Sumário Executivo - Fundação Dom Cabral

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Sumário Executivo
BRASIL PRECISA CRIAR UMA AGENDA POSITIVA PARA REVERTER A
TRAJETÓRIA DE QUEDA EM RANKING GLOBAL DE COMPETITIVIDADE
EUA perde a liderança para Hong Kong. Argentina é destaque no relatório,
avançando quatro posições
Em 57o lugar no ranking mundial do IMD, o Brasil acumula uma perda de 19 posições
em seis anos no Relatório Global de Competitividade. Depois de atingir sua melhor
posição em 2010 (38º lugar) neste relatório que é publicado desde 1989 pelo IMD
(Suíça) e que no Brasil conta com a parceria da Fundação Dom Cabral, o Brasil se
mantém no bloco dos países menos competitivos do mundo ficando à frente apenas da
Croácia, Ucrânia, Mongólia e Venezuela. No topo do ranking os destaques são Hong
Kong e Suíça, que ultrapassaram os Estados Unidos ficando na 1ª e 2ª posição
respectivamente. Como destaca o coordenador do estudo, Prof. Arturo Bris, os países
mais competitivos do mundo têm em comum o foco na criação de um ambiente
regulatório amigável para a atividade empresarial, além de infraestrutura e instituições
eficazes e inclusivas. Na América Latina apenas o Chile (36º lugar) não está entre os
20 países menos competitivos e a Argentina é destaque no relatório deste ano
avançando quatro posições, inclusive o Brasil. Colômbia e o Peru mantiveram suas
posições em 54a e 51a respectivamente e a Venezuela se confirma como o país menos
competitivo do mundo.
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Ranking Global de Competitividade segundo o World Competitiveness Yearbook 2016
Brasil 2016 se mantém entre os países menos competitivos do mundo
O Brasil obteve este ano uma pontuação de 51.676 pontos no índice agregado de
competitividade, o que, na metodologia deste relatório, indica a posição dos países com
relação àquele considerado o mais competitivo. Isso significa que o país está 51.676
pontos atrás de Hong Kong primeiro colocado de 2016. Em relação ao ano passado, o
Brasil obteve uma melhora absoluta de 4.286 pontos, mas em comparação com a
pontuação de 2010 - ano em que o Brasil ocupou sua melhor posição no ranking (38ª
posição) – o país apresentou uma perda de cerca de 10%. Ou seja, a perda de
competitividade apresentada em 2016 não é apenas relativa, mas também absoluta se
observado no longo prazo; fato que se reflete no distanciamento contínuo da posição do
Brasil com relação às nações mais competitivas.
Figura 1: Evolução do Brasil no Ranking de Competitividade (2009-2016)
Fonte: Elaboração FDC a partir dos dados do WCY 2009-2016
A queda de uma posição do Brasil em relação ao ano passado é analisada a partir de
quatro fatores, cada um divido em mais 5 subfatores. O resultado brasileiro nestes
fatores e subfatores está apresentado na Figura 2 abaixo:
2
Os
fatores
Desempenho
da
economia e Eficiência do governo
apresentaram pioras em relação ao
ano passado sendo que o primeiro
desceu 4 posições e o segundo 1
posição.
O
fator
Eficiência
Empresarial continuou em 51a e o
fator Infraestrutura subiu 7 posições,
alcançando a 46a.
Figura 2: Resultado do Brasil por Fator de Competitividade (2015-2016)
Desempenho Econômico
O
fator
Desempenho
Econômico do Brasil vem
apresentando pioras desde
2011, quando atingiu sua
melhor
posição
(30a).
Atualmente, na posição 55a, o
único subfator que obteve
melhoras foi o de comércio
internacional - que subiu 4
posições chegando em 52a.
Figura 3: Resultado do Brasil em Desempenho Econômico (2009-2016)
O limitado grau de abertura para o comércio externo apresenta impactos significativos
neste quesito. Dentre os dados analisados, temos que o saldo da conta atual brasileira
foi a terceira pior dentre os 61 países. Com um déficit de 58 milhões de dólares, a média
dos países analisados é um superávit de 13 milhões. Outros dados em que o Brasil teve
um desempenho ruim, ficando entre os últimos, são exportação de bens e de serviços,
taxa de câmbio e receitas de turismo. O Brasil ficou em segundo lugar na participação
do PIB em importação de bens e serviços com alto crescimento desta taxa. O subfator
preços também desceu 1 posição sendo que a taxa de inflação ajustada de preços para
o consumidor ficou em 59a com um valor de 9.03% em relação à média de 4.47% da
pesquisa.
O subfator Emprego caiu seis posições e ficou em 27o lugar. Grande parte desta queda
se explica devido ao aumento do desemprego – que foi de 14o para 43o este ano. No
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entanto, o Brasil ainda mantém um bom índice de empregados e figura em quinto lugar
devido ao tamanho do mercado de trabalho do país. Já o subfator Economia Doméstica
foi o que apresentou piores resultados com a derrocada de 10 posições. Dentre os
dados analisados desse subfator, o crescimento do PIB ficou em antepenúltimo devido
ao encolhimento da economia em 3,9%. Além disso, a formação fixa de capital bruto
atingiu o 59o lugar descendo 15 posições em relação ao ano passado, assim como a
despesa de consumo das famílias, que caiu 52 posições saindo de 9% de consumo em
2015 para 4% em 2016. A despesa de consumo do governo também sofreu queda de
17 posições chegando a -1,05% em comparação com 2,06% de despesa de consumo
médio nos demais países.
O último subfator ‘investimento internacional’ desceu uma posição, apesar do aumento
influxos em termos absolutos. Ao todo são mais de 75 bilhões de investimentos no país,
em relação aos 62 bilhões do ano anterior. Todavia, o valor de 2015 ainda sim é
referente a uma perda relativa de investimentos, uma vez que a média dos demais
países antes era de 20 bilhões e este ano subiu para 27 bilhões. Com isso, o Brasil que
antes ficava em quinto nesse requisito, desceu para sexto em 2016. A queda neste
quesito reflete a perda de credibilidade, assim como o aumento da taxa de risco para se
investir no país devido à instabilidade econômica e política atual.
Eficiência do Governo
A eficiência do governo vem
apresentando
pioras
constantes desde 2009 até
chegar em último lugar em
2016. Dentre seus cinco
subfatores,
a
Estrutura
Institucional, Legislação dos
negócios e Estrutura Social se
mantiveram
nas
mesmas
posições do ano passado,
Figura 4: Resultado do Brasil em Eficiência do Governo (2009-2016)
respectivamente 60a, 59a, 60a. O ítem finanças públicas desceu três posições chegando
em último lugar e política fiscal desceu duas posições e ficou em 37a. A relação entre
excedente e défcit do orçamento do governo ficou com um valor negativo de -184
bilhões, com uma média de -10% comparada à média dos demais paises de -2% (58o
lugar). Isso reflete o deterioramento das contas públicas desde o ano passado, em que
o valor do déficit no orçamento era de -146 bilhões e cuja média estava em torno de 6%. Ainda nesse subfator o Brasil ficou em penúltimo no pagamento de juros (% da
receita corrente) e a comunidade de executivos analisou a eficiência da gestão de
finanças públicas como péssima, também ficando em penúltimo lugar.
No que se refere à estrutura institucional, os dados que avaliam a percepção dos
empresariado mostram uma tendência pessimista. A comunidade empresarial brasileira
avaliou negativamente os critérios de transparência, burocracia e decisões do governo
assim como corrupção. Estes critérios ficaram entre os 3 piores dentre os 61 países
avaliados. É possível perceber uma piora significativa em todos esses resultados de
percepção, uma vez que nos últimos dois anos a tranparência do governo caiu cinco
posições e a capacidade do governo de adaptação das políticas públicas caiu nove
4
posições, ocupando atualmente o penúltimo lugar. Este resultado da pesquisa de opinão
pouco surpreende, haja visto a crise de governabilidade e de ética vivenciada ao longo
de 2015 e 2016. As investigações de corrupção e lavagem de dinheiro, notadamente da
operação Lava-Jato, envolveram nomes de elevada expressão política e econômica.
Este resultado evidencia, no entanto, como a percepção pessimista do empresariado
afeta as expectativas dos agentes aumentando o grau de incerteza da economia e
piorando a credibilidade do governo. As políticas do Banco Central também foram mal
avalidadas e este quesito ficou em 59o. A falta de diretriz no governo afetou o lado da
política fiscal. Não houve uma liderança para a criação de uma convenção e na alocação
de uma política fiscal que conduzisse a política econômica.
Os relatórios globais de competitividade tanto o World Competitiveness Report
publicado pelo IMD quanto o Global Competitiveness Report publicado pelo Fórum
Econômico Mundial – ambos em parceria com a Fundação Dom Cabral – se baseiam
em um conjunto diversos de variáveis estatísticas (chamadas de hard) que são obtidas
junto a fontes nacionais (Bancos Centrais, Ministérios, Institutos de Pesquisa e
Estatística, etc.) e internacionais (FMD, Banco Mundial, Transparência Internacional,
etc.) que para composição dos rankings são combinadas com os resultados de
pesquisas de opinião realizadas em cada um dos países participantes.
No Brasil a pesquisa de opinião está sob a responsabilidade da Fundação Dom Cabral
que acessa cerca 6.000 executivos brasileiros de diferentes setores e regiões em
empresas de diferentes portes. A pesquisa para o World Competitiveness Report 2016
foi realizada entre os períodos de janeiro a abril e contou com a contribuição de mais de
5.400 executivos nos 61 países pesquisados.
Eficiência Empresarial
Houve
estabilidade
em
relação ao posicionamento do
fator Eficiência Empresarial.
Na série histórica, a trajetória
foi de avanço no início da
década, seguido de queda
desde 2013.
Figura 5: Resultado do Brasil em Eficiência Empresarial (2009-2016)
Dentre os cinco subfatores analisados, houveram perdas em ‘produtividade e eficiência’,
‘finanças e atitudes’ e ‘valores’ com rebaixamento respectivamente de 1, 5 e 2 posições.
O crescimento real da produtividade brasileira caiu de 48a posição para 60a figurando
em -5,33 (% de mudança do PIB) em um ano. A produtividade das companhias e dos
trabalhadores continuou na mesma posição respectivamente 60a e 58a. No subfator
‘atitudes e valores’, a imagem e marca das empresas brasileiras, segundo os
executivos, sofreu uma piora e ficou em antepenúltimo lugar no ranking. A notas médias
dos países de 6,08 em imagem e marca ultrapassou bastante a média do Brasil de 2,95
este ano e do ano passado de 3,96. Além disso, a percepção do empresariado brasileiro
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sobre reformas econômicas também se tornou mais urgente uma vez que o fator ficou
em antepenúltimo. No subfator de práticas gerenciais, o empreendedorismo caiu 7
pontos chegando em 48a colocação. A satisfação do consumidor também caiu 6
posições e ficou abaixo da média dos demais países.
No subfator mercado de trabalho, houve um aumento de 16 posições principalmente
pelo crescimento da força de trabalho de 6,45% este ano sendo a média dos demais
países 1,17%. Este dado representa um crescimento ainda favorável da população para
a economia mesmo que o Brasil já tenha entrado nos primeiros estágios do
envelhecimento populacional. Este aumento da população ativa pode acabar por
pressionar ainda mais o desemprego, uma vez que o desaquecimento da economia
reduziu o mercado de trabalho. Considerando que o emprego caiu 29 posições este ano
e a economia brasileira não está dando sinais de uma recuperação rápida, supõe-se
que grande parte dos novos entrantes no mercado não conseguirão se inserir na
economia, agravando as taxas de desemprego, notadamente entre os jovens, assim
como consequente aumento da economia informal e gastos assistenciais do governo.
