QUEBRA-VENTO (24/04/00)

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QUEBRA-VENTO1
Clovis Alberto Volpe 2
Edgar Ricardo Schöffel 3
1. Introdução
O quebra-vento é um sistema aerodinâmico, natural ou artificial, que serve como
anteparo para atenuar o padrão de velocidade média e da turbulência do vento,
proporcionando melhorias às condições ambientais através do controle do microclima da
área protegida.
O microclima é o resultado da interação entre vários elementos meteorológicos, e
muitos deles são afetados pela alteração no fluxo de ar provocada pelo quebra-vento, como
é o caso, por exemplo, das temperaturas médias do ar e do solo, que em áreas protegidas
são mais baixas no verão e mais altas no inverno.
Dentre as várias funções do quebra-vento na propriedade agrícola, devem ser
registradas as principais, que são:
1. proteção do solo contra a erosão eólica, das culturas evitando a queda de
galhos, folhas, flores e frutos, e dos animais amenizando o resfriamento e a ação
mecânica;
2. conservação da umidade do solo, através da diminuição das perdas da água;
3. aumenta a eficiência da irrigação e do uso da água, diminuindo as perdas por
deriva de gotas e diminuindo, também, a evapotranspiração da cultura;
4. produção de madeira para uso na propriedade como lenha ou em
benfeitorias, ou para a comercialização;
5. fornecimento de combustível através da madeira;
1
Texto publicado como Capítulo de Livro. Referências: VOLPE, C.A.; SCHÖFFEL, E.R. Quebra-vento. In:
RUGGIERO, C. Bananicultura, Jaboticabal: FUNEP, 2001. p.196-211.
2
Eng. Agr., Professor Adjunto do Departamento de Ciências Exatas da FCAV/UNESP.
3
Eng. Agr., Professor Adjunto do Departamento de Fitotecnia da FAEM/UFPEL.
6. conservação da fauna e outros valores ecológicos, servindo como atrativo e
de abrigo para animais silvestres, além do uso no manejo integrado de pragas;
7. melhoria estética da paisagem com conseqüente valorização da propriedade;
8. produção de néctar e pólen para abelhas.
Como as fontes de água e de madeira estão cada vez mais escassas no planeta, é
importante destacar as funções relacionadas à melhoria da irrigação e da utilização da
madeira que, o quebra-vento propicia.
Ainda assim, mesmo com todos estes benefícios, é pequena a utilização dos
sistemas de quebra-vento na agricultura. Entre os principais motivos para a pouca difusão e
adoção dessa prática de proteção podem ser destacados:
i.
a ausência de dados quantitativos regionalizados sobre os efeitos de quebra-
ventos em culturas, faz com que os empresários agrícolas questionem o valor dessa
proteção;
ii.
as pressões econômicas para aumentar a área de plantio e o maior uso de
maquinários de cultivo e de irrigação restringem a área disponível para as árvores;
iii.
deficiência do desenvolvimento de tecnologias e de coordenação da pesquisa
e extensão sobre o tema;
iv.
no passado os projetos de quebra-vento não eram aerodinamicamente
corretos, a proteção ocupava extensa área na propriedade e, por isso, os benefícios não
foram muito evidentes;
v.
mudanças isoladas de tecnologia de manejo das culturas sem globalização,
por parte dos empresários agrícolas;
vi.
pequena apreciação do valor intrínseco da própria árvore usada como
quebra-vento;
vii.
relutância ao uso da proteção nas áreas ocupadas por culturas agrícolas que
passou por uma ou duas gerações, em que ficou estabelecido o ciclo do uso da terra,
onde as árvores têm pouca importância.
2. A ação do vento
O vento de superfície é originado, principalmente, pela diferença de temperatura e
de pressão entre dois locais, provocando o movimento horizontal do ar. As características
do vento, em um determinado local, podem ser conhecidas por meio de observações nas
estações de ocorrência, por informações de pessoas que residam há longo tempo na região e
por consultas às estações meteorológicas e boletins climáticos estadual ou nacional.
As principais características do vento são a velocidade, a direção, a força e a
freqüência de calma. A direção de onde sopram os ventos é chamada de barlavento, e o
lado para onde vai o vento é chamado sotavento. O vento é designado pelo ponto cardeal
situado a barlavento, adotando-se, geralmente, as oito direções fundamentais: N - Norte;
NE - Nordeste; E - Leste; SE - Sudeste; S - Sul; SW - Sudoeste; W - Oeste; e NW Noroeste (TUBELIS e NASCIMENTO, 1980).
A direção predominante do vento é uma média estatística que indica a direção na
qual é esperada uma maior porcentagem de ocorrência do fenômeno em relação ao total de
horas por ano. Os ventos pouco freqüentes, tempestuosos, frios, secos, de alta velocidade,
não seguem obrigatoriamente esta direção. O relevo tem um efeito muito pronunciado,
podendo definir a direção predominante do vento, sendo por isso importante a observação
do local.
Nos vales a circulação do ar varia durante o correr do dia. No período diurno há
uma brisa ascendente da encosta e uma brisa ascendente do vale. À noite, há uma brisa
descendente da encosta e uma brisa descendente do vale. A brisa descendente é responsável
pelo risco de geada. Durante o dia, nesses locais, há uma variação na circulação do ar com
diferentes fases, devido a brisa da encosta começar antes da brisa do vale. Esse
comportamento é mostrado na Figura 1.
A velocidade do vento acima de uma superfície vegetada aumenta com a altura e
obedece a um perfil logarítmico:
u( z) =

u*   z − d 
 + φ m 
ln
k   z0 

em que u(z) é a velocidade média do vento à altura z, k é a constante de von Karman, d é o
deslocamento do plano-zero, z0 é o parâmetro de rugosidade, u* é a velocidade de fricção e
φm é a função de estabilidade.
FIGURA 1. Alternância das brisas de encosta e do vale durante um dia. Setas brancas
representam a brisa da encosta e as setas pretas a brisa do vale. A- logo ao
nascer do sol; B- manhã; C- meio dia; D- final da tarde; E- após o por do sol;
F- noite; G- noite alta; H- madrugada. (Adaptado de GEIGER, 1980).
Em algumas ocasiões, o observador poderá não dispor de instrumentos
meteorológicos para estimar ou medir a velocidade do vento. Nestas condições, quando
deseja-se estimá-la, uma boa alternativa é o uso da escala do vento de Beaufort, que
consiste na observação das condições da superfície do local, apresentada na Tabela 1.
As velocidades médias mensais do vento estão relacionadas, além da posição
geográfica, com a altitude do local. Os valores médios mensais extremos no sudoeste do
Estado de São Paulo atingem 3,8 m s-1, ao passo que esses valores se reduzem para 2,2 e
0,5 m s-1 no Norte do Estado e no Vale do Ribeira, respectivamente. O efeito da altitude
pode ser exemplificado com a comparação de duas localidades próximas e na mesma
latitude, como Cássia dos Coqueiros (SP), a 1000 m e Ribeirão Preto (SP), a 620 m, as
quais apresentam, respectivamente, velocidades médias anuais de 2,8 e 1,7 m s-1
(ORTOLANI, 1986).
TABELA 1. Escala do Vento de Beaufort. (Adaptado de PRIMAULT, 1979)
força
definição
velocidade (m s-1)
0
calmo
0 a0,5
1
quase calmo
0,5 a 1,5
2
brisa leve
2,0 a 3,1
3
vento leve
3,6 a 5,1
4
vento moderado
5,6 a 8,2
5
vento regular
8,7 a 10,2
6
vento meio forte
11,3 a 13,9
7
vento forte
14,5 a 17,0
8
vento muito forte
17,5 a 20,6
9
ventania
21,1 a 24,4
10
vendaval
24,8 a 28,3
11
12
tempestade
furacão
28,8 a 32,4
33,0 a 38,5
dados da avaliação
Não se nota o menor deslocamento nos
mais leves objetos. A fumaça se levanta
verticalmente
A direção do vento é indicada pelo
desvio da fumaça, mas não pelos cataventos.
