Centro Universitário de Belo Horizonte Wanderson Teodoro Carvalho ESTADOS UNIDOS E CHINA: do desafio econômico à cooperação Belo Horizonte 2008 AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. Wanderson Teodoro Carvalho ESTADOS UNIDOS E CHINA: do desafio econômico à cooperação Monografia apresentada ao Centro Universitário de Belo Horizonte como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais. Orientador: Professor Túlio H. Ferreira. Belo Horizonte 2008 AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. Wanderson Teodoro Carvalho ESTADOS UNIDOS E CHINA: do desafio econômico à cooperação Monografia apresentada ao Centro Universitário de Belo Horizonte como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais. Orientador: Professor Túlio H. Ferreira. Monografia aprovada em: 09/12/2008. Banca examinadora: _______________________________________________ Profª. Sylvia Marques, Uni-BH __________________________________________________ Prof. Clégis Dolabela, Uni-BH AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. Dedico a minha mãe, guerreira, que mesmo com tantas brigas nunca deixou de acreditar em mim, e sempre lutou para que eu tivesse o melhor. Dedico ao meu pai também, meu grande ídolo, o cara que eu quero ser quando crescer. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. Meus sinceros agradecimentos ao meu orientador, por toda a paciência e orientação prestada para que eu pudesse finalizar esse trabalho. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. "É necessário ter o caos aqui dentro para gerar uma estrela." [Friedrich Nietzsche] AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. Resumo O presente trabalho foi realizado como requisito parcial para a obtenção do titulo de Bacharel em Relações Internacionais. Este trabalho visa discutir os acontecimentos históricos e econômicos que possibilitaram a aproximação de Estados Unidos e China, fazendo com que estes se tornassem parceiros comerciais e passassem a ser altamente dependentes economicamente um do outro. Para atingir os objetivos propostos o trabalho inicia discutindo os principais acontecimentos históricos ocorridos de 1890 até o final do século XX. Inicia-se mostrando a formação dos blocos que levaram a Primeira Guerra Mundial, em seguida a crise de 1929, abordando então a Segunda Guerra Mundial. Sobre a Segunda Guerra mundial são apresentadas as explicações mais freqüentes para a eclosão do conflito. É apresentada a postura dos Estados Unidos durante o período assim como a chinesa. Logo em seguida, ocorre a discussão sobre a Guerra Fria, tornando visível a atuação chinesa como atuante dos dois blocos ideológicos em momentos distintos. Para o desenvolvimento do trabalho se inicia a sessão três apresentando o desenvolvimento da economia mundial, através de condicionantes econômicos como PIB, importação e exportação. Partindo então dos dados apresentados na economia mundial, inicia-se o desenvolvimento da discussão sobre a economia dos Estados Unidos e a da China. Como a China encontra-se em desenvolvimento econômico, tornou-se necessário também demonstrar quais são os setores responsáveis por impulsionar o crescimento econômico chinês. Por fim, desenvolve-se a idéia de disputa comercial entre os dois países resultante em cooperação. Os dois países são altamente dependentes um do outro economicamente, e com isso verifica-se através do arcabouço teórico selecionado uma tendência cada vez maior a cooperação entre eles. Palavras-chave: PIB, Investimento Direto Externo, Cooperação, Exportação, Importação. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. Sumário 1. Introdução.......................................................................................................................... 9 2. Breve Histórico Mundial.................................................................................................. 11 2.1.De 1890 ao final da Guerra Fria.................................................................................. 11 2.2. Estados Unidos da América ....................................................................................... 20 2.3. República Popular da China....................................................................................... 22 2.4. Estados Unidos da América x República Popular da China. ....................................... 24 3. Condicionantes Econômicos ............................................................................................ 26 3.1.Fatores econômicos mundiais ..................................................................................... 26 3.2. A economia dos Estados Unidos da América ............................................................. 28 3.3. A ascensão da economia chinesa ............................................................................... 30 3.4. A participação do investimento direto na economia chinesa....................................... 32 3.5. EUA e China: Uma disputa comercial ....................................................................... 36 3.6. Estados Unidos x China: A busca pela cooperação .................................................... 41 3.7 Objetivos de política externa chinesa .......................................................................... 42 4. Conclusão ........................................................................................................................ 45 5. Referências Bibliográficas ............................................................................................... 47 AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 1. INTRODUÇÃO Ao longo da história do mundo moderno, as relações internacionais sofreram profundas modificações. Novas potências ascenderam no sistema internacional. A dinâmica internacional alterou-se tanto que até mesmo os países que não são considerados como grandes potências exercem, hoje, importantes papéis perante o sistema internacional. Entretanto, para entendermos alguns processos faz-se necessário a apresentação de alguns eventos que, de forma interligada, determinaram o resultado final. O presente trabalho trata das relações dos Estados Unidos da América com a República Popular da China, determinando se existe cooperação entre eles. Para atingir tais objetivos, demonstram-se as principais alterações no mundo moderno, sendo, portanto demonstrado no presente trabalho os principais acontecimentos do século XX, e uma abordagem com os dois países envolvidos na discussão. No primeiro momento, serão apresentados os principais momentos para a alteração das relações internacionais, levando a ordem internacional que conhecemos hoje. Dentro da mesma seção ocorrerá uma discussão sobre os Estados Unidos da América. Como o país deixou a sua posição contrária a qualquer tipo de imperialismo, utilizando-se de uma postura isolacionista, para a condição de superpotência, modificando o discurso e afirmando que o destino do país está intimamente ligado aos passos dados em todo o mundo. Logo em seguida, serão analisadas as principais alterações ocorridas no século XX na China, abordando os antecedentes da revolução cultural, e a chegada de Deng Xiaoping ao poder, promovendo a abertura econômica da china, mas mantendo a mesma orientação política, gerando desenvolvimento e possibilitando a melhoria nas condições de vida da população chinesa. Para encerrar a seção, será feita um breve histórico entre os dois países diretamente, envolvendo questões que geraram litígio entre os dois países e em seguida, fatores que contribuíram para a reaproximação entre os dois países. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. Esse trabalho possui um cunho econômico, visando demonstrar a cooperação existente entre os dois países no que tange as questões econômicas, e, portanto, em um segundo momento como vem sendo as relações comerciais entre os dois países a partir da entrada da China na Organização Mundial do Comércio, em 11 de dezembro de 2001. Será realizada uma comparação entre os dados comerciais dos dois países a fim de verificar parceiros em comum, e sua representatividade para as duas economias em questão. Nesta mesma seção, quais são os setores mais fortes de cada país comercialmente, e como estes investem seus lucros internamente. Por fim, através da utilização de possíveis objetivos chineses, ocorrerá uma analise sobre as possibilidades de cooperação entre os dois países envolvidos no trabalho, demonstrando como a participação em instituições internacionais pode contribuir para a mesma. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 2. BREVE HISTÓRICO MUNDIAL 2.1 De 1890 ao final da Guerra Fria O século XX inicia-se com a Europa completamente movimentada por questões políticas. Percebe-se desde o final do século anterior, por volta de 1890, à formação de dois blocos de poder. Já em 1907, mesmo que de uma forma involuntária, existia a polarização em dois grupos, que futuramente iriam compor os adversários da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Pode-se atribuir tal acontecimento à intensa disputa que ocorria fora do continente europeu por áreas imperiais, e que refletiam diretamente nas relações entre os Estados europeus (SARAIVA, 2001). Após vários anos de embates políticos sobre áreas coloniais e zonas de influências, principalmente para produtos industrializados, uma vez que os principais Estados europeus desejavam aumentar seus mercados consumidores, em 1914, eclode o que então na época se tratava da maior guerra já vista pelo homem. Em 28 de junho de 1914, morre Franz Ferdinand, herdeiro ao trono austríaco, assassinado por um estudante nacionalista bósnio. A Bósnia havia sido anexada pela Áustria- Hungria, e com isso, um intenso movimento nacionalista surgia na capital Saravejo, e com isso um grupo terrorista intitulado Mão Negra planejara o assassinato do arque duque. Esse assassinato gerou uma repercussão internacional muito intensa, pois a Áustria encontrou no assassinato um motivo para iniciar uma invasão militar à Bósnia. Entretanto, necessitaria de ajuda da Alemanha, pois acreditavam que haveria uma intervenção russa a favor da Bósnia. Na Alemanha já existia um sentimento belicista contra a Rússia e estes enxergaram na possibilidade de apoio a Áustria uma forma de aumentarem seu poder dentro do continente, isolando de vez qualquer possibilidade russa de intervenção em seus interesses. Sendo assim, no dia 5 de julho, a Alemanha enviou a Áustria à chamada carte blanche, na qual declarava total e incondicional apoio a Áustria. “A única exigência feita pela Alemanha era que a Áustria agisse rápido, para então confrontar as grandes potências com um fait accompli” (SARAIVA, 2001). Após várias pressões alemãs sobre a Áustria, no dia 28 de julho foi declarada guerra contra a Sérvia, iniciando o bombardeio de Belgrado. Imediatamente o que era uma guerra local, tornou-se uma guerra continental – em 1° de agosto a Alemanha declarou guerra à Rússia e no dia 3 à França; no dia 4 a Grã-Bretanha entrou na guerra. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. Devido a polarização iniciada no inicio do século, cada vez mais a guerra foi ganhando participantes europeus, sendo que em 1917, com a entrada dos Estados Unidos e outros países ultramarinos, a guerra ganha escala mundial. Após várias batalhas, em 1917 com a conflagração da Revolução Russa, os russos assinaram um cessar fogo com a Alemanha. Em 1918, os aliados alemães (Bulgária, Turquia e a Austria-Hungria) já não eram mais capazes de suportar a guerra, e desmoronaram um a um, e pedindo o cessar fogo. Com a revolução em Berlim, a Alemanha aceitou o cessar fogo, e conseqüentemente sua derrota. Em junho de 1919, iniciou-se a discussão do Tratado de Paz de Versalhes, com o intuito de discutir as conseqüências da guerra e atribuir às responsabilidades das perdas humanas e materiais gerados com a Primeira Guerra Mundial aos alemães e seus aliados, gerando pesadas penalidades a eles. Com o Tratado de Versalhes, e as pesadas penalidades geradas aos alemães, iniciou-se o desenvolvimento de um sentimento nacionalista muito forte dentro da Alemanha. Iniciou-se, especialmente pela direita nacionalista alemã, uma luta que usava a ciência histórica contra a chamada “mentira da culpa da guerra” (SARAIVA, 2001). Mesmo com o final da primeira Guerra Mundial, as relações internacionais ainda continuavam tumultuadas, principalmente devido às conseqüências geradas pelo conflito. Entre os países vencedores estavam os Estados Unidos, que surgiam como potência, e passavam a integrar o jogo internacional junto com as demais potências européias, influenciando então nas questões internacionais, como na agenda de discussões por exemplo. Alem disso, a forma como a Conferência da Paz ocorria, trazia consigo grandes questões que poderiam se transformar em problemas internacionais, como a exclusão dos vencidos da mesa de negociações, onde também não existia representação da então criada União Soviética. O tratado de paz ainda gerou profundas conseqüências para a economia alemã, uma vez que esses perderam 83% de seus haveres no exterior como reparações de guerra. Com isso outros países passaram a ter maior participação no comercio internacional, como os Estados Unidos que passaram a exportar 37% e Japão 8% a mais do que exportavam no inicio do conflito (SARAIVA, 2001). AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. Como forma de tentar garantir a paz, criou-se a Liga das Nações, que funcionaria como um sistema de segurança mútua, a fim de que fosse evitado um novo conflito tão devastador como o anterior. Um sistema de segurança mutua1 pode ser entendido como a realização de políticas semelhantes e coordenadas de legitima defesa por parte de seus membros, com base no pressuposto de que a segurança é um problema que melhor se resolve com o trabalho conjunto entre os Estados (MANDELBAUM, 2003). Essa “Sociedade de Nações” tinha como propósito, através da cooperação entre os membros e a solução pacífica de controvérsias, promoverem o desarmamento dos Estados, a paz e a segurança de seus membros. Entretanto, mesmo com a criação da Liga das nações, conflitos ainda ocorreram na década de 1920, e a organização só conseguiu apaziguar algumas zonas de litígio no continente europeu, e repassar as grandes potências européias países incapazes de se governarem. Com isso pode-se dizer que a Liga das Nações teve um êxito muito modesto até 1925, passando a partir de então a viver em uma fase de esperanças de 1925 a 1929 e um declínio para seu fim nos anos 30. A década de 1920 foi marcada não somente pela tentativa dos Estados de assegurarem a paz, mas também pelo desastre econômico iniciado ao final da década, e que gerou profundas conseqüências em todo o mundo. A crise, iniciada nos Estados Unidos em 1929, espalhou-se por todo o mundo, que ainda tentava se reerguer dos destroços que a Primeira Guerra Mundial, não somente no setor econômico, como no social, cultural entre outros provocara. A partir de 1929, o que foi possível perceber foi cada vez mais resultados negativos na economia, sendo que os preços despencaram e a produção industrial também sofreu uma forte baixa. Devido basicamente a esses acontecimentos, o comércio internacional, que estava aumentando suas relações, perdeu força e começou a declinar, gerando com isso a diminuição das reservas monetárias dos países, e uma conseqüência social extremamente seria – o desemprego. O comércio internacional chegou a seu nível mais baixo em 1934: 66,2% inferior ao de 1929. O capitalismo desmoronou-se: individualismo, livre iniciativa e mercado cedem o passo ao nacionalismo econômico, ao protecionismo alfandegário e à autarquia política. Pelo lado político, assistiuse à descrença nas instituições do Estado Liberal, ao acirramento das lutas 1 Vide: MANDELBAUM, MICHAEL. As idéias que conquistaram o mundo: paz, democracia e livre iniciativa. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2003, pág. 117. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. partidárias e doutrinais, à busca de alternativas radicais, ao crescimento dos egoísmos nacionais (SARAIVA, 2001, p.191). A crise era, portanto, generalizada, com escala mundial, e conseqüências cada vez mais imprevisíveis. Entretanto o que os países começaram a utilizar como prática a fim de conseguirem reverter os efeitos da crise, utilizava-se de um pressuposto capitalista, que era contestado naquele momento: o individualismo. Muitos países foram responsáveis por essas práticas, mas pode-se considerar, sem que seja retirada a responsabilidade dos demais Estados, três casos dessa postura iniciada em 1933, que transformava um problema internacional em um caso mundial: a Alemanha, onde se verifica a ascensão do fascismo e a escolha de Hitler para chanceler; a mudança na postura no que tangia as relações de política externa italiana, caracterizando-se pela força, sendo implantada por Mussolini e; a mudança de governo no Japão, que passou a ser controlado por militares nacionalistas, deixando, portanto o pacifismo de lado. Observam-se então em 1933, a consolidação de três grandes potências no sistema internacional, União Soviética, Estados Unidos e Japão. Cada uma dessas novas potências estava empenhada na defesa de um interesse diferente. A União Soviética ainda tentava resistir às pressões capitalistas, e com isso, excluía-se de todo o conflito externo, até que se consolidasse seu status e pudesse exercer influência nas relações internacionais. Já os Estados Unidos encontravam-se engajados nas questões econômicas, desejando proteger seu mercado, abrindo os mercados alheios e o saneamento econômico da Europa, para que fosse possível a continuidade no pagamento de suas dividas. Estavam também focados em questões de segurança com o intuito de aumentar a sua capacidade estratégica ao nível de grande potência e conseqüentemente contendo os demais países, principalmente os da Europa continental e o Japão. Os Japoneses através de uma tentativa de imperialismo buscavam a penetração regional a fim de aumentar seu mercado para seus excedentes industriais. (SARAIVA, 2001). Era possível perceber que o mundo caminhava para um novo conflito, pois o fortalecimento do nacionalismo, aliado a ditaduras nacionais que já dominavam a Europa central e a Europa oriental fazia com que as relações exteriores entre os países passassem a ocorrer em função da idéia de tornarem-se cada vez mais próximos dos países grandes para que fosse possível dominar os pequenos. Com isso, Hitler tentava dominar o leste, enquanto por sua vez Mussolini buscava o domínio do Adriático e do AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. mediterrâneo. Unia-se ao impulso imperialista alemão e italiano o imperialismo japonês, que buscava, através do pretexto de equilibrar a balança de comercio, uma expansão cada vez maior sobre os chineses. Contava-se, então, com alguma atitude das potências democráticas européias ou das duas novas grandes potências, Estados Unidos e União Soviética para contrabalancear as ações dos governos autoritários. Entretanto os grandes países europeus ainda estavam presos a segurança coletiva, e os Estados Unidos e a União Soviética se encontravam extremamente focados nas próprias questões internas. Sob esse prisma de inércia o mundo praticamente assistiu a agressão japonesa sobre a China pela questão da Manchúria, e as agressões italianas sobre a Etiópia, guiando-se para o acirramento das tensões internacionais, com grande possibilidade de um novo conflito em grande escala. Hitler possuía grandes aspirações enquanto no poder e, com o passar do tempo, foi possível perceber o aumento dos projetos para o futuro do mundo, que incluíam desde a exclusão dos espaços onde a França possuía influência no continente, até a partilha do mundo com os japoneses. Ficava claro então ao final da década de 1930 que Hitler e todo o seu governo, não hesitariam em utilizar o uso da força para obter seus objetivos. Portanto, diante de todo o clima hostil que vivia a Europa, em 1939 Hitler invade a Polônia, e com isso Grã-Bretanha e a França declaram guerra à Alemanha, iniciando assim o conflito armado, que até então era um conflito basicamente europeu. Hitler seguia então sem problemas com os aliados. O Japão estava muito ocupado envolvido na sua ofensiva contra os chineses, a Itália ainda não havia entrado na guerra e a União Soviética ainda não era uma potência militar no centro da Europa. Com isso, tudo seguia muito bem para a invasão alemã à França, em maio de 1940. O sucesso Alemão em sua ofensiva contra os franceses foi tão vitoriosa que em 14 de junho Paris já estava sob domínio dos alemães. Com isso, a França passou então a ser somente uma peça de xadrez na guerra britânico-alemã. A derrota francesa expressou a ruptura de uma velha ordem internacional do século XIX. A balança de poder que havia conformado a sociedade internacional européia, com valores e regras de conduta comuns, havia erodido de vez. A Alemanha era o pivô da crise que se estendia na balança de poder da Europa desde a Grande Guerra (SARAIVA, 2001, p.230) AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. Os norte-americanos compreenderam o vazio que se formava nas relações internacionais com a derrota francesa, e estavam preocupados, pois o lado europeu cedia a Hitler e o asiático encontrava-se ameaçado devido ao expansionismo que promovia o Japão pelo pacífico. Devido a todo esse cenário de incertezas, a opinião publica rapidamente começou a manifestar-se, fazendo pressões nos governos das potências centrais. Em 1941, os alemães invadiram a União Soviética, e os japoneses atacaram bases norte-americanas, no ataque em Pearl Harbor. Com isso, a guerra então deixava de ser somente européia, passando a possuir um caráter mundial, com a união dos conflitos existentes na Europa e na Ásia em um único conflito. Esse fato alterava profundamente as relações internacionais, pois surgia o conceito de superpotência, e junto com o conceito a política da superpotência que seria exercida pelos Estados Unidos, através da supremacia econômica, e a vontade planetária de intervir politicamente (SARAIVA, 2001). Entretanto, ao mesmo tempo em que o mundo observava a ascensão norteamericana à grande potência mundial, surgia nas relações internacionais um novo gigante: a União Soviética. Em 1944, os soviéticos iniciaram uma contra ofensiva aos alemães, fazendo com que estes recuassem da Ucrânia, Polônia e Bielo-Rússia. Em 1945, Berlim já estava sucumbida, e em seguida, devido ao bombardeio a Hiroshima e Nagasaki foi à vez do Japão desmoronar, junto com o sonho de existir uma terceira grande potência nas relações internacionais no pós-guerra. Durante os anos 40 até o final dos anos 50, só existiam dois pólos de poder nas relações internacionais: Washington e Moscou. A busca pela paz voltou a ser o objetivo dos países e então surgia a ONU (Organização das Nações Unidas) como uma tentativa de superar o fracasso obtido pela Liga das Nações após a