30 Expresso, 28 de janeiro de 2012 ECONOMIA CONFERÊNCIA Estudo Conclusões do ‘Leaders Agenda: Desafios 2012’ deram o mote ao ‘Expresso do Meio-Dia’ Boas lideranças são cruciais no sucesso Textos Catarina Nunes e Nicolau santos Fotos Alberto Frias necessidade de ter lideranças fortes nas empresas nacionais e a internacionalização como saída para a crise foram dois dos aspetos que dominaram o ‘Expresso do Meio-Dia’, que decorreu esta semana no Palácio de Seteais, em Sintra. O ‘Leaders Agenda: Desafios 2012’, estudo da Baker Tilly Portugal que dá a conhecer os desafios e as prioridades dos empresários portugueses, deu o mote ao debate com os líderes de quatro empresas (Grupo Porto Bay, YDreams, Hovione e Brandia Central). Apesar de estarem em negócios muito díspares — turismo, tecnologias, química farmacêutica e comunicação publicitária — os participantes no ‘Expresso do Meio-Dia’ são unânimes em reconhecer que a liderança é fundamental no êxito das empresas e que este é um conceito em evolução. “As lideranças são distintas do que eram no passado. Têm de conhecer muito mais áreas do que no passado. Têm de liderar muito mais pelo exemplo do que pela autoridade”, sustenta António Câmara, presidente da YDreams. Isto porque as A empresas atuais, sobretudo nas tecnologias de informação, “são muito mais horizontais do que outras”. O presidente da YDreams sustenta que, embora por vezes seja preciso dar ordens, “o líder só funciona se todas as pessoas tiverem algum tipo de liderança e exigência em relação aos seus pares”. Mais. Muitas das start-ups foram criadas por empreendedores que, no início, não dispunham de recursos, o que, segundo António Câmara, determinou lideranças diferentes em relação às empresas mais tradicionais. Liderar não é dar ordens Para Peter Villax, administrador da Hovione, “liderança não tem a ver com dar ordens, mas com o alinhamento da organização. Quando isso acontece essa pessoa pode afastar-se e ter um papel secundário”. António Trindade, administrador do Grupo Porto Bay, considera, por seu lado, que “temos problemas de liderança e de gestão, mas sobretudo de dimensão empresarial”. Saúda, por isso, a fusão entre os grupos hoteleiros Lágrimas e Alexandre de Almeida, para ganhar produtividade e melhorar a gestão. Um movimento que vem na contramão do nosso espírito. “Temos dificuldade em partilhar o que nos une e em encontrar no movimento associativo estímulos que possam gerar sinergias empresariais”, sustenta o admi- nistrador do Grupo Porto Bay. Peter Villax defende que o futuro do país se faz com obras e líderes. “O que nos está a fazer falta é dar um murro na mesa: no país, nas instituições e nas empresas. O nosso sistema político tudo fez para esvaziar o poder das instituições”, conclui o administrador da Hovione. A propósito desta posição de Peter Villax, António Câmara lembra as experiências por que passou nos Estados Unidos, quando o Presidente Kennedy definiu que os norte-americanos teriam um homem na Lua em seis anos. Deu também o exemplo do investimento de anos e anos do Governo da Coreia do Sul para fazer da Samsung o potentado que é hoje. “Falta-nos isto na sociedade portuguesa. Não há projetos ‘homem na Lua’. Para competir à escala global precisamos de produtos. E para isso é necessário garantir um conjunto de competências. Nesses países existia uma ambição que hoje é impensável”, refere o presidente da YDreams. Crise estimula internacionalização Segundo Paulo André, da Baker Tilly, empresa que efetuou o estudo, “a crise pode ser o empurrão necessário para os empresários que até agora não tiveram a iniciativa de ir para fora”. Paulo André lembra, no entanto, Expresso, 28 de janeiro de 2012 ECONOMIA 31 Novos mercados vão trazer negócio Os participantes no debate salientaram a necessidade de entreajuda das empresas portuguesas quando avançam para processos de internacionalização que há fatores que dificultam uma maior internacionalização das empresas portuguesas, como a qualidade da gestão ou o próprio perfil da empresa. Rui Trigo, presidente da Brandia Central, não esperou pela crise para procurar negócio fora de Portugal e há cinco anos começou no caminho da internacionalização. Neste momento, 35% do volume de negócios da agência de publicidade vêm de fora. O responsável da Brandia Central salienta a ausência de clientes portugueses nos escritórios da agência no exterior e a falta de entreajuda das empresas portuguesas quando avançam para a internacionalização. “Isso daria uma ajuda no arranque das operações internacionais”, sustenta Rui Trigo, recordando que a internacionalização de todos os países se deu em conjunto. “Mas isso não está a acontecer com os portugueses”, conclui. Peter Villax, por seu lado, contesta esta ideia. “Não