Vírus Influenza A (HN ): abordagem revisional

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Vírus Influenza A (H1 N1): abordagem revisional
Aldemir Fernandes Lima1
Jesiel Francisco Martins Lima2
Resumo: Conforme constatamos em nossa pesquisa revisional de literatura o vírus da influenza possui o genoma do tipo RNA, com fita simples segmentada e
com grande poder de mutação. De acordo com as normas para a classificação internacional, esse vírus está subdividido em subtipos Myxovirus influenza A,
Myxovirus Influenza B e Myxovirus Influenza C. Devido à grande variedade de reservatório encontrados na natureza o vírus é capaz de induzir constantes
mutações na seqüência dos aminoácidos que formam o seu genoma. Essa metologia facilita o reagrupamento dos aminoácidos que fazem parte do filamento
genético viral, originando a partir daí muitas variantes de cepas (tipos). Na literatura consultada verificamos que os fármacos antivirais interferem e inibem a síntese
das glicoproteínas de superfície do Vírion. Com esse estudo de revisão de literaturas procuramos organizar dados básicos sobre a formação estrutural de um vírus,
sobre os principais sintomas da virose pelo M. influenza e o seu tratamento básico. E assim, chamar a atenção para sua epidemiologia.
Palavras - chave: Influenza A (H1 N1); Vírus; Antivirais.
INTRODUÇÃO
GENERALIDADES EM VIROLOGIA
Diante deste contexto, este artigo tem como objetivo fazer
A influenza é uma doença infecto contagiosa de inci-
um estudo revisional da literatura que trata a respeito da infec-
dência aguda, de origem viral e que compromete o sistema
ção causada pelo vírus da Influenza A, subtipos H1 N1, levando-
respiratório.
se em conta o importante destaque epidemiológico que essa
O nome “influenza” teve a sua origem com base na cultura
virose assumiu no período entre 2008 – 2010 no mundo todo.
mitológica relacionada à influência dos astros em períodos da
E, assim procuramos ilustrar e recordar os aspectos morfoló-
transição verão / inverno e de grandes episódios por correntes
gicos e estruturais do Myxovirus influenza. Através da literatura
de ventos, que favorecem a disseminação de vários tipos de
consultada procuramos deixar bem evidente a formação das
germes e de doenças.
camadas lipoprotéicas que constituem um vírus, e sobre tudo a
Conforme a taxonomia biológica o vírus é um organismo
posição das lipoproteínas que são envolvidas em todo o pro-
com uma organização estrutural simples, já que é constituído
cesso infectante desse vírus.
basicamente por proteínas e ácidos nucléicos. Não há vírus
Procuramos também enfatizar e deixar ilustradas
constituído ao mesmo tempo por dois (2) tipos de genoma
as informações básicas sobre as características sintomáticas,
(DNA e RNA). Possuem propriedades de cristalização como
além de informações básicas sobre o principal medicamento
uma forma estratégica de preservação, quando está disperso
disponível e utilizado no tratamento da gripe A (H1N1).
no meio ambiente; é capaz de se auto-reproduzir, desde que
se fixe em uma célula hospedeira, e tem grande poder de muta-
HISTÓRICO
ção. Basicamente o vírus possui um envoltório protéico (Cerne)
Há relatos de que a primeira epidemia de gripe tenha sido
circundando o genoma de ácido nucléico que recebe o nome
descrita por Hipócrates no ano 402 a.C., como sendo uma sín-
de Capsídio. Os conjuntos de Capsídios se transformam em
drome respiratória. Também, há na literatura outros relatos da
subprodutos do ciclo reprodutivo viral com a denominação de
ocorrência dessa doença na forma epidêmica no continente
Nucleocapsídio. As unidades estruturais básicas que formam
Asiático entre os séculos XVII e XVIII (1781-1830). Da mesma
o Capsídio são compostas por polipeptídios individuais. E as
forma houve o surto da gripe Espanhola entre os anos de 1918
unidades morfológicas virais isométricas são denominadas de
e 1919; a gripe Asiática entre os anos de 1957 e 1958, e a
Capsômeros, enquanto que Vírion é o nome dado à partícula
gripe de Hong Kong entre os anos de 1968 e 1969. Contempo-
viral completa: Vírion = capsídio + ácido nucleico + nucleo-
raneamente constatamos um surto de pandemia dessa grave
capsídio + capsômero (Figura 2)
virose entre os anos 2008 e 2010, e que colocou em estado de
alerta os órgãos responsáveis pela saúde em todos os países
do mundo (PAYUNGPORN, 2010).
