Mitos e verdades sobre o manjerico

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Mitos e verdades
sobre o manjerico
O
manjerico está
associado, em Portugal, às festas
dos Santos Populares. Quem não
conhece a tradição lisboeta de,
pelo Santo António, oferecer à sua
amada um vaso com um manjerico encimado por uma bandeirinha
com uma quadra popular alusiva ao
momento? Contudo, esta pequena
planta de cor verde, originária da
Índia, pertencente à espécie Ocimum minimum, é mais utilizada
noutras regiões do mundo como
planta aromática e medicinal.
É um parente muito próximo do
manjericão, conhecido nos restaurantes italianos por basílico, cujo
aroma é parecido ao do manjerico, mas sendo a planta e as folhas
bastante maiores. Assim, não é de
estranhar que o nosso manjerico
tenha também um aroma intenso
e característico, que apetece logo
cheirar. E aí começam os mitos…
Os mitos
Quem não ouviu já dizer que não se
pode cheirar o manjerico senão ele
morre? E se só se tocar nas folhas
para depois cheirar a mão? Morrerá na mesma? Como ninguém
se consegue conter sem cheirar
um manjerico, passados uns dias
ele lá morria. Tais afirmações não
passam de mitos sem fundamento
científico, pois os manjericos morrem por outras causas. As plantas
ornamentais que temos em casa são
quase sempre plantas vivazes ou
perenes, isto é, que dão flor várias
vezes ao longo do seu ciclo de vida
e, se bem tratadas, continuam a
crescer por vários anos. Pelo contrário, as plantas anuais, como o
manjerico, só florescem uma vez,
morrendo de seguida. Uma planta
de manjerico, mesmo saudável e
bem tratada, umas semanas depois
de ser comprada, floresce e morre.
Não há nada a fazer, é a sua natureza.
Plantas de boa e de má
qualidade
O problema está nos manjericos
que não chegam a durar semanas,
pois morrem passado uns dias depois de estarem em casa, ainda antes de darem flor. São plantas sem
qualidade, cultivadas no sistema
tradicional, envasadas quando já
estão demasiado desenvolvidas e
vendidas rapidamente antes que
morram devido ao choque da
transplantação para o vaso. Também se dizia dos manjericos que
era “regar e pôr ao luar”. Ao colocar-se no exterior estes manjericos
transplantados, o tempo fresco e
húmido da noite pode mantê-los
viçosos durante mais tempo.
Actualmente já aparecem poucos
manjericos de produção tradicional à venda, os quais as vendedeiras tinham de estar sempre a
borrifar com água para evitar que
secassem. Como a maioria destas
plantas morriam passados poucos
dias de serem vendidas, criaram-se
aqueles mitos para ocultar a razão
principal para a sua morte prematura, ou seja, a má qualidade das
plantas.
Os manjericos presentemente no
mercado são, na maioria dos casos, produzidos com o recurso a
técnicas apropriadas, desenvolvem
uma boa raiz e têm condições para
completar o seu ciclo de vida no
vaso. Podem e devem ser tratadas
como qualquer planta ornamental.
Podem ser cheirados e tocados à
vontade. Só que, como já se explicou, têm um ciclo de vida muito
curto.
Um manjerico de qualidade deve
ter folhas de cor verde escura,
manter-se firme quando tocado e
ter uma boa raiz preenchendo todo
o vaso. Se a planta estiver bem en-
JORGE SILVA/ARQUIVO
O Santo António já lá vai, mas à porta está o São João. E convenciou-se que as
festas dos Santos Populares rimam com manjericos. Antes de pensar na quadra
e na bandeirinha que os ornamentam, é tempo de saber o que fazer para que esta
planta aromática tenha uma vida mais longa. António A. Monteiro
raizada, pode tirar-se do vaso e
voltar-se a colocar sem lhe causar
danos.
Como cultivar o manjerico
O manjerico multiplica-se por semente. Pode-se comprar as sementes ou aproveitar as sementes das
plantas que floriram no ano anterior. Semeiam-se num tabuleiro,
com um substrato fino, a menos
de 1cm de profundidade, com um
espaçamento de 1 a 2cm entre sementes e borrifa-se regularmente
para manter húmida a superfície
do substrato. A época de sementeira é Fevereiro ou Março. Semear
em Março nas zonas mais quentes
ou quando se querem plantas mais
pequenas. Quanto mais cedo se semear, maiores vão estar as plantas
no mês de Junho.
Quando as pequenas plantas
tiverem três a cinco folhas transplantam-se para os vasos, tendo o
cuidado de não partir as raízes. Os
manjericos requerem um substrato
muito bem drenado, pois não toleram o excesso de água. O ideal é
uma mistura à base de turfa ou fibra
de coco. Durante a fase de crescimento, manter as plantas num lugar abrigado, com muito sol e regar
regularmente. Deverá aplicar-se um
adubo composto, para plantas em
vaso, de preferência com libertação
lenta dos nutrientes. Quanto mais
luz apanharem, mais compactos
e bonitos ficam os manjericos. Se
apanharem sombra, as hastes e as
folhas ficam alongadas e frágeis, e
as plantas têm dificuldade em manter a forma arredondada. Se estiverem ao sol, os manjericos precisam
de mais água. Pode-se colocar um
prato por baixo do vaso e deixar
alguma água no prato durante o
dia, quando está calor.
E agora só fica a faltar a bandeirinha e a quadra!
Engenheiro Agrónomo e
da Associação Portuguesa
de Horticultura
FUGAS | Público | Sábado 20 Junho 2015 | 31
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