Primeira Guerra Mundial e demonstrar a força dos vitoriosos. Sendo assim, reunidos em São Francisco entre 25 de abril e 25 de junho de 1495, os vencedores deixaram a necessidade de uma aliança militar em segundo plano, para agora tratar da criação de instrumentos para gerenciar a paz no mundo. As relações internacionais seriam sustentadas na base do compromisso e do diálogo. Dessa maneira, a carta assinada em São Francisco tornava-se então o principal instrumento de regulação das relações internacionais, trazendo a tona toda à supremacia do Realismo sobre o AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. Idealismo que era presente de maneira muito clara na Liga das Nações e ainda o descolamento da Europa do centro das principais discussões mundiais. Os Alemães conquistaram a França em vinte dias. Já se passaram dois anos e os Estados Unidos ainda não subjugaram a pequena Coréia. Que espécie de força é essa? As principais armas americanas (...) são meias de náilon, cigarros e outras mercadorias. Querem subjugar o mundo, mas não conseguem subjugar a pequena Coréia. (STALIN, 1952 apud MANDELBAUM, 2003, pag. 25). Muitos afirmam que a Guerra Fria pode ser considerada como a Terceira Guerra Mundial. Para defender tal argumento, os defensores dessa afirmação apóiam-se no argumento de Thomas Hobbes que “a guerra consiste não só na batalha ou no ato de lutar: mas num período de tempo em que a vontade de disputar a batalha é suficientemente conhecida” (MANDELBAUM, 2003). Levando em consideração todo o longo período em que Estados Unidos e União Soviética estiveram engajados em uma disputa ideológica, onde a qualquer momento poderia eclodir um conflito com proporções nucleares, gerações inteiras assistiram a essa vontade de disputar a batalha citada por Hobbes. Entretanto, diferentemente dos outros conflitos ocorridos na história da humanidade, em termos objetivos não existia a eminência de um conflito armado, apesar da existência da possibilidade. O mundo então foi dividido em zonas de influência, onde as duas superpotências possuíam suas áreas de atuação. Até os anos 1970 a situação entre os dois países esteve razoavelmente controlada, pois os dois países aceitavam a divisão desigual do mundo, sendo que a partir dessa década o mundo se viu mergulhado em uma grave crise econômica e política (HOBSBAWN, 1995). Embora a Rússia soviética pretenda espalhar sua influência de todas as formas possíveis, a revolução mundial não faz mais parte de seu programa, e nada há nas condições internas da União que possa encorajar um retorno a velhas tradições revolucionárias. Qualquer comparação entre a ameaça alemã antes da guerra e uma ameaça soviética hoje deve levar em conta [...] diferenças fundamentais [...] Há, portanto infinitamente menos perigo de uma súbita catástrofe com os russos do que com os alemães. Frank Roberts, embaixada britânica, Moscou, para o Foreign Office, Londres, 1946, in Jensen (1991, p.56) A Guerra Fria gerou uma grande corrida armamentista no ocidente, entretanto, as armas nucleares não foram utilizadas, e não houve confronto direto entre as duas AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. superpotências. Indiretamente os dois países estiveram envolvidos em três conflitos de grande proporção. O comunismo obteve êxito na China, e abalado os Estados Unidos, através do disfarce da Organização das Nações Unidas, rapidamente intervieram na Coréia, buscando a continuidade de sua influência na região (HOBSBAWN, 1995). Após vários anos de conflito ideológico (1945-1991), a União Soviética não resistiu e veio abaixo, sendo então declarada a vitoria dos Estados Unidos com seu liberalismo. O fim da Guerra Fria, não deve ser analisado somente como o fim de um conflito internacional, mas sim o fim de uma era, que terminara não só para o oriente, mas para todo o mundo (HOBSBAWN, 1995). Ao término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os países intensificaram a prática do comércio internacional. Durante esse período posterior ao grande conflito, o comércio internacional era realizado principalmente em torno de produtos industrializados, e ao longo do tempo somando-se a outras categorias como de serviços por exemplo. Durante as reuniões de Bretton Woods, começou-se a configuração de toda estrutura jurídica do comércio mundial que observamos atualmente. Surgiu à idéia da criação de instituições com poder regulatório, a fim de evitar novas cries econômica como a do período entre guerras. Foi apresentado então o projeto para a criação de três instituições internacionais: o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e a Organização Internacional do Comércio (OIC). As duas primeiras instituições, FMI e BIRD2, tiveram seus projetos concretizados e realizam atividades no sistema até os dias atuais. Já a OIC foi vetada pelo senado norteamericano, gerando descrédito do sistema sobre a organização. O fato da organização não ter sido aprovada pelo senado norte-americano contribuiu para que a OIC nunca saísse do papel. Foi criado o Acordo Geral Sobre Tarifas e Comércio (GATT-1947), sendo que se estabeleceu que a sua principal função fosse servir como foro de negociações para a redução de barreiras tarifárias. Essas negociações periódicas do GATT eram chamadas de Rodadas. Entretanto, o GATT não possuía um Sistema de Solução de Controvérsias, Para maiores esclarecimentos sobre FMI e BIRD. Vide: HERZ, Mônica; HOFFMANN, Andrea Ribeiro. Organizações internacionais: história e práticas. Rio de Janeiro: Campus, 2004. 2 AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. sendo focada a resolução de conflitos através da solução diplomática, devido ao caráter de foro que o GATT possuía (BARRAL, 2007). Durante a Rodada do Uruguai (1986-1994), novamente foram apresentadas propostas para a reforma do sistema de Solução de Controvérsias. A idéia da necessidade de reforma do Sistema de Solução de controvérsias não ocorria em consenso entre as partes contratantes, sendo que havia os que defendiam a manutenção de uma estrutura com suas bases fundamentadas em negociações para a solução de conflitos e por outro lado a outra parte dos Estados contratantes defendia a manutenção de uma estrutura baseada em regras. Através das discussões criaram a Organização Mundial do Comércio (OMC), que começou a vigorar em 1º de janeiro de 1995 e o Entendimento sobre Soluções de Controvérsias (ESC), sendo que a organização foi estabelecida sob uma visão mais legalista. Entretanto a possibilidade da Solução de Controvérsias foi mantida através do Sistema de Negociações. Já a OMC, surge com o intuito de além de servir como foro de negociações, função que era atribuída ao GATT, também atuar na implementação de acordos e monitorar políticas comerciais dos seus membros. A sede da organização está em Genebra, na Suíça, e atualmente possui cerca de 150 membros o que representa 97% do comércio atual. (COSTA, 1996) A OMC está pautada em dois princípios: o princípio da Nação mais Favorecida (NMF) e o princípio do Tratamento Nacional (TN). O princípio da Nação mais Favorecida estabelece que, ao conceder uma vantagem comercial de um Estado A para um Estado B, automaticamente essa vantagem comercial estará sendo concedida a todos os demais membros da organização. Já o princípio do Tratamento Nacional determina que um Estado ao importar um determinado produto não pode discriminá-lo, devendo conceder o mesmo tratamento dos produtos nacionais. Um dos principais avanços da OMC em relação ao GATT é que as negociações só ocorriam através do GATT caso fossem a respeito de produtos industrializados. Esse fato limitava a ação dos Estados, uma vez que a produção da maioria dos Estados não se limitavam a produtos industrializados, e caso possuíssem alguma controvérsia com outro Estado em função de outros tipos de produtos, não teriam onde resolvê-los. Durante a Rodada do Uruguai essa limitação deu lugar a ampliação para a discussão de bens, serviços e propriedade intelectual, sendo que essa mudança ocorreu devido a AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. criação da Organização Mundial do Comércio, que visava atuar com uma diversidade maior de questões. Diante da ascensão das organizações internacionais, o mundo se organizava, buscando um maior diálogo entre os Estados para atingirem a paz, e incentivando o comércio mundial, de forma que esse pudesse reerguer as economias européias devastadas com a guerra. Entretanto, em conjunto com o término da Segunda Guerra Mundial e o surgimento de organizações que buscavam integrar cada vez mais os países, surgia a Guerra Fria, envolvendo Estados Unidos e União Soviética, os dois países que saíram da grande guerra como grande potência. 2.2 Estados Unidos da América Os Estados Unidos possuíam até o final do século XIX uma postura isolacionista declarada, havendo alteração nessa postura somente no final do século. Entretanto, mesmo com essa postura declarada, os norte-americanos já exerciam influência financeira de uma forma informal dentro da América Latina. Desta maneira, suas investidas imperialistas do final do século XIX são consideradas como um fenômeno novo para os europeus (SARAIVA, 2001). Pode-se dizer que o imperialismo estadunidense ocorria em três frentes distintas. A política na América Central tinha por objetivo a criação de um “mediterrâneo americano” onde ocorreria a completa dominação desses povos. Na América do sul, tinha-se por objetivo fazer frente direta contra a Grã-Bretanha, que atuava na região. Com isso, criaram a Doutrina Monroe, que aparentemente visava à proteção da independência dos povos americanos. Entretanto, esta se tornou como um grande trunfo americano, na defesa de seus interesses econômicos e contra a concorrência européia. Por fim, o imperialismo norte-americano buscava obter benefícios na Ásia oriental e no Pacífico. Entretanto, os Estados Unidos não tinham como ambição a criação de um grande império, tendo como principal interesse na região o acesso ao mercado chinês. (SARAIVA, 2001). Durante a Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos mantiveram-se fora do conflito até 1917, quando a sua entrada pode ser considerada como decisiva para o fim do conflito. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, os norte-americanos passaram a AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. fazer parte do grupo das potências mundiais, passando a exercer grande influência sobre as principais discussões mundiais. É notável o ganho de destaque que os Estados Unidos passaram a possuir no mundo, quando observado que a crise de 1929 que gerou danos devastadores em todo o mundo, iniciou nos Estados Unidos, com a diminuição dos índices de comércio internacional, tornando-se o mais baixo em 1934. Os americanos tinham tão definidos a questão de que passaram a fazer parte definitivamente do grupo das grandes potências, e devido a esse fato, tornavam-se dependentes das ações de outros países. O ex-presidente Wilson chegou a declarar que eram partícipes, querendo ou não, da vida do mundo e que inevitavelmente, tudo que afeta a humanidade diz respeito aos americanos3. De maneira semelhante ao ocorrido na Primeira Guerra Mundial, na Segunda Guerra os EUA passaram a fazer parte do conflito somente em 1941, sendo que a guerra começara em 1939. Após a reeleição do presidente Roosevelt, iniciou-se uma preparação da opinião publica norte-americana para a entrada do país na guerra. Os ataques japoneses a base norte-americana, no ataque à Pearl Harbor, fizeram com que os Estados Unidos Mergulhassem de vez no conflito, e mais uma vez, em conjunto com seus aliados, saíram vencedores. Entretanto, o fim da Segunda Guerra Mundial, não significou para os Estados Unidos tranqüilidade para exercerem sua supremacia no mundo, devido então ao novo conceito que lhe posicionava como superpotência. Iniciou-se então o conflito ideológico com os soviéticos, e que em alguns momentos esteve à beira de um novo conflito armado, mas dessa vez com proporções mundiais. A guerra fria foi um teste para o poder americano e uma prova de ideais. A União Soviética então não resistiu, e o capitalismo norte-americano sagrou-se então como única superpotência do globo em 1991 (MANDELBAUM, 2003). Desde sua independência, a busca por maiores oportunidades econômica se fez altamente presente nas relações exteriores dos Estados Unidos. A busca por ampliar 3 Para maiores esclarecimentos vide: Agenda de Política Externa: Eventos significativos das relações exteriores dos EUA – 1900-2001, pág. 5. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. seus mercados faz-se presente ao longo de toda história pós-independência norteamericana. 2.3 República Popular da China No início do século XX, o mundo observa uma China que possui apenas suas glórias passadas. O país encontrava-se mergulhado na pobreza, e as riquezas nacionais encontravam-se sob o domínio estrangeiro. Diante desse quadro, em 1911, com o propósito de alterar essa terrível situação em que vivia o país, iniciou-se uma revolta liderada por Sun Yat-sem e com isso a republica foi proclamada. Sun Yat-sem foi responsável por fundar o Kuomintang (KMT), que tinha o propósito de criar um Estado moderno, dinamizador do capitalismo. Entretanto, apesar de todas essas propostas, o país não conseguiu encontrar o seu caminho, pois se encontrava mergulhado em disputas dos senhores da guerra (FISHMAN, 2006). Em 1921 foi fundado o Partido Comunista Chinês (PPC), entretanto, mesmo seguindo o Kormintern que era responsável por orientar os partidos comunistas de todo o mundo, e que era sediado em Moscou, os chineses não lutavam diretamente pelo socialismo. Desejava-se fortalecer a burguesia nacional juntamente com o Kuomintang para que se tornasse possível derrotar os senhores da guerra e conseqüentemente tirar o país do atraso que estava inserido. Contra a sua vontade, a China se viu inserida na Segunda Guerra Mundial precocemente, pois, em 1937, o Japão declarou guerra total contra o país. O KMT encontrava-se dominado pela corrupção, e, com isso, não possuía ações efetivas para a luta contra os invasores estrangeiros. Com isso, o PPC mostrava-se mais dedicado a população. Para conter os japoneses foi criado o Exército Vermelho. Quando, em 1945, os japoneses foram derrotados na Segunda Guerra Mundial, iniciou-se uma disputa entre o KMT e o PPC. Entretanto, nem mesmo o apoio dos Estados Unidos foi capaz de fazer com que o KMT saísse vencedor dessa disputa, pois o PPC conseguira o apoio da população. Iniciava-se então, com a chegada de Mao TséTung a Pequim de forma vitoriosa, a era do comunismo a China (FISHMAN, 2006). Ao tomar o poder, o governo comunista iniciou importantes mudanças: distribuiu terras aos camponeses, acabou com a poligamia e com o casamento forçado pelos pais, controlou a inflação, reconstruiu o país e aumentou os direitos sindicais. Em AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 1952, com o apoio da classe operária tomaram para o Estado as grandes empresas, extinguindo assim a burguesia na China. O apoio soviético se fez presente desde o inicio da revolução na China, enviando armas, dinheiro, tecnologia, remédio. Visando estabelecer a China como potência econômica, Mao Tsé-Tung criou em 1958 o projeto Grande Salto Para Frente, tentando mobilizar toda a China para que fosse possível atingir o objetivo. Este projeto dava prioridade total às comunas rurais, que eram grandes fazendas com autonomia financeira, onde existia certa igualdade de salários, funcionando como se fosse um mini mundo comunista. Dentro das comunas rurais existiam escolas e hospitais gratuitos, além de oficinas e pequenas fabricas (FISHMAN, 2006). O resultado do Salto Para Frente foi um enorme fracasso, pois a indústria cresceu muito pouco, e no campo onde foram construídas fornalhas com o intuito de desenvolver a indústria, o que se via era um grande desperdício de matéria-prima. Para agravar a situação, o país sofrera naquele período com severas enchentes que prejudicara a execução do projeto, além de perder o apoio da União Soviética. Sem o apoio da superpotência os chineses passaram a utilizar a filosofia que valia tudo contra os soviéticos, acusando-os de social-imperialistas, e aproximando-se diplomaticamente dos Estados Unidos. Em 1973, China e Estados Unidos criaram conjuntamente os chamados “escritórios de contato”, que tinham o objetivo de funcionar como embaixadas nas capitais de ambos os países. Em 1978, Deng Xiaoping assume o poder, e inicia uma série de mudanças na China comunista. Inicia-se uma abertura econômica, através de políticas de livre mercado que tiveram como conseqüência a melhoria no padrão de vida da população. Outro objetivo estabelecido por Deng foi à modernização da economia chinesa, assim como buscava uma aproximação com os países do ocidente. Entretanto, mesmo com o projeto de abertura econômica que possuía Deng, a China não estava disposta a promover simultaneamente a abertura econômica como desejado por vários países que possuíam interesses no país. (MELO, 2005). Com o propósito de atrair capital externo, a partir de 1980 foram criadas as Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), sendo notável a semelhança do modelo administrativo com o ocidental. Em 1997 a China incorporou Hong Kong e em 1999 AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. Macau, onde somente Hong Kong acrescentou US$ 145 bilhões à economia chinesa. Com a incorporação dos dois territórios, criou-se o conceito de “um país, dois sistemas”, onde a parte continental continua sob o sistema socialista e em Hong Kong e Macau o uso do sistema capitalista. Após um determinado período negociando sua entrada para a Organização Mundial do Comércio, a China apoiada pelos Estados Unidos tornou-se membro da organização em 11 de dezembro de 2001. Sua entrada para a organização mundial do comércio representa uma nova mudança nas relações internacionais, entretanto, o mundo encontrava-se mobilizado quase que por inteiro com os ataques sofridos pelos Estados Unidos em 11 de setembro do mesmo ano. Sua entrada na organização foi de certa forma ofuscada pela mobilização de solidariedade que se formou em todo mundo para com os norte-americanos. Hoje, a China já se consolidou como um país com importante papel no sistema internacional, tornando-se imprescindível a participação da mesma em negociações que se referem a varias questões. O país conta atualmente com uma população total de certa de 1 bilhão e 300 milhões de habitantes, sendo cobiçado por muitos outros países devido ao seu potencial consumidor. Os chineses se tornaram mundialmente reconhecidos por sua capacidade de fazerem as coisas acontecerem, que se faz interessante nesse trabalho citar as olimpíadas que ocorrerão no ano corrente, em Beijing. Receber tal competição internacional, em uma era onde se valoriza em excesso os esportes, como forma de diminuir problemas sociais em países em desenvolvimento, demonstra o peso que a abertura chinesa ao mundo, pelo menos comercialmente, tem para a ordem internacional contemporânea. 2.4 Estados Unidos da América X República Popular da China Em diferentes momentos da história moderna, Estados Unidos e China já estiveram diante de embates diplomáticos, e por vezes diante de motivos plausíveis para que voltassem a se relacionar. Durante a guerra fria, a China assumiu o papel que a URSS exercia no leste europeu, como um país pouco comprometido com o ideal liberal. A Guerra Fria possuía uma particularidade: as forças entre americanos e soviéticos eram praticamente AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. simétricas e iguais. Entretanto, não era possível observar essa simetria e igualdade na comparação entre Estados Unidos e China. A China tornara-se uma potência terrestre, devido ao tamanho da sua população e de seu território, sendo que os Estados Unidos possuíam o posto de maior potência naval e aeronáutica. A China era um elefante, lento e nem um pouco ágil em razão do peso em terra, contudo não era páreo para as forças navais e aéreas dos Estados Unidos a qualquer distância além de seu próprio litoral. Os Estados Unidos, pelo menos no leste asiático, era uma baleia e uma águia, potente em alto-mar e no ar, mais fraco em terra. (MANDELBAUM, 2003). Devido a essas diferenças de poder, e até mesmo a distância geografia, o relacionamento militar entre os dois países manteve-se estável, sendo a defesa a postura mais adequada para os dois países. Em julho de 1971 ocorre a chamada “diplomacia do ping-pong”, onde a China convidou a equipe de tênis de mesa americana para jogar em Pequim. Aproveitando o convite, o secretário de Estado Henry Kissinger vai secretamente à China para preparar o terreno para uma visita do então presidente Nixon ao país. A partir de 2001, iniciou-se uma profunda discussão entre os chineses e norteamericanos nas questões que dizem respeito a Taiwan, pois a China não concorda com a venda de armamentos por parte dos Estados Unidos a ilha. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 3. CONDICIONANTES ECONÔMICOS 3.1 Fatores econômicos mundiais Com o aumento do processo de globalização, é possível perceber no sistema internacional uma integração cada vez maior da economia e dos setores que a compõe. Para podermos realizar considerações acerca das mudanças ocorridas e sobre a dinâmica de funcionamento da economia internacional, precisamos inicialmente defini-la. ALMEIDA (2001) determina a economia internacional como o conjunto de economias realizando o intercambio de bens, serviços, capitais e tecnologias, estando estas economias inseridas em um contexto dinâmico composto por assimetrias estruturais. Com o passar dos séculos, a dinâmica de funcionamento da economia passou por profundas alterações. Entretanto, se realizarmos uma análise mais cautelosa poderemos perceber que em relação aos Estados que exercem influência na economia internacional, somente houve a troca de um ou outro Estado. Percebemos que praticamente o mesmo grupo reduzido de Estados do atual G-7, exercia hegemonia na economia internacional nos séculos anteriores (ALMEIDA, 2001). No presente trabalho, sempre que for citado o conceito de hegemonia se fará referência ao conceito de hegemonia de Gramsci, onde: hegemonia é o poder adicional que advém a um grupo dominante em virtude de sua capacidade de guiar a sociedade numa direção que não só serve aos interesses do grupo dominante como também é percebida pelos grupos subordinados como a serviço de interesses mais gerais (ARRIGHI, 2008, pag. 159). Através desse conceito percebemos que a hegemonia na economia internacional está associada a um pequeno número de Estados que possuem a capacidade de decidirem os rumos da economia, de acordo com os seus interesses, e de uma forma ideológica de acordo com os interesses dos demais. Sobre a mudança na dinâmica do processo econômico percebemos que no final do século XX houve uma troca de valorizações. No inicio do século ocorria à valorização sobre os componentes da matéria