Estabelecimento de mudas de Rhizophora mangle na

Propaganda
Universidade Federal do Pará
Instituto de Estudos Costeiros
Faculdade de Ciências Naturais
Laboratório de Ecologia de Manguezal
Jéssica Louise Dias
Estabelecimento de mudas de Rhizophora mangle na
comunidade de Taperaçu-Campo, Bragança-PA
Bragança – PA
2014
Estabelecimento de mudas de Rhizophora mangle na
comunidade de Taperaçu-Campo, Bragança-PA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Colegiado do Curso de Licenciatura Plena
em Ciências Naturais, da Universidade Federal
do Pará, Campus Bragança, como requisito
parcial
para
a
obtenção
do
Grau
Licenciando em Ciências Naturais.
Orientador: Profª.Erneida Coelho de Araújo
Bragança – PA
2014
de
Estabelecimento de mudas de Rhizophora mangle na
comunidade de Taperaçu-Campo, Bragança-PA
Trabalho de Conclusão apresentado ao Colegiado do Curso de Licenciatura Plena em
Ciências Naturais, da Universidade Federal do Pará, Campus Bragança, como requisito
parcial para a obtenção do Grau de Licenciando em Ciências Naturais.
Data aprovação: __29_____de _____agosto__________de 2014.
__________________________________________________– Orientador
Profª. Drª. Erneida Coelho de Araújo
Universidade Federal do Pará, Campus de Bragança- UFPA
__________________________________________________– Co-orientador
Prof. Dr. Marcus Emanuel Fernandes
Universidade Federal do Pará, Campus de Bragança- UFPA
__________________________________________________– Titular
Msc. Danilo Gardunho
Universidade Federal do Pará, Campus de Bragança- UFPA
__________________________________________________– Titular
Profº Helton Pacheco (Engº Agrônomo)
Instituto Federal do Pará - IFPA
__________________________________________________– Suplente
Dr. Cesar França
Universidade Federal Rural da Amazônia -UFRA
Dedico este trabalho aos meus
avós maternos, que foram e
sempre serão meus primeiros pais,
desde meus primeiros passos neste
mundo.
Agradecimentos
Agradeço primeiramente à Deus, que me forneceu a disposição necessária para a
realização desse trabalho, sendo meu Criador e bondoso Pai, paciente, amoroso e digno
de toda honra e glória na terra e nos céus.
Em segundo lugar, eu agradeço aos meus pais. Em especial à Neila, minha mãe, que
se manteve fiel, companheira e guerreira ao meu lado, sendo minha melhor amiga e
conselheira, mesmo em momentos de sofrimento e perda, ao qual nossa família passou
durante esses últimos meses. Eu admiro muito a sua força, amável mãe.
Ao Silmar, que foi muito mais que um exemplo de pai, conselheiro e amigo, e que
infelizmente nos deixou tão precocemente. O meu amor por você ultrapassa as barreiras
da morte, e eu jamais lhe esquecerei.
Aos meus tios Alcides e Zil por todo o cuidado e preocupação comigo durante o
percorrer do curso e dessa pesquisa.
Agradeço à minha orientadora, Profª Erneida Coelho, por toda a dedicação e
paciência com que me acolheu durante a concepção desse trabalho, sua contribuição foi
de vital importância para a realização deste.
Agradeço ao Laboratório de Ecologia de Manguezal e ao Campus da UFPA de
Bragança pelo suporte necessário na concretização dessa pesquisa, e à todos os
funcionários e alunos envolvidos durante esse período: César, Gustavo, Lílian e Alex.
Aos meus amigos do campo que me auxiliaram no decorrer da pesquisa, sendo meus
guias e “protetores” nos momentos de perigo. Em especial ao Moisés, por seu bom ânimo
e bom humor imensurável.
Ao meu fiel, melhor e amado amigo, braço direito e esquerdo Luan Rabelo, pelos
cafés, por me amparar, pelas orientações, pelos socorros desesperados de última hora,
por rir e fingir chorar junto comigo. Sem você, meu caro, esse trabalho não existiria, ou
não teria se concluído. Sem você, eu não seria eu. Resistir é inútil.
Aos meus amigos e amores por todo o apoio, carinho e amor incondicional, mesmo na
falta de tempo e ausência que lhes causei: Ariane, Brendo, Cristiana, Marcos e Bárbara.
O meu amor por vocês vai além de qualquer laço estabelecido nesse mundo.
“Cultive o hábito de ver o
invisível.”
John Piper
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Mapa Área de estudo, Península de Ajuruteua, comunidade de
Taperaçu-Campo........................................................................................................
11
Figura 2 - Área degradada em Taperaçu-Campo.......................................................
12
Figura 3: Precipitações pluviométricas anuais e médias mensais registradas
durante a condução do experimento..........................................................................
13
Figura 4 - Área experimental no período chuvoso............................................................
14
Figura 5 - Área no período seco.................................................................................
13
Figura 6 - Configuração de análise de Escalonamento Multidimensional (MDS) em
relação a sobrevivência com base nos meses, área experimental de TaperaçuCampo........................................................................................................................
Figura 7 - Configuração de Análise de Escalonamento Multidimensional (MDS) em
relação a altura com base no período/mês................................................................
