UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ENGENHARIA FLORESTAL Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais AVALIAÇÃO DA ENTOMOFAUNA EM FRUTOS DE ESPÉCIES FLORESTAIS DO CERRADO JOSAMAR GOMES DA SILVA JUNIOR CUIABÁ-MT 2016 JOSAMAR GOMES DA SILVA JUNIOR AVALIAÇÃO DA ENTOMOFAUNA EM FRUTOS DE ESPÉCIES FLORESTAIS DO CERRADO Orientador: Prof. Dr. Otávio Peres Filho Dissertação apresentada à Faculdade de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Mato Grosso, como parte das exigências do Curso de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais, para obtenção do título de mestre. CUIABÁ-MT 2016 Dados Internacionais de Catalogação na Fonte. S586a Silva Junior, Josamar Gomes da. Avaliação da entomofauna em frutos de espécies florestais do cerrado / Josamar Gomes da Silva Junior. -2016 x, 56 f. : il. color. ; 30 cm. Orientador: Dr. Otávio Peres Filho. Co-orientador: Dr. Alberto Dorval. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Engenharia Florestal, Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais, Cuiabá, 2016. Inclui bibliografia. 1. sitofagia. 2. carpofagia. 3. ecologia de insetos. I. Título. Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte. Dedico a minha Família. AGRADECIMENTOS À Universidade Federal de Mato Grosso, a Faculdade de Engenharia Florestal e ao laboratório de proteção florestal pelo apoio e irremediável aprendizado nos dois anos do mestrado. À CAPES pela bolsa. Ao meu orientador Dr. Otávio Peres Filho pela, paciência, persistência, palavras de incentivo, orientação e ensinamentos. Ao Dr. Alberto Dorval, pela co-orientação, conversas e palavras de incentivo. Aos Taxonomistas: Dr. Édson Possidônio Teixeira, Dr. Roberto Antonio Zucchi, Dr. Sergio Antônio Vanin, Dr. Mauricio Martins da Rocha, Drª Marcela Laura Monné Freire e Drª Cibele Stramare Ribeiro-Costa pelas identificações. Ao Sr. José Fortes por ceder a sua propriedade Cavalo Branco I para pesquisa. Ao Sr. Manoel Lauro da Silva, técnico do Laboratório de Proteção Florestal/ FENF/UFMT, pelo auxílio e ensinamentos. Ao Senhor Antônio, seu filho Joires, seu filho Paulinho e sua esposa dona “Nega” por todo apoio necessário para que esta pesquisa fosse concluída. Aos Acadêmicos Thiago Freire, Vinicius Trombini Jambers e Aquirya Pinheiro. Pela ajuda e companheirismo nas coletas. A Jéssica Kummer pelo companheirismo. SUMÁRIO RESUMO .................................................................................................. ix ABSTRACT ...............................................................................................x 1. INTRODUÇÃO..................................................................................... 11 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................... 13 2.1 RELAÇÃO INSETO X PLANTA ...................................................... 13 2.2 SEMENTES FLORESTAIS E SUAS CARACTERÍSTICAS ............ 15 2.3 MORFOLOGIA DAS SEMENTES E SUAS RELAÇÕES COM A PREDAÇÃO.......................................................................................... 17 2.4 DANOS PROVOCADOS POR INSETOS EM SEMENTES DE ESPÉCIES DO CERRADO ................................................................. 19 3. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................... 21 3.1 ÁREA DE ESTUDO ....................................................................... 21 3.2 CLIMA E VEGETAÇÃO .................................................................. 21 3.3 COLETA DOS FRUTOS ................................................................ 21 3.4 ANALISE ESTATÍSTICA ................................................................ 27 3.5 SEGMENTAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ..................................... 27 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................... 29 4.1 ANALISE QUALITATIVA E QUANTITATIVA ................................. 29 4.2 ANALISE DA SEGMENTAÇÃO DA REGIÃO DE COLETA ............ 39 4.3 ANALISE DA TAXA DE INFESTAÇÃO TI (%) ............................... 42 4.4 ANALISE DOS DANOS POR TIPOS DE COLETA ....................... 44 5. CONCLUSÕES.................................................................................... 48 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................... 49 LISTA DE TABELAS TABELA 1 – PERÍODO DE COLETA DOS FRUTOS DAS ESPÉCIES FLORESTAIS NOSSA SENHORA DO LIVRAMENTO - MT.................... 24 TABELA 2 – UTILIZAÇÃO E IMPORTÂNCIA DAS ESPÉCIES AMOSTRADAS ........................................................................................ 25 TABELA 3 – QUANTITATIVO DAS ESPÉCIES ENTOMOLÓGICAS IDENTIFICADAS...................................................................................... 29 TABELA 4 – ESPÉCIES, ORDEM, FAMÍLIA, SUBFAMÍLIA DE INSETOS, HOSPEDEIROS E QUANTIDADE DE INDIVÍDUOS. .............................. 31 TABELA 5 – RESULTADO DA SEGMENTAÇÃO.................................... 41 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – A: COLETA PRÉ-QUEDA SENDO REALIZADA; B: MARCAÇÃO DAS ESPÉCIES FLORESTAIS; C: ACONDICIONAMENTO TEMPORÁRIO DO MATERIAL COLETADO E D: ACONDICIONAMENTO DAS AMOSTRAS NO LABORATÓRIO ................................................... 22 FIGURA 2 – CARTA IMAGEM DAS PLANTAS SELECIONADAS .......... 23 FIGURA 3 – A: Lasioderma serricorne (Fabricius,1792); B: Hypothenemus seriatus (Eichhoff, 1872); C: Eubulus sp. e D: Heterotermes longiceps (Snyder, 1924). ........................................................................................ 33 FIGURA 4 – A: Anastrepha obliqua (Macquart, 1835); B: Taeniaptera lasciva, (Fabricius,1798); C: Pachymerus sp. e D: Dufauxia guaicurana (Lane, 1955)............................................................................................. 33 FIGURA 5 – A: Amblycerus sp.; B: Gibbobruchus cavillator (Fåhraeus, 1839); C: Opius bellus (Gahan, 1930) e D: Pachycrepoideus vindemmiae (Rondani, 1875) ................................................................... 34 FIGURA 6 – PERCENTUAL DAS ORDENS EMERGENTES .................. 38 FIGURA 7 – PERCENTUAL DE INDIVÍDUOS OBTIDOS NOS DIFERENTES TIPOS DE COLETAS REALIZADAS................................ 39 FIGURA 8 – SEGMENTAÇÃO DA REGIÃO DE COLETA ...................... 40 FIGURA 9 – CLUSTER TAXA DE INFESTAÇÃO (TI %) E FRUTO/SEMENTES DE ESPÉCIES FLORESTAIS PARA SITUAÇÃO DE COLETA PRÉ-QUEDA. ........................................................................... 42 FIGURA 10 – CLUSTER TAXA DE INFESTAÇÃO (TI %) E FRUTO/SEMENTES DE ESPÉCIES FLORESTAIS PARA SITUAÇÃO DE COLETA PÓS-QUEDA ............................................................................ 43 FIGURA 11 – GRUPOS DE SIMILARIDADES DE DANOS PROVOCADOS EM SITUAÇÃO DE COLETA PRÉ-QUEDA .................. 44 FIGURA 12 – A: FRUTO SADIO DE BOCAIÚVA; B: FRUTO DANIFICADO DE BOCAIÚVA; C: FRUTO SADIO DE CAJAZINHO E D: FRUTO DANIFICADO DE CAJAZINHO ................................................. 45 FIGURA 13 – GRUPOS DE SIMILARIDADES DE DANOS PROVOCADOS EM SITUAÇÃO DE COLETA PÓS-QUEDA. ................. 46 FIGURA 14 – A: ORIFÍCIO DE SAÍDA NO FRUTO DE BABAÇU; B: ORIFÍCIO DE SAÍDA NO FRUTO DE MARMELO; C: ORIFÍCIO DE SAÍDA NO FRUTO DE CUMBARU E D: ORIFÍCIO DE SAÍDA NO FRUTO DE BARBATIMÃO ................................................................................... 47 RESUMO SILVA JUNIOR, J.G. Avaliação da entomofauna em fruto de espécies florestais do Cerrado. 2016. Dissertação (Mestrado - em Ciências Florestais e Ambientais) - Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá MT. Orientador: Prof. Dr. Otávio Peres Filho. Os estudos da entomofauna de florestas são partes importantes, pois compõe a primeira etapa do manejo integrado de pragas, que busca aumentar e preservar os fatores de mortalidade natural, através do uso integrado possíveis de técnicas de combate embasadas em parâmetros ecológicos e econômicos. Os levantamentos fornecem informações sobre o ciclo biológico, picos de ocorrência, densidade populacional dos insetos dentre outras. O monitoramento constante permite a realização adequada de um programa de manejo de pragas, diminuindo os custos do controle, aumentando a eficiência e sem prejudicar o rendimento das florestas, além de reduzir aplicações de inseticidas diminuindo a contaminação do ambiente. A pesquisa objetivou identificar as espécies de insetos predadores de frutos e sementes de espécies arbóreas do Cerrado. No período de seis meses o trabalho foi realizado na Fazenda Cavalo Branco I, no município de Nossa Senhora do Livramento – MT. Os insetos adultos emergidos dos frutos foram identificados e os seus danos avaliados. As coletas foram realizadas quinzenalmente em pré e pós queda de sementes e frutos na área amostral, dentro dos limites da propriedade e na região. Foram avaliadas as Taxas de infestação (ti %) por análise multivariada de Cluster. Encontraram-se as espécies: Lasioderma serricorne (Fabricius,1792), Hypothenemus seriatus (Eichhoff, 1872), Eubulus sp., Heterotermes longiceps (Snyder, 1924), Anastrepha obliqua (Macquart, 1835), Taeniaptera lasciva, (Fabricius,1798), Pachymerus sp., Dufauxia guaicurana (Lane, 1955), Gibbobruchus cavillator (Fåhraeus, 1839) e Amblycerus sp., totalizando 399 insetos emergidos. Palavras-chave: sitofagia, carpofagia, ecologia de insetos. ix ABSTRACT SILVA JUNIOR, J. G. Entomofauna Assessment in fruit tree species of Cerrado. 2016. Dissertation (Master - in Forestry and Environmental Sciences) - Federal University of Mato Grosso, Cuiabá - MT. Adviser: Prof. Dr. Otavio Peres Filho. Studies of forest insect fauna are important parts because it forms the first stage of integrated pest management, which seeks to increase and preserve the natural mortality factors, through the possible use of integrated control techniques informed in ecological and economic parameters. The surveys provide information about the biological cycle, spiking, population density of insects among others. Constant monitoring allows the proper conduct of a pest management program, reducing control costs, increase efficiency and without harming the performance of forests and reduce insecticide applications and reducing environmental contamination. The research aimed to identify the species of insect predators of fruits and seeds of tree species of Savannah. Within six months, the study was conducted at Cavalo Branco I Farm, in the municipatility of Nossa Senhora do Livramento, State of Mato Groso, Brazil. The emerged adult insects fruits were identified and their valued damages. Samples were collected every two weeks in pre and post drop seeds and fruits in the sample area within the boundaries of the property and the region. Infestation rates (ti %) were evaluated by multivariate cluster analysis species. We identifed the species: Lasioderma serricorne (Fabricius, 1792), Hypothenemus seriatus (Eichhoff, 1872), Eubulus sp, Heterotermes longiceps (Snyder, 1924), Anastrepha obliqua (Macquart, 1835), Taeniaptera lasciva, (Fabricius, 1798), Pachymerus sp., Dufauxia guaicurana (Lane, 1955), Gibbobruchus cavillator (Fåhraeus, 1839) and Amblycerus sp., totaling 399 emerged insects. Keywords: seed predation, fruit predation, insect ecology. x 1. INTRODUÇÃO O Cerrado é um dos três biomas que ocorrem no estado de Mato Grosso, com uma variação fisionômica considerável ao longo de sua extensão. Por ter uma flora diversificada, consequentemente as riquezas de espécies de insetos fitófagos, ou seja, aqueles que se alimentam de plantas, são enormes. Dentre os insetos fitófagos pode-se citar os carpófagos que se alimentam de frutos e os sitófagos que se alimentam de sementes. Esses insetos utilizam do material nutritivo presente em sementes e frutos, para ajudar na disseminação de suas espécies, já que as larvas têm uma maior chance de sobreviver e se desenvolver utilizando esta fonte de energia. As pragas no sentido entomológico são todos os insetos que trazem prejuízos econômicos, neste contexto algumas espécies de insetos causam danos a espécies florestais antes e após à exploração florestal, como consequência o produto perde a qualidade e o valor agregado. Existe a hipótese de que as espécies de insetos encontrados no Cerrado são as mesmas que atacam os povoamentos florestais ou as plantações agrícolas. Os estudos dos insetos em florestas são importantes, pois compõe a primeira etapa do manejo integrado de pragas que busca aumentar ou preservar os fatores de mortalidade natural, através do uso integrado de todas as técnicas de combate possíveis embasadas em parâmetros ecológicos e econômicos. Os levantamentos fornecem informações sobre o ciclo biológico, picos de ocorrência e densidade populacional dos insetos. O monitoramento constante permite a realização adequada de um programa de manejo de pragas, sem prejudicar o rendimento da floresta, aumentando a eficiência e diminuindo os custos no controle de pragas, além de reduzir aplicações de inseticidas diminuindo a contaminação do ambiente. 11 Para ampliar o conhecimento sobre a entomofauna associada a carpofagia e sitofagia das espécies florestais do Cerrado, a pesquisa teve como objetivos: Estabelecer relações entre as espécies de insetos do Cerrado com duas formas de coletas distintas; Estabelecer relações entre as espécies de insetos do Cerrado com as pragas que atacam culturas anuais e perenes. 12 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 RELAÇÃO INSETO X PLANTA As plantas são amplamente utilizadas por grande quantidade de organismos, afinal todas as suas composições são fonte de alimento e desenvolvimento para algum animal ou patógeno, além de serem a base das cadeias tróficas, destas composições, pode-se destacar os frutos e sementes, por serem altamente nutritivas (HULME e BENKMAN, 2002; SCHOONHOVEN et al., 2005). As sementes são predadas tanto na sua fase de pré-dispersão, como na fase pós-dispersão. Na fase pré-dispersão, insetos das Ordens Coleoptera, Lepidoptera, Diptera e Hymenoptera são seus principais predadores (JANZEN, 1971). A ação dos insetos predadores na fase pré-dispersão pode ter grande impacto em suas plantas hospedeiras e assim diminuir a germinação e sobrevivência das plântulas jovens (KOLB et al., 2007; TOMAZ, et al., 2007), ocasionar danos na produção total de sementes (ANDERSEN, 1988) e na inclusão destas ao banco de sementes, sendo inclusive, em casos de alta especificidade entre predador e planta hospedeira, empregados no controle biológico de plantas invasoras (GARNER e WITKOWSKI, 1997; WITKOWSKI e GARNER, 2000; TUDA, 2007). Além disso, sugere-se que a predação das sementes por insetos e sua alteração no tempo e no espaço podem promover a variedade de espécies de plantas nas comunidades (CRAWLEY, 2000; KOLB et al., 2007). Da mesma forma que os consumidores causam impactos em suas plantas hospedeiras, estas podem também influenciar seus predadores de algumas maneiras. Muitas espécies de predadores sincronizam seu ciclo de vida com as épocas de produção de sementes, tendo então uma grande disponibilidade de sítios de oviposição e alimento (FORGET et al., 1999; NAKAGAWA et al., 2003). Outro fator da 13 planta que intervém na predação são os compostos oriundos do metabolismo secundário da planta, que são tóxicos, podem ser maléficos a algumas espécies predadoras menos especializadas (JANZEN, 1969; LILL e MARQUIS, 2001; HULME e BENKMAN, 2002). Juntamente com os compostos secundários, outros elementos da planta, como o nitrogênio e o carbono, pode afetar positivamente ou negativamente a atuação dos insetos que as consomem (AWMACK e LEATHER, 2002). Determinados estudos comprovam que a qualidade da planta afeta significativamente a sobrevivência, os padrões comportamentais, os graus de infestação, e o desempenho dos insetos predadores de sementes (FOX, et al., 1994; THIERY et al., 1994; FOX e MOUSSEAU, 1996; VAN HUIS e DE ROOY, 1998; OR e WARD, 2004). Existe uma grande abundância, de tamanho e formas de sementes, entre as espécies de plantas (LEISHMAN et al., 2000), e estudos realizados mostram que plantas hospedeiras com sementes grandes, mais volumosas e muitas vezes mais arredondadas, podem apresentar maiores níveis de infestação. Estas sementes possuem grandes quantidades de recursos que irão prover o desenvolvimento do embrião e permitir o desenvolvimento de adultos maiores (ERNST et al., 1989; SZENTESI e JERMY, 1995; OROZCO-ALMANZA et al., 2003). Em alguns casos, o tamanho das sementes pode influenciar a preferência de sítios de oviposição pelas fêmeas, preferindo as maiores, com maior quantidade de recursos, para aumentar a possibilidade de sobrevivência da prole (COPE e FOX, 2003). No entanto, o fato da semente ser grande nem sempre evita os danos ao embrião, o que inviabiliza a semente (CIPOLLINI e STILES, 1991). Como algumas espécies de consumidores depositam os seus ovos em frutos imaturos (SZENTESI, 2006; SILVA et al., 2007), ou possuem larvas que se nutrem de várias sementes durante o desenvolvimento (SZENTESI e JERMY, 1995), o tamanho e a forma dos frutos são também muito importantes no que diz respeito à predação por insetos. Além do tamanho das sementes, a rigidez também é um fator primordial, pois pode impedir que as larvas dos insetos predadores 14 penetrem-nas para predá-las e se desenvolver, desta forma reduzindo a predação (HULME e BENKMAN, 2002) ou podendo levar a fêmea a investir no tamanho dos ovos de acordo com a rigidez das sementes e garantindo que as larvas consigam penetrá-las (FOX et al., 1997; TAKAKURA, 2004; FOX et al., 2001). 2.2 SEMENTES E SUAS CARACTERÍSTICAS Um embrião envolvido por um tecido (endosperma ou perisperma) e pela testa ou tegumentos protetores esta é a semente no sentido botânico. Assim, o termo semente é usado para detalhar o óvulo a partir do início do seu crescimento e de seu desenvolvimento já denominado como embrião, oriundo da fertilização. Geralmente em volta da semente existem estruturas provenientes do fruto (rafe e hilo) e estruturas evoluídas para realizar a dispersão (ala e arilo) e por fim a parte interna da semente que provém do óvulo (embrião, tecido nutritivo e tegumento). Em outro aspecto a denominação semente é usualmente utilizada com um sentido mais amplo para que se consiga definir a unidade de dispersão (diásporo) como um todo, que em algumas espécies compreende partes do fruto (SCHMIDT, 1978). A semente é um sítio de evolução temporária do esporófito (embrião) e permite a interligações entre sucessivas gerações. Seria o meio do processo, crítico e vulnerável no ciclo das plantas seminais, sendo o responsável pela propagação, seleção de plântulas e finalmente na sobrevivência das espécies (FLORES, 2002; MUÑOZ e CAVIERES, 2006). Dentre seus principais objetivos estão: garantir proteção à prole a ser dispersa em um ambiente diferente e garantir sua nutrição desde a sua germinação até seu estabelecimento (SCHIMIDT, 1978). As sementes podem ser consideradas como dinâmicas e tridimensionais e a sua morfologia é o produto de processos fisiológicos e ambientais participantes no seu desenvolvimento. A sua aerodinâmica: tamanho, forma, distribuição e estrutura dos tecidos e órgãos da semente influi nos diferentes estágios ontogênicos, a sua 15 natureza e perfeição em suas atividades principais (FLORES, 2002). Havendo influência mútua com distintos ambientes e organismos, ao longo de muitos anos, as sementes de diversas espécies têm alto nível de tolerância no lugar onde se desenvolvem, o que torna menos problemático o seu manejo. No entanto, outras são altamente evoluídas a um habitat particular, sendo compassivas a qualquer tipo de estresse (SCHMIDT, 1978). O ciclo fenológico das sementes inclui muitos estágios, como a floração e a frutificação. A maturação dos frutos significa o auge da frutificação, a partir daí a semente se mostra preparada para a dispersão (RÊGO et al., 2006). A maturação de frutos/sementes em uma árvore é sincronizada com o período de chuva. A sincronização ocorre em diferentes intervalos, mas respeitando o período de cada espécie (SCHMIDT, 1978). O nível final de água presente na semente depende da espécie e do ambiente, o que permite identificar as sementes recalcitrantes, se estas mantêm a umidade relativamente elevada (2530%) e ortodoxas, se as sementes forem secas (5-10% de umidade) em sua maturação (SCHMIDT, 1978). O amadurecimento das sementes dos frutos ocorre com a perda de água em consequência acontece a dissecação. As finas paredes dos frutos como cápsulas, sâmaras e vagens transformam-se em lenhosas. A desidratação dos frutos é consequência da desintegração da clorofila, que como produto faz os frutos mudarem a coloração de verde para amarelo, castanho ou preto (SCHMIDT, 1978). A secagem durante o período de maturação garante a inativação permanente do metabolismo durante a dispersão da semente, sendo reativado durante a germinação. A diminuição de água nos tecidos, a impermeabilidade do tegumento unido a inibidores causam a inatividade da semente. Esses fatores variam de uma espécie para outra, no entanto, sementes de muitas espécies não germinam quando extraídas da “planta mãe” antes de secarem (FLORES, 2002). Embora as sementes componham a principal fonte de 16 propágulos das espécies florestais, a maioria mantém interações com insetos que podem crescer nas sementes ou outras em estruturas reprodutivas, tendo como resultados danos que afetam sua qualidade (KUNIYOSHI,1983). 