posso ir para o exterior a dizer que o meu drive são as empresas portuguesas, mas sim que tenho um produto magnífico. Tenho de ser diferente e melhor que os outros”. Reconhece, contudo, que “se houver um ecossistema de empresas portuguesas no exterior, isso ajuda”. Mas insiste que o essencial é ir para o exterior com uma operação sólida, estruturada, bem montada. O administrador da Hovione re- mata dizendo que “se calhar ainda não há massa crítica suficiente para haver essa abordagem em conjunto”. António Trindade vai mais longe na ideia de internacionalização. “É muito importante que saibamos perceber que a internacionalização é também a multiterritorialidade, ou seja, tenho de me afirmar como uma marca portuguesa mas que está noutro território. E temos de nos preparar para ser os melhores em cada território”. Contratar em vez de despedir Em 2012, as prioridades para Peter Villax, administrador da Hovione, serão o desenvolvimento de novos produtos, conquista de novos mercados e encontrar as pessoas certas para os lugares certos. O administrador da Hovione gracejou com o facto de, ao contrário da maioria das empresas em Portugal, precisar de contratar mais pessoas em vez de despedir, por ter uma grande carteira de encomendas. “Devia ter mais 50 pessoas, mas não é fácil recrutar porque só há mais uma empresa concorrente e temos o compromisso de não ir buscar pessoas um ao outro”, concretiza. [email protected] VEJA O VÍDEO NO DOSSIÊ EM www.expresso.pt/leadersagenda2012 “Temos dificuldade em partilhar o que nos une e em encontrar no movimento associativo estímulos que gerem sinergias” “O líder só funciona se todas as pessoas tiverem algum tipo de liderança e exigência em relação aos seus pares” ANTÓNIO TRINDADE ANTÓNIO CÂMARA administrador do grupo Porto Bay presidente da YDreams “A crise pode ser o empurrão necessário para os empresários que até agora não tiveram a iniciativa de ir para fora” “O futuro do país faz-se com obras e líderes. O que está a fazer falta é dar um murro na mesa: no país, nas instituições e nas empresas” PAULO ANDRÉ PETER VILLAX Managing partner da Baker Tilly administrador da Hovione “A internacionalização de todos os países deu-se em conjunto, mas isso não está a acontecer com os portugueses” RUI TRIGO presidente da Brandia Central Cerca de metade dos líderes considera que 2012 será um ano de crescimento, através da internacionalização e das exportações Se 2012 for o reflexo dos resultados do estudo ‘Leaders Agenda: Desafios 2012’, o ambiente de negócios não vai estar tão mal quanto a generalidade das previsões. 46% dos 265 líderes questionados preveem que a sua empresa cresça este ano, através da internacionalização e da exportação. O crescimento orgânico é outra das formas através das quais as empresas esperam crescer, pelo menos é a resposta de 39% dos inquiridos, enquanto 33% dizem que vai ganhar mercado com parcerias estratégicas. Esperam melhorar as rentabilidades através da otimização de estruturas, de sistemas e de ativos. Mais de metade dos inquiridos (55%) tencionam cortar custos, principalmente a nível de marketing e publicidade, utilities, comunicações e tecnologias. A redução da estrutura administrativa e do quadro de pessoal e o aumento da eficácia comercial são outras formas de aumentar a rentabilidade. Paulo André, managing partner da Baker Tilly, salienta um dos grandes problemas que ressaltam do estudo: a forte dependência das empresas do financiamento. “A questão do financiamento é crítica. As empresas não têm políticas de gestão de tesourarias e nem de acumular superavits. Há que encontrar alternativas, seja a renegociação da dívida ou a introdução de mecanismos para maior eficácia na tesouraria interna”, refere Paulo André. De acordo com o estudo, para melhorar a gestão da tesouraria 21% das empresas vão selecionar melhor os clientes, enquanto 15% restringirão a concessão de crédito, a mesma percentagem que tenciona aplicar novas condições aos clientes. Os recursos humanos são uma das áreas onde a esmagadora maioria dos inquiridos (83%) tenciona atuar. Estimular o desempenho (17%), otimizar a remuneração variável, dos benefícios e do plano de pensões (16%), despedimentos, mobilidade e reconversão (14%) e desenvolver competências (10%) são as medidas que vão ser tomadas. Para os líderes ouvidos neste estudo, as prioridades do Governo em 2012 deverão ser o cumprimento do plano da troika (33%) e a aposta no crescimento económico (32%). A falta de financiamento (43%) e o desemprego (23%) são, para estes líderes, os principais riscos do país este ano. Paulo André, da Baker Tilly, terminou o debate no ‘Expresso do Meio-Dia’ dizendo que os diagnósticos estão feitos. “O passo que falta dar é a concretização”, remata. C.N.