Artigo Completo

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Full Dent. Sci. 2013; 4(15):423-427.
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Utilização de implante curto em associação com implante fixado no osso
pterigoideo como alternativa para enxertos de seio maxilar - relato de caso
Using of the short implant in association with implant fixed in the bone pterygoid with
alternative to graft of the sinus maxillary - case report
Thiers Hendel Feitosa de Sales1
Theyanderson Tales Feitosa de Sales2
Amanda Gomes Amaral Almeida3
Resumo
Uma das grandes descobertas modernas em Odontologia foi a osseointegração proposta por Branemark no início da década de 80, entretanto, muitas reabilitações exigem
uma etapa prévia de reconstrução dos maxilares, sendo esta, com uma grande morbidade
e tempo de espera elevado culminando, em alguns casos, com a desistência por parte do
paciente, sem falar dos riscos topográficos e biológicos que cada reconstrução traz em si.
O presente artigo tem como objetivo mostrar através de um caso uma alternativa cirúrgica
e protética utilizando um implante curto de 5 mm de comprimento na região de primeiro
pré-molar (início da fossa canina, limite anterolateral do seio maxilar) e outro implante de 15
mm, inserido na lâmina lateral do processo pterigoideo da osso esfenoide, onde após o período de osseointegração foi reabilitado com um prótese metaloplástica, devolvendo, desta
forma, funcionalidade e estética aceitável e satisfatória ao paciente.
Descritores: Implantes dentários, reabilitação bucal.
Abstract
One of the great discoveries in modern Dentistry was proposed by Branemark osseointegration at the beginning of the 80s. However, many rehabilitations require a step anticipated
reconstruction of the jaws, and this, with a high morbidity and high waiting time culminating
in some case with the withdrawal by the patient pair, speechless risk of topographical and
biological reconstruction that each brings. This article aims to show through a clinical case
an alternative surgical and prosthetic implant using a short length of 5 mm in the region first
premolar (start the canine fossa limit antero-lateral maxillary sinus) and another 15 mm implant, inserted into the lateral lamina of the pterygoid process of the sphenoid bone, where
after a period of osseointegration was rehabilitated with a prosthesis metaloplastic, thus
returning functionality and aesthetics acceptable to the patient.
Descriptors: Dental implants, mouth rehabilitation.
Msd em Implantodontia, Uniara - Araraquara;
Cirurgião Dentista - Cesmac - AL.
3
Graduanda em Odontologia - Cesmac - Al.
1
2
Endereço do autor: [email protected]
Recebido para publicação: 04/12/2012
Aprovado para publicação: 18/03/2013
Relato de caso / Case report
Full Dent. Sci. 2013; 4(15):423-427.
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Relato de caso / Case report
Introdução e revisão de literatura
Com o advento clínico da Implantodontia, o número
de pacientes vem crescendo cada vez mais nos consultórios odontológicos com o intuito de reabilitar função
e estéticas outrora perdidas. Entretanto, muitas vezes o
profissional depara-se com atrofias maxilares severas,
bem como invasão do seio maxilar em direção ao rebordo alveolar remanescente, sendo um entrave cirúrgico e
reabilitador.
Visando resolver tal problema, na década de 80 autores3 propuseram a utilização de enxerto autógeno de
crista ilíaca no seio maxilar, a partir daí, várias técnicas
e biomaterias foram proposto na comunidade científica
para resolução de tais condições clínicas. Com o sucesso
da técnica bem difundida, começaram a surgir complicações inerentes a anatomia topográfica da região, tais
como perfuração da membrana sinusal, obturação do
óstio maxilar, comunicações buco-sinusal², sem falar da
comunicação com o seio cavernoso, tendo em vista que
as veias do seio maxilar drenam para o seio pterigoideo,
que através da veia emissária esfenoidal tem uma comunicação com seu cavernoso7, podendo gerar tromboflebites
comunicantes na presença de infecções. Outras comunicações incluem cavidade nasal, cavidade orbitária, espaço
pterigomandibular, espaço temporal e espaço bucal5.
Clinicamente, outro inconveniente diz respeito à
morbidade, aumento de custo do tratamento reabilitador e o prazo de tratamento alongado em aproximadamente um ano. Tuslane8 (1989) propôs a fixação
de implantes inclinados na região pterigomaxilar com
o intuito de reabilitar pacientes sem a necessidade de
enxerto ósseo para elevação de seio maxilar, o mesmo
avaliou 66 implantes colocados e 46 pacientes na região
pterigomaxilar que foram acompanhados no período de
0 a 7 anos, onde obteve um sucesso de 92%.