prima e dos valores extrínsecos de um bem durável. No atual momento observado na economia internacional, percebe-se que ocorre uma maior valorização sobre os valores que dizem respeito à inteligência AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. intelectual sobre os processos produtivos e sobre os materiais compostos utilizados em sua fabricação e transferência de “Know-How” (ALMEIDA, 2001). Se analisarmos a estrutura de produção atual, e o funcionamento dos sistemas financeiros podemos ter uma idéia da profundidade das mudanças ocorridas na economia internacional. Devemos levar em consideração também que a população do planeta quadruplicou entre o século XIX e o século XX, e esse aumento populacional alterou profundamente a dinâmica de mão-de-obra. A especialização afetou profundamente a estrutura de produção e os avanços tecnológicos foram responsáveis pelo aumento do produto per capita a uma velocidade muito maior do que o aumento da produção. As previsões feitas não foram confirmadas e apesar da natureza fundamental da atividade econômica ter continuado a mesma, percebe-se um incremento de 19 vezes no produto global. A despeito das alterações nos sistemas financeiros, houve finalmente uma maior interação de maneiras diversas com os processos produtivos, com as tendências de comércio e com os movimentos de capitais. A economia internacional passou por alguns choques durante o período compreendido entre os séculos XIX e XX. Entretanto, percebe-se como já foi dito a manutenção dos mesmos Estados conquistando a hegemonia. Marx afirma que a acumulação de capital ao longo do tempo tende a reduzir a taxa de lucro e por fim, acabar com a expansão econômica. Entretanto, Marx ainda afirma que mesmo essa tendência sendo real, em nenhum momento impossibilita uma nova expansão (ARRIGHI, 2008). Através dessa afirmação podemos explicar a manutenção dos mesmos Estados entre o grupo dos definidores dos rumos da economia internacional, uma vez que esses Estados estão sempre capazes de realizar o crescimento econômico mesmo quando sua expansão econômica é prejudicada pela acumulação de capital ao longo do tempo. A queda da taxa de lucro trás consigo uma conseqüência: Assim como Smith, Marx enfatiza como a queda persistente e generalizada da taxa de lucro transforma a competição entre capitalistas de jogo de soma positiva, em que os capitais se beneficiam da expansão uns dos outros, em jogo de soma zero (ou até negativa), ou seja, em “competição assassina” cujo objetivo primário é tirar os outros capitais do negócio, mesmo que isso signifique sacrificar o próprio lucro, contanto que ajude a atingir o objetivo (ARRIGHI, 2008, pag. 94). AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. O capitalismo globalizado e liberal, caracterizado na belle-époque foi profundamente transformado a partir dos eventos ocorridos pós-primeira guerra. Passou a ser observada uma maior intervenção dos Estados na economia, protecionismo comercial, desvalorizações cambiais maciças entre outras mudanças (ALMEIDA, 2001). Com as mudanças observadas na economia internacional, percebeu-se a ascensão do investimento direto estrangeiro (IDE) 4 . Junto com o comércio internacional, o IDE converteu-se em uma das principais fontes de crescimento econômico. 3.2 A economia dos Estados Unidos da América Ao final do século XIX, os Estados Unidos eram grandes exportadores de produtos primários. Entretanto, no final do século, os Estados Unidos ascenderam à posição de primeira potência industrial. Nos anos 30, o país passou a acumular ainda a condição de grande potência financeira, ao operar-se na passagem da hegemonia financeira do dólar nos mercados financeiros (capitais para empréstimos e investimentos diretos) (ALMEIDA, 2001). Buscando o aumento do seu crescimento, os Estados Unidos realizaram uma combinação do Keynesianismo militar e social. No Keynesianismo militar ocorreram enormes gastos com seu próprio armamento e com o armamento de seus aliados além de uma mobilização de uma ampla rede de bases militares quase permanentes ao longo do globo. Já no Keynesianismo social praticado pelos Estados Unidos houve o patrocínio da ideologia da busca pelo pleno emprego, pelo elevado consumo e pelo desenvolvimento no sul global (ARRIGHI, 2008). Essas práticas foram adotadas pelos Estados Unidos com o intuito de alterar o rumo de estagnação que o capitalismo estava levando as economias mundiais, para que fosse possível direcionar a economia norteamericana de volta ao crescimento. 4 O IDE, na concepção do Fundo Monetário Internacional (FMI, 1998) designa como um investimento que visa adquirir um interesse duradouro em uma empresa cuja exploração ocorre em outro país que não o do investidor, com o objetivo de influir efetivamente na gestão da empresa em questão. (Investimento Direto Externo no Mercosul: o papel da Europa, Mohamed Amal; Guillermo Bermudez; Marcela Cristini; Patrícia Luiza Kegel; Ramiro Moya; Fernando Seabra, pag. 13) AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. Durante as décadas de 1980 e 1990, os Estados Unidos, através da difusão da sua ideologia, conseguiram convencer várias economias que seria mais vantajoso liberalizar suas economias. Em geral, essa política ideológica foi responsável pelo surgimento de crises financeiras, cambiais e em algumas vezes uma combinação de ambas. Essas crises foram responsáveis pela diminuição do investimento nos países afetados que passaram a acumular déficits no balanço de pagamentos, e então foram inspirados ao desejo de acumular reservas em moeda estrangeira. Esses países então passaram a investir seus recursos na maior economia do mundo, ou seja, nos Estados Unidos. Muitos investiram na compra de títulos da divida norte-americana. Entretanto, enquanto existem financiadores para os Estados Unidos o dólar se mantém em alta, mas quando o quadro se inverter, e os investidores já não estiverem mais dispostos a patrocinar os EUA o dólar passará então a operar em baixa. Entretanto, em termos da dívida norte-americana, todos os compromissos dos EUA estão estabelecidos em dólar. Portanto, com a desvalorização do dólar, a dívida norte-americana será menor (ARRIGHI, 2008). Os norte-americanos seguem com o maior PIB na economia mundial. Segundo o departamento de comércio, desde 1987 as exportações estadunidenses tiveram um crescimento de 66%, passando a fabulosa soma de US$ 421,6 bilhões de dólares em 1991. Suas importações também foram recordes já que totalizaram 488,1 bilhões. Essas quantias deram para os EUA a supremacia no mercado internacional (OLIVEIRA, 2001). A fim de beneficiar-se e usufruir cada vez mais do imenso mercado consumidor que foi criado no mundo, os Estados Unidos realizaram algumas mudanças na mentalidade diplomática. Em 1992, em entrevista concedida pelo então subsecretário de Estado Laurence Eagleburger, houve a confirmação dessa mudança. O então subsecretário afirmou que era preciso modificar o pensamento de utilizar da diplomacia somente para questões políticas e militares, incluindo na pauta as questões comerciais. Completou ainda que os embaixadores designados para os países que possuíam o título de maiores importadores seriam então selecionados entre empresários e advogados comerciais de alto prestígio (OLIVEIRA, 2001). Em conjunto com as mudanças de mentalidade que foram observadas nos EUA, podemos perceber como conseqüência, que em 1992 sua economia apresentou o maior AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. desempenho do planeta, uma vez que, com apenas 5% da população mundial, o país conseguiu produzir 25% de todos os produtos e serviços comercializados no mundo. Torna-se ainda mais impressionante o desempenho se consideramos que apenas uma entre três empresas norte-americanas participam do comércio internacional (OLIVEIRA, 2001). Durante um longo período da história, os EUA consolidaram sua posição no comércio internacional através da exportação de material bélico. Entretanto, esse segmento passa por um profundo declínio no comércio internacional. Diante de tal fato, houve uma mudança no foco, e já é possível observar uma consolidação dos equipamentos antipoluentes, que em 1993 somaram a cifra dos US$ 80 bilhões de dólares exportados (OLIVEIRA, 2001). Outro dado impressionante, e que confirma a supremacia dos Estados Unidos frente ao comércio internacional é o desempenho das grandes corporações norteamericanas que estão espalhadas por todas as partes do mundo. As operações dessas empresas somam a impressionante quantia de 1,4 trilhões de dólares. Para se ter idéia do que isso representa no comércio internacional, essa quantia corresponde à metade do valor das exportações mundiais. 3.3 A ascensão da economia Chinesa Há algum tempo, faz-se notável o desempenho da economia chinesa. Smith defende que para obter altas taxas de crescimento é necessário realizar o que para ele seria o “caminho natural das coisas” ou caminho da opulência. Para seguir esse “caminho natural das coisas” é necessário que a maior parte do capital seja investida em primeiro lugar na agricultura, depois no setor manufatureiro, e por fim no comércio exterior (ARRIGHI, 2008). Para muitos analistas, é esse o caminho que a China se propõe a fazer. Existem dois caminhos ao desenvolvimento econômico, o “antinatural”, realizado na Europa, com ênfase no comércio exterior e o “natural”, que foi realizado na China, onde o foco era o mercado interno. Segundo ARRIGHI (2008) o curso natural gerou uma vantagem comercial para a china, pois, Mesmo depois que os canhões britânicos venceram a muralha de regulamentações governamentais que fechavam a economia de mercado da China, os mercadores e os fabricantes britânicos tiveram dificuldade para AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. competir com seus colegas chineses na maioria das atividades. No que diz respeito a China, a força militar real, mais do que a artilharia metafórica das mercadorias baratas, foi à chave para a subjugação do oriente ao ocidente (ARRIGHI, 2008, pag. 89). Mesmo com as altas taxas de crescimento econômico apresentadas pela China, o país ainda segue como um país pobre se analisarmos a renda per capita. Comparando com as demais economias asiáticas ou em relação às economias avançadas, a renda per capita chinesa encontra-se bem abaixo. É possível perceber ainda que o crescimento da economia chinesa ganhou destaque após as reformas de 1979. As reformas foram responsáveis por criar uma diversificação das formas de propriedade, estimular a criação de empresas privadas, incentivar o lucro e tornar mais frouxo o controle do Estado sobre as diversas dimensões da economia (MARTINS, 2005). As reformas geraram ainda uma abertura gradativa ao comércio exterior. A abertura promovida pelo governo chinês iniciou-se na década de 80 de forma extremamente lenta com a abolição das restrições existentes sobre a importação e a exportação. Logo nos anos seguintes, a abertura comercial tornou-se mais intensa com os fluxos de investimento direto e a promoção da diminuição das tarifas (MARTINS, 2005). Já no sistema financeiro, as reformas foram substanciais principalmente no setor bancário. Até meados dos anos oitenta existia somente um banco passando para uma situação mais adequada dentro da realidade financeira moderna. Analisando o período compreendido entre 1980 a 2004, é possível perceber que o crescimento médio do PIB (Produto Interno Bruto) foi de 9,5% o que se encontra muito além do crescimento da economia mundial. Em 2004, a