CLASSIFICAÇÃO VIRAL
De acordo com vários autores a classificação universal mais aceita para os vírus é fundamentada conforme as suas
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propriedades biológicas, físicas e químicas de interesse humano
e veterinário (JAWETZ, 1974).
(JAWETZ, 1974; PAIVA, 2000; PAYUNGPORN, 2010).
Agente Etiológico da Influenza A (H1 N1)
A classificação biológica mais antiga e aceita pela comu-
Essa gripe recebe uma nomenclatura científica conforme
nidade científica baseia-se na patologia das doenças sistêmi-
a cepas do vírus Influenza A, acrescido das siglas das prin-
cas e de órgãos específicos onde esse tipo de vírus possui
cipais glicoproteínas localizadas na superfície estrutural do
tropismo de infecção – vírus neurotrópicos, vírus respirató-
vírus (capsídio), cujas cepas já foram identificadas. A letras,
rios, vírus cutâneos, vírus de mucosas, vírus oftálmicos e vírus
H1 indica a glicoproteína hemaglutinina do tipo 1, enquanto
glandulares (JAWETZ, 1974).
que a letra N1 indica a glicoproteína neuraminidase do tipo 1.
Para separar os vírus em grupos de acordo com as pro-
(Figura 3).
priedades físico-químicas, o relatório do 1º. Comitê Interna-
O vírus causador da Influenza (gripe) que afeta os ver-
cional Sobre Nomenclatura dos Vírus (CINV) realizado em
tebrados é do tipo genômico RNA, com a fita simples, seg-
1971, refere-se aos vírus de importância humana, de animais
mentada e subdividida em três subtipos ou cepas Myxovirus
inferiores, de insetos, de vegetais e bactérias (bacteriófagos),
influenza A, Myxovirus influenza B e Myxovirus influenza C.
e que abrange as propriedades mais comuns para 43 grupos
Pertence à família taxonômica Orthomyxoviridae. As letras
de diferentes vírus. Ainda conforme o CINV-1971 para os ví-
maiúsculas “A”, “B” e “C” acrescentadas após o termo Myxo-
rus infectantes de vertebrados inclui-se: nome oficial do grupo
virus indicam as cidades onde as cepas foram isoladas e
viral, os subgrupos designados como gênero-tipo ou como
identificadas (Figura 1). Essas variantes do Myxovirus influen-
espécie-tipo, e o Criptograma. Conforme os estudos mais re-
za são formadas a partir de processos mutagênicos ocorridos
centes em virologia o Criptograma é um detalhamento das
nos segmentos genômicos virais, o que induz em importantes
estruturas características específicas dos vírus e de seu com-
alterações na seqüência inicial dos aminoácidos que formam
portamento diante de condições biológicas e físico-químicas
as várias camadas das glicoproteínas de superfície do Capsí-
– propriedades estruturais da partícula completa do Vírus,
dio. Isso ocorre em especial com as proteínas Hemaglutinina
como: cerne do ácido nucléico – DNA ou RNA; capsídio; nu-
(H) e a Neuraminidase (N). Sendo que a glicoproteína Hema-
cleocapsídio e capsômero; simetria do capsídio; presença ou
glutinina (H) antigênica é a responsável pela invasão viral na
não de invólucro do vírion; sensibilidade ao éter; número de
célula hospedeira parasitada (fixação – adsorção – injeção do
capsômeros; tamanho da partícula de vírus em nanômetros;
genoma do vírus). Já a Neuraminidase (N) é a glicoproteína
peso molecular do ácido nucléico; nº. de genes aproximados)
responsável pela lise celular e pela liberação de novos Vírions
de cada grupo. Os subgrupos dos vírus foram designados
a partir da população de células do hospedeiro inicialmente
como sendo gêneros, cada gênero-tipo denominado como
infectado (JAWETZ, 1974; PAYUNGPORN, 2010). (Figura 2).
