RADIODIAGNÓSTICO DE AGENESIA, BILATERAL, DA DIÁFISE UMERAL E AGENESIA, BILATERAL, DE ULNA EM FELINO DOMÉSTICO (Felis catus domesticus)RELATO DE CASO Angélica Ferreira1, Jacinta Leite 2, Géssica Silva3, Vanessa Beltrão³, Maria Carolina Mesquita4, Weslley Souza5, Paulo Filho6 Introdução Todo o desenvolvimento básico da estrutura óssea se diferencia na lâmina mesodérmica embrionária, a qual possui durante a vida embrionária, um tecido conjuntivo, um tecido retivular e um fibroso (Burk, 1996). Alterações na embriogênese podem produzir anomalias na estrutura ou função dos tecidos e órgãos, que estarão presentes ao nascimento. Tais defeitos congênitos podem ser de origem genética ou ambiental. As disostoses são um conjunto de alterações morfológicas congênitas, caracterizada pelo desenvolvimento anormal de um osso ou parte dele (Breur, 2001), sendo raras em cães e gatos. Muitas disostoses têm tratamento, é importante o diagnóstico precoce (Towle & Breur, 2004). As disostoses do esqueleto apendicular são classificadas em amelia, hemimelia, ectrodactilia, braquidactilia, polidactilia, sindactilia, adactilia e dimelia (Ahalt & Bilbrey, 1997; Cornille et al., 2004; Towle & Breur, 2004; Barrand & Cornillie, 2008). A formação dos membros em cães e gatos ocorre entre o 21° e 35° dia de gestação, sendo evidente o aparecimento do broto embrionário do membro. O período crítico em felino doméstico ocorre entre o 16° e o 28° dia após a fertilização, onde qualquer interferência no desenvolvimento do embrião ou dos membros podem causar anomalias (Coornille et al., 2004). Hemimelia é a ausência de parte ou totalidade de um ou mais ossos, e pode ser classificada como terminal, onde está ausente parte ou totalidade dos ossos intermediários e distais; ou intercalar, quando está ausente parte ou totalidade de um osso intermediário (Towle & Breur, 2004). Tanto a hemimelia intercalar quanto a terminal podem ser classificadas ainda em transversa, definida como a ausência de todos os elementos esqueléticos distais; ou longitudinal, tratando-se de perdas que se estendem paralelamente ao eixo longo do membro (Brito, 2003). No caso do rádio e da ulna, a hemimelia pode ser classificada em pré axial, quando o osso medial está ausente, ou pós axial, onde o osso lateral está ausente (Frantz & O’rahilly, 1961). Os animais geralmente apresentam sinais clínicos de redução da capacidade de movimentação do cotovelo, atrofia muscular, encurtamento e apoio do membro sobre o carpo, dismetria e claudicação. Não há sinais de dor. A confirmação do diagnóstico é através do exame radiográfico (Pimentel et al., 2007). Objetiva-se relatar um caso de agenesia bilateral da diáfise umeral e agenesia bilateral da ulna em felino doméstico, devido à escassez de trabalhos descritos na literatura. Material e Método Foi radiografado no setor de Radiologia do Hospital Veterinário (HOVET) da Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE, um felino doméstico (Felis catus domesticus), de um mês de idade, macho, sem raça definida. No exame físico o animal apresentava deformidade nos membros torácicos, dificuldade de apoio e deambulação. A suspeita clínica foi de agenesia umeral. O exame radiográfico da região torácica foi realizado na projeção ventrodorsal (Fig. 1), com o paciente em decúbito dorsal, e para avaliação do membro anterior direito, utilizou-se a projeção médio-lateral (Fig. 2), com o paciente em decúbito dorsal. A técnica usada foi de 45,0 kW (kilovolts) por 5,0 mAs (miliamperes por segundo) e a distância foco-filme foi de 120 cm. 1 Primeiro autor é Medica Veterinária formada pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected] 2 Segundo autor é Professora Associada do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, S/N - Dois Irmãos, CEP 52171-900 Recife-PE/ Brasil. 3 Terceiro autores são Médicas Veterinárias formadas pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, S/N - Dois Irmãos, CEP 52171-900 Recife-PE/ Brasil. 4 Quarto autor é discente do curso de Medicina Veterinária, da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. 5 Quinto autor é discente do curso de Medicina Veterinária, da Universidade Federal de Alagoas, Fazenda São Luiz, S/N, CEP: 57072-900 Viçosa-AL/Brasil. 