AMBIENTE ECONÔMICO GLOBAL MÓDULO 3 Índice 1. Globalização produtiva .............................................. 3 2. Globalização financeira.............................................. 5 2 Ambiente Econômico Global - Módulo 3 1. GLOBALIZAÇÃO PRODUTIVA Por seu turno, a dinâmica produtiva refere-se à integração internacional da produção a partir das estruturas produtivas domésticas. Tal processo pode se dar de diferentes formas, tanto envolvendo a distribuição espacial de diversas etapas da produção nos mais diversos países para aproveitamento de vantagens comparativas quanto envolvendo a distribuição espacial da produção em termos do ciclo do produto. Na primeira situação, empresas fabricariam “pedaços” do produto nos locais em que essa etapa fosse mais barata, comparativamente. Na segunda, os produtos seriam oferecidos ao mercado segundo uma lógica em que aqueles inovadores e resultantes de pesquisas de última geração seriam primeiramente oferecidos nos mercados mais “nobres” (Estados Unidos e Europa), chegando aos países periféricos apenas quando substituídos por outros de tecnologia mais moderna. Assim, haveria mercados de primeira e de segunda linha, e a estrutura produtiva das empresas se organizaria segundo essa divisão internacional do mercado através da atuação de suas filiais espalhadas por todo o mundo. Principais agentes responsáveis pela dinâmica produtiva, as empresas multinacionais – e que respondem por quase 36% da economia mundial –, (...) podem fazer investimentos em lugares onde os custos são mais baixos, produzir peças num país para serem transformadas em outros e comercializadas em todo o planeta. Ou seja, por trás da expansão do comércio, a economia atual é regida por uma variável ainda mais forte: a expansão rápida da produção comandada por empresas que realizam suas atividades fora do seu país de origem (Barbosa, 2006, p. 55). Segundo Barbosa (2006), a característica mais marcante dentre as observadas na expansão da empresa multinacional é o alcance da produção em países que não o da sua sede. Facilitam esse crescimento as políticas de redução de tarifas e impostos dos países que procuram por investimentos externos em seu território, uma vez que a implantação das multinacionais fora de seu país de origem, na maioria das vezes, acarreta em desenvolvimento ou, ao menos, valorização do território em que se encontram. As empresas multinacionais têm como área de atuação muitos setores de produção ou aplicação financeira, sejam eles de eletroeletrônicos, de produtos esportivos, de automóveis, de telecomunicações, de comércio varejista, de serviços tecnológicos de ponta, etc. Segundo definição da Conferência do Comércio e Desenvolvimento para as Nações Unidas (UNCTAD), uma empresa multinacional seria aquela que possui ao menos uma filial fora de seu país de origem. As multinacionais tiveram origem nos anos 1950, principalmente no setor de mineração e agricultura na Inglaterra. A partir dos anos 1980, elas, individualmente, foram expandindo suas áreas de atuação: em grande número de casos, uma única multinacional passou a controlar empresas de diversos setores. Hoje em dia, as empresas multinacionais têm diferentes 3 Ambiente Econômico Global - Módulo 3 objetivos como foco. Algumas delas procuram obter produtos primários em países subdesenvolvidos (nos quais a mão de obra e os custos de produção são mais baratos); outras pretendem produzir para o mercado interno do país em que estão insta ladas; outras têm como estratégia uma expansão produtiva pelo mundo, muitas vezes tendo como principal fábrica uma alocada fora de seu país de origem. Nos últimos anos, as multinacionais vêm investindo preferencialmente em fusões com outras empresas, ou na abertura de filiais, em detrimento dos investimentos na própria produção; isso pode ser comprovado pelo número cada vez maior de investimentos diretos externos (IDEs), que são um demonstrativo do capital que foi utilizado pelas empresas para investir nos países nos quais abriram suas filiais. Como já dito, alguns países em desenvolvimento acreditam muito na melhoria que os investimentos externos podem trazer aos seus países, sendo então muito receptivos à instalação das multinacionais em seu território. No caso brasileiro, pode-se constatar a participação dos investimentos diretos na figura 2, que apresenta dados da participação de grupos estrangeiros no total de aquisições de empresas brasileiras no período de 1990 a 1999. Figura: Aquisição de empresas brasileiras: participação de grupos estrangeiros (%) Fonte: Banco Mundial. Disponível http://www.geografiaparatodos.com.br/index.php?pag=geobr_cap4 em: A economia dos EUA tem participação enorme no ranking mundial das marcas mais caras do mercado, comprovando o quanto a globalização explica a hegemonia norte-americana nos vários setores de produção. Todas as decisões tomadas pelos outros gigantes da economia – não necessariamente somente os do ranking – levam em consideração a constituição dos blocos comerciais regionais, o que divide categoricamente o mundo em áreas estratégicas. Uma questão a se pensar são as consequências das cada vez mais comuns fusões e aquisições de empresas no mercado. O capital vem sofrendo concentração inédita, com a formação de oligopólios – poucas empresas com o domínio de certa área de produção –, o que pode causar aparição de cartéis – acordo entre empresas que elimina a concorrência e determina os preços, que acabam se elevando. É preciso que se instituam órgãos de regulamentação da concorrência, como a Comissão Europeia, que já vetou fusões ou tentativas de empresas de adquirir outras, como forma de controlar a expansão cada vez mais acelerada das multinacionais. 