economia mundial cresceu 5,1% sendo que a china foi responsável por um quarto desse crescimento. Entre 2000 e 2004 as importações chinesas foram responsáveis por 15% da expansão da economia mundial (MARTINS, 2005). Para MARTINS (2005) os resultados apresentados pela China estabelecem que a acumulação de capital entre 1979 e 1998 foi o principal responsável pelo crescimento econômico chinês. Esta contribuição está relacionada quer com a manutenção, de forma sustentada nas ultimas décadas, de um ritmo significativo de investimento em AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. capital físico quer com a elevada elasticidade do produto em relação ao capital. (MARTINS, 2005, pag. 68). Os ganhos de produtividade obtidos foram resultados de um comportamento mais eficiente dos agentes econômicos, com um reflexo de uma maior autonomia de decisão na agricultura e nas empresas, além de desenvolvimento de mecanismos de mercado. A china conseguiu também penetrar com seus produtos manufaturados nas principais economias do mundo, atingindo atualmente índices significativos. Essa penetração chinesa reflete a forte vantagem obtida na produção, uma vez que a mão-deobra barata e altamente determinante (MARTINS, 2005). O aumento do PIB chinês tem refletido e beneficiado cada vez mais o setor industrial. Em três anos, a produção industrial sofreu uma elevação de 11% ao ano. Em compensação, a produção do setor agrícola no mesmo período ficou bem abaixo e o setor de serviços cresceu ligeiramente abaixo do crescimento apresentado pelo PIB. Em suma, os resultados dos diversos estudos existentes parecem evidenciar que os principais fatores explicativos do crescimento do PIB chinês tem sido, em grande medida, a acumulação de capital físico e o aumento da eficiência na economia resultante nomeadamente do êxodo agrícola e das reformas estruturais implementadas desde 1978. Nesse contexto, a continuação do processo de urbanização, de níveis de poupança e investimento significativos e do processo de reformas estruturais em curso perspectivam a manutenção de um elevado ritmo de crescimento na economia chinesa (MARTINS, 2005, pag. 72). 3.4 A participação do investimento direto na economia chinesa Após a recessão dos anos 80, a retomada do crescimento dos fluxos de investimento direto externo (IDE) trouxe várias expectativas positivas para os analistas e governos acerca da importância exercida pelo IDE como fator responsável por auxiliar na integração econômica, tanto dos países destinatários como dos países oriundos devido às relações existentes entre investimento, comércio tecnologia e fluxos financeiros (ACIOLY, 2005). Entre os países em desenvolvimento, a China, durante os anos 1990, liderou a atração de investimentos diretos através do recebimento de IDE sob a forma de novos projetos para a instalação de empresas. Esses investimentos têm sido dirigidos AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. prioritariamente para a indústria de transformação, principalmente para as atividades que possuem maior valor agregado. Entre 1990 e 1999, a China cresceu a uma taxa média de 9,5% ao ano e nesse período acumulou cerca de US$ 213,7 bilhões em investimento direto externo, ocupando o terceiro lugar no rank dos maiores absorvedores de investimento do mundo, e o primeiro lugar entre os países em desenvolvimento (ACIOLY, 2005, pag. 25) A partir de 1986, o governo chinês adotou uma série de medidas que visavam mudar a estrutura setorial dos IDEs recebidos, direcionando-os para a indústria de transformação, para os setores de exportação orientadas através de prioridades e para os setores de mais alta tecnologia. Em 1986, o volume total de investimento direto no setor primário correspondia a 40%, já em 1998, esse setor acumulava apenas 3,1%, enquanto em 1993, o setor manufatureiro já era responsável pela maior absorção de IDE (ACIOLY, 2005). Em 1990, a prioridade passou a ser o fortalecimento da indústria química, de máquinas e equipamentos de transportes, eletrônicos e comunicação, e com isso o governo adotou medidas mais fortes a fim de aumentar a participação de investimentos diretos nas indústrias de capital-intensivas (ACIOLY, 2005). Com a entrada da China para a Organização mundial do comercio (OMC), em 2001, inicia-se uma nova fase da abertura da economia chinesa. A partir desse fato foi possível perceber uma recepção de investimento direto em novos setores como tecnologia de ponta e investimentos que visam estabelecer centros de pesquisa e desenvolvimento para o país. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. A tabela acima se refere ao acumulado sobre a distribuição da China em 2001. A presente tabela então pode ilustrar como a indústria chinesa é o principal foco do investimento direto, recebendo uma cota muito maior do que a agricultura, que até 1986 era o principal alvo do IDE. Com a afirmação chinesa como pólo industrial mundial, a economia asiática foi profundamente alterada, gerando um importante desvio de comércio e de investimentos. Vários exportadores asiáticos foram deslocados do mercado americano e passaram a absorver importantes fluxos de IDE. A estratégia chinesa de penetrar no mercado mundial além de aumentar suas importações e exportações, criando para as economias mundiais, principalmente para as asiáticas, um grande mercado em expansão, com alto índice de investimento direto (ACIOLY, 2005). Quando, em 1979, o governo chinês decidiu modernizar sua economia e atingir uma maior inserção no sistema internacional, o investimento direto foi considerado a melhor estratégia para alcançar três diferentes objetivos. Segundo LEMOINE (2000 apud ACIOLY, 2005, pag. 27-28), esses objetivos compreendiam em aumentar a participação do país no comercio internacional, favorecer o acesso a fontes de capital e tecnologia avançada e por fim, introduzir modernas técnicas administrativas nas indústrias chinesas. Em 1980, com o objetivo de orientar a localização do IDE, o governo chinês criou quatro zonas econômicas especiais (ZEEs) como um teste, para um projeto bem AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. mais amplo. Essas zonas estavam localizadas em Guandong e nas províncias de Fujian e eram: Shenzhen, Zhuhai, Xiamen e Shantou (ACIOLY, 2005). A política de atração de investimentos foi baseada em tratamentos administrativos preferenciais e redução e isenções tarifárias naquelas indústrias para as quais o IDE foi consideradas desejado: setores exportadores e setores alvos de política de substituição de importações. Dentre as políticas para as empresas estabelecidas nas zonas econômicas, as mais destacadas foram as que estimularam a entrada de empresas nos setores produtivos, com projetos acima de 10 anos (ACIOLY, 2005, pag. 28). A experiência obteve êxito e com isso, o número de zonas que eram alvo de políticas econômicas especiais ao longo da região costeira chinesa foi aumentando e ainda foram estabelecidas zonas de Desenvolvimento Econômico e tecnológico, que possuíam o objetivo de incentivar investimentos estrangeiros no setor de tecnologia para que então fosse possível desenvolver os setores de energia e transportes (ACIOLY, 2005). Em conjunto com as medidas criadas a fim de incentivar o investimento estrangeiro no país, o governo chinês, a fim de evitar a evasão de divisas, impôs às empresas estrangeiras cotas de exportações e obrigações para manter o equilíbrio das contas em moeda estrangeira. Quanto ao modo de entrada de investimento direto externo na China, este se deu primeiramente sob a forma de joint ventures – as chamadas foreign invested enterprises (FIEs). Essa forma jurídica foi autorizada em 1979, e estipulou que o o capital estrangeiro poderia contabilizar 25% do capital total de uma joint-veinture. A segunda forma de entrada de IDE foi por meio da organização das Wholly Foreign firms – empresas com participação estrangeira total, permitidas apenas dentro das zonas especiais (ACIOLY, 2005, pag. 29). A política chinesa para atração de investimento direto foi extremamente eficaz, uma vez que, após 20 anos, de realização da política de atração, as exportações chinesas passaram de 26 bilhões de dólares para 249 bilhões de dólares entre 1985 a 2000. Toda a estrutura setorial também foi alterada, uma vez que em 1985 o setor primário e manufaturados naturais correspondiam por 49% do total exportado. Já em 2000, a participação caiu para apenas 12%, enquanto os produtos manufaturados não baseados em recursos naturais atingiram a marca de 89% (ACIOLY, 2005). As empresas estrangeiras foram requisitadas através da lei a conservarem constante equilíbrio entre suas receitas e gastos em moeda estrangeira. Caso quisessem AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. investir no país, as empresas estrangeiras eram obrigadas a seguir essa determinação (ACIOLY, 2005). Esse país enveredou por uma estratégia de inserção internacional via comércio e investimento direto para a qual contaram, além de suas vantagens específicas, outros fatores como a criação de ambiente macroeconômico favorável ao crescimento (sem o qual seria impossível receber investimentos novos e negociar com as empresas multinacionais), a manutenção de uma política cambial estável e favorável às exportações e o estabelecimento de um marco regulatório para a atuação dessas empresas de acordo com os objetivos da política industrial e tecnológica amplamente articulada com a política de comércio exterior (ACIOLY, 2005, pag. 30). Devido à estratégia utilizada pela China para conseguir se inserir no sistema internacional, fez-se de grande importância a fiscalização e políticas de atração setorial para o investimento externo, uma vez que a manutenção de moeda estrangeira foi responsável pelo êxito chinês em seu processo de abertura comercial. À medida que a produtividade agrícola aumentava, a economia se abria e se modernizava através da importação de máquinas e equipamentos, a natureza da restrição se deslocava para o setor externo (MEDEIROS, 1999, pag. 107). É evidente que, em seu processo de abertura comercial, a China foi favorecida pelo fato de não ter dívida externa, o que possibilitou um alto engajamento financeiro. Outro fator que beneficiou o processo de inserção chinesa na economia internacional está relacionado ao fato de não fazer parte do GATT (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio) o que possibilitou que o governo pudesse adotar políticas que concentrassem os investimentos na indústria de transformação e ainda associasse as atividades das empresas estrangeiras ao seu próprio desempenho exportador. 