Sente-se o vento nas faces, as folhas das
árvores são levemente agitadas.
As folhas e os pequenos arbustos ficam
em agitação contínua; as bandeiras leves
começam a se estender.
Movem-se os pequenos galhos das
árvores; poeiras e pedaços de papel são
levantados.
As árvores pequenas com folhagens
começam a oscilar; aparecem ondas com
cristas nas superfícies dos rios e lagos.
Galhos maiores das árvores são agitados,
ouve-se o assobio produzido pelo vento
ao passar pelos fios elétricos; torna-se
difícil usar o guarda-chuva.
Os troncos da árvores oscilam, torna-se
difícil andar contra o vento.
Geralmente torna-se impossível andar
contra o vento; quebram-se os galhos das
árvores.
Ocorrem pequenos danos nas edificações
(telhas arrancadas etc.)
As árvores e as edificações são
derrubadas.
Resultam grandes destruições.
Efeitos devastadores.
Quando o vento encontra uma planta, parte da sua energia é transferida e dessa
interação resulta a chamada ação mecânica do vento. A intensidade dessa transferência
pode provocar benefícios como o auxílio na polinização, estímulo para a quebra de
gradiente térmico e de umidade no perfil da cultura, moderação no fluxo de CO2, entre
outros. Quando a velocidade do vento é alta, a ação mecânica sobre as plantas, além de
promover a queda de folhas, de flores, de frutos, a quebra de galhos, ou mesmo causando
anomalias morfológicas, provoca ferimentos que favorecem o ingresso de patógenos como
bactérias, vírus e fungos, e diminuem a eficiência fotossintética (OMETTO e CARAMORI,
1981). Por outro lado, a estagnação também é prejudicial ao bom desenvolvimento das
culturas, assim, o ideal é a existência de ventos moderados, e embora variável entre
espécies, em torno de 1,4 a 1,6 m s-1. Danos microscópicos nas folhas começam a surgir em
velocidades superiores a 3,5 m s-1. O vôo da abelha é inibido em velocidades entre 6,7 a 8,9
m s-1.
Os prejuízos provocados anualmente pela ação do vento sobre os bananais, sejam de
forma direta, com eminente reduções na produção ou, indiretamente, pelo rompimento de
raízes e folhas, em geral, são maiores do que aqueles provocados pela sigatoka amarela não
controlada. No Estado de São Paulo, os danos provocados pelo vento têm sido um dos
maiores fatores na queda da produção de bananas, com perdas de 20 a 25 %.
Os danos do vento na bananicultura causam prejuízos proporcionais à sua
intensidade. A seguir são relacionados os principais danos:
1. “chilling”, em condições de vento frio ocorrem danos fisiológicos na planta e
nos frutos causados por baixas temperaturas;
2. desidratação da planta devido a grande evaporação;
3. fendilhamento das nervuras secundárias;
4. diminuição da área foliar pela dilaceração da folha fendilhada;
5. rompimento das raízes;
6. quebra do pseudocaule;
7. tombamento da bananeira;
8. amarelecimento e seca parcial das folhas que, por vezes, chegam a secar quando
decorridos 8 a 10 dias da passagem de um vento forte;
9. exposição do fruto à radiação solar;
10. aumenta o ataque de nematóides no cultivar nanicão;
11. os cachos não atingem o tamanho e o peso normal, não atingindo assim cotação
comercial.
De acordo com MOREIRA (1987), ventos com velocidades de 7 a 10 m s-1 causam
fendilhamento e dilaceração das folhas, com possibilidades da área foliar ficar reduzida a
apenas 20%. Se a velocidade do vento atingir 20 m s-1, poderá ocorrer o rompimento do
sistema radicular; com velocidade maior do que 30 m s-1 há riscos de quebra do
pseudocaule ou o tombamento da planta. No entanto, para SOTO (1985), esses limites de
velocidade do vento são menores, constatando que velocidades de vento a partir de15 m s-1
já provocam a destruição total da plantação de bananas. Na Tabela 2 são apresentados os
limites de velocidade do vento e seus danos para as plantas de banana.
