EVOLUÇÃO BIOLÓGICA E ESTRATÉGIAS DE ENSINO DE PROFESSORES DE BIOLOGIA Francisco Brenzam Filho - UEL1 Diego Armando Lopes Colman - UEL2 Paula da Costa Van Dal – UEL3 Mariana A. Bologna Soares de Andrade – UEL4 Grupo de Pesquisa em Ensino e Epistemologia da Ciência Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O presente estudo objetivou analisar as estratégias e recursos didáticos utilizados pelos professores de Biologia no ensino da Evolução Biológica. Sabe-se que esse assunto merece uma atenção especial dentro do ensino de Biologia, pois é a base da compreensão dos vários fenômenos relacionados à vida. Muitas vezes, para que o ensino alcance o objetivo desejado, faz-se necessário o uso de estratégias diferenciadas dos professores de maneira a tornar a aprendizagem mais eficaz em relação ao conteúdo. A pesquisa contou com a participação voluntária de 22 professores da rede estadual e particular da cidade de Londrina, Paraná. A coleta de dados ocorreu por meio de um questionário anônimo e estruturado contendo 14 perguntas das quais 7 eram relativas à caracterização dos sujeitos e 8 relativas às estratégias e recursos didáticos para o ensino de diferentes conteúdos relativos à evolução como teorias evolutivas, adaptação, mutação, fósseis, ancestralidade, extinção , origem da vida e estruturas homólogas. As questões foram analisadas por meio da técnica de análise de conteúdo. Os resultados obtidos apontam que a maioria dos professores utiliza como estratégia de ensino a aula expositiva, ou seja, um ensino centrado na transmissão de conteúdo e também que, utilizam poucos recursos didáticos que possibilitem uma melhor compreensão do conteúdo. Embora o foco da pesquisa estivesse concentrado nos recursos didáticos e nas estratégias dos professores, constatamos que alguns deles apresentam erros conceituais em relação à evolução biológica. Esses dados são considerados significativos, pois esses erros conceituais 1 Licenciado em Ciências Biológicas, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática (PECEM-UEL), [email protected] 2 Licenciado em Ciências Biológicas, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática (PECEM-UEL), [email protected] 3 Licenciada em Ciências Biológicas, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática (PECEM-UEL), [email protected] 4 Doutora em Educação para a Ciência pelo Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência – UNESP/Bauru, Professora do Curso de Ciências Biológicas UEL, do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática (PECEM-UEL) e do Mestrado Profissional em Ciências Humanas, Sociais e da Natureza (PPGEN-UTFPR), [email protected] ISSN 2176-1396 37205 constituem obstáculos para que os professores elaborem estratégias e utilizem recursos didáticos apropriados para casa situação em sala de aula. Palavras chave: Ensino. Estratégias de ensino. Evolução biológica. Recursos didáticos. Introdução Em seus estudos, Licatti (2005) afirma que conhecendo a evolução biológica é possível fornecer uma base conceitual para a compreensão dos vários fenômenos relacionados à vida, pois dá sentido e articula os fatos das diversas subáreas do conhecimento biológico. A Evolução Biológica não é mais uma teoria e sim um assunto que merece atenção especial em se tratando do Ensino de Biologia. Por isso, é necessário pensar em estratégias que possibilitem abordar os conceitos em sala de aula com o objetivo de relacionar tais conceitos com as várias áreas da Biologia (MELLO, 2008). Muitas vezes, para que o ensino alcance o objetivo desejado, faz-se necessário a intervenção de estratégias diferenciadas dos professores, favorecendo uma aprendizagem mais eficaz. De acordo com Bachion e Pessanha (2012), essas estratégias devem ser trabalhadas para que os estudantes possam ter uma noção sistêmica, ou seja, o conhecimento deve ser trabalhado como um todo e não de modo fragmentado. Anastasiou e Alves (2004) apontam em seus estudos que cabe ao professor propor as melhores ferramentas que facilitem