Cabos telefônicos Este tutorial apresenta um estudo sobre os Cabos Telefônicos com o objetivo de demonstrar os cálculos para alcançar os parâmetros mínimos necessários a uma conversação telefônica. Sérgio Gonçalves da Silva Engenheiro de Telecomunicações pela Fundação Assis Gurgacz (FAG - 2005), bacharel em Ciências com habilitação em Matemática pela Universidade Estadual do Oeste (1991) e pós-graduado em Engenharia de Telecomunicações pela Universidade Norte do Paraná (1998). Atua na Brasil Telecom desde 10/1979, sendo Coordenador da área de planejamento e projeto de redes convencionais e ópticas, com responsabilidade pela análise de indicadores operacionais, acompanhamento de obras, fiscalização de instalações e serviços de telecomunicações. Atua também como instrutor de cursos de formação em Projetos e Planejamento de Redes Convencionais. Atualmente exerce atividades na área de Comunicação de Dados e ADSL, acompanhando os circuitos críticos e os indicadores operacionais, e apresentando sugestões para melhorias nos serviços e equipamentos ADSL empregados. Foi também selecionado para a fase classificatória do I Concurso Teleco de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) 2005. Email: [email protected] Categoria: Infraestrutura para Telecomunicações Nível: Introdutório Enfoque: Técnico Duração: 20 minutos Publicado em: 24/01/2005 1 Cabos Telefônicos: Introdução As redes telefônicas são formadas pelos cabos telefônicos, linhas telefônicas, postes, canalização subterrânea e demais acessórios necessários à sustentação, fixação e proteção dos cabos e linhas. Os cabos e linhas telefônicas são constituídos de condutores, sendo estes os elementos básicos de sua formação possuindo características físicas e elétricas que exercem influencia importante na qualidade da transmissão dos sinais. Quando uma ligação telefônica é completada, a qualidade do sinal recebido pelo assinante chamado (intensidade sonora) pode variar em função de certos parâmetros: o tipo do aparelho telefônico, a distancia entre os aparelhos chamador e chamado, em relação às respectivas centrais locais, a quantidade de centrais comutadoras no circuito de conversação, a classe dessa comunicação (local, interurbana, internacional). O trabalho destina-se a demonstrar os cálculos para alcançar os parâmetros mínimos necessários a uma conversação telefônica, onde o enfoque dar-se-á entre a central local e o assinante. 2 Cabos Telefônicos: Equivalente de Referência O CCITT, órgão responsável pela normatização de todas as questões referentes a telefonia, criou, o "Equivalente de Referencia" visando padronizar um patamar, a partir do qual as ligações telefônicas estariam vinculadas. As comunicações cujos níveis situam-se acima deste patamar podem ser consideradas como melhores que a comunicação de referencia, e caso contrario, piores. O equivalente de referencia define a atenuação do sinal transmitido, através de uma comunicação telefônica, supondo que o assinante chamador envie uma informação e o chamado a receba. O processo de medição desse equivalente é baseado na comparação do sistema a ser avaliado com um circuito padrão, conhecido pela sigla NOSFER. Os equivalentes de referencia para o sistema de assinante e central local são padronizados em 14,5dB para transmissão e 5,5 dB para recepção, independente da classe da central de transito interurbana com a qual a central local esta interligada. Nesses equivalentes está incluído o valor adotado de 0,5 dB como perda nos elementos comutadores. Para determinar o equivalente de referencia de uma rede telefônica (cabos telefônicos e linhas de assinante), que irá balizar os valores máximos de atendimento temos: Para transmissão: ERT (equivalente de referencia de transmissão, total) = 14,5 dB ERTfone (equivalente de referencia de transmissão, fone) = 5,4 