2.3 MORFOLOGIA DAS SEMENTES E SUAS RELAÇÕES COM A PREDAÇÃO As sementes são ricas em nutrientes, armazenados no endosperma e cotilédone, que fornecem material energético para o desenvolvimento do embrião e que servem como alimento nutritivo para os animais que as consomem (HULME e BENKMAN, 2002). A disponibilidade de recursos energéticos para o embrião é bem variável, resultando em grande diversidade na dimensão das sementes, tanto dentro de um contexto intraespecífico como interespecífico (GUREVITCH et al., 2002). O tamanho das sementes pode também influenciar o consumo, existindo evidências de que fêmeas da Família de insetos bruquídeos podem preferir sementes maiores na oviposição, desta maneira garantindo maior taxa de sobrevivência da prole (COPE e FOX, 2003). No entanto, em alguns casos as dimensões podem não evitar que sejam causados danos ao embrião, inviabilizando a semente (CIPOLLINI e STILES, 1991). Desta forma, além de ser importante para o desenvolvimento do embrião, sementes maiores pode ser um fator extraordinário na incorporação ao banco de sementes já que essas, geralmente, tem algum atrativo para animais dispersores (BEKKER et al., 1998; FUNNES et al., 1999; LEISHMAN et al., 2000). Além do tamanho ter influência nos níveis de predação, a penetração, a persistência no solo e o sucesso reprodutivo das sementes, outros atributos físicos, como a forma das sementes, podem intervir nestes processos. No que diz respeito aos insetos que consomem as sementes, pouco se sabe sobre a influência da morfologia das sementes nos padrões de predação. Em um dos poucos trabalhos que investigaram esta questão, diversos parâmetros morfológicos das sementes de diversas espécies de leguminosas na Hungria foram aferidos e calculados 17 com a finalidade de se comparar com os padrões de invasão por bruquíneos e com as características morfológicas deste grupo de insetos (BRADFORD e SMITH, 1977; GARNER e WITKOWSKI, 1997). Em alguns estudos ficaram constatados que tanto o tamanho como a forma das sementes são importantes, no entanto especialmente para aquelas espécies em que as larvas se alimentavam de apenas uma semente. As plantas hospedeiras que apresentavam sementes mais esféricas e com maiores volumes, eram as mais propensas a serem infestadas (SZENTESI e JERMY, 1995). Outra comprovação importante deste estudo foi que as sementes de plantas não infestadas eram expressivamente menores, corroborando com resultados de Ernst et al. (1989), mas que contradiz o estudo de Janzen (1969), para leguminosas da América Central, nas quais as menores sementes ofereceram maiores níveis de predação. Orozco-Almanza et al. (2003), após estudarem a germinação de quatro espécies de planta de Mimosa spp. no México, averiguaram que as espécies de plantas com sementes maiores foram as que ofereceram maiores infestações pelos predadores. Em trabalhos realizados por Kingsolver (1980) e Armella (1990), também mostraram resultados significativos entre o tamanho das sementes e o nível de infestação para regiões áridas e tropicais, respectivamente. Apesar do tamanho e forma das sementes serem muito importantes para a determinação dos modelos de ataque, algumas espécies ovipositam sobre os frutos quando estes ainda são imaturos, contendo sementes muito pequenas (SZENTESI, 2006; SILVA et al., 2007). Ainda, algumas larvas podem se alimentar de mais de uma semente dentro do fruto durante o desenvolvimento (SZENTESI e JERMY 1995). Nestes casos, o tamanho e a forma dos frutos podem ser mais representativos do que as características morfológicas das sementes portanto, é importante que as características morfológicas de ambos (frutos e sementes) sejam relacionadas com os dados de predação, gerando comparações mais realistas. A predação de sementes pode limitar a escolha de plantas, diminuindo o número de sementes viáveis disponíveis, podendo ocasionar 18 mudanças na repartição espacial de espécies. A intensidade de predação é maior em baixo da planta mãe, onde ocorre maior densidade de sementes e assim, à medida que aumenta a distância da planta, essa densidade diminui ocasionando uma diminuição na predação das sementes. Essa relação de “resposta da distância” é complementada com as taxas de predação idênticas em sementes depositadas sob a planta hospedeira e distantes desta, constatando que, em áreas onde o recurso é farto, as taxas de predação podem não modificar com a distância. Outros estudos testaram a influência da densidade de sementes por metro quadrado embaixo da planta hospedeira nas taxas de predação, alguns resultados encontraram relações de dependência entre esses fatores enquanto outros não obtiveram a mesma relação (JANZEN, 1971). Diversos estudos têm sido realizados registrando a predação de plantas por invertebrados (ALLMEN et al., 2004). Ainda são poucos os estudos que investigam diretamente a relação entre certos atributos morfológicos das sementes e frutos (exemplo: tamanho e forma) e a predação de sementes (ALLMEN et al., 2004). 2.4 DANOS PROVOCADOS POR INSETOS EM SEMENTES DE ESPÉCIES DO CERRADO Durante os meses quentes e úmidos ocorre o principal período de frutificação no bioma Cerrado, quando as espécies de dispersão zoocóricas têm seus frutos amadurecidos e suas sementes dispersadas (OLIVEIRA, 2008; PIRANI et al., 2009). O período de seca serve como ferramenta, a qual impede que as sementes germinem em condições adversas para seu desenvolvimento (MELO et al., 2008). Os danos provocados por insetos ao fruto de araticum, por exemplo, advém da raspagem provocada na epiderme e posterior penetração na polpa da qual se alimentam. Fato comprovado por outros autores Bleicher e Melo (2002), Braga Sobrinho et al. (1998), Fazolin e Ledo (1997) e Junqueira et al. (1996) em frutos de graviola. As larvas danificam as polpas dos frutos, penetram nas sementes e abrem galerias, que posteriormente, os patógenos, se 19 aproveitam para entrar e infectar as sementes. Os danos provocados são de formatos irregulares, em grande parte, ocorrem lateralmente podendo acontecer de forma aleatória em qualquer parte das sementes, como consequência os frutos se tornam inadequadas para reprodução (BRAGA SOBRINHO et al., 1998). A constatação de pequenas perfurações no frutíolos de forma bem distribuída, em todo fruto, são características evidentes do ataque de coleópteros. Danos semelhantes foram relatados em frutos de Graviola Annona muricata por Bleicher e Melo (2002), Braga Sobrinho et al. (1998), Fazolin e Ledo (1997) e Junqueira et al. (1996). Outra característica marcante de danos provocados por coleópteros é a perfuração total da semente, atravessando-a em seu menor diâmetro e criando um orifício de formato arredondado. Diferente dos coleópteros, as larvas de dípteros alimentam-se da polpa dos frutos, inviabilizando-as para consumo in natura e para industrialização. UchôaFernandes e Zucchi (2000) registraram o ataque de espécie de dípteros danificando frutos de ata (Annona squamosa) e ata silvestre (Annona sp.) no estado de Mato Grosso do Sul. 20 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1 ÁREA DE ESTUDO O estudo foi realizado no ano de 2015 no município de Nossa Senhora do Livramento – MT em área de cerrado nas proximidades da fazenda denominada Cavalo Branco I, localizada a 48 km de Cuiabá, circunscrita a partir da coordenada geográfica 56°31'26,70"O 15°33'57,02"S. 3.2 CLIMA E VEGETAÇÃO O clima da região é do tipo AW (Köppen), abrangendo toda a Depressão Cuiabana, com aproximadamente, 25,7 °C, temperatura média mensal de precipitação pluvial anual média de 1.400 mm, altitude de 800 m acima do nível do mar e solo do tipo areia quartzosa álica, de textura arenosa e destituído de minerais primários, pouco resistente ao intemperismo e baixa fertilidade (CONCEIÇÃO, 1997). A região apresenta vegetação típica do Cerrado, essa formação exibe dois estratos definidos, o arbóreo e o arbustivo-herbáceo, com a densidade de indivíduos arbóreos (fanerófitos) e de gramíneas (hemicriptófitos) definindo cada subgrupo. Nesses ambientes, as árvores são baixas e tortuosas, muitos arbustos exibem órgãos subterrâneos desenvolvidos (xilopódios) que toleram a emissão de novos ramos aéreos após queima ou corte, e as herbáceas são dominadas por inúmeros gêneros de gramíneas (RIBEIRO et al., 1998). 