a aprendizagem, ou seja, o professor é considerado um verdadeiro estrategista. Já em seus trabalhos, Dias (2008) percebeu que as estratégias tradicionais são as mais utilizadas pelos professores, tais como exposição oral, debate, ensino com pesquisa e estudo de texto. No entanto, menciona que o uso do debate como ferramenta da construção do conhecimento favorece a troca de experiências e ideias permitindo uma construção coletiva e não individual do conhecimento. O mapa conceitual é outra estratégia apontada por Lopes (2007, p.75), que em seus estudos o define como: [...] representações gráficas semelhantes aos diagramas que indicam relações entre conceitos, ligados por descritores. Eles são construídos em estruturação, que principiando com os conceitos mais abrangentes, vão evoluindo na inter-relação com conceitos progressivamente mais específicos e menos abrangentes. Os recursos didáticos são ferramentas amplamente utilizadas pelos professores e que auxiliam o processo de ensino. Dentre os diferentes recursos didáticos que os educadores dispõem, podem-se citar laboratório, TIC, saídas a campo ou museus e livro didático. 37206 Sabe-se que o ensino de Evolução Biológica esbarra em grandes desafios, como por exemplo, o posicionamento pessoal de professores, que acaba influenciando o processo de ensino e aprendizagem dos estudantes (CARNEIRO, 2004). Outro problema enfrentado pelos professores é o conflito entre ciência e religião que os estudantes trazem para sala de aula. Essa ocorrência é muito comum, o que segundo Pereira (2009, p. 25) “dificulta o processo de compreensão do conteúdo”. Tal tema, de acordo com a autora, exige um preparo dos professores para mediar esses conflitos. Diante do exposto, este estudo objetivou fazer um levantamento das estratégias e recursos didáticos utilizados pelos professores de Biologia no ensino de evolução biológica. Metodologia O presente trabalho caracteriza-se como uma investigação qualitativa. Sobre a pesquisa qualitativa, Gonsalvez (2007, p. 69) afirma que ela “preocupa-se com a compreensão, com a interpretação do fenômeno, considerando o significado que os outros são às suas práticas, o que impõe ao pesquisador uma abordagem hermêutica”. A pesquisa teve como público-alvo 22 professores de biologia da rede particular e pública de ensino de uma cidade do interior do estado do Paraná. Os dados foram coletados por meio da aplicação de um questionário anônimo e voluntário. Os sujeitos da pesquisa foram identificados pela letra P (professor) seguida por um número atribuído a cada um (de P1 a P22). A formação acadêmica dos professores analisados na pesquisa aponta que, 11 professores são licenciados em Ciências Biológicas (P1, P2, P4, P7, P10, P11, P12, P13, P16, P17, P21); 2 professores possuem bacharelado em Ciências Biológicas (P5 e P6); 7 professores possuem os dois tipos de formação (licenciatura/bacharelado) (P3, P8, P9, P15, P18, P19, P22); 1 professor é formado em Medicina Veterinária (P6) e 1 professor é formado em Oceanografia (P14). Ainda quanto à formação, 14 professores apresentam especialização (P1, P2, P3, P4, P5, P8, P9, P10, P11, P12, P13, P16, P17 e P21), 6 apresentam mestrado (P6, P7, P14, P15, P18 e P20) e 1 apresenta especialização e mestrado (P22). Quanto à situação funcional desses professores, constatamos que 15 (P1, P2, P3, P4, P5, P6, P7, P8, P9, P10, P12, P15, P20, P21 e P22) são efetivos no Estado, sendo que 10 (P2, P3, P4, P5, P7, P9, P10, P20, P21 e P22) deles atuam apenas em escola estadual. Os demais atuam, além da escola estadual, em outras redes de ensino (P11, P13, P14, P16, P17, P18 e P19). 