14
17
LISTA DE TABELAS
Tabela 01- Médias e desvio padrão da sobrevivência de Rhizophora mangle em campo
aos 10 meses após o plantio, Taperaçu Campo, Bragança-Pará ..................................... 17
Tabela 02 - Sobrevivência de propágulos/mudas de R, mangle em campo aos 10 meses
após o plantio, Taperaçu Campo, BragançaPará....................................................................................................................................18
Tabela 03 - Médias e desvio padrão da altura de Rhizophora mangle em campo aos 10
meses após o plantio, Taperaçu Campo, Bragança-Pará..................................................20
Sumário
1 - Introdução....................................................................................................................... 1
1. 1 O ecossistema manguezal ....................................................................................... 1
1.2 Características dos manguezais ................................................................................ 2
1.3 Distribuição mundial e no Brasil ................................................................................ 3
1.4 Solo do manguezal .................................................................................................... 4
1.5 Espécies e adaptações de espécies vegetais ........................................................... 4
1.6 Ações antrópicas no mangue.....................................................................................6
1.7 Restauração de manguezal no Brasil ........................................................................ 7
1.8 Técnicas de Restauração...........................................................................................7
1.9 Mortalidade em plantios de propágulos ..................................................................... 9
2 – Objetivos ...................................................................................................................... 10
3. 1 Caracterizações da área de implantação do experimento ...................................... 11
3.2 Clima da região e regime de maré .......................................................................... 12
3.3 Espécie utilizada na manutenção do plantio ........................................................... 13
3.3.1 Viveiro ....... ....................................................................................... ....................15
3.3.1 Métodos de plantio ...............................................................................................15
3.4 Avaliações ............................................................................................................... 15
3.4.1 - Sobrevivência e crescimento em altura da espécie ........................................... 15
3.5 – Análise de dados .................................................................................................. 15
4 – Resultados ................................................................................................................... 16
4.1 Sobrevivência ......................................................................................................... 16
4.2 Crescimento em altura ........................................................................................... 19
5 – Discussão .................................................................................................................... 20
5.1 Sobrevivência .............................................................................................................. 20
5.2 Crescimento em altura ........................................................................................... 22
6 – Conclusão.....................................................................................................................22
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 24
ESTABELECIMENTO DE MUDAS DE RHIZOPHORA MANGLE NA COMUNIDADE
TAPERAÇU-CAMPO, BRAGANÇA-PARÁ
RESUMO
A pesquisa teve o objetivo avaliar diferentes métodos de plantio de propágulos e mudas
de Rhizophora mangle em uma área impactada de manguezal. O experimento foi
instalado na comunidade de Taperaçu-Campo, no município de Bragança-PA. O
delineamento adotado foi o inteiramente casualizado com 4 métodos e 4 repetições. Cada
parcela experimental foi constituída com 25 propágulos/muda espaçadas de 1,0 m entre
plantas e 1,0 m entre linhas. Os dados foram analisados pelo pacote estatístico Primer®
6, para avaliar se houve diferenças significativas entre os meses de avaliação, e as
tabelas com os dados de médias e desvio padrão foram efetuadas pelo programa Excel.
Os resultados demonstraram que o percentual e a média de sobrevivência das mudas de
R. mangle nos diferentes métodos foram superiores no período chuvoso, contrastando
todavia com a alta taxa de mortalidade das mudas no final do período seco. Para a
variável altura, os dados indicaram que as maiores médias de crescimento foram
registradas no período seco, apesar do alto índice de mortalidade. A utilização de
fixadores artificiais e os propágulos pré-enraizados não favoreceram a sobrevivência das
mudas de R. mangle.
Palavras chave – Rhizophora mangle, sobrevivência, crescimento de mudas.
ABSTRACT
The study aims to evaluate different methods of planting propagules and seedlings of
Rhizophora mangle in a mangrove area impacted. The experiment was installed in
Taperaçu-field community in the municipality of Bragança-PA. The design was completely
randomized with four methods and four repetitions. Each experimental plot consisted of 25
seedlings / switches spaced 1.0 m between plants and 1.0 m between rows. Data were
analyzed using the Statistical Package Primer® 6, to assess whether there were significant
differences between the months of evaluation, and the tables with the data mean and
standard deviation were made by the Excel program. The results showed that the
percentage and the average survival of seedlings of R. mangle the different methods were
higher in the rainy season, however, contrasting with the high mortality rate of seedlings at
the end of the dry period. For variable height, the data indicated that the larger growth
were recorded in the dry season, despite the high rate of mortality. The use of artificial
fasteners and pre-rooted seedlings did not favor the survival of seedlings of R. mangle.
Key words – Rhizophora mangle, survival, seedling growth.
1
1 - Introdução
1. 1 O ecossistema manguezal
As florestas de mangue são ecossistemas abertos, de grande complexidade, onde
acontecem significantes conexões entre o solo, o estuário, o oceano e o sistema
atmosférico (CUNHA-LIGNON et al., 2009).
Manguezais são componentes significativos dos ecossistemas tropicais (VANCE et
al., 1990), que se desenvolvem em zonas litorâneas associadas a cursos d’água, em
áreas encharcadas, salobras e calmas, com influência das marés, porém não atingidos
pela ação direta das ondas. Geralmente, são sistemas jovens que, seguindo a dinâmica
das marés nas áreas em que se localizam, produzem a modificação na topografia desses
terrenos, resultando em uma sequência de recuos e avanços da cobertura vegetal
(SCHAEFFER-NOVELLI, 2002).
Ressalta-se que esse ecossistema possui uma enorme importância econômica,
como a exportação de material orgânico para o estuário, contribuindo para a produtividade
primária da zona costeira, e uma fauna e flora típicas de ambientes salinos, que
desenvolveram várias adaptações evolutivas para a sobrevivência e propagação das
mesmas, e até certo tempo atrás, possuía pouco valor, e tampouco despertava o
interesse da população que não fosse a que naturalmente vive em seu entorno e
necessita dele para seu sustento e subsistência.
Vanucci (2003) aborda que grandes áreas de manguezais começaram a sofrer
consequências com a mudança nas formas de uso, causadas pelo avanço do
desenvolvimento. Por se situarem em áreas costeiras, que acarretam fortes demandas
turísticas e uma ânsia pela lucratividade a qualquer custo, esses ambientes vêm sofrendo
com consideráveis perdas em sua vasta biodiversidade, que afeta não somente o
ecossistema em si, mas as comunidades que dele fazem uso.
Diante disso, Vanucci (2003) ressalta que as áreas impactadas aumentam de
maneira alarmante, trazendo consigo a preocupação com o futuro desse ecossistema tão
valioso e rico, que contribui gratuitamente com serviços naturais dos quais precisamos.
Com a crescente degradação, medidas precisaram e começaram a ser tomadas para que
fossem repensadas as formas de uso e manejo dessas áreas, e estudos começaram a
2
ser realizados e analisados sobre os impactos causados pelo homem e pela comunidade.
Um dos impactos mais preocupantes é a retirada de árvores típicas de manguezal de
maneira inviável, fazendo com que a flora desapareça e o ecossistema sofra diversas
consequências, e, por conseguinte a comunidade que nele vive também seja atingida de
maneira preocupante, afetando a fauna e os meios de sobrevivência da mesma.
Diversos estudos já foram realizados a respeito de impactos ambientais em áreas
de manguezal, e projetos já foram aprovados para que se fizesse o replantio de áreas
degradadas.
