A EVOLUÇÃO DO PRODUTO INTERNO BRUTO BRASILEIRO ENTRE 1993 E 2009 Francielle Camila Santos Ribeiro Jaqueline Teleginski Jodson Henrique de Souza Renata Maciel Gugelmin INTRODUÇÃO A produção global de bens e serviços de um país é mensurada através do Produto Interno Bruto (PIB). No cômputo da produção total são descontados os gastos com insumos utilizados no processo produtivo durante o exercício econômico. Essa produção é medida com a soma do total do valor adicionado bruto gerado por todas as atividades econômicas do país que abrange os setores agropecuário (agricultura, extração vegetal e pecuário), industrial (extração mineral, transformação, serviços industriais de utilidade pública e construção civil) e serviços (comércio, transporte, comunicação, serviços da administração pública e outros serviços). O PIB é medido pelo IBGE de acordo com a metodologia proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU), levando em consideração levantamentos e sistematizações de informações primárias e secundárias necessárias. Neste artigo serão discutidos os principais aspectos determinantes da trajetória do PIB brasileiro a partir do ano de 1993. A MARCHA DO PIB ENTRE 1993 E 2009 TABELA 1: Brasil – Produto Interno Bruto 1993-2009 Ano Em R$ bilhões correntes Taxa de crescimento (%) 1993 14,1 4,9 1994 349,2 5,9 1995 705,6 4,2 1996 844,0 2,2 1997 939,1 3,4 1998 979,3 0,0 1999 1.065,0 0,3 2000 1.179,5 4,3 2001 1.302,1 1,3 2002 1.477,8 2,7 2003 1.700,0 1,1 1 Vitrine da Conjuntura, Curitiba, v.3, n. 5, julho 2010 | 2004 1.941,5 5,7 2005 2.147,2 3,2 2006 2.369,8 4,0 2007 2.661,6 5,7 2008 3.004,9 5,1 2009 3.143,0 -0,2 FONTE: IBGE/IPEA/BANCO CENTRAL A tabela 1 permite compreender que, durante a década de 1990 os resultados apresentados do Produto Interno Bruto (PIB) tiveram oscilações significativas. Nos anos que antecederam 1994, a variação do PIB brasileiro foi negativa, decorrente do turbulento cenário de hiperinflação e instabilidade. A partir de 1994, com a adoção do Plano Real – considerado um dos mais bem-sucedidos planos de estabilização da economia brasileira –, o país conseguiu se restabelecer, livrando-se da indexação da economia, resultando na redução considerável dos exagerados níveis inflacionários. Em contrapartida, a suscetibilidade externa aumentou devido à elevação da taxa de juros e ao câmbio “sobredesvalorizado”. Tal fato cerceou o crescimento econômico, agravando o problema das contas públicas. De acordo com a tabela acima observa-se a melhora no quadro econômico de 1993 para 1994, com a elevação do PIB em 1%, devendo-se principalmente aos reduzidos índices de inflação a partir de julho de 1994, revelando saldos positivos para a produção e para o consumo. Segundo informações do DIEESE (2010), os índices econômicos do primeiro semestre de 1994 apresentaram picos de inflação, quedas da massa salarial e estagnação do nível da atividade econômica. No semestre seguinte, houve uma reversão gradual desta tendência, pois neste período a implementação do Plano Real estava praticamente concluída na economia. O sucesso da implantação do Plano Real teve como principal elemento a mudança do regime cambial, uma vez que garantiu a estabilidade do nível de preços internos. O PIB fechou em 5,9% em 1994 e o setor industrial apresentou expansão de 7%. A agropecuária mostrou crescimento ainda maior, de 7,6% confirmado pela safra recorde de cerca de 80 milhões de toneladas de grãos. O setor de serviços cresceu 4%, menos que os outros setores, o que se explica, em parte, pelo efeito de desaparecimento do ganho inflacionário, que antes contribuía para o grande desenvolvimento de recursos no sistema financeiro. (MARQUES, 2006, p. 236) 2 Vitrine da Conjuntura, Curitiba, v.3, n. 5, julho 2010 | De 1994 para 1995, a taxa de crescimento do PIB foi negativa. Esta variação foi reflexo principalmente da crise mexicana, que impactou no fluxo de capitais dos país emergentes, assim como o Brasil. De acordo com Marques (2006), no primeiro trimestre de 1995, a economia manteve-se em expansão, apresentando uma taxa de crescimento (ajustada sazonalmente) de 3,1% em relação aos últimos três meses do ano anterior. Entre junho de 1994 e março de 1995, a produção industrial mostrou uma elevação de 15,5%. Até março de 1995, a produção de bens duráveis era o maior responsável pelo crescimento industrial. Por outro lado, o setor de bens de capital possuía grande representatividade na ampliação da capacidade de oferta da economia, atingindo 27,2% de crescimento. A queda abrupta da inflação ocasionou efeitos expressivos sobre o poder de compra da população. Paralelamente, o acréscimo salarial aliado ao aumento do nível de emprego estimulou o consumo. Os dados do comércio do Estado de São Paulo apontam que o Real foi bastante impactante sobre o consumo. “O faturamento cresceu quase 18% em março de 1995 em relação a março de 1994 e registrou-se elevação de 57,6% nas vendas do setor de bens duráveis no mesmo período” (MARQUES, 2006, p. 236). Portanto, de um ano para o outro, as vendas de automóveis, eletrodomésticos da linha branca e outros produtos duráveis cresceram mais de 50%. Por isso, o Brasil passou a adotar algumas medidas restritivas – aumento dos empréstimos compulsórios, restrições de crédito e juros altos – que sacrificaram os níveis de crescimento atingidos no início de 1995. Tal medida foi utilizada a fim de amenizar os déficits na balança comercial e prevenir uma eventual inflação de demanda. O Brasil termina 1996 com a taxa de crescimento do PIB negativa em relação a 1995. Este resultado foi reflexo, principalmente do déficit nas contas públicas, originado pelo saldo negativo da balança comercial e pelo desemprego. Ao longo dos últimos anos, a queda de participação relativa ao setor industrial e agropecuário no produto interno bruto (PIB) foi compensada pela expansão relativa do setor de serviços. “A partir do começo de 1995, o desaquecimento econômico acarretou a exclusão de postos, especialmente na indústria.” (DIEESE, 2010). Além disso, em 1996, o setor terciário perdeu grande parte de seu dinamismo, baixando expressivamente o taxa de crescimento do PIB em relação aos anos anteriores. O período de 1997 a 2000 foi bastante marcante no governo de Fernando Henrique Cardoso, pois neste período a país passou por duas crises que impactaram diretamente no cenário econômico nacional. A primeira delas foi a Crise Asiática, ocorrida em 1997. No ano seguinte a Crise da Rússia, seguida pela Crise Brasileira em 1999. 3 Vitrine da Conjuntura, Curitiba, v.3, n. 5, julho 2010 | A Crise Asiática teve início na Tailândia. Os países denominados Tigres Asiáticos foram atingidos por um momento de desvalorização cambial, perda de reservas e seguidas reduções nas suas bolsas de valores. Com isso, esses países passaram a sofrer com as incertezas políticas e também com problemas financeiros, o que levou a especulação das moedas locais e a perda de suas reservas. Os reflexos dessa crise foram percebidos também nas economias dos países emergentes, dentre elas a do Brasil, que em outubro de 1997 registrou uma drástica queda na Bolsa de Valores de São Paulo. Com essa incerteza na economia nacional, houve também tentativa eminente de especulação do Real, conforme ocorrido na crise que atingiu o México, fazendo com que as reservas brasileiras, que estavam elevadas, sofressem uma grande redução. Para tentar corrigir esse momento desfavorável da economia, foi adotada uma elevação da taxa de juros, praticamente o dobro. Com esse aumento dos juros, o Brasil conseguiu minimizar os impactos dessa crise, porém, como consequência, ocorreu uma diminuição da produtividade e um aumento do desemprego. Após esse período de turbulência, a taxa de juros voltou a “normalidade”. Em 1997, foi possível observar o aumento da dívida externa brasileira, quando o déficit em conta corrente foi de quase 4% do PIB. Apesar da instabilidade econômica mundial vivida, o Brasil apresentou um aumento de 3,4% no seu PIB. O PIB de 1998, apontou que o país não cresceu, ficou estagnado, fato plenamente justificado pela crise que ocorrera na Rússia. Os sintomas dessa anormalidade econômica impactaram diretamente na economia nacional. O PIB Brasileiro, em 1998, fechou em 0,00%. A crise que atingiu os países asiáticos em 1997 foi um dos fatores que contribuiu para a eclosão da crise russa. O país apresentou déficit externo muito elevado e anunciou moratória e desvalorização da moeda. O governo russo não conseguia mais pagar os salários, o que causou grandes manifestações da população. A taxa de desemprego disparou, fazendo com que grande parte da sociedade ficasse na miséria. Com essa desvalorização cambial, houve crescente redução na bolsa de valores, diminuindo assim os investimentos internacionais e também a defasagem de suas reservas, perdendo muito capital. Os reflexos dessa crise foram plenamente verificados no Brasil, pois como já presenciado nas crises mexicana e asiática, o remédio adotado pelo país foi a elevação da taxa de juros. O Brasil elevou sua taxa de juros a 42%, porém o efeito esperado, de estabilizar a economia, não aconteceu. Novamente o Real foi alvo de especulação, fazendo com as reservas cambias do país tivessem queda acentuada e as exportações brasileiras foram muito comprometidas. Já pensando no próximo mandato, no final de 1998, o governo FHC buscou realizar um acordo com o FMI para que o ano seguinte não fosse comprometido. 4 Vitrine da Conjuntura, Curitiba, v.3, n. 5, julho 2010 | Em 1999, o PIB nacional não teve um desempenho considerável, a taxa de crescimento foi de 0,3%, resultado devido a uma nova crise que ocorreu no país, a crise brasileira, que adotou uma política de desvalorização do Real, pois a queda acentuada das reservas no ano anterior forçou o país a acabar com a estabilidade monetária. O câmbio deixou de ser fixo e passou a ser flutuante. Os efeitos dessa desvalorização da moeda fizeram com que o preço dos produtos importados apresentassem incrementos significativos. Com essa elevação dos preços, aliado à adoção de elevação da taxa de juros, o país não conseguiu atingir um patamar satisfatório de crescimento. Já no ano 2000, o Brasil voltou a apresentar uma aceleração do crescimento, o PIB cresceu 4,3%. O aquecimento da economia estava relacionado com a diminuição das taxas de juros, imposta rigidamente para ficar no patamar de 15% no ano anterior, o grande período em que o Real manteve-se estabilizado nos anos anteriores e com a recuperação da confiança, consequência do comprimento do acordo com FMI. O ano de 2001 foi marcado por uma desaceleração econômica, a taxa de crescimento do PIB foi de apenas 1,3%. Isso aconteceu devido à crise energética vivenciada pelo país e pela insegurança nos mercados externos, provocados pela crise da Argentina e pelos atentados terroristas contra os Estados Unidos. Com isso, o mercado de câmbio passou por algumas oscilações, na qual o Real sofreu uma depreciação média de 28,3% ao ano e a taxa cambial variou de R$1,95/US$, em Janeiro para R$2,36/US$ em Dezembro. Apesar disso, o impacto da desvalorização cambial sobre os preços não foi tão acentuado, o IPCA cresceu 6,8% no ano, justificado pela diminuição da demanda do consumidor e pela paralisação do mercado de trabalho, em relação a novas contratações e a rentabilidade real. Além disso, a crise energética também impactaria o nível de preços, e assim, o país operou com uma política monetária retrativa, através do aumento da taxa básica de juros e dos depósitos compulsórios, para permanecer dentro da meta inflacionária. O colapso energético ocorrido no Brasil neste período comprometeu o fornecimento e distribuição de energia elétrica do país. Esta crise interna, que obrigou os brasileiros a racionar energia, aconteceu por dois principais motivos: a pequena quantidade de chuva, que deixou inúmeras represas vazias, e pela carência de planejamento e de investimento, tanto na geração como na distribuição da energia elétrica. Em 2001, a economia da Argentina, que estava atrelada ao câmbio fixo, no qual um peso era equivalente a um dólar, tentou negociar suas dívidas, porém só aprofundou ainda mais a crise. Em dezembro, o país declarou a moratória de sua dívida, neste mês, o Presidente 5 Vitrine da Conjuntura, Curitiba, v.3, n. 5, julho 2010 | Fernando de La Rua renunciou, e em seguida, outros quatro presidentes assumiram o cargo e renunciaram em 12 dias. A taxa de crescimento em 2002 foi de 2,7%, ocasionada devido a vitória nas eleições presidenciais do país pelo candidato de oposição, Luiz Inácio Lula da Silva, que trouxe incerteza quanto à sustentação da política econômica, o chamado risco-Lula, nome que faz alusão ao risco-país. O risco-país tenta medir a instabilidade econômica em um país e assim o risco que você assume ao investir nele, quanto maior, menores serão as chances de atrair investidores estrangeiros. Esse fator, aliado à degradação da economia e da política da Argentina, resultou na queda do fluxo de capitais e aumentou risco dos países emergentes, pelo provável ataque ao Iraque pelos EUA, que provocou instabilidade nos preços internacionais do petróleo e afetou os preços internos de seus derivados. Em consequência desses fatores, o aumento da taxa cambial não só continuou como passou a influenciar os preços internos e elevar a dívida pública, pois parte dela estava acoplada à moeda estrangeira, terminando o ano com a cotação de R$3,63/US$ e com uma depreciação de 52% do Real. Mesmo com a moeda depreciada e com o aumento da inflação, o Banco Central decidiu reduzir para 18% a taxa Selic em julho, agosto e setembro, porém no em outubro teve início um aumento sucessivo da taxa, concluindo o ano em 25%. Em 2002, o que aumentou o nível desta taxa foi o risco-Lula, que trouxe insegurança quanto à política econômica que iria empregar. Em 2003 o governo adotou política fiscal e monetária contracionista, fazendo com que a taxa de crescimento do PIB voltasse a desacelerar e alcançasse a marca de 1,1%. A insegurança do período foi caracterizada pelo aumento do risco-país, pela depreciação da taxa de câmbio, pela saída de capitais e pela queda do crédito internacional. Com o objetivo de controlar a inflação, o governo optou por aumentar a taxa Selic para 26,5% ao ano em fevereiro, mantendo-a assim até junho. Esta política econômica resultou em maior confiança dos mercados e na baixa do câmbio, que passou de R$3,59/US$ em fevereiro para R$2,93/US$ ao final do ano. Com a apreciação do câmbio e com ferramentas monetárias restritivas, o governo conseguiu obter certo controle sobre a inflação e assim voltou a diminuir a taxa básica de juros. Mesmo assim, a inflação acumulada do período alcançou 9,3% (IPCA). O ano de 2004 foi marcado pela retomada do crescimento do PIB brasileiro, alcançando a taxa de 5,7%. Com um ambiente externo favorável e o contínuo aumento do saldo da balança comercial, a taxa de câmbio voltou a valorizar-se. Além disso, a queda da inflação, a partir da metade do ano de 2003, fez com que o Banco Central reduzisse a meta da taxa Selic em 10 pontos percentuais, atingindo, em janeiro de 2004, 16,5% a.a. 6 Vitrine da Conjuntura, Curitiba, v.3, n. 5, julho 2010 | De janeiro a abril, o Comitê de Política Monetária (COPOM) decidiu diminuir a taxa Selic em meio ponto percentual para prorrogar o crescimento econômico e o pequeno nível da inflação. Porém, no segundo semestre, o aumento da pressão inflacionária acarretou um aumento desta taxa, que passou para 17,5% ao ano. Em 2005, o país apresentou crescimento de 3,2%, desempenho menor que o verificado em 2004, devido à desaceleração dos investimentos, da indústria de transformação e da agropecuária. Segundo Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE, este resultado foi puxado pelo consumo das famílias, influenciado principalmente pelo aumento do crédito e dos salários reais, da ordem de 3,1%, enquanto que o gasto do governo cresceu 1,6% em relação ao ano anterior. De acordo com o IBGE, a participação dos componentes da demanda, no resultado do PIB deste ano, foi de 55,5% consumo das famílias, 20,6% investimento, 19,5% consumo do governo e exportações líquidas de 4,4%, sendo que as exportações contribuíram com 16,8%, contra 18,0% de 2004, queda justificada pela apreciação do Real frente ao dólar, enquanto as importações alcançaram 12,4%, contra 13,4% em 2004. Os investimentos registraram alta de apenas 1,6%, em relação a 2004, pois a crise de confiança, motivada pelas incertezas quanto às políticas do governo, fez com que empresários e consumidores adiassem projetos para 2006. A taxa de juros mais elevadas e o câmbio contribuíram com esse resultado. A participação setorial no valor adicionado foi da ordem de R$ 145,8 bilhões para a agropecuária, redução na participação de 1,70% em relação a 2004, totalizando 8,4% do PIB 2005. A indústria e os serviços apresentaram desempenhos positivos, 40% e 57%, respectivamente. O PIB per capita a preços correntes, definido como a divisão do total do PIB a preços correntes pela população residente atingiu R$ 10.520,00 em 2005. Para o ano de 2006, o crescimento registrado foi de 4,0%, pequena recuperação frente a 2005. O PIB per capita apresentou crescimento real de 1,4% e o consumo das famílias 3,8% ante 2005. Com base em dados do IBGE, o setor agropecuário cresceu 3,2% em 2006, a indústria brasileira avançou 3%, puxada pela indústria extrativa mineral (5,6%) e pela construção civil (4,5%). O ano foi marcado pelos reflexos da crise do agronegócio iniciada em 2005, determinada pela ausência de investimentos e de incentivos por parte dos governos e, pela preocupação mundial com a gripe do frango, febre aftosa, transgênia, que comprometeram as exportações brasileiras do setor. 7 Vitrine da Conjuntura, Curitiba, v.3, n. 5, julho 2010 | O resultado de 2007 mostra crescimento de 5,7%, conquistado pela recuperação do setor do agronegócio, atividade que apresentou o maior crescimento no ano com 5,3%, baseado no bom desempenho da lavoura de trigo, algodão herbáceo, milho em grão, cana e soja. O bom desempenho da economia também foi motivado pelo volume de investimentos (16,0%). A indústria cresceu 4,9%, com destaque para a indústria de transformação com participação de 5,1%, e da construção civil 5,0%, enquanto o setor de serviços apresentou alta de 4,7% em relação a 2006, desempenho determinado pelo subsetor de intermediações financeiras e seguros (13,0%), seguido por serviços de informações (8,0%) e comércio (7,6%). O PIB cresceu 5,1% em 2008, enquanto o PIB per capita cresceu 4,0% em relação a 2007. A taxa de investimento de 2008 chegou a 18,5% - a mais alta da série iniciada em 2000. Comparando o quarto trimestre de 2008 com o terceiro, o PIB apresentou queda de 3,6%, se comparado ao mesmo período de 2007 a economia brasileira registrou expansão de 1,3%. Os modestos resultados do último trimestre do ano foram motivados pela precipitação da crise mundial, iniciada nos Estados Unidos, que foi negligenciada pelo governo brasileiro, que se limitou a reduzir os depósitos compulsórios e preferiu não alterar a taxa Selic. A indústria foi o setor que mais padeceu, registrando queda de 7,4%, enquanto a agropecuária e serviços apresentaram resultados de – 0,5% e – 0,4%, respectivamente no período. De acordo com o relatório trimestral do IBGE, dos componentes da demanda interna, a Formação Bruta de Capital Fixo teve a maior queda (-9,8%, o maior recuo da série), seguida pela Despesa de Consumo das Famílias (-2,0%), sendo que essa taxa não é negativa desde o segundo trimestre de 2003 (-1,2%). Já a Despesa de Consumo da Administração Pública variou 0,5%. Pelo lado do setor externo, as Exportações de Bens e Serviços caíram 2,9% e as Importações de Bens e Serviços decresceram 8,2%. A primeira vez que houve queda nessa taxa desde o terceiro trimestre de 2005 (-0,5%). Em 2009, a variação do PIB ficou em - 0,2%, totalizando R$ 3.143 bilhões. Os resultados setoriais também apresentaram queda, sendo o pior desempenho da indústria - 5,5%, no qual todos os subsetores apresentaram queda, com destaque para a indústria e transformação (7,0%) e construção civil (-6,3%). O agronegócio recuou – 5,2%, devido à redução da produção de trigo, milho, café e soja. O setor de serviços apresentou alta de 2,6%. Os componentes da demanda interna agregada apresentaram valores positivos para consumo das famílias (4,1%) e gastos do governo (3,7%), enquanto que a formação bruta de capital fixo recuou 9,9%. A renda per capita caiu em 1,2%, ficando em R$ 16.414,00, resultado maior que em 2008, devido à baixa taxa de crescimento da população (0,99%) e não ao desempenho da economia. 