CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DE FRUTOS, SEMENTES, PLÂNTULAS E PLANTAS JOVENS Guazuma ulmifolia Aline Gonçalves de Siqueira1,4; Severino de Paiva Sobrinho2,4; Petrina de Bessa Morais3,4 1 Bolsista PBIC/UEG 2 Pesquisador – Orientador 3 Voluntario Iniciação Cientifica PVIC/UEG 4 Curso de Ciências Biológicas, Unidade Universitária de Porangatu, UEG Resumo – O objetivo deste trabalho foi descrever os caracteres morfológicos dos frutos, sementes, plântula e planta jovem de mutamba. Para o estudo do fruto os seguintes aspectos foram observados: tipo; cor; dimensões; textura; deiscência; e número de sementes por fruto. Os aspectos observados para a semente foram: cor; peso de 1000 sementes; forma; tegumento; embrião; e endosperma. O estádio de plântula foi considerado até o momento em que a mesma tinha apenas cotilédones, a partir da emissão de folhas passou a ser considerada planta jovem. Os elementos vegetativos descritos e ilustrados foram: raiz primária, secundária e terciária; hipocótilo; epicótilo; cotilédones; caule, folhas, e gema apical. O fruto é do tipo globoso com faixas estreitas e superfície muricada, indeiscente e de cor escura. A semente tem cor acinzentada e forma bastante variada, coberta por um envoltório que quando umedecido torna-se gelatinoso. O embrião possui cotilédones foliáceos, dobrados em torno do eixo hipocótilo-radícula, que após a emergência torna m-se verdes com nervuras e forma arredondada. Após a emergência o hipocótilo e raiz primária são brancos e cilíndricos, mas com passar do tempo vão tornando-se mais escuro. O caule tem uma cor verde escuro, e as folhas possuem pecíolo, nervura principal e secundária, e limbo de forma dentada. Palavras-chave: frutos, sementes, plântulas. 2 Introdução A morfologia da semente é necessária nas aná lises de identificação e certificação da qualidade das sementes (Oliveira & Pereira, 1984). Para Kuniyoshi (1983) este conhecimento também pode ser aplicado no manejo, visando à conservação da fauna, mediante estudos da dieta de herbívoros. É importante o conhecimento das estruturas morfológicas para a identificação taxonômica das espécies, principalmente as florestais, onde boa parte é pouco conhecida. Para os taxonomistas, as diferenças entre plantas, assim como as mudanças que possam ter em comum, são susceptíveis de avaliação em larga escala pelos caracteres morfológicos. Estes caracteres manifestam-se por componentes estruturais das plantas e, o seu valor aprecia-se pela constância. Assim, quanto mais constantes, maior a confiança que neles se pode depositar (Lawrence, 1973). No estudo morfológico das sementes, uma enorme quantidade de caracteres taxonômicos e filogenéticos são fornecidos. Apesar dos caracteres externos serem mais utilizados, os caracteres internos são mais confiáveis na classificação. Para Gunn (1972) tanto as características externas como as internas das sementes são pouco modificadas pelo ambiente, constituindo-se num critério bastante seguro para a identificação. A identificação das plantas no estádio juvenil conduz a três direções principais: contribuir para um melhor entendimento da biologia da espécie, ampliar os estudos taxonômicos e auxiliar em trabalhos de levantamentos ecológicos nos aspectos de regeneração por sementes em condições naturais e na ocupação e no estabelecimento ambiental por qualquer espécie. O estudo das espécies florestais existentes no cerrado tem sido ao longo do tempo restrito a algumas espécies com elevado interesse econômico. As espécies que não apresentam valor econômico até o momento, muitas vezes são deixadas de lado pela pesquisa. Entretanto, para compreender como ocorre a recuperação florestal natural ou de que forma o homem pode fazer essa recuperação, é necessário o conhecimento destas espécies. A mutamba é considerada uma espécie importante para a recuperação de áreas degradadas (Barbosa & Macedo, 1993; Lorenzi, 2002) e pertence aos estágios inicias de sucessão secundária, sendo classificada por Ferretti et al. (1995) como sendo secundária inicial. Então pode-se dizer que a mutamba é uma espécie pioneira na regeneração de áreas, logo, conhecer o desenvolvimento inicial desta espécie é um passo importante para auxiliar um programa de recuperação de áreas degradas. 3 É importante que se conheça a morfologia de frutos, sementes e plântulas das espécies existentes no cerrado, por que desta forma torna-se mais fácil o estudo e a elaboração de projetos de regeneração e recuperação das áreas degradadas. Estas informações também servem de base para futuros estudos taxonômicos. Portanto, o trabalho teve como objetivo conhecer a morfologia externa e interna dos frutos, sementes, plântulas e plantas jovens de Guazuma ulmifolia. Material e Métodos Número de sementes por quilograma de sementes e peso de 1000 sementes – para a determinação do número de sementes por quilograma e peso de 1000 sementes foram utilizados 10 sub-amostras de 100 sementes cada, segundo recomendações das Regras para Análise de Sementes (Brasil, 1992). Também foi feita a contagem do número de sementes por fruto, para tanto se utilizou uma amostra de 50 frutos. No estudo do fruto os seguintes aspectos foram observados: tipo, cor, dimensões, textura, deiscência e número de sementes por fruto. No estudo das sementes, as características morfológicas externas observadas