Com intuito de reverter este quadro catastrófico, pesquisadores buscam, desde a
década de 1970, em várias regiões tropicais e subtropicais do mundo, aperfeiçoar
técnicas que possibilitem restaurar os ecossistemas manguezais, através do replantio de
suas espécies vegetais, os mangues, (FIELD, 1997). Tais estudos têm como objetivos o
levantamento de dados sobre diferentes técnicas, como: o cuidado para com os
propágulos antes de serem semeados; a produção de mudas; a avaliação das melhores
épocas para semear propágulos, plantar e transplantar plântulas; a forma de plantio; e o
monitoramento pós-plantio. (HUBER; OTHERS, 2004)
Partindo desse pressuposto, faz-se necessário o conhecimento de diferentes
técnicas de replantio, o estudo e avaliação de variadas formas de reflorestamento,
tentando assim viabilizar a melhor maneira de se replantar uma área impactada, para que
os resultados obtidos sejam satisfatórios.
É de grande relevância a realização de pesquisas sobre a situação real dos
manguezais, com as possibilidades de regeneração, ou as necessidades de auxílio para a
recuperação, através de restaurações elaboradas pelas mãos de quem os degradou, o
Homem. Assim, fica clara a necessidade de serem desenvolvidos estudos, e projetos que
englobem restaurações, como também aplicação de medidas mitigadoras, visando à
melhoria, a conservação e até a ampliação de áreas com estes ecossistemas tão
relevantes. (HUBER; OTHERS, 2004).
1.2 Características dos manguezais
Por conta de sua biodiversidade, as áreas de manguezais são consideradas
importantes berçários naturais, contribuindo de forma econômica e ecológica para a
subsistência das comunidades que se instalam em seu entorno. Esse ecossistema ainda
3
possui uma dinâmica entre solo e vegetação, que ao longo do tempo sofreram
adaptações de vital importância para a sua sobrevivência.
As regiões apresentam características ambientais distintas e os manguezais estão
sujeitos a diferentes tipos de tensores que influenciam no desenvolvimento estrutural das
florestas de mangue (LUGO & SNEDAKER1974).
Os fatores ambientais que controlam e influenciam a estrutura e a produtividade
das florestas de manguezais varia no tempo e no espaço (Day Jr. et al., 1996) e dentre
eles se destacam: hidrologia, entrada de nutrientes, salinidade e tipo do solo (LUGO et al.,
1988).
Para uma adequada gestão do ecossistema manguezal deve-se considerar a
escala espaço-temporal, conservando os processos que controlam o sistema e limitando
a apropriação de produtos (CINTRON-MOLERO; SCHAEFFER-NOVELLI, 1992), e ainda
a constante plasticidade desse ecossistema para a elaboração e efetivação da gestão de
ambientes costeiros (CUNHA-LIGNON, 2001).
Do ponto de vista ecológico, o manguezal tem sido estudado sob os aspectos
estrutural e funcional. O estudo da estrutura inclui informações sobre diversidade, altura,
diâmetro, área basal, densidade, distribuição por classe etária e padrões de distribuição
espacial das espécies componentes da floresta; na ótica funcional, estuda-se a ciclagem
de nutrientes e fluxos de energia no ecossistema (LUGO & SNEDAKER 1974; SMITH
1992). Este ambiente desempenha um considerável papel como produtor e exportador de
material orgânico, contribuindo com a produtividade de estuários e zonas costeiras.
1.3 Distribuição mundial e no Brasil
Os manguezais existem em praticamente todos os continentes e estão nas regiões
tropicais e subtropicais, alcançando maiores extensões nos estuários ou locais de
geografia plana onde a maré tem maior fluxo, segundo Schaeffer-Novelli (1995).
De acordo com o Atlas de Manguezais (SPALDING et al., 2010), este ecossistema
representa 8% de toda a linha de costa do planeta e um quarto da linha de costa da zona
tropical, perfazendo um total de 181.077 km2, e o Brasil apresenta a segunda maior área
de manguezal do mundo com cerca de 13.000 km 2, correspondendo a 8,5% do total
mundial, perdendo apenas para a Indonésia com 31.894 km2.
4
No Brasil, os manguezais ocorrem a partir do estado do Amapá, no Norte de Santa
Catarina, no sul do país. A costa norte tem uma área de aproximadamente 8000 km2 de
manguezais. (SOUZA-FILHO, 2005).
Os manguezais apresentam quatro compartimentos interdependentes, porém com
características intrínsecas bastante individualizadas: água, solo, flora e fauna. Esses
ecossistemas fundamentam a perfeita integração e o equilíbrio dinâmico entre os seus
constituintes no contexto ambiental. (ALVES, 2002).
1.4 Solo do manguezal
Os solos de mangue são solos halomórficos desenvolvidos a partir de sedimentos
marinhos e fluviais com presença de matéria orgânica e que ocorrem em regiões de
topografia plana na faixa costeira sob a influência constante do mar. Todas as classes de
solos dessas áreas estão associadas à influência marcante da água. (EMBRAPA, 1978;
LANI, 1998).
No sedimento do ecossistema manguezal, os teores de nutrientes variam ao longo
da zona entre marés como decorrência das flutuações marinha e do nível de saturação do
sedimento que influencia o potencial redox determinante na disponibilidade dos elementos
químicos (TOMLINSON, 1986).
Os sedimentos dos manguezais apresentam como característica geral, teores de
silte (de 70 %), argila (de 10 a 20%) e areia, menos que 10%. A mineralogia é constituída
por quartzo, caulinita, ilita e minerais autogênicos: esmectita, sulfetos (principalmente
pirita), gipso e halita, identificando-se também restos de folhas, raízes e carapaças de
animais e abundantes diatomáceas. (BERREDO, 2008)
Embora os manguezais sejam reconhecidamente ambientes muito ricos, viver
nestes ecossistemas implica em grande adaptação fisiológica, seja para fanerógamos,
criptógamos ou animais. Isso se deve ao fato de que este ambiente é sujeito a amplas
alterações diárias na salinidade, devido à influência da mistura de águas doces e
marinhas regulada, por sua vez, pela variação das marés. Além disso, o substrato
costuma ser instável (partículas de solo muito finas) com grande variação no volume de
água. (BRANCO et al., 2003)
1.5 Espécies e adaptações de espécies vegetais
Os manguezais do Brasil caracterizam-se pela semelhança na composição florística,
5
contendo, porém, menor número de gêneros e espécies que em outros países
(ANDRADE & LAMBERTI, 1965). Segundo Tomlinson (1986), os manguezais da América
do Sul possuem apenas 8 espécies exclusivas de mangue, distribuídas em apenas três
gêneros considerados típicos de mangue. Estes gêneros são: Rhizophora, que se
caracteriza por apresentar as raízes escoras; Avicennia, que apresenta raízes em
geotropismo negativo, que auxiliam nas trocas gasosas com o ar (pneumatóforos),
Laguncularia, que também apresenta pneumatóforos, e possui folhas com pecíolo
vermelho.
