03-Orlandi-1741-30(4)-AF 03.12.08 15:34 Page 245 Artigo Original O Idoso Renal Crônico em Hemodiálise: a Severidade da Doença e sua Relação com a Qualidade de Vida Chronic Kidney Disease in the Elderly on Hemodialysis: Severity of Disease and Relationship with Quality of Life Fabiana de Souza Orlandi Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, MS, Brasil RESUMO Introdução: O número de idosos renais crônicos é expressivo em nosso país. Objetivo: O objetivo da pesquisa foi verificar em uma população de idosos com Insuficiência Renal Crônica Terminal (IRCT) em hemodiálise ambulatorial, a relação entre uma medida genérica de qualidade de vida (SF-36) e a medida de severidade da IRCT (ESRD-SI – Índice de Severidade da IRCT). Métodos: Trata-se de um estudo correlacional de corte transversal, realizado em duas clínicas de terapia renal substitutiva, com 100 idosos portadores de IRCT, em tratamento hemodialítico há pelo menos seis meses. Resultados: A análise mostrou que as dimensões do SF-36 correlacionaram-se negativamente com a severidade da IRCT. Discussão/Conclusões: Em relação à magnitude das correlações, observou-se correlação negativa de moderada magnitude com a capacidade funcional, e de fraca magnitude com aspectos físicos, estado geral de saúde e aspectos emocionais. Além disso, metade das dimensões conseguiu discriminar os sujeitos com severidade suave e nãosuave da IRCT, com exceção dos aspectos físicos, vitalidade, aspectos emocionais e saúde mental. Descritores: Qualidade de vida. Insuficiência renal crônica. Idoso. ABSTRACT Introduction: There is a large number of elderly with chronic kidney disease in our country. Objective: The objective of this research was to identify, in an elderly population with end-stage renal disease (ESRD) undergoing ambulatory hemodialysis, the correlation between a generic index of quality of life (SF36) and the severity index of the ESRD-SI. Methods: This was a cross-sectional study conducted at two clinics of renal replacement therapy which involved 100 elderly patients with ESRD in hemodialysis for at least six months. Results: The SF-36 showed a negative correlation with the severity of the ESRDSI. Discussion/Conclusions: this study has demonstrated a moderate negative correlation with the functional capacity and a weak negative correlation with physical aspects, overall health and emotional aspects. In addition, half of the dimensions successfully distinguished subjects with mild and severe ESRD, with the exception of physical and emotional aspects, vitality and mental health. Keywords: Quality of life. Chronic renal failure. Elderly. INTRODUÇÃO O envelhecimento populacional é um fato incontestável1 e torna as pessoas mais vulneráveis aos processos patológicos, decorrentes de múltiplos fatores, levando o idoso a apresentar doenças como as cardiovasculares, respiratórias, neoplásicas, cerebrovasculares, osteoarticulares e endócrinas, que podem, ou não, estar associadas, caracterizando as co-morbidades2. Nos últimos 20 anos, observa-se um crescimento no número de idosos com insuficiência renal, que ocorre concomitante ao número de co-morbidades. Conforme o Censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia, em 2007, foram registrados 73.605 pacientes em tratamento dialítico. Desse total, 25,5% apresentavam idade superior a 65 anos3. A proposta da terapia renal substitutiva fundamenta-se na melhora da Qualidade de Vida (QV) dos pacientes, resgate do bem-estar físico, da capacidade cognitiva, além de manter a inserção no contexto social4. Essa proposta, entretanto, esbarra nas alterações da vida diária que o tratamento hemodialítico desencadeia, pela falta de suporte familiar e da equipe de saúde para a manutenção do tratamento. Recebido em 27/07/08 / Aprovado em 17/10/08 Endereço para