37207 Quanto à experiência profissional, constatamos que 14 deles estão no magistério há mais de 10 anos (P2, P3, P4, P5, P6, P9, P10, P12, P14, P15, P19, P20, P21 e P22), 6 deles há menos de 10 anos (P8, P11, P12, P16, P17 e P18), e 2 não assinalaram (P13, P1). O questionário aplicado envolveu 15 perguntas estruturadas. As primeiras 7 questões eram em relação a caraterização dos sujeitos de pesquisa. As outras 8 questões foram adaptadas do trabalho de Silva, Lavagnini e Oliveira (2009). Nesta segunda parte, as questões eram discursivas e objetivaram identificar as estratégias e recursos utilizados pelos professores para conteúdos sobre evolução: origem da vida, aparecimento ou extinção de uma espécie, estruturas homólogas, estudo dos fósseis, teorias evolutivas, mutações e adaptação. As questões foram analisadas de acordo com a técnica da análise textual definida por Moraes e Galiazzi (2007) como “processo de desconstrução, seguida de reconstrução, de um conjunto de materiais linguísticos e discursivos, produzindo-se a partir disso, novos entendimentos sobre os fenômenos e discursos investigados”. Resultados e Discussão Os dados serão apresentados seguindo a ordem das questões finais, desta forma, oito conteúdos relacionados ao tema evolução constituirão as análises. Origem da vida A questão 01 apresentou o seguinte questionamento: “Qual Recurso Utilizado Para Explicar a Origem da Vida?”. Nessa questão, 18 professores responderam que para explicar sobre a origem da vida utilizam como instrumento de ensino, principalmente, vídeo e livro didático. Entretanto, tais professores não especificaram que tipo de vídeo e em qual momento o utilizariam, prejudicando assim a análise concreta de suas ferramentas em relação ao conteúdo trabalhado. Analisando a resposta de outros 4 professores, percebe-se que estes relacionam o conteúdo sobre a origem da vida com estratégias e instrumentos, pois fazem uma relação direta do conteúdo e apresentam exemplos de experimentos ou vídeos específicos, como os exemplos: 37208 P14: Eu começo abordando aspectos da abiogênese e biogênese e pelos aspectos que levaram ao questionamento sobre a origem da vida. Após isso utilizo a teoria de Oparin e o experimento de Miller para mostrar a hipótese de evolução química. Uso como recursos imagens de como a Terra primitiva provavelmente era e um documentário chamado The Cell da BBC que demonstra os experimentos. P22: Sou bastante claro quando começo esse assunto: independente da opinião pessoal e religiosa de cada um quero que entendam como são as explicações científicas sobre a origem da vida e evolução, e que cada um tire suas conclusões pessoais. Utilizo bastante imagens e ilustrações para demonstrar a origem da vida, como os experimentos de Redi, Spalanzani, Needham e Pasteur, além de outros (Oparin, Miller). Embora essas estratégias favoreçam o aprendizado do estudante, constatou-se que a maioria das respostas dadas para essa pergunta deixam dúvidas em relação à especificidade do vídeo e em qual momento este deve ser trabalhado em sala. Extinção das Espécies A questão 02 apresentou a seguinte pergunta: “Como você abordaria o aparecimento ou a extinção de uma espécie?”. Um professor indicou uma estratégia de ensino relacionada à questão: P13: Para explicar a extinção de uma espécie, utilizou uma prática chamada “Jogo das populações ecológicas”, onde a partir de perguntas o grupo deve definir estratégias de sobrevivência. Caso tome medidas e estratégias erradas sua população tente a entrar em extinção e desequilibrar toda uma cadeia alimentar. O objetivo é demonstrar que as espécies estão em continuo processo de adaptação podendo em determinadas situações originar novas espécies ou ser extintas. Na resposta de 21 professores verificou-se que apresentam o conceito, mas não os relacionam com alguma estratégia ou instrumento de ensino como pode ser verificado nas respostas a seguir: P15: É necessário, no meu ponto de vista, que o aluno tenha uma ideia de mutação e das relações entre os seres vivos e o meio. Para discutir o aparecimento de uma espécie acredito ser preciso discutir o conceito de especiação e, depois relacionar esse conceito ao de isolamento genético. Para discutir o desaparecimento de uma espécie é preciso discutir como as mutações e/ou as mudanças ambientais podem ter influência sobre o processo. Em relação ao aparecimento de uma espécie sempre acho interessante destacar as mutações virais e em relação ao desaparecimento de uma espécie, as grandes catástrofes naturais como o meteoro que levou a extinção dos dinossauros. 