De acordo com Abreu et al. (2006) no manguezal da península bragantina, três
espécies se destacam: Rhizophora mangle L. (Rhizophoraceae), Avicennia germinans (L.)
Stearn (Avicenniaceae) e Laguncularia racemosa (L.) Gaertn. f. (Combretaceae). A família
Rhizophoraceae é constituída de 15 gêneros com cerca de 140 espécies distribuídas nas
regiões tropicais e subtropicais do mundo. Esta família possui apenas cinco gêneros
representados na região Amazônica, ocupando diferentes hábitats, desde manguezais até
florestas de terra-firme. O gênero mais típico do manguezal é o gênero Rhizophora L.
(PRANCE et al., 1975).
O gênero Rhizophora é composto por árvores ou arbustos, com folhas coriáceas,
inflorescência cimosa, flores com pedúnculo, quatro sépalas lanceoladas e coriáceas,
quatro pétalas inseridas em um disco carnoso, estames com oito filamentos curtos
(PRANCE et al., 1975). Esse gênero apresenta viviparidade, ou seja, o processo de
germinação da semente ocorre enquanto o embrião ainda está envolvido no fruto e preso
à planta mãe. O hipocótilo do broto cresce antes de desligar-se da planta parental, até o
propágulo atingir a forma de uma haste alongada. Quando se desprendem da planta
mãe, os propágulos são transportados pelas correntes de marés, permanecendo viáveis
por longos períodos de tempo (no caso da espécie R. mangle até um ano). Árvores de
Rhizophora possuem um sistema de raízes aéreas arqueadas (raízes escoras) que
emergem perpendicularmente do tronco e penetram superficialmente no substrato
formando um sistema capilar extensivo (CINTRON; SCHAEFFER NOVELLI, 1981).
Para os manguezais da região amazônica são descritas três espécies dentro do
gênero Rhizophora, que são: Rhizophora mangle L., Rhizophora racemosa G. F. W. Meyer
e Rhizophora harrisonii Leechman (PRANCE et al., 1975).
Das três espécies de
Rhizophora, apenas R. mangle é distribuída mais amplamente, ocorrendo desde os
6
manguezais da costa do Estado do Amapá, até o Estado de Santa Catarina (LACERDA,
1999), todavia, é importante ressaltar que a espécie dominante pode variar de manguezal
para manguezal, em virtude das características abióticas e bióticas (ex.: tolerância à
inundação e à salinidade, competição interespecífica), além da influência do estresse
natural e antrópico (PETRI et al., 2011). Diversos fatores bióticos e abióticos interagem e
variam de um local para outro, afetando a distribuição espacial distinta das espécies, pois
cada uma responde diferentemente às variáveis (JIMÉNEZ; SAUTER, 1991).
A concentração dos nutrientes minerais em plantas de ecossistemas costeiros pode
variar, consideravelmente, em virtude de fatores ambientais, como a frequência de
inundação pelas marés, velocidade de correntes e aporte de água dos rios. A
sazonalidade no regime fluvial e pluvial pode interferir na disponibilidade de elementos
minerais e alterar a absorção e partição dos elementos minerais em plantas e nas
propriedades físico-químicas do substrato (KJERFVE 1990, BERNINI et al. 2010).
1.6 Ações antrópicas no mangue
Segundo Vanucci (2003), durante muito tempo esse ambiente de manguezal foi
sido negligenciado de forma destrutiva, tanto pelos habitantes naturais, que fazem uso de
suas riquezas sem o devido conhecimento necessário para que o equilíbrio nessas áreas
seja mantido, quanto pela sociedade como um todo, que consome grande parte da
matéria bruta que é retirada do mangue para ser comercializada, sem ser feita uma
reposição necessária daquilo que lhe foi retirado, nem ao menos o manejo adequado de
áreas que começam a sentir os impactos e consequências desse consumo desenfreado e
a busca por esses recursos.
Para avaliar o processo de regeneração de florestas de mangue, deve-se focar a
análise da ocupação da área degradada por jovens das espécies vegetais. Apesar da
importância dos manguezais serem universalmente reconhecida, a melhor forma de lidar
com esses ecossistemas únicos é ainda um problema. Grande parte das zonas úmidas
costeiras, que incluem os manguezais vem sofrendo, em maior ou menor grau, pressões
antrópicas, e alguns tipos de uso (ou abuso) incluem a destruição total de suas florestas
(VANNUCCI, 2004).
De acordo com Tsuji (2010) a extensão das áreas de manguezais no mundo vem
sofrendo decréscimos em seus valores originais, e isso tem sido causado por atividades
7
humanas, tais como: exploração dos recursos, alteração de lagos para aquicultura,
desenvolvimento de portos, áreas urbanas ou turismo, poluição, etc. No Brasil, todos os
efeitos antrópicos são observados e resulta em considerável degradação e perda dos
manguezais existentes.
Aliado a isso, as transformações climáticas vêm pressionando esses ecossistemas,
já que são extremamente dependentes das oscilações do nível do mar e dos influxos de
água doce, ou seja, os manguezais estão entre os ecossistemas mais ameaçados do
planeta (LIMAYE; KUMARAN, 2012).
De acordo com os estudos de Glaser (2003) os manguezais ao longo da península
de Ajuruteua têm sido utilizados pelos moradores locais tradicionalmente para produção
de lenha, construção civil, medicamentos, porém, a maior parte da degradação tem sido
causada pelo comércio ilegal de madeira para as olarias.
Os manguezais da Amazônia brasileira estão dentre os mais desenvolvidos ao
redor do mundo. Dessa forma, é lícito considerar que as condições ambientais nessa
região propiciam um alto potencial de recuperação do sistema, o que certamente é um
fator positivo na restauração e manutenção desse ecossistema na costa amazônica
brasileira. (TSUJI, 2010).
1.7 Restauração de manguezal no Brasil
De acordo com Field (1996) os estudos realizados sobre restauração de espécies
de manguezal no Brasil são escassos e pouco explorados. Existe o reconhecimento nos
dias de hoje, tanto pelos governos vigentes quanto pelas agências de financiamento
internacionais, de que estão sendo degradadas grandes áreas de manguezais em uma
taxa inaceitável, preocupando as comunidades locais com o fato de que os recursos do
manguezal, dos quais essas comunidades dependem para sobrevivência e proteção
estão rapidamente sendo destruídos. Esse aumento na sensibilização do homem resultou
na melhoria do manejo do ecossistema manguezal (FIELD, 1996).
Nas Américas, os trabalhos de restauração de manguezais são mais recentes, com
muita fundamentação teórica, enfocando, com maior constância as funções do
ecossistema, enquanto na região oriental, o manejo e a exploração de áreas de
manguezal são mais antigos, mais empíricos e menos teóricos. O método para plantio de
8
mangue foi descrito pela primeira vez por volta de 1920, por J. G. Watson, um dos
pioneiros na instalação dessas plantações comerciais na Malásia (FIELD, 1997).
Os primeiros trabalhos sobre recuperação de manguezais no Brasil começaram a
ser relatados no início dos anos 90 e ocorreram, em especial, nos estados da Bahia, Rio
de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. (HUBER; OTHERS, 2004).
. Além de trabalhos técnicos existiram iniciativas ligadas à educação ambiental e
conservação de manguezais que procuraram por meio da participação popular,
principalmente com crianças, plantar espécies de mangue, contribuindo assim para a
recuperação e conservação deste ecossistema. (MENEZES et al., 2005)
Em um estudo feito sobre a mortalidade massiva dos manguezais no Brasil,
Jimenez et al. (1985) atestam que a recuperação depende da natureza do distúrbio, sua
persistência e recorrência, do tipo de floresta afetada e da disponibilidade de propágulos.
Os autores também afirmam que após uma perturbação natural o processo de
recuperação tende a ser mais rápido do que após uma intervenção antrópica, pois essas
são crônicas ou criam condições ecológicas não propícias para a regeneração das
espécies de mangue.
1.8 Técnicas de Restauração
Estudos realizados por Vannucci (2004) indicam que apesar de existir grande
volume de dados sobre manguezais, apenas pequena parte destes está publicada em
jornais científicos, o que dificulta sua preservação.
Nesse contexto, os estudos da estrutura da vegetação dos manguezais permitem
detectar as respostas desse ecossistema às variações ambientais, assim como a adoção
de ações que contribuam para sua conservação (SOARES, 1999). Nos processos de
restaurações, todos os sucessos, fracassos, incertezas e métodos devem ser relatados
por escrito, para que não se percam. (FIELD, 1997).
Na literatura é possível encontrar uma variedade de técnicas de replantio descritas
em diversos trabalhos no mundo e no Brasil. Em seu estudo sobre manguezais, Field
(1996, 1998) enumerou em três pontos as principais razões para se restaurar esses
ecossistemas: 1) conservação da paisagem e do sistema natural, 2) produção sustentável
dos recursos naturais e 3) proteção das áreas costeiras.
Em seu trabalho na península de Ajuruteua, Tsuji (2010) fez uso de algumas de um
9
design experimental. No estudo, o autor utilizou a construção de viveiro, local onde
construiu uma espécie de caixa utilizando tábuas de madeira, que recebia influência da
maré, e as mudas permaneceram até a maturação exata para serem transplantadas no
campo. Na etapa de reflorestamento no campo, foi feita a utilização de duas técnicas,
sendo a primeira através de mudas do viveiro sendo implantadas, e a segunda com o
replantio direto de sementes e propágulos no campo. (TSUJI, 2010).
Feema (1979) fez uso de estudos comparando técnicas de transplante de espécies
de manguezal (R. mangle, L. racemosa e A. germinans), avaliando taxa de sobrevivência
e crescimento como indicadores de sucesso.
Menezes et al. (1994), em um estudo realizado sobre Manguezais de Cubatão,
tiveram como objetivo o estabelecimento de uma base metodológica para o plantio de
Rhizophora mangle e verificar a viabilidade desta espécie na recuperação de manguezais.
Foi efetuado um teste que evidenciasse a influência dos seguintes fatores no
sucesso do plantio: estágio de desenvolvimento (propágulo e plântula), tipo de sedimento
(mais ou menos consolidado) e necessidade do emprego de fixadores artificiais (estacas)
para evitar o arraste de mudas pela maré.
1.9 Mortalidade em plantios de propágulos
O estabelecimento da plântula é uma fase crítica de vida de qualquer planta, mas
torna-se parcialmente difícil para as plantas de manguezal devido ao substrato instável e
variável e à influência da maré. O grau de viviparidade, a localização dos tecidos de
flutuação, o tamanho e, sobretudo, o peso do propágulo são os fatores que determinam
as condições de dispersão, estabelecimento e a taxa de sobrevivência das plântulas.
(CETESB, 1989).
A importação de propágulos e fundamental não só para o processo de manutenção
de bancos de plântulas e jovens em bosques saudáveis, mas sobretudo para o processo
de recuperação de áreas degradadas, que através desse mecanismo podem ser
recolonizadas por espécies de mangue. (SOARES et al., 2012).
Menezes, et al. (1994) concluíram em seu estudo que o plantio de propágulos
apresentou taxa de mortalidade iguais ou menores às plântulas e valores médios de altura
e número de folhas próximos ao das plântulas, indicando que além de serem mais fáceis
10
de coletar, transportar e plantar, em pequeno período de tempo apresentam resultados de
crescimento similares ao das plântulas.
Os propágulos dificilmente ficam viáveis por mais de um ano, podendo germinar,
serem consumidos por animas ou dispersos para outras áreas (ALBUQUERQUE et al.,
2005).
Field (1998) afirma que a seleção dos locais de plantio deve considerar a qualidade
e a quantidade de água e o tempo de permanência desta na área, pois a inundação de
plantas jovens nos primeiros estágios de desenvolvimento é vital, mas não em grande
grau, pois morrem.