dB ERC (equivalente de referencia da estação local) = 0,5 dB ERTrede (equivalente de referencia de transmissão, rede) = 8,6 dB ERTrede = ERT - ERTfone - ERC ERTrede = 14,5 dB - 5,4 dB - 0,5 dB = 8,6 dB Para recepção: ERR (equivalente de referencia de recepção, total) = 5,5 dB ERRfone (equivalente de referencia de recepção, fone) = -3,0 dB ERC (equivalente de referencia da estação local) = 0,5 dB ERRrede (equivalente de referencia de recepção, rede) = 8,0 dB ERRrede = ERR - ERRfone - ERC ERRrede = 5,5 dB - (-3,0 dB) - 0,5 dB = 8,0 dB Logo, considerando os resultados encontrados, e identificando que a pior situação está na recepção, será adotado este valor para os cálculos do equivalente de referencia da rede telefônica. 3 Cabos Telefônicos: Limite de Supervisão O circuito elétrico estabelecido entre o DG (distribuidor geral), localizado na estação telefônica local e o aparelho telefônico do assinante, é interligado através de condutores dos pares de cabos telefônicos, instalados em redes subterrâneas e redes aéreas, possui limites que são determinados pelos seguintes parâmetros: Ponte de Alimentação: é o circuito do sistema de alimentação da central telefônica local, destinado a transferir ao enlace do assinante a tensão elétrica necessária para suprir a corrente que circula na cápsula transmissora do aparelho telefônico; Limite de Supervisão: é a máxima resistência ôhmica admitida pelo equipamento de comutação, para o enlace do assinante mais o aparelho telefônico; Limite de Resistência de Enlace: é a máxima resistência ôhmica admitida para um enlace de assinante, essa máxima resistência depende diretamente da ponte de alimentação, do tipo de aparelho telefônico e do tratamento de enlace utilizado; Corrente de Linha: é a mínima corrente admitida pela cápsula microfonica do aparelho telefônico e foi definida em 20 mA, com a finalidade de facilitar os cálculos de transmissão. Conhecendo a resistência da ponte de alimentação, a tensão de alimentação do enlace, a resistência interna a corrente continua do aparelho telefônico e a corrente microfonica mínima, o limite de resistência de enlace pode ser calculado através da formula discriminada abaixo: RL = V -(2 Rp + Rf) I RL = limite de resistência de enlace; V = tensão de alimentação; I = corrente microfonica mínima; Rp = resistência da ponte de alimentação; Rf = resistência do telefone e fio externo. 4 Cabos Telefônicos: Caracteristicas Primárias Rede Subterrânea e Rede Aérea: Composta por Cabos Telefônicos Os parâmetros primários das linhas físicas e metálicas são características obtidas diretamente a partir da natureza dos circuitos, da disposição geométrica dos condutores e do material utilizado. Esta linha possui dois tipos de parâmetros primários: Longitudinais: são as características que existem ao longo dos condutores que constituem a linha, tais como: Resistência por unidade de comprimento - R ( /km) Indutância por unidade de comprimento - L (H/km) Transversais: são as características que existem entre os condutores que constituem a linha, tais como: Capacitância por unidade de comprimento - C (F/km) Condutância do dielétrico por unidade de comprimento - G (mho/km) Figura 1: Parâmetros Longitudinais e Transversais. Como são visto, as características primarias dependem do diâmetro dos condutores (resistência ôhmica), do afastamento entre os condutores (capacitância), do material empregado como isolante entre os condutores, sua espessura e ainda a disposição dos condutores dentro do cabo telefônico. Resistência elétrica a corrente contínua 5 A Resistência Elétrica (R) de um condutor é função da seção (S) do mesmo, da resistividade de seu material ( ) e do comprimento (l) considerado. lx R= — S A resistência do par de condutores é o dobro da resistência do condutor, desta forma podemos melhorar a formula da