o efeito do consumo de etanol no duodeno de ratos wistar

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O EFEITO DO CONSUMO DE ETANOL NO DUODENO DE RATOS WISTAR
Elisângela de Lima Silva 1, 2, Patrícia Henrique Silva 2, Michele França de Almeida 2,
Iandara Schettert Silva 4, Leda Márcia de Araújo Bento 2, Beatriz Keiko Miysato de Souza 4,
Rosemary Matias 3, Doroty Mesquita Dourado ².
1
Acadêmica bolsista PIBIC/ CNPq do curso de Nutrição; email
[email protected]; 2 Laboratório de Toxinologia e Plantas Medicinais Anhanguera
Uniderp; 3 Laboratório de Produtos Naturais da Universidade Anhanguera Uniderp - Campo
Grande MS 4 .
RESUMO
As ações deletérias do álcool são extensamente relatadas para o fígado e para o pâncreas, o mesmo
não ocorrendo com o tubo digestório. O consumo de álcool pode promover alterações morfológicas e
disfunções absortivas no intestino delgado. O alcoolismo consiste em um grande problema de saúde
pública, podendo causar transtornos gastrointestinais. Assim, o presente trabalho teve como objetivo
avaliar o efeito da administração crônica do etanol sobre o duodeno de ratos Wistar. Os animais
foram separados em grupo controle (GC) e grupo alcoolizado (GA) via gavagem, na dosagem
crescente de 0,4 ml, 0,7 ml e 0,9 ml de vodka® Orloff, administradas duas vezes ao dia. No final de
30 dias os animais foram eutanasiados, em seguida o duodeno foi coletado e processado. Houve
aumento de células caliciformes em quantidade, proliferação de linfócitos na lâmina própria,
deposição de proteínas no interstício e aumento de volume das glândulas de Brunner. O abuso
crônico de álcool pode influenciar consideravelmente o sistema imune associado ao trato
gastrointestinal, aumentando a permeabilidade da mucosa gastrointestinal às macromoléculas que
agem como antígenos. Estudos revelam aumento do número de linfócitos B, provavelmente por essa
razão. Os efeitos do álcool sobre o tubo digestório são altamente deletérios, concorrendo para
severas alterações morfológicas e funcionais em longo prazo.
Palavras-chave: alcoolismo, morfologia, células caliciformes, linfócitos.
INTRODUÇÃO
O alcoolismo é definido pelo Ministério da Saúde no Brasil como uma dependência
do álcool e/ou problemas relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas (OMS, 1993).
Muito se tem estudado sobre os efeitos da ingestão crônica de etanol no ser
humano, visto que esta ingestão exerce um efeito tóxico, que atinge todos os tecidos do
organismo e afeta a maioria das funções vitais, por ser uma molécula pequena e solúvel
tanto em meio aquoso como lipídico. Após a ingestão de etanol, cerca de 20% do total é
absorvido no estômago e o restante nas primeiras porções do intestino delgado. Somente
de 2 a 10% do etanol absorvido é eliminado via rins e pulmões, o restante é oxidado,
principalmente no fígado já que não pode ser armazenado. No intestino delgado, a absorção
é extremamente rápida, completa e independe da concentração de etanol ou da presença
de alimentos (JUNIOR, 1998; LIEBER, 1997; MELO JUNIOR et al., 2006; VANNUCCHI,
1982).
Alterações morfológicas e funcionais do trato gastrointestinal após a exposição ao
etanol têm sido descritas em humanos e animais experimentais, caracterizando-se,
essencialmente, pela interferência nas células epiteliais e na manutenção da flora
microbiana residente prejudicando a absorção intestinal (PEREZ, 2004; CARIGE, 2006;
MELO JUNIOR et al, 2006, WATZL, 1992).
Neste contexto, o duodeno que é a porção inicial do intestino delgado, com função
principal de digestão, principalmente lipídios e proteinas, se apresenta como uma região do
digestório de grande importância (GUYTON; HALL, 1996) no estado nutricional de um
indivíduo alcoólico. Este estudo teve como objetivo principal avaliar o efeito da ingestão de
etanol sobre o duodeno de ratos Wistar.
MATERIAL E MÉTODOS
2
Foram utilizados 6 ratos machos adultos da linhagem Wistar, provenientes do
Biotério da Universidade Anhanguera-Uniderp, Campo Grande/MS.