correspondência: Fabiana de Souza Orlandi Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Rua Passeio Cambará 306 15385-000, Ilha Solteira, SP, Brasil E-mail: [email protected] J Bras Nefrol 2008;30(4):245-50 03-Orlandi-1741-30(4)-AF 03.12.08 246 15:34 Page 246 Qualidade de Vida e Severidade da Insuficiência Renal no Idoso Os idosos, em tratamento dialítico, geralmente, apresentam comprometimento funcional, o que remete à necessidade de assistência em suas atividades de vida diária5. Associado ao comprometimento físico, os pacientes renais crônicos, e em particular, os idosos, costumam sofrer alterações no desempenho dos seus papéis sociais e dos aspectos psicológicos decorrentes da situação do adoecer6,7. Assim, a análise da QV do idoso com Doença Renal Crônica (DRC) em tratamento hemodialítico é importante para orientar medidas de intervenção que contemplem prioritariamente os aspectos mais comprometidos da QV neste grupo de pacientes. A maioria dos estudos que abordam o paciente idoso com DRC tem empregado instrumentos genéricos para a medida da QV relacionada à saúde. Dentre os instrumentos genéricos disponíveis, o SF-36, desenvolvido em 19928 e validado no Brasil em 19979, é uma escala que possui diversas vantagens em seu uso em estudos sobre QV relacionada à saúde. Na avaliação da QV relacionada à saúde, não apenas a medida do constructo deve ser objetivada, mas também a dos fatores que permitem a hipótese de uma relação estreita com a QV, ou de influência sobre o seu curso, como a avaliação sistemática da condição clínica dos pacientes. Na avaliação clínica do paciente, em particular de uma doença crônica, como a DRC, acredita-se na importância de os profissionais de saúde conhecerem a gravidade da afecção, ou melhor, avaliarem as complicações físicas trazidas por essa afecção, e que correspondem à sua severidade, e se estão relacionadas à QV. Medidas de gravidade de uma doença são necessárias para avaliar e prever a qualidade dos cuidados10. Neste contexto, foi construído o End-Stage Renal Disease – Severity Index (ESRD-SI), um instrumento que deve ser preenchido pelo médico que assiste o paciente, e corresponde a uma medida objetiva para caracterizar a gravidade global da DRC11. Portanto, considerando-se que a pesquisa da influência (ou associação) de fatores objetivos, como a severidade da doença sobre a QV, pode fornecer subsídios importantes para o direcionamento de intervenções que levem à melhora da QV, o presente estudo teve como objetivo geral: verificar a relação entre uma medida genérica de QV e a medida de severidade da doença, em grupo de idosos com DRC em programa de hemodiálise ambulatorial. Os objetivos específicos foram: 1. Testar a correlação entre a medida da QV e de severidade da DRC; e 2. Comparar a medida da QV, mensurada pelo SF-36, entre os pacientes distribuídos em duas categorias de severidade da DRC. J Bras Nefrol 2008;30(4):245-50 MÉTODOS No estudo, participaram idosos com idade igual ou superior a 60 anos, com diagnóstico de DRC, em programa de hemodiálise ambulatorial, atendidos em duas clínicas de terapia renal substitutiva (hemodiálise) do Estado de São Paulo, nas cidades de Campinas e São Carlos, no período de janeiro a março de 2003. Constituíram critérios de inclusão: estar em programa de hemodiálise há pelo menos seis meses; apresentar capacidade de compreensão e de comunicação verbal e concordar em participar da pesquisa, com a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os critérios de exclusão foram: apresentar alterações cognitivas ou distúrbios psiquiátricos; ser portador de neoplasias ou ter antecedência pessoal de transplante renal. Considerando-se os valores de coeficiente de correlação r≥0,40, e de α=0,05 e β=0,05, estimou-se um número mínimo de 75 sujeitos para compor a