37209 P22: A extinção é bem fácil abordar porque grande parte dos alunos observam notícias sobre o meio ambiente, desmatamento, caça e poluição que são os grandes responsáveis por extinguir espécies. O aparecimento de espécies pode ser tratado como mutações do material genético, isolamento reprodutivo, seleção natural; são fatores que podem levar a origem de novas espécies. Embora discuta sobre conceitos chaves como, por exemplo, mutação, especiação e isolamento geográfico, o professor exemplificado não especifica que tipo de estratégia ou instrumento utilizaria. Já na resposta de outro professor, observa-se um equívoco conceitual em relação aos mecanismos de adaptação: P1: Seleção natural das espécies, onde os mais fortes se adaptam sobrevivendo e chegando a idade adulta (reprodução) deixando assim descendentes. O professor considera que somente os mais fortes sobrevivem. Essa ideia do papel da seleção natural gerando a adaptação pode ser considerada dúbia, uma vez que pode ser interpretada pelos alunos como se os indivíduos se adaptassem ao ambiente em função de uma pressão, ou seja, uma visão finalista da evolução. “Adaptação é a característica que evolui por seleção natural” (FUTUYMA, 2009, p. 279), ou seja, adaptação é uma consequência e não uma causa. Estruturas homólogas A questão 03 apresentou a seguinte pergunta: “Como você explicaria as estruturas homólogas das asas dos morcegos e das nadadeiras das baleias?”. Nessa questão, os professores utilizam ferramentas para abordar o conteúdo sobre estruturas homólogas. Em 22 respostas obtidas, os professores apresentam conteúdos, mas não os relacionam com estratégias de ensino, como na resposta de P13: P13: Sempre relaciono a estrutura física e morfologia da espécie a seu ambiente, ou seja, todo organismo está em continuo processo de adaptação do ambiente seguindo as leis da seleção natural. Os órgãos homólogos apresentam a mesma origem embrionária, podendo ou não desempenhar a mesma função, como a asa do morcego adaptada a capacidade de voar, e as nadadeiras da baleia adaptadas a natação. O professor P17 responde utilizando conceitos de filogenia e adaptação evolutiva, porém, quando afirma que “levando os alunos a relacionarem as semelhanças estruturais entre estes vertebrados mamíferos” sem especificar como faria essa relação, abre um questionamento: Como seria levar o aluno a essa relação? Por meio de análise de imagens? 37210 Por meio de uma discussão? Portanto, levar os alunos a uma relação sem dizer qual seria não permite avaliar que tipo de abordagem está sendo evidenciada por esse professor. De acordo com a responda de outro professor, “Através do uso e desuso”, observa-se que este utiliza conceitos de origem lamarckista para explicar sobre as estruturas homólogas das asas dos morcegos e das nadadeiras das baleias. Ao afirmar que para explicar esses conceitos deve-se utilizar “uso e desuso”, o professor está se referindo à lei proposta por Jean Baptiste Lamarck, ou seja, quanto mais utilizamos um órgão mais esse órgão se desenvolve e o contrário também é verdade, quanto menos utilizamos um órgão, ele atrofia. Pelas explicações evolutivas atuais esse conceito está equivocado. Mesmo as ideias de Lamarck serem consideradas importantes ao longo da história da construção da teoria da evolução (MARTINS, 2002), essa explicação sobre o desenvolvimento de características nos organismos deve ser superada. Evidências de fósseis A questão 04 apresentou o seguinte questionamento: “Qual a metodologia utilizada para evidenciar os fósseis?”