seguinte maneira: S = x r² r=D/2 l = 1000 m Então podemos reescrever a fórmula da seguinte maneira: R= = /km Considerando que é utilizado nos cabos telefônicos, o cobre eletrolítico recozido, o diâmetro dos condutores está padronizado, podemos usar como referencia a tabela abaixo. Figura 2: Tabela de Resistência Ôhmica. Os valores apresentados são referentes às temperaturas de 20°C para as redes subterrâneas e 45°C para as redes instaladas na rede aérea, isto para facilitar a elaboração dos projetos, mas para a aceitação elétrica dos parâmetros as temperaturas são corrigidas para a temperatura ambiente, conforme discriminado abaixo. R=R [1+ 20 ( - 20)] Onde: R = resistência a ser calculada; R = resistência a 20°C 20 = coeficiente de temperatura do metal dos condutores (0,00393) = temperatura para a qual se deseja conhecer a resistência. 6 Indutância A indutância do circuito é a relação entre o fluxo que atravessa o espaço que separa os dois condutores e a corrente que o produz, pois como sabemos quando dois condutores de um circuito telefônico são percorridos pela mesma corrente, mas com sentidos contrários, um campo magnético é criado no espaço compreendido entre os mesmos. A indutância, por unidade de comprimento, é dada pela expressão: 2D L = (4log + µ ) 10-4 (H/km) e — r d Onde: D = distancia entre o eixo dos dois condutores d = diâmetro do condutor µ = permeabilidade relativa do material do condutor r Para os cabos telefônicos, os valores de indutância, para um par de condutores, são muito pequenos, em função da distancia entre os condutores, este valor esta na faixa de 0,60mH/km. Capacitância A capacitância mútua entre dois condutores é obtida pela relação abaixo discriminada: C= = F/km Sendo: E = constante dielétrica relativa do material isolante r D = espaçamento interaxial entre condutores, em km d = diâmetro dos condutores, em km Para o calculo da capacitância em cabos, alguns fatores tornam-se importantes, tais como: Disposição geométrica dos condutores; Espessura do dielétrico entre os condutores; Material do dielétrico; Distancia entre condutores; Espessura das camadas de ar entre os condutores. O valor aproximado de capacitância mutua de cabos multipares, gira em torno de 50nF/km. 7 Condutância É um parâmetro cuja determinação exata só é possível através de medidas de laboratório, basicamente ele representa o inverso de uma resistência e depende de alguns fatores, tais como: Do estado de conservação das linhas; Da qualidade dos isoladores; Do comprimento da linha; Das condições atmosféricas. A tabela abaixo apresenta os valores de condutância para alguns condutores e alguns tipos de isolamento. Tipo de Isolamento do Condutor Condutância (S/km) Resistência de Isolamento Mínima MO/km Em PVC 0,17. 10-8 600 Papel e ar 0,2. 10-9 5000 Polietileno 0,7. 10-10 15000 8 Cabos Telefônicos: Caracteristicas Secundárias As características secundarias das redes telefônicas são funções das suas características primarias, as quais se determinam pela disposição geométrica dos condutores e pelas propriedades dos materiais utilizados. Os parâmetros secundários são importantes para elaboração de projetos e analise de conexões, analisaremos os seguintes parâmetros: Impedância característica; Constante de propagação (atenuação e constante de fase); Velocidade de propagação. Impedância Característica A impedância característica (Z ) de uma linha homogênea é a impedância de entrada de uma linha suposta 0 infinitamente longa. Z = 0 Para cabos multipares, dependendo da faixa de freqüência que se trabalha, são admissíveis certas simplificações, assim em freqüência de voz, 0 a 3,4kHz, é valida a expressão. Z = 0 Constante de propagação A constante de propagação, representada pela letra grega " ", caracteriza a maneira pela qual uma onda se propaga ao longo da linha de transmissão, com