amostra. Como esse número foi muito próximo do total de pacientes da população-alvo, optouse por incluir todos os idosos, das duas clínicas eleitas para essa investigação, que atendiam aos critérios de inclusão e nenhum dos de exclusão, totalizando cem sujeitos. Em relação dos instrumentos de coleta de dados, foram utilizados: o SF-36 e o ESDR-SI. O SF-36, desenvolvido em 19928 e validado no Brasil em 19979, consta de 36 questões, das quais uma questão avalia comparativamente as condições de saúde atual e aquelas de um ano atrás e as 35 restantes abordam oito dimensões: capacidade funcional, estado geral de saúde, saúde mental, aspectos físicos, vitalidade, aspectos emocionais, aspectos sociais e dor. No presente estudo, os valores de coeficiente de alfa de Cronbach (α) obtidos na aplicação do SF-36 revelaram os seguintes resultados: instrumento global = 0,90; capacidade funcional (CF) = 0,89; aspectos físicos (AF) = 0,79; dor (D) = 0,91, estado geral de saúde (EGS) = 0,64; vitalidade (V) = 0,65; aspectos sociais (AS) = 0,56, aspectos emocionais (AE) = 0,80; saúde mental (SM) = 0,79. Sendo assim, a maioria das dimensões obtive valores de alfa maiores ou iguais a 0,70, apontando uma consistência satisfatória, valendo ressaltar que as dimensões EGS e V estiveram próximas do desejável e que a dimensão AS, como é avaliada por apenas dois itens, pode ter seu valor de alfa reduzido. Já o ESRD-SI, desenvolvido nos Estados Unidos da América em 199116 e traduzido e verificada a confiabilidade no Brasil em 200512, é composto de 11 categorias que incluem doenças, suas complicações, e as condições mais comuns do paciente renal crônico, como: insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral, doença vascular periférica, neuropatia periférica, neuropatia autonômica e distúrbios gastrointestinais, acesso e eventos da diálise, diabetes mellitus, entre outras. A classificação desse instrumento corresponde a valores numéricos, calculados proporcionalmente para cada categoria, e obtém em seu somatório um índice de gravidade global, que pode variar de zero a 94. Nesse índice, “zero” representa a ausência de doenças associadas (além da DRC), e 94 corresponde à severidade grave da DRC, tendo em vista a associação de todas as condições clínicas comumente manifestas no renal crônico em suas formas mais graves, previstas no instrumento. 03-Orlandi-1741-30(4)-AF 03.12.08 15:34 Page 247 247 Quanto ao procedimento, inicialmente foi realizada uma entrevista individual com os idosos, previamente à terapia renal substitutiva (hemodiálise) ou, na sua impossibilidade, nas duas primeiras horas do tratamento. Nessa entrevista, foi aplicado o SF-36, sob a forma de entrevista, considerando-se a possibilidade de os pacientes apresentarem queda da acuidade visual e baixo nível instrucional. Posteriormente, foi solicitado ao médico nefrologista que atendia os idosos o preenchimento do ESRD-SI (Índice de Severidade da Insuficiência Renal Crônica Terminal) de cada idoso. O estudo foi formalmente autorizado pelos diretores das respectivas clínicas de nefrologia e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP (Parecer CEP nº 417/2002). Em relação às análises estatísticas, os dados coletados foram digitados em uma planilha de dados do programa Excel for Windows 98 e, então, para o programa SAS System for Windows (Statistic Analysis System) versão 8.02, para as seguintes análises: 1. descritiva (tabelas de freqüência, medidas de posição e dispersão, bem como os casos válidos e omitidos); 2. de correlação (coeficiente de Correlação de Spearman, para verificar a correlação entre os instrumentos SF-36 e ESRD-SI); e 3. de comparação (Teste de MannWhitney, para verificar o poder de discriminação dos itens do SF-36 em relação à severidade da DRC). O nível de significância foi de 