Infraestrutura
O fator Infraestrutura foi o único
que apresentou uma melhora
significativa este ano com o
ganho de 7 posições (46a). Este
fator
passou
por
várias
oscilações ao longo do tempo.
Figura 6: Resultado do Brasil em
Infraestrutura (2009-2016)
Com uma tendência negativa até 2011, com a Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas
de 2016, houve uma melhora de 6 posições em 2012, reflexo do aumento dos
investimentos, principalmente na infraestrutura básica. No entanto, o país voltou a
perder competitividade neste fator no período 2013-2015 com o desaquecimento da
economia.
Em 2016, o aumento de posições se deve também a uma mudança de metodologia pelo
IMD. No que diz respeito à infraestrutura tecnológica, houve uma mudança na métrica
que fez com que o Brasil subisse 35 posições e ocupasse hoje o quinto lugar. O
investimento em telecomunicações que até o ano passado era calculado pela
porcentagem do PIB no setor, e a partir desse ano passa a ser medido pelo gasto de
capital anual agregado. Um outro exemplo é o custo de telefones celulares que era
calculado pelas tarifas em dólares cobradas por minuto em ligações locais e hoje é
calculado por média anual de receita por cliente. Nesse caso, o Brasil subiu 48 posições
e hoje está em décimo lugar.
6
O subfator infraestrutura básica manteve seus indicadores relativamente estáveis e
obteve ganhos relativos aos demais países ao subir 5 posições. Este ganho se deu em
parte devido à melhoria de 8 posições na variável “acesso a agua” que em 2015 devido
à crise hídrica colocou o Brasil na última posição neste indicador. Gestão da logística,
distribuição, infraestrutura energética e transporte pluvial continuam entre os piores do
mundo ocupando o pais as posições últimos no ranking (gestão da logística: 60º;
distribuição: 60º, infraestrutura energética: 58º, transporte pluvial: 59ª). Neste bloco de
variáveis de infraestrutura básica além da melhoria no acesso a agua a única variável
que apresenta melhorias relevantes foi na qualidade do transporte aéreo tendo saído da
59ª posição em 2015 para a 53ª posição em 2016. Muito aquém das necessidades do
país, mas consistente com os movimentos de privatização e investimentos na
infraestrutura aeroportuária brasileira.
No subfator tecnológico, a qualidade dos engenheiros subiu 10 posições e foi medida
de acordo com a questionário de opinião executiva do empresariado brasileiro, o que
evidencia um pensamento mais positivo sobre a educação superior no Brasil apesar do
sistema educacional brasileiro ter ficado em último lugar e a qualidade das
universidades em antepenúltimo.
No que se refere à saúde, os gastos aumentaram fazendo com que o índice subisse
cinco posições. No Brasil, gasta-se mais uma média de mais de 9% do PIB neste setor,
comparando-se com a média geral dos países que é de 7,7%. A parte de gastos públicos
representa 48,2%, sendo o resto gasto da população em seguro de saúde e hospitais
privados. O indicador de problemas de saúde subiu 2 posições e a mortalidade infantil
subiu 5 posições chegando a 54a. Esses dados refletem as atuais dificuldades do
sistema de saúde brasileiro tanto na gestão de recursos e distribuição de médicos pelo
território, quanto pelas atuais epidemias como Zika, Dengue, H1N1 e Chikungunya.
Se analisarmos os subfatores saúde, educação, ciências e tecnologia separando os
indicadores de volume dos indicadores de qualidade somos levados a concluir que o
desafio da competitividade brasileira está em fazer bom uso dos recursos públicos e
privados investidos. O Brasil ocupa a 5ª posição no indicador de investimentos em
tecnologia, mas apenas a 58ª posição no indicador de qualidade das telecomunicações.