8 Vitrine da Conjuntura, Curitiba, v.3, n. 5, julho 2010 | A taxa de investimento recuou para 16,7%, resultado diretamente relacionado à crise de confiança, que rondava a economia mundial no primeiro semestre de 2009, “recessão pronunciada, acontecida no 1º semestre do ano, reflexo da penetração da crise internacional no front doméstico, que atingiu de forma profunda os ramos mais articulados ao comércio externo, pela via perversa da diminuição da demanda, dos preços e do crédito”. (LOURENÇO, 2010). No segundo semestre, a economia se recuperou, em função do bom desempenho do mercado interno aquecido pelas reduções do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para automóveis, eletrodomésticos da linha branca e materiais de construção, e da pequena melhora apresentada pelo comércio internacional. O PIB do primeiro semestre, se comparado ao mesmo período de 2008, recuou 1,9% e, no segundo período de 2009, apresentou alta de 1,5%, seguindo a mesma base comparativa. Por certo, o retardo no reconhecimento da instabilidade, e a deflagração de iniciativas localizadas para revertê-la, afetou o timing do alcance dos resultados. Mas, a reação econômica pode ser confirmada pela expansão do PIB de 1,5% no 2º semestre, frete a idêntico intervalo do ano antecedente, e 1,4%, 1,7% e 2,0%, no 2º, 3º e 4º trimestre, respectivamente, contra os três meses imediatamente anteriores. (LOURENÇO, 2010). As medidas para mitigação dos efeitos da crise foram intensificadas entre 2008 até meados de 2009, período no qual a política monetária promoveu uma diminuição gradativa na taxa Selic de 13,75% a.a. em dezembro/2008 para 8,75 a.a. em julho/2009. Portanto, a recuperação demonstra que as medidas adotadas pelo governo promoveram a reação econômica, fazendo com que o Produto Interno Bruto crescesse nos últimos seis meses do ano anterior. CONCLUSÕES A análise da variação do Produto Interno Bruto (PIB) retrata o desempenho econômico do Brasil, visto que este indicador engloba a dinâmica de todos os setores da economia e toda renda por eles gerada. O crescimento de uma economia é influenciado por inúmeras variáveis que devem ser observadas e interpretadas criteriosamente com a finalidade de se conseguir determinar quais delas são realmente responsáveis pela variação dos indicadores. Para analisar um determinado indicador é necessário procurar conhecer os acontecimentos que influenciam sua variação ou que provocaram profundas alterações, como as crises econômicas, guerras e desastres ambientais. É importante também atentar para o cenário e os agentes econômicos envolvidos no processo, para que a realização das escolhas sejam bem definidas. 9 Vitrine da Conjuntura, Curitiba, v.3, n. 5, julho 2010 | No presente estudo, buscou-se levantar os fatos relevantes que marcaram o crescimento do país em alguns anos e a recessão em outros. Pode-se perceber que o maior crescimento do PIB brasileiro foi registrado em 1994, quando atingiu 5,9%, em decorrência da forte expansão do consumo após a estabilização econômica a partir da implantação do Plano Real. Entre os anos de 1997 a 2000, o PIB recuou de forma significativa. Neste período, o cenário mundial mostrava-se bastante instável devido à Crise Asiática (1997), Crise da Rússia (1998) e à Crise Brasileira (1999). A retomada do crescimento do PIB ocorreu em 2004, atingindo 5,7%. Este resultado foi reflexo da combinação entre ambiente externo favorável, aumento contínuo do saldo da balança comercial e a queda da taxa de inflação, a partir do segundo semestre de 2003. Em 2009, o PIB brasileiro fecha em recuo de 0,2%, como efeito direto a Crise mundial. 10 Vitrine da Conjuntura, Curitiba, v.3, n. 5, julho 2010 | REFERÊNCIAS DIEESE – DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SÓCIOECONÔMICOS. Disponível em <http://dieese.org.br/esp/real/crisereal.xml>, Acesso em 25/05/2010. DIEESE – DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SÓCIOECONÔMICOS. Disponível em <http://www.dieese.org.br/esp/cju/anote21.pdf>, Acesso em 24 mai 2010. Folha Online. Brasil cresce só 2,3% em 2005 e supera apenas o Haiti na América Latina. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u105546.shtml>, Acesso em 21 mai 2010. GIAMBIAGI, Fábio. [et al.]. Economia brasileira contemporânea (1945-2004). 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. G1. 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São Paulo: Editora Saraiva, 2006. 11 Vitrine da Conjuntura, Curitiba, v.3, n. 5, julho 2010 |