adesão ao tratamento em diabetes mellitus

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CONEXÃO FAMETRO:
ÉTICA, CIDADANIA E SUSTENTABILIDADE
XII SEMANA ACADÊMICA
ISSN: 2357-8645
ADESÃO AO TRATAMENTO EM DIABETES MELLITUS
Juliana Mineu Pereira Medeiros- Universidade Federal do Ceará1
Marília Araripe Ferreira- Universidade Federal do Ceará2
Tatiana Rebouças Moreira- Universidade Federal do Ceará3
Synara Cavalcante Lopes - Universidade Federal do Ceará4
Título da Sessão Temática: Processo de Cuidar
RESUMO
O diabetes mellitus (DM) consiste num grupo de doenças multifatoriais
que atingem uma grande parcela da população em todo o mundo. (SBD, 2016).
O presente estudo teve como objetivo descrever as publicações nacionais
sobre os aspectos de adesão ao tratamento em diabetes mellitus. Optou-se
pelo método de revisão integrativa, de caráter descritivo. A busca dos artigos foi
realizada pela internet, através da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), através
dos seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “diabetes” e “adesão
a medicação”. Foram localizados 1550 artigos na BVS. O corpus desta revisão
integrativa foi composto por 5 artigos. A literatura estudada relata alguns
instrumentos que o profissional de saúde pode utilizar, de maneira quantitativa.
O estudo evidenciou diversos tipos de instrumentos validados e utilizados
amplamente na literatura no que se refere a adesão ao tratamento. Porém,
somente um estudo descreve um instrumento elaborado especificamente para
a demanda do paciente com diabetes.
Palavras-chave: Enfermagem; Diabetes Mellitus; Adesão à Medicação.
INTRODUÇÃO
O diabetes mellitus (DM) consiste num grupo de doenças multifatoriais
que atingem uma grande parcela da população em todo o mundo. Dados mais
recentes
revelam
que
o
número
de
diabéticos
está
aumentando
significativamente, devido ao crescimento e envelhecimento populacional,
1
Enfermeira. Residente em Assistência em Diabetes do Programa de Residência Integrada
Multiprofissional em Atenção Hospitalar à Saúde - RESMULTI - HUWC/UFC. E-mail:
[email protected]
2 Enfermeira. Residente em Assistência em Diabetes do Programa de Residência Integrada
Multiprofissional em Atenção Hospitalar à Saúde - RESMULTI - HUWC/UFC
3 Enfermeira Diabetologista.Tutora/Preceptora da Residência Integrada Multiprofissional em
Atenção Hospitalar à Saúde - RESMULTI - HUWC/UFC.
4
Nutricionista. Mestre em Farmacologia. Coordenadora da Residência Integrada
Multiprofissional em Atenção Hospitalar à Saúde em Assistência em Diabetes - RESMULTI HUWC/UFC
maior urbanização e maior prevalência de obesidade e sedentarismo (SBD,
2016).
No mundo, 1 em cada 11 adultos, o que estima-se que sejam 415
milhões de pessoas, são portadoras de DM e 1 a cada 2 adultos que possuem
DM desconhecem o diagnóstico da doença (IDF, 2015). No Brasil, em 2014,
estimou-se que existiam 11,9 milhões de pessoas com diabetes, na faixa etária
de 20 a 79 anos. Essa estimativa pode chegar a 19,2 milhões em 2035 (SBD,
2016). No Ceará, estudo realizado por meio do Sistema de Informações
Hospitalares (SIH) do Sistema Único de Saúde (SUS), com os pacientes
hospitalizados no estado entre 2001-2012 evidenciou 51.317 internações por
DM, sendo a grande maioria do sexo feminino (58,4%) maiores de 20 anos de
idade (SANTOS et al., 2014).
O DM não é uma única doença e sim um grupo heterogêneo de doenças
metabólicas que possuem em comum a hiperglicemia, resultante de defeitos da
secreção ou na ação da insulina. É classificado atualmente em: Diabetes
Mellitus tipo 1 (DM1), Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2), Diabetes Gestacional
(DMG) e outros tipos específicos de DM (SBD, 2016).
