fora do consultório Radi Macruz: ainda há outros desafios à frente Um ano antes de o sul-africano Christian Barnard realizar o primeiro transplante cardíaco do mundo, em São Paulo, o professor Radi Macruz solicitou à Faculdade de Medicina da USP autorização para realizar a cirurgia. “Nós tínhamos a paciente, uma senhora com miocardiopatia de origem possivelmente virótica; tínhamos o doador, vítima de atropelamento com morte cerebral; e a equipe inteiramente montada e motivada para a operação, mas não nos foi dada autorização. Alegou-se que havia impedimentos filosóficos e morais em relação à morte cerebral”. E quando, lembra ele, bem mais tarde, a equipe de Euryclides de Jesus Zerbini foi autorizada a realizar o primeiro transplante brasileiro, o procedimento não seria mais pioneiro. O inusitado na proposta de transplante de Radi Macruz é que ela não partiu de um cirurgião, mas de um cardiologista clínico. Ele passou a vida tão envolvido com procedimentos cirúrgicos que, uma vez, o próprio Adib Jatene explicou porque um clínico fazia parte da mesa numa reunião de cirurgiões: “Macruz é um dos pais da cirurgia cardíaca no Brasil”. A cirurgia não é, porém, o único campo fora de sua especialidade no qual se aventura o professor. Autor de vários livros, ele acaba de assumir um novo desafio, ao aproximar a matemática da medicina. É esse o tema de sua mais nova obra, Matemática da Arquitetura Humana – Idiometria Humana – Novos Rumos da Normalidade. A tese é que se pode definir melhor os padrões de normalidade e compreender de forma adequada o funcionamento do corpo humano, quando guiado pelas regras da matemática. E o autor explica que “normal é o que tem que ser, é a verdade a ser atingida: não pode ser um intervalo; é um e somente um número e para obtê-lo é preciso conhecer a variável explicativa, áurea, dominante e, logo, universal e básica”. É a partir desses conceitos que Macruz explica o que significa normalidade, define o que é normal, para então mostrar o que tratar, quando tratar e onde tratar, levando em conta a variação racial, cultural e alimentar influenciada pela percepção. Os muitos médicos que foram alunos de Radi Macruz não estranham o novo campo em que ele se aventura. Afinal, o pioneirismo é uma das características desse professor que, em 1970, trouxe para o Brasil o primeiro ecocardiógrafo da América do Sul e o levou para a Beneficência Portuguesa onde, sob sua orientação, a equipe preparou, em três meses, 13 trabalhos científicos apresentados no congresso da SBC. Ele foi pioneiro também ao merecer o primeiro voto de louvor para uma tese de doutoramento na Faculdade de Medicina da USP; sua equipe fez a primeira cirurgia cardíaca no infarto do miocárdio; mais tarde, fez o trabalho que culminou na introdução do laser na desobstrução da artéria coronária, iniciativa também pioneira no mundo; e ainda assumiu desafios como concluir a construção do Incor, então parte do Hospital das Clínicas, em apenas seis meses. Mais recente lançamento aproxima matemática e medicina e confirma pioneirismo de um dos pais da cirurgia cardíaca no Brasil. Apesar da importância das suas realizações, Macruz modestamente diz que a cardiologia é que tinha grandes nomes com os quais teve muita honra de trabalhar, cita: Egas Armelin, Euryclides de Jesus Zerbini, Luiz V. Décourt, João Tranchesi, Fúlvio Pillegi, entre outros. E conclui dizendo que ainda há outros desafios à frente, que em tempo há de enfrentar. Trajetória pioneira Propôs a realização de um transplante cardíaco em São Paulo, um ano antes de o sul-africano Christian Barnard realizar a primeira cirurgia do mundo Sua equipe fez a primeira cirurgia cardíaca no infarto do miocárdio Autor do trabalho que culminou na introdução do laser na desobstrução da artéria coronária, iniciativa inédita no mundo Para Adib Jatene: “É um dos pais da cirurgia cardíaca no Brasil” Trouxe, em 1970, para o Brasil o primeiro ecocardiógrafo da América do Sul. Levou-o para a Beneficência Portuguesa onde, sob sua orientação, uma equipe preparou, em três meses, 13 trabalhos científicos apresentados no congresso da SBC Mereceu o primeiro voto de louvor para uma tese de doutoramento na Faculdade de Medicina da USP Concluiu a construção do Incor, então parte do Hospital das Clínicas, em apenas seis meses Jornal SBC 101 - Set/Out 2010 53