Emoção Natureza e dimensões das emoções O que é a emoção? (Reeve, 2009) A emoção é um fenómeno multidimensional, com quatro componentes inter-atuantes: 1. Sentimentos A emoção é um sentimento (feeling), relacionado com a auto-consciência do fenómeno que estamos a viver. É uma experiência subjectiva que envolve processos cognitivos. Cada um de nós tem experiências pessoais e são únicas. 2. Propósito/Direção As emoções surgem normalmente como reacção a acontecimentos importantes da vida. Uma vez activadas, geram sentimentos, despertam o corpo para a acção, geram estados motivacionais e produzem expressões faciais reconhecíveis. O nosso discurso interno, a forma como nos sentimos influencia os objetivos a que nos propomos e os nossos comportamentos. As emoções permitem a direção para metas mais adaptativas. 3. Reação biológica À primeira vista, todos nós sabemos que emoções são sentimentos. Sabemos o que é a alegria e o medo, porque o aspecto sentimental destas emoções é marcantes na nossa experiência. É quase impossível não notar aspectos da emoção em sentimentos quando nos deparamos com uma ameaça (medo) ou quando fazemos progresso em direcção a uma meta (alegria). Tal como o nariz faz parte da face, os sentimentos fazem parte das emoções. Desta forma, a emoção prende-se com a ativação fisiológica, que através de uma preparação orgânica, se traduz em respostas motoras, i.e., corresponde a mudanças ao nível cortical e subcortical que visam preparar o sujeito para a acção. Este é um aspeto adaptativo da emoção, que permite a mobilização de respostas que preparam o corpo para se adaptar a quaisquer situações. 4. Expressiva/social Há uma visibilidade das reações fisiológicas através da postura, expressão facial e vocalização, que demonstram o que estamos a sentir. Os acontecimentos significativos influenciam a emoção. Uma das funcionalidades das emoções prende-se com a regulação da interação social. As emoções geralmente surgem como uma reação a acontecimentos de vida importantes. Uma vez ativadas, as emoções geram Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra sentimentos, levam o corpo a agir, geram estados motivacionais e produzem expressões faciais reconhecíveis. As emoções têm um carácter multidimensional, pois as emoções existem como um fenómeno subjetivo, fazendo-nos sentir de uma maneira particular, biológico, porque energizam e mobilizam respostas que preparam o corpo para se adaptar a quaisquer situações que ele enfrente, dirigido para um propósito, por exemplo, a raiva cria um desejo motivacional para fazer o que de outro modo não faríamos, e social, ao enviarmos sinais faciais, vocais e posturais reconhecíveis que indicam a qualidade e intensidade das nossas emoções. Nenhuma destas dimensões por si só não define adequadamente o que é uma emoção. Cada uma delas enfatiza um aspeto diferente da emoção. Três componentes das emoções (Ford, 1992) As emoções são constituídas pelos componentes afetivo (neuropsicológico, a experiência subjetiva da emoção); fisiológico (um padrão biológico de processamento); e transacional (gestos expressivos que influenciam aspetos relevantes do contexto). Sentimentos/Feelings Reação Biológica •Experiência subjetiva •Consciência fenomenológica •Cognição •ativação fisiológica •Preparação orgânica/ação •Respostas motoras Emoção Expressiva/Social Propósito/direção •Comunicação social •Expressão facial •Expressão vocal •Estado motivacional direção/objetivos •Funcionalidade A experiência subjectiva encontra-se directamente dependente com a reacção biológica. Esta última está subjacente à experiência emocional e exprime-se através da expressão social, directamente ligada ao propósito/ direcção comportamental que leva à emoção (dirige o comportamento para objectivos específicos). Para que todo este processo ocorra é necessário gerar um acontecimento que seja considerado significativo para o sujeito (directamente relacionado com o limiar de sensibilidade das pessoas, com as experiências únicas e subjectividade atribuída aos acontecimentos), para que a emoção active o comportamento para determinadas metas. Por exemplo, a raiva é uma emoção muito forte, dirige o sujeito para a destruição do obstáculo. Em estado de raiva, o sujeito comete actos que nunca cometeria em 2 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra condições ditas normais. O medo dirige a pessoa para o evitamento, para a fuga ou para o refúgio face ao potencial perigo. A componente activação corporal inclui a nossa activação neuronal e fisiológica (biológico), incluindo a actividade dos sistemas autonómicos e hormonais como no preparar e regular do comportamento adaptativo do corpo ao enfrentar a emoção. Quando emocional, o nosso corpo está preparado para a acção e isso é verifica-se no nosso cérebro, na nossa fisiologia (frequência cardíaca, epinefrina na corrente sanguínea) e na nossa musculatura (postura de alerta). A componente intencional dá emoção ao carácter do objectivo direccionado para tomar as medidas necessárias para lidar com as circunstâncias em mãos. O aspecto intencional explica porque é que as pessoas querem fazer o que fazem e, porque é que as pessoas beneficiam das suas emoções. A componente expressão social é o aspecto comunicativo da emoção. Através de posturas, gestos, vocalizações e expressões faciais, as nossas experiências pessoais tornam-se em expressões públicas. Portanto, as emoções, envolvem toda a nossa pessoa, os nossos sentimentos, a activação física, o senso de propósito e de comunicação não-verbal. Por exemplo, os quatro componentes da tristeza: Separação/Perda de alguém importante; Fracasso numa tarefa importante; 3 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra A emoção é portanto de curta duração, é um fenómeno sentimental de excitação, intenção e expressão que nos ajuda a adaptar às oportunidades e desafios que enfrentamos durante os eventos importantes da vida; é a construção de unidades psicológicas que coordenam estes quatro aspectos da experiência num padrão sincronizado; é o que coreografa a sensação de excitação, intenção e componentes expressivos numa reacção coerente ao surgimento de um evento. Assim, as emoções são os sistemas sincronizados que coordenam o sentimento, a excitação, a intenção/finalidade e a expressão de modo a preparar o indivíduo para se adaptar com sucesso a circunstâncias da vida. “Emoção” é a palavra que os psicólogos usam para nomear este processo coordenado e sincronizado. Relação entre emoção e motivação A emoção atua como motivação, pois é um conceito motivacional que explica o comportamento motivado. É o tipo de motivo que ativa e dirige o comportamento em função dos objetivos a que nos propomos. A emoção pode ser vista como um sistema motivacional primário (Izard, 1991; Tomkins, 1962, 1963, 1984) ou como uma variável motivacional, como o “Triunvirato motivacional” (Objectivos, Crenças e Emoções) de Ford (1992). A emoção funciona ainda como leitor/Readout, pois é um sistema de leitura que dá informação sobre o processo de adaptação pessoal, i.e., saber se estamos a alcançar aquilo a que nos propusemos (Buck, 1988). É assim, um indicador do estado de satisfação/frustração dos motivos (necessidades ou objetivos) (Frijda, 1986; Oatley & Jenkins, 1992) e um Readout Sistem, contendo uma função reguladora e avaliadora da adaptação do organismo, na qual a satisfação das motivações/objectivos prende-se com emoções positivas e a sua frustração das motivações/objetivos se relaciona com emoções negativas. Em suma, a emoção é uma motivação básica que está na raiz de qualquer processo motivacional, e a motivação é um sistema de leitura que faculta informação sobre o processo de adaptação; é um sinalizador que ajuda o sujeito a manter ou a redireccionar o comportamento e a acção e um indicador do estado de satisfação ou frustração (até que ponto se está no caminho certo para alcançar satisfação ou evitar frustração dos objectivos. O que provoca uma emoção? Os acontecimentos situacionais significativos induzem a experiência emocional através de processos cognitivos ou processos biológicos, que permitem explicar as componentes da emoção, os sentimentos, o propósito/direção, a reação biológica e a expressão – os desafios ou oportunidades que são importantes 4 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra para os objetivos pessoais em contextos sociais significativos. A mente e o corpo de uma pessoa reagem de um modo adaptativo. Em essência, este debate pretende saber se as emoções são essencialmente biológicas ou primariamente fenómenos cognitivos: no primado da cognição, existe uma avaliação do significado e da relevância pessoal dos acontecimentos e no primado da biologia, temos presente a ativação subcortical. Biologia versus Cognição? Perspectiva biológica A biologia como causa primária da emoção. Os principais representantes desta perspectiva são Izard (1989), Eckman (1992) e Panksepp (1994). Izard defende que as respostas emocionais são precoces e não cognitivas. São respostas automáticas, inconscientes e mediadas por estruturas subcorticais. Por exemplo, as crianças são biologicamente sofisticadas mas cognitivamente limitadas demonstram o ponto de vista deste autor. Para Eckman as emoções são respostas adaptativas com origem filogenética. As emoções têm um aparecimento rápido, uma duração curta e podem ocorrer automática e involuntariamente. As emoções acontecem quando reagimos emocionalmente muito antes de estarmos conscientes dessa emoção. Para Pankseep, as emoções surgem de circuitos neuronais de origem genética que regulam a atividade cerebral, o que se demonstraria pela dificuldades em verbalizar as emoções, pela indução emocional por estimulação eléctrica e pela ocorrência das emoções nas crianças e outros animais. No entanto, algumas críticas são apontadas à perspectiva biológica, pois as emoções não assentam na linguagem, pelo que existem dificuldades em verbalizar as emoções; existe possibilidade de indução de emoções por procedimentos não cognitivos, como pela estimulação eléctrica, e as emoções podem ocorrer em crianças e animais não humanos, e no entanto não negam os aspetos cognitivos. Perspectiva cognitiva A atividade cognitiva como pré-requisito da emoção. Os principais representantes desta perspectiva são Lazarus (1991), Scherer (1997) e Weiner (1986). Lazarus demonstra a relevância pessoal dos acontecimentos. Sem a percepção desta relevância não existe razão para reagirmos emocionalmente. A avaliação cognitiva que os indivíduos fazem dos acontecimentos marca o aparecimento das emoções. 