Um estudo feito por Menezes, et al. (2005) supõe que alguns fatores relacionados às
condições impróprias dos propágulos entre o período da coleta e o plantio, tenham
causado prejuízos vitais aos propágulos e estes acabaram morrendo pouco tempo após
do plantio. A literatura mostra que o plantio de R. mangle é realizado logo após a coleta
dos propágulos, pois ao serem armazenados precisam de condições adequadas de
armazenamento (Hamilton & Snedaker, 1984). Qureshi (1990) armazenou os propágulos
de Rhizophora mucronata, Ceriops tagal e Avicennia marina por, no máximo, três dias
antes de usá-los em plantações experimentais no Paquistão. McKee (1995) constatou que
entre os propágulos de Rhizophora que morreram em bosques de Belize, 40% foram
devido a dificuldades na fixação, 17% à predação, 17% à dessecação e 26% por causas
desconhecidas.
No trabalho realizado por Paludo & Klonowski (1999), propágulos de R. mangle
tiveram uma baixa taxa de sobrevivência devido à predação de caranguejos e o
ressecamento em áreas pouco irrigadas, sendo o plantio feito diretamente em áreas
úmidas e secas, alternadamente.
2 – Objetivos
O presente trabalho teve como objetivo avaliar a sobrevivência e o crescimento em
altura de diferentes métodos de plantio de propágulos e mudas de Rhizophora mangle em
uma área impactada de manguezal.
11
3 – Materiais e Métodos
3. 1 Caracterizações da área de implantação do experimento
O experimento foi instalado no mês de março de 2013, estendendo-se até janeiro de
2014, em uma área impactada de manguezal, localizada na comunidade de Taperaçu
Campo (00º57’29.5’’ S e 46º64, 5’58,7’’ W), no município de Bragança-PA (Fig 01)
Figura 1- Mapa Área de estudo, Península de Ajuruteua, comunidade de Taperaçu-Campo.
A área degradada escolhida para o experimento é ligeiramente afastada de
algumas casas na comunidade, a frequência de inundação acontece durante 6 dias para
cada mês durante os períodos chuvoso e seco, e no período mais seco acontece o
ressecamento do solo.
12
Figura 02- Parcelas instaladas na área impactada
3.2 Clima da região e regime de maré
O clima da região é do tipo AW, apresentando variações entre quente e úmido
(KÖPEEN, 1994). A temperatura média regional é de 25,9 °C, precipitação média anual
2508 milímetros, e umidade relativa de 80% a 91%. A estação chuvosa se estende de
dezembro à julho, e a estação seca de agosto à novembro (MARTORANO et al., 1993;.
MEHLIG, 2001). O regime de marés é bem misturado, com macromarés semidiurnas com
amplitude superior a 5 metros na maré de sizígia e ainda mais de 3 m na maré de
quadratura. (KOCH & WOLFF, 2002; MEHLIG, 2001; MARQUES-SILVA et al., 2006). No
período de agosto a dezembro de 2013 e janeiro de 2014, o índice pluviométrico foi
menor (Fig. 04). Os valores foram fornecidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia
(INMET, 2014).
13
Figura 03 - Precipitações pluviométricas anuais e médias mensais registradas durante a condução do
experimento (INMET, 2014)
3.3 Espécies utilizadas na manutenção do plantio
O experimento foi realizado com propágulos e mudas de Rhizophora mangle. Os
propágulos foram coletados quando recém-caídos no substrato e em bom estado
fitossanitário.
As mudas utilizadas apresentavam em média 25 cm de altura, sem presença de
ramificações ou rizóforos (“raízes-aéreas”), e mais de dois pares de folhas e
permaneceram no viveiro por três meses. Os propágulos pré-enzaizados permaneceram
no viveiro por 19 dias.
As mudas foram retiradas do viveiro construído na própria comunidade e
transplantadas para a área experimental no período chuvoso, e teve suas avaliações
realizadas entre período chuvoso e seco (Fig 05), durante 11 meses. O delineamento
adotado foi o inteiramente casualizado com quatro métodos e 4 repetições. Cada parcela
experimental foi constituída com 25 propágulos/muda espaçadas de 1,0 m entre plantas e
1,0 m entre linhas. Totalizando 300 propágulos e 100 mudas.
14
3.3.1 Viveiro
O viveiro (Fig. 04) foi instalado no município de Bragança no ano de 2011, na
comunidade de Tamatateua (00º 57’12,5”S e 46º 47”02,4”W)) de Bragança, ocupou uma
área total de 300 m², medindo 10 m x 20 m e com profundidade de 40 cm, o mesmo foi
conectado ao canal-de-maré através de um canal artificial, e sofria assim influência diária
do regime de marés, permitindo dessa forma entrada e saída de água no viveiro. Utilizouse embalagens de polietileno (17x27), as quais foram preenchidas com o substrato
latossolo amarelo.
Figura 04 – Viveiro – obtenção de propágulos pré-enraizados. e mudas (Tamatateua – Bragança, PA).
15
Figura 05 e 06 – Área experimental nos períodos chuvoso e seco
3.3.2 Métodos de plantio
Foram testados quatro métodos, sendo estes: a) mudas de três meses de idade
(MUD.); b) propágulos recém-coletados em áreas adjacentes ao viveiro (PRC.); c)
propágulos pré-enraizados por dezenove dias (PPE.); d) propágulos amarados a fixadores
artificiais (PAF.).
3.4 Avaliações
3.4.1 - Sobrevivência e crescimento em altura da espécie
As variáveis analisadas foram a sobrevivência e crescimento em altura (cm), onde a
avaliação do crescimento em altura foi realizada com régua graduada em 50 centímetros
(cm) da base do coleto até a inserção do 1º par de folhas As avaliações foram realizadas
bimestralmente em todas as mudas, em dois períodos distintos (chuvoso e seco), durante
10 meses.
3.5 – Análise de dados
Os dados foram analisados pelo pacote estatístico (Plymouth Routines In
Multivariate Ecological Research) Primer® 6, para avaliar se houve diferenças
significativas entre os tratamentos, parcelas e os períodos chuvoso e seco, Utilizou-se a
análise multivariada não paramétrica de similaridade (ANOSIM) com a matriz de
similaridade calculada pelo índice de similaridade de Bray-Curtis.
Para determinação ainda do percentual de sobrevivência dos propágulos/mudas em
campo foi adotada a seguinte fórmula:
16
Em que:
SC: Porcentagem de sobrevivência em campo;
N: Número total de mudas plantadas de cada espécie.