3.3 COLETA DOS FRUTOS Para se realizar as coletas dos frutos (Figura 1A) foram escolhidos dez indivíduos, ou repetições, por espécie de planta respeitando a fenologia de maturação dos frutos, escolhendo as espécies com frutos ainda imaturos. Para isso utilizou-se a metodologia de Rodrigues (2013), onde caminhou-se nas bordas de fragmentos, no seu 21 interior, nas vias vicinais, nas áreas abertas, de acordo com acesso e disponibilidade para as coletas. As plantas selecionadas foram identificadas numericamente com plaquetas de alumínio (Figura 1B). Os frutos coletados foram acondicionados em sacolas plásticas (Figura 1C), para serem transportados ao Laboratório de Proteção Florestal, da Faculdade de Engenharia Florestal, da Universidade Federal de Mato Grosso, onde foram acondicionados em recipientes plásticos (37 cm x 12 cm x 21,5 cm) (Figura 1D) a uma temperatura variando de 20ºC a 25ºC. As tampas desses recipientes foram furadas e vedadas com tela quadriculada de tecido fino, para possibilitar a circulação de ar e evitar a saida dos insetos por menor que fossem. Em cada recipiente foi identificado com os dados da coleta, tais como, data, espécie hospedeira e localização. Após a coleta, as coordenadas de cada indivíduo foram tomadas por meio do GPS Garmin modelo 62sc. Assim possibilitando sua localização para posterior retorno, caso necessário, de forma individualizada (Figura 2). FIGURA 1 – A: COLETA PRÉ-QUEDA SENDO REALIZADA; B: MARCAÇÃO DAS ESPÉCIES FLORESTAIS; C: ACONDICIONAMENTO TEMPORÁRIO DO MATERIAL COLETADO E D: ACONDICIONAMENTO DAS AMOSTRAS NO LABORATÓRIO. 22 FIGURA 2 – CARTA IMAGEM DAS PLANTAS SELECIONADAS. 23 As coletas de frutos/sementes foram realizadas com intervalo quinzenal, de fevereiro a agosto de 2015 (Tabela 1) e foram realizadas de duas formas: pré e pós-queda. O tipo pós-queda foram coletados dos frutos caídos no solo e próximos das árvores mãe. Já no tipo pré-queda foram executadas com o auxílio do podão e/ou agitação dos galhos manualmente, quando estes não podiam ser coletados. TABELA 1 – PERÍODO DE COLETA DOS FRUTOS DAS ESPÉCIES FLORESTAIS. NOSSA SENHORA DO LIVRAMENTO - MT. Nome Vulgar Nome Científico Família FMAMJJA Angico Anadenanthera falcata Fabaceae Babaçu Orbignya phalerata Arecaceae Bacuri Scheelea phalerata Clusiaceae Barbatimão Dimorphandra wilsonii Fabaceae Bocaiuva Acrocomia aculeata Arecaceae Cajazinho Spondias mombin Anacardiaceae Cumbaru Dipteryx alata Fabaceae Marmelo Alibertia edulis Rubiaceae Pata de vaca Bauhinia ungulata Fabaceae Timbó Magonia pubescens Sapindaceae * F= fevereiro/2015, M= março/2015, A= abril/2015, M= maio/2015, J= junho/2015, J= julho/2015 e A= agosto/2015. As espécies florestais, aqui estudadas, possuem diversificada importância econômica, alimentícias e medicinais mencionadas na Tabela 2. Os insetos emergidos foram quantificados e etiquetados. Os danos nos frutos, ocasionados pelos insetos foram fotografados. A identificação taxonômica das espécies florestais foi realizada por comparações no herbário da Faculdade de Ciências Biológicas-UFMT. A identificação dos insetos foi efetuada por comparação com a coleção do Laboratório de Proteção Florestal, da Faculdade de Engenharia Florestal, da Universidade Federal de Mato Grosso e os insetos não identificados foram enviados a taxonomistas especialistas de cada Família entomológica. Após a emergência dos adultos os frutos foram dissecados e as estruturas danificadas foram avaliadas quanto às regiões e a extensão dos danos produzidos, para cada espécie de inseto. Para essas análises foi utilizado microscópio estereoscópico. 24 TABELA 2 – UTILIZAÇÃO E IMPORTÂNCIA DAS ESPÉCIES AMOSTRADAS. Importância – Produtos e utilizações Nome Popular Angico Nome Científico Família Anadenanthera falcata Fabaceae Construção civil, como vigas caibro etc. A casca é (LORENZI, 2002); adstringente e empregada em curtumes. A espécie tem (PERES FILHO et características ornamentais. Recuperação de áreas al., 2000). degradadas. Utilizada como lenha e matéria prima de cercas além de ser empregada em curtumes. Devido a composição do tanino ser fenólica permite polimerização com formaldeído formando assim substancias adesivas. Babaçu Orbignya phalerata Arecaceae Alto poder calorífero; Fabricação de chapas de madeira aglomerada; A amêndoa serve como fonte de alimentação, em forma de doces, paçoquinhas, farinhas e ainda, quando verde fornece um leite nutritivo, e quando madura o óleo para o uso doméstico, fabricação de perfumes, sabões, sabonetes, lubrificantes, manteigas e velas. Bacuri Scheelea phalerata Arecaceae Madeira utilizada em construções rurais. Tanto o palmito, os (LORENZI, 2002) frutos, a polpa, e a amêndoa são comestíveis. A espécie é ornamental sendo utilizada em paisagismo. Barbatimão Dimorphandra wilsonii Fabaceae Madeira é indicada para embalagens, forros, painéis e (LORENZI, 2009) tabuado em geral. Espécie ameaçada de extinção. É utilizada em paisagismo e em reflorestamentos mistos. Bocaiuva Acrocomia aculeata Arecaceae Madeira utilizada em construções rurais. As folhas servem (LORENZI, 2002) como forragem e são transformadas em fibras têxteis para confecções de redes e linha de pesca. O fruto é consumido in natura ou usada na extração de gordura comestível. A amêndoa fornece óleo claro semelhante ao das oliveiras. É ornamental e utilizada em paisagismo. Importância 25 Fonte (LIMA et al., 2006); (LORENZI et al., 1996; LORENZI, 2002; BRANDÃO et al., 2002). ... Continuação Tabela 2 Nome Nome Científico Popular Spondias mombin Cajazinho Família Importância Fonte Anacardiaceae Madeira utilizada nas construções de pequenas (LORENZI, 2002) embarcações. Fruto amplamente comestível pela fauna, população e recomendada para reflorestamentos ecológicos. Cumbaru Dipteryx alata Fabaceae Madeira utilizada para construções de estruturas externas como estacas, postes, obras hidráulicas, cercas, mourões, carroças, cruzetas, dormentes, cochos de prensa, lenha e etc. Utilizada também na construção naval. A amêndoa é comestível, nutritiva e utilizada com fins medicinais. A árvore pode ser utilizada na arborização e paisagismo por proporcionar ótima sombra. Marmelo Alibertia edulis Rubiaceae Madeira recomendada para lenha e carvão. Os frutos são (LORENZI, 2009) comestíveis e utilizados em pomares domésticos. Árvore é utilizada em plantios mistos. Pata de Vaca Bauhinia ungulata Fabaceae A madeira é utilizada como estacas, mourões, construções (LORENZI, 2009) rusticas e para lenha. É indicada para recuperação de áreas degradadas. Timbó Magonia pubescens Sapindaceae A madeira é empregada na construção civil como caibros, (LORENZI, 2002) ripas, esquadrias e batentes. É utilizada como lenha e carvão. As sementes são utilizadas para compor arranjos florais secos. É indicada para arborização, paisagismo e recuperação de áreas degradadas. 26 (CARRAZZA e CRUZ E AVILA, 2010); (LORENZI, 2002); (PERES FILHO et al., 2000). 3.