5 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Scherer faz a identificação de avaliações cognitivas geradoras de emoções. Weiner produziu uma análise atribucional da emoção. A teoria atribucional foca-se no pensamento e na reflexão pessoal que empreendemos perante os sucessos e os fracassos da vida. A atividade cognitiva é um pré-requisito necessário para a emoção. Relevância da avaliação do significado pessoal dos acontecimentos, pois as nossas emoções dependem do significado atribuído aos estímulos Perspetiva abrangente Existe uma perspectiva mais abrangente, que defende que tanto a cognição como a biologia causam a emoção – o modelo dos dois sistemas (ou de sistema duplo) de Buck. Aprendizagem sociocultural e história pessoal Acontecimento significativo História evolutiva filogenética das espécies Estruturas e processos corticais Interpretação avaliação consciente do significado e significação pessoal do estímulo Reacção Instantânea, Automática e Inconsciente às Características Sensoriais do Estímulo estruturas e processos subcorticais Output Paralelo, Interactivo e Coordenado que Activa e Regula a Emoção Esta estabelece uma relação entre biologia e cognição na explicação da emoção através de dois sistemas/processos sincronizados que ativam e regulam a emoção, a História Evolutiva/Filogenética, pela ativação de certas estruturas e processos subcorticais e pela reação espontânea, automática e inconsciente às características sensoriais dos estímulos, e a Aprendizagem sociocultural e História Pessoal, pela ativação de estruturas e processos corticais e pela interpretação e avaliação consciente do significado e significação pessoal do estímulo. Buck defende que os seres humanos têm dois sistemas sincronizados que ativam e regulam a emoção. Um sistema é inato, espontâneo e fisiológico que reage involuntariamente a um estímulo emocional. Um segundo sistema é cognitivo baseado na experiência que reage socialmente e fazendo interpretações. O 6 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra sistema fisiológico emocional surge primeiro na evolução da espécie humana enquanto que o sistema cognitivo emocional surge mais tarde quando os seres humanos se desenvolvem ao nível do cérebro e da socialização. Pankseep adiciona a informação que algumas emoções surgem primeiro através do sistema biológico enquanto outras surgem primeiro através do sistema cognitivo. O problema da galinha e do ovo – Debate Biologia vs. Cognição (Plutchik) Ativação/arousal Preparação para a ação Cognição Acontecimento/estímulo significativo Emoção Comportamento Aberto Sentimentos Manifestações Expressivas A emoção é o resultado de uma cadeia de acontecimentos organizados num complexo sistema de feedback. O sistema de feedback começa com um acontecimento de vida significativo e finaliza-se com uma emoção. Mediando estes dois pólos há uma complexa cadeia interativa de acontecimentos, que engloba a cognição, o arousal/ativação, a preparação para a ação, os sentimentos, as exibições expressivas e o comportamento aberto ativo constituem o “caldeirão” de experiências que causam, influenciam e regulam a emoção. Este modelo pretende não conceptualizar onde realmente começa a emoção, pois o estímulo (activador) significante pode surgir em qualquer ponto da cadeia. O esquema acima representado constitui a solução dada ao problema “galinha-ovo” por Plutchik: o importante é não conceptualizar a cognição como causador directo da emoção, assim como a biologia. Quantas emoções existem? 7 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Perspectiva Biológica Enfatiza o facto de haver emoções primárias, tendo como limite mínimo duas emoções e máximo dez. Cada um dos teóricos biológicos tem uma boa razão para propor um número específico de emoções, apesar de cada proposta ser baseada numa ênfase diferente. Solomon (1980) – dois sistemas hedónicos. Gray (1994) – três sistemas de circuitos neuronais: aproximação, luta/fuga e inibição (ansiedade). Pankseep (1982) – quatro circuitos no sistema límbico (medo, raiva/cólera, pânico e expectativa). Stein e Trabasso (1992) – quatro reações básicas face às tarefas de vida: realização (felicidade), perda (tristeza), obstrução (raiva/cólera) e incerteza (medo). Tomkins (1970) – seis padrões de ativação neuronal: interesse, medo, surpresa, raiva/cólera, sofrimento e alegria. Ekman (1994) – seis emoções associadas a expressões faciais universais: medo, raiva/cólera, repugnância, tristeza, felicidade e desprezo. Plutchnick (1980) – oito padrões de emoções, comportamentos comuns aos organismos vivos: raiva/cólera, repugnância, tristeza, surpresa, medo, aprovação, alegria e antecipação. Izard (1991) – teoria diferencial das emoções: raiva/cólera, sofrimento, medo, alegria, repugnância, surpresa, vergonha, culpa, interesse e desprezo. Pontos comuns a todos os teóricos: Existência de um número reduzido de emoções básicas. As emoções básicas são universais (seres humanos e animais). Origem filogenética e biológica. Atributos das emoções: São breves. São involuntárias. 8 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Podem ser observadas em diferentes espécies. Têm uma componente avaliativa que é automática e inconsciente. Têm uma investida rápida. São coerentes (a partir dos processos biológicos e evolucionários). Diferenciam-se em termos de sinais faciais e corporais. Diferenciam-se em termos dos seus antecedentes universais. Diferenciam-se em termos de padrões de ativação fisiológica. Perspectiva cognitiva e cultural Reconhece a importância das emoções primárias, mas enfatiza as emoções complexas/secundárias. Esta perspectiva defende que os seres humanos experienciam um grande número de emoções. Afirmam que existe um número limitado de circuitos neuronais, expressões faciais e reações corporais, mas chamam a atenção de que, apesar disso, várias emoções podem surgir de uma mesma reação biológica. Os seres humanos experienciam um número variado de emoções porque as situações podem ser interpretadas de várias maneiras e porque elas surgem de um conjunto de avaliações cognitivas, da linguagem, do conhecimento pessoal, da história de socialização e das expectativas culturais. Isto é assim porque todos os teóricos cognitivos compartilham o pressuposto de que "as emoções surgem em resposta às estruturas de significado de determinadas situações, diferentes emoções surgem em resposta a diferentes estruturas de significados" (Frijda, 1988). A forma como as teorias cognitivas da emoção diferem está no como elas retratam as pessoas e na forma com interpretam o significado da situação. A situação pode fornecer o contexto para interpretar o estado de activação/excitação (Schachter, 1964), o indivíduo pode interpretar o seu próprio estado com sendo excitado (Kemper, 1987). Além disso, as pessoas fazem avaliações acerca de saber se sua relação com o ambiente afecta o seu bem-estar pessoal (Lazarus, 1991), o significado e as lembranças das situações que enfrentam (Frigja, 1993) e as suas atribuições de resultados bons e maus do que ocorreu (Weiner, 1986). As experiências emocionais são construídas profundamente dentro da linguagem (Shaver et al., 1987), nas formas de agir socialmente construídas (Averill, 1982) e nos papéis sociais como "cheerleader" e "bully" (Heise, 1989). Perspectiva intermédia 9 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Argumentam que cada emoção básica não é uma emoção simples mas, por contrário, uma família de emoções relacionadas. Cada membro de uma família partilha muitas das características da emoção básica. Há um número limitado de famílias de emoções com origem na biologia e na evolução, mas também há um número de variações destas emoções através da socialização, aprendizagem e cultura. Critérios das emoções básicas: São inatas. Surgem face a circunstâncias semelhantes para todos os sujeitos. Têm formas de expressão únicas e distintas. Evocam um padrão de resposta fisiológica única e previsível. Família das emoções básicas Medo Raiva Repugnância Tristeza Alegria Interesse Emoções positivas envolvimento e satisfação Emoções negativas Ameaças e danos Temática das emoções básicas Medo É uma reação emocional que surge quando uma pessoa interpreta uma situação ou enfrenta uma ameaça ou um perigo para o seu bem-estar. Os perigos percebidos ou as ameaças podem físicas ou psicológicas. A 10 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra situação mais ativadora do medo é aquela que antecipa uma ameaça física ou psicológica, uma vulnerabilidade ou uma crença de que não seremos capazes de responder ativamente às circunstâncias que virão. O perigo motiva a defesa. Esta proteção manifesta-se através da fuga ou afastamento do objeto causador de medo. Se a fuga não é possível o medo motiva-nos a ficar quietos. O medo pode ainda motivar a aprendizagem de novas respostas adaptativas que permitem à pessoa evitar o perigo em primeiro lugar. O medo tem assim uma função positiva de preparar o sujeito para evitar situações de perigo, mas também pode tornar-se uma função negativa quando leva a fugas sem que haja perigo real para o sujeito, como no caso das fobias. Raiva/cólera É uma emoção ubíqua. Surge a partir de barreira, uma interpretação de que os nossos planos, objetivos ou bem-estar estão a sofrer a interferência de uma força externa. Surge também como reação a uma traição de confiança, a uma recusa, ao receber críticas injustificadas e perante uma falta de consideração por parte dos outros. A essência da raiva é a crença de que a situação não é o que deve ser. A raiva torna a pessoa mais forte e mais enérgica. É o tipo de emoção mais perigosa, contudo pode ser extremamente positiva se for socializada. A raiva socializada de uma forma construtiva é um processo positivo para evitar desigualdades sociais, injustiças, etc. Aumenta o nosso sentido de autocontrolo e torna as pessoas mais sensíveis e atentas às injustiças que as outras pessoas cometem. A raiva pode ter uma importante função de alerta que leva outros a ter uma maior compreensão da outra pessoa e do problema causador da raiva. O seu objetivo é destruir barreiras do meio. Repugnância Envolve preparar-se ou afastar-se de um objeto contaminado, deteriorado ou estragado. A sua função é a rejeição como objectivo de protecção. Através da repugnância o indivíduo rejeita ativamente alguns aspetos físicos ou psicológicos do meio. Tem um papel motivacional positivo nas nossas vidas. Tristeza 11 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra É a emoção mais negativa e aversiva. Surge principalmente perante experiências de separação ou falha. A tristeza motiva o indivíduo a iniciar qualquer comportamento necessário para aliviar o stress provocado pelas circunstâncias. Motiva a pessoa a restaurar o meio para o seu estado antes da situação stressante. No entanto, nem todas as separações e fracassos podem ser restaurados. Numa situação desesperante a pessoa não se comporta de modo ativo, mas antes de modo inativo e letárgico que leva a desistir da situação. Um aspeto positivo da tristeza é que indiretamente facilita a coesividade dos grupos sociais. A sua antecipação motiva as pessoas a manterem-se coesas com as pessoas que lhe são mais próximas. Pode motivar e manter comportamentos produtivos. Alegria Os eventos que provocam alegria estão relacionados com os resultados desejáveis. A alegria é a evidência emocional de que as coisas estão a correr bem. Sentimo-nos entusiasmados e ficamos otimistas. Tem duas funções. Facilita a nossa vontade de entrar em atividades sociais. O