O país ocupa a 8ª posição no indicador de gastos totais em P&D ($39 bilhões em 2013)
mas apenas a 53ª posição no indicador do número de patentes validas
internacionalmente (2,8 por 100.000 habitantes). O país investe 9,5% do PIB em saúde
(12ª posição) mas ocupa apenas a 60ª posição no indicador de qualidade do setor de
infraestrutura. Em 2014 o país investiu 6,4% do PIB em educação (9ª posição entre os
61 países pesquisados) mas ficou na 45ª posição na avaliação de qualidade de
educação básica o teste PISA realizado pela OCDE (neste teste os alunos brasileiros
de 15 anos ficaram na posição 55 no ranking de leitura, 58 no de matemática e 59 no
de ciências) já na avaliação dos executivos entrevistados o sistema educacional do país
ficou na 59ª posição.
Brasil & Argentina
Dentre os países latinos, o Brasil está mais próximo da Argentina, ficando atrás por
2.072 pontos. A Argentina apresentou bons ganhos de competitividade em relação ao
ano passado, com um aumento de 11.009 pontos, mais do que o dobro do desempenho
brasileiro.
7
A Argentina apresentou melhoras nos diversos pilares de competitividade. Com a
entrada do Presidente Macri no governo, o populismo de Kirchner deu espaço para o
partido liberal e conservador do novo presidente. Esta troca recente de governo
apresentou reflexos sobretudo na opinião dos executivos, uma vez que o impacto real
na economia ainda é demasiadamente prematuro. Com efeito, o fator eficiência do
governo avançou duas posições do ranking. Já o subfator finanças públicas subiu 12, a
estrutura institucional seis e estrutura social 17 posições.
Eficiência do Governo
61
60
59
60
57
55
58
2012
2013
61
58
58
2014
Brasil
2015
2016
Argentina
Figura 6: Resultados da Argentina e do Brasil em Eficiência do Governo (2012-2016)
O novo governo traz consigo uma estabilidade política maior com aumento de
credibilidade no setor público argentino. As novas expectativas podem ser sentidas
através dos dados que analisam a percepção do empresariado argentino através do
questionário feito pelo IMD. Os executivos avaliaram uma melhora na transparência que
chegou a ser posicionado em 23o lugar, subindo 37 pontos em relação à 2015, quando
ficou em penúltimo lugar. Foram ressaltados como pontos fortes a capacidade de
adaptação das políticas do governo e a confiança da população nas políticas formadas.
A percepção do empresariado foi responsável por parte do bom desempenho do país
no fator Eficiência do Governo, uma vez que os questionários de opinião executiva têm
um peso de um terço no resultado da pesquisa de competitividade. A análise otimista
dos executivos é importante no sentido de formação de expectativas econômicas do
país, o que pode afetar o nível de investimentos e o grau de incerteza dos agentes.
Enquanto a Argentina teve o risco de instabilidade política muito reduzido chegando a
43a colocação, o Brasil está em 56a (aumento de duas posições em relação ao ano
passado). Ainda com alguns efeitos da crise econômica, a Argentina tem a relação entre
excedente e déficit do orçamento do governo em uma média de -8%, enquanto a média
dos demais países gira em torno de -2%. O Brasil fica 8 posições abaixo (58a) com um
déficit de -108 bilhões em relação aos -43 bilhões da Argentina.
Com a queda do desempenho econômico na década de 90 sob o modelo neoliberal, a
Argentina apostou na expansão da indústria primária com a alta das commodities, assim
como o Brasil. Apesar de um crescimento econômico temporário baseado no aumento
das exportações, a dependência do setor primário acarretou a redução de investimentos
e baixa ênfase em tecnologia, além da baixa capacidade de geração de empregos do
setor, afetando diretamente a política populista do país.