4 – Resultados
4.1 Sobrevivência
Ao se comparar os métodos pela análise de similaridade (Anosim), não se
observou diferença significativa (Anosim R = 0,028; p = 0,03) entre os mesmos quando se
avaliou a sobrevivência. Ao realizar a Anosim para o fator parcelas não foi observada
variação significativa (Anosim R = 0,001; p = 0,39). Para o fator período houve variação
significativa (Anosim R = 0,283; p = 0,01). Observando-se a formação de grupos (Fig. 07).
Figura 7: Configuração de análise de Escalonamento Multidimensional (MDS) em relação a sobrevivência
com base nos meses, área experimental de Taperaçu Campo-PA.
A maior média de sobrevivência (Tabela 01) no período chuvoso foi de 24,16 no
Met. 2, e a menor média (21,91) foi registrada no Met. 4. No período seco a maior média
17
foi de 14,05 no Met. 2, e a média inferior (9,25) ocorreu no Met. 1, considerando os 4 tipos
de métodos utilizados no plantio da espécie de R. mangle.
Tabela 01 - Médias e desvio padrão da sobrevivência de Rhizophora mangle em campo
aos 10 meses após o plantio, Taperaçu-Campo, Bragança-Pará.
Período
Espécies
Rhizophora mangle (Met.1)
Chuvoso
23,25±1,71
Seco
Total
9,25±8,97
21,87±6,11
(mudas de 3 meses de idade)
Rhizophora mangle (Met. 2)
24,16±1,02
14,05±9,47
19,33±8,23
(Pré-enzairadas)
Rhizophora mangle (Met. 3)
22,83±2,24
11,33±7,94
17,08±8,19
21,91±3,44
13,41±9,65
17,66±8,31
23,04±2,36
12,12±8,97
17,58±8,52
(Com fixadores)
Rhizophora mangle (Met. 4)
(Propágulos recém-coletados)
Média total
Verificou-se que o maior percentual de sobrevivência (Tabela 02) no período
chuvoso foi de 88% no Met. 4, e o menor de 73% no Met. 1. No período seco, o maior
percentual de sobrevivência foi de 29% no Met. 2, e o menor de 5% para os Met. 1 e Met.
4.
18
Tabela 02 – Percentual de sobrevivência de propágulos/mudas de R, mangle em campo aos 10 meses após o plantio,
Taperaçu Campo, Bragança-Pará.
Periodo Chuvoso
Período seco
Número total de
Número de
Sobrevivência
Número total de
Número de
Número de
Sobrevivência
propágulos/mudas
plantas mortas
(%)
propágulos/mudas
plantas vivas
plantas mortas
(%)
MUD.
100
27
73
73
73
68
5
PRC.
100
12
88
88
88
83
5
PPE.
100
8
92
92
92
63
29
PAF.
100
17
83
83
83
71
12
Métodos
Legenda:
MUD. - Mudas três meses de idade
PRC. - Propágulos recém-coletados em áreas adjacentes ao viveiro
PPE. - Propágulos pré-enraizados por dezenove dias.
PAF. - Propágulos amarados a fixadores artificiais.
19
4.2 Crescimento em altura
A Anosim (análise de similaridade) foi realizada para os diferentes métodos e
observou-se que não houve diferença significativa entre os mesmos (Anosim R; 0,039; p
= 0,5) ao se avaliar o crescimento da espécie. Ao realizar a Anosim para o fator parcelas
não foi observada variação significativa (Anosim R; 0,129; p = 0,01). Para o fator período
houve variação significativa (Anosim R; 0,24; p = 0,1). Observa-se a formação de dois
grupos. (Fig 08)
Figura 8: Configuração de Análise de Escalonamento Multidimensional (MDS em relação a altura com base
no período/mês).
No crescimento em altura, verificou-se maior média o no período chuvoso (Tabela
03) de 20,44 no Met. 1, e a menor média de 16,17 no Met. 4. No período seco a maior
média foi de 25,48 no Met. 1, e a menor média de 20,75 no Met. 3, considerando os
diferentes métodos no desenvolvimento de mudas e R. mangle.
20
Tabela 03 - Médias e desvio padrão da altura de Rhizophora mangle em campo aos 10
meses após o plantio, Taperaçu Campo, Bragança-Pará.
Período
Métodos
Rhizophora mangle (Met.1)
Chuvoso
20,44±5,57
seco
Total
25,48±5,92
21,87±6,11
(mudas de 3 meses de idade)
Rhizophora mangle (Met. 2)
16,60±5,15
25,28±5,54
19,85±6,76
(Pré-enzairadas)
Rhizophora mangle (Met. 3)
18,03±4,43
20,75±4,82
20,92±6,14
23,09±6,00
18,52±6,06
(Com fixadores)
Rhizophora mangle (Met. 4)
16,17±4,84
(Propágulos recém-coletados)
5 – Discussão
5.1 Sobrevivência
No presente estudo, os resultados mostraram que o índice de sobrevivência das
plantas variou em entre etapas de período chuvoso e seco, e que os diferentes métodos
no plantio, em geral, não influenciaram no estabelecimento e sobrevivência dos
propágulos e mudas, como foi proposto. Observou-se um alto percentual de mortalidade
de mudas e propágulos no decorrer da estação seca, que abrangeu os meses de agosto
a janeiro.
Os resultados também evidenciaram que nos métodos MUD.(met 1),PRC. ( met 2)
, PPE. (Met.3 ),PAF. ( Met. 4) , observou-se um número reduzido da mortalidade das
mudas nos meses chuvosos logo após o plantio, e mostram um percentual de
sobrevivência elevado (Tabela 3) no decorrer dos meses desse período e com registro de
precipitação superior ao período seco (Fig. 3). Segundo Field (1998) a seleção de locais
para plantio deve considerar a quantidade e qualidade de água e o tempo de
permanência desta na área, pois é vital que as plantas jovens sejam inundadas
regularmente, mas não em alto grau, havendo alta mortalidade caso isso ocorra.
21
Carneiro (1983) afirma que é de fundamental importância para o sucesso das
mudas o estabelecimento, a qualidade e a avaliação de sobrevivência, e isso permanece
posteriormente nas plantas adultas saudáveis.