3.5 EUA e China: uma disputa comercial Com todo o crescimento econômico apresentado pelos chineses e uma enorme população, a China representa para os exportadores e investidores dos Estados Unidos um grande mercado em potencial. Os EUA, hábil e prudentemente, procuram manter bom relacionamento com a RPC que, sabem muito bem, será sua rival na área comercial e econômica, já na primeira década do século XXI. A previsão não é só do professor americano Paul Samuelson (prêmio Nobel de economia), mas também de Nixon, que sobre a China, assim se manifestou: Sem duvida se converterá em superpotência econômica e militar no próximo século. O que torna vital a preservação de nossas relações com aquele país (OLIVEIRA, 2001, pag. 47) AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. Já em 1995, os maiores parceiros comerciais da China eram Japão, Hong Kong, Estados Unidos, Formosa, Coréia do Sul e Alemanha. Segundo relatório apresentado no mesmo ano, o déficit dos EUA com a China foi de US$ 33,8 bilhões. Excluindo Hong Kong, os Estados Unidos tem sido o grande alvo das exportações chinesas, que ocorrem basicamente em torno de sapatos têxteis e os produtos eletrônicos que possuem baixo valor unitário. Para os norte-americanos, a China é o maior mercado em expansão de suas exportações. Essas exportações são formadas por aviões, equipamentos, produtos químicos e grãos (MEDEIROS, 1999). Todo o crescimento chinês, entretanto, produz profundas alterações em toda a dinâmica internacional, uma vez que a ampliação de seus recursos econômicos possibilita o investimento em outras áreas de dominação. Entretanto, a China ainda se encontra distante do ponto em que seus recursos financeiros serão suficientes para financiar uma investida pela hegemonia regional. Portanto, na condição de superpotência, nada impede que os Estados Unidos tentem ao máximo retardar a ascensão chinesa (MEARSHEIMER, 1992 apud ARRIGHI, 2008, pag. 213). Até o presente momento, o que é possível de ser observado é que Washington avalia a possibilidade de contar com a China em várias estratégias, como a de coalizão de equilíbrio. Entretanto, com o engajamento estadunidense na luta contra o terror, passaram a depender cada vez mais de crédito e de mercadorias estrangeiras baratas, possibilitando que a China impusesse um tipo de “imperativo estrutural” (ARRIGHI, 2008). Atualmente os Estados Unidos tem pouca influência na China. O Sr Bush precisa da ajuda da China para lidar com a Coréia do Norte. [...] Além disso, a compra de títulos do tesouro norte-americano pelo banco central da china é uma das principais maneiras de os Estados Unidos financiarem seu déficit comercial. [...] Apenas quatro meses depois da operação flight suit [macacão de piloto], a superpotência transformou-se em pedinte das nações que costumava insultar. Missão cumprida! (KRUGMAN, 2003 apud ARRIGHI, 2008, pag. 214). A disputa entre EUA e China ocorre de uma forma tão clara que mesmo os Estados unidos sendo os maiores parceiros comerciais na Ásia, o crescimento chinês ocorre em uma velocidade tão grande, que hoje a China já se tornou o maior parceiro comercial dos dois aliados mais importantes dos EUA na região: Japão e Coréia do Sul (ARRIGHI, 2008). AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. Está bem definido que o crescimento chinês encontra-se altamente acelerado no âmbito econômico, uma vez que, entre 2001 e 2004, a China foi responsável por um terço do aumento das importações mundiais. Com isso, hoje a China é o grande estimulador da Ásia central, e grande responsável pela recuperação econômica do Japão (ARRIGHI, 2008). No ano 2000, o governo chinês abriu mão, voluntariamente, de dívidas africanas que somavam 1,2 bilhões de dólares. Como conseqüência dessa atitude observou-se que nos cinco anos seguintes, o comércio com a áfrica que se encontrava em torno dos 10 bilhões, elevou-se para 40 bilhões de dólares (ARRIGHI, 2008). A sensação é de que a China tenta ao máximo agradar, ajudar, acomodar-se aos vizinhos, enquanto os Estados Unidos são vistos como país cada vez mais envolvido com sua própria política externa, impondo à força ao mundo esse programa (PERLEZ, 2003 apud ARRIGHI, 2008, pag. 215). Na América do Sul, a China também buscou se fazer presente. Sua atuação ocorreu de forma muito mais intensa do que as iniciativas norte-americanas na região, que se limitaram apenas a uma rápida visita a reunião da Apec, em 2004 no Chile enquanto os representantes chineses passaram mais de duas semanas visitando Argentina, Brasil, Chile e Cuba, e anunciaram mais de 30 bilhões de dólares em investimentos em matérias-primas básicas (ARRIGHI, 2008). No que tange a liberalização mundial do comércio, a China também conseguiu ofuscar os Estados Unidos, já que, em termos regionais, a China conseguiu firmar acordos de integração com a ASEAN (Association of south East Asian Nations, ou Associação de Nações do Sudeste Asiático) simultaneamente enquanto formava laços econômicos com Japão, Coréia do Sul e Índia. Já em âmbito global, realizou aliança com Brasil, Índia e África do sul como forma de junto com o G-20 realizar uma ofensiva na reunião da OMC que ocorreu em 2003, em Cancun. Essa ofensiva visava protestar contra o sistema de dois pesos e duas medidas que se encontrava presente nas políticas do norte, que desejavam impor a abertura do mercado do sul, mas em compensação mantinham práticas ferozmente protecionistas. Essa Política pode ser observada principalmente nos setores em que se torna evidente a vantagem competitiva do sul. Nesse aspecto, a China também levou vantagem em relação aos EUA, já que os Estados Unidos acabaram por abrir mão dos acordos multilaterais para se beneficiarem AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. de acordos bilaterais que tinham como objetivo romper a aliança formada em Cancun, ou ainda passaram a buscar apoio à guerra ao terror (ARRIGHI, 2008). HARVEY (2003 apud ARRIGHI, 2008, pag. 221) define que existe um imperialismo do tipo capitalista, que ocorreria como uma “fusão extraordinária” “entre a política de Estado e de império” e os processos de acumulação de capital no espaço e no tempo. A política de Estado e de império refere-se às estratégias políticas, diplomáticas e militares que são realizadas por um estado na luta pela garantia de seus interesses. Já o segundo componente refere-se aos fluxos de poder econômico, que ocorrem ao longo do espaço e do tempo, pela prática diária de produção, trocas, comércio, fluxo de capital, transferência de dinheiro, migração de mão-de-obra, transferência de tecnologia, especulação monetária, fluxo de informações e impulsos culturais. Harvey especulou que, nessas circunstâncias, os Estados Unidos ficariam extremamente tentados a usar seu poder sobre o petróleo para frear a China, provocando, no mínimo, um conflito geopolítico na Ásia central e talvez o espalhando para um conflito mais global (HARVEY, 2003 apud ARRIGHI, 2008, pag. 236). ARRIGHI (2008) argumenta que os Estados Unidos devem se sentir aliviados, uma vez que a China deseja e utiliza seus dólares para comprar as empresas americanas e não levá-las a falência. A China dá todos os sinais de que surge como concorrente estratégico dos Estados Unidos, e que travará uma intensa concorrência pelo acesso aos recursos que são escassos, como água potável, por exemplo. Segundo um relatório divulgado pelo pentágono sobre a capacidade militar dos chineses, estes possuem atualmente uma postura considerada beligerante. O ponto chave do relatório encontra-se no fato de que a China vem aumentando sua capacidade de travar guerras fora do território. Segundo o pentágono, isso representa intenso perigo para a ordem internacional. Ainda, segundo o relatório, os chineses já possuem força suficiente para ameaçarem o equilíbrio militar regional. Em resposta aos norteamericanos, as autoridades chinesas declararam que o relatório possuía o intuito proposital de disseminar que a China consiste em uma ameaça mundial. Defendeu ainda que esse relatório interfere grosseiramente nos assuntos internos chineses além de constituir uma provocação as relações chinesas com outros países (ARRIGHI, 2008). Com o novo clima de sensibilidade global que os Estados Unidos criaram, e com o aumento substancial da dependência econômica em relação à China, o governo Bush AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. teve que proceder de forma mais cautelosa no intuito de preservar o poder norteamericano de uma instabilidade que eles mesmos criaram. Devido a esse fato, pode-se justificar a relutância norte-americana em impor medidas protecionistas a seus produtos, pois essas medidas poderiam provocar medidas retaliativas por parte da China, o que dentro do território norte-americano poderia ser extremamente prejudicial, já que poderia gerar o aumento dos juros norte-americanos que poderiam gerar conseqüências imprevisíveis sobre a construção e consumo estadunidense. Ainda como resposta ao clima de desconfiança criado pelos Estados Unidos, em 2004, o presidente chinês Hu Jintao fez uma declaração defendendo os “quatro nãos” e os quatro “sins pregados” pela China. Os “quatro nãos” consistem em não a hegemonia, não ao uso da força, não aos blocos e não a corrida armamentista, enquanto os “quatro sins” consistiam em sim a construção da confiança internacional, sim a diminuição das dificuldades sim ao desenvolvimento da cooperação e sim ao evitamento dos confrontos (ARRIGHI, 2008). Essas declarações visam claramente contrabalancear a visão criada pelos norte-americanos de que o país possui intenções bélicas ou hegemônicas, e defender que a China encontra-se altamente empenhada com o livre comércio e o desenvolvimento da cooperação internacional. Enquanto a China e os Estados Unidos brigam pela predominância geopolítica, o resto da Ásia oriental quer apenas uma área comercial mais eficiente e acesso a um mercado maior. Neste momento, o maior mercado é a China. Como conseqüência, na cúpula da Asean realizada nas Filipinas em janeiro de 2007, a China ocupou o centro do palco, assinou um novo acordo de comércio de serviços e, o que foi mais importante, participou integralmente dos vários acordos que visam transformar a associação numa entidade semelhante à União Européia (ARRIGHI, 2008, pag. 309). Podemos perceber que a China vem sendo assimilada, no presente momento, pelo sistema internacional e que seus líderes parecem saber muito bem que tentar desalojar os Estados Unidos consiste em uma estratégia um tanto quanto inútil. Com isso, os lideres chineses parecem entender que para a predominância global, a disseminação de forma cautelosa de sua ideologia, de um país dois sistemas, é sim o caminho mais seguro para a China (ARRIGHI, 2008). Ao contrário do que muitos afirmam, a China se tornou extremamente atraente pelo capital estrangeiro, não apenas por sua grande reserva de mão-de-obra barata. Muitos defendem que pelo mundo existem outras reservas desse tipo disponíveis. O que funcionou como um diferencial para a China foi à grande qualidade dessa mão-de-obra, AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. em termos de saúde, educação e sua grande capacidade de alto gerenciamento, mesmo sendo substancialmente barata (ARRIGHI, 2008). O casamenteiro que facilitou o encontro entre o capital estrangeiro, as empresas chinesas fornecedoras de mão-de-obra e as autoridades do governo foi o capital da diáspora chinesa. Esse papel de casamenteiro foi possibilitado pela determinação com que a RPC, no governo de Deng, buscou a ajuda dos chineses no exterior para abrir a China ao comércio e ao investimento internacionais e tentar recuperar Hong Kong, Macau e, finalmente, Taiwan, de acordo com o modelo uma nação, dois sistemas (ARRIGHI ,2008, pag. 357). 