentes en la Guayana Highlands, Andes y la meseta brasileña. Administrativamente este espacio está ocupado por los estados de Amazonas, Rondonia, Acre, Roraima y parte de los estados de Pará, Mato Grosso y Amapá "En Pará este espacio se compone de las montañas de Guayana, y Meseta brasileña. El principal río es en realidad el río Amazonas en el territorio de Pará en la medida de su curso desde la línea de estado de Amazonas hasta su desembocadura, es de unos 1000 kilómetros. De acuerdo con datos de la Secretaría de Estado y del Medio Ambiente - SEMA, el estado de Pará tiene alrededor de 20 micro cuencas y cuencas hidrográficas. Palabras clave: Potamografia - Drenaje de red - Cuencas - Ríos INTRODUÇÃO No estudo das Ciências Geográficas a parte que estuda os rios é chamada de Potamologia, e a que descreve os rios chama-se de Potamografia– queé o objetivo deste artigo com relação aos rios paraenses.A rede de drenagem também denominada rede hidrográfica ou rede fluvial é composta por todos os rios de uma bacia hidrográfica, hierarquicamente interligada. Segundo Rodrigues e Adami (2005, p.148), “é um dos 1 Diácono, Geógrafo, mestre em Ciências Agrárias área de concentração Solos e Nutrição de Plantas, ex-professor do curso de Geografia da UFPA, Engenharia Florestal da UFRA, pesquisador do Grupo Acadêmico Produção do Território e Meio Ambiente na Amazônia (GAPTA/UFPA). E-mail: [email protected] Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 01, n. 02, p. 88-104, jul./dez. 2014. 88 Os rios paraenses: uma breve descrição potamográfica DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v1n2p88-104 Pedro Rocha SILVA ________________________________________________ principais mecanismos de saída (output) da principal matéria em circulação no sistema bacia hidrográfica: a água”. E os rios são os principais componentes das redes de drenagem ou bacias de drenagem. As bacias de drenagem não possuem dimensões fixas, podem ser de tamanho pequeno, como rios de uma microbacia até as grandes bacias como os rios da bacia amazônica.No caso dos rios paraenses, possui a maioria desses rios pertencentes à grande Bacia do rio Amazonas com seus 6.112.000 km2,que segundo Cunha (2001 p.235) “ocupa mais da metade do território com divisores topográficos constituídos pelo Planalto das Guianas, Cordilheira dos Andes e Planalto Brasileiro. Administrativamente esse espaço é ocupado pelos estados do Amazonas, Rondônia, Acre, Roraima e parte dos estados do Pará, Mato Grosso e Amapá” (Figura 1). OS RIOS PARAENSES A Bacia Amazônicapossui características extraordinárias em termos geográficos. “É o maior complexo fluvial do mundo”, comandado pelo grande rio Amazonas, por onde correm 175 milhões de litros de água a cada segundo, formado por um complexo sistema de rios em geral muito tortuosos. Fazem parte deste complexo as bacias dos grandes rios paraenses como: Nhacundá, Trombetas, Curuá, Maicuru, Paru e Jari (margem esquerda); Tapajós e Xingu (margem direita). E outros rios que não são afluentes do grande rio Amazonas, mas contribuem para formar este complexo hidrográfico paraense, como: O complexo de rios do Marajó, Tocantins, Araguaia, Itacaiúnas, Capim, Gurupi, Guamá, Moju, Marapamin, Maracanã e muitos outros tributários que fazem parte das bacias hidrográficas desses rios e que muitas vezes não aparecem nos mapas, mas contribuem com suas potencialidades hídricas, além de influenciar nas condições de vida de milhares de pessoas que vivem nos pequenos lugarejos a beira dos rios. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 01, n. 02, p. 88-104, jul./dez. 2014. 89 Os rios paraenses: uma breve descrição potamográfica DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v1n2p88-104 Pedro Rocha SILVA ________________________________________________ Figura 1 - Bacia Amazônica, do Tocantins e do Atlântico Norte com a divisão administrativa e rede de drenagem principal. 90 Fonte: Geomorfologia do Brasil/ Sandra Baptista da Cunha e Antônio José Teixeira Guerra (2001) O RIO AMAZONAS O rio principal é na realidade o Amazonas que em território paraense a extensão do seu curso desde o limite do estado do Amazonas até a sua foz, é de cerca de 1000 km. Segundo Ab’Saber (apudSOARES, 1977),o rio Amazonas tem um característica estrutural geotectônica em sua calha coletora das águas, um geossinclinal2 produzido em terrenos do Primário e do Secundário, os quais foram, por sua vez, cobertos por espesso manto de sedimentos do Terciário; cavando desde o início, o seu leito na imensa bacia detrítica instalada dentro geossinclinal e suavemente inclinada paraleste, o Amazonasveio a se transformar, no decorrer do Quaternário, em um grande rio consequente-mestre (BRANCO, 1983)3. Que ao chegar a seu trecho final se caracteriza por apresentar um grande número de ilhas, numa extensão de mais de 300 km; como observa Lúcio de Castro Soares (1977), “ali se encontra a Ilha do Marajó – que, possuindo cerca de 50 mil km2, é a maior ilha flúviomarítima do mundo - e outras menores, mas com áreas superiores a mil km2, como ilha 2 Geossinclinal – depressão alongada onde os sedimentos, por efeito da subsidência, acarretam um afundamento progressivo no decorrer dos tempos geológicos, permitindo assim a acumulação de grandes espessuras de materiais (GUERRA, 1972 p.217). 3 Rio consequente – são aqueles cujo curso foi determinado pela declividade da superfície terrestre, em geral coincidindo com a direção da inclinação principal das camadas (CHRISTOFOLETTI, 1980 p.102). Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 01, n. 02, p. 88-104, jul./dez. 2014. Os rios paraenses: uma breve descrição potamográfica DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v1n2p88-104 Pedro Rocha SILVA ________________________________________________ Grande de Gurupá, 4.864 km2; Mexiana, 1534 km2;Caviana, 4.968 km2, todas alojadas dentro da larga reentrância da costa atlântica conhecida por Golfão Amazônico”. Outro minucioso estudo sobre esse interessante sistema potâmico do estuário amazônico, foi feito por Herbert Smith (apud SOARES, 1977, p.147), “o Amazonas entra com quase todos os seus afluentes em comunicação por um ou diversos furos, pelos quais estes afluentes recebem, ao menos durante a cheia do Amazonas, as águas deste rio, acima da verdadeira confluência”. A única diferença reside no fato de aqui não tratar de um só afluente, mas de um estuário formado por grande número de rios maiores ou menores. Seria mesmo preferível falar não de um “rio Pará”,como se faz geralmente, compreendendo sob este nome um trecho mais ou menos extenso do estuário que se estende ao sul de Marajó, mas de um “estuário Pará”, reunindo sob esta denominação toda a série de “baías”, desde a baía de Marajó até a de Portel, senão até a de Caxiuanã”. Já Soares (1977, p.147) fez a seguinte colocação a respeito dessa particularidade hidrográfica do estuário Amazônico. A região dos furos reside nesta dependência de dois sistemas hidrográficos de caráter diferente. Entretanto, os fenômenos provocados pelas marés são os mesmos na maioria dos furos, tanto nas embocaduras setentrionais como nas meridionais. De ambos os lados a água entra com a enchente e sai com a vazante, porque a simples represa das águas do Amazonas provoca, nestes canais laterais, correntezas semelhantes às dos verdadeiros fluxos e refluxos no domínio do estuário do Pará. Os mais extensos rios de planalto da Bacia Amazônica são Xingu e Tapajós, que descem do planalto sul amazônico, pela margem direita do rio Amazonas. O RIO TAPAJÓS Quanto às suas características fisiográficas é formado por dois rios inteiramente de planalto, os rios Juruena e Teles Pires ou São Manuel que tem suas nascentes no estado do Mato Grosso, e se destacam pelo papel que representam no conjunto da hidrografia que nem sempre tomam orientação sul-norte. Os que aparecem com este sentido prolongam-se pela porção setentrional do estado e são representados por elevações de 500-800 metros que se destacam no nível do embasamento do Pré-Cambriano, o qual se inclina na direção da Bacia Amazônica, apresentando altitudes médias de 200-500metros. Como exemplos, temos a serra Formosa (divisor das bacias dos rios Xingu e Teles Pires), serra do Tombador (dos rios Arino e Juruena) e a serra do Norte (dos rios Juruena e Aripuanã). O rio Juruena apresenta algumas características peculiares na sua morfologia, como a presença de ilhas de formação granítica ao longo de seu curso, como também cachoeiras e corredeiras as mais conhecidas são as Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 01, n. 02, p. 88-104, jul./dez. 2014. 91 Os rios paraenses: uma breve descrição potamográfica DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v1n2p88-104 Pedro Rocha SILVA ________________________________________________ cachoeiras de Salto Augusto ou Salto Grande, cuja posição é 8º 53’15’’ de latitude e 58º 15’00’’ de longitude e distam 35 léguas da barra do Juruena, além desta, tem ainda aproximadamente 18 outras cachoeiras, como a Capoeira, Chacorão, Mungubalsinho, Trovão, Mungubal, Acará, Buburé, Apuhyzinho, Furnas, Quatá e outras mais inferiores, portanto trata-se de um rio bastante encachoeirado, outra característica é que ele não está no Estado do Pará e sim no Estado do Amazonas. O rio Teles Pires ou São Manoel é famoso por suas margens serem consideradas auríferas e por ter um percurso no estado do Pará de aproximadamente 128 km como divisor entre o Pará e Mato Grosso até confluência com o rio Juruena que formam o Tapajós. O Tapajós por sua vez percorre 360 km até a foz, próximo do divisor entre os estados do Pará e Amazonas. O rio Tapajós é um rio tipicamente paraense, de águas claras,com uma morfologia característica,apresentado no seu curso superior um leito fluvial normal, que limitado por margens estáveis, atravessa terrenos ondulados de morros do escudo do Brasil Central, constituídos, em sua maioria de granito ou arenito e frequentemente interrompido por imponentes cachoeiras e corredeiras. A carga de fundo que a correnteza transporta acumula-se aqui e acolá sob forma de bancos de areia, emergentes no período das águas baixo e uma vez tomado, com sua elevação crescente, pela vegetação podem constituir ilhas de forma quase oval ou riniformes (SIOLI,1985 p.31). Seus principais afluentes estão na margem direita descendo de montante a jusante são: rio Pacu, rio Crepori, rio Jamanxim (maior micro bacia), rio Itapacurú-Açu, Curi e Cupari. Na margem esquerdario São Benedito, o rio Cururu Açu, o igarapé preto.Outra característica do rio Tapajós é formação de praias de areia clara e límpida, as quais nas enchentes do rio são cobertas pelas águas. Um exemplo é Alter do Chão,em Santarém. O rio Tapajós possui uma extensão aproximada de 785 km da confluência dos rios Juruena e Teles Pires até a foz com o rio Amazonas. Entre as cidades mais importantes ao longo do seu curso estão Santarém, Itaituba, Aveiro e Jacareacanga. O RIO XINGU O rio Xingu, outro afluente do Amazonas pela margem direita, nasce em serra Formosa no estado de Mato Grosso, percorre aproximadamente 1.409,5 km no estado do Pará até sua foz no rio Amazonas. Sua história é marcada por viagens de exploradores como: Barão de Melgaço, ilustre geógrafo do Império; Carlos Von Stein e Othon Clauss de Berlim, Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 01, n. 02, p. 88-104, jul./dez. 2014. 