sorriso facilita a interação social. Tem também uma função de apaziguamento. São as emoções positivas que tornam a vida mais agradável e balançam as experiências de vida de frustração, desilusão e afetos negativos em geral. A alegria permite-nos preservar o nosso bem-estar psicológico e é também um modo de anulação dos efeitos stressantes das emoções negativas. Interesse É a emoção que mais prevalece no funcionamento do dia-a-dia. Está sempre presente algum nível de interesse. Aumentos e diminuições no interesse envolvem uma mudança de interesse de um acontecimento, pensamento e ação para outro. Normalmente, não acabamos e começamos o nosso interesse, nós redirecionamo-lo de um objeto para outro. Os acontecimentos que captam o nosso interesse estão relacionados com as nossas necessidades e o nosso bem-estar. O interesse cria o desejo de explorar, investigar, procurar, manipular e extrair informação dos objetos que nos rodeiam. Ou seja, o interesse aumenta a aprendizagem. Emoção Medo Raiva Alegria Tristeza Aceitação Repugnância Situação estímulo Ameaça Obstáculo Parceiro potencial Perda de alguém significativo Membro do grupo Objeto nojento Comportamento emocional Corrida, fuga. Morder, ferir, bater Cortejar Gritar por ajuda Tratar, partilhar Vomitar, afastar Função da emoção Proteção Destruição Reprodução Reunião Afiliação Rejeição 12 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Antecipação Surpresa Novo território Objeto novo e súbito Exame, planeamento Paragem, alerta Exploração Orientação Perspetiva funcional do comportamento emocional (Plutchik, 1980) Quais os aspetos positivos da emoção? As emoções têm uma função adaptativa e uma função social. As funções adaptativas (“coping functions”) advêm dos processos decorrentes da seleção natural e da adaptação. Permitem uma facilitação da adaptação individual às mudanças dos contextos físico e social, dinamização e direção adaptativa do comportamento nas tarefas de vida, e prontidão para responder a situações específicas. Já as funções sociais/relacionais, através da coordenação das interações sociais, informam e direccionam o comportamento dos outros. São um modo de comunicar os sentimentos aos outros, que são um dos componentes do comportamento não-verbal a par dos emblemas, ilustradores, reguladores, autoadaptores. Têm uma influência no comportamento dos outros, facilitam a interação social e criam, mantêm e dissolvem os relacionamentos. Funções Sociais das Emoções (Reeve, 2009) As emoções permitem comunicar os sentimentos pessoais aos outros, influenciar o modo como os outros interagem connosco, convidar e facilitar a interação social e criar, manter e dissolver relacionamentos. Portanto, os aspectos positivos das emoções centram-se em possuir altas capacidades adaptativas: Charles Darwin em “A expressão da emoção em Homens e Animais” referiu o carácter importante das emoções na função adaptativa, mais, chegou a afirmar que as emoções eram mais cruciais e relevantes do que as características físicas no papel da adaptação. Diferenciação entre emoção, humor, disposições e sentimentos Diferenciação entre emoção e humor As emoções têm como antecedentes situações significativas e avaliações da sua significação para o bem estar pessoal, enquanto o humor surge após a ausência de objeto, tem um efeito durável de uma emoção e tem uma origem desconhecida. As emoções levam a comportamentos, a cursos de ação específicos. O humor leva à cognição/pensamento, o que pode originar distúrbios. As emoções são episódios de duração breve. O humor, por outro lado, tem uma duração longa (horas/dias/semanas) e emana de acontecimentos internos longos. 13 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Diferenciação entre emoção e disposições Ao contrário das emoções que surgem de situações significativas, as disposições surgem de ocorrências repetidas de emoções discretas, integrando-se na personalidade. As emoções levam a comportamentos, a cursos de ação específicos, as disposições podem ser observadas numa grande diversidade de situações. As emoções são episódios de breve duração, enquanto as disposições têm uma duração muito longa (anos). Afectividade diária O afeto positivo e negativo são modalidades independentes de sentir, não opostas, que podem ocorrer simultaneamente. O afeto positivo varia sistematicamente com o ciclo do dia e reflete um envolvimento agradável (entusiasmo vs. tédio), dirigido para a recompensa, um sistema motivacional apetitivo. O afeto positivo leva a comportamentos de aproximação. A ativação da dopamina leva à expectativa de acontecimentos desejáveis. O afeto negativo reflete o envolvimento desagradável (irritabilidade vs. relaxamento), dirigido para a punição, um sistema motivacional aversivo. Leva a comportamentos de evitamento. A ativação da serotonina/noradrenalina leva à expectativa de acontecimentos indesejáveis. Afecto versus emoção positiva O afeto positivo reflete uma sensação generalizada de bem-estar (feeling good). Há uma ausência de consciência. Influencia o processamento de informação. Tem como benefícios o comportamento pró-social, a flexibilidade cognitiva e criatividade, a eficiência na tomada de decisão, sociabilidade e persistência face ao fracasso. A emoção positiva reflete uma ativação positiva. Ativa a atenção/consciência. Influencia a ação/comportamento. Condições facilitadoras do afecto positivo/bem -estar Acontecimentos elicitadores: Receção de um presente ou de um elogio; Experiência de um dia soalheiro Pensar sobre acontecimentos positivos, etc. Permanência do humor positivo através de decisões e ações. 14 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Perda do humor positivo através do envolvimento em atividades neutras/negativas. O afecto positivo tem como benefícios a maior probabilidade de comportamentos sociais, tais como, ajudar os outros, iniciar interações, agir mais cooperativamente. Há também uma maior probabilidade de arriscar, resolver problemas criativamente, persistência face à ausência de feedback, tomar decisões mais eficazes, e manifestar maior motivação intrínseca. Dimensão biológica da Emoção Principais dimensões da emoção Biológica Cognitiva Sociocultural Há medida que os eventos significativos surgem, activam reacções biológicas e cognitivas. O resultado dos processos biológicos e cognitivos gera emoção que nos leva a reagir de forma adaptativa aos acontecimentos. As variáveis são factores associados a mudanças. Acima estão as dimensões do estudo da emoção contudo, falta a finalidade para o objectivo que está incluída na variável cognitiva. Mas, ainda podemos aglutinar as variáveis da seguinte forma: Variáveis biológicas •Sistema Nervoso Autonómo •Sistema Endócrino •Circuitos neuronais cerebrais •Velocidade da ativação neuronal •Feedback facial Variáveis cognitivas e socioculturais •Avaliações (Appraisals) •Conhecimento •Atribuições •História de socialização •Identidades culturais Nas variáveis cognitivas sociais, o ponto-chave são as avaliações em termos do significado dos acontecimentos (avaliados como significativos). Explica como o sujeito A tem uma emoção neutra perante um acontecimento e o sujeito B não. 15 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Dimensão biofisiológica da emoção Teoria de James-Lange Questão: A activação biológica diferencial explica as diferentes emoções? Hipótese A: Estímulo ⇒Emoção ⇒Reacção biológica Hipótese B (James-Lange): Estímulo ⇒Reacção biológica ⇒Emoção O organismo reage unicamente e discriminadamente a acontecimentos eliciadores da emoção e não reage a acontecimentos não eliciadores da emoção. Segundo este autor primeiro há uma reação espontânea/instantânea e padronizada e só depois uma interpretação/percepção da reação. Isto é que leva à experiência de emoção. Limitações da teoria de James-Lange O papel da ativação biofisiológica não é determinante da experiência emocional. Inexistência de uma ativação biofisiológica diferenciada para cada emoção. Não há uma diferenciação das reacções orgânicas. Velocidade da resposta emocional superior à da ativação biofisiológica – o papel da activação fisiológica: amplificação da experiência emocional. Dados da investigação contemporânea demonstram a existência de padrões de respostas biofisiológicas diferenciadas para algumas emoções. E demonstram também a inexistência de respostas biofisiológicas diferenciadas para a totalidade das emoções. Era defendido que a emoção é rapidamente seguida por mudanças corporais. William James não concordou com esta teoria e sugeriu que as nossas mudanças corporais não seguiam a emoção, mas sim que as nossas emoções seguem e dependem das nossas respostas corporais aos estímulos (estímulo – reação corporal – emoção). Segundo James o corpo reage unicamente a diferentes acontecimentos provocadores de emoções e não reage a eventos não emotivos. O corpo reage e as reações emocionais encontram-se em nós antes de termos consciência disso. A experiência emocional é o modo de uma pessoa dar sentido às diferentes mudanças corporais. A perspectiva contemporânea defende que as diferentes emoções produzem de facto diferentes padrões de atividade corporal. A perspectiva moderna defende que as emoções recrutam suporte biológico e psicológico para permitir respostas adaptativas com fugir, lutar e nutrir. Críticas à teoria de James-Lange (Cannon) 16 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra As reacções corporais referidas por James fazem parte da resposta global do corpo e não variam de emoção para emoção. A experiência emocional é mais rápida que a reacção biológica logo o papel de excitação fisiológica é aumentar mas não é causar a emoção. O contributo das alterações biológicas é mínimo. Mesmo sem estímulos que justifiquem a reacção fisiológica os gatos tinham repostas desadequadas (ou exageradas ou mínimas) logo, o córtex é essencial, tem a função reguladora da emoção. A teoria de James Lange é deitada por terra, pois mesmo sem a base (o córtex) da reacção fisiológica a emoção acontece. Por outras palavras, o papel da activação biofisiológica não é determinante da experiência emocional, pela inexistência de uma activação biofisiológica diferenciada para cada emoção, pela velocidade da resposta emocional superior à da activação biofisiológica. Dados da investigação contemporânea demonstram a existência de padrões de respostas biofisiológicas diferenciadas para algumas emoções. E demonstram também a inexistência de respostas biofisiológicas diferenciadas para a totalidade das emoções. Perspetivas contemporâneas Papel da activação biofisiológica (SNA - Sistema Nervoso Autónomo) Tem em conta as especificidades biofisiológicas de algumas emoções. A activação biofisiológica acompanha, regula e estabelece o estádio da emoção. A questão que se coloca é: “haverá uma ativação da experiência de emoção ou um enquadramento da experiência emocional?” A activação fisiológica regula o nível de estimulação, amplifica a experiência emocional. Actualmente, algumas/certas emoções têm um padrão biofisiológico específico e único. As respectivas reacções tornam a emoção mais forte e mais adaptativa: o ritmo cardíaco e temperatura da pele aumentam para a raiva, o ritmo aumenta e a temperatura diminui para o medo, o ritmo aumenta e a temperatura mantém-se para a tristeza, o ritmo mantém se e a temperatura aumenta para a alegria, e com a frustração ambos diminuem. Três circuitos neuronais distintos (Gray, 1994): Sistema de aproximação comportamental – interação com oportunidades ambientais, alegria. Prepara o animal para procurar e interagir com oportunidades ambientais atrativas. Sistema de fuga ataque – fuga/defesa agressiva, medo vs. raiva/cólera. Prepara o animal para fugir de alguns eventos agressivos, mas para se defender agressivamente contra outros acontecimentos. Sistema de inibição comportamental – “paragem” face a acontecimentos aversivos, ansiedade. Prepara o animal para congelar na presença de acontecimentos aversivos. 