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA Para as análises dos dados da infestação de frutos/sementes foi utilizada a taxa de infestação (Ti) (equação 1), que relaciona o número de frutos/sementes predados (ou com sinal de infestação) e o total de frutos/sementes observados. Esta análise foi feita para a forma de coleta (pré-queda; pós-queda) (PINTO, 2007). Equação 1: = 100 Ti = Taxa de infestação (%); Ni = número de frutos/sementes infestadas; No = número total de frutos/sementes observa das. Os dados de crescimento e da taxa de infestação (Ti) dos frutos/sementes foram submetidos à análise multivariada pelo método de Cluster (Ward’s) para avaliação da similaridade entre os diferentes modos de coletas ao longo da frutificação dos frutos (CUARANHUA, 2010). O software utilizado foi o Past. 3.5 SEGMENTAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO Para identificar os diferentes ambientes de coletas foi realizado o processo de segmentação das árvores coletadas que obtiveram emergência de insetos. O processo de segmentação nada mais é do que uma ferramenta do Sistema de Informações geográficas (SIG) que utiliza de métodos que dividem uma imagem em vários segmentos por meio de parâmetros de entrada predefinidos, os pixels próximos são juntados aqueles que apresentam paridade em suas feições como: textura, forma, cor etc. (GAROFALO et al., 2015). Para a geração da carta imagem, usou-se o módulo ArcMap que faz parte do software ArcGis 10.3.1, o qual possibilitou a extração de informações e classificação de imagens com base em características espectrais, espaciais e de textura. Inicialmente, aplicou-se a segmentação da imagem em regiões homogêneas (GAROFALO et al., 2015). 27 Para o desenvolvimento da pesquisa, utilizou-se uma imagem do sensor OLI/LDCM (Landsat 8), órbita/ponto 227/71, com data de passagem do satélite em 3 de fevereiro de 2015, data próxima ao início das coletas. O sensor OLI, em órbita no LDCM, tem resolução temporal de 16 dias, resolução radiométrica de 12 bits, escalonados em seguida para 16 bits. Foram utilizadas as bandas 6 (R), 5 (G) e 4 (B) para montagem da imagem em falsa cor. A correção geométrica não foi empregada, isto devido as imagens georreferenciadas (GAROFALO et al., 2015). 28 já serem fornecidas 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 ANALISE QUALITATIVA E QUANTITATIVA A Família com maior número de frutos coletados foi Fabaceae com quatro espécies florestais, seguido da Arecaceae com duas espécies (Tabela 1). O Babaçu, Orbignya phalerata (Mart.) Barb. Rodr., destacouse pela maior diversidade da entomofauna associada, com 57,1% do total de espécies identificadas e também por conter a totalidade das Ordens de insetos coletadas na pesquisa. O Bacuri, Scheelea phalerata (Mart.) Burret, apresentou a menor diversidade de espécies de insetos, com nenhuma identificação taxônomica ao nível de espécie, juntamente com o Angico, Anadenanthera falcata (Benth.) Speg, e também com a menor quantidade de indivíduos emergidos. TABELA 3 – QUANTITATIVO DAS ESPÉCIES ENTOMOLÓGICAS IDENTIFICADAS. E.F. Ordem T.(%) Gênero T.(%) Espécies T. (%) Ind. T. (%) Angico 1 8,3 1 33,3 0 0,0 2 0,7 Babaçu 3 100,0 0 0,0 4 57,1 67 23,9 Bacuri 1 33,3 1 33,3 0 0,0 1 0,4 Barbatimão 1 33,3 0 0,0 2 28,6 34 12,1 Bocaiuva 1 33,3 0 0,0 1 14,3 29 10,4 Cajazinho 2 66,7 1 33,3 2 28,6 79 28,2 Cumbaru 1 33,3 1 33,3 1 14,3 14 5,0 Marmelo 1 33,3 1 33,3 0 0,0 14 5,0 Pata de Vaca 1 33,3 0 0,0 1 14,3 22 7,9 Timbó 1 33,3 0 0,0 1 14,3 18 6,4 E. F. - Espécie Florestal; T.- Total; Ind.- Indivíduos. Considerando os indivíduos de insetos não identificados ao nível de espécie, emergiram 399 espécimens dos frutos e sementes, conforme relatados na Tabela 4. Dando-se destaque para Lasioderma serricorne (Fabricius,1792) (Ordem: Coleoptera; Família: Anobiidae) com 146 indivíduos, representando 36,5% desse total. A menor quantidade 29 obtida foi de Dufauxia guaicurana (Lane, 1955) (Ordem: Coleoptera; Família: Cerambycidae) com apenas um indivíduo adulto, ou seja, 0,25% do total de indivíduos. Para os indivíduos não identificados as ordens Hymenoptera ,com cinco espécies, e Coleoptera, com quatro espécies, foram as mais expressivas numericamente, seguido pelas ordens Diptera, Hemiptera, Lepidoptera e Isoptera todas com um representante não identifico (Tabela 4). 30 TABELA 4 – ESPÉCIES, ORDEM, FAMÍLIA, SUBFAMÍLIA DE INSETOS, HOSPEDEIROS E QUANTIDADE DE INDIVÍDUOS. Hospedeiro Espécie Ordem Família SubFamília Angico Babaçu Babaçu Babaçu Babaçu Babaçu Babaçu Bacuri Barbatimão Barbatimão Barbatimão Barbatimão Bocaiúva Bocaiúva Cajazinho Cajazinho Lasioderma serricorne¹ Hypothenemus seriatus² Heterotermes longiceps³ Taeniaptera lasciva4 Dufauxia guaicurana5 sp.1 - ni sp.2 - ni Pachymerus sp.6 Lasioderma serricorne Hypothenemus seriatus sp.3 - ni sp.4 - ni Lasioderma serricorne sp.5 - ni Pachymerus sp. Lasioderma serricorne Coleoptera Coleoptera Isoptera Diptera Coleoptera Coleoptera Isoptera Coleoptera Coleoptera Coleoptera Coleoptera Coleoptera Coleoptera Hymenoptera Coleoptera Coleoptera Anobiidae Curculionidae Rhinotermitidae Micropezidae Cerambycidae Scarabaeidae Bruchinae Anobiidae Curculionidae Lyctidae Cucujidae Anobiidae Chrysomelidae Anobiidae Xyletininae Scolytinae Heterotermitinae Taeniapterinae Lamiinae Aphodiinae Pachymerinae Xyletininae Scolytinae Xyletininae Pachymerinae Xyletininae ¹ Figura 3A, ²Figura 3B, ³ Figura 3D, 4 Figura 4B, 5 Figura 4D, 6 Figura 4C e ni = não identificadas. 31 Quantidade de indivíduos 2 55 9 2 1 1 7 1 16 18 13 1 29 43 1 69 ... Continuação Tabela 4. Hospedeiro Espécie Ordem Família SubFamília Cajazinho Cajazinho Cajazinho Anastrepha obliqua7 Opius bellus8 Pachycrepoideus vindemmiae9 Amblycerus sp.10 sp.8 - ni sp.9 - ni sp.10 - ni Lasioderma serricorne Eubulus sp.11 sp.11 - ni sp.12 - ni Gibbobruchus cavillator12 Lasioderma serricorne sp.13 - ni Diptera Hymenoptera Hymenoptera Tephritidae Braconidae Pteromalidae Trypetinae - Coleoptera Coleoptera Hymenoptera Hemiptera Coleoptera Coleoptera Hymenoptera Hymenoptera Coleoptera Coleoptera Lepidoptera Bruchidae Lyctidae Eulophidae Anobiidae Curculionidae Chalcididae Chrysomelidae Anobiidae Pyralidae Bruchinae Xyletininae Cryptorhynchinae Bruchinae Xyletininae TOTAL Cumbaru Cumbaru Cumbaru Cumbaru Cumbaru Marmelo Marmelo Marmelo Pata de Vaca Timbó Timbó 32 Quantidade de indivíduos 9 3 23 2 1 2 4 12 14 1 2 22 18 18 399 FIGURA 3 – A: Lasioderma serricorne (Fabricius,1792); B: Hypothenemus seriatus (Eichhoff, 1872); C: Eubulus sp. e D: Heterotermes longiceps (Snyder, 1924). FIGURA 4 – A: Anastrepha obliqua (Macquart, 1835); B: Taeniaptera lasciva, (Fabricius,1798); C: Pachymerus sp. e D: Dufauxia guaicurana (Lane, 1955). 33 FIGURA 5 – A: Amblycerus sp.; B: Gibbobruchus cavillator (Fåhraeus, 1839); C: Opius bellus (Gahan, 1930) e D: Pachycrepoideus vindemmiae (Rondani, 1875). Foi possível constatar os danos de Anastrepha obliqua (Macquart, 1835) (Ordem: Diptera; Família: Tephritidae) no Cajazinho, Spondias mombin L., bem como o parasitismo dos seus ovos, mantidos em recipientes no laboratório, pela emergência dos adultos dos parasitóides Opius bellus (Gahan, 1930) (Ordem: Hymenoptera; Família: Braconidae) e Pachycrepoideus vindemmiae (Rondani, 1875) (Ordem: Hymenoptera; Família: Pteromalidae). Foram observados curculionídeos de diferentes espécies em frutos maduros caídos inteiros ou parcialmente consumidos por animais, abaixos da planta-mãe. Essa constatação ocorreu em Babaçu, destacando-se Hypothenemus seriatus (Eichhoff, 1872) pela quantidade de indivíduos. 34 Os bruquíneos, segundo Lomônaco (1994), preferem colocar seus ovos em frutos maiores, conforme também constatado em Cumbaru, Dipteryx alata Vog., de onde emergiram dois indivíduos de Amblycerus sp. Vale lembrar que espécies desta família são importantes predadores de sementes, alguns autores associaram a predação dessas espécies de insetos a outras espécies florestais como Enterolobium contortisiliquum o que interfere na germinação de suas sementes (LINK e COSTA, 1995; DONATO et al., 2010; SOUTHGATE, 1979). Em estudos realizados por Uchôa-Fernandes e Zucchi (2000) e Uchôa-Fernandes et al. (2002), as larvas de Neosilba spp. alimentam-se da polpa dos frutos, causando danos consideráveis. Apesar de ser espécie distinta da citada no parágrafo anterior, Anastrepha obliqua danificou grande parte da polpa de Cajazinho do Cerrado, deixando-as inutilizáveis para o consumo humano. Ao predarem as sementes e frutos, os insetos se deparam com as defesas naturais das plantas, que são compostos do seu metabolismo secundário, geralmente, os insetos que são mais generalistas sentem mais a ação destes compostos, e por isso são encontrados em menor quantidade predando apenas determinadas plantas. Já os insetos especialistas conseguem superar melhor esses compostos de defesa, e por isso são encontrados em maiores quantidades (CENTER e JOHNSON, 1974; ALVAREZ et al., 2006). Isso pode explicar a grande quantidade de insetos de Lasioderma serricorne presente em várias espécies florestais descritos na Tabela 2. O gênero Hypothenemus ocorre em vários lugares no mundo, com diferentes espécies associadas a uma ampla diversidade de plantas (PEDROSA MACEDO et al., 1985), cujos indivíduos de Hypothenemus seriatus predaram frutos de Babaçu (Orbignya phalerata) e Barbatimão, Dimorphandra wilsonii Rizzini. Segundo Lima et al. (2006), 15% do fruto de Babaçu é formado pelo epicarpo que é usado para fabricação de chapa de madeira aglomerada. Desta maneira, com o ataque desta espécie as propriedades físicas e mecânicas da madeira ficariam comprometidas e inutilizáveis nas regiões onde a madeira é beneficiada ou utilizada. 35 O gênero Hypothenemus foi observado também nos estudos realizados por Silva (2014) que verificou a ocorrência de Hypothenemus sp. nas espécies florestais: (Jatobá-do-Cerrado) - Hymenaea stigonocarpa, (Cumbarú) - Dipteryx alata e (Olho de boi) - Diospyrus obovata. Hypothenemus seriatus é listada em trabalho de Pérez-De la Cruz (2016) como tendo pré-disposição a atacar plantações de pimenta Tabasco. A mesma, foi registrada por Coyle et al., (2015) atacando Pinus taeda L. em plantio da cultura no estado da Carolina do Sul nos Estados Unidos. Campos et al. (1998) considerou a espécie de cupim Heterotermes longiceps (Snyder, 1924) (Ordem: Isoptera; Família: Rhinotermitidae) como uma das principais pragas da Cana-de-açúcar. Neste estudo foi encontrada predando a espécie florestal Babaçu. Ferro (2014) citou ocorrências de Taeniaptera lasciva, (Fabricius,1798) (Ordem: Diptera; Família: Micropezidae) em diversos Estados brasileiros, incluindo o de Mato Grosso, no município de Chapada dos Guimarães. Apesar da ocorrência em outra cidade do estado a espécie não fora citada na espécie florestal Babaçu objeto deste estudo. Mora (2012) também citou ocorrências de Dufauxia guaicurana no município de Cáceres em plantios de Teca, Tectona grandis. No entanto, não foram encontradas predando frutos de Babaçu. Assim para Hypothenemus seriatus, Heterotermes longiceps, Taeniaptera lasciva e Dufauxia guaicurana, registra-se pelos dados obtidos um nova fonte de alimento que é o Babaçu, Orbignya phalerata no município de Nossa Senhora do Livramento em Mato Grosso. Para Lasioderma serricorne registra-se novas fontes de alimentos para as espécies: Angico (Anadenanthera falcata), Barbatimão (Dimorphandra wilsonii), Bocaiúva (Acrocomia aculeata), Cajazinho (Spondias mombin), Cumbaru (Dipteryx alata) e Timbó (Magonia pubescens). Estudos conduzidos por Camargos et al. (2015) registra Anastrepha obliqua como praga de cafezais irrigados, no norte de Minas 36 Gerais. Zucchi et al. (2011) já registraram em Cajazinho (Spondias mombin), o mesmo inseto encontrado na mesma espécie florestal. No entanto, em Estados do norte do Brasil, desta forma, registra-se pela primeira vez a ocorrência Anastrepha obliqua no estado do Mato Grosso. Eubulus sp. também foi encontrado por Silva (2014) em Marmelo, Alibertia edulis (Rich.) A. Rich. ex DC., salientando a importância de insetos predadores de sementes em áreas de florestas tropicais, já que o consumo de sementes por insetos causam grandes perdas de plantas jovens, consequentemente, interferindo na dinâmica das populações de plantas (CRAWLEY, 2000). A consequência desta interferência pode ser o afunilamento genético das florestas tropicais, geralmente ocasionados pela exploração não autorizada onde a escassez de alimentos para a entomofauna é evidente. Estudos conduzidos por Spindola (2014) registraram uma espécie do gênero Eubulus sp. como praga da mandioca, em coletas realizadas nos meses de março e abril. Exatamente no mês de abril realizaram-se as coletas da espécie florestal Marmelo, na qual o inseto foi descoberto. Isto pode indicar um pico de ataque que ocorre entre os meses de março e abril, no entanto novos estudos devem ser realizados para verificar tal sazonalidade. A espécie Gibbobruchus cavillator (Fåhraeus, 1839) (Ordem: Coleoptera; Família: Chrysomelidae) tem hábito de predação de sementes de Caesalpinioideae (WHITEHEAD E KINGSOLVER,1975; SILVA E RIBEIRO-COSTA, 2008). No presente estudo, a espécie predou Bauhinia ungulata que é da mesma família citada, confirmando a preferência do inseto em predar frutos e sementes das plantas dessa família. A Ordem Coleoptera apresentou o maior resultado com 69,17% dos insetos coletados, (Figura 6). Nos estudos realizados por Rodrigues (2013), a mesma ordem apresentou 69% dos insetos presentes nas plantas hospedeiras, isso pode ser explicado pelo fato de muitas espécies da Ordem Coleoptera consumirem sementes e produtos armazenados (PEREIRA e SALVADORI, 2006). Seguidas das Ordens Hymenoptera com 17,79% e Lepidoptera com 4,51%. Na pesquisa realizada por 37 Cuaranhua (2010), emergiram apenas a Ordem Coleoptera, isso pode ser explicado pela diversidade de espécies florestais estudada que no caso foi de apenas uma. 80% 70% 69,17% 60% 50% 40% 30% 17,79% 20% 10% 3,51% 1,00% 4,01% 4,51% Isoptera Lepidoptera 0% Coleoptera Diptera Hemiptera Hymenoptera Autor: Josamar Junior, 2016. FIGURA 6 – PERCENTUAL DAS ORDENS EMERGENTES. As maiores quantidades de insetos foram obtidos dos frutos coletados diretamente na planta (pré – dispersão) (Figura 7). Isso pode ter ocorrido em decorrência da competição com a fauna nos períodos de coleta devido aos animais serem consumidores de frutos caídos no solo. Por ser uma propriedade que tem a pecuária como atividade principal, muitas vezes o gado adentrava em alguns fragmentos para se beneficiar da sombra e também se alimentarem dos frutos sobre o solo. 38 75,65% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 24,35% 20% 10% 0% pré-queda pós-queda Autor: Josamar Junior, 2016. FIGURA 7 – PERCENTUAL DE INDIVÍDUOS DIFERENTES TIPOS DE COLETAS REALIZADAS. OBTIDOS NOS 4.2 ANALISE DA SEGMENTAÇÃO DA REGIÃO DE COLETA Utilizando técnicas de segmentação foi possível saber a classificação do local que os frutos foram coletados e, posteriormente, sofreram emergência de insetos e foi gerada uma carta imagem (Figura 8). Os ambientes classificados foram Cerradão, pastagem, solo exposto, campo sujo e água com respectivas espécies florestais listadas na tabela 5. As formações vegetais, compostas por remanescentes florestais de Cerrado foram classificadas como Cerradão e Campo Sujo conforme classificação de Coutinho (1978). A atividade pecuária foi representada por cultivos de pastagens. A presença de água foi representada por lâminas d’água naturais e artificiais, já que próximo a área de coleta existem apenas rios efêmeros, ou seja, são rios que estão acima do lençol freático e surgem temporariamente, servindo exclusivamente para escoar a água da chuva. O solo exposto serviu para representar o pasto degradado, propriedades da região. 