92 Os rios paraenses: uma breve descrição potamográfica DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v1n2p88-104 Pedro Rocha SILVA ________________________________________________ que percorreram toda sua extensão; Domingos S. Ferreira Pena e Miguel F. Lisboa, da marinha brasileira; Adriano H. de Oliveira Tapajós, que explorou o rio em 1872; o príncipe Adalberto da Rússia em 1843, acompanhado pelos condes Oriolla e de Bismark, subiu e desceu desde a foz até Piranhaquara. Segundo Marajó (1992), o mapa levantado por esta expedição é um dos mais minuciosos que conheceu. Muitas outras expedições foram enviadas pelo rio Xingu, principalmente por causa das reservas indígenas que existem ao longo do seu curso como a Reserva Florestal de Gorotire e a Reserva Indígena Açurine, que atraem vários pesquisadores. Como características morfológicas é também um rio que possui várias cachoeiras e corredeiras, com presença de meandros sinuosos, sendo o mais extenso rio de planalto da Bacia Amazônica. Entre as cidades que mais se destacam, estão Altamira, Porto de Moz e São Felix do Xingu. OS RIOS PELA MARGEM ESQUERDA DO RIO AMAZONAS NO TERRITÓRIO PARAENSE Descendo do planalto das Guianas e também apresentando pequenos trechos francamente navegáveis podem ser citados os rios Trombetas, Jari, Paru e Maicuru. Os trechos planiciários dos rios de planalto da Bacia Amazônica têm como limites a chamada “linha das Cachoeiras” que, ao norte e ao sul do vale do Amazonas, une as quedas d’água que frequentemente marcam contacto dos terrenos Terciários com as formações Paleozóicas e Mesozóicas do geossinclinal amazônico (SOARES, 1977 p.132). Como consequência deste processo evolutivo, originam-se os grandes quadros morfo-estruturais do norte do Brasil, dos quais se vão analisar os que se destacam como os grandes divisores da hidrografia na fronteira com as Guianas o relevo decai de oeste para leste com as serras de Acaraí, 1500 metros e Tumucumaque com 850 metros, que dão origem aos tributários da margem esquerda do rio Amazonas. O RIO NHAMUNDÁ OU JAMUNDÁ É o rio limite entre os estados do Amazonas e Pará, que mais interesse desperta, não só pela sua importância como rio, como por ser sua bacia motivo de litígio entre os dois estados. Entre sua bacia e a bacia do rio Trombetas existe uma linha de 447 km litigiosa dos dois estados. Conta o Barão de Marajó, que ele se tornou famoso pela lendária estória da tradição das Icamiabas, as mulheres sem maridos, as amazonas que deram, com ou sem razão o seu nome ao grande rio.Para Marajó (1992), diz a lenda que nas nascentes do Jamundá existe um famoso lago chamado Yaci-Uaruá, consagrado à lua. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 01, n. 02, p. 88-104, jul./dez. 2014. 93 Os rios paraenses: uma breve descrição potamográfica DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v1n2p88-104 Pedro Rocha SILVA ________________________________________________ Era neste lago que em dadas épocas em certas fases da lua se iam banhar asIcamiabas, ou mulheres sem marido. Depois de cumpridas as cerimônias expiatórias, ou antes, propiciatórias e quando a lua iluminava o lago, banhavam-se e recebiam da mãe do muirakitan, as pedras chamadas assim, com as formas que desejavam. Estas pedras eram extremamente rígidas e polidas, e a crença espalhada era que enquanto debaixo da água ficava mole tomando todas as formas, apenas fora dela se tornava rígidas e impossíveis de serem trabalhadas. Aos homens da tribo que anualmente as iam visitar, presenteavam com estas pedras que diziam dotadas de propriedades maravilhosas como um verdadeiro amuleto ou talismã. Segundo Penna(apud MARAJÓ, 1992), este rio atravessa o lago de Faro, outrora aldeia dos índios Yamundá, indo lançar-se no Amazonas por diferente braços, entre estes o Cabury, paraná-mirim que o Amazonas lhe envia. São exemplos de lagos de terra-firme, originados de antigas rias fluviais interiores e orientados pela tectônica: o lago de Faro (ria Nhamundá). O Trombetas, rio tipicamente paraense, nasce entre asserras Acaraí e Tumucumaquea 405 metros de altitude na fronteira com as Guianas e percorre aproximadamente 896 kmaté sua foz com o Amazonas, sendo navegável em aproximadamente 135 milhas. Antigamente os índios o chamavam de Oriximiná, Uruximina ou Uruchimine. Daí a origem do nome da cidade de Oriximináque fica às margens do grande rio. Suas características morfológicas apresentam-se como um rio encachoeiradoocupando em média de 14 a 16 léguas de extensão, geralmente cobertas de floresta, percorrendo um labirinto de ilhas pedregosas de diversas dimensões. O rio Curuá surge nos mapas com a denominação de Curuá, porém, a literatura cita também como Curuá-panema, Curuá-manema e até Surubiú. Para Penna (apudMARAJÓ, 1992), diz que ele observou estes lugares, que percorreu mais de uma vez, que nele se demorou e que os descreveu na sua obra A Região Ocidental da Província do Pará, muito clara e terminantemente afirma “não só que o único rio notável deste município de Óbidos a Monte-Alegre, é o Curuá-panema, mas também que erradamente tem algum enumerado um lago Surubijú, que não existe, mas sim uma ilha com este nome”. Nasce no planalto dissecado do rio Trombetas em condições de intensa atuação dos processos erosivos, resultando uma grande faixa de dissecação em interflúvios com encostas ravinadas e densa drenagem, percorre aproximadamente 814,6 km até sua foz. O município de maior destaque nas margens deste rio é Alenquer. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 01, n. 02, p. 88-104, jul./dez. 2014. 94 Os rios paraenses: uma breve descrição potamográfica DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v1n2p88-104 Pedro Rocha SILVA ________________________________________________ Maicuru como o rio Curuá, nasce na mesma faixa do planalto dissecado do rio Trombetas, percorrendo aproximadamente 697,5 km até a foz no rio Amazonas. Suas características morfológicas apresentam algumas superfícies de aplainamento e inselberg, em relevos residuais isolados e circundados pela superfície de aplainamento conservado e cobertos pela floresta densa. Na Depressão Periférica do Norte do Pará, a superfície de aplainamento conservada predomina em toda área, notando-seapenas a incipiência de entalhamento dos talvegues. A sudeste de Monte Alegre está um domo esvaziado, e em sua parte central, está aplainado sobre rochas básicas, fato que favorece a agricultura da região. O municípiode Monte Alegre é servido pelas águas do rio Maicuru e dista 846 km de Belém por via fluvial. O rio Paru, também chamado de Paru de Oeste, e sua importância na regiãoparece ter sido apreciada pelos antigos. Sua nascente está situada a 560 metros na serra de Tumucumaque na divisa do Brasil com o Suriname. Entre os rios Paru e Trombetas ocorrem cuestas e também superfícies tabulares, às vezes dissecadas, configurando-se em interflúvios tabulares e/ou interflúvios abaulados. Este rio foi bastante explorado por expedições francesas no século passado, não se sabe a origem ou as causas desse interesse. Neste rio foi construído o forte dos Desterros junto á foz em 1638 por ordem de Maciel Parente, e que por surpresa foi tomado pelos franceses em 1690. Crevaux diz que ainda em suas margens vagam as nações índias do Trio, Rocoyennes, Apalai etc. A cidade de Almerim está situada às margens do rio Paru. O rio Jari nasce na serra de Tumucumaque a 656 metros de altitude, tem um percurso até a foz de aproximadamente 885,3 km, e serve de divisa entre o estado do Pará e o estado do Amapá. Caracteriza-se por ser um rio encachoeirado com saltos e corredeiras inviável para a navegação, porém os seus primeiros 250 kmem direção montante são navegáveis. É uma região hoje bastante explorada pelo Projeto Jari,em Monte Dourado. A ÁGUA Todos têm noção do que significa a palavra qualidade. Aquilo que caracteriza uma coisa ou propriedade. Para Branco (1993), o termo “qualidade, quando aplicado à água, refere-se, normalmente, não a um estado de pureza química, mas sim às suas características tal como encontrado na natureza, isto é, de uma solução de vários produtos do ambiente natural”. A água possui várias qualidades intrínsecas, próprias da substância pura “água”: é transparente, líquida às temperaturas e pressões normais etc. Além disso, ela pode apresentar Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 01, n. 02, p. 88-104, jul./dez. 2014. 95 Os rios paraenses: uma breve descrição potamográfica DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v1n2p88-104 Pedro Rocha SILVA ________________________________________________ qualidades variáveis, dependendo do local e das condições onde passam se não forem alteradas pelo homem podem ser sulfurosas, carbonatadas, magnesianas etc., já na sua origem. Quando atravessam os campos ou cidades, recebendo despejos de todos os tipos produzidos pela ação do homem, elas podem ter sua qualidade muito alterada. É interessante notar, que a água pura não existe na natureza. Devido à enorme capacidade que ela possui, de dissolver quase todos os elementos e compostos químicos, que encontra nas fontes, nos rios ou em poços profundos, levando em solução, várias substâncias dissolvidas. Até mesmo as águas da chuva apresentam gases que absorvem da atmosfera, como oxigênio, gás carbônico, nitrogênio etc. É a presença desses gases e também de sais e outros compostos que torna a água apta a sustentar a vida aquática: os peixes e outros seres não podem viver em água pura. Segundo Branco (1993), consideram-se os recursos hídricos sob três aspectos distintos, em função da sua utilidade: como elemento ou componente físico da natureza; como ambiente para a vida: o ambiente aquático; como fator indispensável à manutenção da vida terrestre. Como simples componente físico da natureza, significa dizer que a água, além de manter a umidade atmosférica e a relativa estabilidade do clima na Terra e a beleza cênica de algumas paisagens, constitui, também, elemento dotado de energia potencial, servindo para mover equipamentos mecânicos, e também uma de suas principais funções que foi o desenvolvimento da navegação, como sistema de transporte universal. Como ambiente a vida aquática necessita estar dentro dos padrões de qualidade, devido a maior parte dos seres vivos nela existente necessitarem de oxigênio livre, dissolvido na água, para sua respiração, como peixes, crustáceos e moluscos. Como fator indispensável à manutenção da vida terrestre, este é considerado o mais complexo, abrangendo todas as qualidades que podem ser exigidas nos outros dois. Primeiro, pelo padrão de qualidade da água de abastecimento das comunidades humanas o mais exigente de todos. Requer água potável, que significa “que se pode beber”, e para ser ingerida é essencial que a água não contenha elementos nocivos à saúde. Mas não é só isso. Para ser bebida pelo ser humano e utilizada no preparo dos seus alimentos e na sua higiene corporal, torna-se necessário que a água atenda a certos requisitos estéticos, isto é, que não possua sabor, odor ou aparência desagradáveis. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 01, n. 02, p. 88-104, jul./dez. 2014. 96 Os rios paraenses: uma breve descrição potamográfica DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v1n2p88-104 Pedro Rocha SILVA ________________________________________________ Daí ser o padrão de qualidade da água de abastecimento das comunidades humanas o mais exigente de todos. Quanto à água doce, o documento divulgado pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e cultura (UNESCO), durante a Rio-92, afirma que ela “será, nos próximos 15 ou 20 anos o problema ambiental e político mais decisivo que a humanidade enfrentará”(Ecologia e Desenvolvimento, nº29). Em segundo lugar, o mau uso da água vem provocando sérios problemas nas grandes cidades brasileiras. De acordo comlevantamentos realizados em 1986, todos os rios que atravessam comunidades com mais de 10 mil habitantes são impróprios para o banho. Oestado do Pará, apesar de possuir uma rede de drenagem privilegiada com grandes rios e inúmeros igarapés, já está comsérios problemas nos rios que estão próximos às cidades, em virtude do mau uso por parte da população. O exemplo está próximo de Belém, sua capital, como o rio Guamá, baía do Guajará;o rio Benfica no município de Benevides;o rio Caraparu, no município de Santa Izabel;o rio Apeú, no município de Castanhal etc. Mas, ainda existem alguns que precisam ser preservados e que a população faz uso para lazer e banho como é o caso dos rios Marapamin e Peixe-Boi e outros mais distantes das cidades que oferecem banho saudável. A DEGRADAÇÃO Os pesquisadores de diversos ramos do conhecimento têm estudado a degradação ambiental sob o ponto de vista da sua especialização. Alguns, no entanto, chamam atenção para o fato de que a degradação é, por definição, um problema social. Outra relação que se pode fazer entre a degradação e a sociedade referem-se às situações extremas. Por exemplo, secas prolongadas por motivo de desmatamentos, redução de mananciais, erosão, assoreamento rios etc. A degradação dos rios pode ter uma série de causas. No entanto, é comum colocar-se a responsabilidade no crescimento populacional e, na consequente pressão que esse crescimento proporciona sobre o meio físico. Essa é, talvez, uma posição simplista de que áreas com forte concentração populacional estejam, necessariamente, sujeitas à degradação. É claro que essa pode ser uma causa, mas não a única, nem a principal. O manejo inadequado dos recursos naturais, tanto em áreas urbanas como rurais, tem sido a principal causa da degradação dos rios. Como consequência tem assistido toda uma gama de impactos, como: desmatamentos, agricultura, movimentos de terra (terraplanagem), Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 01, n. 02, p. 88-104, jul./dez. 2014. 97 Os rios paraenses: uma breve descrição potamográfica DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v1n2p88-104 Pedro Rocha SILVA ________________________________________________ mineração (trazendo à superfície componentes químicos antes inexistentes), indústria, urbanização,inundações etc., que constituem fatores determinantes da qualidade resultante das águas que irão convergir ao receptor final. O rio reflete, pois, fielmente, o uso que é feito dos solos da bacia correspondente. Segundo Branco (1993), muitas dessas aplicações contribuem para a deterioração da qualidade: esgotos das cidades, resíduos industriais, depósitos de lixo, substâncias químicas utilizadas na agricultura ou originadas da mineração etc. O desmatamento colabora decisivamente para o transporte dos resíduos da superfície para os rios, pois a vegetação constitui fator fundamental à infiltração da água no solo. Consequentemente, as medidas preventivas dirigidas à proteção da qualidade das águas deverão ser, antes de tudo, medidas disciplinadoras e educativas do uso do solo, ou seja, medidas que estabeleçam: exigências com relação à manutenção de cobertura vegetal mínima que atenue os efeitos da erosão e transportes de substâncias depositadas à superfície; limites à densidade de ocupação, isto é, ao número de habitantes por área da bacia, uma vez que a quantidade de lixo e esgotos produzida deve ser proporcional ao número de habitantes, e obrigatoriedade do tratamento de esgotos e lixo; Regulamentação às condições de extração e beneficiamento de minério; Regulamentação da atividade agrícola, com restrições à aplicação de fertilizantes e agrotóxicos. Do ponto de vista legal, os rios são classificados de acordo com o nível de qualidade que deve ser mantido, em função dos usos previstos para suas águas. Essas classes são estabelecidas pela Secretaria do Meio Ambiente, do governo federal, por intermédio do seu órgão técnico, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). BACIAS INDEPENDENTES Entre as bacias independentes estão: Bacia do rio Tocantins; Bacias do rios Capim, Guamá, Acará e Moju; Bacias dos rios Caeté e Gurupi. BACIA DO TOCANTINS A hidrografia, que segundo André Guilcher (apud INNOCÊNCIO, 1977), diz que “o resultado global e sutil das condições apresentadas na região que ela drena”, apresenta, deste Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 01, n. 02, p. 88-104, jul./dez. 2014. 