17 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Áreas específicas no cérebro, como as regiões subcorticais, são activadas na experiência emocional (amígdala, hipotálamo) e são perfeitamente capazes de gerar e regular emoções específicas: a amígdala controla as emoções negativas (medo, ansiedade, raiva); o córtex pré-frontal esquerdo, o afecto positivo e a alegria, e o córtex pré-frontal direito controla o medo e afecto negativo. Ativação neuronal (Tomkins, 1970) Neural firing: padrão de actividade electrocortical cerebral. As emoções são activadas a diferentes ritmos/velocidade. O nível de resposta dos neurónios às várias situações. O sistema nervoso está sempre activo e há diferentes velocidades de resposta. O nível de actividade é informativo da presença de certas emoções. De acordo com Tomkins, há três padrões de actividade electrocortical que estão dependentes dos acontecimentos e que deixam a pessoa pronta para qualquer evento. A actividade aumenta face à surpresa (aumento dramático), medo (aumento moderado) e interesse (aumento pequeno). Se a rede neuronal mantém um valor elevado é activada a raiva ou para a dor. Se diminui é activada a alegria Teoria diferencial das emoções (Izard,1991) O sistema motivacional humano é constituído por 10 emoções básicas. Cada emoção tem a sua qualidade fenomenológica, única: uma experiência subjectiva única; cada emoção tem o seu padrão único de expressão facial; cada emoção tem o seu padrão de activação neuronal e cada emoção tem funções adaptativas e motivacionais distintas – papel motivacional central 18 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Emoções positivas •Interesse •Alegria Emoções neutras •Surpresa Emoções negativas •Medo •Raiva •Repugnância •Mal-estar/angústia (distress) •Desprezo/desdém (comtempt) •Vergonha •Culpa Estas dez emoções discretas atuam como um sistema motivacional que prepara o indivíduo para agir de forma adaptativa. Cada emoção existe para fornecer ao indivíduo uma heurística organizada para lidar efetivamente com as tarefas da vida e os problemas que são importantes e recorrentes. As restantes emoções são secundárias, surgindo depois e permitindo descrever os estados de humor, as atitudes, os traços de personalidade, as desordens, etc. Hipótese do feedback facial 1. Acontecimento interno ou externo 2. Ativação subcortical Neural firing Sistema limbico – hipotálamo e gânglios basais. Impulsos - gerados no córtex motor e enviados à face, para o nervo facial (Nervo cranial VII) 3. Expressão facial Ações faciais: Mudanças na musculatura, na temperatura e nas glândulas faciais. Nervo trigerminal (Nervo cranial V) 4. Processamento cortical Recepção da informação da acção facial no córtex sensorial. 5. Experiência subjetiva da emoção Integração cortical na informação de feedback facial: experiência. 19 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Izard defende que o feedback facial é a ativação da cadeia de processos subjacentes à experiência de emoção. Apenas quando esta cadeia de processos é ativada é que recrutados a participação cognitiva e corporal para manter a experiência emocional ao longo do tempo. Teste da hipótese do Feedback facial Strong version - A manipulação da musculatura facial activa a experiência emocional-Dados contraditórios Weak version - O feedback facial modifica a intensidade da emoção Dado consensual – a manipulação origina reacções fisiológicas Segundo a hipótese do feedback fácil, a exposição a um acontecimento interno ou externo aumenta o nível de “combustível” o suficiente para ativar um programa de emoção subcortical, como por exemplo o medo. O cérebro subcortical tem programas inatos e geneticamente decididos. Quando ativados, estes programas mandam impulsos para os gânglios basais e os nervos faciais para gerar expressões faciais discretas. Após a expressão facial de medo o cérebro interpreta esta estimulação. Este padrão particular de feedback facial é integrado corticalmente para aumentar o sentimento subjetivo de medo. Apenas aí é que o lobo frontal do córtex se toma consciência do estado emocional. Para validar esta hipótese foi feito um teste da ativação da experiência emocional através da manipulação da musculatura facial. Verificou-se o impacto da expressão facial sobre processos fisiológicos. Contudo, houve dados contraditórios em torno do impacto da expressão facial sobre a experiência emocional. Fez-se ainda um outro teste de regulação da intensidade da experiência emocional através da manipulação da musculatura facial. Verificou-se um exagero/exacerbação vs. supressão contenção da expressão facial e uma intensificação vs. atenuação das respostas fisiológicas e da experiência emocional. Assim, concluiu-se que a emoção ativa as expressões faciais e estas amplificam a experiência emocional. O papel do feedback facial não invalida o contributo de outras variáveis, tais como, a expressão vocal e o tacto. Universalidade das expressões faciais Existe um acordo entre os sujeitos de diferentes culturas na codificação e descodificação das emoções básicas. No entanto, a universalidade das expressões emocionais demonstra o carácter inato versus 20 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra aprendido das expressões faciais através de estudos transculturais, ou seja, existe uma variação cultural na expressão facial das emoções. Contudo, são feitas críticas aos estudos sobre a universalidade das expressões faciais pelo gradiente crítico de reconhecimento maior (alegria) e menor (repugnância, medo, etc.), pela metodologia da escolha forçada e pela validade ecológica. A maioria dos estudos sugere que uma pose de uma musculatura facial produz experiência emocional nem que seja com efeito pequeno. A postura expressão facial tem o efeito de implementar/reforçar os efeitos da emoção sentida. O feedback facial tem uma função: activação emocional – assim que uma emoção está activada é ela que programa, recruta o que é necessário para a experiência emocional. Controlo voluntário das emoções Há a exigência da exposição a um elicitador emocional que pode ser interno ou externo. A componente biofisiológica da emoção é dificilmente controlável. As emoções têm quatro aspectos: sentimentos, excitação, propósito e expressão. Há emoções que claramente, simplesmente acontecem e das quais não podemos ser constituídos responsáveis. Por outro lado, todos temos dificuldade em conjugar diversas emoções e conseguir definir ao certo o que se sente. Nós precisamos de ser expostos a uma situação que gere emoção específica de um determinado estado emocional. As emoções são reacções e precisamos de um evento para reagir antes de formularmos a conjectura da emoção que estamos a sentir. Se as emoções são um fenómeno biológico governado pela estruturas subcorticais, faz sentido afirmar que muita da nossa emoção nos escapa ao controlo. Se, contudo, as emoções são um fenómeno cognitivo governado por pensamentos, crenças, e formas de pensar faz sentido dizer que a emoção é largamente controlada voluntariamente. A componente biofisiológica da emoção é dificilmente controlável. A significação pessoal tem que ver com a história e personalidade que são únicas daí que, os efeitos não são uniformes e iguais na reacção. Dimensão cognitiva e SOCIOCULTURAL da emoção O constructo central desta dimensão é a avaliação (“appraisal”). Só existe emoção se houver uma significação/relevância pessoal dos acontecimentos. Segundo esta dimensão a experiência emocional exige uma avaliação prévia. É a avaliação que origina a emoção. Os acontecimentos irrelevantes para o sujeito não geram emoção. Em primeiro lugar há uma avaliação automática e inconsciente, uma avaliação hedónica de objetos e acontecimentos. Este é um sistema que envolve a amígdala. Em segundo lugar dá-se um processo de avaliação que envolve o córtex (expectativas, memórias, crenças, objetivos, julgamentos e atribuições). 21 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra A abordagem discreta faz avaliações distintas, que dão origem a diferentes emoções, e a dimensional diz respeito às várias componentes de avaliação que se relacionam com diferentes emoções. Segundo esta teoria, sem uma avaliação cognitiva prévia ao acontecimento a emoção não ocorrer. É a avaliação, não o evento em si, que causa a emoção. Mudando a avaliação que fazemos da situação vamos mudar a emoção. Teoria da avaliação/Appraisal de Magda Arnold (1970) Avaliação •Acontecimento •Benéfica vs. ameaçadora Situação Acção •Gosto vs. aversão •Aproximação vs. evitamento Emoções 1. Arnold's Appraisal Theory of Emotion 1) Como é que a percepção de um acontecimento produz uma avaliação positiva ou negativa? As pessoas avaliam categorialmente os acontecimentos estimulantes e os objetos como positivos ou negativos. Em todos os encontros com o meio, o sistema límbico e as estruturas cerebrais avaliam automaticamente a informação sensorial. A maior parte dos estímulos são avaliados corticalmente, sendo adicionada informação relativa a expectativas, memórias, crenças, objetivos, julgamentos e atribuições. 2) Como é que a avaliação gera emoção? Após um objeto ser avaliado como bom ou mau surge imediata e automaticamente uma experiência de gostar ou não gostar. Isto é a emoção sentida. As emoções surgem a seguir às avaliações. Se se mudar a avaliação muda-se a emoção. 3) Como é que a emoção se expressa na ação? Gostar gera uma tendência motivacional de aproximação do objeto gerador da emoção. Não gostar gera uma tendência motivacional para o evitar. Durante a avaliação, o indivíduo invoca a memória e a imaginação para gerar um número de possíveis cursos de ação para lidar com o objeto (bom ou mau). Quando um curso particular de ação é escolhido, o circuito cerebral do hipocampo ativa o córtex motor que leva a ação 22 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra comportamental. O sistema límbico tem acesso directo aos músculos que controlam as expressões faciais, reacções automáticas e endócrinas e sistemas gerais de excitação. O modelo complexo de Appraisal de Lazarus Lazarus enfatizou os processos cognitivos que intervém entre os eventos de vida importantes. Defendeu que as pessoas positivas avaliam se a situação tem relevância pessoal ou não para o seu bem-estar. Quando o bem-estar está em jogo, as pessoas avaliam a potencial ameaça ou benefício que enfrentam. Situação Avaliação Emoção A situação é definida como os processos cognitivos mediadores dos acontecimentos importantes e da reactividade fisiológica e comportamental. Tipo de benefício • Progresso em direcção a um objectivo Emoção Felicidade • Ser reconhecido por um feito • Melhoria de uma situação desagradável Orgulho Orgulho • Crença de que um resultado desejado é possível • Desejo/envolvimento afectivo Esperança Amor • Sensibilidade perante o sofrimento de outro Compaixão • Apreço por um presente altruísta Gratidão Tipo de Dano Avaliação • Ser rebaixado por uma ofensa pessoal Raiva • Transgredir um imperativo moral • Fracasso em prosseguir um ideal do ego Culpa Vergonha • Experimentar uma perda irreversível Tristeza • Aceitar um objecto/ideia aversiva Repugnância Tipo de Ameaça •Enfrentar uma ameaça incerta Ansiedade • Enfrentar um perigo imediato esmagador Medo • Desejar o que outros possuem Inveja • Ressentir-se de uma perda a favor de um rival Ciúme Assim, as pessoas em primeiro lugar avaliam a sua relação com o acontecimento de vida (“primary appraisal”), depois avaliam as suas capacidades para enfrentar esse acontecimento (”secondary appraisal”). A avaliação primária envolve uma estimativa de se temos algo em jogo no encontro com o meio. 23 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Normalmente, está em jogo nesta primeira avaliação a saúde, a autoestima, um objetivo, um estado financeiro, respeito ou o bem-estar de uma pessoa amada. Quando um destes seis resultados está em jogo um “acontecimento de vida comum” torna-se um “acontecimento de vida significativo” gerador de emoção. Na avaliação secundária está envolvida a avaliação pessoal das capacidades para enfrentar a possível ameaça ou benefício. As capacidades para enfrentar podem ser esforços cognitivos, emocionais ou comportamentais. Em suma, esta teoria defende que: após um encontro com o meio o indivíduo faz uma primeira avaliação relativa à relevância e significância pessoal do acontecimento. Se este não é visto como um potencial benefício ou ameaça não ocorre uma hiperactivação do sistema nervoso autonómico. A falta de descargas assinala que não são necessárias capacidades para enfrentar o acontecimento. Assim, este acontecimento falhou ao gerar um episódio emocional. Se o acontecimento é percebido como uma potencial ameaça ou benefício, então uma emoção específica é ativada e ocorre uma hiperactivação do SNA de modo a prepara a pessoa para se adaptar ao evento de vida importante. A ativação do SNA também prepara a avaliação secundária, na qual o indivíduo pondera se é capaz de lidar com sucesso com o evento de vida. Se os esforços do indivíduo têm sucesso a atividade do SNA começa a diminuir e a emoção perde o seu estatuto porque o benefício é atingido ou a ameaça dissipada. Se os esforços não são bem-sucedidos continua a ativação do SNA e a pessoa experiencia stress e ansiedade porque os benefícios escapam-lhe ou a ameaça ocorre. As emoções mudam à medida que as avaliações mudam. O processo da emoção não é uma sequência linear mais sim, uma mudança constante dos estatutos dos motivos de cada um. Lazarus, rotula a sua teoria da emoção de cognitiva-motivacional-relacional: cognitiva porque mostra a importância da avaliação, motivacional porque comunica a importância dos objectivos e bem-estar e relacional porque comunica que as emoções nascem da relação com o meio (benefícios, ameaças, perigos). Nos processos de appraisals, Arnold usa a avaliação para explicar duas emoções (gostar e não gostar). Já para Lazarus, a avaliação primária e secundária explicam quinze emoções. Mas, para outros autores cognitivistas, a avaliação explica todas as emoções. Na sua perspectiva, cada emoção tem um padrão único de avaliações que envolvem a interpretação de significados múltiplos para a situação. Diferenciação das emoções (Roseman, Antonio & Jose, 1996) A mudança de avaliação permite explicar o processo de diferenciação das emoções, explicar como as pessoas experienciam diferentes emoções para um mesmo evento. 24 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra É um modelo de seis dimensões de avaliação, que abrange os objectivos/necessidade e a sua avaliação hedónica, através das emoções positivas e das emoções negativas, as competências de coping, pelo potencial de controlo alto e o potencial de controlo baixo, e a responsabilidade, pelas circunstâncias, os outros e o próprio, que quando combinadas se traduzem em dezassete emoções. Contudo, existem cinco razões pelas quais a teoria não pode explicar as reações emocionais com 100% de certeza: Outros processos para além da avaliação contribuem para a emoção; a avaliação tem muitas vezes a função de intensificar a emoção em vez de a causar; enquanto cada emoção tem um padrão único de avaliação associado, os padrões de avaliação para muitas emoções coincidem e criam alguma confusão; existem diferenças desenvolvimentais entre as pessoas; o conhecimento emocional e as atribuições representam fatores cognitivos adicionais para além da avaliação que afetam as emoções. Conhecimento emocional As crianças compreendem e distinguem apenas poucas emoções básicas. As pessoas vão ganhando experiência com diferentes situações e aprendem a discriminar outras emoções. Estas distinções são guardadas cognitivamente em hierarquias de emoções básicas e suas derivadas. Assim, o número de emoções diferentes que cada pessoa consegue distinguir constitui o seu conhecimento emocional. Através da experiência construímos uma representação mental de diferentes emoções e da maneira como cada emoção se relaciona com outras emoções e as situações que as produzem. Teoria Atribucional da Emoção (Weiner, 1985, 1986) Face a um resultado, há uma avaliação primária do seu efeito, e consequentemente, uma avaliação secundária desse mesmo resultado, esta última que se traduz em sete emoções. Resultado Felicidade Quando o efeito é positivo Orgulho - Se o efeito positivo é atribuído a causas internas Gratidão - Se o efeito positivo é atribuído a uma causa externa Esperança - Se o efeito positivo é atribuído a uma causa estável Tristeza ou frustração Se o efeito é negativo Raiva - Se o efeito negativo é atribuído a causas externas controláveis Compaixão Se o efeito negativo é atribuído a uma causa externa incontrolável Culpa - Se o efeito negativo é atribuído a uma causa interna controlável Vergonha - Se o efeito negativo é atribuído a uma causa interna incontrolável 25 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Este modelo demonstra as consequências da atribuição de sete emoções. Assume que as pessoas querem explicar porque é que experienciaram um determinado resultado de vida. Uma atribuição é a razão que a pessoa usa para explicar um resultado. É a resposta à pergunta: porque é que isto aconteceu? As atribuições são importantes porque a explicação gera reações emocionais. Com resultados positivos, as pessoas sentemse, geralmente, felizes e com resultados negativos as pessoas sentem-se tristes ou frustradas. Weiner refere que a reação emocional dependente dos resultados é uma avaliação primária do resultado. Em adição a isto ocorre também uma reação emocional gerada pelo resultado. As pessoas explicam porque é que foram bem-sucedidas ou falharam. Após o resultado ter sido explicado surgem novas emoções para diferenciar o estado emocional geral noutras emoções secundárias. A atribuição do porque é que o resultado aconteceu constitui uma avaliação secundária do resultado. Aspectos culturais das emoções: conhecimento emocional, gestão emocional e controlo emocional A interação social contribui para uma compreensão social da emoção. O contexto sociocultural em que vivemos contribui para uma compreensão cultural da emoção. Se mudarmos a cultura em que vivemos, o nosso reportório emocional também vai mudar. Os diferentes estatutos entre as pessoas que interagem definem que emoções são apropriadas e esperadas e, deste modo, as pessoas podem selecionar os parceiros de interação e construir uma experiência emocional específica. Avaliação/appraisal •Contribui para uma compreensão cognitiva da emoção Contexto sócio-cultural Interação Social •Contribui para uma compreensão cultural da emoção •Contribui para uma compreensão social da emoção 26 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Variáveis socioculturais da emoção São o reportório do conhecimento transmitido e assimilado de forma diferenciada por cada sujeito. Gestão da expressão emocional/Interação Social O como se deve expressar as emoções. A socialização emocional ocorre quando os adultos ensinam as crianças sobre as emoções. Esta socialização também ocorre entre adultos, mas é mais frequente entre adultos e crianças. Os adultos falam com as crianças sobre as situações que causam emoções, como se devem expressar e como devem catalogar as emoções. Sociedades diferentes socializam as suas crianças de modo diferente. Os outros e a cultura em geral facultam instruções sobre as causas das emoções (Socialização Emocional) - as outras pessoas são a nossas fonte de emoção do dia-a-dia. Experienciamos um grande número de emoções quando interagimos. As emoções são intrínsecas às relações interpessoais. Têm também um papel importante a criar, manter e dissolver as relações interpessoais. As emoções juntam-nos e separam-nos. Quando estamos expostos às expressões emocionais dos outros nós tendemos a imitá-los (expressão facial e postura) e a ser afetados por um efeito contagiante. Durante a interação social não apenas nos expomos ao contágio emocional mas também nos pomos num contexto controverso que fornece uma oportunidade para voltar a experienciar e a viver experiências emocionais passadas. Um processo chamado de partilha social de emoções. O “contágio emocional” é a tendência para automaticamente produzir mímica e sincronizar expressões, vocalizações, posturas e movimentos com os da outra pessoa”. Socialização emocional/ Conhecimento emocional A socialização emocional ocorre quando os adultos ensinam as crianças sobre as emoções. Esta socialização também ocorre entre adultos, mas é mais frequente entre adultos e crianças. Os adultos falam com as crianças sobre as situações que causam emoções, como se devem expressar e como devem catalogar as emoções. Também, explicam que certos comportamentos expressivos devem ser controlados e que as emoções negativas podem ser manipuladas deliberadamente em emoções neutras ou positivas. Sociedades diferentes socializam as suas crianças de modo diferente. Os pais americanos valorizam as conquistas dos filhos e encorajam-nos a se expressarem positivamente enquanto os pais chineses tendem a apagar/obliterar as conquistas dos filhos perante os outros. As crianças 27 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra americanas têm orgulho das suas conquistas e as chinesas harmonizam o seu self com os outros através da auto-supressão. As americanas preferem histórias excitantes e as chinesas histórias calmas. Controlo emocional Quando devo controlar as emoções - o modo como as pessoas aprendem a controlar as suas emoções pode ser compreendido no mundo profissional daqueles que interagem frequentemente com pessoas e que devem controlar as suas emoções (ex. psicólogos), o controlo de emoções está muitas vezes relacionado com capacidades para lidar com sentimentos aversivos de maneiras que são socialmente desejáveis e pessoalmente adaptativas. A pressão da socialização leva à manutenção das próprias emoções dentro de um determinado tema de coping e dos sentimentos aversivos para que sejam ambos desejáveis socialmente e adaptativos pessoalmente. As pessoas aprendem a lidar com os seus sentimentos privados, espontâneos e a expressá-los de forma socialmente desejável. Os padrões emocionais e respectivas funções motivacionais (Ford, 1992) Ford distingue catorze padrões emocionais com distintas funções motivacionais. Os rótulos considerados em cada padrão sublinham o facto de que os padrões emocionais se podem manifestar de diferentes formas, dependendo da magnitude da resposta emocional e do contexto no qual ela é ativada. Oito padrões de emoções instrumentais que ajudam a regular o comportamento. 