No que se refere ao investimento internacional, a Argentina apresentou melhoras
subindo 12 posições e galgando o 41o lugar. Dentre os indicadores de desempenho
8
econômico, a formação bruta de capital fixo ficou em 35o lugar. O crescimento real das
despesas de consumo das famílias ainda continua baixo com uma média de 0,38% em
relação à média do IMD que é 2,23% o que ainda assim é maior que a média de -4% do
Brasil. Os gastos de consumo do governo ficaram em 12o lugar no ranking com uma
média de 3,98%, enquanto o Brasil apresenta uma média de -1,05% e ficou em 57o.
Os subfatores de infraestrutura tecnológica e científica apresentaram melhoras subindo
respectivamente 4 e 3 posições no ranking. No entanto, o país ainda fica nos 10 últimos
nos indicadores de financiamento disponível para o desenvolvimento tecnológico, e
cooperação tecnológica entre países, mesmo que ainda na frente no Brasil. Nos
indicadores de parcerias público-privadas ficou em 44o, e quanto aos engenheiros
qualificados, 36o, o que representa 13 posições acima dos brasileiros.
Competitividade no Mundo em 2016
Os Estados Unidos deixaram depois de 2 anos seguidos a primeira posição no ranking
de competitividade. No primeiro lugar ficou Hong Kong seguido pela Suíça, que subiu
duas posições em relação ao ano passado.
Entre os dez primeiros colocados, Cingapura caiu
uma posição e a Suécia subiu quatro, chegando ao
quinto lugar. O Canadá obteve seu pior
desempenho nos últimos anos ficando em décimo
com o declínio de 5 posições em relação a 2015. A
Irlanda por outro lado apresentou uma incrível
recuperação com um ganho de 9 posições saindo
da 16a para a 7a posição. A Holanda teve também
um bom desempenho com uma ascensão de 7
posições, saindo da 15ª para o oitavo lugar esse
ano. Dentre os países mais competitivos de 2015,
somente Luxemburgo e Alemanha não se
mantiveram entre os 10 primeiros, tendo ambos
uma queda de 2 posições passando a ocupar a 11ª
e 12ª posições respectivamente.
Figura 7: Top 10 Economias mais competitivas em 2016
A chegada de Hong Kong em primeiro lugar está diretamente relacionada não só a um
desempenho geral superior, como também com a queda em valores absolutos dos
Estados Unidos. Enquanto o país asiático subiu 3.963 pontos no ranking este ano, os
EUA tiveram uma queda de 2.119 pontos em valores absolutos. Os americanos mantêm
uma performance econômica em primeiro lugar desde 2012, enquanto Hong Kong subiu
em 2016 para a quinta posição o que representa em valores absolutos, um ganho
surpreendente de 18.471 pontos. No entanto a maior diferença entre os dois países está
no fator Eficiência do Governo em que Hong Kong desde 2012 oscila entre primeiro e
segundo lugar e em 2016, ficou em primeiro lugar com uma diferença de 33.499 pontos
à frente dos Estados Unidos, que ficaram em 25a pior posição desde 2013. Além disso,
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Hong Kong também saiu em vantagem na Eficiência Empresarial ficando no primeiro
lugar enquanto os Estados Unidos desceram para sétimo.
Dentre os países asiáticos, somente Hong Kong e Cingapura apresentaram um
desempenho de destaque. Dentre os 25 melhores do mundo, a Ásia é representada
pela República da China ocupando o 22o lugar com uma queda de 3 posições, Taiwan
(14o) também com queda de 3 posições e Malásia (19o) com queda de 5 posições. Fora
dos top 20, há o Japão em 26o lugar, único país (desconsiderando Hong Kong e
Cingapura) a apresentar uma melhora subindo uma posição e a Indonésia seis posições
abaixo em relação ao ano passado ocupando o 48o lugar.
Na América do Norte, o México também acumulou quedas significativas, descendo de
39o para o 45o lugar. Na América Latina, com exceção do Chile (36º) que apesar de
perder uma posição se manteve entre os 40 países mais competitivos, México (45º)
Colômbia (51º), Peru (54º), Argentina (55º), Brasil (57º) e Venezuela (61º) figuram entre
as 10 economias menos competitivas do World Competitiveness Yearbook 2016.
Países em destaque: Irlanda, Holanda e México
A Irlanda subiu nove posições este ano chegando ao sétimo lugar no ranking. Dentre
seus indicadores mais destacados, tem-se o crescimento do PIB de 4,8 para 7,8 bilhões,
ficando em primeiro lugar. Além disso o país teve uma diminuição do déficit de -4,11
para -2,30 e ficando acima da média dos demais países de -2,44. Nos quatro fatores, a
Irlanda teve aumento de 6 posições do desempenho econômico, 2 posições em
eficiência do governo, 1 posição em Infraestrutura e 11 posições em eficiência
empresarial.
Em relação à eficiência empresarial, a Irlanda deu um passo à frente no apoio hábil às
atividades empresariais com a melhora de serviços bancários e financeiros,
disponibilização de capital de risco acima da média mundial (14o no ranking) e custo de
capital também abaixo da média geral. Esses fatores são essenciais para o
encorajamento do desenvolvimento de novos negócios no país assim como a
manutenção das empresas já existentes como uma importante base para o aquecimento
da economia.
Dentre os piores resultados irlandeses, há o indicador de emprego em 48o lugar. A taxa
de desemprego atingiu 9,44% este ano, um resultado pior do que a média geral de
7,57%. A infraestrutura básica também se destacou negativamente em 40a posição, com
menor competitividade em tamanho do mercado interno e baixa produção de energia
não renovável como petróleo, gás, energia nuclear.
A Holanda obteve um aumento da competitividade com a ascensão de 7 posições,
chegando ao oitavo lugar no ranking. Assim como a Irlanda, o país também obteve
melhoras no crescimento do PIB de 2,0% em relação ao ano passado com crescimento
de 0,9%. Também houve uma diminuição do déficit de -2,30 para -1,83%. Dentre outros
destaques, a Holanda conseguiu aumentar as exportações de serviços ficando em nono
lugar. Além disso, o país apresenta como pontos fortes a inflação ajustada ao poder de
compra de consumidores (2o lugar), força de trabalho qualificada (3o lugar), grande
diversificação da economia (4o) e parcerias público-privadas em infraestrutura científica
(1o), encorajando a cultura de pesquisa e desenvolvimento. Em linhas gerais, o fator de
desempenho da economia da Holanda avançou nove posições chegando em nono
10
lugar. Já a eficiência do governo desceu duas posições para a 15a devido às políticas
fiscais do país.
Diferentemente da Irlanda e Holanda, o México foi um dos países que mais perdeu
competitividade em 2016 caindo da 39ª para a 45ª posição. O país que já ocupou um
lugar de destaque neste relatório ocupando em 32ª posição em 2013 apresenta em 2016
um comportamento similar aos demais países latinos americanos, i.e., baixa eficiência
no setor público (46ª posição no fator agregado) e infraestrutura básica, cientifica,
tecnológica e educação aquém das necessidades e expectativas do país (53º no fator
infraestrutura, 48º no subfator infraestrutura básica, 45º no subfator infraestrutura
cientifica, 55º em tecnologia e 60º no subfator educação). Como vários outros países
latino americanos o México se caracteriza por graves problemas éticos e de governança
pública e privada seja nas questões relativas a transparência do governo (55º),
corrupção (55º) e economia paralela (55º) como também nas questões de segurança
(52º) e de eficiência do setor judiciário (56º). O México vive um período crítico de
reformas em seus sistemas regulatórios, necessárias, mas pouco populares tendo
avançado em 2016 quatro posições no relatório Doing Businesses do FMI. No entanto
o mesmo FMI desta que o país vive um período de baixo crescimento da economia
(projeção de 2,4% em 2016 contra 4,0% em 2013 contra 2,6% em 2015) com
manutenção de altos índices de desigualdade social, baixa qualidade da educação e
pouco investimento em inovação (GINI Index: 48,1 ocupando a 56ª posição no relatório,
fator educação 60ª posição e 0,54% do PIB investido em ciências, tecnologia e inovação
em 2014 o que coloca o país na 50ª posição).