. Nessa questão, foi verificado que 14 professores empregam como recurso didático a construção ou demonstração de um fóssil, segundo as respostas abaixo: P20: definindo fósseis, e por meio de aula prática (fazendo fosseis por meio de gesso ou argila). P3: Trazendo um fóssil impregnado em rocha sedimentar; como por exemplo, uma concha. Analisando outras respostas (08), foi verificado que alguns professores utilizam além das aulas práticas, a análise de documentários, fotos e vídeos: P13: Primeiramente uma aula expositiva para contextualizar a importância e método de estudo dos fósseis (trechos de filmes com o Parque dos dinossauros). Em uma outra aula realizaríamos atividades práticas com a montagem de um fóssil com material trazidos pelos próprios alunos como sementes, ossos e insetos. Esse fóssil pode ser feito em argila ou gesso, isso depende da disponibilidade dos materiais. P16: Esconder objetos em caixas de areia, colocar insetos mortos, folhas, conchas, etc., na argila ou gesso, e posteriormente deixar que os alunos explorassem os fósseis produzidos para compreender sua criação e estudo. Nesta questão, pode-se verificar um número maior de recursos didáticos. Diferenciando esse tema dos outros apresentados. 37211 Teorias Evolutivas A questão 05 apresentou a seguinte pergunta: “As Teorias Evolutivas mudaram a ideia de que as espécies eram imutáveis. Você abordaria esse assunto em sala de aula?”. Foi verificado que 17 professores apresentam diferente espectro de domínio do conteúdo abordado pela questão, mas não conseguem relacioná-los com alguma estratégia ou instrumento de ensino: P9: Pela evolução humana. P18: Ao tratar do isolamento geográfico e reprodutivo, e consequentemente, da especiação, abordo as possíveis mudanças que ocorrem nas populações ao longo das gerações. P2: Gosto de esclarecer que a ideia de mutação não deve ser negativa, mas também possibilitou a evolução das espécies. P15: Essa é a base da evolução, então gosto de começar o conteúdo de evolução com essa abordagem. Uso muito os animais que a partir dos fósseis foram “refeitos” com o auxílio da computação gráfica e mostram como os animais foram. Procuro discutir que o fixismo era uma visão baseada em uma filosofia vigente na época, procuro relacionar com as questões religiosas e sociais. Nessa mesma pergunta, outro professor apresenta um equívoco conceitual em relação à adaptação. P13: Sempre contextualizo a ideia de mudança dos organismos ao longo do tempo mostrando aspectos e conhecimentos práticos do assunto em relação a seleção natural, como a adaptação das bactérias em relação ao uso de antibióticos e a formação de novas espécies por isolamento geográfico. De acordo com a resposta do professor, ao afirmar que as bactérias se adaptam quando utilizamos antibióticos, ele está atribuindo o uso do medicamento como fator adaptativo das bactérias, mas na verdade, de acordo com a explicação evolutiva, estas já nascem resistentes independentemente do uso de antibióticos. Diante de tais respostas, observou-se que os professores fazem uso da aula expositiva para explicar sobre as mutações. Mutações A questão 06 expõe a seguinte pergunta: “Como você trabalharia a frase ‘as mutações são previsíveis e elas só ocorrem para adaptar os indivíduos ao meio em que vivem’?”. Constatou-se que 14 dos 22 professores apresentam conceitos relevantes, mas que não os relacionam com estratégias ou recursos didáticos, levando à conclusão da utilização da exposição oral por parte do professor: 37212 P12: Para fundamentar a resposta trabalharia alguns conceitos de biologia molecular e genética de populações, discutindo mutações gênicas e influencias de fatores externos na determinação gênica e expressão nos indivíduos, justificando que as mutações ocorrem em função de uma adaptação para a sobrevivência do indivíduo, logo se a espécie está sobrevivendo é porque a mesma está adaptada e reage positivamente aos fatores externos. P13: O aspecto abordado sobre esse tema, é que as mutações são eventos naturais e não estão relacionados apenas a problemas como, por exemplo, mutações e anomalias humanas. Esse fenômeno é responsável por fazer com que organismos da mesma espécie não sejam idênticos entre si, pois caso isso não ocorresse, as espécies estariam vulneráveis a extinção caso ocorresse uma mudança