5%. RESULTADOS Os cem idosos estudados caracterizaram-se pelo equilíbrio entre os sexos (51,0% do sexo masculino); idade entre 60 e 86 anos (média=68,3 ±6,4); tempo médio de escolaridade de 3,2 anos de estudo (±3,4; mediana=3,0); e predomínio da cor branca (81,0%). A maioria dos pacientes (67,0%) possuía um parceiro. Quanto à renda mensal familiar informada, a média foi de 3,3 salários mínimos (SM) (±5,2; mediana=2,0), oscilando entre 0,5 e 42 SM. O tempo médio de tratamento hemodialítico dos pacientes foi 26,7 meses (±21,7; mediana=20,5), com variação entre seis e 117 meses. As condições clínicas associadas que se mostraram mais prevalentes no grupo estudado foram: Diabetes mellitus tipo 2 (42,0%) e hipertensão arterial sistêmica (79,0%). Estas condições também corresponderam ao fator etiológico da DRC para 38,0% e 22,0% dos pacientes respectivamente. Outras condições clínicas freqüentes, como o déficit visual e a insuficiência cardíaca, destacaram-se em 25,0% e 15,0% dos pacientes respectivamente. Uma proporção significativa de idosos (45,0%) apresentava duas ou três condições clínicas associadas. A avaliação da gravidade da DRC, por meio do ESRD-SI, nas categorias originais, mostrou que 87,0% dos casos de DRC foram categorizados como sendo de grau leve de severidade, 12,0% como grau leve a moderado, e somente 1,0% como grau moderado. A média do escore do ESRD-SI foi 14,0 (±9,9), com mediana = 14,0. Como houve uma grande concentração dos pacientes na categoria leve (87,0%) e uma dispersão entre as categorias leve/moderada e moderada, optou-se, neste estudo, pela aglutinação das duas últimas categorias, dando origem à seguinte classificação: “leve” para os idosos que obtiveram pontuação ≤ 24 e “não leve” > 24. Na tabela 1, é apresentada a distribuição dos pacientes de acordo com as categorias do ESRD-SI. A Tabela 2 mostra que o ESRD-SI correlacionouse negativamente com todas as dimensões da QV avaliadas pelo SF-36. Em relação à magnitude das correlações existentes entre o ESRD-SI e as dimensões do SF-36, verificou-se correlação negativa de moderada magnitude com a capacidade funcional e de fraca magnitude com aspectos físicos, estado geral de saúde e aspectos emocionais. Tabela 1. Distribuição dos 100 pacientes de acordo com as categorias do ESRD-SI. ESRD – IS Categorias Originais % Leve 87,0% Leve / Moderada 12,0% Moderada 1,0% Moderada / Grave -Grave -TOTAL 100,0% ESRD – IS Categorias Modificadas % Leve 87,0% Não Leve 13,0% 100,0% * pontuação ≤88; ** pontuação >88 Tabela 2. Coeficiente de Correlação de Spearman dos escores das dimensões do SF-36 com o ESRD-SI. Dimensões do SF-36 Capacidade Funcional Aspectos físicos Dor Estado Geral de Saúde Vitalidade Aspectos Sociais Aspectos Emocionais Saúde Mental ESRD-IS r = -0,46 p < 0,0001 r = -0,26 p = 0,0086 r = -0,13 p = 0,1841 r = -0,22 p = 0,0260 r = -0,16 p = 0,1028 r = -0,12 p = 0,2286 r = -0,23 p = 0,0204 r = -0,15 p = 0,1356 r = Coeficiente de Correlação de Spearman; p = p-valor. J Bras Nefrol 2008;30(4):245-50 03-Orlandi-1741-30(4)-AF 03.12.08 15:34 Page 248 Qualidade de Vida e Severidade da Insuficiência Renal no Idoso 248 Na Tabela 3, é descrita a comparação entre os itens do SF-36 e as duas categorias do ESRD-SI (leve e não leve) criadas neste estudo. Nota-se que o SF-36 conseguiu discriminar os pacientes com severidade leve e não leve da DRC em 50,0% das dimensões, com exceção dos aspectos físicos, vitalidade, aspectos emocionais e saúde mental, sendo que, nesta última dimensão, exibiu uma tendência de significância estatística. DISCUSSÃO A severidade da DRC na vida do idoso O ESRD-SI foi desenvolvido com o propósito de avaliar, por meio de uma variável de controle, a severidade da DRC com a mínima influência das variáveis psicossociais 11. O fato de não incluir, em sua estrutura, variáveis