respeito às variações de fase e amplitude da mesma. Assim, se uma linha de transmissão homogênea de pares simétricos e de comprimento infinito estiver sendo percorrida por uma tensão e uma corrente senoidais e, sendo V e I respectivamente a tensão e a corrente 0 0 no inicio da linha, a tensão e a corrente, num ponto a uma distancia L do inicio da linha, será obtido as seguintes relações: V = V e-YL 0 I = I e-YL 0 A constante de propagação é composta de uma parte real, a, chamada de constante de atenuação e de uma parte imaginária, ß, chamada de constante de fase. = +jß 9 A expressão geral da constante de propagação em função dos parâmetros primários de uma linha de transmissão é: = Para a freqüência de voz podemos utilizar a seguinte formula, para calcular os valores de atenuação: = 8,686 = dB/km Em função da expressão matemática acima, foi montada a seguinte tabela de referencia: A parte imaginaria da constante de propagação, ß, chamada de constante de fase caracteriza a mudança de fase experimentada pela onda ao se propagar ao longo da linha de transmissão e sua expressão geral é: ß= = rad/km A constante de fase é importante na determinação do comprimento de onda, conforme discriminado abaixo: = = km Velocidade de propagação A velocidade de propagação de um sinal ao longo de uma linha de transmissão, em km/s, é dada pela seguinte relação: v= = km/s Em linhas de transmissão é desejável que se tenha a velocidade de propagação constante com a freqüência, para evitar que ocorra dispersão do sinal, ou seja, que existam componentes de diferentes freqüências propagando-se a velocidades diferentes. 10 Cabos Telefônicos: Conclusões Podemos observar que para os cálculos dos parâmetros de uma linha de transmissão, tudo fica mais facilitado pela utilização de tabelas ou de formulas reduzidas, facilitando em muito a atividade dos projetistas, técnicos e engenheiros. Mas de tudo que foi demonstrado posso como acadêmico de Engenharia de Telecomunicações tirar como uma grande lição. "Tudo pode ser tabelado e facilitado, mas fica ai a grande diferença em saber o que se faz ou simplesmente utilizar tabelas, não aproveitar o embasamento teórico e saber demonstrar o por que das coisas." São em livros e principalmente nestes tutoriais que podemos aprender de onde vem as tabelas e o por que dos cálculos, pois são escritos por pessoas comprometidas com o aprendizado e com o despertar do conhecimento, e principalmente em divulgar uma experiência adquirida ao longo dos anos. Referências NETO, Vicente Soares; RATTES, Túlio Manoel F.; da SILVA, Roberto Corrêa e da SILVA, José Corrêa. TELEFONIA EM SISTEMAS LOCAIS TOPICOS AVANÇADOS - São Paulo - Editora Erica Ltda. 1991. TOLEDO, Adalton Pereira de. REDES TELEFONICAS - Editora McGraw-Hill do Brasil Ltda. - 1977. Manual de Projetos de Rede Externa. Telecomunicações do Paraná S. A. - Grupo Rede Metálica. TANENBAUM, Andrew. REDES DE COMPUTADORES - tradução Vandenberg D. de Souza. - Rio de Janeiro - Elsevier Editora Ltda., 2003. JESZENSKY, Paul Jean Etienne. SISTEMAS TELEFONICOS - Barueri - Editora Manole Ltda., 2004. 11 Cabos Telefônicos: Teste seu Entendimento 1. Quais são os parâmetros primários longitudinais de uma linha de transmissão, utilizando cabos metálicos? R e L; C e G; Z0. 2. Calcule a distancia máxima de atendimento de um cliente, sabendo-se a atenuação total do circuito é de 7,2dB e esta sendo utilizado um cabo aéreo com condutores de diâmetro 0,50mm? 5.454 m; 5,797 km; 5.217 m. 3. Calcule a resistência de linha de um circuito, sabendo-se que a resistência do aparelho e fio externo é de 450 W, a resistência da ponte da estação é 250 W e a tensão de alimentação de 36 V? 850 W; 1100 W; 1350 W. 4. Qual a resistência de um cabo telefônico com condutores de diâmetro de 0,65mm para uma temperatura de 32°? 122 W; 111 W; 106 W; 12