1. Quatro emoções instrumentais que ajudam a regular o início, a continuação, a repetição e a cessação de episódios comportamentais: Satisfação – prazer – alegria: motivação para a manutenção de episódios comportamentais em que os sujeitos estão a efetuar progressos relativamente aos seus objetivos. Motivação para a repetição de episódios comportamentais em que os sujeitos tenham sido bem-sucedidos no alcance dos seus objetivos. Melancolia – desencorajamento – depressão: facilita a cessação de episódios comportamentais mal sucedidos, está associado com o fracasso e a incompetência pessoal. Curiosidade – interesse – excitação: encoraja a procura, a organização e a retenção de nova informação; promove o comportamento exploratório em contextos que envolvem novidade e 28 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra variedade; a ativação desta emoção é mais provável quando o contexto é claramente relevante para os objetivos pessoais. Desinteresse – aborrecimento – apatia: promove o adiantamento ou a cessação de episódios comportamentais envolvendo informação irrelevante ou bastante familiar; evita que os sujeitos percam tempo no processo de recolha, organização e/ou evocação de informação com pouca utilidade e/ou já anteriormente aprendida. 2. Quatro emoções instrumentais que ajudam a regular os esforços para lidar com circunstâncias potencialmente disruptivas ou causadoras de danos: Alarme – surpresa – espanto: tem como função interromper episódios comportamentais em curso, reorientando a atenção para a avaliação (qual o seu potencial significado) de acontecimentos súbitos e inesperados. Irritação – cólera – raiva: facilita a ultrapassagem ou a remoção de obstáculos ao alcance dos objetivos; é elicitada por avaliações que indicam que algo ou alguém está a obstruir ou a impedir o progresso relativamente aos objetivos e tende a produzir comportamentos como os de agressão, protesto, ativismo social ou um conjunto de atividades com elevado grau de energia e de grande determinação. Preocupação – medo – terror: promove comportamentos de evitamento ou de cautela em circunstâncias que envolvem ameaças reais ou potenciais ao bem-estar físico e psicológico; é elicitada por avaliações que indicam que algo ou alguém pode causar dano, prejuízo ou sofrimento emocional. Desaprovação – repugnância – aversão: ajuda o evitamento de meios contaminados que podem produzir doença, infeção ou morte; é elicitada por condições avaliadas como nocivas e está associada com a resposta biológica de náusea. Seis padrões de emoções sociais que ajudam a facilitar e manter as relações sociais e os grupos sociais. 1. Três emoções sociais que ajudam a regular o estabelecimento de relações interpessoais de proximidade: Estimulação sexual – prazer – excitação: facilita o início e a repetição de encontros sexuais essenciais para a reprodução da espécie; é elicitada por avaliações indicando a presença de um parceiro sexual potencialmente disponível. 29 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Aceitação – afeto – amor: facilita o funcionamento social cooperativo, o desenvolvimento de relações interpessoais satisfatórias e a proteção de sujeitos vulneráveis, ao apoiar o desenvolvimento da reciprocidade nos compromissos e a confiança; é a emoção associada com as atividades de prestar cuidados, partilhar, estabelecer amizades e providenciar serviços. Solidão – tristeza – luto: ajudar a lidar com a perda de relações significativas ao encorajar a união e a reunião com outras pessoas; encorajar a restauração e a substituição de laços sociais importantes que foram quebrados ou seriamente enfraquecidos. 2. Três emoções sociais que ajudam a regular a conformidade e a cooperação com expectativas sociais e/ou padrões de organização social (facilita o funcionamento coerente dos grupos sociais): Vergonha – culpa – humilhação: encorajar os sujeitos a permanecer nas fronteiras definidas pelos constrangimentos grupais, tais como normas sociais, valores morais, regras de conduta (formais e informais); é a emoção que apoia a conformidade, a obediência e o comportamento socialmente responsável. Sarcasmo – desdém – desprezo: encorajar a rejeição de outras pessoas de uma relação ou por parte de um grupo social; encorajar as outras pessoas a modificarem o seu comportamento depois de terem cometido uma transgressão social, ou de se terem comportado de uma forma inaceitável, ofensiva ou incompetente. Ressentimento – ciúme – hostilidade: facilitar o uso de ações coercivas e corretivas contra pessoas disruptivas ou que não se conformam às disposições existentes e/ou desejáveis; esta emoção ajuda as pessoas a protegerem-se contra ameaças reais ou imaginadas aos seus interesses, valores sociais e relações. Emoções e processos cognitivos (Oatley, Keltner & Jenkins, 2006) As emoções priorizam os pensamentos, objetivos e ações em organismos complexos como os seres humanos (limitações no conhecimento e nos recursos) – dois tipos de sinalização no sistema nervoso: Organizacional (avaliação primária) – coloca o cérebro em modos de organização específicos associados com certas emoções básicas (“emotional priming”). Informativo (avaliação secundária) – construção de modelos mentais acerca dos acontecimentos, as suas possíveis causas e implicações. 30 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Três perspectivas sobre os efeitos das emoções nos processos cognitivos 1. Congruência emocional As emoções e o humor constituem redes associativas na mente (as experiências passadas, os conceitos relacionados, as imagens, etc.). Quando experienciamos uma emoção, todas as associações dessa emoção tornam-se mais acessíveis e disponíveis para serem utilizadas em diferentes julgamentos. Aprendemos melhor materiais congruentes com a nossas emoção atual, porque estão integrados em estruturas de memória ativa. Existem evidências contraditórias com esta teoria: as emoções infundem as tarefas cognitivas e influenciam a memória e o julgamento em função da complexidade da tarefa (processamento construtivo) e do seu afastamento de protótipos. 2. Sentimentos como informações As emoções são informativas quando fazemos julgamentos (providenciam um sinal rápido disparado por algo existente no meio e permitem fazer avaliações em situações que exigem grande complexidade no processamento de informação – racionalidade limitada). As emoções são heurísticas (estratégias de curtocircuito no processo de tomada de decisão). Evidências contraditórias mostram a dependência do contexto e da tarefa a ser realizada. 3. Emoções promovem diferentes estilos de processamento Diferentes emoções envolvem os sujeitos diferentes emoções envolvem os sujeitos em formas de raciocínio qualitativamente diferentes (na organização das evidências e na extração de conclusões). As emoções positivas promovem processos cognitivos flexíveis e criativos (exploração mais aprofundada com menos constrangimentos e pressupostos), pois alargam os repertórios de pensamento e permitem a construção de esquemas inovadores; ajudam igualmente na construção de recursos interpessoais. Algumas emoções negativas (ex. Tristeza) promovem um pensamento mais analítico e uma maior atenção aos detalhes da situação congruentes com o estado emocional (ex. ansiedade) – foco da atenção diminuído e dirigido para índices dos meio relacionados com o estado emocional. Emoções e memória Viés para o reconhecimento de acontecimentos com carga emocional – vários estudos têm demonstrado que os sujeitos recordam melhor materiais com capacidade de ativação emocional do que materiais 31 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra relativamente neutros; se um acontecimento é importante e pouco usual estão criadas as condições para a ocorrência de uma emoção e de uma recordação distintiva. Os estados de humor e as emoções influenciam os processos mnésicos (recordação) – embora esta afirmação seja suportada pelo resultado de diversos estudos empíricos, os efeitos dos estados afetivos nos processos mnésicos dependem largamente do contexto, sendo que a recordação de acontecimentos reais com significado emocional é mais dependente desses estados afetivos do que a recordação de listas de palavras. Emoções e julgamento Efeito das emoções e do humor em julgamentos avaliativo – estados emocionais positivos e negativos influenciam os julgamentos avaliativos de acontecimentos e objetos (bom vs., mau), mesmo quando os objetos sob julgamento não têm nenhuma relação com a causa desses estados emocionais. Efeito das emoções e do humor na visão do futuro – diferentes emoções estão associadas com diferentes aspetos relativos ao pessimismo vs. Otimismo da visão do futuro. Efeito das emoções e do humor nas atribuições causais de acontecimentos pessoais e sociais. Emoção e Personalidade Diferenças individuais da experiência emocion al subjectiva (Reeve, 2009) Existem algumas dimensões da personalidade que têm impacto sobre a experiência afetiva: extroversão e neuroticismo, ativação e reatividade emocional. Porque é que as pessoas revelam estados emocionais e motivacionais diferentes perante a mesma situação? As características de personalidade extroversão, neuroticismo, busca de sensações, intensidade afectada, controlo percebido e desejo de controlo explicam porque é que diferentes pessoas têm diferentes estados motivacionais e emocionais mesmo na mesma situação. Todas as situações variam: na sua capacidade para produzir emoções positivas ou negativas em nós (por exemplo, festas são divertidas, acidentes são aflitivos); em quão estimulantes e activantes são (por exemplo, bibliotecas são tranquilas, concertos de rock são estimulantes); em quão controláveis são (por exemplo perder peso está um pouco sob o nosso controlo mas também um pouco fora dele). 