TABELA 2. Danos causados pela ação do vento sobre plantas de banana.
Danos
Escala de Velocidade
Beaufort
(m s-1)
4
5,6 a 8,2
5
6
8,7 a 10,8
11,3 a 13,9
7
8
14,5 a 17,0
17,5 a 20,6
9
10
21,1 a 24,4
24,8 a 28,3
Definição
SOTO (1985)
MOREIRA (1987)
Vento moderado Fendilhamento nas
Fendilhamento nas
folhas
folhas
Vento regular
------------Vento meio forte Rompimento do sistema
------radicular e quebra do
pesudocaule
Vento forte
Destruição total
------Vento muito
------Rompimento do
forte
sistema radicular
Ventania
------------Vendaval
------Quebra do
pseudocaule ou
tombamento da planta
É imprescindível destacar que os limites de velocidade do vento para a banana são
proporcionais ao porte e idade da planta, a profundidade do rizoma e enraizamento, ao tipo
e umidade do solo, ao espaçamento entre plantas e a variedade utilizada (tetraplóides são
mais susceptíveis do que as triplóides).
Ventos acima de 11,0 e 19,5 m s-1 são os que causam maiores perdas na produção
de cultivares de porte alto e de porte baixo, respectivamente, segundo STOVER e
SIMMONDS (1987).
3. Critérios básicos considerados em projetos de quebra-vento
Muitos fatores afetam a eficácia de um quebra-vento, como, por exemplo, as
condições de estabilidade atmosférica, a geometria da superfície a ser protegida,
representada pelo parâmetro de rugosidade (z0) do perfil da velocidade do vento, a altura
(h) e a porosidade da barreira (φ) (Mc NAUGHTON, 1988).
A distância (x) na qual é efetiva a proteção do quebra-vento depende da altura da
barreira. Quanto maior a altura da barreira, maior a distância protegida.
A velocidade mínima do vento a sotavento decresce quando a porosidade decresce,
mas a magnitude do decréscimo varia com a distância do quebra vento (x) e a altura (z)
acima da superfície.
Atrás (sotavento) de um quebra-vento muito denso, a velocidade do vento iguala a
velocidade do vento a barlavento em distância mais curta, do que atrás de quebra-vento de
densidade média, ou seja, de maior porosidade. Isto pode ser causado pelo desenvolvimento
de uma diferença de pressão atrás de um quebra-vento denso forçando a descida do ar,
aumentando a turbulência e reduzindo, então, a extensão da proteção.
A distribuição da porosidade é, também, importante. Alta porosidade do quebravento perto do solo tem a vantagem de permitir o fluxo de ar, prevenindo contra a formação
de diferença de pressão, mas pode ter a desvantagem de atenuar pouco a velocidade do
vento perto da superfície imediatamente à sotavento do quebra-vento.
A turbulência do fluxo de ar incidente têm influência na eficácia do quebra-vento.
Acréscimo no valor do parâmetro de rugosidade (z0) do perfil de velocidade do vento da
cultura a ser protegida diminui a eficácia do quebra-vento. Quando as condições
atmosféricas tornam-se mais instáveis a eficácia de um quebra-vento decresce.
Outro fator importante que afeta a eficácia do quebra-vento é o ângulo de incidência
do vento (θ) no quebra-vento. A proteção máxima é esperada para ventos perpendiculares
ao quebra-vento (θ = 90º), e a proteção mínima para ventos paralelos (θ = 0º).
Hoksawa e Farias, citados por LEAL (1987), chamam a atenção para o fato de que
um sistema aerodinâmico de quebra-ventos é algo mais complexo do que “algumas fileiras
de árvores plantadas espaçadamente”, e que quando implantados incorretamente podem
minimizar os benefícios e aumentar os efeitos indesejáveis.
Os sistemas de quebra-ventos variam em função da direção do vento predominante
ou do vento problema, e da disponibilidade de capital, de mão-de-obra e de terra. No
mínimo são destinados aos quebra-ventos de 4 a 5 % da terra disponível para o cultivo.