Ainda segundo Tuslane8 (1989), a utilização de implantes com o comprimento maior ou igual a 13 mm
no maciço pterigoide tem excelente previsibilidade, pois
esta região apresenta cortical óssea densa, suficiente
para instalação de implantes. Venturelli10 (1996) após
analisar 42 implantes pterigoideos obteve 98% de sucesso. Fernandez4 (1997) propôs a utilização de osteótomos devido a condensação dos fragmentos ósseos durante a instrumentação, o que melhoraria a estabilidade
primária dos implante. O mesmo autor teve um índice de
sucesso de 94%.
Alternativa interessante é a utilização de implantes
curtos com intuito de fugir das reconstruções ósseas em
seio maxilar. Embora implantes curtos tenham apresentado grande índice de insucesso no passado1, estudos
recentes têm mostrado que com a evolução das tecnologias em Implantodontia, como tratamento de superfície,
desenho do implante, técnicas cirúrgicas diferenciadas
e novas técnicas de reabilitação protéticas, os implantes
curtos vêm obtendo sucesso comparado aos implantes
longos6. Valores de 95% de sucesso foram encontrados
e descritos por Tawil9 (2003) que dão credibilidade ao uso
de implantes curtos em áreas de severa reabsorção óssea.
Proposição
O presente trabalho tem como escopo maior reportar um caso onde foi utilizada associação de implante
curto com implante longo fixado no osso pterigoideo e
posterior conclusão reabilitadora protética do caso, bem
como a pormenorização dos eventos clínicos cirúrgicos.
Relato de caso
A terapia reabilitadora com implantes foi proposta
ao paciente S.R., 50 anos, gênero masculino, melanoderma, que procurou o atendimento da clínica de Odontologia SEMEODONTO (clínica privada), no bairro do
Poço, na capital alagoana.
No momento inicial da consulta, foi realizada a anamnese, onde foi contatada que o paciente se enquadrava no padrão ASA I. O exame intraoral constatou a
ausência dos elementos 14, 15, 16 e 17, motivo pelo
qual o paciente procurou o atendimento com o intuito
de repô-los e foi constatado que o paciente necessitaria
de Ortodontia corretiva, a qual foi negada pelo paciente.
No momento inicial da consulta também foi solicitada
uma radiografia panorâmica para verificar altura óssea,
pois a largura pode ser constatada no exame intraoral e
inspeção de sondagem. A radiografia foi realizada em
um centro de radiologia privada (CIROM). Após análise radiográfica, observou-se a pneumatização do seio
maxilar (Figura 1) e foi proposto ao paciente a elevação
do mesmo, que após receber as informações acerca do
procedimento de enxertia o recusou, sendo então proposto a utilização de um implante curto na região do
elemento 14 e outro implante na região do elemento 17
com reposição de três elementos protéticos em acrílico
na futura prótese (14, 15 e 16). Após a concordância do
paciente, foi solicitado hemograma completo, glicemia
em jejum, coagulograma completo e moldagem para
confecção do guia cirúrgico (Figura 2).
Após análise dos exames, o paciente retornou à
clínica onde foi prescrito dexametasona de 4mg 1 hora
antes do procedimento, amoxilina 500mg 8/8horas durante 7 dias, começando 1 dia antes da cirurgia. Após
sete dias foi realizada a cirurgia onde foi colocado um
implante da empresa SIN de 5 mm de comprimento por
5 mm de largura com expansão do seio maxilar (Técnica
de Summers) na região do elemento ausente 14 (limite
anterolateral do seio maxilar) e um implante da mesma
empresa de 15 mm de comprimento por 4 mm de largura que foi inserido na região do osso pterigoide, com
remoção de pontos 15 após o ato cirúrgico.
Quatro meses depois da cirurgia foi realizada uma
radiografia panorâmica do paciente (Figura 3) para avaliação e registro de documentação. Com a radiografia
em mãos foi realizado a reabertura (Figura 4). Sete dias
após a reabertura, foi realizada a moldagem (Figura 5).
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Posteriormente, os modelos foram montados no articulado semiajustável para confecção da infraestrutura
usando duas UCLAS (SIN Implantes) com cinta de titânio
calcináveis, ambas para plataforma regular. Todo este
conjunto foi mandado ao laboratório de prótese e, então, a infraestrutura foi confeccionada (Figura 6) após
ser aprovada e radiografada (Figuras 7 e 8). Observou-se que a mesma se apresentava com passividade e boa
adaptação. O conjunto ASA, modelos e infraestrutura
foram levados ao laboratório para fazer acrilização.