Menezes et al. (1994) destacam o plantio direto de propágulos em Cubatão com
0% de sobrevivência. Paludo e Klonowski (1999) apresentam taxa de sobrevivência de
7% após 2 anos de plantio (propágulos de R. mangle, L. racemosa e A. schaweriana,
enquanto que no presente estudo o percentual de sobrevivência de propágulos variou
entre 5% e 29% nos diferentes métodos.
No trabalho de Tovilla e Orihuela (2002) realizado no México, foi avaliado o
desenvolvimento de propágulos de R. mangle no campo, onde se constatou que houve
um alto índice de mortalidade a pleno sol, onde 49,5% das mudas morreram, em
contrapartida com 38,5% de mortalidade registrada na sombra.
A quantidade de luz afeta a produção das raízes de R. mangle e indicam que pode
existir um melhor de desenvolvimento na sombra, na fase inicial de crescimento (SMITH e
LEE 1999). Apesar disso, ao avaliar o crescimento de mudas sobre diferentes níveis de
sombreamento, Lopez et al., [S.d.] evidenciou que as espécies foram capazes de se
adaptar em ambientes de sol e sombra, e que o crescimento e desenvolvimento das
mudas de R. mangle ocorreram independentemente do nível de luminosidade da área de
plantio.
Bonilla et al. (2010) em seu trabalho utilizando espécies nativas de mangue (R.
mangle, Avicennia germinans, Laguncularia racemosa e Conocarpus erectus) de um
estuário localizado na reserva de Sapiranga-Fortaleza-Ceará para a recuperação de uma
área degradada, utilizou a técnica de produção de mudas em viveiros e posteriormente o
transplantio para o campo. Nas demais espécies ele obteve uma taxa de sobrevivência
que variou entre 40% à 60%, o que considerou como satisfatório. Apenas Rhizophora
mangle obteve sobrevivência em torno de 25%, ressaltando ainda que essas taxas se
relacionaram com as médias de altura no presente estudo, sendo maiores no período
chuvoso.
Tsuji (2010) trabalhou com semeadura de propágulos de espécies de mangue na
península de Ajuruteua, e observou que Rhizophora mangle obteve efetividade superior
na fase de estabelecimento, realizada com a semeadura em parcelas de propágulos. O
autor ainda constatou que o alto crescimento e sobrevivência dos propágulos parece
22
estarem relacionado também ao clima quente e úmido da área de estudo. Por isso, é
importante considerar que a efetividade dos métodos de semeadura está interligada com
a seleção do sítio (área) onde o estudo foi realizado.
Em seu estudo feito na Colômbia, Bohorquez & Prada (1986) obtiveram uma maior
taxa de sobrevivência (34,8%) e maior crescimento e produção de folhas (36%) no
período em que se deu o início das chuvas, em um projeto de transplante de 130
plântulas de Rhizophora mangle, em diferentes ilhas do litoral Caribenho, enquanto que
no presente estudo o maior percentual de sobrevivência de propágulos foi de 92%
durante o período chuvoso.
Após a análise dos resultados e feita a revisão de vários trabalhos a respeito, a
causa mais evidente do alto índice de mortalidade, sem definição precisa, seria o
ressecamento de mudas e propágulos do período seco, descartando as hipóteses de
predação, pois poucos vestígios que indicassem esse fator foram encontrados. Causas
antrópicas também foram descartadas, como mudas e estacas arrancadas, pois o lugar é
de acesso pouco facilitado e sem muitos atrativos. O que coincide com o trabalho de
Menezes et al., (2005) que obteve conclusões semelhantes a respeito de mortalidade de
propágulos ao estudar Rhizophora mangle em áreas contaminadas de manguezal na
baixada santista, de São Paulo.
5.2 Crescimento em altura
Após a análise dos resultados, decorridos os 10 meses de monitoramento,
observou-se que os quatro diferentes métodos de plantio não apresentaram influência no
padrão de crescimento e estabelecimento das mudas e propágulos no substrato do
campo, como o proposto. As mudas e os propágulos apresentaram uma altura média
semelhante (17,84) em todos os métodos durante os três primeiros meses de
desenvolvimento, o qual se deu na estação chuvosa. No período seco obtiveram um
índice de crescimento elevado, apesar da mortalidade das demais mudas e propágulos
ter afetado uma parte considerável das parcelas, que não resistiram à intensidade de luz
solar direta e à pouca frequência de inundação, causando o ressecamento do solo e de
mais da metade das mudas e propágulos das parcelas de cada tratamento.
23
Estudos feitos por Bonilla et al., (2010) constataram que para o sucesso do plantio
do manguezal se faz necessário observar a sucessão natural das espécies em um
complexo estuarino antes de começar a recuperar estas zonas, e que se faz possível
recuperar áreas degradadas em áreas conflitivas e delicadas como são os manguezais
antropizados.
No seu trabalho em Cubatão, Menezes (1999) testou a viabilidade da recuperação
dos Manguezais fazendo uso do plantio de propágulos e o transplante de plântulas de
Rhizophora mangle com e sem estacas. O autor constatou em seus resultados que nos
diferentes tratamentos os resultados foram comprimentos médios de 78,7cm e 85,4cm,
após 748 dias, o que significa um incremento de comprimento respectivo de 4,9 e 2,0, em
contrapartida com as médias de propágulos do presente estudo, que variou entre 20,92 e
18, 52 com e sem estacas.
Em seu trabalho feito na Barra de Mamanguape (PB) Paludo & Klonowski (1999),
utilizaram o plantio direto de propágulos de R. mangle, L. racemosa e A. schaweriana,
realizando a comparação entre áreas úmidas e mais secas. Os propágulos de R. mangle
obtiveram os maiores valores de altura e diâmetro médio em terrenos molhados,
alcançando até 2,5 vezes o tamanho das mudas de terrenos secos e apresentando raízes
escoras mais cedo. Para as demais espécies de L. racemosa e A. schaweriana, o maior
desenvolvimento ocorreu nos terrenos secos.
6 – Conclusão
Os resultados demonstraram que o percentual e a média de sobrevivência das
mudas de R. mangle nos diferentes métodos foram superiores no período chuvoso,
contrastando todavia com a alta taxa de mortalidade das mudas no final do período seco;
Para a variável altura, os dados indicaram que as maiores médias de crescimento
foram registradas no período seco, apesar do alto índice de mortalidade;
A utilização de fixadores artificiais e os propágulos pré-enraizados não favoreceram
a sobrevivência das mudas de R. mangle.
24
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