Na elaboração de projetos de quebra-vento alguns critérios básicos devem ser
considerados. Para que os quebra-ventos tenham a máxima eficiência é importante analisar
os fatores estruturais que influenciam na sua performance (VOLPE, 1997). O grau de
proteção oferecido por um quebra-vento depende da sua orientação, da altura, do
comprimento e da espessura da barreira, da densidade (que condiciona a porosidade), da
composição das espécies e do sistema de quebra-vento.
3.1.
Orientação
Os quebra-ventos são orientados em ângulos retos aos ventos predominantes ou
ventos problemas, porque é neste caso que a zona protegida tem maior extensão na direção
do vento. Quando a direção do vento é perpendicular ao quebra-vento (θ = 90º) maior é a
distância a sotavento protegida pelo quebra-vento. Esta orientação minimiza o número de
barreiras necessárias para proteger uma determinada área.
Ventos soprando sobre topografias montanhosas ou onduladas, com declividade
superior a 8%, agem diferentemente de ventos soprando sobre superfícies relativamente
planas. Dependendo da direção do vento predominante ou do vento problema, as barreiras
de quebra-vento serão plantadas paralelamente às curvas de nível ou perpendicularmente à
direção do vento. Embora plantar nas curvas de nível seja comumente feito, isto é pouco
eficiente como prática de proteção. Além da dificuldade em se estabelecer árvores nas
curvas, esses quebra-ventos oferecem pouca proteção e podem aumentar o dano do vento
no declive a sotavento, com forte aumento da turbulência devido ao deslocamento do fluxo
de ar. Similarmente, árvores na base dos declives, à barlavento, onde a exposição é mínima,
dariam menor proteção do que aquelas mais acima no mesmo declive.
3.2.
Altura das árvores
Muitas pesquisas comprovam que os quebra-ventos reduzem a velocidade do vento
numa distância (x) proporcional à sua altura (h), ou seja, a zona protegida é diretamente
proporcional a altura do quebra-vento. Reduções mensuráveis na velocidade do vento têm
sido registradas distante até 50h à sotavento do quebra-vento. Reduções de 20% ou mais
podem alcançar cerca de 25h do quebra-vento. Conseqüentemente, o número de barreiras
que é requerido para dar proteção a uma área está diretamente relacionado com a altura
média das plantas do quebra-vento.
A altura do quebra-vento (h) é medida do topo do dossel da cultura até o topo do
quebra-vento, e deve ser no mínimo 2 a 3 vezes a altura da bananeira. Para o planejamento,
usa-se a altura de árvores quando atingem 20 anos de idade. Dessa forma, por exemplo,
para uma área cultivada com banana “nanicão” que, quando adulta, atinge
aproximadamente 3 m de altura, o quebra-vento deverá ter entre 6 a 9 m de altura.
A extensão de proteção realmente efetiva a sotavento raramente supera 15 a 20
vezes a altura da barreira (15h - 20h), e a barlavento não passa de 2h a 5h, dependendo
principalmente da densidade da barreira.
3.3.
Comprimento
Se a barreira é relativamente curta, o vento penetra pelos lados com a velocidade
aumentada. A relação entre o comprimento e a altura da barreira permite avaliar se está
bem dimensionada. A razão comprimento/altura deve ser no mínimo 20:1, para adequada
redução da velocidade do vento.
3.4.
Espessura
A escolha da espessura (número de filas de plantas) deve ser baseada em aspectos
práticos e econômicos. Em geral, dentro das filas os espaçamentos entre as plantas são de
2,0 a 6,0 m para árvores de porte médio a alto, onde os menores espaçamentos dentro da
fila são usados em plantios de filas simples. Quando a espécie utilizada no quebra-vento for
o bambu, recomenda-se uma distância entre plantas na fila de 3,0 m.