Os animais foram mantidos em gaiolas individuais, para melhor controlar o consumo
de sólido e líquido. Os animais após terem o seu peso aferido, foram separados em dois
grupos de 03 animais cada grupo, assim distribuídos:
Grupo controle (GC) Os animais receberam água e ração padrão ad libitum .
Grupo Alcoolizado (GA) os animais receberam a dieta líquida e sólida ad libitum ,
administrada via gavagem, na dosagem crescente de 0,4ml; 0,7ml a 0,9ml, de Vodka de
marca comercial Orloff, Lote 9230R118951437, fabricado e engarrafado por Pernod Ricard
Brasil Indústria e Comércio Ltda, Resende-RJ. , duas vezes ao dia.
Após 30 dias os animais foram eutanasiados utilizando Thiopentax (Tiopental sódico)
na concentração referente ao peso do animal, ou seja, a cada 100g de peso corpóreo foi
administrada 0.1ml (i.p.), sendo dose letal.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Uniderp - Campo
Grande-MS, sob número 65 006/09 MS.
As amostras do duodeno foram removidas e fixadas em formol tamponado a 10%,
em seguida processadas e incluídas em parafina para serem seccionadas em micrótomo
rotativo a 5 µm e avaliados por meio das colorações de Hematoxilina/Eosina (HE) e pela
Reação do Reativo de Schiff (PAS).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observou-se as seguintes alterações no duodeno de ratos com ingesta de álcool nas
concentrações de 0,4ml; 0,7ml a 0,9ml por 30 dias: aumento de células caliciformes em
quantidade; proliferação de linfócitos na lâmina própria; deposição de proteínas no interstício
e aumento de volume das glândulas de Brunner. Em relação a reação pelo ácido de Schiff
(PAS) as células caliciformes nas vilosidades e nas glândulas duodenais estavam
fortemente PAS positivas, aumentadas em tamanho e quantidade comparado ao grupo
controle; as glândulas de Brunner, também, fortemente positivas ao PAS e houve
proliferação de linfócitos na lâmina própria.
cc
rev
vs
ml
A
B
C
D
E
F
Figura 1 Grupo controle de animais que foram tratados com solução salina. A) revestimento gástrico
(rev); células caliciformes (cc); linfócitos da lâmina própria (setas). B) vaso sanguíneo (vs); glândulas
de Brunner (setas); C) músculo liso (ml). HE/400x. D) células caliciformes nas vilosidades (setas); E)
nas glândulas duodenais (setas); F) glândulas de Brunner moderadamente PAS positivas (setas).
PAS/400x.
3
A
re
v
*
A
B
C
D
E
F
Figura 2 Grupo de animais com ingesta de álcool 0,4ml; 0,7ml a 0,9ml. A) revestimento gástrico
(rev); células caliciformes (setas); linfócitos da lâmina própria (setas). B) deposição proteinácea
intersticial (*); C) glândulas de Brunner (setas). HE/400x. D) células caliciformes nas vilosidades
(setas); E) nas glândulas duodenais (setas); F) glândulas de Brunner fortemente PAS positivas
(setas). PAS/400x.
Existem controvérsias quanto aos efeitos da ingestão crônica do álcool na mucosa
duodenal em homens. Alguns estudos não apontam mudanças morfológicas na mucosa,
enquanto outros demonstram alterações ultra-estruturais e histológicas (MAIER, et al.,
1999). O abuso crônico de álcool pode ainda influenciar consideravelmente o sistema imune
associado ao trato gastrointestinal, aumentando a permeabilidade da mucosa
gastrointestinal às macromoléculas que agem como antígenos. Estudos revelam aumento
do número de linfócitos B, provavelmente por essa razão (MAIER, et al., 1999). O número
de macrófagos encontrado, entretanto, foi menor que o normal, sugerindo verdadeiro
enfraquecimento do sistema imune inespecífico (MAIER, et al., 1999).
CONCLUSÃO
O experimento identificou alterações na morfologia do duodeno de ratos tratados
com álcool em várias concentrações por um período de 30 dias. Os efeitos do álcool sobre o
tubo digestório são altamente deletérios, concorrendo para severas alterações morfológicas
e funcionais em longo prazo. Tal fato, juntamente com a possibilidade de comprometimento
de outros sistemas orgânicos, demonstra a importância do conhecimento fisiopatológico e
da abordagem correta desses pacientes.
AGRADECIMENTO
Agradeço a universidade Anhanguera-Uniderp/PROPP por colaborar com o
desenvolvimento deste trabalho.
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4
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