família, e cada espécie-tipo citada como espécie. Já as espécies são registradas com os nomes vernaculares e latinizados
Figura 1 – Organograma taxonômico dos subtipos do vírus Myxovirus influenza
Devido à resposta imunogênica humana em casos de in-
(H) e Neuraminidases (N) de superfície. Essas alterações das
fecções primárias ou devido à ação vacinal preventiva irá de-
glicoproteinas de superfície do genoma do vírus devem-se ao
sencadear também variações antigênicas associadas à substi-
reagrupamento de espécies de vírus patogênicos interespecífi-
tuição total de um ou de ambos os filamentos genômicos virais
cos, como facilitador dessa recombinação, resultando em cepas
responsáveis pela síntese das glicoproteínas Hemaglutininas
virais infectantes mistas. Outro facilitador para a formação de
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cepas virais mistas são os diversos tipos de reservatórios ani-
de 1 até 9) (PAYUNGPORN, 2010; MANCINI, 2004; OMS, 2000).
mais vertebrados disponíveis na natureza. Então, o Myxovirus
(Figura 2)
influenza infectante suíno tem a glicoproteína Hemaglutinina (H)
Figura 2 – Esquema da localização das camadas estruturais
e Neuraminidase (N) de superfície reagrupadas em subespécies
onde se encontram as glicoprotéicas e o cerne (genoma) do Ví-
antigênicas interferentes H (subtipos de 1 até 15) e N (subtipos
rion - Myxovirus influenza A (H1N1).
Conforme pesquisas internacionais realizadas nas últimas
pesquisa do projeto Grupos Regionais de Observação da Gripe
décadas o vírus Myxovirus influenza apresenta altíssimas taxas de
(GROG), com o objetivo de coletar dados, analisá-los e fornecer
mutação, e consequentemente resulta na formação de novas ce-
informações, acerca da dispersão do vírus Myxovirus influenza
pas com cargas virais diferenciadas e dispersas nas comunidades
A no Brasil – Instituto Adolfo Lutz / SP (IAL), Fundação Osvaldo
de todo mundo (PAYUNGPORN, 2010; MANCINI, 2004).
Cruz / RJ (FIOCRUZ) e Instituto Evandro Chagas / Belém (IEC),
E para essa formalização cientificamente comprovada
de que novas formas virais podem surgir, a Organização Mun-
ambos credenciados pela OMS desde 1995 (OMS, 2000; NETO,
2003; Rev. Soc. Bras. Med. Trop., 2003).
dial de Saúde (OMS) passou a credenciar e a delegar poderes
de vigilância e pesquisa e qualificar vários Laboratórios Nacio-
Nomenclatura utilizada para vírus
nais sobre a Influenza em diversos países ao redor do mundo,
A maioria das espécies de vírus é designada com a primei-
atualmente são 80 países, credenciados para essa importante
ra letra do nome latino do hospedeiro (a = avis; b = box; h =
função, subdivididos e subordinados a quatro Centros de Refe-
homo; o = ovis; m = mus; s = suis) seguidas de um número
rências situados em Londres, Tóquio, Melboume e Atlanta. Com
que indica o tipo antigênico (JAWETZ, 1974).
essas referências as cepas virais colhidas e identificadas em
Utilizam-se quatro pares de símbolos representando cada
todo o mundo são catalogadas em um sistema oficial padroni-
par, duas propriedades: filamento da cadeia e tipo de ácido nuc-
zado pela OMS com base fundamentada nos seguintes critérios:
léico, percentagem da partícula viral e o peso molecular do ácido
1 - Tipo antigênico da nucleoproteína; 2 - Principal hospedeiro; 3
nucléico; forma da partícula e do nucleocapsídio, o tipo de hospe-
- Localizações geográficas (cidade, país); 4 - Números de cepas
deiro e o vetor do vírus (JAWETZ, 1974; NETO, 2003; OMS, 1998).
no Laboratório identificador; 5 - Ano de isolamento da cepa no
Laboratório de referência. (JAWETZ, 1974; NETO, 2003).
