Nº 14 Jan/2011 CENTRO DE ESTUDOS EM ATENÇÃO FARMACÊUTICA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (CEATENF/UFC) - (85) 3366.8276/8293 – www.ceatenf.ufc.br // e-mail: [email protected] Equipe Editorial: Profª Drª Marta Fonteles; Profª Drª Ângela Ponciano; Profª Drª Luzia Izabel Mesquita; Farm. Msc. Henry Pablo Reis; Estg(s): Andréa Porto, Brena Muniz, Bruna Cristina, Bruna Esmeraldo, Catarine Loureiro, Karla Marques, Lívia Falcão, Maraíza Alves, Sarah Freitas, Tainá Osterno, Talita Miranda, Yuri Firmino e Nayara Diniz. ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CONTROLE DO PESO A obesidade é uma condição crônica definida por um excesso de tecido adiposo que origina riscos para a saúde. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que 35% da população adulta brasileira têm peso acima do desejável, afetando 13% das mulheres, 7% dos homens e 15% das crianças. Pesquisadores procuram desvendar os mecanismos fisiopatológicos associados à multicausalidade da obesidade, valendo citar: fatores genéticos, condições ambientais, obesidade secundária a patologias neuroendócrinas, como hipotireoidismo e hiperinsulinismo, a medicamentos, como glicocorticóides, antidepressivos tricíclicos, lítio e fenotiazinas, cirurgia hipotalâmica, e fatores psicogênicos, como ansiedade e transtornos de conduta alimentar. O Índice de Massa Corporal (IMC) é o método mais empregado para classificar a extensão da obesidade e os riscos de morbidade e mortalidade, sendo expresso pela divisão do peso pela altura ao quadrado (Kg/m²). Valores menores que 30 e maiores que 25 indicam sobrepeso e valores a partir de 30 caracterizam obesidade. Outro método importante é a medida da circunferência abdominal, que avalia a distribuição da gordura corporal/visceral e associa-se com a síndrome metabólica (resistência à insulina, dislipidemia e hipertensão arterial). Quando a relação cintura/quadril ultrapassa 0,95 para homens e 0,85 para mulheres representa risco aumentado relacionado à obesidade. O sobrepeso e a obesidade são fatores de risco para várias doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemias, doenças cardiovasculares, apnéia do sono, osteoartrites, hiperuricemia, refluxo gastroesofágico, alguns tipos de câncer e problemas psicológicos. A hipertensão arterial é considerada comorbidade de alta prevalência, ocorrendo em cerca de 60% dos pacientes obesos. No estudo de Framingham (1983), 70% dos casos de hipertensão em homens e 61% nas mulheres puderam ser diretamente atribuídos ao excesso de adiposidade. Em vista da sua multicausalidade e do risco aumentado de desenvolvimento da morbimortalidade relacionada à obesidade, seu tratamento e a sua prevenção merecem uma abordagem multiprofissional. O controle da obesidade compreende medidas dietético-comportamentais, medicamentosas e cirúrgicas. As primeiras devem ser encorajadas em todos os pacientes, com o objetivo de reorganizar seus comportamentos, em busca de um estilo de vida saudável. Restrição calórica, aumento da atividade física e terapia comportamental são estratégias bem avaliadas. Deve ser incentivado o consumo de alimentos pobres em gordura e de alimentos ricos em fibras, visando uma alimentação balanceada, com redução da ingestão calórica. Recomenda-se a prática da atividade física, respeitando as limitações de cada paciente. Para perda de peso, os exercícios aeróbicos executados regularmente apresentam maior eficiência no aumento do gasto energético. Transtornos emocionais podem influenciar no ganho de peso ou dificultar o processo de reeducação alimentar. O tratamento geralmente é lento e de longo prazo. Tratamentos cirúrgicos são eficazes e possivelmente custo-efetivos, mas devem ser restritos à obesidade mórbida (IMC ≥ 40) e aos pacientes em que o aumento de peso (IMC entre 35 e 40) associa-se a comorbidades. São indicadas à cirurgia pessoas incapazes de manter perda de peso depois de adequadas medidas não cirúrgicas, sem contra-indicações para anestesia e cirurgia e devidamente motivadas para engajar-se em longo seguimento. O tratamento farmacológico da obesidade está indicado quando o indivíduo tem um IMC maior que 30 ou quando o paciente tem doenças associadas ao excesso de peso com IMC superior a 25 em situações nas quais o tratamento dietético, aumento da atividade física e modificações comportamentais