psicossociais torna o ESRDSI um instrumento útil para medir hipóteses psicossociais 11. A análise dos dados da presente investigação indica que a maioria dos pacientes obteve um índice de severidade médio de 14,0 (±9,9), o qual é considerado leve. Do total de pacientes estudados, 87,0% tiveram a sua doença categorizada como de severidade leve, ou seja, houve uma homogeneidade dos idosos em relação ao ESRD-SI. Em estudo realizado com pacientes submetidos a diversas formas de tratamento dialítico, obteve-se uma pontuação média do ESRD-SI da ordem de 10,2. Especificamente na faixa etária entre 63 e 80 anos, esse índice médio subiu para 12,413. No presente estudo, a média do escore do índice de severidade da DRC foi equivalente ao índice médio (15,5) registrado em pacientes submetidos a diálise peritoneal intermitente e mostrou um valor superior ao registrado nos pacientes em tratamento hemodialítico (8,1)13. Já uma investigação sobre distúrbios do sono em pacientes dialisados, a qual incluiu o ESRD-SI como instrumento de avaliação, obteve um escore médio para severidade da DRC de 16,3 (±11,5)14. No Brasil, Morsch et al.10 realizaram um estudo com pacientes em tratamento hemodialítico e obtiveram uma pontuação média no ESRD-SI de 2510. Neste contexto, embora o ESRD-SI tenha mostrado originalmente propriedades satisfatórias, chama a atenção a grande concentração de pacientes na categoria leve no presente estudo, corroborando com o estudo de Griffin et al.13 e Mucsi et al.14 e diferindo da pesquisa de Morsch et al10. Essa homogeneidade na severidade da DRC pode, de certa forma, indicar uma falta de sensibilidade do instrumento para distinguir os pacientes portadores dessa afecção que se enquadram na categoria leve. Acredita-se que um refinamento do ESRD-SI, que possibilitasse a melhor discriminação dos pacientes na categoria leve, poderia resultar numa maior sensibilidade nas correlações entre a severidade da doença e as variáveis psicossociais. A correlação e a comparação entre a QV (SF-36) e a severidade da DRC Em relação à severidade da DRC, metade das dimensões do SF-36 foi capaz de discriminar os idosos, Tabela 3. Comparação entre os valores dos escores obtidos do SF-36 entre os pacientes com ESRD-SI leve (n=87) e não-leve (n=13) (Teste de Mann-Whitney). Dimensões do SF-36 Capacidade Funcional Aspectos Físicos Dor Estado Geral de Saúde Vitalidade Aspectos Sociais Aspectos Emocionais Saúde Mental p=p-valor J Bras Nefrol 2008;30(4):245-50 Média (±dp) Mediana Média (±dp) Mediana Média (±dp) Mediana Média (±dp) Mediana Média (±dp) Mediana Média (±dp) Mediana Média (±dp) Mediana Média (±dp) Mediana ESRD-IS Leve 52,7(± 28,6) 55,0 38,2 (± 37,7) 25,0 62,1 (± 29,0) 62,0 57,2 (± 19,1) 57,0 57,8 (± 18,7) 55,0 84,8 (± 22,7) 100,0 81,6 (± 32,0) 100,0 70,4 (± 19,4) 76,0 ESRD-IS Não-Leve 25,4 (± 22,1) 20,0 21,1 (± 30,4) 0 45,8 (± 28,7) 41,0 45,1 (± 14,0) 40,0 48,5 (± 12,6) 50,0 69,2 (± 29,6) 75,0 66,7 (± 45,1) 100,0 56,9 (± 23,8) 64,0 p-valor p< 0,0019 p= 0,1304 p= 0,0434 p= 0,0203 p< 0,0698 p= 0,0368 p= 0,2812 p= 0,0521 03-Orlandi-1741-30(4)-AF 03.12.08 15:34 Page 249 249 exceto as dimensões aspectos físicos, vitalidade, aspectos emocionais e saúde mental. O SF-36 exibiu correlação negativa significante, estatisticamente, nas dimensões capacidade funcional, aspectos físicos, estado geral de saúde e aspectos emocionais. Dessa forma, associando-se a capacidade discriminante e divergente do SF-36 em relação às categorias do ESRDSI, pode-se afirmar que as melhores dimensões do SF-36 foram a capacidade funcional e o estado geral de saúde, uma vez que, além de discriminar os pacientes, elas apresentaram uma correlação negativa estatisticamente significante. Vale ressaltar que as dimensões aspectos sociais e dor discriminaram os idosos, mas não mostraram