Cinco dias após a prova da infraestrutura, a peça estava pronta para instalação (Figura 9). A mesma foi instalada com sucesso e procederam aos ajustes oclusais
(Figura 10), tais como contatos na fossa central do dentes
da prótese ou perto delas (forças axiais paralelas ao longo
do eixo do dente), cúspides com pouco ou nenhum plano
inclinado (Figura 11) para minorar a incidência de forças
não axiais, dentes da prótese sem contatos horizontais.
Após este ajuste o trabalho foi finalizado com satisfação e
aprovação do paciente (Figura 12).
Figura 1 - Panorâmica. Nota-se a pneumatização do seio maxilar.
Figura 2 - Guia cirúrgico.
Figura 3 - Panorâmica realizada 4 meses após a cirurgia.
Figura 4 - Reabertura 4 meses após a cirurgia.
Figura 5 - Moldagem.
Figura 6 - Articulador semiajustável com infraestrutura.
Sales THF, Sales TTF, Almeida AGA.
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Figura 7 - Prova da infraestrutura.
Figura 8 - Radiografia periapical, verificando a adaptação.
Figura 9 - Prótese acrilizada.
Figura 10 - Instalação da prótese.
Figura 11 - Ajuste oclusal. Nota-se retificação das cúspides.
Figura 12 - Prótese final instalada.
Relato de caso / Case report
Discussão
Fixações extraorais associadas à Implantodontia moderna já estão amplamente difundidas na literatura científica especializada em relação à maxila atrofiada10, pois
tais técnicas eliminam a necessidade de enxertia óssea
maxilar diminuindo o tempo de tratamento, complicações trans e pós-operatórios, bem como o custo do tratamento.
Implantes pterigoides vêm sendo utilizados desde a
década de 80, com o intuito de fuga da região de seio
maxilar por parte do profissional8. Tal região apresenta
densidade e características anátomo-fisiológicas compatíveis com o processo bioquímico da osseointegração.
Outra relevante alternativa é a utilização de implantes
curtos6, onde observou que os novos desenhos e tecnologias desses implantes trazem uma confiabilidade
semelhante aos implantes longos.
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O caso clínico supracitado traz uma associação de
ambas as técnicas, uma fixação na lâmina lateral do processo pterigoideo do osso esfenoide em associação com
implante curto localizado no limite anterolateral do seio
maxilar para fugir da elevação de seio maxilar que tinha
sido recusada por parte do paciente, onde após período
de osseointegração, recebeu uma prótese metaloplástica.
Na literatura científica mundial ainda existe controversa principalmente por parte de profissionais no uso
de fixações extraorais, como no caso de implantes pterigoideos e zigomáticos, sob a alegação de iatrogênias
causadas às estruturas anatômicas importantes e dificuldade de manutenção peri-implantar2, fato este que
vem sendo sanado com o melhoramento das técnicas
cirúrgicas, melhores cursos de especialização e conscientização por parte do profissional dos limites anatômicos
de cada região4. Com os implantes curtos também não
é diferente, pois havia uma resistência muito grande devido ao grande número de insucesso no início da utilização desta técnica1. Com o aprimoramento tecnológico
e científico, os índices de sucesso desses implantes se
tornaram confiáveis.
No presente relato foi observado após a instalação e
correto ajuste oclusal da prótese, uma harmonização da
função e estética aceitável pelo paciente que trouxe uma
motivação para o controle, o qual vem sendo realizado a
cada 4 meses, o que traz benefícios profissionais e pessoais para o caso como todo.
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surface implants followed for 12 to 92 months. Int J Oral Maxillofac Implants18:894-901, 2003.
10. Venturelli A. A modified surgical protocol for placing implants
in the maxillary tuberosity: clinical results at 36 months after
loading with fixed partial dentures. Int Oral Maxillofac Implants 1996; 11; 743-9.
Conclusão
Implantes fixados no osso pterigoideo têm obtido
bons resultados devido à boa densidade óssea local. Implantes curtos vêm sendo cada vez mais utilizados em
reabilitações orais devido a pouca exigência óssea, evitando manobras reconstrutivas. A associação de ambas
as técnicas pode trazer benefícios e evitar cirurgias reconstrutivas, visando otimização de tempo e custo para
os pacientes.
1.
2.
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4.
5.
6.
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8.
9.
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Referências bibliográficas
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