Considerações Finais: o Brasil precisa de uma agenda positiva
O desempenho do Brasil no ranking de competitividade este ano é consequência não
apenas de questões conjunturais, mas também do esgotamento de um modelo de
crescimento. Ainda que se espere que a resolução de desafios de curto prazo, tais como
déficit fiscal e controle da inflação, represente ganhos relativos nos rankings dos
próximos anos, a economia brasileira precisa se reinventar para avançar em
competitividade de forma robusta e significativa.
Os programas sociais de redistribuição de renda, implementados com objetivo de
estimular o motor da demanda interna, foram baseados no aumento real dos salários
brasileiros. Como esses programas dependem da taxa de investimento no Brasil, assim
como no produto corrente e exportações, se tornaram insustentáveis no atual contexto
de recessão, uma vez que o aumento dos salários reais gerou restrição do balanço de
pagamentos. Por não ter tido investimentos suficientes em infraestrutura (considerando
todos os pilares do World Competitiveness Yearbook: infraestrutura básica, tecnológica,
ciências, saúde e educação), o salário aumentou mais do que a produtividade marginal
do trabalho e não resultou em aumento da competitividade. Além disso, o crescimento
interno da demanda gerou as pressões inflacionárias que o Brasil está sentindo hoje.
Os programas assistenciais são essenciais para o aquecimento da economia doméstica
no país, além de proporcionarem oportunidades mais justas para os cidadãos. No
entanto, com os atuais indicadores, os gastos públicos têm se tornado um problema
para os próximos anos.
O subfator produtividade e eficiência ficou em penúltimo no ranking, e mesmo com bons
índices de investimentos absolutos, o Brasil vem perdendo espaço em relação aos
11
outros países, já que houve perda de credibilidade dos agentes externos e internos na
economia. Além disso, o descontrole da inflação fez com que o Brasil ficasse em
penúltimo nesse indicador. Para que os programas sociais sejam eficientes, é
necessário haver melhora dos indicadores citados acima, cujo foco são os fatores
estruturantes da economia e que demandam uma agenda de futuro. Se de um lado não
há receita mágica para um novo modelo, do outro não há como fugir das questões
básicas como qualidade da educação e promoção da inovação.
Sobre A Metodologia
O Relatório Internacional de Competitividade do IMD tem sido compilado desde a
década de 1980 e se baseia em quatro pilares: “Desempenho Econômico”, “Eficiência
do Governo”, “Eficiência Empresarial” e “Infraestrutura”. Para cada pilar, são analisados
cerca de 20 subfatores, no total de 300 variáveis contabilizadas. As variáveis incluem
tanto dados estatísticos quanto de percepção. Os dados estatísticos são indicadores
macroeconômicos, cuja fonte são instituições nacionais e internacionais de estatística
(como o IBGE no Brasil). São coletados pelo IMD e seus parceiros e possuem peso de
2/3 para o cálculo do ranking. Os dados de percepção são coletados através do
questionário de opinião executiva, coletados via uma plataforma online entre gestores
de alta escalão das empresas. A amostra inclui empresas de todos os portes e de
diversos setores da economia, com o intuito de obter uma representação geral do país.
Com peso de 1/3 na pesquisa, estes dados refletem o julgamento geral do empresariado
sobre o país em questão.
Equipe da Fundação Dom Cabral
Prof. Carlos Arruda – Coordenador do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo
Prof. Ana Burcharth – Professora
Fernanda Bedê – Pesquisadora
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