drásticas no ambiente onde elas vivem. As mutações fornecem às espécies a variabilidade genética, processo fundamental para adaptação e sobrevivência das espécies ao ambiente. Verificou-se também, que alguns professores apresentam erros conceituais em relação à adaptação: P3: As bactérias são resistentes quando não tomam antibióticos corretos; e em hospitais quando há algum tipo de infecção hospitalar; portanto elas podem sofrer mutações, o qual serão previsíveis. P21: Os organismos sofrem mutações para se adaptarem ao ambiente. P9: Os seres vivos capazes de sofrer modificações conforme as mudanças do meio são os que sobrevivem, desta forma, usaria exemplos do cotidiano (adaptações às regras da escola, leis municipais, etc.) Ao fazer tal afirmação, P3 acaba demonstrando que não compreende a natureza das bactérias corretamente, pois elas são resistentes naturalmente e que não dependem de algum mecanismo (antibióticos) para torná-las resistentes. Na situação seguinte, o professor P21 afirma que as mutações têm um papel de adaptação o que, na verdade, são apenas modificações que podem ou não levar a uma adaptação. Adaptação A questão 07 indaga aos professores: “Qual ferramenta você utilizaria para abordar a questão da adaptação?”. Na análise da resposta do professor P13, verifica-se que ele apresenta o conceito de adaptação e o recurso audiovisual como uma ferramenta para a compreensão do processo de adaptação. P13: A adaptação é um conceito que deve ser sempre abordado como a capacidade do organismo em sobreviver em um ambiente específico. Sempre contextualizo, mostrando imagens práticas de processo evolutivos de adaptação como, por exemplo, o caso das mariposas de Manchester entre outros. Geralmente as ferramentas são recursos visuais, pois possibilita ao aluno visualizar características adaptativas das espécies. 37213 Analisando a resposta dos outros professores, observa-se que a maioria (20) deles utiliza como instrumento de ensino o vídeo, verificado nos exemplos: “Vídeo e livro” (P2) e “Livro, vídeo, exemplos da natureza” (P3). Outro professor (P15), além de utilizar vídeo, adota um jogo como estratégia de ensino para facilitar a compreensão dos conteúdos: P15: Como já disse na questão anterior, gosto de usar hipóteses criadas com seres da vivência dos alunos: o cão que nasce com mais ou menos pelo, o peixe cego na caverna escura. [...] Existem alguns vídeos que trabalham de forma lúdica o tema. Para os menores fazemos um jogo com papel picado de cores diferentes, que facilitam ou dificultam a visualização dos mesmos sobre um fundo também colorido. Ao trocar os papéis para um fundo diferente, o que antes era de difícil localização agora se destaca. Nota-se que este professor além de utilizar um recurso que os estudantes gostam como o vídeo, utiliza o lúdico como um objeto que favorece o aprendizado, tornando o processo mais simples e divertido de assimilação do conteúdo. Ancestral comum A questão 08 traz o seguinte questionamento: “Em relação à frase ‘Nós viemos do macaco?”, qual a abordagem que você utilizaria em sala de aula para tratar desse assunto?” Na análise da resposta do professor P13, nota-se que ele apresenta o conteúdo a ser trabalhado e sua estratégia de ensino: P13: Primeiramente, seriam trabalhados conceitos como seleção natural e variabilidade genética entre as espécies. Após isso, sempre realizo uma atividade prática chamada “Os primatas e suas características” com o objetivo de demonstrar que fisicamente e morfologicamente somos seres muitos semelhantes. Após a contextualização, trabalharíamos uma linha evolutiva das espécies a fim de demonstrar e contextualizar que ambas as espécies tiveram o mesmo ancestral comum, mais devido a fatores ambientais homens e macacos se adaptaram a ambientes específicos, formando espécies distintas. Por meio de sua frase “Primeiramente, seriam trabalhados conceitos como seleção natural e variabilidade genética entre as espécies. Após isso, sempre realizo uma atividade prática [...]”, percebe-se