Os espaçamentos entre as filas de plantas do quebra-vento não são fixas, devendo-se
considerar a precipitação, a evapotranspiração e a capacidade de armazenamento de água
no solo da região, como também a largura dos implementos de cultivo, pois durante a
formação do quebra-vento pode-se plantar no seu interior. Recomenda-se que o
espaçamento mínimo entre as filas deve ser igual à largura do implemento de cultivo mais
1,3 m, para evitar danos ao quebra-vento por ocasião da circulação de maquinários.
A espessura ou largura da faixa de proteção parece não ter um efeito direto na
redução do vento, a não ser quando influi no grau de permeabilidade da barreira. Duas
barreiras de diferentes espessuras podem ter o mesmo grau de penetrabilidade
aerodinâmica.
É importante salientar que fila única de árvores não é recomendada, pois a morte de
algumas árvores deixa falhas na barreira e reduz seriamente a sua eficiência. Alguns
pesquisadores encontraram aumento de 20% na velocidade do vento nas falhas das
barreiras. Daí a importância de, na implantação do quebra-vento, se plantar em quincôncio
ou no mínimo 2 filas de plantas.
3.5.
Densidade
Pesquisas realizadas em túneis de vento concluem que, para influenciar a maior área
possível, a melhor porosidade de um quebra-vento é em torno de 40%, no entanto, para
estruturas vivas, em condições de campo, a porosidade só pode ser calculada
empiricamente.
Características individuais de folhagem e de ramos das árvores usadas são
importantes na determinação do grau de densidade do quebra-vento. Quebra-ventos com
nível inferior bastante permeável não reduzem a velocidade do vento tanto quanto os
densos, mas o máximo de redução ocorre a uma distância maior a sotavento. Dessa forma,
quebra-ventos moderadamente densos reduzem significativamente a velocidade do vento
sem causar muita turbulência e, por isso, em comparação com os quebra-ventos densos eles
são mais eficientes em distâncias maiores (Figura 2).
Figura 2. Influência da densidade do quebra-vento na turbulência do vento. (Adaptado de
ROSENBERG, 1974).
Para quebra-ventos que são longos em comparação com a altura das árvores, a
característica estrutural mais importante é a porosidade. Reduções de velocidade do vento
estão relacionadas com a porosidade, baixa porosidade produz alta redução da velocidade.
Barreiras com porosidade muito baixa criam mais turbulência do que barreira com
porosidade maior.
Variando as espécies e os espaçamentos dentro da rua obtém-se diferentes graus de
densidade, porém, sob condições adensadas, a competição entre árvores pode debilitar a
estabilidade da comunidade de plantas.
3.6.
Seleção das espécies para o quebra-vento
Existem muitos fatores que devem ser considerados na composição das espécies de
árvores para plantio em quebra-vento. É fundamental que se faça uma correta avaliação da
espécie quanto a sua adaptabilidade para permitir uma perfeita aclimatação desta às
condições ecológicas do lugar onde será plantada. Assim, devem ser consideradas as
características do solo e do clima desse local, bem como as características da espécie
quanto à altura atingida, extensão da copa, densidade, sua resistência mecânica à ação do
vento, competição e compatibilidade com a cultura da banana, além de problemas
relacionados com pragas e doenças.
De acordo com LEAL (1986), em 1985 o Centro Nacional de Pesquisa de Florestas
da EMBRAPA, as espécies arbóreas e arbustivas perenes recomendadas para utilização em
quebra-ventos eram: a casuarina (Casuarina equisetifolia e Casuarina cunninghamiana), a
grevilha (Grevillea robusta), a leucena (Leucaena leucocephala), o pinus (Pinus spp.), o
eucalipto (Eucalyptus spp.), o cipreste (Cupressus lusitanica), o abacateiro (Persea sp.) e a
bracatinga (Mimosa scabrella); a arálea (Polyscias paniculata), a dracena (Dracena
deremensis) e o hibisco (Hibiscus spp.). Mais especificamente para a proteção de área com
bananas podem ser usadas as seguintes espécies: acácia (Acacia auriculiformis e Acacia
mangiun), albizia (Albizia falcataia, Albizia lebbeck e Albizia procera), caliandra
(Calliandra calothyvsus), casualina (Casualina spp.), eucalipto (Eucalyptus spp.), Gmelina
arborea, leucena (Leucaena leucocephala e Leucaena glauca), Sesbania grandiflora e o
bambu (Bambusa oldhami).