32 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Controlo •Controlo percebido Desejo de controlo Ativação •Busca de sensações •Intensidade afetiva Felicidade •Extroversão •Neuroticismo Os indivíduos têm características da personalidade que afectam o modo como respondem as estas situações em termos da felicidade e activação sentidas e controlo percebido. A maioria das pessoas é feliz e isto é verdade quase independentemente das suas circunstâncias de vida. Pessoas em grupos de baixos rendimentos geralmente dizem que são felizes, bem como as pessoas com pequena educação formal e pessoas de quase todas as nações. Contudo, intuitivamente, todos nós sabemos que os eventos nas nossas vidas afectam as nossas emoções e humor. As pessoas reagem fortemente a eventos da vida, como, por exemplo, a sorte na lotaria e o risco de vida em acidentes. Mas, depois, também parecem voltar para o mesmo nível de felicidade que tinham antes do evento. Actualmente, nós parecemos ter dois “set points” emocionais, um é para a emotividade positiva e outro para a emotividade negativa. Quão felizes e infelizes somos tornam-se indicadores independentes de bemestar. O estado dos nossos “set points” de felicidade ou infelicidade pode ser explicado por diferenças individuais nas nossas personalidades. O “set point” felicidade emerge, na maioria, de diferenças individuais na extroversão enquanto que o “set point” infelicidade emerge, em grande parte, de diferenças individuais no neuroticismo. Origem das diferenças inter-individuais na experiência emocional Valência afetiva (“happiness”) – extroversão, neuroticismo. 33 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Ativação (“arousal”) e Reatividade emocional – busca de sensações /estimulações, intensidade afetiva. Controlo – controlo percebido, desejo de controlo. Valência afectiva Extroversão Felicidade Neuroticismo Infelicidade A afetividade positiva tem relevância na personalidade/acontecimentos. A extroversão tem um “happiness set point”. O afeto negativo (neuroticismo) tem um ”unhappiness set point”. Extroversão e felicidade Para definir extroversão, os psicólogos da personalidade debateram as suas três facetas: 1ª – Sociabilidade, ou a preferência para e a satisfação dos outros e, situações sociais; 2ª – Assertividade, ou a tendência para a dominância social; 3ª – Espírito aventureiro, ou a tendência para procurar e desfrutar de situações emocionantes e estimulantes. Emocionalmente, os extrovertidos são mais felizes e desfrutam mais frequentemente de humores positivos do que os introvertidos. Os extrovertidos são altamente sociáveis, mas isto não explica porque é que são mais felizes e são mais felizes, quer vivam sozinhos ou com outros, em grandes cidades ou áreas rurais remotas e quer trabalhem em ocupações sociais ou não. Os extrovertidos são mais felizes do que os introvertidos porque são mais sensíveis às recompensas inerentes à maioria das situações sociais. Assim, são mais susceptíveis a sentimentos positivos do que os introvertidos. Assim, porque são mais sensíveis a sentimentos positivos, os extrovertidos abordam ansiosamente situações potencialmente gratificantes mais do que os introvertidos. 34 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Os extrovertidos têm uma maior capacidade de experienciar emoções positivas, e o seu Behavioral Activating System (BAS) é mais forte e sensitivo. Buscam situações potencialmente gratificantes, tendo uma maior sociabilidade, assertividade e aventurismo do que os introvertidos. Tipos de Felicidade (Ryan & Deci, 2001) Hedónica (Hedonismo) Eudemónica (Eudemonismo - Ética Aristotélica) Prazer Auto-realização O bem-estar hedónico é a totalidade de um dos momentos de prazer; reflecte uma vida agradável e representa o que a maioria das pessoas pensa como felicidade. O bem-estar eudemónico preocupa-se com a auto-realização; envolve acoplar-se em actividades significativas e em fazer o que vale a pena fazer. É a actualização do self e é realizado através de actividades e realização de autenticidade pessoal e crescimento Neuroticismo e afecto negativo O neuroticismo é definido como uma predisposição para a experiencia de afecto negativo e para se sentir cronicamente insatisfeito e infeliz. Dia sim, dia não, os neuróticos experienciam um grande stress, emocionalidade mais negativa e um fluxo constante de estados de humor como ansiedade, medo e irritabilidade. Os neuróticos sofrem emocionalmente em maior extensão do que aqueles que são emocionalmente estáveis (contrário dos neuróticos). Isto deve-se à grande capacidade dos neuróticos para experienciar emoções negativas e ao facto de terem distúrbios crónicos e pensamentos perturbadores. Os neuróticos têm uma maior predisposição para experimentar emoções negativas, pela vulnerabilidade às emoções negativas, pensamentos perturbadores e pessimistas. O seu Behavioral Inhibition System (BIS) é mais forte e sensitivo. Há um evitamento de situações potencialmente negativas, quando existe detecção e regulação de sinais de ameaça/perigo no ambiente, o que corresponde a um maior número de comportamentos de evitamento e um maior mal-estar-emocional. Activação (arousal) 35 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra A activação representa uma variedade de processos que governa o estado de alerta, vigília e activação. Este processo é um mecanismo cortical, comportamental e autonómico. São os processos envolvidos no nível de alerta e de energia motivacional – princípio de Yerkes-Dodson (1908). A validação deste estudo demonstrou que os sujeitos introvertidos têm melhor desempenho em situações de relaxamento e pior desempenho em situações de stress. Os sujeitos extrovertidos têm melhor desempenho em situações de stress e pior desempenho em situações de relaxamento. Contribuição do nível de activação /arousal para a motivação 1. O nível de activação pessoal depende fundamentalmente do nível de estimulação do ambiente. 2. O comportamento permite aumentar ou diminuir o nível de activação. 3. Nível de activação baixo (tédio) -Busca de oportunidades para aumentar o nível de activação por ser agradável e melhorar a performance - o decréscimo da activação é aversiva e prejudica a performance. 4. Nível de activação elevado (stress) - Busca de oportunidades para diminuir o nível de activação, porque o excesso de activação ambiental é aversiva e prejudica a performance – o decréscimo é agradável e melhora a performance. Relação entre ativação e desempenho/bem-estar – efeitos da insuficiência de estimulação. 2: Yerkes & Dodson (1908) A curva de U invertido ilustra que um nível baixo de activação produz uma performance relativamente pobre (inferior esquerdo). Como o nível de activação aumenta de baixo para moderado, a intensidade e a qualidade da performance melhoram. Como os níveis de activação continuam a aumentar do moderado para o alto, a qualidade e eficiência (mas não a intensidade) diminuem (inferior direito). Assim, a 36 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra performance óptima é uma função de ser activa mas não muito. Para fazer sentido a relação activaçãoperformance, recordar a eficiência da sua performance pessoal enquanto faz alguma coisa importante – discurso público, competição entre atletas ou entrevista de emprego, por exemplo. Quando indiferente e subactivado ou quando ansioso e sobreactivado, a performance tende a ser óptima. Um nível moderado de activação coincide com a experiência de prazer. Estimulação baixa produz tédio e desassossego; estimulação alta produz tensão e stress. Tédio e stress são experiências aversivas, e as pessoas lutam para escapar delas. Quando a sobreactivação e a experiência negativa afectam, a pessoa irá procurar actividades que ofereçam aumento de estimulação, oportunidades de explorar algo novo e talvez até mesmo a tomada de riscos. Quando há sobreactivaçao, o aumento da estimulação, a inovação e o risco criam afecto negativo – stress e frustração. Pessoas sobreactivadas encontram-se atraídas por um ambiente calmo – férias, uma leitura casual do jornal ou fazer um passeio calmo. Assim, a curva de U invertido prediz quando aumentos e descidas na estimulação conduzirá a afectos positivos e abordagem comportamental e quando eles conduzirão a afectos negativos e evitamento. A activação e a estimulação insuficiente A privação sensorial ocorre através de uma experiência emocional num ambiente rígido e imutável, pelo que as experiências de privação sensorial de Heron (1957) demonstram que o cérebro e o sistema nervoso funcionam melhor sob um nível de activação moderada e continuada gerada pela estimulação ambiental, que permite inferir que o ser humano protege-se da estimulação insuficiente e da subativação. Estimulação excessiva e sobreactivação Por vezes a vida é aborrecida, mas outras vezes é stressante. O stress vem de eventos maiores, principais, como o divórcio, ferimento físico e desemprego; de aborrecimentos diários, como colocar ou perder coisas e ficar preso no trânsito; e de circunstâncias crónicas como cuidado inadequado dos filhos, superlotação ou repetidas dificuldades na relação. Na sobrestimulação, ambientes stressantes perturbam estados emocionais e a actividade cognitiva e aceleram os processos fisiológicos. Motivação para a protecção da estimulação excessiva 37 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Sobrestimulação, ambientes stressantes Disrupção emocional -Ansiedade -Irritabilidade -Raiva Disrupção cognitiva -Confusão -Esquecimento -Desconcentração Disrupção fisiológica -Hiperatividade do Sistema Nervoso Simpático Credibilidade da Hipótese do U Invertido Criticismo de Neiss (1988): A hipótese do U invertido não se aplicaria às situações diárias, em que o nível de activação oscila relativamente pouco. Experiência de Revelle, Amaral & Turriff (1976): A hipótese do U invertido aplica-se às fontes rotineiras de estimulação – cafeina + pressão temporal Busca ou evitamento de experiências e sensações novas Diz respeito a uma característica da Personalidade associada ao nível de activação e de reactividade, que manifesta um grau da necessidade de mudança e variabilidade, pela qual o Sistema Nervoso Central é responsável, e que se relaciona com a busca de experiências e sensações variadas, novas, complexas e intensas, e desejo de correr riscos físicos, sociais, legais ou financeiros em prol de tais experiências (Zuckerman, 1994). Busca de experiências novas Busca de sensações Busca/aceitação do risco Base biológica para a busca de estimulação/sensação Linha basal de ativação. Linha basal de reatividade. 