Perfil Epidemiológico da Hepatite C em doadores de sangue da cidade de Anápolis-GO NASCIMENTO, Mirlene Garcia1 SOUZA, Karla Prado2 RAMOS, Cleliana Sanches e Silva3 Palavras-Chave: Hepatite C. Vírus da Hepatite C. Doadores de Sangue. Hemoterapia. 1 Introdução O vírus da hepatite C (VHC) foi identificado há 14 anos, sendo hoje a maior causa de doença crônica hepática em diversas áreas geográficas do mundo. Pelo menos 3% da população mundial encontra-se infectada pelo VHC, sendo que a grande maioria desconhece este fato. A principal forma de transmissão da hepatite C é a via parenteral, sendo a transmissão sexual bastante discutida e, a disseminação intrafamiliar podendo ocorrer quando há compartilhamento de objetos cortantes de uso pessoal. Já a transmissão vertical é pouco eficiente, podendo ocorrer durante o parto. O principal problema da hepatite C reside na assintomatologia da infecção, sendo esta uma doença silenciosa. Nesse contexto, os indivíduos portadores do VHC são importantes fontes de disseminação ambiental do vírus. Somado a isso, é sabido que o VHC é o agente causal de mais de 90% das hepatites póstrasnfusionais. Assim, todas as pessoas receptoras de hemoderivados antes de 1994, devem ser cuidadosamente avaliadas. Cerca de 70% dos indivíduos contaminados evoluem para a cronicidade, totalmente assintomáticos, sem ter conhecimento da presença do marcador antiVHC ou aumento das enzimas hepáticas. Como os anticorpos anti-VHC só surgem após quatro a 20 semanas após o contágio, nessa fase de janela imunológica pode ocorrer a doação de sangue contaminado pelo VHC. Por esses motivos, compreender a freqüência do VHC em unidades de doação de sangue e analisar os fatores de risco relacionados à sua positividade é estratégia fundamental para o controle dessa infecção que carece de atenção especial dentro das doenças infecto-contagiosas que afetam a comunidade. Sendo assim, foi objetivo da presente pesquisa, investigar a prevalência do VHC em doadores de sangue da cidade de Anápolis-GO, em uma série histórica de dez anos (maio/1996 a dezembro/2005), bem como ___________________________________ 1 Bolsista PBIC – Curso de Enfermagem Professora Mestre – Curso de Enfermagem 3 Professora – Curso de Enfermagem 2 conhecer os fatores de risco para aquisição do VHC a que indivíduos doadores de sangue foram expostos durante sua vida. 2 Metodologia O presente estudo foi dividido em duas etapas. A primeira tratou-se de um estudo retrospectivo, documental, utilizando-se estatísticas não oficiais do arquivo de uma unidade de doação de sangue da cidade de Anápolis-GO. A partir dos dados coletados nesse arquivo, formam estabelecidas as incidências anuais do agregado institucional, bem como a prevalência global da infecção pelo VHC na instituição, na série histórica de dez anos. A segunda etapa tratou-se de um estudo prospectivo, descritivo, composto pela aplicação de um formulário a 120 doadores de sangue, no mês de setembro de 2006, contendo questões sobre comportamentos de risco para a infecção pelo VHC e também um questionário para levantamento do nível de conhecimento dos doadores sobre as formas de transmissão e prevenção da hepatite C. Este estudo foi apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UniEVANGÉLICA e segue os princípios da pesquisa envolvendo seres humanos. 3 Resultados e Discussão No período de maio/1996 a dezembro/2005, 142.586 pessoas doaram sangue na unidade estudada. A prevalência da infecção pelo VHC no período foi de 19,14/10.000 doadores. As incidências anais variaram de 10,97/10.000 em 2005 a 46,72/10.000 em 1997. Assim, é notória uma redução da incidência institucional, com uma tendência à redução da circulação viral, com o passar dos anos. Na etapa prospectiva do estudo, foram entrevistados 120 doadores de sangue, onde a maioria 89,16% era do sexo masculino, a média de idade de 32,09 anos (19-59anos), apresentando em sua maioria nível médio de ensino. Esses dados demonstram um perfil já conhecido em estudos que abrangem doadores de sangue. Dentre os principais comportamentos de risco relatados pelos sujeitos da pesquisa, destacam-se aqueles relacionados à principal via de transmissão do VHC, a via parenteral. São eles: o recebimento de hemoderivados antes de 1994 (7/120), o uso de tatuagem e/ou piercing (9/120), realização de cirurgias prévias (37/120) e atendimento em serviços de urgência/emergência (63/120). Na via intrafamiliar, 42 dos 120 entrevistados relataram compartilhar instrumentos cortantes de uso pessoal. Quanto à via sexual, menos efetiva na transmissão do VHC, 69/120 doadores 2 relataram não usar preservativo em todas as relações sexuais. Mesmo com esses fatores relatados, na análise dos marcadores sorológicos realizada pela unidade de doação de sangue, nenhum doador foi reagente ao marcador anti-VHC, revelando que, mesmo estando expostos ao vírus, os doadores do estudo não possuem a doença. Por fim, em relação á análise do nível de conhecimento desses doadores sobre as formas de transmissão e prevenção da hepatite C, percebe-se um nível razoavelmente satisfatório quanto aos mecanismos de transmissão e prevenção da doença, com apenas alguns equívocos quanto à confusão com outros tipos de hepatites virais. Porém, vale ressaltar, que alguns aspectos da transmissão parenteral ainda são subestimados por parte significativa dos doadores (~50%). Também vale evidenciar que esses dados ainda são preliminares e a análise prospectiva completa ainda está em andamento. 4 Conclusão Embora tenhamos notado uma redução progressiva das incidências do VHC na unidade de hemoterapia estudada e um razoável nível de conhecimento sobre hepatite C entre os doadores de sangue, consideramos que bancos de sangue ainda sejam locais de excelência para o diagnóstico precoce da hepatite C, uma doença silenciosa, subestimada em seus valores e que inevitavelmente pode conduzir um paciente à morte se não for tratada adequadamente. 5 Referencias Bibliográficas FERREIRA, C.T.; SILVEIRA, T. R. da. Hepatites virais: aspectos da epidemiologia e da prevenção. Revista Brasileira de Epidemiologia, São Paulo, v.7, n.4, p.473-487, Dez, 2004. FOCACCIA, R., SICILIANO, R.F., SANTOS, E.D.B. et al. Hepatitis C: a critical analysis of therapeutic response predictors. The Brazilian journal of Infectious Diseases, São Paulo: vol.6, n.2, p.74-81, abr. 2002. PALTANIN, L. 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