No DM1 ocorre uma total destruição das células beta pancreáticas,
resultado de agressões ambientais, genéticas ou idiopáticas. O paciente
portador deste tipo requer tratamento insulínico como primeira escolha, além
de controle da dieta. Já no DM2, ocorre uma resistência à ação da insulina, ou
seja, o paciente produz o hormônio, porém as células desenvolvem uma
resistência à sua ação, resultando em hiperglicemia. O tratamento deste tipo é,
primeiramente, com antidiabéticos orais (ADO), porém em algum momento, o
paciente pode requerer tratamento insulínico para melhor controle (SBD, 2016).
Para estabelecer um controle da doença é prevenir complicações a
adesão ao tratamento é essencial. Segundo a OMS, adesão é considerada um
construto de múltiplas “dimensões”, que foram esmiuçadas em fatores
relacionados ao paciente, fatores relacionados ao tratamento, fatores sociais e
econômicos, fatores relacionados ao sistema de saúde e fatores relacionados à
doença.
A adesão seria um processo comportamental complexo, fortemente
influenciado pelo meio ambiente, pelos profissionais de saúde e pelos cuidados
de assistência médica. Miller et al, conceituam adesão ao tratamento como um
meio para alcançar um fim, uma abordagem para a manutenção ou melhora da
saúde, visando reduzir os sinais e sintomas de uma doença. Os sinônimos para
adesão são: Compliance: obediência participativa, ativa, do paciente à
prescrição. Observância; Complacência; Fidelidade (BROWN,2011).
Diante da importância epidemiológica do diabetes e da dificuldade em
adesão ao tratamento destes pacientes, o presente estudo teve como objetivo
descrever as publicações nacionais sobre os aspectos de adesão ao
tratamento em diabetes mellitus.
DESENVOLVIMENTO / PERCURSO METODOLÓGICO
Para o alcance do objetivo proposto, optou-se pelo método de revisão
integrativa, de caráter descritivo. A revisão integrativa consiste num método de
pesquisa que permite estabelecer uma síntese e conclusões gerais a respeito
de uma área de estudo em particular, realizada de maneira sistemática e
ordenada, com o objetivo de contribuir para o conhecimento investigado
(SOARES et al., 2014).
A metodologia considera seis etapas, que foram utilizadas neste
estudo: estabelecer a questão da pesquisa, selecionar as pesquisas que
construirão a amostra, categorizar os estudos, avaliar os estudos incluídos,
interpretar os resultados e síntese do conhecimento (SOUZA; SILVA;
CARVALHO, 2010).
A questão norteadora para responder ao objetivo da pesquisa foi:
Quais os instrumentos de avaliação disponíveis na literatura nacional sobre
adesão ao tratamento em diabetes mellitus?
Foram definidos como critérios de inclusão: pesquisas publicadas em
forma de artigo, em periódicos nacionais; que envolvam a temática adesão ao
tratamento em diabetes mellitus; publicadas no período de 2011 a 2016;
independente do método de pesquisa; e que estivessem disponíveis
eletronicamente na íntegra.
A busca dos artigos foi realizada pela internet, através da Biblioteca
Virtual da Saúde (BVS), através dos seguintes Descritores em Ciências da
Saúde
(DeCS):
“diabetes”
e
“adesão
à
medicação”.
Os
descritores
selecionados foram combinados entre si, acrescentando-se o termo AND entre
eles, para que os resultados da busca atendessem aos objetivos do estudo. A
seleção dos estudos ocorreu no mês de junho de 2016.
Foram localizados 1550 artigos na BVS. A seleção da amostra final foi
realizada da seguinte forma: primeiramente ocorreu a leitura dos títulos dos
artigos, sendo excluídos os que não tivessem relação com o tema; e em
seguida, foram lidos os resumos para conhecimento do estudo e aproximação
com a questão norteadora elaborada. Desta forma, o corpus desta revisão
integrativa foi composto por 5 artigos.
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Para realizar a avaliação da adesão ao tratamento, a literatura
estudada relata alguns instrumentos que o profissional de saúde pode utilizar,
de maneira quantitativa. No estudo de Brown & Bussel os autores descrevem
que a medida em que o uso dos medicamentos se tornam mais contínuos,
adesão ao tratamento destes sobre uma queda de até 40% em sua utilização.