39 geralmente, encontrados nas FIGURA 8 – SEGMENTAÇÃO DA REGIÃO DE COLETA. 40 TABELA 5 – RESULTADO DA SEGMENTAÇÃO. Espécies Florestais Classificação Angico Água e Campo Sujo Babaçu Campo Sujo Bacuri Campo Sujo Barbatimão Pastagem e Solo exposto Bocaiúva Campo Sujo Cajazinho Pastagem e Campo Sujo Cumbaru Pastagem e Campo Sujo Marmelo Pastagem e Campo Sujo Pata de Vaca Solo exposto Timbó Solo exposto A ambiente Campo Sujo foi o mais rico em espécies florestais que produziram frutos nos períodos de coleta (Tabela 5) e também com maior quantidade de espécies e indivíduos de insetos coletados (Tabela 4). Ribeiro-Costa et al. (2011) observaram a presença de Gibbobruchus cavillator em campo cerrado em Bauhinia sp.. No trabalho a mesma espécie foi obtida em Bauhinia ungulata, no ambiente solo exposto. Esses autores também observaram que G. cavillator atacou apenas sementes de frutos que ainda não tinham sido dispersos, fato similar ao ocorrido no presente estudo. Por se tratar de ambientes bem distintos pode-se levantar a hipótese de que G.cavillator dá maior importância à busca do seu hospedeiro do que ao ambiente em que este se encontra. Todavia, essa hipótese necessita ser mais bem estudada, para a sua constatação. 41 4.3 ANALISE DA TAXA DE INFESTAÇÃO TI (%) Usando a análise multivariada pelo método de Cluster (Ward’s) para avaliação da taxa de infestação (Ti %) em comparação aos frutos/sementes das espécies florestais coletadas dos dois tipo de coleta pré ou pós queda, chegou-se ao resultado para o tipo de coleta pré-queda que o grupo formado pelas espécies: Cumbaru, Barbatimão, Marmelo, Babaçu e Cajazinho, obtiveram uma taxa de infestação similar. Porém, diferente do grupo formado por Angico, Bacuri, Bocaiúva, Timbó, Magonia pubescens St. Hil. e pata de vaca, Bauhinia ungulata L. (Figura 9). FIGURA 9 – MÉTODO CLUSTER, PARA TAXA DE INFESTAÇÃO (TI %) E FRUTO/SEMENTES DE ESPÉCIES FLORESTAIS PARA SITUAÇÃO DE COLETA PRÉ-QUEDA. Pesquisas em florestas tropicais mostraram que a predação de sementes, pré-dispersas por insetos, foi elevada em frutos que se encontravam próximos da planta mãe, em grande quantidade no solo, local este que é utilizado para deslocamento de alimentos dos insetos 42 predadores e podendo inclusive ser eficientes dispersores de sementes (SHEPHERD e CHAPMAN, 1998). Na análise da taxa de infestação para a situação de coleta pósqueda o grupo formado pelos frutos das espécies Pata de Vaca, Timbó, Bacuri, Barbatimão, Cumbaru e Marmelo, constatou-se taxa de infestação nula. Fato este não evidenciado para o grupo formado por Angico, Bocaiúva, Babaçu e Cajazinho (Figura 11). FIGURA 10 – MÉTODO CLUSTER PARA TAXA DE INFESTAÇÃO (TI %) E FRUTO/SEMENTES DE ESPÉCIES FLORESTAIS PARA SITUAÇÃO DE COLETA PÓS-QUEDA. O aumento da taxa de infestação é explicado por Sakai (2001), que atribui este tipo de comportamento à sazonalidade na produção de frutos, promovido pela adaptação e a um tipo de sincronização dos predadores, ao ciclo de desenvolvimento dos frutos a serem predados. O autor salientou que esta sazonalidade na produção é caracterizada na maioria das plantas, mas é mais evidente nas espécies de regiões temperadas. Este fato pode explicar o fato das espécies Babaçu e do 43 Cajazinho estarem no mesmo grupo, pois foram as que obtiveram os maiores valores de Ti (%), isto quer dizer que o pico da produção dessas espécies deu-se no mês de fevereiro, período que foi realizada a coleta. 4.4 ANALISE DOS DANOS POR TIPOS DE COLETA Nos frutos coletados em situação de pré-queda (Figura 11) observou-se uma similaridade entre os números de sementes com orifícios e as sementes que se encontravam sadias (Figura 12 C e D). Isso pode ser explicado devido pelo fato da semente perder água no decorrer do tempo, prejudicando a alimentação de muitos insetos devido ao fruto ficar com baixo teor de umidade. FIGURA 11 – GRUPOS DE SIMILARIDADES DE PROVOCADOS EM SITUAÇÃO DE COLETA PRÉ-QUEDA. 44 DANOS FIGURA 12 – A: FRUTO SADIO DE BOCAIÚVA; B: FRUTO DANIFICADO DE BOCAIÚVA; C: FRUTO SADIO DE CAJAZINHO E D: FRUTO DANIFICADO DE CAJAZINHO. Mattos (2011) cita Gibbobruchus cavillator como predador de sementes de Bauhinia sp. na fase pré-dispersão inclusive com alta taxa de sementes atacadas. Este fato ocorreu neste estudo onde a espécie atacou apenas frutos e sementes na fase pré-dispersão e não foram encontradas sinais de ataques na fase pós-dispersão, confirmando o que foi dito por pelo autor como sendo um predador pré-dispersão, desta forma, caso seja necessário um combate futuro para esta espécie de inseto tal informação deve ser considerada no planejamento do manejo integrado de pragas para se obter sucesso no combate. Algumas amostras de frutos coletados acondicionados no laboratório foram atacadas por fungos, possivelmente advindo do campo. Existe a possibilidade da taxa de infestação ter sido influenciada pela 45 contaminação por fungos de alguns frutos, este fato também foi constatado por Cuaranhua (2010). Já para coleta pós-queda (Figura 13), observou-se uma diminuição brusca no número de sementes, hipótese já descrita neste texto em tópicos anteriores. No entanto, os resultados assemelham-se a situação da coleta pré-queda, para a situação do número de sementes com orifícios (Figura 14) e número de sementes sadias. Em outro grupo de similaridade tem-se o número de sementes com insetos e com danos na mesma proporção (Figura 13). FIGURA 13 – GRUPOS DE SIMILARIDADES DE PROVOCADOS EM SITUAÇÃO DE COLETA PÓS-QUEDA. 46 DANOS FIGURA 14 – A: ORIFÍCIO DE SAÍDA NO FRUTO DE BABAÇU; B: ORIFÍCIO DE SAÍDA NO FRUTO DE MARMELO; C: ORIFÍCIO DE SAÍDA NO FRUTO DE CUMBARU E D: ORIFÍCIO DE SAÍDA NO FRUTO DE BARBATIMÃO. A avaliação da taxa de infestação (ti %) dos frutos/sementes permite afirmar que a ocorrência de sinais de infestação: orifícios e galerias e a murcha dos frutos, foram de maneira geral mais elevadas que a presença de insetos predadores. Os curculionídeos podem causar grandes danos às sementes e frutos, isto devido ao consumo do embrião por suas larvas durante a sua fase de desenvolvimento em diferentes espécies florestais e intensidade de ataque (LEWINSOHN, 1980; AULD, 1986; SANTOS, et al. 2001, ZIDKO, 2002). Este fato pode ser confirmado para o inseto do gênero Eubulus sp. que predou a espécie florestal Marmelo, cujo dano provocado foi similar ao relatado. 47 5. CONCLUSÕES Das espécies estudadas, o Babaçu é a de maior importância por manter a maior diversidade da entomofauna; A herbivoria dos frutos, no pós-queda, impossibilitou determinar em qual situação, em relação ao pré-queda, poderia se obter maior quantidade de insetos; Gibbobruchus cavillator foi obtida apenas na fase de pré-dispersão, caracterizando o seu ataque apenas nas vagens de Bauhinia ungulata, subsidiando o eventual controle desse inseto, quando os frutos ainda estão nas árvores; Pelo fato das espécies Heterotermes longiceps e Hypothenemus seriatus ocorrerem na região da área de estudo, e por serem consideradas pragas de culturas anuais e perenes de diversas culturas agrícolas e florestais, a região da área de estudo deve ser considerada como passível ao ataque destas pragas. 48 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSEN, A. N. Insect seed predators may cause far greater losses than they appear to. Oikos, v. 52, p. 337 340, 1988. 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