4 Ambiente Econômico Global - Módulo 3 2. GLOBALIZAÇÃO FINANCEIRA Muito mais visível do que a dinâmica produtiva (e talvez até mesmo mais do que a comercial), a dimensão financeira da globalização é aquela que, segundo Prado (2003, p. 14), diz respeito ao (...) processo de integração dos mercados financeiros locais – tais como os mercados de empréstimos e financiamentos, de títulos públicos e privados, monetário, cambial, seguros, etc. – aos mercados internacionais. No limite os mercados nacionais operariam apenas como uma expressão local de um grande mercado financeiro global. Portanto, este fenômeno não trata apenas do crescimento de transações financeiras com o exterior, mas da integração dos mercados financeiros nacionais na formação de um mercado financeiro internacional. Desde a Primeira Guerra Mundial, os fluxos de capital começaram a circular entre os países e, com mais evidência e de forma repentina, entre os anos 1950 e 1970, já se estabeleciam regras internacionais em relação à circulação de dinheiro global, parte desse fornecido pelo Banco Mundial. Em 1971, chegava ao fim o padrão dólar-ouro e aumentavam as oscilações de moeda, estimulando as aplicações especulativas. Desde então, as tais regras pretendem facilitar as transações de capital pelo mundo, principalmente no que respeita aos fundos de investimento e de pensão estabelecidos nos anos 1980. Os governos têm procurado elevar suas taxas de juros com o objetivo de atrair investimentos, e as empresas emitem bônus diretamente no mercado, fazendo com que o dinheiro circule com mais rentabilidade. “Como num gigantesco sistema circulatório, o sistema financeiro ‘retira’ renda de todas as fontes – dos impostos, dos salários e dos lucros das empresas – sugando-a para aplicações consideradas mais vantajosas” (Barbosa, 2006, p. 66). A novidade é a cada vez menor participação efetiva e necessária dos bancos, cujos papéis foram substituídos pelos órgãos de fundos de investimento e seguradoras. Isso faz com que a preocupação de muitas empresas hoje em dia esteja voltada mais para o capital especulativo, valorizando suas ações, do que à produção em si, que depende da conquista de mercados e da aceitação do consumidor. Nesse cassino especulativo, os derivativos são as fichas nas quais os aplicadores financeiros apostam, aplicadores esses que contam com as inovações tecnológicas para melhor acessar informações que permitam as jogadas certas e mais lucrativas. Além disso, o dinheiro também é global: as transações são facilitadas utilizando-se travelers cheques, moedas de referência ou mesmo moeda comum (como é no caso da União Europeia, que adotou o euro). É o mercado do capital portador de juros que, conservando a forma dinheiro, viveria de rendimentos, tornando-se hegemônico. Tal dimensão explicaria, inclusive, a dinâmica especulativa do próprio capital, sempre em busca do porto mais seguro ou do terreno mais fértil (leia-se: que proporciona menores restrições na sua movimentação). É o mercado que cresce mais do que a economia real, que cresce mais do que o próprio 5 Ambiente Econômico Global - Módulo 3 comércio mundial, e que cria verdadeiras bolhas ilusórias de riqueza. A figura 3 mostra a relação entre o comércio mundial e os derivativos, dando-nos, inclusive, uma pista das origens da crise econômica que estourou no final do ano passado. Figura: Derivativos X Comércio mundial Fontes: BISS, Fortune, SWAP, Monitor, EIR. Disponível em: http://www.asip.org.ar/es/seminarios/int031/ponencias/images/carvalho_gr afico1.gif A necessidade de capital para investimento ou para fazer frente aos serviços de dívidas externas por parte dos países em desenvolvimento também cria a ilusão da “aldeia” monetária global: juros são mantidos em níveis elevados para atrair o capital especulativo, mesmo que esses juros comprometam mais ainda a estrutura do endividamento externo. Não à toa, vimos – ao final do século passado e no início deste – inúmeras crises que se assemelham nas origens e se diferenciam nos efeitos que provocam: México, Tailândia, Indonésia, Coreia do Sul, Brasil e Argentina são alguns exemplos que podemos citar. Vale a pena lembrar: “Enquanto não existir uma autoridade global encarregada de implementá-la [a regulação dos fluxos financeiros internacionais] e as crises não afetarem os países mais poderosos, a esfera financeira tende a se expandir ainda mais, gerando instabilidade” (Barbosa, 2006, p. 73). 6 Ambiente Econômico Global - Módulo 3