98 Os rios paraenses: uma breve descrição potamográfica DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v1n2p88-104 Pedro Rocha SILVA ________________________________________________ modo, um comportamento que reflete as influências de um conjunto de condições que inserem numa área sobre a qualela também atua. Entre os referidos condicionantes, destacam-se o relevo, a natureza das rochas e dos solos e a vegetação que figuram entre os fatores de superfície, e cujas influências juntam-se a dos fatores externos, quais sejam o climae a intervenção humana. A influência do relevo sobre a hidrografia do Centro-Oeste, como já nos referimos anteriormente, prende-se estreitamente ao movimento epirogenético positivo que se processou, de maneira gradativa, desde o Paleozóico, de modo a afetar profundamente o escudo brasileiro, que acompanhado de uma série de perturbações, deixaram patente a sua influência na hidrografia. No estado de Goiás, este aspecto aparece nitidamente através do prolongamento do Maciço Goiano até a sua porção setentrional, constituindo-se no divisor de águas do Tocantins e do Araguaia. Perdendo altitude à medida que se prolonga para o norte, ele se apresenta entre 500 e 700 metros nos níveis interfluviais mais elevados e 200 a 500 metros no médio-baixo Tocantins e na área divisória Tocantins/Araguaia, no município de São João do Araguaia. A bacia Tocantina é uma das mais extensas do sistema hidrográfico brasileiro, onde se vê representada por uma área de 812.694 km2, dos quais 608.246 km2, localizados na região Centro-Oeste, o restante 204.448 km2, na região Norte. O rio Tocantins nasce da junção dos rios Maranhão e Paraná, no estado de Goiás. Desta confluência até Belém desenvolve-se o rio por cerca de 1.710 km de extensão. Todavia, como o rio Maranhão é considerado como seu prolongamento natural, aquela extensão vê-se acrescida para 2.400 km, sendo que no Pará ele percorre aproximadamente 503,3 km desde sua confluência com o Araguaia. Assim sendo, considera-se que o rio Tocantins tem suas nascentes na serra do Paranã, numa altitude de 1.100 metros aproximadamente, a cerca de 60 km ao norte de Brasília. O rio Tocantins ao juntar-se com o rio Araguaia, entra no Pará passando por várias cidades como: São João do Araguaia, Marabá, Itupiranga, Tucuruí, Baião e Cametá. São cidades com mais de 20.000 habitantes, portanto, sujeitas a poluir um rio como o Tocantins. Outro fato importante neste rio é a localização do lago da represa de Tucuruí e a própria hidrelétrica de Tucuruí que serve com energia a um enorme contingente nas regiões Norte e Nordeste. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 01, n. 02, p. 88-104, jul./dez. 2014. 99 Os rios paraenses: uma breve descrição potamográfica DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v1n2p88-104 Pedro Rocha SILVA ________________________________________________ O rio Araguaia, principal afluente do Tocantins, é considerado por muitos como sendo de mesma importância no conjunto geral da bacia. De fato ele se notabiliza, ao lado do rio principal, tanto suas características hidrológicas como por seu papel no processo de ocupação do território. Suas nascentes situam-se na serra do Caiapó, na divisa de Goiás e Mato Grosso, a cerca de 850 metros de altitude. Apresenta uma extensão de 2.115 km desenvolvendo a maior parte de seu percurso paralelamente ao rio Tocantins e desembocajunto à localidade de São João do Araguaia no extremo setentrional goiano, divisa com o Pará, eserve de limite entre os estados do Pará, Maranhão e Goiás, percorrendo uma faixa de 665,8 km. BACIAS DO CAPIM, GUAMÁ, ACARÁ E MOJU. Num resumo de interesse hidrográfico: um dos pré-requisitos básicos a considerar diz respeito às informações sobre bacias hidrográficas do Capim e Guamá, e as mudanças havidas no decorrer do tempo. Como foi o caso da revisão na literatura geográfica e histórica, feito por Silva(1989), que permitiu a descoberta do nome original do rio que banha Belém pela sua parte meridional. Segundo Oliveira e Gomes (1926 apud SILVA, 1989), no trabalho intitulado “Reconhecimento Geológico nos rios Guamá e Capim em 1922”, faz menção ao rio Guajará, que banha Belém. Já Pinto (1930 apud SILVA, 1989) diz que o rio Guajará é formado pela reunião dos dois grandes rios, o Capim e Guamá. Ele lança suas águas na baía do mesmo nome, após banhar a parte da cidade de Belém. Relata ainda que o rio Guajará foi um dos primeiros que receberam as incursões dos colonos portugueses que, depois da fundação de Belém, vieram instalar-se na nova capitania, não só por este rio lançar suas águas junto à cidade, como pela abundância e riqueza em madeira de lei, proveniente das terras por ele regadas. O historiador Ernesto Cruz (1958) diz, entretanto, que: apesar de ter o rio Guamáum curso muito menor que o rio Capim, quando ambas as águas se misturam e se lançam no Guajará, a cerca de uma milha distante de Belém, o Guamá absorve a influência do Capim e passa a dar sua própria denominação ao conjunto. Apesar das afirmações feitas há tantos anos por estas autoridades, respectivamente na geologia e na geografia do Pará, mapas antigoscomprovam, mas, um desatencioso cartógrafo e/ou desenhistamodificou o nome original do rio, colocando o nome de Guamá ao Guajará. E foi comprovado também por meio de entrevistas a várias pessoas antigas que ainda moram as Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 01, n. 02, p. 88-104, jul./dez. 2014. 