e descritas foram: cor, textura e consistência dos tegumentos, peso de 1000 sementes e forma. As características internas observadas foram: embrião e presença de endosperma. O diâmetro e altura dos frutos assim como o tamanho das sementes foram medidos, utilizando-se um paquímetro. No estudo da fase de plântula várias sementes foram semeadas sobre papel de filtro úmido e colocadas em uma placa de petri, para que fosse possível realizar as devidas observações Para as descrições morfológicas e ilustrações dos caracteres de plantas jovens, foram utilizadas as mais vigorosas. O estádio de plântula foi considerado enquanto havia apenas os cotilédones, já o estádio de planta jovem, após o surgimento da primeira folha. Os elementos vegetativos descritos e ilustrados foram: raiz primária, secundária e terciária; hipocótilo; epicótilo; cotilédones; caule, folhas, e gema apical. Resultados e Discussão Características de fruto – Os frutos de G. ulmifolia apresentam cor escura (preta) de forma globosa com estreitas fendas e em número de cinco, sendo cada fenda em forma de 4 rima. A superfície do fruto é do tipo muricada e o mesmo é indeiscente, estas características também foram descritas por Barroso et al. (1999). Internamente o fruto é bastante duro e seco formado por estruturas coriáceas e lenhosa, no centro do fruto existe um eixo longitudinal de consistência lenhosa duríssima e com pontas. Verifica-se no estudo dos frutos que o diâmetro médio do fruto de mutamba é 22,04 mm e em media a altura do fruto foi 19,44 mm, estes valores são inferiores aos encontrados por Araújo Neto & Aguiar (1999), onde os mesmos encontram um diâmetro de 24,88 mm e uma altura de 22,61 mm. O número de sementes por fruto em média foi 87. Características da semente – O peso de 1000 sementes teve seu valor médio igual a 7,6 gramas. As sementes têm cor ligeiramente acinzentada, com destaque para a região da calaza que apresenta uma coloração mais escura, porém quando colocadas em contato com água passam a apresentar uma tonalidade mais escura, e coberta por um envoltório, envoltório este quando umedecido torna-se bastante gelatinoso e transparente. A forma das sementes é bastante variada, tendo sementes arredondadas, achatadas, etc. O tamanho das sementes em média, foi igual a 2 mm. O embrião encontra-se com seus cotilédones dobrados e imersos no endosperma de consistência gelatinosa, porém, não tão branco quanto o embrião, observa-se que o endosperma apresenta pontos escuros. O embrião da mutamba tem forma invaginado e do tipo plicado, ou seja, cotilédones foliáceos, dobrados em torno do eixo hipocótilo-radícula. Após 24 horas uma semente seccionada e colocada sobre papel umedecido, seu embrião ocupa um espaço bem maior em relação ao espaço ocupado anteriormente. Características da plântula – A germinação é do tipo epígena tem início com a emissão da raiz primária cerca de 4 dias após o semeio, a qual rompe o tegumento na base da semente, apresentando coloração branca, com uma curvatura acentuada, para em seguida ter um crescimento linear. O hipocótilo apresenta um tamanho de cerca de 20 mm, mas o epicótilo no início não é observado, só com a emissão da primeira folha é que torna-se possível visualizar a região do epicótilo, sendo o epicótilo de tamanho um pouco menor que o hipocótilo, sendo ambos cilíndricos, enquanto o hipocótilo apresenta inicialmente cor branca, mas com o passar do tempo ele passa a ter a mesma coloração do epicótilo, ou seja, verde escuro. Quando a plântula emerge apresenta seus cotilédones de consistência membranosa que tem seu desprendimento total com cerca de três dias após o início da emergência, com coloração verde claro, bordo inteiro, formato orbicular, apresentando nervuras, pecíolo e dispostos de forma oposta (Figura 1A), os mesmos permanecem na planta por varias semanas, mesmo quando a planta apresenta dois a três pares de folhas. 5 Características da planta – Aos 30 dias após a emergência a planta apresenta 2 pares de folhas e uma altura média de 5 cm (Figura 1B), aos 60 dias apresenta 3 pares de folhas e um comprimento média de 8 cm (Figura 1B). As folhas distribuem-se no caule de forma alternada, são do tipo oblongo- lanceolada, a forma do ápice da folha é acuminado, com pecíolo, limbo dentado, com uma nervura principal e varias nervuras secundarias evidente. O sistema radicular é constituído de raiz principal e muitas raízes secundárias e terciárias, seu tamanho em média é o mesmo da parte aérea da planta, característica esta comum em plantas do cerrado. A gema apical é bastante desenvolvida podendo ser vista facilmente a partir do primeiro par de folhas. Após 30 dias já se observa o surgimento de gemas laterais, e cada folha que surge, junto com ela também surge uma gema lateral. O caule apresenta-se de forma reta e coloração verde escuro. f c c 4 cm hp hp 8 cm ep rp rp A rs B Figura 1. Aspecto da plântula (A) e planta jovem (B) de mutamba (Guazuma ulmifolia Lam.). Legenda: c- cotilédone; ep- epicótilo; f- folha; hp-hipocótilo; rp-raiz primária; rs-raiz secundária. Conclusão 6 Os aspectos morfológicos do fruto, da semente, da plântula e da planta jovem, apresentaram-se bastante homogêneos e constantes. Deste modo, podem ser seguramente empregados em estudos taxonômicos ou ecológicos com a referida espécie. 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