Protozoários e Helmintos não-patogênicos A interpretação equivocada de organismos não-patogênicos, relatados em resultados de exames parasitológicos de fezes (EPF), é causa freqüente de tratamentos anti-parasitários desnecessários. Existem várias espécies que vivem no intestino humano, sem nenhuma evidência de ação nociva (1). Estudo recente, evidenciou o grande custo financeiro da valorização do achado desses organismos, além de ressaltar que essa conduta pode dificultar o diagnóstico de outras condições clínicas, pois muitas vezes a sintomatologia do paciente é “injustamente” atribuída à presença de organismos inócuos (2). No quadro I, observa-se uma lista de organismos, que quando relatados nos EPFs, não devem ser considerados como patogênicos, se tratando de comensais ou parasitas acidentais do homem. Quadro I – Protozoários e Helmintos não-patogênicos relatados no EPF Organismos Endolimax nana Entamoeba coli Entamoeba hartmanni Iodamoeba bütschlii Chilomastix mesnili Trichomonas hominis Entamoeba moshkovskii Hymenolepis diminuta Meloidogyne sp. Comentários Ameba comensal do intestino grosso do homem e alguns primatas. Homossexuais masculinos apresentam maior incidência de Endolimax nana, mas sua ação patogênica não se encontra definida na SIDA (3,4). Ameba comensal do intestino grosso (1). Ameba comensal do intestino grosso. Seus cistos são comumente confundidos com os da E. hystolitica (6). Ameba comensal do intestino grosso. Também encontrada em várias espécies de primatas e porco (6). Protozoário não patogênico (5). Protozoário flagelado não-patogênico encontrado em regiões tropicais (6). Ameba de vida livre, não-patogênica (5). Cestódeo que normalmente, não leva a nenhuma alteração orgânica. Em geral o verme é eliminado, sem tratamento anti-helmíntico, em 2 meses (1,6) . Nematódeo comensal não patogênico encontrado em raízes de vegetais. Seu ovo se assemelha ao do áscaris (1). No quadro II abordamos alguns protozoários e helmintos sobre os quais existem controvérsias sobre sua capacidade de causar doença em humanos. Observa-se, de modo geral, que esses organismos causam sintomas, principalmente, em crianças e adultos imunodeprimidos, ou quando a infecção é maciça. www.hermespardini.com.br Por que reportar o achado de protozoários e helmintos não patogênicos? Uma vez que são adquiridos da mesma forma que parasitas patogênicos, a comunicação de sua presença é importante, pois alerta ao clínico a necessidade de reforçar a prevenção de infecções transmitidas via fecal-oral (8). 1 Quadro II: Protozoários e Helmintos de patogenia controversa Organismos Dientamoeba fragilis Sarcocystis hominis Sarcocystis suishiominis Trichostrongylus columbriformis Dipylidium caninum Blastocystis hominis Comentários Ameba considerada pela maioria dos autores como não-patogênica, embora seja citada como causa de sintomatologia intestinal branda. Infecção maciça em crianças pode causar diarréia, dor abdominal, prurido anal e eosinofilia. Metronidazol tem sido relatado como tratamento eficaz em crianças (1,6,9). Protozoários que geralmente não causam sintomas, mas podem causar diarréia. Anti-parasitários têm ação limitada sobre os Sarcocystis, não havendo tratamento específico conhecido (10). Nematódea parasita de ruminantes. Homem pode ser hospedeiro acidental. Dor abdominal, diarréia e eosinofilia podem ocorrer se infecção maciça. Tratamento com Palmoato de Pirantel é indicado, sendo mebendazol e albendazol drogas de segunda escolha (6,11,12). Cestódeo parasita do intestino de cães, sendo o homem hospedeiro acidental. Em geral não causa sintomas. Infecções maciças podem causar perda de apetite e dor abdominal em crianças. Praziquantel ou Niclosamida podem ser usados em seu tratamento (1,13). Protozoário ocasionalmente encontrado no intestino de humanos, de patogenicidade controversa. Existem citações que o relacionam com diarréia, flatulência e prurido anal. Tratamento com Metronidazol tem sido descrito como efetivo (5,10). Chilomastix mesnili Dientamoeba fragilis Hymenolepis diminuta Dipylidium caninum Entamoeba coli Entamoeba hartmanni Iodamoeba butschlii Meloidogyne sp. www.hermespardini.com.br Endolimax nana 2 Sarcocystis sp. Trichomonas hominis Trichostrongylus sp. BIBLIOGRAFIA 1. Pessôa SB, Martins AV. Parasitologia Médica. 11 ed. 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