Os autores consideram a utilização de um cálculo para a quantificação da
adesão ao tratamento, sendo o produto da equação: Número de comprimidos
utilizados dividido pelo o Número dos comprimidos prescritos multiplicado por
cem. Para uma boa adesão, o produto desta equação terá que ser ≥ 80%.
Em outro estudo no qual avaliou os fatores associados a adesão,
58,4% possuíam tempo inferior a 10 anos de diagnóstico com hipertensão e
dislipidemias associadas. Em relação as complicações crônicas, a retinopatia
estava presente em 37,8% e a cardiopatia em 20,3%. A adesão ao tratamento
não houve associação estatística entre as variáveis sexo, idade, escolaridade,
renda e tempo de diagnóstico. As variáveis hemoglobina glicada e colesterol
apresentaram associação estatística com o exercício físico e o plano alimentar.
De forma similar, no estudo de Boas et all (2014) também não houve
correlação estatística entre a adesão e o tempo de diagnóstico e presença de
complicações.
A literatura estudada revelou a utilização de um instrumento
quantitativo para a avaliação da adesão ao tratamento. O presente estudo
utilizou o instrumento de Medida de Adesão aos Tratamentos (MAT) em
pacientes com diabetes tipo 2 em seguimento ambulatorial. O seguinte
instrumento é composto por 7 perguntas: “Alguma vez se esqueceu de tomar
os medicamentos para a sua doença?”; “Alguma vez foi descuidado com as
horas da toma dos medicamentos para a sua doença?”; “Alguma vez deixou de
tomar os medicamentos para a sua doença por se ter sentido melhor?”; Alguma
vez deixou de tomar os medicamentos para a sua doença, por sua iniciativa,
após se ter sentido pior?”; “Alguma interrompeu a terapêutica para a sua
doença por ter deixado acabar os medicamentos?”; “Alguma vez deixou de
tomar os medicamentos para a sua doença por alguma outra razão que não
seja a indicação do médico?”. Os participantes respondiam ao questionário por
maio das alternativas: sempre (1); quase sempre (2); com frequência (3); por
vezes (4); raramente (5); nunca (6). A adesão é determinada pela média global
do instrumento, ou seja, somam-se os escores de cada item e divide-se pelo
número de itens (7). Médias mais altas indicam maior adesão ao tratamento.
Porém, este instrumento apresentava uma limitação em sua utilização, por não
ser específico para a avaliação da adesão do tratamento em diabetes (BOAS;
FREITAS; PACE, 2014).
Diante disto, as mesmas autoras elaboraram e validaram um
instrumento de Medida de Adesão aos Tratamentos – antidiabéticos orais e um
outro para adesão ao uso de insulina, Medida de Adesão aos Tratamentos –
insulina (BOAS; LIMA; PACE, 2014).
Atualmente, para o efetivo tratamento do diabetes, a adesão à dieta e
ao exercício físico torna-se primordial. No estudo de Boas et al (2011), avaliou
a adesão de pessoas com diabetes mellitus tipo 2 (n=162) ao autocuidado, no
que se refere à dieta e ao exercício físico, bem como a relação com
características sociodemográficas e clínicas. O estudo mostrou uma correlação
inversamente proporcional à escolaridade, sugerindo que quanto menor a
adesão, maior a escolaridade, o que corroboram dados com outros estudos
(BOAS; FOSS; FREITAS; TORRES; PACE, 2011).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo evidenciou diversos tipos de instrumentos validados
e utilizados amplamente na literatura no que se refere a adesão ao tratamento.
Porém,
somente
um
estudo
descreve
um
instrumento
elaborado
especificamente para a demanda do paciente com diabetes.
Dentre as limitações desta pesquisa, podemos destacar a escassez de
trabalhos nacionais sobre o âmbito do diabetes e a não inclusão de estudos
internacionais.
Através dessa revisão, sugere-se a ampliação da produção científica
sobre a temática, com o intuito de despertar a elaboração de instrumentos de
adesão mais específicos para os pacientes com diabetes, subsidiando, assim,
as ações profissionais da saúde, realizando uma prática baseada em
evidências científicas.
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