Como não mudar nada na política em 2 mil anos

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Desembargador Irineu Pedrotti - Acórdãos TJSP - Desembargador Irineu Pedrotti - Acórdãos TJSP
Como não mudar nada na política em 2 mil anos
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Postado em:4/6/2006 9:17:26
Um manual de campanha eleitoral de 21 séculos atrás, feito para Cícero eleger-se cônsul, mostra
que os marqueteiros de hoje não inventaram nada
Como não mudar nada na política em 2 mil anos Gabriel Manzano Filho Um pequeno panfleto de 2
mil anos atrás, escrito por um administrador de província romana, traz para os eleitores brasileiros
uma boa e uma má notícia. A boa é que a política brasileira, com seus mensalões, acordões e
absolvições, não é de modo algum pior que as outras. A má é que, visto que nada mudou nos
últimos 21 séculos, não há razão para se achar que vai melhorar daqui para a frente.
O texto em questão é o Comentariolum Peticionis - em bom português, Breve Manual de Campanha
Eleitoral. Escreveu-o, em 64 a. C., Quinto Túlio Cícero, para seu irmão famoso, o orador Marco Túlio
Cícero, que naquele ano decidiu candidatar-se a cônsul, uma espécie de magistrado supremo do
Senado romano. Não sendo da nobreza, Cícero queria convencê-la a votar nele, mas ao mesmo
tempo precisava manter seu prestígio com o povo.
O manual é um espantoso retrato de como as coisas nada mudaram, ao longo de 2 mil anos. "Põe
em tua cabeça que tens de fingir o que não tens de natureza", aconselhava Quinto ao irmão, "de
modo que pareças atuar de modo natural." "Isso é imprescindível a um candidato, cujo semblante,
rosto e palavras deverão mudar e adaptar-se ao sentimento e à vontade de quem seja com quem se
encontre."
Quinto dividiu seus conselhos em 58 pontos, nos quais adverte o irmão sobre como e o que falar
com as pessoas, a quais grupos agradar, o que não dizer, como explorar os defeitos dos rivais. "É
mais importante ser um bom candidato do que uma boa pessoa", ensina ele. Sua primeira sugestão:
Cícero devia ir todos os dias, já de manhã, para o Fórum, no centro de Roma, para a "prensatio" - o
aperto de mão. Exatamente como hoje, eram intermináveis sessões de sorrisos e afagos, dirigidos
não só aos conhecidos, mas a qualquer um que aparecesse. Uma boa assessoria deveria
providenciar visitas importantes à sua casa e platéias para os discursos, além de um "nomenclator",
o providencial assessor que lhe assopra no ouvido os nomes das figuras importantes que estão por
perto. Para destacar-se na multidão, deveria usar sempre uma túnica bem branca, a chamada "toga
candida". De tanto usar essas vestes os caçadores de voto romanos foram chamados de
candidatos.
COMPRA DE VOTOS
Não há indícios, nos conselhos de Quinto, de que seu irmão tivesse um Delúbio ou Valério - mas era
comum, já naquela Roma de Júlio César e Pompeu, recorrer a tais figuras. Elas tinham até um
nome: eram os divisores, os tesoureiros de campanha, assim chamados porque dividiam o dinheiro
em troca dos votos. Quando se faziam tais acordos, o suborno era deixado, até a eleição, com um
intermediário, o "sequestre".
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Quinto pede, no texto, que Cícero evite as discussões e definições políticas, "de modo que o
Senado creia que serás um defensor de sua autoridade; e a multidão, que não te oporás aos seus
interesses". Compromissos partidários sérios, nem pensar: era preciso dar tratamentos diferentes
aos dois principais grupos políticos da época, os "optimates" (da nobreza) e os "populares" (das
classes média e baixa). Como os nobres não engoliam o sistema republicano então vigente, Quinto
aconselha: "Deves convencê-los de que nós sempre tivemos os mesmos sentimentos (deles), em
relação à república e que em absoluto temos sido populares; e que, se alguma vez nos viram falar
como populares, o fizemos com a intenção apenas de atrair (o poderoso general ) Pompeu."
Por fim, era indispensável bater duro nos concorrentes. "Dos rivais, Antônio e Catilina, (...) deves
lembrar que são assassinos desde a infância e depravados os dois." Um deles "comprou no
mercado de escravos uma amiguinha para tê-la em casa, abertamente".
Com muita ou pouca ajuda do manual, Cícero foi eleito, dividindo o consulado com o rival Gaio
Antônio. Seu ano como cônsul, em 63 a.C., entrou para a história. Foi nesse cargo que, em
discursos memoráveis, denunciou uma grave conspiração comandada por outro rival: Catilina. Seu
furor foi tal que, já na manhã seguinte ao primeiro discurso - ele fez quatro -, Catilina fugiu de Roma
e, comandando uma rebelião, morreu meses depois.
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