100 Os rios paraenses: uma breve descrição potamográfica DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v1n2p88-104 Pedro Rocha SILVA ________________________________________________ margens do rio, daí o nome da Baia do Guajará. Portanto, precisamos retomar as origens do rio Guajará, para caracterizar melhor as bacias destes dois rios, e nada melhor do que por meio do órgão principal do Governo do Estado do Pará que é antiga SECTAM, hoje denominada de SEMA. Um fato marcante da hidrografia das bacias Capim, Guamá, Acará e Moju são os seus aspectos fisiográficos, aonde seus terrenos vão desde o Pré-Cambriano, passando pelo Cretáceo Inferior, Terciário e Quaternário, esses diferentes tipos de rochas são responsáveis pela geomorfologia da região que é comandada pelo Planalto Setentrional do Pará-Maranhão e pelo Planalto Rebaixado da Amazônia (da Zona Bragantina), dando um conjunto de relevos tabulares rebaixado, fortemente dissecados na formação sedimentar do Grupo Barreiras, com rebordos erosivos e que se inclinam para o Norte e para Nordeste pelo entalhamento dos vales do rio Capim e seus afluentes Tal topografia, que toma direção de Norte para Sul e que ora se torna mais acidentada, ora mais suave, foi caracterizada por Ab’Saber (1986), como área de sucessivas lombas – até atingir a planalto sedimentar regional com o reverso da escarpa estrutural da serra do Gurupi Segundo Silva (1989), o “rio Guamá, nasce de uma ramificação dos contrafortes da serra do Gurupi, à altura do paralelo 2º 46’00” de latitude sul, a uma altura de 100 metros, no morro das Fazendas, na parte sul do município de Capitão Poço. As principais nascentes vêm da junção entre os igarapés Água Branca, Água Azul e Louro. Seus principais afluentes são os igarapés Jacumim, Mamorana, Jacaiacá e os rios Sujo e Irituia. Ainda Silva (1989), ao estudar a bacia do rio Capim, cita que seu curso total é de 967 km e 1.500 metros de desembocadura não possui nascente própria, ele surge da confluência de dois grandes rios que são o Ararandeua e o Surubiju a noroeste da serra do Gurupi, a 103 metros de altura. Distante do oceano, mas, sendo ainda influenciado pela amplitude das marés que invade rio Guajará adentro, na confluência dos rios Capim e Guamá, em frente à cidade de São Domingos do Capim, ocorre o fenômeno curioso e espetacular da pororoca, que descrita por moradores de São Domingos, geralmente ocorre no mês de março, durante a maior amplitude e velocidade das marés equinociais, ou preamares de sizígias. Quem primeiro observou e descreveu a confluência dos rios Capim e Guamá, foi o naturalista Von Martius, em 1820. Soares (1977, p.154) assim o descreve: A pororoca, devia em consequência da periodicidade regular no fluxo e refluxo começar depois do meio- dia, pois a lua naquele dia (28 de maio de 1820) tinha de passar pelo meridiano um minuto antes da meia-noite; não deixei, pois, um instante um morro baixo, fronteiro ao rio, do qual poderia vê-la. Trinta minutos depois de uma hora, ouvi um rugido violento, igual ao estrépito de grande cachoeira; dirigi os olhos pelo rio abaixo, e passado um quarto de hora apareceu uma onda de uns Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 01, n. 02, p. 88-104, jul./dez. 2014. 101 Os rios paraenses: uma breve descrição potamográfica DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v1n2p88-104 Pedro Rocha SILVA ________________________________________________ quinze pés (aproximadamente 4,5 metros) de altura, ocupando, qual muralha, toda a largura do rio, que com terrível estrépito avançava para cima com grande rapidez, sendo suas águas que se precipitavam na crista em torvelinho substituídas sempre por outras que vinham da enchente de trás. Em alguns lugares, contra a praia, mergulhava a água na largura de uma a duas toesas(antiga medida de seis pés, 1,828 cm); eleva-se, porém, de novo rio acima, onde a onda, reunida prosseguia sem descanso. Enquanto, pasmo, eu assistia a esta insurreição das águas, mergulhou por duas vezes toda a massa aquosa, abaixo da união do Capim com o Guamá, ao mesmo tempo que ondas largas e superficiais e pequenos turbilhões ocupavam toda a superfície do rio. Apenas se apagara o estrondo dessa primeira corrida, empinou-se de novo a água, subiu mugindo com violência, e continuou, qual muralha de águaviva, sacudindo as praias trêmulas até os alicerces, coberta de uma crista de espuma, quase tão alta como viera, e dividida em dois galhos meteu-se pelos dois rios, onde em breve perdi-a de vista. Todo o fenômeno fora obra de meia hora apenas, as águas assanhadas que, entretanto, bem como as ondas da pororoca, não pareciam muito turvas, de lama, apareciam agora nas condições da mais alta cheia; gradualmente foram sossegando, e depois de prazo igualmente curto ao começar o refluxo começam a baixar visivelmente. A pororoca deveria ser explorada turisticamente pelos órgãos responsáveis no governo do estado, por tratar-se de um fenômeno anual na região dos rios Capim e Guamá. Os rios Acará e Moju, pertencentes a uma região de características pediplanada por dissecação fluvial, apresentam grandes áreas com vales pouco encaixados, dando relevos definidos como colina de topo aplainado. O rio Moju é o mais extenso, com aproximadamente 594.9 km, suas nascentes situamse próximo a represa da hidrelétrica de Tucuruí, sendo o igarapé Repartimento seu primeiro tributário. O Moju tem o seu curso orientado em direção sul-norte até receber o rio Guajará e juntos formar a baía do Guajará passando por Belém. Ao longo de sua extensão tem um fato que chama atenção que são as cachoeiras: Mucura, Bacurizinho, Marés e Tracambé. É um rio que apesar de passar por várias cidades dos municípios ainda se apresenta em condições de banho. O Acará possui uma bacia bem menor do que a do rio Moju, mas com suas mesmas características morfológicas, apesar de apresentar traços em comum na região, os terrenos são mais sedimentares e por isso, seu perfil longitudinal apresenta-se com vários meandros, apesar disso ele é um rio navegável.Nasce da junção do rio Açuaçu e do igarapé Papurá, possui aproximadamente 440 km de curso, até próximo de Belém quando se junta ao rio Moju. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 01, n. 02, p. 88-104, jul./dez. 2014. 102 Os rios paraenses: uma breve descrição potamográfica DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v1n2p88-104 Pedro Rocha SILVA ________________________________________________ BACIAS DOS RIOS CAETÉ E GURUPI Nestas duas bacias pouco se têm escrito, porém, sabemos que o rio Caeté é rio que passa na cidade de Bragança e que o rio Gurupi separa o estado do Pará do estado do Maranhão, apartir do município de Açailândia. Em geral, observa-se que os arqueamentos que afetam o escudo cristalino no Nordeste não atingem a magnitude daqueles do Sudeste, responsáveispelas escarpas monumentais voltadas para o mar. A área do rio Gurupi, é representado pela Série GeológicaNúcleo Gurupi que data o Proterozóico. O rio Caeté nasce na localidade de Santo Antonio do Cumaru no município de Bonito, corre em direção oeste-leste até a localidade de Monte Negro, daí segue sentido sul-norte até o oceano Atlântico. O rio Gurupi tem sua nascente na serra do mesmo nome, na divisa do Maranhão com o Pará, a cerca de 300 metros de altitude. Apresenta a extensão aproximada de 736,8 km, desenvolvendo o seu percurso no sentido sul-norte no qual desembocano oceano Atlântico. OUTROS PEQUENOS RIOS Centenas de outros rios menores estão aí servindo de tributários aos grandes rios, e formando suas bacias, sub-bacias e micro bacias. No estado do Pará, com seus 1.248.042 km2de extensão, e um sistema hídrico gigantesco, sempre haverá um pequeno rio ou um igarapé por perto de suas cidadese/ou lugarejos para se tomar um banho. Nos igarapés amazônicos encontram-se também as diferenças dos grandes rios, ou seja: de águas claras, águas brancas e águas pretas. Os de água branca estão relacionados às condições edáficas da região, pois o material em suspensão geralmente é constituído da argila montmorilonita, material argiloso que ocorre nos solos da Amazônia. Os de água clara são os típicos de áreas cobertas pela floresta de terra firme e latossolos amarelos. Os de água preta, geralmente ocorrem em áreas provenientes de solos podzólicos ou podzois. Antigamente, se admitia que a cor das águas pretas, estavam em função dos produtos das matas inundáveis (igapós), que justamente na região do alto rio Negro (AM) cobrem grandes áreas, sabemos atualmente estar a formação de água clara e água preta correlacionada respectivamente a solos diferentes. Entre esses rios e igarapés, podemos citar alguns próximos de Belém, que merecem a maior atenção, por já estarem em processo de contaminação por agentes chamados de compostos orgânicos sintéticos. Muitos dos compostos orgânicos sintetizados industrialmente Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 01, n. 02, p. 88-104, jul./dez. 2014. 103 Os rios paraenses: uma breve descrição potamográfica DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v1n2p88-104 Pedro Rocha SILVA ________________________________________________ não são biodegradáveis, isto é, não servem como alimento a nenhum tipo de ser vivo (BRANCO, 1983). Entre esses rios temos: os rios Maguari, Benfica, Santo Antonio, Apeú, Maracanã, Marapanim, Peixe-Boi etc., que servem muitas vezes de balneários no período de férias escolares. Como estes, muitos outros estão na mesma situação por este Pará afora, e precisam ser monitorados para se verificar sua água, se estar em condições de balneabilidade. SUGESTÕES DE MEDIDAS MITIGADORAS 1- Para evitar futuros impactos ambientais, sugerimos adoção de um programa efetivo e permanente de educação ambiental em todos os níveis; 2- Sugerimos o saneamento nas áreas ocupadas por bares e a utilização de equipamentos de controle dos agentes poluidores, no caso de indústrias, transportes coletivos, áreas urbanizadas, com objetivo de minimizar os impactos ambientais; 3- Para os impactos causados em áreas degradadas, expostas aos processos erosivos, sugerimos a reposição da vegetação por meio de programas comunitários; 4- Para a preservação dos recursos hídricos, se faz necessário cumprir a legislação em vigor, que protege as nascentes dos mananciais e as matas ciliares protetoras dos leitos dos rios e igarapés e adotar técnicas conservacionistas de manejo adequado do uso de solo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AB’SABER, A. N. Geomorforlogia da região. In: ALMEIDA JR., J.Carajás: desafio político, ecologia e desenvolvimento. Brasília: Brasiliense, 1986. p. 88-124. BRANCO, S. M.Água: origem, uso e preservação. São Paulo: Moderna, 1993. p. 18-25. (Coleção Polêmica) ______.Poluição: a morte dos nossos rios. São Paulo: ASCETESB, 1983. p. 27. CRUZ, E.H. da.Colonização do Pará. Belém: INPA, 1985. p.140 INNOCÊNCIO, N.R.Geografia do Brasil: hidrografia - região Centro-Oeste. Rio de Janeiro: FIBGE, 1977. p. 85-112. v. 4 MARAJÓ, J. C. da G. A. Barão de.As regiões amazônicas: estudo chorográphico dos estados do Gram Pará e Amazonas. Belém: SECULT, 1992. 404 p. (Lendo o Pará). SILVA, P.R. Caracterização e uso do solo das bacias dos rios Capim e Guamá, PA.1989. 131f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, Belém, 1989. SIOLI, H.Amazônia: fundamentos da ecologia da maior região de florestas tropicais.Petrópolis: Vozes, 1985. 72 p. SOARES, L. de C. Geografia do Brasil: hidrografia – Região Norte. Rio de Janeiro: FIBGE, 1977. p. 95-166, v. 1.0 Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 01, n. 02, p. 88-104, jul./dez. 2014. 104