CONJUNTURA O mundo vive um momento agudo de crise, cujo primeiro auge foi em 2009. No centro estão os chamados “países do primeiro mundo”, pois além de persistir nos EUA, a crise agora castiga duramente a Europa, sendo o desemprego e o aumento da exploração sobre os trabalhadores algumas das consequências. Em Wall Street e na Europa, o descontentamento gera revoltas sociais. Ainda assim, a lógica de funcionamento da economia mundial com base na renda sobre aplicações financeiras – e não na produção industrial –, permanece no comando. Os países que mais se mobilizam são justamente os mais atingidos pelo desemprego. Problemas sociais, econômicos e políticos também geraram mobilizações em diversos países do Oriente Médio, onde a juventude foi protagonista em mobilizações em que a pauta é para que o povo assuma a condução do país. Movimentos de todo o mundo se solidarizam em defesa dessas mobilizações e contra o imperialismo, para que os países possam definir seus rumos livres da danosa intervenção dos Estados Unidos. Também na América Latina os movimentos aumentam a mobilização, com destaque para os estudantes chilenos, que mobilizaram todo o país, unindo-se aos trabalhadores na defesa da universalização da educação pública e de qualidade como elemento essencial ao desenvolvimento do país. O movimento estudantil brasileiro enviou representantes para participar de mobilizações e contou com a solidariedade dos chilenos às manifestações daqui. Mas a hegemonia política dos EUA enfraquece, pois a “receita” neoliberal de desenvolvimento (privatizações, retirada do Estado da economia, combate à inflação via altas taxas de juros e câmbio flutuante) foi imposta pelos quatro cantos do mundo e provocou a presente crise. À medida que perdem força política, os EUA reafirmam seu poder militar com guerras. A intensidade da crise já leva especialistas a duvidarem da receita neoliberal de combater a crise com cortes nos gastos públicos. Pelo contrário, a crise deve ser combatida com investimentos para estimular o desenvolvimento e o emprego. Para os trabalhadores e a juventude, as conclusões destes especialistas não são novidade, pois sempre sentiram na pele os efeitos dessas políticas para “salvar” as nações. Embora também sofra os efeitos da crise, países como Índia, Rússia, África do Sul, China e Brasil enfrentam-na com resultados favoráveis ao crescimento econômico. Na América Latina, mantém-se e até se amplia o leque de países governados por forças progressistas. No atual contexto, em que as grandes potências tentam impor que os demais países paguem a conta da crise, a resposta deve ser ousadia política e independência de nações como o Brasil. A pauta que deve reger o país é a do desenvolvimento. O desenvolvimento é um assunto nacional e envolve a todos. Nesse sentido, é preciso fortalecer as mobilizações dos movimentos sociais, entre as quais se destacam a manifestação dos 80 mil trabalhadores feita pelas centrais sindicais em São Paulo; a Marcha das Margaridas com cerca de 70 mil camponesas em Brasília, e a jornada de lutas dos estudantes em agosto. O acontecimento mais promissor deste ano foi em 31 de agosto: a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir de 12,5% para 12% a taxa básica de juros, a Selic, medida que visa manter o crescimento do país. Tal fato ocorreu justamente durante a grande passeata do Agosto Verde e Amarelo da UBES, UNE e ANPG em Brasília, com a participação da líder estudantil chilena Camila Vallejo, que se somou às diversas mobilizações realizadas pelos mais variados movimentos sociais nas últimas décadas. A presidenta Dilma Rousseff disse ter o objetivo de, até 2014, livrar o país da condição de campeão mundial dos juros altos, o que responde à pauta de desenvolvimento levantada pelos movimentos. As mobilizações que tomaram as capitais do país a cada reunião do COPOM simbolizam a vitória da pressão popular. Apesar disso o Brasil se mantém com a mais alta taxa de juros reais do mundo: 2,5 vezes a segunda mais alta taxa, a da Hungria, e muito acima da média internacional, hoje em 1% negativo. Cada 1% de redução da taxa de juros significam recursos suficientes para até 2014, dobrar as vagas do PROUNI, os laboratórios, bibliotecas e quadras poliesportivas, e radicalizar a expansão do Ensino Técnico e das Universidades Federais. Por isso conclamamos todos os estudantes e o povo brasileiro para garantir a drástica redução dos juros, Vamos Ocupar o Banco Central! A manutenção de juros altos e de outros aspectos da política econômica levam a perda de competitividade industrial e, pior, um processo de desindustrialização do país, levando o Brasil a se consolidar como exportador soja e importador de chips para computadores. É urgente, o país precisa de desenvolvimento industrial e tecnológico. Além disso, o governo federal precisa dar passos ainda mais decisivos em termos de investimento em infra-estrutura e incentivo à produção, pois economistas e movimentos alertam que o país vive um processo de desindustrialização, que pode significar uma diminuição do crescimento e até mesmo um grande atraso na economia do país e, como conseqüência, na condição de vida dos brasileiros e brasileiras. Outro entrave ao desenvolvimento democrático do país é a desregulamentação da mídia, que no Brasil merece o apelido de PIG – Partido da Imprensa Golpista. A mídia é um dos poucos setores de poder que, após o fim da Ditadura Militar, continuam intocados. Todos os chamados países desenvolvidos possuem regras claras de regulação da atividade dos meios de comunicação; na América Latina, governos progressistas investem no fortalecimento da comunicação pública, iniciam a regulação das mídias e fortalecem a comunicação popular. O odioso monopólio da mídia no Brasil precisa ser derrotado, afinal, o debate sobre a democracia e os rumos do país passam pelo direito humano à comunicação, sendo, ainda, o Plano Nacional de Banda Larga uma demanda da juventude brasileira. Vivemos um momento único de possibilidades: o Brasil vai sediar a próxima Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos de 2016; o investimento da Petrobrás em pesquisa fez com que o Brasil, líder mundial em tecnologia de prospecção de petróleo em alto-mar, tenha descoberto uma riquíssima reserva de petróleo na camada pré-sal, fonte energética muito valiosa. Além disso, o país se destaca em fóruns internacionais, como referência em combate à pobreza e liderando articulações entre países em desenvolvimento, favorecendo construção de uma ordem mundial multipolar. Tantas possibilidades devem se concretizar em vitórias concretas para o povo. Para tanto, tais recursos devem ser investidos no desenvolvimento do Brasil, por meio do investimento em educação, ciência, tecnologia e inovação, infra-estrutura, fomento à produção industrial, geração de empregos, saúde, combate à pobreza, cultura, defesa nacional e outros setores estratégicos ao desenvolvimento soberano e democrático do Brasil. Esta é a pauta que deve debatida com os estudantes em todo o país, gerando mobilizações em torno dos direitos fundamentais que garantirão a realização do Brasil das possibilidades e alimentarão a perspectiva de construção de um país justo, soberano e desenvolvido por gerações. Esta luta começa agora e em março a UBES tomará as ruas de todo o país em defesa do Brasil e da democracia!