No Brasil existem três Laboratórios credenciados para a
Exemplo: A / Bayem / 07/95 A (H1 N1)
Conforme os Laboratórios Brasileiros de Referência Internacional (LBRI – MS) citados anteriormente, no Brasil as cepas
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do Myxovirus influenza que são infectantes para os seres hu-
Como medida preventiva destaca-se o uso da vacino-
manos são rotuladas e identificadas conforme o código alfa
terapia. Entretanto, já estão disponíveis em todo o mundo os
numérico conforme os seguintes critérios:
fármacos antivirais preconizados mundialmente – Amantadina
A (H1 – N1)
e Rimantadina, como sendo os medicamentos de primeira geração, e o Oseltamivir e o Zanamivir como sendo os produ-
A (H2 – N2)
tos farmacológicos de segunda geração. Esses dois últimos
já oficialmente licenciados pela Agência Nacional de Vigilância
A (H3 – N3)
Sanitária (ANVISA) em todo o território nacional desde 1993.
Manifestações clínicas e tratamento da Influenza A (H1 N1)
No mercado brasileiro já circula o medicamento de segunda
Conforme os fatores patognomônicos da Influenza os sin-
escolha que é direcionado para a Influenza.
tomas e sinais típicos para essa patologia são: febre (38ºC – 40
No esquema abaixo procuramos produzir e deixar clara a
ºC), calafrios, tosse, cefaléia, dor de garganta, coriza, anorexia
forma pela qual as indústrias farmacêuticas procuraram criar o
e fadiga muscular. A partir desse quadro clínico já instalado
nome “fantasia” para um dos fármacos de escolha utilizado no
poderão surgir complicações decorrentes de uma infecção
tratamento da Influenza A (H1N1).
secundária e até evoluir para o óbito (PROJETO VIGI GRIPE,
2001; GROG, 2010).
Esses fármacos antivirais são inibidores da proteína de superfície Neuraminidase do vírus M. Influenza. Conforme normas
divulgadas pela ANVISA o produto Tamiflu (Figura 4) está disponível e licenciado em todo território nacional brasileiro desde
o ano 2000 pelo Ministério da Saúde (GRUPO REGIONAL DE
Figura 4 – Origem do nome do fármaco usado no tratamento da gripe A (H1N1).
logia Médica.
Editora Guanabara, 10ª. Ed. RJ, 1974.
MANCINI, Dalva Assunção Pastori et al. Influenza em animais heterotérmicos. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Jun. 2004.
Vol. 37, Nº. 3. os. 204 – 209. ISSN 0037 – 8682.
OBSERVAÇÃO DA GRIPE, 2010; PROJETO VIGI GRIPE, 2001).
CONCLUSÃO
Com esse artigo de revisão de literatura sobre a Influenza
A (H1N1), acreditamos ter reunido dados capazes de informar
sobre as características fundamentais dessa virose que tem afligido a população em todo o planeta em períodos sazonais. E
também poder contribuir para despertar nos profissionais da
saúde o interesse para a epidemiologia desse tipo de doença
durante todo o período do ano.
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PROJETO VIGI GRIPE. Boletim Notícias Vigi Gripe. Vol. 2: 2 – 5, 2001.
NOTAS DE RODAPÉ
1 Bacharel, especialista em Ciências da Saúde e Educação (UFMG).
Professor Universitário.
2 Biomédico, especialista em Análises Clínicas, professor do Centro Universitário Newton Paiva
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