que o professor primeiro trabalha conceitos em sala para depois realizar uma atividade prática contribuindo para o aprendizado do aluno. A maioria (20) dos professores explicou a pergunta sem relacioná-la com alguma estratégia de ensino. Quando os professores afirmam que “explica” “comenta”, “justifica”, é 37214 possível verificar que os mesmos utilizam apenas exposição oral como forma de ensino, não fazendo uso de alguma ferramenta que possibilita uma maior compreensão: P11: Explicando que a expressão é simplista, e que viemos de linhagens extintas de primatas, e que não necessariamente os macacos estão evoluindo para seres humanos, não é uma progressão. Mostrando que nós somos ainda o tal “macaco”. Como estratégia de ensino, o professor P4 utiliza um mapa conceitual para tentar desmistificar a ideia de que nós viemos do macaco, conforme pensa a maioria dos alunos. Já o professor P7 optou por usar a estratégia da discussão em sala de aula para esclarecer o parentesco evolutivo do homem e do macaco. P4: Classificação-seriação-montagem de um mapa conceitual com explicação e questionamentos dos alunos. Questões elaboradas pelos alunos. P7: Ideias e discussões sobre os mamíferos, organização em sociedade ou grupos e semelhanças entre espécies. Como essa pergunta é muito frequente em sala de aula, com essas respostas foi possível perceber que os professores não fazem uso de estratégias para tentar explicar a questão e que, apenas alguns, utilizam ferramentas que favoreçam a aprendizagem dos estudantes. Considerações Finais O trabalho concentrou-se fazer um levantamento sobre estratégias e recursos didáticos no ensino de evolução. Pode-se verificar que em relação de estratégias de ensino os professores optam, em grande maioria, pela aula expositiva, pois em todas as questões os professores optavam em afirmar que iriam explicar os conteúdos, sem propor diferentes estratégias ou recursos. Os temas extinção de espécies, estruturas homólogas, teorias evolutivas e mutação não apresentaram outras estratégias ou recursos. O uso do recurso didático vídeo foi o mais frequente nas análises, entretanto, nem sempre o professor especificava qual estratégia estava relacionada a esse recuso. Estratégias de trabalhos em grupos com os estudantes foram relacionadas com recursos como jogos, produção de modelos didáticos e atividades de elaboração de comparação entre espécies (que apresenta conceitos básicos de filogenia). Um aspecto que não era objetivo deste trabalho, mas chamou a atenção foram às concepções equívocas dos professores sobre os conteúdos de evolução. Em respostas a quatro questões pode-se verificar erros conceituais sobre o tema. Considera-se esses dados 37215 significativos, pois a não familiaridade com o conteúdo pode ser considerada um obstáculo para que os professores elaborem estratégias de ensino e utilizem recursos com potenciais para ensino de evolução. Este trabalho apresenta-se em um processo de continuidade. Este levantamento permitiu conhecer algumas escolhas de professores de uma região do Estado do Paraná e será utilizado para a elaboração de propostas de ensino e de pesquisa sobre essa temática. Nesse sentido, considera-se que um obstáculo a ser superado é a visão de que o ensino de evolução seja orientado apenas por aula expositiva e que recursos didáticos que auxiliem no ensino dessa temática precisam ser desenvolvidos e apresentados aos professores. REFERÊNCIAS ANASTASIOU, L. G. C; ALVES L. P. (Org). Processos de ensinagem na universidade: pressupostos para estratégias de trabalho em aula. 3. ed. Joinville, SC: Univille, 2004. BACHION, M. A; PESSANHA, M. C. R. Análise das metodologias de ensino adotadas em sequências didáticas de ciências: uma reflexão sobre a prática docente. In: Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino, 16, 2012, Campinas. Anais... Campinas: UNICAMP, 2012. CARNEIRO, A. P. N. A Evolução Biológica aos olhos de professores não licenciados. 2004. 137 f. 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