3.6 Estados Unidos X China: A busca pela cooperação Atualmente, percebemos no sistema internacional a busca intensa por cooperação. Com o aumento da relevância internacional de alguns Estados, os Estados que possuem o status de potência precisam se adaptar e buscar formas de cooperação com esses Estados. Além disso, a cooperação gera uma parceria que em muitos casos pode render benefícios para as partes dispostas a cooperar (TERRILL, 2005). Com essa idéia da cooperação, esta terceira seção se caracterizará pela busca de fatores que possam possibilitar ou não a cooperação entre Estados Unidos e China. Como visto, os dois países possuem ampla relevância para a economia internacional, gerando grandes riquezas, e devido a esse fator, podem buscar seus interesses em diferentes campos de ação. Como o foco do presente trabalho se atribui a China, as análises serão feitas sobre possíveis interesses da China. Durante o século XVIII, a China interessava ao resto do mundo devido aos seus chás e sua seda (TERRILL, 2005). Buscavam-se os produtos chineses, mas não havia a preocupação em realizar uma reflexão sobre o que a China poderia querer dos outros povos. Devido ao seu atual desempenho econômico inicia-se a preocupação de quais são os interesses chineses para com o resto do mundo. Segundo TERRILL (2005) quando à China nos anos 40 começou a chamar a atenção do resto do mundo, com seus acontecimentos, sabia-se que o interesse chinês definido por Mao Zedong, era ser no futuro o que a União Soviética era naquela época. Entretanto, hoje, os interesses chineses são duros de serem compreendidos. O mundo entende muito bem que os Estados Unidos estão interessados em alcançarem livres AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. mercados e se possível sob regimes democráticos. Entretanto, a China com seu sucesso econômico sob um regime comunista acaba personificando um enigma. 3.7 Objetivos de política externa chinesa Atualmente, as ações chinesas não são se comparadas a de outros Estados como ações agressivas, ou revisionistas, pois não é clara a tentativa de alterar o status quo. A China passa por um momento econômico em que seu PIB segue crescendo a passos largos, possibilitando que esta possa investir em vários segmentos de seu país. TERRILL (2005) determina que é possível identificar que a China possui quatro interesses principais: estabilidade interna, orientação da política externa para sustentar o crescimento econômico, manter sua região geográfica tranqüila e por fim ter sua reputação realçada. A China possui algumas tensões dentro de seu território como a questão do Tibet. Entretanto, o governo chinês declara abertamente a importância de manter o seu território integrado, sem qualquer tipo de divisão. Divisões dentro do território chinês podem encorajar outras regiões que não estejam satisfeitas com a forma de organização do Estado chinês, e isso poderia prejudicar os interesses e até mesmo o desempenho da China, uma vez que esta teria que voltar a sua atenção para apaziguar os ânimos dentro de seu território (TERRILL, 2005). Dessa forma, pode ser observada nos interesses chineses a busca em manter sua estabilidade interna, em torno de uma sociedade que continue funcionando como base para o crescimento econômico. Para isso, pelo menos a princípio, a China pode contar com o apoio norte americano, uma vez que hoje a China possui grande participação na pauta de importação dos Estados Unidos, e estes estão interessados em manter seu mercado abastecido, com produtos cada vez melhores e com um baixo valor (TERRILL, 2005). Após a era Mao Zedong, com a tomada do controle por Deng Xiaoping a economia quadruplicou no tamanho, e seu crescimento anual continua em uma media de oito, nove por cento ao ano. O comércio externo tem expandido em 25% anualmente. Todo o impulso econômico pós-Mao é abastecido pelo dinheiro estrangeiro. Diante desse crescimento, mesmo que ainda existam segmentos com índices de renda muito baixos, é possível perceber hoje na China o fortalecimento de um orgulho que segue AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. melhorando cada vez mais sobre a nação e que seguem legitimando um regime que nunca enfrentou uma eleição. Com o declínio contínuo do marxismo, sem que ocorra a declaração da adoção de alguma filosofia pública oficial, a China deseja manter seu regime, e, para isso, necessitam manter seu crescimento econômico, uma vez que este crescimento comprova a eficiência de seu sistema. Dessa forma, a China busca manter o interesse norteamericano pelos produtos chineses, e busca formas de aumentar a cooperação e aproximar suas relações com os Estados Unidos. Essas ações podem ser percebidas com a entrada Chinesa à Organização Mundial do Comércio em 2001, e a suspensão de testes com mísseis na costa de Taiwan em 1996. As orientações chinesas em torno de tomarem cursos de ações que de certa forma servem aos interesses norte-americanos, possuem o interesse de evitar danos as exportações aos Estados Unidos, que representam muito na pauta chinesa (TERRILL, 2005). A China encontra-se geograficamente localizada em uma região muito complicada, sendo que é o único país do mundo que tem que tratar os 14 vizinhos de forma amigável, uma vez que sete deles cobrem mais de 600 milhas de sua fronteira e outros quatro fecham sua linha costeira. Nos primeiros 30 anos, a República Popular da China foi guerra em todos os seus cinco flancos (TERRILL, 2005). Entretanto, devido a sua posição geográfica complicada é interessante para a China manter o ambiente calmo na região. A China ainda passa por um processo de estabilização econômica, e, com isso, não é interessante para o país ter que investir seus recursos em deslocamentos de tropas para abastecer conflitos. Além disso, a China tem buscado atingir cada vez mais mercados ao redor do mundo, e, por isso, torna-se indispensável à presença de credibilidade internacional. Visando atingir esses objetivos, a partir dos anos 80, a China adotou uma política externa “cheia de sorrisos” em várias direções, com a difusão da idéia de que “realizavam uma política da paz e da independência”. Com essa filosofia, perante vários conflitos, ou iminência de um conflito, o posicionamento chinês ocorre em torno da manutenção da paz aderindo o status quo. Essa postura pacifista aproxima cada vez mais os norte-americanos e chineses fazendo com que a cooperação entre eles aumente de forma considerável e possibilitou que hoje a China goze do privilégio de não possuir nenhum inimigo (TERRILL, 2005). AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. O quarto objetivo chinês consiste em aumentar sua reputação para que possa aumentar sua influência no continente asiático. Dessa forma, a China busca promover dentro do continente asiático uma insinuação da doutrina Monroe. Entretanto, mesmo com essa visão de que os asiáticos devem resolver suas dificuldades sem a participação de outros povos, a China busca não comprometer sua relação com os Estados Unidos e quando seus interesses coincidem a china acaba indo junto com os Estados Unidos para a execução dos mesmos. Dessa forma, as relações entre os dois países tendem a se estreitar cada vez mais, uma vez que não há choques de interesses diretos entre os dois (TERRILL, 2005). AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 4. CONCLUSÃO Durante o século XX, o mundo assistiu a duas guerras sangrentas, e que afetaram a profundamente a estrutura do sistema internacional. Essas guerras mudaram por completo a forma como os Estados percebiam a presença uns dos outros e estes passaram a lidar com mais cautela uns com os outros. A Primeira (1914-1917) e a Segunda Guerra (1939-1945) mostraram a capacidade humana de se autodestruir, e indivíduos de diferentes nacionalidades passaram a abominar e a temer a probabilidade de um novo conflito tão devastador como as duas guerras. A crise de 1929, fez com que grandes capitalistas quebrassem, e passassem a viver na mais profunda miséria, assim como a maioria dos indivíduos. A quebra da bolsa de Nova Iorque trouxe conseqüências que até então não haviam sido previstas. Desemprego, pobreza, queda no consumo, já eram desdobramentos vistos em outras crises do sistema capitalista. Entretanto, quando foi percebida a difusão da desgraça a que havia sido submetido o ser humano, sendo castigados pela fome e pelo desespero, tornou-se mais evidente a necessidade de lidar com mais cuidado em relação as relações internacionais. A agenda internacional também foi profundamente modificada. A segurança ainda é a principal preocupação dos Estados. Entretanto, os assuntos de segurança antes estavam ligados somente a questão militar. Atualmente entende-se que a segurança de um Estado não está condicionada somente ao que tange o campo militar, mas também ao campo econômico, militar, de meio ambiente e etc. Os Estados passaram então a observar de forma mais cautelosa todos esses campos e hoje observamos que a construção da agenda internacional ocorre de acordo com as necessidades de cada área. O presente trabalho buscou lidar com os aspectos econômicos de dois países, EUA e China, de modo a verificar as possíveis implicações para as relações internacionais. Observou-se então, a luta constante dos norte-americanos para manterem sua posição hegemônica no sistema. Entretanto estes estão lidando com desafios cada vez maiores, e atualmente necessitam conviver com outro gigante, que cresce a passos. Essa convivência tende então a ocorrer da melhor forma possível, uma vez que os dois Estados criaram uma conjuntura onde ambos dependem economicamente do outro. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. Os Estados Unidos possuem um mercado interno altamente consumidor, e necessitam abastecer seu mercado, suprindo essa demanda. A China então se tornou o maior parceiro comercial dos Estados Unidos. Os chineses possuem uma indústria interna disposta a produzir cada vez mais, e produzir a baixos custos, o que se torna altamente lucrativo para a economia estadunidense uma vez que essa diminui os riscos de déficit na balança comercial e possibilitam importações cada vez mais volumosas. Já a China saiu de uma condição extremamente precária e ascendeu no sistema internacional de forma extraordinária. Essa mudança de condição é atribuída à forma como a China organizou sua indústria nacional, de forma que pudesse produzir produtos de alta qualidade, possibilitando assim competir no mercado internacional, e com preços muito baixos, através da utilização de mão-de-obra barata. Entretanto, a mão-de-obra barata empregada na indústria chinesa está longe de ser desqualificada, pelo contrario. Possui alto grau de qualificação, e ainda a herança oriental da disciplina. Entretanto, para criar as bases para a implantação dessa indústria nacional forte, e continuar mantendo-a, a China tornou-se altamente dependente de investimento direto externo (IDE). O IDE aplicado na economia chinesa é advindo dos Estados Unidos, fazendo com que a China também dependa dos Estados Unidos assim como eles dependem da China. Os dois países necessitam então de manter boas relações um com o outro, para que possam continuar sustentando seus gigantescos índices econômicos. Dessa forma, após serem analisados vários aspectos, desde históricos como econômicos, pode-se afirmar que os dois países possuem uma tendência cada vez maior a cooperação. Sendo assim, os dois países possuem relações que dificilmente levaram a um conflito entre eles. Os Estados Unidos foram responsáveis diretos pela entrada da China na OMC, já que se pode dizer que existiu campanha norte-americana para mostrar aos demais membros à importância de ter a China como membro da organização. Essa atitude reflete o interesse norte-americano em aumentar cada vez mais as relações comerciais com os chineses. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACIOLY, Luciana. China: Uma inserção diferenciada. Economia Política Internacional: Análise estratégica, n°7, out/dez 2005. Disponível em: <http://www.eco.unicamp.br/asp-scripts/boletim_ceri/boletim/boletim7/03_China.pdf>. 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