Calor sem luz e luz sem calor Jonathan Edwards Deus não quer nem aceitará de nós uma religião que consiste em desejos fracos, insípidos e sem vida, que mal conseguem nos afastar da indiferença. Em sua Palavra, ele insiste que devemos ser fervorosos de espírito e servi-lo de todo coração. A vida cristã contém elementos grandiosos demais para permanecermos apáticos. O crente que possui apenas conhecimento doutrinário e teórico, sem emoção alguma, jamais alcançará a excelência da fé. Nenhuma mudança significativa na vida acontece enquanto o coração não é profundamente afetado pela graça de Deus. É preciso haver entendimento e também fervor, pois se o coração tiver calor sem luz, nada de divino ou celestial haverá nele. Por outro lado, a luz sem calor, uma mente repleta de noções e especulações, com o coração frio e indiferente, também nada terá de divino. Condenar o entusiasmo e presumir que a emoção não passa de emoção é um grande e desnecessário erro. Ao mesmo tempo é bom lembrar que a intensidade do entusiasmo não constitui evidência de verdadeiras emoções religiosas. As Escrituras mostram que emoções intensas nem sempre são espirituais. 1 As falsas emoções se apresentam com muito mais facilidade do que as verdadeiras. A pompa e a visibilidade fazem parte da natureza da falsa espiritualidade, como acontecia com os fariseus. Corrupção não mortificada no coração pode abafar o Espírito Santo. Um cristão verdadeiro é dez vezes mais convicto das maldades de seu coração e de sua corrupção do que o cristão hipócrita. O verdadeiro santo sente prazer imenso na santidade, a seus olhos não há nada mais belo. A falta de graça e o domínio do pecado enfraquecem a visão do crente a ponto da percepção ficar imprecisa. Como a pessoa daltônica, o crente que tem vida mundana não consegue julgar adequadamente as realidades espirituais. O amor a Deus por interesse próprio é uma coisa e o amor a Deus por causa dele mesmo é outra. Não pode haver confusão a esse respeito. Precisamos considerar a humildade como uma das características mais essenciais do verdadeiro cristianismo. O grande dever do cristão é negar a si mesmo. Primeiro, é preciso negar as inclinações e os prazeres mundanos; segundo, é preciso negar a autoexultação e renunciar à importância pessoal, esvaziando-se a si mesmo. 2 Pecado é fazer menos do que Deus pede de nós. É sinal de desequilíbrio quando os crentes se ofendem com as características negativas de seus irmãos, como frieza ou inércia, mas, ao mesmo tempo, não se abalam com seus próprios defeitos e fraquezas. O verdadeiro cristão lamenta as duas situações e está pronto a discernir as falhas próprias e as alheias. Há crentes que agem por impulsos. De repente se levantam, só para cair de novo, tornando-se relaxados e mundanos. São como a água abundante da chuva que engrossa o ribeirão por algum tempo. Depois que passa a chuva, o córrego quase seca. Com outra chuva, volta a se encher. Mas, o verdadeiro santo é como uma corrente alimentada por uma fonte viva que, embora aumente muito com a chuva e diminua na seca, nunca pára de correr, como o Senhor prometeu (Jo 4.14). Há sempre espaço para a alma se expandir, até se tornar um oceano infinito. O crente zeloso persiste na prática cristã até o fim da vida. Nunca tira férias, nem limita essa prática a determinadas ocasiões. (Frases soltas retiradas do livro Uma Fé Mais Forte que as Emoções, obra prima de Jonathan Edwards, escrita em 1746, e publicada em português em abril de 2008 pela Editora Palavra) 3