6 Sexto autor é discente do curso de Medicina Veterinária, da Universidade Federal Rural de Pernambuco –Unidade Acadêmica de Serra Talhada, Fazenda Saco, S/N, Caixa Postal 063, Serra Talhada-PE/ Brasil. Resultados e Discussão Apesar de deformidades congênitas em membros serem de ocorrência rara em felinos (Towle & Breur, 2004), através do exame radiográfico visibilizou-se: agenesia bilateral de ulna, agenesia bilateral da diáfise do úmero, agenesia da articulação do terço proximal do úmero direito e agenesia da articulação do terço distal do úmero com o rádio direito. Não foi possível determinar a causa da hemimelia, pois tanto fatores ambientais quanto genéticos podem influenciar no desenvolvimento embrionário do membro, principalmente no período entre o 16° e o 28° dia após a fertilização segundo Cornille et al. (2004). Não foi possível determinar a classificação da agenesia segundo a literatura, pois não existe uma nomenclatura uniforme e precisa para descrição de más-formações congênitas (Cornillie et al., 2004). Segundo os autores Ahalt & Bilbrey (1997) e Manley & Romich (1993) a determinação do diagnóstico definitivo é através do exame radiográfico dos membros anteriores, onde é possível visibilizar a ausência de um ou mais ossos, o tipo de agenesia, se é completa ou parcial, se existem deformações em ossos adjacentes ou comprometimento de articulações. É importante o diagnóstico precoce para possível tratamento (Towle & Breur, 2004). O animal não necessita de eutanásia e o tratamento a ser adotado proporciona ao animal uma boa qualidade de vida (Barrand & Cornillie, 2008). Agradecimentos À professora doutora Jacinta Eufrásia Brito Leite do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) pela oportunidade, conhecimento e paciência. Referências Ahalt, B. A.; Bilbrey, S. A. What is your diagnosis? Radical agenesis with secondary contractual deformity of the right forelimb. Journal of Small Animal Practice, v. 38, n. 12, p. 539-571, 1997. Barrand, K. R.; Cornillie, P. K.; Bilateral hindlimb adactyly in an adult cat. Journal of Small Animal Practice, v. 49, n. 5, p. 252-253, 2008. Breur, G. J.; Lust, G.; Todhunter, R. J.; Genetics of canine hip dysplasia and other orthopaedic traits. In: RUVINSKY, A.; SAMPSON, J. The Genetics of the dogs. 1 ed. Wallingford: CABI Publishing, 2001. p. 267-298. Brito, C. M. M. Causas mais comuns de amputação nos membros superiores e inferiores. In: DMR – Divisão de Medicina de Reabilitação do Hospital da Faculdade de medicina da Universidade de São Paulo (Org.). SP: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 2003. p. 4. Burk, R.L.; Ackerman, N. Small Animal Radiology and Ultrasonography: a Diagnostic Atlas and Text. 2 ed. Philadelphia: W.B. Saunders, 1996. 678p. Cornille, P.; Van Lancker, S.; Simoens, P. Two cases of brachymelia in cats. Anatomia, Histologia, Embryologia, v. 33, n.2, p. 115-118, 2004. Frantz, C. H.; O’rahilly, R. Congenital skeletal limb deficiencies. Journal of Bone and Joint Surgery, v. 43, n. 8, p. 1202-1224, 1961. Manley, P. A.; Romich, J. A. Miscellaneous orthopedic diseases. In: SLATTER, D. H. Textbook os small animal sugery. 2 ed. Philadelphia: WB Saunders, 1993. p. 1984-1996. Pimentel, A. S.; Lisboa, P. A. V.; Carvalho, L. A.; Aurnheimer, R. C. M.; Tancredi, I. P. Agenesia bilateral de rádio em gato (Felis cati) – Relato de caso. Rio de Janeiro: Revista Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, v. 27, p. 209-210, 2007. Towle, H. A.; Breur, G. J. Dysostoses of the canine and feline appendicular skeleton. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 225, n. 11, p. 1685-1692, 2004. Figura 1. Radiografia torácica de um felino doméstico (Felis catus domesticus) em decúbito dorsal, na projeção ventrodorsal, com técnica de 45,0 kV/5,0 mAs. E, esquedo.Visibiliza-se: agenesia bilateral de ulna, agenesia bilateral da diáfise do úmero, agenesia da articulação do terço proximal do úmero direito e agenesia da articulação do terço distal do úmero com o rádio direito. Figura 2. Radiografia torácica de um felino doméstico (Felis catus domesticus) em decúbito dorsal, na projeção médio-lateral, com técnica de 45,0 kV/5,0 mAs. D, direto. Visibiliza-se: agenesia bilateral de ulna, agenesia bilateral da diáfise do úmero, agenesia da articulação do terço proximal do úmero direito e agenesia da articulação do terço distal do úmero com o rádio direito.