correlação, o que aponta para a existência de aglomerados de sujeitos nos extremos de pontuação de ambas as escalas. Já as dimensões aspectos emocionais e aspectos físicos, embora revelem correlação negativa com a severidade, não conseguiram discriminar os pacientes quanto às categorias da severidade da DRC. Vale destacar a dimensão saúde mental e vitalidade que exibiu menor sensibilidade, tendo em vista que não discriminou e nem se correlacionou significativamente. Na literatura nacional e internacional identificam-se poucos estudos que correlacionam a severidade da DRC com a QV dos pacientes renais crônicos. Na aplicação de três medidas de QV em pacientes em diálise: a técnica “time trade off”, a QV relacionada à saúde e o SF-36, e com o emprego do ESRD-SI, os autores encontraram correlação negativa entre o ESRD-SI e os componentes físico e mental do SF-36, correspondendo a forte (r=-0,60; p-valor= 0,0001) e moderada magnitude (r=-0,39; p-valor= 0,0033) respectivamente15. Em outro estudo com pacientes em tratamento hemodialítico, no qual correlacionou-se o escore médio do ESRD-SI e das dimensões do SF-36, verificou-se que os aspectos físicos apresentaram correlação negativa significante estatisticamente com o ESRD-SI (r=-0,538, p-valor<0,001)16. Os dados do presente estudo apontam para a existência de correlação com magnitude mais acentuada entre a severidade da doença e os componentes físicos da QV (capacidade funcional e estado geral de saúde), em relação ao aspecto mental, ratificando os achados da literatura15,16. Neste sentido, embora não tenha havido uma correlação linear entre todas as dimensões do instrumento SF-36 e a severidade da doença, ao se compararem os pacientes com severidade leve e severidade não leve, observou-se que, em todas as dimensões, houve diferença na QV, apontando o grupo de severidade não leve como o mais comprometido na medida da QV. CONCLUSÕES Finalizando, a análise desta pesquisa em um grupo de pacientes renais crônicos idosos em hemodiálise ambulatorial permite concluir, em relação à severidade da DRC, que: 1) o SF-36 exibiu correlação negativa significante estatisticamente nas dimensões capacidade funcional, aspectos físicos, estado geral de saúde e aspectos emocionais; 2) metade das dimensões do SF-36 foi capaz de discriminar os idosos, exceto as dimensões aspectos físicos, vitalidade, aspectos emocionais e saúde mental; 3) a associação da capacidade discriminante e divergente do SF-36 permitiu afirmar que as melhores dimensões do SF-36 foram a capacidade funcional e o estado geral de saúde. Esses achados e a escassez de literatura sobre o tema remetem a futuros estudos em outros grupos e culturas, a fim de possibilitar as respectivas comparações e outras que forneçam elementos importantes para orientar medidas de intervenção nas dimensões da QV que se mostram comprometidas nesse grupo populacional. Remetem, ainda, a estudos longitudinais que avaliem o efeito das intervenções clínicas sobre a medida da QV desses pacientes. REFERÊNCIAS 1. Miguel MEGB, Pinto MEB, Marcon SS. A dependência na velhice sob a ótica de cuidadores formais de idosos institucionalizados. Rev Eletronica Enferm. 2007;9:784-95. 2. Kusumota L, Rodrigues RAP, Marques S. Idosos com insuficiência renal crônica: alterações do estado de saúde. Rev Latino-Am Enferm. 2004;12:525-32. 3. Sesso R, Lopes AA, Thomé FS, Bevilacqua JL, Romão Junior JE, Lugon J. Resultados do censo de diálise da SBN, 2007. J Bras Nefrol. 2007;29:197-202. 4. Carvalho FJW, Silva ABF, Costa RC. Análise da diálise no paciente idoso. Arq Geriatr Gerontol. 1999;3:5-10. 5. Mckevitt PM, Jones JF, Lane DA, Marion RR. The elderly on dialysis: some considerations in compliance. Am J Kidney Dis. 1990;4:346-50. 6. Fonseca PP. 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