Normalmente, as plantas desejáveis para quebra-vento em proteção à banana devem
ter uma altura potencial de 6 a 30 m, extensão de copa que não exceda 3 m, densidade de
aproximadamente 50 a 80 % em plantio de ruas simples e devem ser relativamente livres de
insetos e doenças.
Na formação de quebra-ventos para bananeiras uma boa opção é o plantio de
renques de bambu (Bambusa oldhami), cuja altura atinge 15 a 20 m. Além disso, a escolha
do bambu pode ser justificada pelas diversas vantagens que esta espécie apresenta como,
flexibilidade; fornece varas para o escoramento da bananeira e preparo de valas de subdrenagem; venda de brotos para a alimentação, com o desbaste das touceiras; as abundantes
raízes contribuem para uma maior firmeza do leito carroçavel, quando plantado ao longo de
carreadores (MOREIRA, 1987).
A possibilidade das árvores utilizadas no quebra-vento servirem de hospedeiras de
pragas agrícolas é um problema inquietante. A grevilha (Grevillea robusta), espécie
bastante difundida, pode servir de hospedeira de nematóides do gênero Meloigogyne e
como hospedeira alternativa para tripes (Scirtothrips aurantil) de citros. Na África do Sul,
utiliza-se o Eucalyptus torelliana, em substituição à grevilha, em quebra-ventos para citros
dentro de programa integrado de combate às pragas (GROUT e STEPHEN, 1995).Já
existem evidências de que algumas espécies de eucalipto e de pinus apresentam resistência
a Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica como são os casos do Eucalyptus salina,
Eucalyptus grandis, Eucalyptus uroplylla, Pinus oocarpa, Pinus elliottii.
Há a necessidade de novas pesquisas nesse assunto para verificar quais essências
florestais apresentam resistência a esses patógenos. De qualquer forma, para evitar a
introdução e disseminação de patógenos nos terrenos onde serão plantadas, deve-se
procurar comprar mudas sadias e de viveiros idôneos.
3.7.
Sistemas de quebra-vento
Existem dois sistemas para dispor as barreiras para a proteção de áreas extensas:
sistema de defesas paralelas e defesas em compartimentação.
O sistema de defesas paralelas é baseado na disposição de barreiras paralelas entre
si e perpendiculares aos ventos predominantes. A sua eficiência dependerá, além das
características da barreira e das distância entre as barreiras, da direção dos ventos.
Os sistemas de defesa em compartimentação proporcionam defesa contra o vento
soprando em qualquer direção, além de ocupar menos área com quebra-ventos para uma
proteção efetiva, pois não é necessário uma direção obrigatória, podendo-se utilizar áreas
remanescentes. Em terrenos ondulados pode-se dispô-los em nível, junto com faixas
secundárias, para dar efeito de compartimentação.
4. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
GEIGER, R. Manual de microclimatologia: o clima da camada de ar junto ao solo.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1980. 640 p.
GROUT, T.G.; STEPHEN, P.R. New windbreak tree contributes towardas integrated pest
management of citrus. Citrus Journal, v. 5, n. 4, p. 26-27, 1995.
LEAL, A.C.
Quebra-ventos arbóreos: aspectos fundamentais de uma técnica
altamente promissora. Curitiba: IAPAR, 1986. (Informe da pesquisa, n. 67).
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In: BRANDLE, J.R.; HINTZ, D.L.; STURROCK, J.W. Windbreaks Technology,
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MOREIRA, R.S. Banana.: teoria e prática de cultivo. Campinas:Fundação Cargill, 1987.
335 p.1987
OMETTO, J.C., CARAMORI, P.H.
algumas plantas.
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SOBRE
ECOSSITEMA
PASTAGENS, 3, 1997, Jaboticabal: FCAV/UNESP, 1997, 112-136.
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