38 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Nível baixo de Momoamino Oxidase (MAO). Níveis elevados de dopamina – Favorecimento dos comportamentos de aproximação. Níveis baixos de serotonina – desinibição relativamente a riscos e novas experiências. Intensidade afectiva: A intensidade afectiva diz respeito à capacidade das pessoas para se tornarem emocionalmente activas. É definida em termos da força com que cada individuo experiencia as suas emoções. Na estabilidade afectiva, os indivíduos experienciam as suas emoções apenas levemente e mostram apenas flutuações menores nas suas reacções emocionais de momento para momento ou de dia para dia. Investigadores medem a intensidade afectiva com um questionário de auto-relato. Originalmente, os investigadores avaliavam a intensidade afectiva duma forma interessante mas também penosa que ilustrava bem a emocionalidade das pessoas ao longo do tempo. Num período de 80-90 dias consecutivos, os participantes respondiam a um questionário de humor diário que caracterizava palavras de humor positivo e negativo. A quantidade de desvio dos pontos destas palavras, de cada pessoa, definia a sua intensidade afectiva. 3: Estabilidade e instabilidade afetiva, respetivamente Sujeito 23 – o humor diário da intensidade afectiva do indivíduo subiu e desceu substancialmente. Os dias foram muito bons ou muito maus. Sujeito 21 – o humor diário da intensidade deste indivíduo pairou continuamente em torno do neutro. Os dias foram basicamente o mesmo, emocionalmente falando. O quão bons ou maus foram os eventos nas vidas da intensidade afectiva e estabilidade afectiva dos indivíduos aparecem na figura seguinte. 39 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra 4: Reacções Afectivas a Acontecimentos Positivos e Negativos de Sujeitos com uma intensidade afectiva elevada e estável Para todos os maus eventos (figura da esquerda), indivíduos com intensidade afectiva relatam uma emocionalidade negativa significativamente pior do que fizeram os indivíduos com estabilidade afectiva. Para todos os bons eventos (figura da direita) indivíduos de intensidade afectiva relataram uma emocionalidade positiva mais significativa do que os indivíduos com estabilidade afectiva. Indivíduos com Intensidade afectiva e Estabilidade afectiva não diferem fisiologicamente, como indivíduos com intensidade afectiva são mais psicologicamente sensíveis a mudanças em activação do que são os indivíduos com estabilidade afectiva. Controlo Controlo Percebido Desejo de controlo Expectativas acerca da capacidade para obter resultados positivos Motivação para controlar os acontecimentos Controlo percebido Refere-se às crenças e expectativas que a pessoa tem que ele ou ela pode interagir com o ambiente de formas que produzem resultados desejados e previnem os indesejados. As crenças de controlo percebido predizem quanto esforço a pessoa está disposta a exercer. Pré-requisitos da percepção de controlo pessoal: 1. Capacidade do self para obter os resultados desejados 40 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra 2. Previsibilidade e responsividade da situação Crenças de controlo percebido – Controlo percebido elevado vs. Controlo percebido baixo: Estabelecimento de objectivos Escolha da tarefa Esforço Concentração Persistência face a dificuldades Estado emocional Estratégias de resolução de problemas Performance Quando uma pessoa com controlo percebido relativamente alto enfrenta uma situação razoavelmente estruturada, procura e selecciona tarefas relativamente desafiadoras, conjuntos de metas relativamente altas e gera planos sofisticados sobre como suceder e o que fazer quando o progresso é lento. Com esta previsão, a pessoa, com alto controlo percebido, inicia a acção, exerce esforço, concentra-se e persiste na face da dificuldade. Durante a performance, mantém os seus planos e estratégias na mente e os estados emocionais positivos, constrói estratégias de resolução de problemas e gera feedback para ajustar ou melhorar habilidades relevantes. Quando uma pessoa com um controlo percebido relativamente baixo face à mesma situação, ela procura e selecciona tarefas relativamente fáceis, conjuntos de metas baixas e vagas, e gera planos simples com algumas estratégias de contingência. Se as coisas correm mal, é provável que vagueie, a confiança é fácil de perder e a atenção transforma-se, muitas vezes, em ruminação sobre o porquê da tarefa ser tão difícil. Com este desencorajamento a performance é afectada. O controlo percebido é um precursor necessário para a construção de crenças sobre a competência, eficácia e habilidade de alguém. As crenças de controlo percebido podem emanar de qualquer capacidade, não apenas da própria competência, eficácia e habilidade. Ciclos auto-confirmatórios do envolvimento na tarefa 41 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Envolvimento Crenças de controlo percebido elevadas vs. baixas Resultados O envolvimento no esforço para ganhar controlo sobre um resultado importante existe num contínuo de intervalos, de desinteresse para envolvimento. Quando fortemente envolvida, a pessoa exerce esforço forte e persistente e expressa emoções positivas; quando descontente, a pessoa age passivamente e expressa emoções negativas. As crenças do controlo percebido influenciam o envolvimento, emoção, coping e a busca de desafio do indivíduo. Pessoas com controlo percebido alto mostram esforço relativamente alto, concentração, persistência no caso de falha, mantêm interesse e curiosidade na tarefa e optimismo para resultados futuros positivos. Pessoas com controlo percebido baixo mostram esforço relativamente baixo, duvidam das suas capacidades, tendem a desistir no caso de mudança ou falha, desencorajam rapidamente e há uma inclinação para serem passivos e ansiosos. Estes padrões de envolvimento versus desafecto são importantes porque predizem os resultados que as pessoas atingem. O envolvimento no esforço produz resultados positivos e percepções de “postperformance” de alto controlo que produzem, em primeiro lugar, esforço desafecto. Desafecto este que produz os resultados negativos e baixo controlo. A isto dá-se o nome de ciclos auto-confirmatórios de envolvimento na tarefa, pois explicam como e porquê algumas pessoas desenvolvem fortes crenças de controlo pessoal enquanto outras não. Influência do Desejo de controlo (DC) durante tarefas de realização (Burger, 1985) Reflecte a extensão para que os indivíduos estão motivados para estabelecer controlo sobre os eventos nas suas vidas. Indivíduos com DC alto preferem tomar as suas próprias decisões, preparam as situações antecipadamente e assumem papéis de líderes nos grupos, enquanto indivíduos com DC baixo tendem a evitar responsabilidades e sentem-se confortáveis com os outros a tomarem decisões para eles. 42 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra O desejo de controlo relata uma variedade de experiencias e comportamentos que são fundamentais para as crenças de controlo pessoal, incluindo desamparo aprendido, depressão, ilusão de controlo, hipnose, realização, stress e coping, estilo interpessoal com amigos, hábitos de saúde e mesmo uma escolha, de um idoso, de um sítio para morrer. Os links comuns entre este desejo de controlo e estas manifestações comportamentais de controlo pessoal são alto desejo de, primeiro, estabelecer controlo e, depois, de restaurar o controlo perdido. Esta tabela mostra uma modelo de quatro passos para ilustrar a natureza multidimensional dos indivíduos com DC alto, procurando estabelecer controlo em situações de realização. Nível de aspiração DC elevado comparado com baixo DC Vantagens do DC elevado Fragilidades do DC elevado Selecção de tarefas difíceis ; Estabelecimento de objectivos mais realistas Os objectivos mas elevados são alcançados Prossecução de objectivos demasiado fáceis Resposta ao desfio Maior esforço Persistência As tarefas difíceis são concluídas As tarefas difíceis são concluídas As tarefas difíceis são trabalhadas durante mais tempo Atribuição face ao sucesso/insucesso Maior probabilidade de atribuir o sucesso ao self e o fracasso a fontes instáveis O nível de motivação permanece elevado Risco de ilusão de controlo. Risco de reacções Risco de investir inibitórias da demasiado esforço acção face ao fracasso O que estes dados mostram é que o desejo de controlo leva as pessoas a sobrestimar o quão bem irão actuar, para sobre investir as suas energias, para persistir em tarefas difíceis e para interpretar o feedback dos sucessos e das falhas de modo a alimentar uma ilusão de controlo. Emoção e Programas de Intervenção Compreender e aplicar a motivação Os programas de intervenção têm como objetivos explicar – por que as pessoas fazem o que fazem? – predizer – como é que as condições afetam a motivação e a emoção - , e aplicar – utilização dos principios motivacionais para resolver problemas técnicos, a motivação. Por que fazemos o que fazermos? As teorias da motivação permitem explicar as razões e as origens do comportamento e os estados motivacionais, isto é, de que forma é que os motivos intensificam, mudam e se extinguem. Quais as condições antecedentes que dão energia e dirigem o comportamento? Existem antecedentes ambientais, interpessoais, intrapsíquicos e fisiológicos que permitem a motivação e emoção. 43 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Ao aplicar a motivação, podemos solucionar problemas de motivação pessoal e interpessoal (os outros), como amplificando pontos fortes, melhorar o funcionamento, reparar fraquezas e superar problemas. Motivação do self e dos outros Os recursos para motivar o self, que são desenvolvidos ao longo da vida, as condições ambientais, como os acontecimentos situacionais, e os recursos para motivar os outros, através da qualidade dos relacionamentos interpessoais, permitem ativar os estados motivacionais, como as necessidades, as cognições e as emoções, e estes estados motivacionais têm consequências, como a performance, o envolvimento, a aproximação e o bem-estar. A implementação dos recursos para motivar o Self através do desenvolvimento dos recursos motivacionais internos parte da implementação da orientação da aproximação pelas necessidades, cognições e emoções levando à experiência de estados motivacionais fortes, resilientes e produtivos. Quando se motivam os outros, questiona-se quem está a motivar o sujeito, isto é, se o motivador é o próprio se é uma força externa e se o contexto social suporta a causalidade pessoal e os recursos motivacionais internos. O relacionamento interpessoal suporta e impõe obstáculos à motivação pessoal, mas o objetivo primário prende-se com a alimentação a capacidade e a causalidade pessoal do outro, não exigindo submissão a um comportamento desejado predeterminado. O feedback providenciado sobre o processo de motivar o self e os outros tem em conta as emoções (interesse, entusiasmo, optimismo vs. apatia, raiva, pessimismo), o comportamento (esforço, persistência, latência para iniciar, etc.) e o bem-estar (alterações ao nível da vitalidade e bem-estar). Índice Natureza e dimensões das emoções .............................................................................................................. 1 Emoção e Personalidade .............................................................................................................................. 32 Emoção e Programas de Intervenção ........................................................................................................... 43 44