O MUNDO DO TRABALHO, ECONOMIA SOLIDÁRIA E A PRÁTICA DO BEM-VIVER NO SÉCULO XXI. Diego Palma de Castro1 – [email protected] Trilhas Incubadora Social Marista – PUCPR Endereço: Imaculada Conceição, 1155 85902-532 – Curitiba – Paraná – Brasil Isabel Janay Hinça da Silva2 – [email protected] Endereço: Imaculada Conceição, 1155 85902-532 – Curitiba – Paraná – Brasil Resumo: Este artigo, pretende-se fazer uma reflexão dos materiais já produzidos diante de três áreas que se correlacionam, trabalho, economia solidária e Bem-viver, sendo que a perspectiva trabalhada é que, a Economia solidária, enquanto prática de atividade laboral, o quanto viabilizam que seus participantes possam desfrutar do Bem-viver. O trabalho visto na perspectiva marxista é compreendido como tudo aquilo que o homem modifica, desta forma, a Economia Solidária é uma opção ao trabalho, visando a lógica não capitalista e o BemViver é garantia de que o indivíduo tenha seu acesso à qualidade de vida de forma integral. Evidentemente que, um processo não pode ocorrer sem o outro. Palavras-chave: Economia Solidária. Trabalho. Bem-viver. 1 INTRODUÇÃO O sistema econômico atualmente é caraterizado pelo individualismo e a valorização monetária. Ainda, pode-se inferir que alguns modelos de governos neoliberais não obtiveram um bom êxito em seu desenvolvimento, o que proporcionou, a crise do bem-estar social, posto que incitou-se negativamente o índice de desenvolvimento humano, a exclusão e marginalização de alguns indivíduos, contribuindo assim com o individualismo exacerbado, o medo do trabalho, ansiedade, cinismo e desmobilização nos indivíduos. 1 2 Graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Graduanda em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná Ademais, o atual modelo também estimula o viver melhor e o gozar de uma boa qualidade de vida. Assim sendo, o aumento do gasto monetário e o acúmulo de bens, o que permite classificar hierarquicamente quem está vivendo bem e melhor, além da possibilidade de estreitamento das relações sociais e de trabalho do individuo, tornando o objetivo do trabalhador a conquista do capital e ascensão hierárquica. Assim as condições socioeconômicas e políticas das últimas décadas, vem facilitando os embates da sociedade civil frente à crise econômica e ao desemprego estrutural, o que cooperou para que pudesse surgir um modelo alternativo de trabalho e vida. Cujo objetivo é atender as necessidades humanas, atentando para o ser humano como um todo e não apenas uma peça da sociedade, conforme os princípios da Economia Solidária e do Bem-viver Considerando os ideais e características da Economia Solidária, percebe-se que diferentemente do que prega o capitalismo, é possível produzir, distribuir e consumir de forma justa, solidária e sustentável, gerando trabalho e distribuição de renda, além da superação da alienação do trabalho. A via para que isso aconteça é o exercício da democracia, a partilha por igual dos resultados econômicos, políticos e culturais entre os participantes, assim como o reconhecimento do ser humano na sua integralidade e, nesse aspecto, o ser humano é sujeito e finalidade da atividade econômica. Mantendo essa perspectiva de integralidade percebe-se que a prática do Bem-viver se apresenta como uma inovação na América Latina, segundo Brasil e Brasil (2013) a mesma é constitucionalmente reconhecida em dois países, sendo esses: Bolívia (2009) e Equador (2008). A mesma busca estimular e alinhar os seres humanos com a natureza em uma relação recíproca e harmoniosa que se realize em coletividade. Percebe-se que a prática do Bem-viver dialoga com a distribuição do capital, porém mantem-se o respeito da diversidade, ética e convivência coletiva. Percebe-se que a Economia Solidária surge como um movimento social dos trabalhadores e trabalhadoras contra o capitalismo, possibilitando assim incluírem os indivíduos que vinham sendo excluídos e marginalizados por esse modelo, além do escopo de lutar por uma sociedade solidária e pelo Bem-viver na busca por um mundo mais justo, assim sendo, buscando a modificação do trabalho e apropriação do mesmo em prol das necessidades humanas, gestão e tornar o indivíduo protagonista de seu trabalho, conforme pretende-se investigar na linha de pesquisa Tecnologia e Trabalho. Considerando que os empreendimentos econômicos solidários perduram atualmente como uma alternativa de trabalho e renda ao atual modelo econômico, o projeto objetiva-se definir os indicadores do Bem-viver a partir de uma análise da prática de empreendimentos econômicos solidários de Curitiba e região metropolitana, além de identificar em que medida os trabalhadores(as) que integram os empreendimentos de Economia solidária vivenciam o Bem-viver. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 História do Trabalho O trabalho tem por definição a transformação da matéria, através da atividade do homem, a maneira como é aplicado é singular à cada época vivida na trajetória humana (FURTADO, 2011) Sobre a origem e a história do trabalho Marx e Engels citado por Furtado (2011), relatam que em determinado momento da história da humanidade os indivíduos passaram a fazer uso contínuo e sistemático de instrumentos que os auxiliasse na realização de seus afazeres. Esse seria segundo Furtado (2011) um dos momentos mais importantes da evolução humana, já que foi a partir daí que o homem passou a conceber de forma antecipada a ação a ser realizada e os recursos necessários. Para o Autor, outro marco na história do trabalho foi o momento em que as relações de trabalho passaram a ser compreendidas como relações sociais, ultrapassando sua função de garantir sobrevivência e permitindo a acumulação e a programação da produção, momento em que foi descoberta a agricultura. Furtado (2011) esclarece que na sociedade primitiva o trabalho era realizado de acordo com a necessidade do coletivo e os afazeres eram desenvolvidos de forma a garantir a subsistência dos indivíduos e que somente 9 mil anos depois do surgimento da agricultura e em meio a uma nova ordem econômica, política e social o trabalho passou a ser desenvolvido com o objetivo de produzir riqueza, acumula-la e manter segmentos sociais privilegiados e dominantes (FURTADO, 2011). Segundo Pinto (2007, p. 19) foi a partir da idade moderna que “o trabalho foi incorporado pelo modo de produção capitalista e submetido aos interesses de classes ai envolvidas”, explicitado na relação entre empresário, detentores do capital e dos empregados, pessoas que contavam apenas com a sua capacidade de trabalho, sendo assim cabe unicamente ao empregado vender sua capacidade de produção ao empresário capitalista, dando origem ao trabalho assalariado. O autor escreve que no início o capitalista se interessava somente pelo fornecimento de matéria prima e de alguns produtos transformados por alguns trabalhadores e repassavam a comerciantes e consumidores finais. Para o autor foi a luta pelo controle do trabalho humano que levou o capitalista a adentrar o processo produtivo. O trabalho como emprego e a relação construída entre o empregador e o empregado, surge mais evidentemente durante a Revolução Industrial, em que o trabalho individual e até mesmo artesanal, encontra-se em grande baixa com a aquisição de maquinários, em que o homem é visto como peça e não mais como elemento fundamental. Assim como afirma Kisnerman (1983) a relação que começara a ser estabelecida era a de livre concorrência, porém para que se chegasse a essa relação, a construção foi longa e por diversas vezes, conflituosa. Em todas as relações em que o trabalho existe e foi documentado com o passar dos anos, é evidente a dominação de uma classe sobre outra e evidenciando algum tipo de trabalho, enaltecendo, em geral as classes mais privilegiadas. Como é possível ver na Antiguidade Clássica, em que intelectual, artístico, especulativo ou político era exercida pela elite dominante e o trabalho considerado como braçal era responsabilidade dos escravos. E assim se perpetuou toda a estruturação do trabalho até os dias atuais, com alterações de nomes. Há a muito tempo uma camada social dominante, essa domina não apenas no sentido econômico, mas também social, cultural e intelectual e a dominada que por sua vez, coexiste, sendo submetida aos caprichos da classe dominante. Na passagem no século XX para o XXI com as mudanças estruturais, tanto tecnologicas, quanto sociais, novos paradigmas foram colocados, necessitando assim, um olhar atento para diversas situações. Delgado (2006), trás em seu livro Capitalismo, Trabalho e Emprego, uma reflexão diante do desemprego, que na década de 80 do século passado era caracterizado como estrutural, em que é constante a forma de reestruturação da maneira como a produção é realizada. Em um sistema econômico e social excludente, em que, pode-se considerar que, as mudanças são tão constantes e significativas ao longo dos dias, as tecnologias são reinventadas e a cada instante mais o indivíduo é apenas uma peça que movimenta o sistema, não mais elemento fundamental em que, por sua força de trabalho transforma a matéria, ou até mesmo, como colocado na visão marxista, citado por Delgado (2006) que é o processo de valorização em si. Os produtos gerados pela produção capitalista não foram criados para que haja um bem coletivo, mas ela está ligada única e exclusivamente ao consumo, gerando grandes produções, que excedem a expectativas de vendas, criando grandes crises, que já vivenciamos diversas vezes na história mundial e como cita Marx “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.”. Tantas são as crises econômicas que giram os continentes e causam diversos tipos de impactos mundiais, porém, que crise é essa em que a produção pode até diminuir, mas nunca parar? O fato é que, o do trabalho, esse que, independente do processo, utilizando máquinas ou não é fruto do processo humano, se há equipamentos, foi necessário que o trabalho intelectual de alguém fosse aplicado para que a criação, através do processo de confecção desse tal maquinário fosse realizada. O homem, peça fundamental para que se realize o processo produtivo, cada vez mais é colocado como artigo supérfluo em grandes produções, favorecendo a concepção meritocrática, em que, apenas os “melhores” são sobreviventes desse sistema desigual, que perpetua que as classes dominantes continuem prevalecendo seu poder de controle social e econômico. Por fim, o trabalho tornou-se parte da cultura e nele os seres humanos passaram a depositar certas atribuições, na teoria de Marx é por meio do trabalho que o homem se torna um ser social. Portanto pode-se dizer que ele é fonte de experiência psicossocial, se ocupando de um espaço no desenvolvimento da vida humana, fazendo com que não seja somente meio de satisfação de necessidades básicas, mas também fonte de identificação, autoestima, desenvolvimento de potencialidades, sentimento de participação na sociedade e colabora na busca da identidade (NAVARRO e PADILHA, 2007). Além disso, na atualidade encontram-se diversas maneiras que o individuo busca para desenvolver seu trabalho, sendo assim, uma das alternativas possíveis para a sociedade é a Economia Solidária. 2.2 Economia Solidária A Economia Solidária que nasceu na Europa como resposta à crise instaurada pelo surgimento do capitalismo industrial, caracterizado pelo novo arranjo produtivo baseado no uso da máquina, na industrialização dos processos e exploração dos trabalhadores, gerando o empobrecimento e a exclusão dos artesãos (SINGER, 2012). Dois eventos históricos corroboraram para que essa crise se instaurasse: a primeira revolução industrial, que ocorreu na Grã Bretanha, e a expulsão em massa dos camponeses que viviam sob os domínios senhoriais e que se tornaram proletários. Ao mesmo tempo que muitos dos serviços até então desenvolvidos artesanalmente passaram a ser realizados com uso de máquinas, em maior quantidade e em menos tempo, existia um número cada vez maior de pessoas em busca de emprego. Para Nascimento (2011), não existe EcoSol sem autogestão e vice e versa. O autor justifica seu posicionamento dizendo que a origem da EcoSol e a retomada dos princípios do movimento operário as tornam, se não sinônimas, no mínimo conceitos que não existem separadamente. Para Nascimento (2011), a EcoSol é “o conjunto de empreendimentos produtivos de iniciativa coletiva, com certo grau de democracia interna que promove a justiça econômica e equidade de gênero, seja no campo ou na cidade”. Enquanto a autogestão é “um ideal de democracia econômica e gestão coletiva que caracterizam um novo modo de produção” (NASCIMENTO, 2011). Para Singer (2012), a EcoSol é um modo de produção, que se diferencia das organizações que funcionam na lógica capitalista, principalmente pela forma como ela é gerenciada. A empresa capitalista pratica a heterogestão, ou seja, a administração hierárquica, na qual quanto maior o nível hierárquico do funcionário maior é o seu poder dentro da organização. O autor destaca que “à medida que se sobe na hierarquia, o conhecimento sobre a empresa se amplia porque as tarefas são cada vez menos repetitivas e exigem iniciativa e responsabilidade por parte do trabalhador” (SINGER, 2012, p.18). Já os empreendimentos econômicos solidários - EES, praticam a autogestão, ou seja, todos os membros e ou associados conhecem todos os processos existentes e participam da tomada de decisão. Os princípios básicos da EcoSol são: a utilização da propriedade coletivamente e o direito à liberdade individual, sendo que a “aplicação desses princípios une todos os que produzem numa única classe de trabalhadores que são possuidores de capital por igual em cada cooperativa ou sociedade econômica” (SINGER, 2012, p.16). Ademais, a Economia Solidária tem atribuído em seu movimento a busca do bemviver pelos seus praticantes. 2.3 Bem-Viver O Bem-viver tem sua origem nos povos indígenas e a expressão, segundo Mance (1999), quando foi traduzida para o espanhol, fora escrita como “vivir bien” ou como “buen vivir”; depois, em 2006, como “Sumak Kawsay”. Além disso, Lianza e Henriques (2012) enfatizam que “buen vivir”, não é o mesmo que “vivir bien”, pois vivir bien é habituar-se ao estilo neoliberal da sociedade com possibilidade de viver melhor, no entanto, isso só é permitido quando o outro passa a viver pior, ou seja, uma lógica individualista e excludente no cotidiano capitalista. Já o Bem-viver se baseia na valorização da vida em comunidade e no reconhecimento da natureza como indivíduo social, e não como um sujeito alienado em gerar lucro (ARKONADA, 2010). Mance (1999) corrobora destacando que o Bem-viver é um exercício humano de dispor das mediações políticas, educativas e informacionais em prol de tudo que possa ser realizado para satisfazer as necessidades coletivas e que não coloque em risco a liberdade dos outros. Por exemplo, a prática do consumo solidário, pois o mesmo também se torna essencial para a promoção do Bem-viver de outros. Também é uma prática do Bem-viver o não acúmulo de benefícios desnecessários, pois no território em que vivemos nos é fornecido o que precisamos e através do nosso trabalho conseguimos produzir o que o mesmo não pode nos dar (BOOF 2010). Segundo Mance (1999) o Bem-viver é servir de garantia coletiva de todas as condições materiais, políticas, educativas e informacionais, além de que é compartilhar felicidades, alegrias, tristezas e dores com quem quisermos e a hora que determinarmos. Acosta e Martine (2011) confirma que a igualdade, liberdade, justiça social e ambiental está na base do Bem-viver, contudo, o mesmo definitivamente surge como uma oportunidade para a construção de uma outra sociedade baseada na sustentabilidade, convivência dos seres humanos, diversidade e harmonia com a natureza. A partir do reconhecimento dos diversos valores culturais existentes em cada país e no mundo, além dos princípios fundamentais da humanidade (LIANZA e HENRIQUES, 2012) A bibliografia sobre a prática do Bem-viver vem sendo discutida dentro do movimento de Economia Solidária, entretanto foi na V Plenária Nacional De Economia Solidária (2013) que Mance provocou reflexões sobre o Bem-viver na Economia Solidária como um modo de vida para a realização do mesmo. Além disso, essa prática vem conquistando espaços e atualmente é reconhecida constitucionalmente segundo Brasil e Brasil (2013) em dois países da América Latina: Bolívia (2009) e Equador (2008). Contudo na prática do Bem-viver a economia também é fundamental, porém segundo Brasil e Brasil (2013) é necessário compreender que a economia está a serviço da ética do Bem-viver, conforme a Economia Solidária. 3 METODOLOGIA O presente estudo consistirá em uma revisão de literatura de artigos coletados em bases de dados. Durante as pesquisas coletamos 20 artigos, porém foram utilizados 8 artigos para a pesquisa, sendo que com estes conseguimos ter um bom embasamento teórico para discorrer o assunto do nosso objetivo de Identificar a consolidação do Bem-viver com a Economia Solidária. 4 ANÁLISE DOS DADOS Tabela 1 - Artigos selecionado pelos autores. Título do Artigo Autores Desmercantilización, Economía Solidaria y Buen Koldo Unceta Vivir. Satrustegui Propuestas desde el postcrecimiento A Economia Solidária Na Sidney América Latina: as Lianza; Flávio realidades nacionais e Chedid políticas públicas Henriques . Francisco Economia Solidária, bem Salau Brasil; viver e decrescimento: Manuela Salau primeiras aproximações Brasil. Economía solidaria y Magdalena Buen Vivir. Nuevos León enfoques para uma nueva economia. Economía Social Y José Luis Solidaria:El trabajo antes Coraggi que el capital Rumo a uma justiça social, cultural e ecológica: o Marco desafio do Bem Viver nas Aparicio constituições do Equador e Wilhelmi da Bolívia. Economia Solidária: bem Relatório da V viver, cooperação e Plenária autogestão para um Nacional de desenvolvimento justo e Economia sustentável. Solidária Origem Ideia Central Portal Red de educacion y economia solidaria Disseminar conceitos sobre a Economia Solidária, Consumo Responsável, comércio Justo e o Bem viver. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Politicas públicas de Economia solidária no Brasil e na América Latina Universidade Estadual de Ponta Grossa. Relacionar os conceitos de economia solidária, bem viver e decrescimento. Aportaciones desde la Economía Solidaria, Feminista y Ecológica. Universidade Politécnica de Salesiana Relatar a constituição do Equador e da Bolívia sobre o bem-viver e os novos paradigmas dessa ação. Disseminar conceitos de Economia Solidária e temas que perpassam por ela. Universidade de Relatar o avanço constitucional Girona do Equador e da Bolívia. Fórum Brasileiro de Economia Solidária. Definição das diretrizes políticas mais amplas e que orientamo movimento de Economia Solidária no Brasil. A Revolução das Redes de Colaboração Solidária Apresentado no Encontro Euclides Internacional de André Mance Ecônomas Salesianas, Sevilha, 2005 A organização de uma rede colaborativa que integre o conjunto das iniciativas de economia popular e solidária e a busca do bem-viver. Fonte: os Autores (2016) A partir dos artigos selecionados percebe-se de priori o número maior de produções em Espanhol do que em Português de artigos cujo o tema é bem-viver, entretanto essa disparidade esta relacionado a efetividade em politicas públicas na Bolívia e no Equador. Segundo Brasil e Brasil (2013) O bem viver é constitucionalmente reconhecido na Bolívia (2009) e no Equador (2008), ou seja, um dos fatores que contribuem diretamente para as pesquisas nesses países. Já no Brasil o Fórum Brasileiro de Economia Solidária- FBES enfatizou no país a discussão do bem viver em sua V plenária que aconteceu no ano de 2012 com o seguinte título: Economia Solidária: bem viver, cooperação e autogestão para um desenvolvimento justo e sustentável. Vale ressaltar que a discussão ampliada do Bem-Viver e Economia Solidária iniciaram-se a partir desse momento. No entanto, é possível encontrar na literatura a prática do bem viver dês dos anos noventa, por exemplo, no livro “A Revolução das Redes” do Euclides Mance (1999). Percebe-se também nos artigos uma diferenciação entre o bem-viver e o viver bem. Segundo Henriques (2012) “buen vivir”, não é o mesmo que “vivir bien”, pois vivir bien é habituar-se ao estilo neoliberal da sociedade com possibilidade de viver melhor, no entanto, isso só é permitido quando o outro passa a viver pior, ou seja, uma lógica individualista e excludente no cotidiano capitalista. Já o Bem Viver se baseia na valorização da vida em comunidade e no reconhecimento da natureza como indivíduo social, e não como um sujeito alienado em gerar lucro (ARKONADA, 2010). A literatura evidencia a forte relação da prática do Bem-viver com a Economia solidária. Segundo Brasil e Brasil (2013) A Economia solidária é um movimento, entendida como uma alternativa ao modelo econômico predominante e com isso, tem aproximação com diversos movimentos sociais que se colocam no mesmo lado da trincheira. Ou seja, a defesa da igualdade, democracia e sustentabilidade, princípios basilares da Economia solidária. Lianza e Henriques (2012) corroboram enfatizando que a visão do bem-viver implica diretamente a manutenção dos direitos de liberdade, oportunidade para os seres humanos, comunidades, povos nacionais, além de garantir o reconhecimento das diversidades. Além dessa relação também perecebe-se a semelhança quando se trata da centralidade dos seres humanos no trabalho, pois segundo Lianza e Henriques (2012) “una característica fundamental de la economía popular y de la economia solidaria es el reconocimiento fundamental del trabajo humano en su capacidad de generar riqueza, sociedad, cultura, ética” e o bem-viver segundo Corragio (2011) é pautada simplesmente na solidariedade. Em unanimidade os artigos trazem a Economia Solidária como uma alternativa ao modelo econômico predominante na sociedade atual, ou seja, a Economia solidária pratica a autogestão, onde todos os membros e ou associados conhecem todos os processos existentes e participam da tomada de decisão. Além disso, a Economia solidária também é pautada em alguns princípios que se convergem a prática do bem viver. No artigo do Wilhelmi (2013, p.5) o mesmo descreve que as politicas públicas do bem-viver na Bolívia e no Equador está direcionada na relação dos seres humanos que ocorre de uma maneira não centrada no modelo produtivista de crescimento econômico contínuo, mas sim em uma compreensão de equilíbrio e respeito mútuo; o “viver bem” de todos, em vez do “viver melhor” de poucos, assim percebe-se a relação direta com a prática da Economia Solidária. Outro aspecto relevante apontado pelos artigos é a relação do bem–viver e da Economia Solidária com o meio ambiente. Segundo Wilhelmi (2013, p. 316) é enfatizado que está colocado em primeiro lugar na agenda dos países que compreendem a prática do bemviver a compreensão de que não pode haver justiça social sem justiça ambiental ou ecológica. Se tratando da mudança de paradigmas também se percebe nos artigos o impacto da prática do bem viver na qualidade de vida, pois acredita-se que a politica do Bem-viver impacta diretamente o mundo do trabalho, ou seja, indo contra uma lógica neoliberal de trabalho. O autor Coraggio (2011) destaca que é impossível pensar em uma Economia do trabalho que valorize as forças sociais, pois está ideia se contrapõem ao modelo capitalista de organização, sendo assim, os artigos em uma forma unanime enfatizam que o Bem-Viver e a Economia solidária proporcionam uma nova organização do mundo do trabalho, conforme descreve Brasil e Brasil (2013) Ambos tem como premissa o questionamento ao que habitualmente se compreende como um desenvolvimento desejável, ou seja, ao desenvolvimento capitalista. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente artigo teve como objetivo realizar a identificação do Bem-viver com a Economia Solidária, utilizando-se da revisão de literatura. Para além de identificar a correlação do bem-viver com a Economia Solidária, a pesquisa realizou o aprofundamento teórico no que se refere a Economia Solidária, Bem-Viver e o mundo do trabalho na Atualidade. Os dados apontaram que é necessário uma ampliação do estudo relacionado ao bemviver no Brasil, pois na atualidade o movimento de Ecosol vem ganhando força, legitimidade e número de indivíduos que participam, ou seja, aumentam a possibilidade de efetivação da mesmo no país. Com a disseminação do conceito de Bem-viver no país promove um campo fértil para a realização de uma das diretrizes da V Plenária Nacional de Economia Solidária, sendo essa, a promoção do Bem-viver em empreendimentos econômicos solidários. Outro dado relevante que pode-se perceber foi a metamorfose da compreensão do trabalho. Na antiguidade a palavro trabalho se originou do latim tripalium, que traz consigo o sofrimento, entretanto a Economia Solidária tem contribuído diretamente para a alteração desse paradigma e na promoção do bem-estar que pode vir a ser compreendido na prática do Bem viver, ou seja, a Economia Solidária e o Bem-viver vêm sendo uma alternativa ao modelo capitalista de trabalho. Também conclui-se que a Economia Solidária e o Bem-viver tem uma real ligação em seus conceitos, pois ambos tem os seres humanos como centro no seu processo de desenvolvimento, além de que ambos buscam a qualidade de vida, preservação do meio ambiente e outros princípios. Além disso, mesmo não tendo sido objeto da pesquisa percebese que a Bolívia e o Equador tem um papel fundamental na disseminação da prática e da politica pública do Bem-viver, pois ambos foram pioneiros na execução para todo o planeta. Por fim, conclui-se que a Economia Solidária e o Bem-viver tem papel fundamental na busca por um sistema econômico alternativo, além de que prezam pelo bem-estar social e lutam contra a alienação no trabalho, doença no trabalho, exclusão, assedio moral e hierarquização, além de tantas outros aspectos que surgem do modelo capitalista e prejudicam os seres humanos. 6 REFERÊNCIAS. ACOSTA Alberto; MARTÍNE. Esperanza. Economía social y solidaria El trabajo antes que el capital. Auspiciado por la Fundación Rosa Luxemburg, Quito-Ecuador, julio del 2011 Disponível em: <http://www.coraggioeconomia.org/jlc/archivos%20para%20descargar/economiasocial.pdf> Acesso em: 10.03.2016 ARKONADA, Katu. Descolonização e Viver Bem são intrinsecamente ligados. IHU OnLine, São Leopoldo, ed. 340, p. 10-13, 2010. Disponível em: < http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_conten%20t&view=article&id=343 9&secao=340> Acesso em: 10.03.2016 BOOF, Leonardo. 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Introdução à economia solidária. 5. ed. São Paulo: Fundação PerseuAbramo, 2012. WORKING LIFE , SOCIAL ECONOMY AND GOOD LIVING IN XXI CENTURY . Abstract: This article, search a reflection on materials there already produced on three correlate areas, there are, labor, social economy and good living, Social Economy and good living, being that the worked are functional together, the social Economy, while activity practice laboral, all the vialibiliza that his participants could enjoy the good lives.The work seen in the Marxist perspective is understood as all that man modifies thus the Solidarity Economy is an option to work, aiming at the non-capitalist logic and the Good Life is assurance that the individual has access to quality of life in full . Clearly , a process can’t occur without the other. Keywords: Social economy. Labor. Good living.