não atingem resultados satisfatórios. Para ser útil no tratamento da obesidade, um medicamento deve possuir mecanismo de ação conhecido; demonstrar efeito em reduzir o peso corporal e levar a melhora das doenças dependentes do excesso de peso; ter efeitos colaterais toleráveis e/ou transitórios; apresentar eficácia e segurança durante um longo prazo; idealmente ter um custo razoável. Não é recomendado para crianças o uso de medicamentos antiobesidade. Associações de dois ou mais fármacos usados no controle da obesidade são totalmente contra-indicados. Os inibidores de lipases (Orlistat) provocam uma menor absorção de gordura em nível intestinal, levando a perda de peso. A absorção de vitaminas lipossolúveis também diminui, o que demanda um acompanhamento para evitar a carência destes nutrientes. Um efeito adverso muito freqüente é a ocorrência de diarréia. Vale ressaltar que este tipo de medicamento não tem influência sobre a absorção dos demais constituintes dietéticos calóricos, como carboidratos e proteínas. Os anorexígenos são fármacos que provocam redução ou perda de apetite, devendo ser utilizados apenas como adjuvantes no tratamento da obesidade. A utilização desta classe de medicamentos pode levar ao surgimento de reações adversas (aumento da pressão arterial e indução de arritmias cardíacas em pacientes suscetíveis) que limitam o seu emprego terapêutico. O uso prolongado induz o desenvolvimento da tolerância, com diminuição do efeito anorexígeno obtido no início do tratamento, fato que contra-indica seu uso a longo prazo. Além disso, perante a Organização Mundial de Saúde, o Brasil ficou evidenciado pelo consumo exacerbado de anorexígenos. Outras classes farmacológicas também foram utilizadas em excesso: ansiolíticos, diuréticos, laxantes, simpatolíticos e parassimpatolíticos, entre outros. Cabe ao farmacêutico atentar se as prescrições contendo tais medicamentos têm como finalidade um tratamento racional e benéfico ao paciente, ou se são emitidas inadequadamente, promovendo tratamentos considerados desvantajosos. A manipulação magistral de anorexígenos apresenta vantagens, como a prescrição de doses menores e quantidades que atendam a um período adequado a cada paciente. Há também a possibilidade do uso de fitoterápicos como garcínia (inibe a síntese de ácidos graxos e acelera a queima de gordura), sene (possui propriedades laxativas) e cáscara sagrada (laxante) bem como o uso de fitoquímicos como a faseolina (inibidor da amilase). Reduzir o peso tomando “fórmulas para emagrecimento” pode parecer ser muito simples, mas é necessária orientação para usufruir do sucesso deste tratamento. É responsabilidade do farmacêutico conscientizar o paciente de que a obesidade é uma patologia, alertar sobre os riscos e benefícios dos medicamentos, orientar quando as interações e problemas da má administração, além de realizar campanhas educativas para mobilizar os pacientes quanto a adesão de tratamento. Aqueles que desejam perder peso devem ser esclarecidos que não existe fórmula milagrosa, como observado em muitos anúncios de produtos para perda de peso. Nem sempre perder peso significa perder gordura. Emagrecer e permanecer magro requer perseverança e alteração dos hábitos, começando pelas escolhas alimentares (qualidade e quantidade), atividade física e modificações comportamentais. BIBLIOGRAFIA Carazzatto, P. R. A Farmácia magistral e o tratamento farmacoterápico da obesidade. Revista Racine. Ano 2003, v. 13, n. 77, mês nov/dez, páginas 34-40. Fuchs, F. D., Wannmacher, L., Ferreira, M. B. C. Farmacologia Clínica: fundamentos da terapêutica racional. Editora Guanabara Koogan, 3º edição, Rio de Janeiro, 2006, 1074p. Machado, A. C. C. et al. Avaliação da associação da terapêutica medicamentosa e a terapia cognitivo-comportamental no tratamento da obesidade. Revista Brasileira de Medicina: RBM. Ano 2002, v. 59, n. 1/2, mês jan/fev, páginas 47-53. Pandolfi, M. M. et al. Conhecimento de pacientes obesos sobre os riscos de saúde relacionadas à obesidade. Revista Brasileira de Ciências da Saúde: Imes. Ano 2009, v. 7, n. 22, mês out/dez, páginas 50-57. Ribeiro, A. B., Zanella, M. T. Tratamento da hipertensão arterial no paciente obeso. Revista Brasileira de Hipertensão/Brazilian Journal of Hypertension. Ano 2000, v. 7, n. 2, mês abr/jun, páginas 172-178. APOIO PARA DIVULGAÇÃO: