TATIANA MELINO PESSANHA TOXOPLASMOSE NA GESTANTE E NO RECÉM-NASCIDO: ESTUDO DE CRIANÇAS E DE SUAS MÃES QUE APRESENTARAM SOROLOGIA POSITIVA (IgM) DURANTE O PERÍODO GESTACIONAL Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de pós-graduação em saúde da criança e do adolescente da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção de Grau de Mestre. Área de concentração: Pediatria. Orientador: Prof. Dr. MANOEL DE CARVALHO Co-orientador: Prof. MARCOS VINÍCIUS PONE Niterói 2007 2 TATIANA MELINO PESSANHA TOXOPLASMOSE NA GESTANTE E NO RECÉM-NASCIDO: ESTUDO DE CRIANÇAS E DE SUAS MÃES QUE APRESENTARAM SOROLOGIA POSITIVA (IGM) DURANTE O PERÍODO GESTACIONAL Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de pós-graduação em saúde da criança e do adolescente da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção de Grau de Mestre. Área de concentração: Pediatria. BANCA EXAMINADORA _______________________________________________________________ Profª. Drª. GESMAR VOLGA HADDAD HERDY Professora Titular de Pediatria da UFF ________________________________________________________________ Prof. Dr. SÉRGIO GOMES COUTINHO Professor de Parasitologia da Escola de Medicina da Faculdade Souza Marques ________________________________________________________________ PROF. DR. RENATO SÁ Professor de Obstetrícia da UFF Niterói 2007 3 AGRADECIMENTOS Ao meu marido e amor Diorge, pelo incentivo, paciência e apoio nas horas difíceis e compreensão pelas minhas ausências. Aos meus pais Ademir e Elza, sem vocês, eu não conseguiria ser o que sou. Aos meus orientadores Prof. Manoel de Carvalho e Prof. Marcos Pone, pela dedicação e valiosa contribuição para a finalização deste trabalho. À minha amiga Natalie Del Vecchio, pela amizade, ajuda e cumplicidade. Começamos e terminamos juntas essa árdua caminhada. À minha melhor e velha amiga Renata Lima, por ter me ajudado na construção dos gráficos. Às minhas amigas Mariza Curto e Priscila Lopes, por me darem apoio e incentivo. Ao meu amigo Sylvio Furtado, por ter me ajudado na redação deste trabalho e de estar presente na minha ausência do plantão. Ao Dr. João Maurício Scarpellini Campos, por ser um pediatra admirável e de ter ajudado na revisão deste trabalho. À Dra. Ana Claúdia Mamede, pelo incentivo, amizade e auxílio prestado na redação deste trabalho. Ao Saint-Clair, que me ajudou nos programas estatísticos. Aos profissionais do Arquivo Médico do IFF/FIOCRUZ pela ajuda na busca dos prontuários, sempre de forma solícita. Aos amigos do mestrado que num ambiente descontraído tornaram possível a finalização desta tarefa. Aos meus amigos do Instituto Fernandes Figueira, Centro Pediátrico da Lagoa e do Hospital Geral de Bonsucesso que me apoiaram e me incentivaram. A Deus por tudo... 4 SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS RESUMO ABSTRACT 6 8 9 11 1 INTRODUÇÃO 13 2 REFERENCIAL TEÓRICO 18 2.1 HISTÓRICO 2.2 EPIDEMIOLOGIA 2.2.1 SOROPREVALÊNCIA EM GESTANTES 2.2.2 INCIDÊNCIA DE TOXOPLASMOSE CONGÊNITA 2.3 O TOXOPLASMA GONDII 2.4 TRANSMISSÃO 2.5 QUADRO CLÍNICO 2.5.1 A DOENÇA EM IMUNOCOMPETENTES 2.5.2 TOXOPLASMOSE CONGÊNITA 2.5.3 A DOENÇA EM IMUNODEPRIMIDOS 2.6 DIAGNÓSTICO 2.6.1 DEMONSTRAÇÃO DIRETA DO TOXOPLASMA 2.6.1.1 INOCULAÇÃO EM CAMUNDONGOS 2.6.6.2 CULTURA EM CÉLULAS HUMANAS 2.6.6.3 REAÇÃO EM CADEIA DE POLIMERASE (PCR) 2.6.2 DEMONSTRAÇÃO INDIRETA DO TOXOPLASMA 2.6.2.1 PRINCIPAIS MÉTODOS SOROLÓGICOS 2.6.3 MÉTODOS HISTOLÓGICOS 2.6.4 DIAGNÓSTICO NA GESTANTE 2.6.5 DIAGNÓSTICO NO FETO 2.6.6 DIAGNÓSTICO NO PERÍODO NEONATAL 2.7 TRATAMENTO 2.7.1 DROGAS UTILIZADAS PARA O TRATAMENTO DA TOXOPLASMOSE 2.7.2 TRATAMENTO NO PERÍODO GESTACIONAL 19 22 25 28 29 32 37 37 37 42 42 44 44 44 44 45 46 50 51 54 58 63 64 67 5 2.7.3 TRATAMENTO DA CRIANÇA COM TOXOPLASMOSE CONGÊNITA 2.8 SEGUIMENTO DAS CRIANÇAS 2.8.1 SEGUIMENTO DAS CRIANÇAS INFECTADAS 2.9 PROFILAXIA 69 74 75 76 3 JUSTIFICATIVA 81 4 OBJETIVOS 84 5 METODOLOGIA 5.1 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS 5.2 ANÁLISE DOS DADOS 5.3 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS 87 91 98 99 6 RESULTADOS 6.1 DESCRIÇÃO DA POPULAÇÃO ESTUDADA 6.2 ANÁLISE DAS GESTANTES 6.3 INFECÇÃO CONGÊNITA: CRIANÇAS E SUAS RESPECTIVAS MÃES 100 101 102 107 7 DISCUSSÃO 117 8 CONCLUSÃO 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS 137 140 10 BIBLIOGRÁFIA 143 11 APÊNDICE 11.1 FICHA TÉCNICA APLICADA À GESTANTE 11.2 FICHA TÉCNICA APLICADA À CRIANÇA 11.3 TIPOS DE VARIÁVEIS USADAS PARA ATENDER AOS OBJETIVOS DO ESTUDO EM RELAÇÃO À GESTANTE 11.4 TIPOS DE VARIÁVEIS USADAS PARA ATENDER AOS OBJETIVOS DO ESTUDO EM RELAÇÃO À CRIANÇA 11.5 APROVAÇÃO NO COMITÊ DE ÉTICA 6 LISTA DE ILUSTRAÇÕES TABELA 1 – Soropositividade para toxoplasmose em grávidas no Brasil, p. 27 FIGURA 1 – Ciclo de vida do Toxoplasma gondi, p. 31 TABELA 2 – Acompanhamento de crianças nascidas de mulheres que adquiriram a infecção pelo T. gondii durante a gestação, p. 36 TABELA 3 – Manifestações clínicas da toxoplasmose congênita no período neonatal, p. 39 TABELA 4 – Tratamento da toxoplasmose congênita, p. 71 TABELA 5 – Medidas de prevenção primária para toxoplasmose congênita, p. 77 FIGURA 2 – Diminuição de anticorpos IgG transmitidos pela mãe (Dye Test) em 93 crianças não infectadas (430 sorologias), p. 93 FIGURA 3 – População estudada, p. 101 FIGURA 4 – Período gestacional no qual o diagnóstico sorológico (IgM positiva) foi realizado, p. 102 TABELA 6 – Índice de IgM específica para toxoplasmose nas gestantes estudadas, p. 103 TABELA 7 – Título de IgG específica para toxoplasmose nas gestantes estudadas, p. 104 FIGURA 5 – Período gestacional no qual o teste de avidez foi realizado, p. 105 TABELA 8 – Resultado do teste de avidez de IgG, p. 105 FIGURA 6 – Período gestacional no qual foi iniciado o tratamento para toxoplasmose nas gestantes com sorologia IgM positiva, p. 106 FIGURA 7 – Toxoplasmose congênita na crianças cujas mães apresentaram IgM positiva durante o período gestacional, p. 107 TABELA 9 - Dados demográficos de mães e crianças com e sem infecção pelo toxoplasma, p. 108 FIGURA 8 – Avaliação das gestantes cujos filhos não foram infectados, p. 109 7 FIGURA 9 – Avaliação das gestantes cujos filhos foram infectados, p. 110 TABELA 10 – Correlação de parâmetros diagnósticos realizados durante o pré-natal e infecção congênita, p. 112 FIGURA 10 – Acompanhamento da negativação de IgG nas crianças sem infecção congênita pelo toxoplasma, p. 114 TABELA 11 – Avaliação clínica e laboratorial das crianças infectadas pelo toxoplasma, p. 115 8 LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS % AAP AC/HS AIG BA CE CEPIFF CONEP DIPe dl DNA DP EIA ELFA ELIFA ELISA EUA Fiocruz g GIG HIV IFA IFF IG IgA IgE IgG IgM IHA ISAGA kg MG mg mm3 ºC PC PCR PE PIG PR RJ RS SP UI/ml USG Percentual Academia Americana de Pediatria Acetona/formalina Adequado para a idade gestacional Bahia Ceará Comissão de Ética em Pesquisa do Instituto Fernandes Figueira Comissão Nacional de Ética em Pesquisa Doenças Infecciosas em Pediatria Decilitros Deoxyribonucleic acid Desvio Padrão Enzyme Immunoassay Enzyme Linked ImmunoFluorescent Assay Enzyme Linked Immunofiltrartion Assay Enzyme Linked ImmunoSorbent Assay Estados Unidos da América Fundação Instituto Oswaldo Cruz Gramas Grande para a idade gestacional Human Immunodeficiency Virus Teste de Imunofluorescência Indireta Instituto Fernandes Figueira Idade gestacional Anticorpos imunoglobulina A Anticorpos imunoglobulina E Anticorpos imunoglobulina G Anticorpos imunoglobulina M Teste de Hemaglutinação Indireta Immunosorbent Agglutination Assay Quilograma Minas Gerais Miligramas Milímetros cúbicos Graus Celsius Perímetro cefálico Reação em Cadeia de Polimerase Pernanbuco Pequeno para a idade gestacional Paraná Rio de Janeiro Rio Grande do Sul São Paulo Unidades internacionais por mililitros Ultra-sonografia 9 RESUMO A toxoplasmose é uma infecção freqüente em todo mundo. Na maioria dos casos, não traz repercussões importantes para o paciente, exceto indivíduos imunodeprimidos e fetos, os quais podem apresentar seqüelas graves. O diagnóstico precoce da infecção aguda durante a gravidez é altamente desejável, já que o tratamento reduz a freqüência e gravidade da infecção fetal. Objetivo: Analisar os testes diagnósticos realizados para a identificação de infecção pelo Toxoplasma gondii durante o período gestacional e sua relação com infecção congênita e analisar crianças com toxoplasmose congênita ou suspeita de toxoplasmose congênita acompanhadas no ambulatório do Instituto Fernandes Figueira (IFF). Metodologia: Estudo transversal retrospectivo, realizado através da análise dos prontuários de 99 crianças acompanhadas por suspeita de toxoplasmose congênita até definição do diagnóstico, no período de 2003 a 2006, e de suas 98 mães que apresentaram sorologia IgM positiva para toxoplasmose durante o período gestacional. Foi avaliado o seguimento das crianças sem infecção congênita e o quadro clínico das crianças infectadas. Resultados: O diagnóstico de toxoplasmose congênita foi confirmado em 4 crianças. Neste estudo foi observado que 77,6% das 98 gestantes realizaram o primeiro diagnóstico sorológico para toxoplasmose (IgM positiva) no segundo e terceiro trimestre de gestação e 50 gestantes (50,1%) apresentaram baixos índices de IgM pelo método ELFA (índices menores que 1). O teste de avidez de IgG foi realizado em 62 gestantes (63,3%) e somente 13% destas realizaram-no no primeiro trimestre de gestação. A amniocentese foi realizada em 7% das gestantes. A ultra-sonografia no 10 pré-natal, com alterações sugestivas de toxoplasmose congênita, foi um bom método para identificar a toxoplasmose congênita em fetos que estavam muito comprometidos (p<0,05). A maioria das gestantes (95%) foi tratada para toxoplasmose durante a gestação com espiramicina, sulfadiazina e pirimetamina ou ambos os esquemas alternadamente. A idade materna foi menor nas mães com filhos com toxoplasmose congênita do que nas mães que não tiveram filhos com toxoplasmose congênita (p<0,01). Todas as crianças não infectadas apresentaram declínio de IgG específica para toxoplasmose. A idade média de IgG comprovadamente negativa foi de 5,4 meses. As manifestações clínicas de toxoplasmose congênita ao nascimento foram identificadas em 3 recém-nascidos que estavam infectados. Alterações neurológicas e oculares foram em todos os casos de toxoplasmose congênita. A sorologia IgM positiva para toxoplasmose foi encontrada em 3 recém-nascidos infectados. Conclusão: O diagnóstico sorológico mais tardio de infecção pelo toxoplasma dificultou a utilização de outros métodos para identificar a infecção aguda pelo toxoplasma, principalmente o teste de avidez de IgG. A presença de uma sorologia positiva para IgM, como exame isolado, tem um valor limitado em detectar infecção recente e deve ser utilizada em associação com outros exames complementares para o diagnóstico de infecção aguda, para assim diminuir a necessidade da utilização de mais exames diagnósticos confirmatórios e de seguimento, da necessidade do tratamento das gestantes e do seguimento das crianças suspeitas. Títulos decrescentes de IgG específica para toxoplasmose nas crianças parecem estar relacionados com ausência de toxoplasmose congênita. 11 ABSTRACT Toxoplasmosis is one of the most frequent infections all over the world. Most cases are asymptomatic, except in immunosupressed individuals and fetuses, were it can be a severe disease. Prenatal diagnosis should be made as soon as possible since maternal treatment can minimize fetal damage. Objective: To analyze the diagnostic tests used to identify Toxoplama gondii infection during pregnancy and their relationship with congenital infection and analyze children with suspect or confirmed congenital infection followed at Instituto Fernandes Figueira (IFF) outpatient clinic. Methods: We performed a retrospective study of 99 children suspected to have congenital toxoplasmosis from January 2003 to December 2006 and of 98 mothers having positive-IgM to toxoplasmosis during pregnancy. The follow up of the children with and without congenital infection were analyzed as well as the clinical presentation of those with congenital infection. Results: Congenital toxoplasmosis was confirmed in 4 children. It was observed in this study that 77,6% of the 98 pregnant women had their first positive serological diagnostic test (positive-IgM) in the second and third trimester of pregnancy and 50 pregnant women (50,1%) had low IgM indexes by ELFA (lower than 1). IgG avidity test was made in 62 pregnant women (63,3%) and only 13% have it done in the first trimester of pregnancy. Amniocentesis was made in 7% of the pregnant women. The prenatal ultrasonography showed abnormalities in 3 of 4 infected patients and it was a good diagnostic method to identify congenital toxoplasmosis in fetuses with overwhelmed disease (p<0,05). The majority of pregnant women (95%) were treated for toxoplasmosis during pregnancy with spiramycin and sulfadiazine/pyrimethamine or in 12 alternate period. Maternal age was lower in those with infected children than in mothers with uninfected concepts (p<0,01). All uninfected children had decreasing IgG for toxoplasmosis, the mean age of negative IgG detected by 5,4 months. Clinical manifestations of congenital infection at birth were found in 3 newborns. Neurological and ocular alterations were found in all cases of congenital toxoplasmosis. The positiveIgM to toxoplasmosis was found in 3 infected newborns. Conclusion: The late serologic diagnostic hinders the use of another diagnostic method to identify acute infection, mainly the IgG avidity test. The presence of positive IgM to toxoplasmosis, as the only serologic marker to detect recent infection has limited value. It needs to be used in association with other diagnostic tests to identify acute infection, which would decrease the frequently required use of confirmatory and follow-up serologic tests, the need of treatment during pregnancy and the follow-up of the suspect children. Decreasing values of IgG to toxoplasmosis in these children seem to be related to the absence of congenital toxoplasmosis. 13 1 – INTRODUÇÃO 14 A toxoplasmose é uma doença transmitida pelo protozoário Toxoplasma gondii, sendo uma das infecções mais comuns em humanos (REMINGTON JS et al., 2006). É uma zoonose altamente disseminada, com taxas de prevalência variáveis em diversas partes do mundo (DUBEY JP et al., 1988). A prevalência de anticorpos específicos é diretamente proporcional à idade da população, indicando que a infecção é adquirida ao longo da vida (REMINGTON JS et al., 2006). Os países com maior prevalência da infecção pelo Toxoplasma gondii encontram-se na Europa, África, Caribe e América do Sul (ZUBER P & JACQUIER P, 1995; PETERSEN E, 2007). Nos diversos inquéritos epidemiológicos realizados no Brasil, com diferentes testes sorológicos, observou-se uma alta prevalência da toxoplasmose em nosso meio (RICCIARD ID et al., 1978; SOUZA WJS et al., 1987; BORGES AS et al., 1997; ANDRADE GMQ et al., 2001). A infecção em pacientes imunocompetentes geralmente é assintomática ou associada a uma doença leve e autolimitada. Porém, a infecção em pacientes imunodeprimidos e em fetos pode levar ao desenvolvimento de doença grave (FEIGIN RD & CHERRY JD, 1998). A transmissão em humanos geralmente ocorre através da ingestão de água ou alimentos contaminados com oocistos excretados por fezes de gatos infectados, pela ingestão de carne crua ou mal cozida contendo cistos, ou por transmissão congênita através da placenta infectada (LOPEZ A et al., 2000; WONG SY & REMINGTON JS et al., 1994). A transmissão congênita foi a primeira forma de transmissão reconhecida (REMINGTON JS et al., 2006). 15 A infecção aguda em grávidas pode acarretar comprometimento fetal, causando abortamento, crescimento intra-uterino retardado, prematuridade e acometimentos neurológico e oftálmico (JONES J et al., 2003). Quanto mais precoce a idade gestacional na qual a mulher apresente a infecção aguda, mais grave será o acometimento fetal. Entretanto, o risco de transmissão para o feto é maior nas idades gestacionais mais avançadas (REMINGTON JS et al., 2006). A incidência de toxoplasmose congênita é maior em países com alta prevalência da infecção (KOSKINIEMI S et al., 1989). No Brasil é de 3,3 a 19,6 casos para cada 10.000 nascidos vivos (NETO EC et al., 2000; BAHIA-OLIVEIRA LMG et al., 2001; MOZZATO L et al., 2003; CARVALHEIRO CG et al., 2005). Muitas crianças com infecção congênita são normais ao nascimento e os sinais e sintomas vão se manifestar semanas, meses ou anos depois (REMINGTON JS et al., 2006). Como a maioria das infecções nas grávidas e nos recém-nascidos é assintomática, deve-se utilizar a triagem sorológica, a fim de diagnosticar e tratar os casos de toxoplasmose aguda na gestação e de toxoplasmose congênita (ANDRADE GMQ et al., 2004). O diagnóstico de toxoplasmose durante o período gestacional é primariamente realizado através de testes sorológicos durante o pré-natal (MONTOYA JG & ROSSO F, 2005). Alguns países, como França e Áustria, fazem este rastreamento sorológico de rotina nas grávidas. Nos últimos anos, alguns países, como EUA e Dinamarca, estão realizando uma triagem neonatal para diagnóstico de toxoplasmose congênita (LEBECH M et al., 1999). 16 O diagnóstico de infecção aguda na gravidez é de crucial importância, pois somente a infecção aguda em grávidas tem risco de transmitir a doença para o feto (MONTOYA JG & ROSSO F, 2005). A mulher que adquire a infecção antes da gravidez não apresenta risco de transmitir a infecção para o seu filho, a menos que esteja imunodeprimida (REMINGTON JS et al., 2004). A detecção de anticorpos IgM específicos para toxoplasmose é o método mais comumente utilizado em todo o mundo para determinar infecção aguda (WILSON M et al., 1997). Devido ao fato de anticorpos IgM poderem persistir por meses a anos após uma infecção aguda (DEL BONO V et al., 1989; BOBIC B et al., 1991), essa detecção apresenta valor limitado em determinar se a infecção é aguda ou não. Por isso existe a necessidade de se utilizar outros métodos para diagnóstico da infecção aguda em grávidas (LIESENFELD O et al., 1997). O método de maior importância para diagnosticar infecção aguda nas gestantes é o teste de avidez de IgG que mede a afinidade funcional de anticorpos IgG específicos para toxoplasmose. É mais útil se realizado nos primeiros meses de gestação. Portanto, a grávida que apresente teste de avidez alta no primeiro trimestre, não adquiriu infecção aguda nos três meses precedentes, concluindo-se que a infecção foi adquirida antes da gestação e o feto não corre risco de infecção congênita (REMINGTON JS et al., 2004). O diagnóstico fetal da toxoplasmose congênita passou a ser possível a partir da realização da sorologia do feto através da cordocentese, e mais recentemente, através da Reação em Cadeia de Polimerase (PCR) do líquido amniótico. Esse exame, obtido através da amniocentese realizada a partir da 18ª semana de gestação mostrou ser mais sensível, rápido e seguro que a cordocentese. A ultra-sonografia fetal também tem 17 valor para o diagnóstico fetal, pois é capaz de identificar anormalidades sugestivas de toxoplasmose congênita (WONG SY & REMINGTON JS et al., 1994). Novos métodos sorológicos estão sendo desenvolvidos para melhor diagnóstico neonatal, como o método sorológico de imunocaptura e o uso do Werstern blot pareado nas mães e filhos (WILSON M et al., 1997; TISSOUT DUPONT D et al., 2003; REMINGTON JS et al., 2004). O tratamento da gestante com infecção aguda reduz a incidência e a severidade da infecção fetal (WONG SY & REMINGTON JS, 1994). Embora atualmente exista um questionamento sobre a verdadeira eficácia do tratamento na gestante em prevenir infecção congênita (PEYRON F et al., 2006), o tratamento da criança com infecção congênita por um período de um ano tem a sua eficácia comprovada e está associado a uma redução de seqüelas na infância, principalmente as neurológicas, oftálmicas e audiológicas (BRÉZIN AP et al., 2003; MCLEOD R et al., 2006). A toxoplasmose congênita é uma doença que pode ser prevenida e tratada (REMINGTON JS et al., 2006). Por isso a importância de se identificar a gestante suscetível à infecção, a infectada agudamente e a criança com infecção congênita, para assim instituir medidas profiláticas e terapêuticas, evitando a transmissão vertical da toxoplasmose e tratando as crianças infectadas a fim de diminuir seqüelas (ANDRADE GMQ et al., 2004). 18 2 – REFERENCIAL TEÓRICO 19 2.1 HISTÓRICO A toxoplasmose é uma doença reconhecida há quase um século. O Brasil teve uma participação notável em seus estudos com a identificação do parasita por Alfonso Splendore em 1908, em São Paulo. No mesmo período, no Instituto Pasteur na Tunísia, Nicolle e Manceaux observaram o mesmo parasita em células mononucleares do fígado e baço de um roedor norte-africano, inicialmente denominando Ctenodactilus gondii, que posteriormente, devido a sua semelhança com a leishmania, teve seu nome mudado para Leishmania gondii. No ano seguinte, Nicolle e Manceaux decidiram modificar essa classificação com base em critérios morfológicos, denominando uma nova espécie, o Toxoplasma gondii (REMINGTON JS et al., 2006). Transcorreram-se alguns anos desde a descoberta do Toxoplasma gondii até a associação do mesmo com doença em animais e humanos. Tal fato ocorreu em 1923, quando Jankü, oftalmologista tcheco, ao realizar uma necropsia encontrou cistos do parasita na retina de uma criança de 11 meses que apresentava retinocoroidite bilateral, hidrocefalia e microcefalia, descrevendo assim, o primeiro caso da forma congênita (REMINGTON JS et al., 2006). Em 1927, Magarinos Tôrres descreveu o primeiro caso no Brasil de infecção humana pelo Toxoplasma gondii na necropsia de um recém-nascido com meningoencefalite congênita, miocardite e miosite. Inicialmente foi denominado Encephalitozoon chagas, e anos mais tarde este parasita foi identificado como o Toxoplasma gondi (PESSÔA SB & MARTINS AV, 1982). Em 1939, Wolf & Cowen realizaram a primeira transmissão experimental de toxoplasmose humana para animais e demonstraram pela primeira vez um agente infeccioso produzindo uma doença intra-uterina. A partir de então, através da análise de 20 vários estudos, foi comprovada a transmissão transplacentária da toxoplasmose (REMINGTON JS et al., 2006). A forma adquirida da toxoplasmose foi descrita pela primeira vez por Pinkerton e Weinman em 1940, em um adulto jovem com doença fatal e generalizada. No ano seguinte, Pinkerton e Hendersen descreveram o quadro clínico de dois casos fatais de doença exantemática febril em adultos com toxoplasmose. Em 1941, Sabin descreveu casos de encefalite toxoplasmótica em crianças, que apresentavam hidrocefalia ou microcefalia, calcificação cerebral, coriorretinite e deficiência mental. Até os dias atuais, essas manifestações clínicas são conhecidas como a tétrade clássica de Sabin. Em 1947, Eichenwald definiu a história natural da doença em crianças através da análise de 156 crianças com toxoplasmose congênita. Evidenciou que 98% das crianças tinham alterações clínicas sugestivas de toxoplasmose congênita, a doença neurológica ocorreu em 69% dos casos, 50% apresentavam comprometimento ocular grave e 28% apresentavam doença generalizada (REMINGTON JS et al., 2006). Sabin e Feldman, em 1948, desenvolveram o primeiro teste sorológico, que contribuiu tanto para o diagnóstico da toxoplasmose quanto para a realização de inquéritos epidemiológicos (AMATO NETO et al., 1995). A partir daí, numerosos pesquisadores começaram a investigar a prevalência da infecção e identificaram a toxoplasmose como uma doença altamente prevalente (BAHIA-OLIVEIRA LMG et al., 2001). Novas técnicas sorológicas foram elaboradas. Em 1957, Jacobs e Lunde criaram a hemaglutinação e Goldman, a imunofluorescência indireta. Desde então, extraordinários avanços com a introdução de diversos métodos sorológicos e outras formas de diagnóstico têm permitido um melhor diagnóstico da 21 toxoplasmose, principalmente a congênita (SÁFADI AMP & FARHAT, 1998). Desmonts e colaboradores, em 1985, descreveram a cordocentese com métodos sorológicos do sangue fetal para o diagnóstico intra-útero da toxoplasmose congênita. Em 1990, Grover e colaboradores descreveram a utilidade da Reação em Cadeia de Polimerase (PCR) no líquido amniótico para diagnóstico fetal da toxoplasmose congênita. Em 1984, em Paris, após um estudo de Hohlfeld e colaboradores, a aminiocentese com realização do PCR mostrou ser mais sensível e com menos risco de abortamento que a cordocentese. Hedman e colaboradores desenvolveram o teste de avidez de IgG em 1989 na Finlândia, que passou a ser utilizado para identificar a infecção aguda na gestante e provou ser eficaz em estudos posteriores (HOLLIMAN RE et al., 1994). Em 1965, Desmonts e colaboradores incriminaram a ingestão de carne mal cozida como responsável pelo aparecimento da doença (REMINGTON JS et al., 2006). A partir de 1970, o ciclo biológico completo do Toxoplasma gondii passou a ser descrito. Frenkel e colaboradores, em 1970, definiram os felinos em geral, e não apenas o gato doméstico, como hospedeiros definitivos, sendo os hospedeiros intermediários, os mamíferos, aves, roedores e répteis. Em 1979, Desmonts e Couvreur começaram identificar as medidas de prevenção da toxoplasmose congênita, que se tornaram obrigatórias na França a partir deste período (REMINGTON J et al., 2006). À medida que progrediam os conhecimentos sobre a fisiopatologia e patogenia da toxoplasmose, aumentava o interesse pela doença na gestante, no feto e no recémnascido. Em 1980, Stray-Pedersen ao analisar 8.048 gestantes concluiu que a transmissão materno-fetal da doença ocorria quando a infecção era adquirida durante a 22 gravidez, sendo rara na infecção crônica. Nesta mesma década, com o advento da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (aids), observou-se um aumento significativo do número de casos de comprometimento de sistema nervoso central pela toxoplasmose (CAMILLO-COURA L, 1999). Em 1980 foram instituídas drogas para tratamento da toxoplasmose: pirimetamina, sulfadiazina e espiramicina. Inicialmente foram utilizadas para o tratamento de encefalite toxoplasmótica em pacientes com aids. A espiramicina mostrou-se ineficaz em tratar esses pacientes e começou a ser utilizada para tratamento de crianças com infecção congênita, assim como a sulfadiazina e pirimetamina (MCLEOD R & REMINGTON JD, 1985; MCLEOD R et al., 2006). Atualmente, mesmo com tantos estudos, não existe um consenso sobre a instituição de medidas de rastreamento e de tratamento das grávidas com toxoplasmose ou se essas medidas diminuem a chance de transmissão fetal (PEYRON F et al., 2006). Porém, o tratamento por um ano nas crianças com infecção congênita tem a sua eficácia comprovada (MCLEOD R et al., 2006). O encontro de formas clínicas graves, a possibilidade de uma gestante transmitir a doença ao seu concepto pela via uterina, os quadros de comprometimento ocular, a associação com doenças imunossupressoras, enfim, múltiplos fatores têm destacado nos últimos anos a relevante importância da toxoplasmose em patologia humana (SÁFADI AMP & FARHAT CK et al., 1998). 2.2 EPIDEMIOLOGIA O toxoplasma é ubíquo na natureza e ocorre em herbívoros, carnívoros e onívoros, incluindo todos os mamíferos, alguns pássaros e possivelmente alguns 23 répteis. É uma zoonose que tem como hospedeiro definitivo o gato e outros felídeos. Os outros seres, como o homem, animais domésticos, pássaros e roedores, são hospedeiros intermediários (BEAZLEY DM & EGERMAN RS, 1998; REMINGTON JS et al., 2006). A toxoplasmose é uma das infecções mais comuns em humanos. A soroprevalência da infecção aumenta com a idade e não varia entre os sexos (CAVALCANTE GT et al., 2006; REMINGTON J et al., 2006), sendo baixa em regiões frias, áridas e com altitudes elevadas (JONES JL et al., 2001). Embora apresente uma distribuição mundial, existe uma grande variabilidade entre as áreas geográficas e dentro da população de um mesmo país em função de fatores geográficos, climáticos e das diferentes formas de transmissão (REMINGTON JS et al., 2006). A toxoplasmose tem maior prevalência em algumas regiões da Europa (principalmente França e Áustria), Caribe e América do Sul e menor prevalência na Ásia, Estados Unidos e Austrália (ZUBER P & JACQUIER P, 1995; REMINGTON JS et al., 2006; PETERSEN E, 2007). Nos Estados Unidos e Inglaterra é estimado que 16 a 40% da população esteja infectada pelo toxoplasma, enquanto que em áreas da América Central e do Sul e alguns países da Europa (principalmente a França), estima-se que a infecção varie de 50 a 80% (DUBEY JP & BEATTIE CP, 1988). A alta prevalência na França tem sido atribuída à preferência pelo consumo de carne mal cozida (REMINGTON JS et al., 2006) e na América Central e do Sul pelo alto nível de contaminação do meio-ambiente pelo oocisto (DUBEY JP & BEATTIE CP, 1988). Especialmente na América Central, a grande quantidade de gatos abandonados e o clima também favorecem a alta prevalência da infecção (RUIZ A & FRENKEL JK, 1980). 24 Hábitos culturais, principalmente os relacionados à alimentação, são as maiores causas para as diferenças na freqüência da infecção pelo Toxoplasma gondii de um país para outro e de uma região para outra dentro de um mesmo país (REMINGTON JS et al., 2006). No Brasil, um grande país caracterizado por condições socioeconômicas, culturais, hábitos nutricionais e higiênicos heterogêneos, os inquéritos sorológicos demonstram que a infecção tem alta prevalência, porém com grande variação entre as regiões (CARVALHEIRO CG et al., 2005). Os diversos estudos brasileiros evidenciaram que a soroprevalência da toxoplasmose na população geral variou de 41,9% a 84%. Os menores valores de 41,9% foram encontrados em estudo realizado em Santa Catarina por Cantos e colaboradores em 2000 (CANTOS GA et al., 2000) e os maiores de 84% em uma população de baixo nível socioeconômico numa cidade do estado do Rio de Janeiro (BAHIA-OLIVEIRA et al., 2003). A soroprevalência encontrada em vários estudos realizados ao longo do país variaram dentro desta faixa. Ricciard e colaboradores relataram em indivíduos adultos uma soroprevalência de 75% na região Norte, 60% no Nordeste, 63% no Sudeste, 60% no Sul e 54% no Centro-Oeste (RICCIARD ID et al., 1978). Na região Amazônica, mais recentemente, foi encontrada uma soroprevalência de 73,3% e uma maior relação com idades avançadas, com o consumo de vegetais do domicílio e água de fonte (CAVALCANTE GT et al., 2006). Rey & Ramalho em 1999 evidenciaram em Fortaleza uma soroprevalência de 73,4% na população de 20 a 29 anos, um aumento de prevalência com a idade e com famílias numerosas, assim como contato com gatos. 25 Em uma zona rural do Paraná, foram encontrados níveis altos de 82,9% (GARCIA JL et al., 1999). Na cidade de São Paulo, a soroprevalência foi de 67% (CASTILHO EA, 1976). No Rio de Janeiro, em 1981, Coutinho e colaboradores detectaram uma soroprevalência de 78,7% em pacientes do ambulatório geral e de grávidas no período de 1971-1977. Nesta cidade, Souza e colaboradores, em 1987, evidenciaram uma soroprevalência de 71% em indivíduos de 16 a 20 anos, sendo os maiores valores encontrados na população rural e um aumento de prevalência nas idades maiores. Em Campos dos Goytacazes, cidade no norte do Estado do Rio de Janeiro, foi encontrada uma soroprevalência maior em pessoas com nível socioeconômico mais baixo (84%) seguido de 62% com nível médio e 23% com alto nível socioeconômico (BAHIAOLIVEIRA LMH et al., 2003). 2.2.1 SOROPREVALÊNCIA EM GESTANTES A infecção primária em grávidas ocorre no mundo com uma freqüência de 0,1 a 1%. Os fetos são infectados em aproximadamente 40% dos casos (STRAYPEDERSEN B, 1993). O principal fator de risco para as grávidas adquirirem a infecção é o consumo de carne mal cozida (COOK AJ et al., 2000). A soroprevalência da infecção em grávidas no mundo pode variar de 3% na Tailândia (MORAKOTE N et al., 1984) a 81% na África Central (DUMAS M et al., 1985). Nos Estados Unidos, a soroprevalência apresenta grande variação entre os estados, sendo de 3,3 a 30% (REMINGTON JS et al., 2006). Na Inglaterra, de 5,5 a 12,7% (ADES A et al., 1993). Na Noruega, de 10,9%, com variações de 6,7 a 13% (JENUM PA 26 et al., 1998). Na França, de 54,3%, também com grandes variações dentro do país (ANCELLE T et al., 1996). Nas últimas três décadas, a prevalência de anticorpos para toxoplasmose em grávidas vem diminuindo nos Estados Unidos e na Europa. Na França, nas décadas de 1960, 1980 e 1990 a prevalência foi de 80%, 72% e 65%, respectivamente (REMINGTON J et al., 2006). Na Bélgica, entre os anos 1966 a 1975, a prevalência foi de 70%, de 1976 a 1981 foi de 62%, de 1982 a 1987 foi de 47% (THOUMSIN H et al., 1992). Os estudos brasileiros em grávidas evidenciaram uma soroprevalência alta que variou de 32,4 a 91,6% (TABELA 1). Em 1993, na cidade de São Paulo, Guimarães e colaboradores evidenciaram que também ocorria uma variação da soroprevalência entre as diversas localidades dessa cidade em grávidas, sendo os menores valores encontrados na população do centro da cidade em relação a soroprevalência do norte, sul e noroeste. A taxa de soroconversão na gestação é menor quando medidas de educação de saúde são instituídas nas grávidas inicialmente soronegativas (REMINGTON JS et al., 2006). 27 TABELA 1 – SOROPOSITIVIDADE PARA TOXOPLASMOSE EM GRÁVIDAS NO BRASIL Local Soropositividade em grávidas Autor Ano (%) Rio de Janeiro (RJ) 77,1 Meirelles Filho J 1985 Niterói (RJ) 77,7 Fernandes MA 1999 Guimarães ACS et al. 1993 Vaz AJ et al. 1990 Segundo GRS et al. 2004 67 Reiche EM et al. 2000 Porto Alegre (RS) 54,3 Neves JM et al. 1994 Porto Alegre (RS) 59,8 Varella IS et al. 2003 Porto Alegre (RS) 61,1 Reis MM et al. 2006 Passo Fundo (RS) 48,5 Mozzato L & Procianoy RS 2003 Rio Grande do Sul – noroeste 74,5 Spalding SM et al. 2003 Mato Grosso 70,7 Leão PRD et al. 2004 Mato Grosso do Sul 91,6 Figueiró-Filho EA et al. 2005 Moreira LMO 1988 São Paulo (SP) São Paulo (SP)- região metropolitana Uberlândia (MG) Londrina (PR) 58,9-77,5 32,4 41,9-57,6 Salvador (BA) 42 Fortaleza (CE) 71,5 Rey LC & Ramalho ILC 1999 Recife (PE) 69,4 Nóbrega MC et al. 1999 Bahia 64,9 Nascimento ILO 2002 28 2.2.2 INCIDÊNCIA DE TOXOPLASMOSE CONGÊNITA A incidência da toxoplasmose congênita está diretamente relacionada a três fatores: a incidência de infecção primária em grávidas, a idade gestacional na qual a grávida adquire a infecção e as medidas de saúde públicas instituídas para prevenção, detecção e tratamento da infecção durante a gestação (MONTOYA JG & ROSSO F, 2005). Em regiões de baixa prevalência, como nos Estados Unidos, a incidência é de menos de 1 caso para cada 10.000 nascidos vivos (GUERRINA NG et al., 1994). Resultados semelhantes foram encontrados na Áustria (ASPOCK H & POLLAK A, 1992), Suécia (EVENGARD B et al., 2001) e Noruega (JENUM PA et al., 1998). Em países de alta prevalência essa incidência é maior, como na Polônia que é de 5,5/10.000 nascidos vivos (PAUL M et al., 2000), Suíça 7,2/10.000 nascidos vivos (BERGER R et al., 1992), Bélgica 9,6/10.000 nascidos vivos (THOUMSIM H et al., 1992) e França 10/10.000 nascidos vivos (ANCELLE T et al., 1996; AMBROISETHOMAS P et al., 2001). No Brasil existem poucos estudos para estimar a real incidência de toxoplasmose congênita. Na cidade de São Paulo, em 1976, Castilho relatou uma incidência de 16 casos/1000 nascidos vivos. Um estudo realizado no Rio de Janeiro por Coutinho e colaboradores, em 1983, analisou a sorologia por imunofluorescência de 1.032 recém-nascidos em um hospital terciário, evidenciando sorologia IgG e IgM positiva em 1,4% dos recém-nascidos, a maioria apresentou alterações placentárias sugestivas de processo inflamatório hematogênico. Os estudos mais recentes relataram uma incidência que variou de 3,3 a 19,6 casos para cada 10.000 nascidos vivos (NETO 29 EC et al., 2000; BAHIA-OLIVEIRA LMG et al., 2001; MOZZATO L et al., 2003; LAGO EG et al., 2003; CARVALHEIRO CG et al., 2005). 2.3 O TOXOPLASMA GONDII O Toxoplasma gondii é um protozoário intracelular obrigatório, que tem ampla distribuição pelo reino animal e um ciclo de vida complexo (BEAZLEY MD & EGERMAN RS, 1998). CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS E FUNCIONAIS O toxoplasma infecta todos os tecidos orgânicos, porém tem preferência pelos sistemas reticuloendotelial, muscular, sistema nervoso central e pela retina (JONES J et al., 2003; MONTOYA JG & ROSSO F, 2005). As formas infectantes possuem um complexo apical que contém organelas citoplasmáticas que são característicos do filo Apicomplexa e importantes para a interação do parasita com a célula hospedeira (ROBERTS CW et al., 2004). Dependendo do seu habitat e de seu estado evolutivo, o parasita oferece uma morfologia múltipla com 3 estágios de vida: taquizoítos na fase aguda da infecção, bradizoítos na fase latente da infecção presente nos cistos teciduais, e esporozoítos encontrado nos oocistos (KAWAZOE U, 1997; LOPEZ A et al., 2000). O CICLO EVOLUTIVO DO TOXOPLASMA GONDII O Toxoplasma gondii é um parasita que possui um ciclo de vida complexo no qual observamos duas fases no ciclo: assexuada e sexuada (FIGURA 1). Os felídeos são os únicos capazes de completar todo o ciclo vital realizando o ciclo sexuado e 30 assexuado, sendo o gato doméstico o representante mais comum, denominados hospedeiros definitivos ou primários. Os demais animais, incluindo humanos, aves, roedores e animais domésticos realizam apenas as fases assexuadas do ciclo biológico e, portanto, desempenham o papel de hospedeiros intermediários ou secundários (BREAZLEY DM & EGERMAN RS, 1998). A) CICLO SEXUADO OU ENTEROEPITELIAL: Os felídeos podem ingerir os três estágios infectantes do Toxoplasma gondii: taquizoíto, bradizoíto e esporozoíto, que vão penetrar nas células epiteliais do intestino delgado onde sofrerão um processo de multiplicação por esquizogonia (sexual). Essas células epiteliais intestinais infectadas se rompem e os oocistos imaturos são liberados no lúmen intestinal, que no meio ambiente vão sofrer maturação através da esporulação (DUBEY JP et al., 1998). Pouco menos de 30% dos gatos eliminam oocistos após ingerir taquizoítos e oocistos, porém todos eliminam após ingerir cistos teciduais (DUBEY JP, 1996). B) CICLO ASSEXUADO OU EXTRA-INTESTINAL: Os cistos teciduais ou oocistos ao serem ingeridos pelos hospedeiros intermediários irão sofrer degeneração enzimática, liberando as formas infectantes (bradizoítos e esporozoítos). Os bradizoítos são formados a partir dos cistos teciduais e os esporozoítos dos oocistos. Essas formas liberadas no lúmen intestinal invadem rapidamente as células intestinais, formando o vacúolo citoplasmático, onde se multiplicam e se tornam taquizoítos. Essa proliferação intracelular provoca o rompimento da célula hospedeira e liberação dos parasitas que invadem outras células 31 e se disseminam via corrente sanguínea e linfática, podendo invadir qualquer célula do hospedeiro. No local onde ocorreu a ruptura das células parasitadas, aparecem focos de necrose com infiltrado inflamatório (WONG SY & REMINGTON JS, 1994; MONTOYA JG & LIESENFELD O, 2004). FIGURA 1 – CICLO DE VIDA DO TOXOPLASMA GONDII Fonte: Dubey JP et al., 1998. 32 DIFERENTES LINHAGENS DO TOXOPLASMA GONDII O T. gondii possui três linhagens clonais: tipo I, II e III, os quais diferem na virulência e nos padrões epidemiológicos, porém não apresentam diferenças estruturais. A maioria dos casos de toxoplasmose em humanos é causada pelo tipo II, enquanto o tipo I é responsável por apenas 10 a 25% dos casos em humanos e o tipo III é mais comum em animais (HOWE DK & SIBLEY DL, 1995). No Brasil, o tipo I e III causam acometimento ocular mais intenso em crianças mais velhas e em adultos e têm um comportamento mais agressivo no ciclo biológico (PORTELA RW et al., 2004). 2.4 TRANSMISSÃO A transmissão humana da toxoplasmose pode ocorrer principalmente pela ingestão de oocistos ou cistos teciduais e através da placenta (FIGURA 1). A) TRANSMISSÃO PELA INGESTÃO ORAL DE OOCISTOS OU CISTOS TECIDUAIS Em humanos, a infecção primária pela toxoplasmose é adquirida através da ingestão de carne crua ou mal cozida contendo cistos teciduais e de alimentos e água contaminada por oocistos excretados nas fezes de gatos infectados (WONG SY & REMINGTON JS, 1994). As infecções transmitidas pela ingestão de oocistos são mais graves do que as transmitidas pela ingestão de cistos teciduais (DUBEY JP & BEATTIE CP, 1988). Nos Estados Unidos, representa a terceira causa de morte por doença relacionada à comida (LOPEZ A et al., 2000). Os oocistos podem estar no solo, areia e em locais onde os gatos ou outros felinos defecam, como jardins e quintais. A disseminação da doença é favorecida pelo 33 transporte dos oocistos por invertebrados coprófagos, como moscas, baratas, minhocas e caramujos (HILL D & DUBEY JP, 2002; MONTOYA JG & ROSSO F, 2005). Alguns surtos de toxoplasmose em seres humanos têm sido relacionados com o consumo de água não filtrada (BAHIA-OLIVEIRA LM et al., 2003; BOWIE WR et al., 1997). A ingestão de carne contendo cistos teciduais é a principal via de contaminação em humanos (JACOBS L et al., 1960). De acordo com o departamento de agricultura dos Estados Unidos, metade dos casos de toxoplasmose neste país é causada pelo consumo de carne contaminada (LOPEZ A et al., 2000). Diversas espécies de animais podem ter suas carnes infectadas pelo T. gondii. A carne suína representa uma fonte de risco significativa de contaminação humana no Brasil (HIRAMOTO RM et al., 2000). Outros animais menos comumente infectados são as ovelhas, os coelhos, as galinhas, o gado e animais de caça (TENTER AM et al., 2000; HILL D & DUBEY JP, 2002). Um estudo demonstrou que 24% dos porcos se infectavam após a exposição ao toxoplasma, 9,3% dos carneiros e 1,7% das vacas (JACOBS L et al., 1960). Resultados semelhantes foram encontrados em outros estudos realizados no restante do mundo (REMINGTON JS et al., 2006). As variações da soroprevalência do T. gondii têm sido correlacionadas com hábitos e costumes da população em manipular e preparar carnes e seus produtos, que é uma importante via de transmissão da doença (KAPPERUD G et al., 1996). A alta incidência de T. gondii em humanos na França é decorrente do hábito de se comer carne crua ou mal cozida. Em contraste, a alta prevalência na América Central e do Sul é provavelmente devido ao alto nível de contaminação do ambiente pelos oocistos (DUBEY JP & BEATTIE CP, 1988). 34 O período de incubação em adultos varia de 10 a 23 dias após a ingestão de carne com cistos e de 20 dias após a ingestão de oocistos (JONES J et al., 2003). B) TRANSMISSÃO CONGÊNITA A transmissão congênita do T. gondii da mãe com infecção para o seu feto foi a primeira forma de transmissão reconhecida. A infecção pode ocorrer em decorrência da infecção aguda em grávidas imunocompetentes ou, mais raramente, como conseqüência da recrudescência de grávidas imunodeficientes com infecção crônica (REMINGTON JS et al., 2006). A transmissão congênita também foi relatada em animais domésticos, incluindo gatos, cachorros, porcos, cabras e ovelhas, sendo muito freqüente nestes dois últimos, representando um importante problema na criação desses animais (DUBEY JP & BEATTIE CP, 1988). Porém, a transmissão em infecções crônicas foi relatada em ratos, porquinhos-da-índia, coelhos e camundongos (REMINGTON JS et al., 2006). Durante a infecção materna aguda, ocorre a fase de parasitemia na qual a placenta é infectada e assim o parasito é transmitido para o feto. O tempo entre a infecção placentária e a infecção fetal depende de vários fatores, incluindo o tamanho do inóculo, a virulência da colônia do T. gondii, a resposta imune materna e fetal e o estágio de desenvolvimento da placenta que depende da duração da gestação (WONG SY & REMINGTON JS, 1994). Após a infecção da gestante, o risco geral de infecção fetal é de 40% (PECKHAM CS & LOGAN S, 1993). Porém esse risco varia com a idade gestacional em que a mãe adquiriu a infecção, sendo menor quando a infecção é adquirida antes da décima semana de gravidez, rara se a infecção ocorrer antes da concepção e maior se 35 ocorrer no terceiro trimestre (REMINGTON JS et al., 2006). Um estudo francês realizado com 542 grávidas sem tratamento evidenciou que a freqüência de transmissão é de aproximadamente 14% se a infecção materna ocorreu no primeiro trimestre, 29% no segundo trimestre e de 59% no terceiro trimestre (DESMONTS G & COUVREUR J, 1979). Esse valor de transmissão é menor quando são instituídas terapêuticas nas grávidas, com uma taxa de transmissão de 4,5% no primeiro trimestre, de 17,3% no segundo trimestre e de 28,9% no terceiro trimestre (FORESTIER F, 1991). A gravidade da infecção congênita está relacionada ao trimestre no qual o feto adquiriu a infecção, se a transmissão ocorre no início da gravidez, a severidade da infecção no feto e no recém-nascido é maior. A gravidade é menor se a infecção ocorre nos períodos mais tardios da gestação (WONG SY & REMINGTON JS, 1994). Portanto, os recém-nascidos mais acometidos serão aqueles nascidos de mães que adquiriram a infecção no primeiro trimestre, que pode resultar em morte fetal intra-útero. Na maioria das vezes, os infectados no terceiro trimestre são assintomáticos ao nascimento (DESMONTS G & COUVREUR J, 1979) (TABELA 2). As grávidas com infecções crônicas que são imunocomprometidas podem reativar a infecção e transmitir o organismo via placentária, já que seu sistema imunológico torna-se incapaz da suprimir a infecção. Essas situações de comprometimento imunológico podem ser observadas em mulheres infectadas pelo HIV e em mulheres com neoplasia ou doenças que necessitem do uso prolongado corticóides ou outros medicamentos imunosupressores. (REMINGTON JS et al., 2006). A transmissão fetal do toxoplasma em grávidas com infecção pelo HIV tem sido um evento raro (MITCHELL CD et al., 1990). 36 TABELA 2 – ACOMPANHAMENTO DE CRIANÇAS NASCIDAS DE MULHERES QUE ADQUIRIRAM A INFECÇÃO PELO T. gondii DURANTE A GESTAÇÃO (N=500)* Infecção adquirida 1º Trimestre (%) Ausência de Toxoplasmose 109 (86) 2º Trimestre (%) 3º Trimestre (%) 173 (71) 52 (41) congênita Toxoplasmose congênita Subclínica 3 (2) 49 (20) 68 (53) Leve 1 (1) 13 (5) 8 (6) Grave 7 (6) 6 (2) 0 (0) Morte perinatal ou neomorto 6 (5) 5 (2) 0 (0) Total 126 (100) 246 (100) 128(100) * 42 grávidas não foram incluídas devido ao fato de não poder caracterizar o período gestacional no qual ocorreu a infecção pelo T. gondii. Adaptado de Desmonts G e Couveur J, 1979. C) OUTRAS FORMAS DE TRANSMISSÃO Pode ocorrer transmissão através do transplante de órgãos (BROOKS RG & REMINGTON JS, 1986), transfusão de sangue (RAISANEN S, 1978) e por acidente de laboratório (MARKVART K & REHNOVA M, 1978). Porém essas formas de transmissão do parasito são mais raras (BROOKS RG & REMINGTON JS, 1986). 37 2.5 QUADRO CLÍNICO A infecção pelo T. gondii pode ser assintomática ou pode causar sinais e sintomas que dependem da categoria de paciente e do seu estado imune (MONTOYA JG & LIESENFELD O, 2004). 2.5.1 A DOENÇA EM IMUNOCOMPETENTES A infecção em crianças e adultos (incluindo grávidas) imunocompetentes é assintomática na maioria dos pacientes. Cerca de 10% vão apresentar uma doença inespecífica e autolimitada. A manifestação clínica mais comum é a linfadenopatia cervical posterior, com gânglios de consistência firme, móveis, indolores e não supurativos que podem ficar aumentados por até 6 meses. Outras cadeias ganglionares podem ser acometidas menos freqüentemente, como a suboccipital, a supra-clavicular, a axilar e a inguinal (WONG SY & REMINGTON JS, 1994; MONTOYA JG & LIESENFELD O, 2004). Também pode ocorrer febre baixa, fadiga, cefaléia, esplenomegalia, hepatomegalia e exantema maculo-papular disseminado não pruriginoso que poupa a região palmar e plantar. A ocorrência da coriorretinite após a infecção aguda é menos comum e ocorre em apenas 1 a 3 % dos casos. Raramente, ocorrem quadros de comprometimento miocárdico, hepático, pulmonar ou cerebral (ANDRADE GMQ & OLIVEIRA LA, 2004). 2.5.2 TOXOPLASMOSE CONGÊNITA A maioria das crianças com infecção congênita pelo Toxoplasma gondii parecem normais ao nascimento e os sinais e sintomas vão se manifestar em semanas, meses 38 ou anos mais tarde (REMINGTON JS et al., 2006). Mais de 90% dos infectados intraútero nascem sem sinais óbvios de toxoplasmose ao exame de rotina do recémnascido, porém cerca de 80% vão desenvolver seqüelas tardias, incluindo distúrbios visuais, atraso do desenvolvimento e perda de audição (WILSON CB et al., 1980; STRAY-PEDERSEN B, 1992). Remington e colaboradores, em 2006, classificaram a infecção congênita em quatro formas: - Doença neonatal; - Doença leve ou grave nos primeiros meses de vida; - Seqüela ou recaída de infecção prévia não diagnosticada durante a infância ou adolescência; - Infecção subclínica. O quadro clínico do recém-nascido com toxoplasmose congênita sintomática pode ser bastante variado (TABELA 3). 39 TABELA 3 – MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA TOXOPLASMOSE CONGÊNITA NO PERÍODO NEONATAL hidrocefalia microcefalia calcificação intracraniana coriorretinite convulsão anormalidade liquórica febre nistagmo icterícia precoce ou tardia desconforto respiratório hipotermia estrabismo miocardite pneumonia intersticial plaquetopenia microftalmia ascite hepatomegalia anemia surdez síndrome nefrótica esplenomegalia eosinofilia linfadenopatia eritoblastose fetal vômitos petéquias e púrpuras prematuridade hidropsia fetal diarréia rash maculo-papular Adaptado de Remington JS et al., 2006. A prematuridade e o escore de Apgar baixo estão relacionados com a toxoplasmose congênita (KOPPE JG et al., 1974; FREEMAN K et al., 2005). A tríade clássica formada por hidrocefalia, coriorretinite e calcificação intracraniana é relativamente incomum (MONTOYA JG & LIESENFELD O, 2004). A freqüência das alterações foi relatada por Feldman através da análise de 187 pacientes com infecção congênita sintomática por toxoplasmose: 20% de prematuridade, 7% de óbitos nos nascidos a termo, 59% de calcificação intracraniana, 45% de atraso psico-motor, 39% de convulsão, 36% de microcefalia, 22% de hidrocefalia e 21% de microftalmia (REMINGTON JS et al., 2006). Podem ocorrer manifestações tardias, como deficiência mental, atraso psicomotor, dificuldade de aprendizado, distúrbios visuais e retardo do crescimento (MCAULEY J et al., 1994; JONES J et al., 2003). 40 Nenhum sinal descrito em recém-nascidos com toxoplasmose congênita é patognomônico. Sendo assim, existe muita semelhança com outras infecções congênitas como citomegalovírus, sífilis, herpes simples e rubéola (MONTOYA JG & LIESENFELD O, 2004). ACOMETIMENTO DO SISTEMA NERVOSO Geralmente a lesão do sistema nervoso central irá levar à primeira manifestação clínica da infecção congênita pelo Toxoplasma gondii. A manifestação mais comum é hidrocefalia obstrutiva interna, que pode estar presente ao nascimento ou aparecer meses após. É causada pela obstrução do aqueduto cerebral de Sylvius por células inflamatórias e por edema. Ocasionalmente ela pode ser estável, mas na maioria dos casos tem um caráter progressivo com necessidade de um procedimento neurocirúrgico para a colocação de um shunt (REMINGTON JS et al., 2006). Os sinais neurológicos mais comuns nos neonatos são convulsão, fontanela abaulada, nistagmo e perímetro cefálico anormal. Também podem ocorrer rigidez de nuca, encefalite, opistótono, lesão bulbar ou espinhal que podem levar a paralisia de extremidades e dificuldade de deglutição (REMINGTON JS et al., 2006). Ocorrem alterações focais ou difusas no parênquima cerebral e no cerebelo. As lesões são mais intensas no córtex, gânglios da base e áreas periventriculares. Ocorre necrose que pode progredir para a formação de cistos e calcificações. As calcificações ocorrem mais nos gânglios da base (núcleo caudado) e região periventricular occipitoparietal e temporal, podendo ser únicas ou múltiplas. Alguns autores consideram a presença de calcificação nodular ou linear patognomônica de toxoplasmose (REMINGTON JS et al., 2006). 41 A associação de pacientes com infecção pelo toxoplasma apresentando acometimento cerebral e ocular é grande (MELAMED J et al., 2001). A idade gestacional na qual ocorreu a soroconversão foi inversamente associada com o risco de lesão intracraniana e não com lesões oculares (GRAS L et al., 2005). ACOMETIMENTO OCULAR A toxoplasmose é uma das causas mais comuns de coriorretinite no mundo (REMINGTON JS et al., 2006). A coriorretinite pode se apresentar ao nascimento como lesão agudamente ativa ou cicatrizada, ou permanecer inaparente por vários anos e se manifestar apenas na segunda ou terceira década de vida (WILSON CB et al., 1980; ANDRADE GMQ et al., 2004). Os sintomas são visão turva, dor ocular, fotofobia e escotomas (CAMILLO-COURA L, 1999). A coriorretinite representa a seqüela mais comum da toxoplasmose congênita (REMINGTON JS et al., 2006). Pode ocorrer a perda da visão por cicatriz na mácula, atrofia óptica e catarata (DE CARVALHO KM et al., 1998). A atrofia óptica é decorrente da destruição da mácula e de outras porções da retina ou por dano causado pelo papiledema (REMINGTON JS et al., 2006). É comum ocorrer recorrência e reativação das lesões oculares (MONTOYA JG & LIESENFELD O, 2004). As outras alterações encontradas são microftalmia, nistagmo, sinéquia posterior, irite, leucocoria e estrabismo convergente ou divergente por envolvimento dos músculos extra-oculares ou por envolvimento do cérebro (REMINGTON JS et al., 2006). A lesão ocular característica de infecção pelo toxoplasma ao fundo de olho é a retinite necrotizante associado a um processo inflamatório que freqüentemente é bilateral (O’CONOR GR, 1974). 42 2.5.3 A DOENÇA EM IMUNODEPRIMIDOS Em contraste com o curso favorável da toxoplasmose na maioria dos indivíduos imunocompetentes, a doença pode ser ameaçadora à vida em imunodeprimidos (LIESENFELD O et al., 1999). Pode ocorrer durante uma infecção aguda ou, mais comumente, por recrudescimento de uma infecção crônica (PORTER SB & SANDE M, 1992). A toxoplasmose em indivíduos imunodeprimidos, como pacientes com aids, portadores de câncer, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea, ou doença auto-imune costuma ser fulminante e de evolução rápida (ANDRADE GMQ & OLIVEIRA LA, 2004). É uma causa comum de morte em pacientes com aids (LUFT BJ & REMINGTON JS, 1992). O sistema nervoso central é local mais acometido pela infecção, causando uma encefalite. As manifestações clínicas incluem alteração do estado mental, convulsão, déficit motor focal, alterações de nervos cranianos, anormalidades sensitivas, acometimento do cerebelo, desordens dos movimentos e alterações neuropsiquiátricas (MONTOYA JG & LIESENFELD O, 2004). Outras alterações encontradas são coriorretinite, pneumonite e envolvimento de vários órgãos com insuficiência respiratória e anormalidade hemodinâmica (LIESENFELD O et al., 1999). 2.6 DIAGNÓSTICO Os sinais clínicos de toxoplasmose são inespecíficos e não apresentam características suficientes para o diagnóstico definitivo, além do mais, a toxoplasmose tem muita semelhança com outras doenças infecciosas. Assim sendo, o diagnóstico é 43 estabelecido através da realização de exames complementares (HILL D & DUBEY JP, 2002). O diagnóstico de infecção aguda pelo T. gondii pode ser estabelecido pelo isolamento do organismo no sangue ou em fluidos corpóreos, pela demonstração histológica do parasito, testes sorológicos, pela amplificação de seqüência específica de ácido nucléico através da Reação em Cadeia de Polimerase (PCR) ou pela demonstração de antigenemia e antígenos no sangue e fluidos corporais (REMINGTON JS et al., 2006). Os principais métodos diagnósticos são (REMINGTON JS et al., 2006): - Demonstração direta do Toxoplasma Inoculação em camundongos Cultura em células humanas gondii: Reação em Cadeia de Polimerase (PCR) - Demonstração indireta do Toxoplasma Reação de Sabin-Feldman ou teste do corante gondii (diagnóstico sorológico): Teste de hemaglutinação indireta (IHA) Teste de imunofluorescência indireta (IFA) Reação de fixação do complemento Teste de aglutinação diferencial ou teste AC/HS Reações imunoenzimáticas (ELISA convencional ou de captura, ELFA, ELIFA) Immunosorbent agglutination assay (ISAGA) - Métodos histológicos 44 2.6.1 DEMONSTRAÇÃO DIRETA DO TOXOPLASMA GONDII O parasito pode ser visto em líquidos orgânicos, em cortes de tecidos ou em biópsias e necropsia, particularmente em fetos e em natimortos. Pode ser isolado do sangue do cordão e do sangue periférico de recém-nascidos devido à alta parasitemia (REMINGTON JS et al., 2006). O seu uso tem grande valor em pacientes imunodeprimidos (MONTOYA JG & LIESENFELD, 2004). 2.6.1.1 INOCULAÇÃO EM CAMUNDONGOS Leucócitos, fluidos corpóreos ou fragmentos de tecidos são inoculados em cobaias por via intraperitoneal. A positividade desta prova é dada pela soroconversão do animal, e pelo exame do cérebro e do exsudato peritoneal. O resultado em geral pode demorar de 4 a 6 semanas, porém o peritônio do animal já pode ser examinado em 5 a 10 dias após a inoculação (REMINGTON JS et al., 2006). 2.6.6.2 CULTURA EM CÉLULAS HUMANAS O material a ser examinado é semeado em cultura de células, como fibroblastos ou outras linhagens celulares. O toxoplasma pode ser visto em até 1 semana, porém esse procedimento é menos sensível que a inoculação em camundongos (DEROUIN F et al., 1997). 2.6.6.3 REAÇÃO EM CADEIA DE POLIMERASE (PCR) A amplificação da PCR para detecção do T. gondii em fluidos corpóreos e tecidos tem sido utilizado com sucesso para diagnosticar toxoplasmose congênita (GROVER CM et al., 1990), ocular (MONTOYA JG et al., 1999), cerebral (HOLLIMAN 45 RE et al., 1990) e disseminada (DUPOUY-CAMET J et al., 1993). A PCR revolucionou o diagnóstico de infecção intra-uterina, permitindo um diagnóstico fetal mais precoce evitando procedimentos muito invasivos (MONTOYA JG, 2002). 2.6.2 DEMONSTRAÇÃO INDIRETA DO TOXOPLASMA GONDII (DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO) Devido ao fato do T. gondii e seus antígenos serem raramente detectados em indivíduos infectados, a detecção de anticorpos tem sido o principal método diagnóstico realizado (WILSON M et al., 1997; BEAZLEY DM & EGERMAN RS, 1998). A pesquisa de imunoglobulinas das classes IgM e IgG é o método mais comumente utilizado (ANDRADE GMQ et al., 2004). A realização seriada de testes sorológicos geralmente é necessária para definir a fase da infecção (MONTOYA JG, 2002). A demonstração de soroconversão ou aumento de IgG acompanhada de IgM positiva evidencia infecção recente (REMINGTON JS et al., 2006). Na fase aguda da infecção, as imunoglobulinas IgM e IgG aumentam em 1 a 2 semanas. A presença de níveis de IgG elevados indica que a infecção ocorreu mas não diferencia infecção recente de passada. A detecção de IgM tem sido utilizada para determinar infecção aguda (JONES J et al., 2003). O problema maior com o diagnóstico sorológico é que ele pode ser complicado pelo fato dos anticorpos para o Toxoplasma gondii persistirem por muitos anos em indivíduos saudáveis. Então, os resultados IgM e IgG positivos não necessariamente significam infecção aguda. A IgG pode ser detectável por toda a vida e a IgM pode ser detectável por vários anos em alguns pacientes (MONTOYA JG & ROSSO F, 2005). Já 46 foi detectada altos níveis de IgM após 12 anos da infecção primária (BOBIC B et al., 1991). Portanto, um teste IgM positivo isolado nunca deve ser utilizado para estabelecer diagnóstico de nenhuma forma de toxoplasmose aguda (REMINGTON JS et al., 2006). Outros anticorpos têm sido estudados para identificar o tempo da infecção. A IgA aumenta no soro de indivíduos com infecção aguda em paralelo com a IgM (WONG SY & REMINGTON JS, 1994). Também tem sido detectada por longos períodos após a infecção aguda, já foi detectada após 5 anos da infecção primária (BESSIERES MH et al., 1992). Porém a detecção de IgA parece ser mais sensível para o diagnóstico de infecção congênita em fetos e recém-nascidos (WONG SY & REMINGTON JS, 1994; EGERMAN RS & BEAZLEY DM, 1998). A IgE também é detectada na fase aguda da infecção porém fica menos tempo que a IgM e a IgA (WONG SY & REMINGTON JS, 1994). 2.6.2.1 PRINCIPAIS MÉTODOS SOROLÓGICOS A) REAÇÃO DE SABIN-FELDMAN OU TESTE DO CORANTE Foi o primeiro teste diagnóstico a ser realizado em 1948 por Sabin e Feldman. É considerado ainda hoje como padrão ouro por sua alta sensibilidade e especificidade, porém requer um organismo vivo para a neutralização e é realizado apenas em laboratórios de referência (EGERMAN RS & BEAZLEY DM, 1998). B) TESTE DE HEMAGLUTINAÇÃO INDIRETA (IHA) É um excelente método diagnóstico. Tem alta sensibilidade e simplicidade de execução e não requer organismo vivo (KAWAZOE U, 1997). As hemácias marcadas 47 com toxoplasma são aglutinadas quando em contato com soro contendo anticorpos contra toxoplasma. Na infecção aguda os títulos podem demorar semanas para se positivarem, mostrando títulos baixos na maioria dos casos. Entretanto é inadequado para o diagnóstico precoce, não sendo útil no diagnóstico de toxoplasmose na gestação e freqüentemente não detecta toxoplasmose congênita em recém-nascidos (CAMARGO ME et al., 1976). C) TESTE DE IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA (IFA) Pode ser utilizado para detectar IgM e IgG pela utilização de conjugados específicos, apresenta boa especificidade e sensibilidade (KAWAZOE U, 1997). Porém tem a desvantagem de apresentar resultado falso-positivo por reação cruzada de anticorpos antinucleares no soro, e falso-negativo por títulos baixos ou por competição das imunoglobulinas IgG com IgM (BEAZLEY DM & EGERMAN RS, 1998). Não é um bom método para diagnóstico de toxoplasmose congênita devido a grande quantidade de resultado falso-negativo no período neonatal (REMINGTON JS et al., 2006). D) REAÇÃO DE FIXAÇÃO DE COMPLEMENTO Utilizado apenas para diagnóstico de toxoplasmose adquirida (REMINGTON JS et al., 2006). Os anticorpos testados aparecem mais tardiamente do que em outras reações (SÁFADI MAP & FAHART CK, 1999). É pouco utilizada na prática devido à dificuldade no preparo de antígenos padronizados (AMATO NETO et al., 1995). 48 E) TESTE DE AGLUTINAÇÃO DIFERENCIAL OU TESTE AC/HS Títulos de anticorpos são comparados utilizando antígeno taquizoíto fixado ao metanol ou acetona (AC) e antígeno taquizoíto fixado a formalina (HS). No curso inicial da infecção, antígenos específicos são vistos no grupo do AC. A proporção AC a HS é usada para determinar o tempo da infecção (BEAZLEY DM & EGERMAN RS, 1998). F) REAÇÕES IMUNOENZIMÁTICAS São os testes mais utilizados atualmente (KAWAZOE U, 1997). Tem como base uma reação em que a enzima é ligada ao seu substrato hidrolisado mais uma antiimunoglobulina humana. O produto é capaz de desenvolver cor ou fluorescência, cuja intensidade é lida num espectrofotômetro ou fluorômetro. A quantidade de anticorpos no soro é diretamente proporcional à intensidade da cor no Enzyme Linked ImmunoSorbent Assay (ELISA) ou da fluorescência no Enzyme Linked ImmunoFluorescent Assay (ELFA) (CINERMAN B & CINERMAN S, 1999). Estes métodos podem realizar o teste de avidez de IgG no qual avalia a afinidade de ligação aos antígenos aos anticorpos IgG contra o T. gondii (REMINGTOM JS et al., 2006). O ELISA é o teste mais utilizados pelos laboratórios de rotina para detectar anticorpos IgG, IgM, IgA e IgE em grávidas, fetos e recém-nascidos (BESSIERES MH et al., 1992). O ELISA IgM - duplo sanduíche é um teste de captura que elimina os resultados falsos, pois utiliza soros com anticorpos contendo “anti-globulinas” para remoção de imunoglobulinas IgG, evitando resultados falso-positivos relacionados ao fator reumatóide e anticorpos anti-nucleares e falso-negativos relacionados a competição com altos níveis de IgG. É mais sensível que o IgM IFA para o diagnóstico de infecção 49 recente (REMINGTON JS et al., 2006). O ELFA detecta imunoglobulina IgM pelo método de captura e anticorpos IgG e tem sido utilizado para detecção de infecção na grávida, no feto e em crianças. Apresenta uma alta sensibilidade e especificidade. Foi detectada uma sensibilidade no método ELFA IgM de 100% e especificidade de 98,6% (WILSON M et al., 1997). O Enzyme Linked Immunofiltrartion Assay (ELIFA) é um método que utiliza uma membrana com microporos que permite estudar simultaneamente anticorpos específicos pela imunoprecipitação e caracterização do isotipo de anticorpos pela imunofiltração. É um excelente método para o diagnóstico de infecção congênita no recém-nascido (REMINGTON JS et al., 2006). Este método evidenciou uma sensibilidade de 84,5% e uma especificidade de 99,9% para diagnóstico de toxoplasmose congênita nos primeiros três meses de vida (PINON JM et al., 1996). G) IMMUNOSORBENT AGGLUTINATION ASSAY (ISAGA) Utiliza organismos fixados pela formalina ou antígenos cobertos por partículas de látex para detectar IgM, não requerendo o uso de enzima conjugada. Também evita resultados falso-positivos relacionados à presença de fator reumatóide e/ou anticorpos antinucleares. É mais sensível que o IFA e que o EIA (BEAZLEY DM & EGERMAN RS, 1998; PINOM JM et al., 2001; SENSINI A, 2006). É muito utilizado, pois combina as vantagens dos testes de aglutinação direta com os testes de captura em relação à sensibilidade e especificidade para demonstração de anticorpos IgA, IgM e IgE (PLANTAZ D et al., 1987). 50 H) TESTE DE AVIDEZ DE IGG Durante o curso da resposta imune, existe uma maturação da afinidade de anticorpos que aumenta progressivamente em semanas ou meses. Isto tem sido avaliado no teste de avidez de IgG, que é utilizado para diferenciar infecção recente de passada. A presença de anticorpos com alta avidez afasta infecção recente em 3 a 4 meses. Ao contrário, uma baixa afinidade pode persistir por até 3 meses após a infecção primária (HEDMAN K et al., 1989). O método é mais útil em grávidas se realizado no primeiro trimestre de gestação. Serve para determinar se a infecção é recente permitindo assim estimar o risco fetal (REMINGTON JS et al., 2006). Pode ser utilizado para diagnóstico no período neonatal, porém não tem muita utilidade nesses pacientes. A baixa afinidade no período neonatal indica infecção materna primária e não significa se o recém-nascido está infectado ou não (LAPPALAINEM M et al., 1995). 2.6.3 MÉTODOS HISTOLÓGICOS A demonstração dos taquizoítos nos tecidos ou fluidos corpóreos estabelece o diagnóstico de toxoplasmose aguda, porém normalmente é difícil visualizar esta forma por métodos simples (REMINGTON JS et al., 2006). Então são utilizados métodos complementares, como: imuno-histoquímicos (técnica da imunofluorescência e imunoperoxidase), pesquisa genômica e análise ultra-estrutural por microscopia eletrônica para auxiliarem o diagnóstico (WEISS JB, 1995). 51 A demonstração dos cistos evidencia que o paciente tem infecção pelo toxoplasma, porém não define se a infecção é aguda ou crônica (REMINGTON JS et al., 2006). 2.6.4 DIAGNÓSTICO NA GESTANTE A toxoplasmose congênita resulta quase sempre da ocorrência de infecção durante a gestação, então é de crucial importância determinar se a infecção realmente ocorreu no período gestacional (MONTOYA JG, 2002). Como a infecção primária na grávida imunocompetente geralmente é assintomática, o diagnóstico de toxoplasmose é baseado em testes sorológicos (LEBECH M et al., 1993). Porém a interpretação dos testes sorológicos pode ser muito problemática (SENSINI A, 2006). As sorologias IgM e IgG positivas para toxoplasmose freqüentemente são utilizadas para o diagnóstico de infecção na gestante, mas a presença de uma IgM isolada não tem condição de definir infecção aguda, havendo assim a necessidade de realização de outros testes diagnósticos confirmatórios (WILSON M et al., 1997, LIESENFELD O et al., 1997). 60% das grávidas com IgM positiva são cronicamente infectadas quando avaliadas por exames mais específicos (LIESENFELD O et al., 2001). A persistência das imunoglobulinas IgM parece não ter relevância clínica (MONTOYA JG, 2002). As imunoglobulinas IgA e IgE em grávidas que soroconvertem durante a gestação são muito semelhantes ao IgM (STEPICK-BIEK P et al., 1990; PINON JM et al., 2001), porém os títulos de IgE declinam mais rapidamente que os de IgA (PINON JM et al., 2001). 52 Na ausência de um rastreamento sorológico sistemático para toxoplasmose na gestação, muitas infecções acabam não sendo diagnosticadas (LEBECH M et al., 1993) e não é possível determinar a soroconversão durante a gestação (REMINGTON JS et al., 2004). A detecção da soroconversão é uma forma importante para se detectar a infecção aguda, com a demonstração do aumento dos títulos de anticorpos em amostras seriadas com intervalo de 3 semanas (WONG SY & REMINGTON JS, 1994). EXAMES SOROLÓGICOS ENCONTRADOS NAS GESTANTES A) IgG e IgM negativas: São grávidas consideradas susceptíveis à infecção congênita com risco de adquirirem infecção primária no período gestacional. Requerem sorologias regulares na tentativa de identificar a soroconversão (SENSINI A, 2006). B) IgG negativa e IgM positiva: Em indivíduos imunocompetentes a produção de IgG segue a de IgM, então o aparecimento de IgM na gestação pode significar infecção recente. O tratamento específico para toxoplasmose pode bloquear a produção de IgG (SENSINI A, 2006). Algumas vezes a IgM natural pode reagir com antígenos do toxoplasma na ausência de infecção (KONISHI E, 1987). C) IgG positiva e IgM negativa: A detecção de IgG na ausência de IgM define infecção passada em grávidas imunocompetentes e não representa risco de infecção congênita (REMINGTON JS et al., 2006). No terceiro trimestre, a presença de sorologia IgM negativa 53 provavelmente reflete infecção passada, mas não pode excluir infecção no início da gestação em pacientes que apresentem um rápido declínio de IgM. A IgG natural também pode reagir com antígenos do toxoplasma ocasionando um resultado falso positivo (SENSINI A, 2006). D) IgG e IgM positiva Uma situação desafiadora é quando a sorologia IgM e IgG são positivas e o estado sorológico antes da gestação é desconhecido. Nestes casos, é recomendado que se realize nova sorologia para toxoplasmose em 3 semanas (SENSINI A, 2006). Os títulos de IgG variam muito entre os indivíduos e um valor alto não significa critério para diagnóstico de infecção recente (JENUM PA & STRAYPEDERSEN, 1998). A sorologia IgM positiva pode significar: verdadeiramente positiva devido a infecção recente, verdadeiramente positiva devido a infecção passada por persistência de IgM e falso-positiva (MONTOYA JG, 2002). TESTE DE AVIDEZ O teste de avidez de IgG tem uma grande utilidade nas gestantes com sorologia IgM e IgG positivas se realizado nos primeiros meses de gestação. Pode ser utilizado em combinação com outros testes sorológicos (LIESENFELD O et al., 2001). A combinação de IgM e avidez de IgG evidenciou uma especificidade de 99% e uma sensibilidade de 95% para o diagnóstico de infecção aguda (ROBERTS A et al., 2001). A gestante com um teste com avidez alto nos primeiros três meses provavelmente não adquiriu a infecção nos últimos três meses, portanto se a infecção foi adquirida antes da gestação, o feto essencialmente não apresenta risco de infecção 54 congênita (HOHLFELD P et al., 1994, PELLOUX H et al., 1998). Um problema na interpretação do teste de avidez é que a baixa avidez pode permanecer por um tempo mais prolongado e não necessariamente significar infecção recente. Em algumas pacientes o resultado do teste de avidez pode ser borderline ou equívoco e não podem ser interpretados (REMINGTON JS et al., 2004). Um estudo recente evidenciou que o teste de avidez tem uma sensibilidade de 100%, especificidade de 92,7%, valor preditivo positivo de 90% e um valor preditivo negativo de 100% (CANDOLFI E et al., 2007). A utilização do teste de avidez de IgG diminuiu o uso de outros testes sorológicos, da realização de amniocentese com PCR, da necessidade do uso de tratamento específico para toxoplasmose e da ansiedade na realização de outros exames complementares para o diagnóstico de infecçãoa guda pelo Toxoplasma gondii (REMINGTON JS et al., 2004). 2.6.5 DIAGNÓSTICO NO FETO É aconselhável realizar métodos de diagnóstico pré-natal de infecção fetal nas seguintes situações: estabelecimento diagnóstico de infecção aguda na grávida, grávidas com alta suspeição de infecção e anormalidades fetais que sugerem toxoplasmose congênita (MONTOYA JG, 2002). O diagnóstico fetal é baseado na amniocentese com PCR, ultra-sonografia fetal e análise de sangue fetal através da cordocentese (WONG SY & REMINGTON JS, 1994). Na França, 93% das crianças com infecção congênita são diagnosticadas no pré-natal (DAFFOS F et al., 1988). 55 Métodos para obter sangue fetal ou periumbilical foram abandonados e substituídos por técnicas mais seguras como a amniocentese com a PCR para toxoplasmose devido ao menor risco de perda fetal (HOHLFELD P et al., 1994). A análise do sangue fetal com a realização de sorologias, avaliação hematológica e bioquímica tem baixa sensibilidade para o diagnóstico de infecção fetal (PRATLONG F et al., 1994; PRATLONG F et al., 1996). ULTRA-SONOGRAFIA FETAL A gestante agudamente infectada deve ser acompanhada por meio de ultrasonografias fetais seraiadas para detectar alterações sugestivas de toxoplasmose congênita através da análise do tamanho do sistema nervoso central, da placenta e de outros órgãos (REMINGTON JS et al., 2006). A dilatação dos ventrículos cerebrais isolada é o achado ultrassonográfico mais descrito nos fetos infectados (VIRKOLA K et al., 1997). Geralmente é bilateral e simétrica, mas não é patognomônica da toxoplasmose congênita. O aumento dos ventrículos pode ser rápido. As outras anormalidades encontradas são calcificação intracraniana, aumento da espessura da placenta, presença de calcificação de plexo coróide, ascite, hepatomegalia e esplenomegalia (WONG SY & REMINGTON JS, 1994). A sensibilidade da ultra-sonografia em detectar infecção fetal é baixa, em torno de 20% (PLATLONG F et al., 1994). Um estudo brasileiro evidenciou uma sensibilidade de 62,5%, uma especificidade de 94,8%, um valor preditivo positivo de 55,6% e um valor preditivo negativo de 96,1% (VIDIGAL PVT et al., 2002). 56 AMNIOCENTESE E PCR A PCR do líquido amniótico para detecção do T. gondii – DNA específico deve ser realizada a partir de 18 semanas em todos os casos de infecção materna aguda ou nos casos de exames sorológicos com alta suspeição de infecção adquirida durante a gestação (HOHLFELD P et al., 1994). Devido ao fato de ser um exame rápido, simples, seguro e com boa acurácia, tornou-se o procedimento de escolha para o diagnóstico de infecção fetal (BREAZLEY DM & EGERMAN RS, 1998). A PCR no líquido amniótico não é recomendada para gestantes que vivem com HIV/aids devido ao risco de transmissão do vírus HIV durante o procedimento de amniocentese (MONTOYA JG, 2002) Os resultados da análise da PCR podem variar consideravelmente entre os diferentes laboratórios (REMINGTON JS et al., 2006). Hohlfeld e colaboradores, em 1994) ao analisarem a acurácia da PCR no líquido amniótico em um estudo com 2.632 grávidas com infecção aguda por toxoplasmose encontraram uma sensibilidade de 92%, uma especificidade de 100% e um valor preditivo negativo de 99%, com uma taxa de perda fetal espontânea de 1,3%. Em 1998, Jenum e colaboradores analisaram a técnica PCR-nested no líquido amniótico de 67 mulheres com diagnóstico de infecção aguda na gestação e encontraram uma especificidade de 94% e um valor preditivo positivo de 67%. Romand e colaboradores, na França, em 2001, avaliaram a PCR do líquido amniótico de 270 grávidas com infecção aguda e encontraram uma sensibilidade da PCR de 64%, um valor preditivo negativo de 88% e uma especificidade e um valor preditivo positivo de 100%. No Brasil, Vidigal e colaboradores, em 2002, evidenciaram uma sensibilidade de 62,5%, uma especificidade de 97,4%, um valor preditivo positivo de 71,4% e um valor 57 preditivo negativo de 96,2%. Castro e colaboradores evidenciaram uma sensibilidade de 66,7%, em 2001. A acurácia do teste da PCR realizado antes de 18 semanas de gestação não é conhecida. A especificidade e o valor preditivo positivo tem sido relatado em torno de 100%. Em contraste, a sensibilidade e o valor preditivo negativo variam com o período gestacional no qual a infecção materna ocorreu. A sensibilidade do diagnóstico prénatal é maior quando a infecção materna ocorre entre 17 a 21 semanas de gestação quando comparada a infecção que ocorre antes de 17 ou depois de 21 semanas de gestação (p<0,02) (ROMAND S et al., 2001). Então uma PCR negativa no líquido amniótico não exclui infecção fetal, tornando-se necessário o acompanhamento da criança suspeita para confirmar ou excluir toxoplasmose congênita (VIDIGAL PVT et al., 2002; ANDRADE GMQ & OLIVEIRA LA, 2002; REMINGTON JS et al., 2006). EXAME DA PLACENTA A toxoplasmose congênita é uma doença fetal resultante da infecção placentária. Portanto, é necessário que a placenta e o feto estejam acometidos para que a infecção fetal se desenvolva (REMINGTON JS et al., 2006). O exame da placenta auxilia no diagnóstico de toxoplasmose congênita através do isolamento do Toxoplasma gondii ou de alterações histológicas sugestivas de infecção, como reação inflamatória crônica (infiltrado de linfócitos) na decídua e reações focais nos vilos (GARCIA AGP et al., 1983; REMINGTON JS et al., 2006). Em alguns casos o diagnóstico é realizado inicialmente pelo exame da placenta. As lesões parecem ser mais severas em neonatos que morrem logo após o nascimento (REMINGTON JS et al., 2006). 58 A placenta é afetada por via hematogênica, assim o taquizoíto pode ser encontrado em toda placenta e no cordão umbilical. O organismo é visto principalmente na forma de cisto tecidual presente no tecido conjuntivo das membranas coriônicas e amnióticas, na geléia de Wharton e na decídua (REMINGTON JS et al., 2006). Um estudo realizado por Robert-Gangneux e colaboradores, em 1999, evidenciou que o exame da placenta pode estar alterado em 66,7% dos neonatos com toxoplasmose congênita e foi negativo em todos os neonatos sem infecção congênita. 2.6.6 DIAGNÓSTICO NO PERÍODO NEONATAL Após o nascimento, o diagnóstico definitivo de toxoplasmose congênita pode ser feito por métodos sorológicos ou pela detecção do parasita em material coletado do recém-nascido (NAESSENS A et al., 1999). Ao nascimento, a sensibilidade para diagnóstico parasitológico é baixa, em torno de 25 a 60,9% (FRICKER-HIDALGO H et al., 1998). Assim sendo, o uso de métodos sorológicos é de extrema importância para o diagnóstico pós-natal definitivo da toxoplasmose congênita (PINON JM et al., 2001). O diagnóstico de toxoplasmose congênita no período neonatal pode ser difícil, por isso a necessidade do acompanhamento sorológico e clínico por um período necessário para afastar infecção congênita (LECOMTE B, et al., 2006). MÉTODOS DE DEMONSTRAÇÃO DIRETA A demonstração direta do parasita pela inoculação em rato ou em tecidos de cultura de líquor, urina, tecido placentário e sangue periférico e pela amplificação de DNA específico para Toxoplasma gondii (PCR) no líquor, sangue periférico ou urina tem 59 sido utilizado com sucesso para o diagnóstico de infecção congênita (REMINGTON JS et al., 2006). MÉTODOS SOROLÓGICOS O anticorpo IgG presente no recém-nascido pode refletir infecção materna passada ou recente devido a transferência passiva in utero para o feto. Por esta razão, os testes para detecção de imunoglobulinas IgA e IgM são comumente utilizados para diagnóstico de infecção no recém-nascido (MONTOYA JG, 2002). Alguns recémnascidos com toxoplasmose congênita podem ter imunoglobulinas IgM e IgA negativas devido a uma resposta imunológica deficiente (REMINGTON JS et al., 2004). São preferíveis amostras do sangue periférico do que amostras do cordão umbilical do recém-nascido, pois estas podem estar contaminadas com sangue materno (NAESSENS A et al., 1999; WALLON M et al., 1999; MONTOYA JG, 2002). A demonstração de IgA parece ser mais sensível que IgM para o diagnóstico de infecção no recém-nascido e pode ser evidenciada em 90% dos recém-nascidos com infecção congênita (STEPIEK-BIEK P et al., 1990; NAESSENS A et al., 1999). A IgA específica para toxoplasmose pode estar presente na ausência de IgM e o oposto também pode ocorrer. Se IgA ou IgM forem detectadas no recém-nascido, o teste precisa ser repetido, no 4º dia de vida para IgM e no 10º dia de vida para IgA para confirmar o resultado e excluir contaminação por sangue materno (MONTOYA JG, 2002; REMINGTON JS et al., 2004). A IgE tem sido utilizada para diagnóstico de infecção congênita, porém a sua sensibilidade é mais baixa que a detecção de IgM e IgA (VILLENA I et al., 1999). A medida simultânea de IgM, IgA e IgE aumenta a chance de diagnóstico (SENSINI A, 2006). 60 Um exame IgM negativo não afasta a possibilidade de infecção congênita, pois a produção de anticorpos IgM no recém-nascido depende primariamente do período gestacional no qual a infecção materna ocorreu. A chance da IgM ser positiva no recém-nascido é maior quanto maior o período gestacional no qual ocorreu a infecção (WALLON M et al., 1999; REMINGTON JS et al., 2006). Gilbert e colaboradores, em 2007, evidenciaram que a sensibilidade de IgM e IgA no período neonatal diminui quando a mãe soroconverte no primeiro (sensibilidade de 29%) e segundo (sensibilidade de 34%) trimestre de gestação do que quando a soroconversão ocorre no terceiro trimestre de gestação (sensibilidade de 74%). Na ausência de infecção congênita, os níveis de IgG desaparecem progressivamente com queda de aproximadamente a metade em 30 dias, com negativação em torno dos primeiros 6 a 12 meses de vida (MONTOYA JG, 2002; REMINGTON JS et al., 2006). Nas crianças infectadas ocorre aumento dos títulos de IgG no segundo e terceiro mês, pois começam a ser produzidos pelo organismo infectado (REMINGTON JS et al., 2006). Sua persistência após 1 ano de vida é critério para diagnóstico de toxoplasmose congênita (NAESSENS A et al., 1999). A produção de anticorpos na criança infectada varia consideravelmente de um caso para outro e pode ser influenciada pelo tratamento (REMINGTON JS et al., 2006). O método IFA-IgM pode apresentar muito resultado falso-negativo no período neonatal (em torno de 75%), pois altas concentrações maternas de IgG podem competir com sítios antigênicos na superfície do organismo (FILICE GA et al., 1980; WILSON CB et al., 1980). Os métodos de captura eliminam a interferência da IgG materna tendo assim maior sensibilidade e são recomendados para o diagnóstico no período neonatal. O ELISA-IgM duplo sanduíche tem 20% de falso-negativo (NAOT T et al., 1981). O 61 ELFA-IgM tem uma sensibilidade de 90% para diagnóstico de recém-nascidos infectados (BIOMÉRIEUX SA, 2006). O ISAGA-IgM tem uma sensibilidade de 67,5% e especificidade de 77% e o EIA-IgM uma sensibilidade de 61,9% e uma especificidade de 88,8% nos primeiros 10 dias de vida (PINOM JM et al., 2001). Os novos métodos como ELIFA e imunoblotting (Western-blot) podem distinguir anticorpos maternos de fetais e neonatais. Quando usados em associação com métodos padrões podem melhorar o diagnóstico no primeiro mês de vida ou posteriormente. O Western-blot foi inicialmente descrito em 1985, por Remington e colaboradores que demonstraram que algumas bandas de IgG e IgM são identificadas no soro da criança infectada mas não estão presentes no soro da mãe (REMINGTON JS et al., 1985). Em 2003, Tissot Dupont e colaboradores relataram uma sensibilidade de Western-blot de detecção de IgM de 82,69% e uma especificidade de 96,1%, esses valores foram maiores que os encontrados no ISAGA. Porém a combinação do Western-blot com ISAGA melhorou a sensibilidade do diagnóstico precoce para 91,3%. O uso Western-blot IgA também pode ser utilizado porém é menos sensível, e a combinação de Western-blot IgM e IgG são mais sensíveis. Resultados semelhantes foram encontrados em um estudo envolvendo 14 laboratórios europeus (PINON J et al., 2001). No período neonatal o ELIFA tem sensibilidade de 64,2%, e o imunoblotting de IgM de 56,7% e ambos especificidade de 100% (PINON JM et al., 2001). A sensibilidade do ELIFA aumenta com a idade, pois logo ao nascimento a hemoconcentração do sangue inibe a leitura das bandas, e o ideal é que seja feito com após 10 dias de vida. Tem uma sensibilidade acumulada de 84,5% em 3 meses e 62 88,8% ao final do primeiro ano de acompanhamento (PINOM JM et al., 1996). A sensibilidade e a especificidade aumentam com a utilização de testes combinados e de isotipos de imunoglobulinas. Uma sensibilidade de 92,1% foi encontrada quando se utiliza ELIFA IgM e IgG e EIA (PINOM JM et al., 2001). O tratamento para toxoplasmose pode alterar os resultados sorológicos. O diagnóstico sorológico pós-natal pode ser atrasado pelo tratamento in útero devido a diminuição da resposta de IgM e IgA específica para toxoplasmose, com resultados falso-negativos (PINOM JM et al., 1996; PINOM JM et al., 2001). A sorologia IgM específica para toxoplasmose é raramente vista ao nascimento quando a gestante recebe tratamento com sulfadiazina desde a 17ª semana de gestação até o parto (HOHLFELD P et al., 1994). Nestes casos a confirmação do diagnóstico é baseada na persistência de IgG específica para toxoplasmose após num ano e/ou aumento da sorologia após término do tratamento pós-natal (MCAULEY J et al., 1994). Os métodos sorológicos podem ser realizados em amostras sanguíneas dos neonatos em filtro de papel (teste do pezinho), assim como outras doenças infecciosas e deveriam ser consideradas como forma de rastreamento do recém-nascido junto com as doenças metabólicas (NETO EC et al., 2004). Outros exames complementares (ANDRADE GMQ et al., 2004) - radiografia de crânio: útil para identificar calcificações cerebrais. - Ultra-sonografia transfontanela: útil para identificar dilatações ventriculares no recém-nascido ou no lactente. - Tomografia computadorizada de crânio: serve para identificar calcificações cerebrais e dilatações ventriculares. 63 - Fundoscopia: essencial para a pesquisa de retinocoroidites. - Hemograma: pode-se observar anemia, plaquetopenia, reticulocitose, leucocitose ou leucopenia e eosinofilia. - Punção lombar: pode-se observar pleocitose com predominância de mononucleares, eosinofilia e hiperproteinorraquia. 2.7 TRATAMENTO O tratamento da toxoplasmose em pessoas imunocompetentes não grávidas geralmente não é indicado, a menos que os sintomas sejam severos ou persistentes ou ocorram complicações (HALL SM, 1992). O tratamento específico para toxoplasmose deve ser empregado em imunocomprometidos, grávidas, pessoas apresentando acometimento ocular e crianças com infecção congênita (AAP, 2000). Os agentes recomendados para a terapia específica para toxoplasmose atualmente têm apenas eficácia em erradicar a forma de taquizoíto e não a forma cística, especialmente a do sistema nervoso central e do olho. O parasita provavelmente nunca é completamente eliminado pelo tratamento, e a cura da doença em humanos depende da colônia do parasita envolvido, do órgão infectado e do tempo da infecção no qual o tratamento foi realizado. (REMINGTON JS et al., 2006). 64 2.7.1 DROGAS UTILIZADAS PARA O TRATAMENTO DA TOXOPLASMOSE SULFADIAZINA E PIRIMETAMINA A sulfadiazina e a pirimetamina atuam sinergicamente contra o Toxoplasma gondii, conseqüentemente a sua associação é recomendada para o tratamento específico (WONG SJ & REMINGTON JS, 1994). A sulfadiazina é uma sulfa que tem como efeitos colaterais mais comuns: a reação de hipersensibilidade cutânea, distúrbios do trato gastrointestinal, cristalúria e hematúria (WONG SJ & REMINGTON JS, 1994). A pirimetamina é um antagonista ácido fólico ao inibir a dihidrofolato-redutase. A neutropenia reversível é o efeito tóxico mais comum durante o uso da pirimetamina, embora a plaquetopenia e anemia também possam ocorrer devido à depressão reversível, gradual e dose dependente da medula óssea devido à deficiência do ácido fólico. Outros efeitos colaterais menos graves são distúrbio do trato gastrointestinal e cefaléia (ELMALEM J et al., 1985). Existem efeitos teratogênicos que são similares aqueles devido à deficiência de ácido fólico, como hidropsia, desenvolvimento incompleto do crânio e do cérebro, hidrocefalia, hérnia ventral, situs inversus e combinação de todas estas alterações (REMINGTON JS et al., 2006). Todos os pacientes fazendo uso de pirimetamina precisam realizar hemograma periférico e contagem de plaquetas uma a duas vezes por semana. O ácido folínico precisa ser associado para diminuir ou prevenir a toxicidade hematológica (WONG SJ & REMINGTON JS, 1994). 65 Villena e colaboradores, em 1998, demonstraram uma extensa experiência com sulfodoxine e pirimetamina para o tratamento de toxoplasmose congênita e de gestantes com infecção aguda pelo toxoplasma. ESPIRAMICINA É um antibiótico macrolídeo com espectro similar a eritromicina. No momento, o seu uso é limitado apenas as grávidas com infecção aguda pelo toxoplasma com o objetivo de reduzir o risco de transmissão fetal (COUVREUR J et al., 1993). Os efeitos adversos mais comuns relacionados ao uso da espiramicina são principalmente gastrointestinais, como náuseas, vômitos, anorexia e diarréia. Os menos freqüentes são vitiligo, tonteira, rubor facial e sensação de frio (WONG SJ & REMINGTON JS, 1994). OUTRAS DROGAS Até o momento não existem estudos clínicos para recomendar estas outras drogas para o tratamento de grávidas imunocompetentes, fetos e recém-nascidos com infecção pelo toxoplasma (REMINGTON JS et al., 2006). Sulfametoxazole e trimetoprim – Existem relatos de sucesso de tratamentos em ratos, porém tem menor atividade in vitro e in vivo que a sulfadiazina com pirimetamina (REMINGTON JS et al., 2006). O seu uso deve ser considerado quando ocorre intolerância a pirimetamina (DEROUIN F et al., 2000). Clindamicina – Tem sido efetiva para o tratamento de toxoplasmose em ratos e infecção ocular em coelhos. Estudos são necessários antes de se recomendar como 66 tratamento de rotina para grávidas e crianças com infecção congênita (REMINGTON JS et al., 2006). Tetraciclinas – A doxiciclina e aminociclina têm eficácia no tratamento de toxoplasmose em ratos (CHANG HR et al., 1990; TABBARA KF et al., 1982). A doxiciclina tem sido utilizada com sucesso em pacientas com Aids que apresentam encefalite toxoplasmótica (POPE-PEGRAM L et al., 1991). Macrolídeos – A claritromicina e a azitromicina têm sido utilizadas em associação com pirimetamina com sucesso para o tratamento do Toxoplasma gondii em animais e humanos com Aids (LIESENFELD O et al., 1999). A azitromicina com a pirimetamina tem sido relatada com igual eficácia a sulfadiazina e pirimetamina para a resolução de doença ocular ativa em pacientes com coriorretineote recorrente (ROTHOVA A et al., 1998). Atovaquone – Tem sido relatada atividade in vitro potente contra os taquizoítos e formas císticas (ARAUJO FG et al., 1991). Também tem sido utilizada em pacientes com Aids e encefalite toxoplasmótica com resultados encorajadores. A associação com a pirimetamina tem se mostrado útil (KOVACS JA, 1992). Fluorquinolonas – Algumas fluorquinolonas têm atividade contra o toxoplasma in vitro e in vivo em ratos com infecção aguda. Essa atividade é maior quando usada em associação com a pirimetamina, sulfadiazina, claritromicina ou atovaquone (KHAN AA et al., 1996). 67 2.7.2 TRATAMENTO NO PERÍODO GESTACIONAL O tratamento da mulher que adquire a infecção aguda durante a gravidez pode reduzir a incidência e a severidade da infecção fetal (WONG SJ & REMINGTON JS, 1994). A administração de espiramicina é indicada para grávidas com suspeita ou com diagnóstico de infecção aguda pelo T. gondii durante o primeiro trimestre ou início do segundo trimestre até o parto, a menos que o diagnóstico fetal seja altamente suspeito ou estabelecido, pois a droga não ultrapassa a placenta e não é capaz de atingir o feto. Nestes casos a droga deve ser substituída por sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico a partir da 18ª semana de gestação. Não existem evidências de que a espiramicina seja teratogênica. (MONTOYA JG & ROSSO F, 2005). O uso da espiramicina em grávidas com infecção aguda tem diminuído a freqüência da transmissão vertical devido as altas concentrações da droga na placenta (MONTOYA JG & ROSSO F, 2005). A redução da transmissão fetal pode ser de 50% a 60% (STRAY-PEDERSEN B, 1992). A combinação de sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico é indicada para o tratamento de grávidas com suspeita ou com diagnóstico de infecção aguda pelo toxoplasma adquirida no final do segundo trimestre ou durante o terceiro trimestre de gestação (REMINGTON JS et al., 2006). Também é indicada para grávidas na qual a infecção fetal foi confirmada: PCR positivo no líquido amniótico ou alterações fetais sugestivas de toxoplasmose congênita (MONTOYA JG & ROSSO F, 2005). A pirimetamina é teratogênica e o seu uso é contra-indicado no primeiro trimestre de gestação (REMINGTON JS et al., 2006). 68 Devido a toxicidade da terapia com sulfadiazina e pirimetamina, algumas autoridades recomendam a terapia combinada com sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico por 3 semanas alternando com a espiramicina por 3 semanas (STRAYPEDERSEN B, 1992; HOLLIMAN RE, 1995). Couvreur e colaboradores, em 1993, evidenciaram que a profilaxia com o uso da sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico é mais eficaz que o uso apenas da espiramicina devido a diminuição da infecção placentária no grupo com terapia combinada (42% versus 77%) e diminuição da frequência de IgM neonatal no grupo com terapia combinada (17 versus 69%). A dose recomendada é de espiramicina 1g a cada 8 horas; sulfadiazina: 1,5g a cada 12 horas (dose máxima 4g/dia); pirimetamina: 100mg no primeiro dia a cada 12 horas, após 50mg/dia uma vez ao dia e ácido folínico 10-20mg/dia, uma vez ao dia durante o tratamento e após 1 semana do término do uso da pirimetamina (LYNFIELD R & GUERRINA NG, 1997; REMINGTON JS et al., 2006). De acordo com estudos experimentais, após a infecção, a placenta fica infectada por toda a gestação, então é recomendado que o tratamento seja realizado durante todo o período gestacional (WONG SJ & REMINGTON JS, 1994). A falta de associação do tratamento pré-natal da gestante com infecção pelo toxoplasma e o menor risco de transmissão congênita do Toxoplasma gondii tem sido relatada por alguns pesquisadores (WALLON M et al., 1999; FOULON W et al., 1999; PEYRON F et al., 2006; THE SYROCOT, 2007). A eficácia da espiramicina em prevenir infecção congênita tem sido questionada por um grupo de pesquisadores que não obtiveram uma conclusão definitiva, devido a falta da realização de estudos prospectivos randomizados (GILBERT RE et al., 2001; GILBERT R & GRASS L, 2003). 69 Até a realização de estudos apropriados, a maioria das autoridades continua recomendar a espiramicina para grávidas com infecção aguda pelo Toxoplasma gondii (MONTOYA JG & ROSSO F, 2005). Porém existem relatos de que o tratamento precoce na gestante reduz significantemente a freqüência e a severidade das seqüelas nas crianças infectadas (DAFFOS F et al., 1988; FOULON W et al., 1999). O tratamento fetal reduz o número de sinais biológicos de toxoplasmose ao nascimento e pode reduzir o risco de dano severo ao recém-nascido. Isto aumenta a proporção de doença subclínica em infecções ocorridas no primeiro e segundo trimestre de gestação, assim como reduz a toxoplasmose congênita severa (REMINGTON JS et al., 2006). O tratamento pré-natal iniciado precocemente esteve relacionado com menor risco de lesão intracraniana (GRAS L et al., 2005). Existem dados insuficientes para definir a efetividade do tratamento para prevenir a transmissão congênita do toxoplasma em grávidas HIV positivas com infecção pelo toxoplasma. Os autores recomendam que grávidas com infecção pelo toxoplasma com CD4 menor que 200 células/mm3 precisam receber sulfametoxazol-trimetoprim para prevenir a infecção pelo toxoplasma e a transmissão do parasita para o seu filho (MONTOYA JG & ROSSO F, 2005). 2.7.3 TRATAMENTO DA CRIANÇA COM TOXOPLASMOSE CONGÊNITA Crianças com o diagnóstico definitivo ou provável devem receber tratamento durante o primeiro ano de vida ou até que se exclua o diagnóstico (ANDRADE GMQ et al., 2004). Todos os recém-nascidos com infecção congênita clínica ou subclínica devem ser tratados. O tratamento das crianças com infecção subclínica pode diminuir a 70 freqüência e a gravidade das seqüelas, principalmente oculares (PETERSEN E & SCHMIDT DR, 2003). A sulfadiazina e a pirimetamina são as drogas geralmente utilizadas para o tratamento de crianças com toxoplasmose congênita, em associação com o ácido folínico. As crianças tratadas com estas drogas têm mostrado melhor prognóstico ao comparar com crianças não tratadas no passado (MCAULEY J et al., 1994; REMINGTON JS et al., 2006). A terapia é continuada por um ano (JONES J et al., 2003), o esquema recomendado é sulfadiazina associada a pirimetamina diariamente por 6 meses seguido de sulfadiazina diária e pirimetamina três vezes por semana por mais 6 meses. Os dois esquemas são associados ao ácido folínico três vezes na semana (REMINGTON JS et al., 2006) (TABELA 4). 71 TABELA 4 – TRATAMENTO DA TOXOPLASMOSE CONGÊNITA Características clínicas Droga de escolha Dose (oral) Duração da terapêutica Toxoplasmose congênita Pirimetamina 1mg/kg/dia, 1vez ao dia durante 12 meses 6 meses, seguido da mesma clínica ou subclínica dosagem 3 vezes por semana Sulfadiazina por 6 meses Ácido folínico 100mg/kg/dia, 2 vezes ao dia 10mg/dia, 3 vezes na semana Toxoplasmose congênita Pirimetamina Mesma dose que a anterior. A com evidência de dose do corticosteróides inflamação (Prednisona ou prednisolona) é (coriorretinite e Sulfadiazina de 1 mg/kg/dia, 2 vezes ao dia. hiperproteinorraquia Ácido folínico É recomendado até diminuição ≥ 1g/dl) Corticosteróides da hiperproteinorraquia para (Prednisona ou menor que 1g/dl e término das prednisolona) lesões ativas de coriorretinite. 12 meses Deve ser interrompido lentamente (aproximadamentre 3 semanas), mantendo a medicação específica Adaptado de REMINGTON JS et al., 2006. Estudos mostram que crianças tratadas por períodos relativamente curtos têm, subseqüentemente, desenvolvido seqüelas da doença (WILSON CB et al., 1980). O 72 objetivo do tratamento durante o primeiro ano de vida é propiciar tempo para que o recém-nascido desenvolva resposta imune competente para manter o parasita na sua forma cística, o que evita o processo inflamatório causador dos efeitos deletérios da infecção (ANDRADE GMQ et al., 2004). No Brasil não existem formulações líquidas das drogas utilizadas para o tratamento da toxoplasmose congênita, o que dificulta seu uso no meio pediátrico. As apresentações das drogas são: sulfadiazina comprimido de 500mg, pirimetamina comprimido de 25 mg e ácido folínico comprimido de 15mg (ANDRADE GMQ et al., 2004). Estudo realizado em Chicago avaliando o tratamento da toxoplasmose congênita de 1981 a 2004 evidenciou que o tratamento de crianças sem doença neurológica ao nascimento com sulfadiazina e pirimetamina por 1 ano resulta em pacientes sem seqüelas cognitivas, neurológicas e audiológicas. Após o tratamento em crianças com dano neurológico severo ou moderado ao nascimento, a porcentagem de crianças com desenvolvimento neurológico e cognitivo normais foi maior que 72% e nenhum apresentou dano audiológico. 91% das crianças sem dano neurológico ao nascimento e 64% das crianças com dano neurológico severo a moderado ao nascimento não desenvolveram novas lesões oculares. Os resultados foram marcadamente melhores do que crianças não foram tratadas ou que foram tratadas apenas por um mês nas décadas anteriores (p<0,01 a p<0,001) (MCLEOD R et al., 2006). Resultados semelhantes foram encontrados por outros autores. Roizen e colaboradores evidenciaram que crianças que foram tratadas por um ano com sulfadiazina e pirimetamina apresentaram melhor quadro neurológico e cognitivo do que 73 as crianças não tratadas ou tratadas por um mês descritos nas últimas décadas (ROIZEN N et al., 1995). Patel e colaboradores, em 1996, evidenciaram que as calcificações intracranianas diminuíam ou resolviam com o tratamento por um ano, ao avaliar 40 crianças com calcificação intracraniana na idade de 1 ano, sendo que 75% das calcificações tinham sido resolvidas e 25% permaneceram estáveis. A melhora oftalmológica também foi observada por Brézin e colaboradores em um grupo de crianças infectadas antes da vigésima quinta semana de gestação e tratadas com sulfadiazina e pirimetamina por um ano, 61% tinham olhos normais (BRÉZIN AP et al., 2003). Guerrina e colaboradores evidenciaram que o tratamento precoce pode reduzir seqüelas a longo prazo, em 1994. Atraso no diagnóstico e na terapia (uso de antimicrobianos e tratamento da hidrocefalia com colocação de shunt) parece estar associada com um dano irreversível em algumas situações. A identificação de crianças infectadas no pré-natal ou no rastreamento neonatal poderia estender os benefícios observados na terapia para a toxoplasmose congênita (MCLAULEY J et al., 1994). 74 2.8 SEGUIMENTOS DAS CRIANÇAS As crianças que devem ser investigadas são os recém-nascidos ou lactentes jovens, assintomáticos ou não, cujas mães têm relato de soroconversão naquela gestação ou outros exames sugestivos de infecção aguda; os recém-nascidos ou lactentes jovens, assintomáticos ou não, que apresentem triagem neonatal com positidade para IgM; recém-nascidos com manifestações clínicas sugestivas de infecção pelo T. gondii, com ou sem informações sobre sorologia materna durante o pré-natal (ANDRADE GMQ et al., 2004). Existem evidências em estudos de que mesmo com o uso de técnicas avançadas de diagnóstico, alguns casos de toxoplasmose congênita podem não ser detectadas. Então o seguimento é necessário para detectar todos os casos de infecção congênita (WILSON C et al., 1980; ROBERT-GANGNEUX F et al., 1999). As crianças com suspeita de infecção congênita devem realizar exames complementares para a confirmação do diagnóstico (REMINGTON JS et al., 2006): - sorologia para toxoplasmose ( IgG, IgM de captura e IgA), - hemograma, - exame de imagem do crânio (radiografia simples de crânio, ultra- sonografia transfontanela ou tomografia de crânio), - exame de fundo de olho, - punção lombar – obrigatória nos casos com anormalidade no exame neurológico ou nos exames de imagem do sistema nervoso central). As crianças com diagnóstico possível devem ser acompanhadas com exames clínicos e sorológicos (IgG e IgM) mensais ou bimensais até a sua negativação no 75 diagnóstico excluído ou sua elevação ou persistência no diagnóstico confirmado (ANDRADE GMQ et al., 2004). Em recém-nascidos no qual os anticorpos IgA e IgM não são encontrados, o diagnóstico é possível pela análise de níveis de IgG. Em crianças não infectadas os níveis de IgG diminuem progressivamente nos primeiros meses de vida e desaparecem até 12 meses, enquanto nas crianças infectadas os níveis mantém-se estáveis ou aumentam a partir do 3º mês de vida e permanecem positivos após o 12º mês e pelo resto da vida (MOMBRÒ M et al., 2003). 2.8.1 SEGUIMENTO DAS CRIANÇAS INFECTADAS (ANDRADE GMQ et al., 2004): A) Avaliação pediátrica periódica (semanal, mensal ou bimensal dependendo da evolução da criança) para avaliar crescimento e desenvolvimento da criança e, efeito colateral das drogas. B) Avaliação oftálmica ao diagnóstico e trimestral até um ano de vida ou, no mínimo, ao final do primeiro ano de vida. Depois de um ano, deve ser repetida semestralmente até o período escolar e depois anualmente por toda a vida. Independente desse controle, o exame de fundo de olho deve ser repetido, a qualquer momento, em caso de alguma sintomatologia ocular. C) Avaliação neurológica de acordo com a evolução de cada caso. Na presença de dilatação ventricular detectada ao diagnóstico, repetir o ultra-sonografia transfontanela pelo menos bimensalmente durante o primeiro ano de vida para avaliar colocação de derivação ventricular. D) Avaliação auditiva deve ser realizada, no mínimo, no período neonatal e ao final do primeiro ano de vida. 76 E) Tratamentos adicionais incluem fisioterapia, terapia ocupacional, avaliação fonoaudiológica, dependendo da evolução de cada caso. F) O acompanhamento sorológico só é indicado nas crianças que não foi possível confirmar o diagnóstico. 2.9 PROFILAXIA A toxoplasmose congênita é uma doença que pode ser prevenida. As grávidas soronegativas e os pacientes imunodeficientes são as duas populações nas quais a prevenção da infecção pelo T. gondii é mais importante. Vários métodos para a prevenção da toxoplasmose congênita vêm sendo propostos (REMINGTON JS et al., 2006). MÉTODOS DE PREVENÇÃO PRIMÁRIA São métodos educacionais específicos de higiene (TABELA 5). A prevenção da infecção primária através de medidas educacionais nas grávidas resulta em uma redução da taxa de soroconversão de 60% (FOULON W et al., 1988). É recomendado que medidas educacionais sejam inseridas em programas de pré-natal e seja continuamente reforçada no decorrer da gestação (MONTOYA FG & ROSSO F, 2005). O consumo de carne mal cozida é o principal fator de risco para grávidas adquirirem o toxoplasma (COOK AJ et al., 2000). Os cistos teciduais tornam-se não infecciosos com o cozimento da carne a 66ºC ou se a carne for defumada. O congelamento da carne é o método menos confiável para eliminar o cisto, o congelamento da carne por – 20º C por 24 horas pode ser suficiente para destruir o 77 cisto tecidual, portanto a maioria dos congeladores não mantém esta temperatura (REMINGTON JS et al., 2006). A mulher que adquire a toxoplasmose aguda deve aguardar 6 meses para engravidar (MONTOYA FG & ROSSO F, 2005), pois a infecção pelo toxoplasma 3 meses antes da concepção pode não conferir uma imunidade efetiva contra a transmissão congênita (REMINGTON JS et al., 2006). TABELA 5 – MEDIDAS DE PREVENÇÃO PRIMÁRIA PARA TOXOPLASMOSE CONGÊNITA Cozinhar carnes em temperaturas seguras para garantir o cozimento adequado. Evitar o consumo de carnes desidratadas. Evitar tocar membranas mucosas da boca e olhos enquanto manipula carne crua e lavar as mãos após manipular carne crua. Lavar as superfícies da cozinha e utensílios que entraram em contato com carne crua. Lavar frutas e vegetais antes do consumo. Prevenir o acesso a moscas e baratas a alimentos. Evitar o contato com materiais potencialmente contaminado por fezes de gatos. Usar luvas durante a técnica de jardinagem, contato com o solo e para manipular caixas de fezes de gatos e após lavar as mãos. As grávidas devem evitar trocar a caixa de fezes de gatos. Desinfetar a caixa de fezes de gatos com água fervente por 5 minutos antes de manipulá-la. Trocar a caixa de fezes de gatos diariamente, pois os oocistos requerem alguns dias para tornarem-se infecciosos. As grávidas devem encorajar seus gatos a ficarem dentro de casa e alimenta-los apenas de comida industrializada. Adaptado de LOPEZ A et al., 2000 e MONTOYA FG & ROSSO F, 2005. MÉTODOS DE PREVENÇÃO SECUNDÁRIA É realizada através do rastreamento sorológico durante o pré-natal para identificar e tratar a grávida que adquire a infecção aguda durante a gestação, na falta 78 deste rastreamento geralmente a infecção passa desapercebida. O rastreamento sorológico para todas as gestantes é controverso (BOYER KM et al., 2005). Na França e na Bélgica, todas as grávidas são testadas para toxoplasmose no início da gestação e se forem negativas serão testadas uma vez ao mês ao longo da gestação, embora testes a cada trimestre têm sido propostos (WONG SY & REMINGTON JS, 1994). No Brasil onde a prevalência da infecção é alta um programa de triagem da gestante é útil (ANDRADE GMQ et al., 2004). Nos EUA, em Massachusetts foi implementado em 1996 um programa de rastreamento neonatal de toxoplasmose, que posteriormente foi implementado em outro estado americano (New Hampshire) (JARA M et al., 2001) e em alguns países como na Dinamarca (LEBECH M et al.,1999; SCHMIDT DR et al., 2006). Em contraste com o rastreamento pré-natal, o rastreamento neonatal é menos caro e mais prático e tem mostrado ser eficiente e pode ser incluído em um programa para rastreamento de várias infecções congênitas (LEBECH M et al., 1999; NETO EC et al. 2004). É utilizado sangue do recém nascido que é colocado em um filtro de papel e são realizadas sorologias específicas para toxoplasmose, pode utilizar sangue do cordão umbilical (EATON RB et al., 1996). Um estudo na Dinamarca evidenciou que esse rastreamento é capaz de identificar 70 a 80% das crianças com infecção congênita em uma região de baixa prevalência da infecção pelo toxoplasma (LEBECH M et al., 1999). Guerrina e colaboradores, em 1994, detectaram infecção congênita em 50 dos 52 pacientes pelo método de diagnóstico neonatal, sendo capaz de identificar infecções subclínicas. Um estudo polonês evidenciou uma sensibilidade de 86,7% em uma região onde a incidência de toxoplasmose congênita é de 0,55 para cada 1.000 nascidos vivos (PAUL 79 M et al., 2000). No Brasil, Neto e colaboradores utilizaram este método em 140.914 amostras de recém-nascidos de todo país e identificaram 47 casos de toxoplasmose congênita num período de três anos (NETO EC et al., 2000). Porém existem crianças com infecção congênita pelo toxoplasma que não possuem anticorpos IgM e IgG ao nascimento, conseqüentemente não serão detectadas pelo rastreamento neonatal (FOULON W et al., 2000). As crianças infectadas no terceiro trimestre de gestação ainda não formaram anticorpos e as infectadas no início da gestação podem já ter negativado a IgM (MONTOYA FG & ROSSO F, 2005). Além do mais, estudos têm mostrado que a resposta de IgM no neonato é diminuída em mães que recebem o tratamento para toxoplasmose durante a gestação (FOULON W et al., 2000). As opiniões sobre a validade do programa são contraditórias na literatura. As justificativas para a implantação deste programa são as dificuldades de triagem prénatal, a grande prevalência de crianças infectadas assintomáticas e a obtenção dos benefícios do tratamento precoce das crianças infectadas (ANDRADE GMQ et al., 2004). VACINAS Uma vacina efetiva contra a infecção pelo Toxoplasma gondii em humanos é desejada. Apenas cepas do parasita atenuado têm sido liberado para o uso em ovelhas na Europa e na Nova Zelândia (BUXTON D & INNES EA, 1995). As pesquisas focalizam vacinas que possam induzir uma resposta humoral (incluindo IgA) e celular (linfócito T helper). As vacinas podem incluir superfície de antígenos purificados ou recombinantes, cepas de parasitas vivo atenuado ou mutante e o uso de DNA com 80 plasmídeos codificados por fatores estimuladores de colônia (PETERSEN E et al., 1998; ISMAEL AB et al., 2003). 81 3 – JUSTIFICATIVA 82 Devido à alta prevalência da infecção pela toxoplasmose em nosso meio e a toxoplasmose congênita representar uma doença de alta morbidade, existe uma grande importância em se diagnosticar e tratar as grávidas com infecção aguda e as crianças com infecção congênita. Embora existam dados na literatura de como realizar o acompanhamento da gestante e de seu filho em áreas de alta prevalência da infecção, não existe um consenso definido entre os centros de assistências. Além disso, poucos estudos brasileiros foram realizados para analisar o perfil das grávidas infectadas e de seus filhos (VARELLA IS et al., 2003; CARVALHEIRO CG et al., 2005). Durante o acompanhamento de crianças cujas mães apresentaram sorologia IgM positiva para toxoplasmose durante o período gestacional no ambulatório Doenças Infecciosas e Parasitária em Pediatria (DIPe) do Instituto Fernandes Figueira (IFF) – FIOCRUZ, foi observada uma grande diversidade nos parâmetros utilizados para o diagnóstico da infecção na gestante e no feto, assim como no acompanhamento das crianças expostas à infecção congênita pelo Toxoplasma gondii. O IFF é um hospital terciário de referência para outras unidades de saúde para acompanhamento e tratamento da toxoplasmose na gestação. É realizada triagem sorológica das gestantes de rotina durante o pré-natal e a realização de métodos diagnósticos mais específicos, como o teste de avidez de IgG, a ultra-sonografia fetal e a aminiocentese para realização da PCR. Os filhos das gestantes com diagnóstico de infecção por toxoplasmose são acompanhados no ambulatório de DIPe até definir o estado de infecção ou não e as crianças infectadas são tratadas e acompanhadas neste ambulatório. Isto motivou a realização do estudo atual para definir o perfil das grávidas com sorologia IgM positiva para toxoplasmose em um serviço de referência com análise dos 83 métodos diagnósticos realizados durante a período gestacional e do acompanhamento de seus filhos. 84 4 - OBJETIVOS 85 OBJETIVO GERAL Analisar as características clínicas, epidemiológicas e laboratoriais das mulheres que apresentaram sorologia IgM positiva específica para toxoplasmose durante o período gestacional e de seus filhos no período de janeiro de 2003 a dezembro de 2006. OBJETIVOS ESPECÍFICOS OBJETIVOS ESPECÍFICOS RELACIONADOS À GESTANTE 1. Evidenciar características demográficas das gestantes com sorologia IgM positiva para toxoplasmose. 2. Determinar em que época da idade gestacional foi realizada o diagnóstico sorológico (IgM positiva). 3. Analisar os exames diagnósticos específicos para toxoplasmose realizados durante o pré-natal. 4. Analisar a conduta terapêutica adotada em gestantes com sorologia IgM positiva. 5. Determinar a taxa de transmissão da toxoplasmose congênita neste grupo de gestantes. 86 OBJETIVOS ESPECÍFICOS RELACIONADOS AO FILHO 1. Analisar dados demográficos, quadro clínico, exames diagnósticos, terapêutica e o acompanhamento ambulatorial dos filhos das gestantes IgM positivas para toxoplasmose. 2. Identificar a idade média (meses) em que a IgG específica para toxoplasmose tornou-se negativa nas crianças que não apresentaram infecção congênita por toxoplasmose. 3. Descrever o quadro clínico das crianças com infecção congênita por toxoplasmose. 87 5 - METODOLOGIA 88 CARACTERÍSTICAS DO ESTUDO Foi realizado um estudo transversal descritivo e retrospectivo, com base na revisão de prontuários de crianças que fizeram acompanhamento ambulatorial por toxoplasmose congênita no período de 2003 a 2006, e de suas mães que apresentaram sorologia IgM positiva para toxoplasmose durante o período gestacional. LOCAL DO ESTUDO O estudo foi realizado no Instituto Fernandes Figueira (IFF), unidade da Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz. A instituição tem como objetivo integrar ensino, assistência e pesquisa na área da saúde da mulher, da criança e do adolescente. O serviço de pré-natal e a maternidade têm característica de atendimento terciário. É referência para gestantes que apresentam sorologia IgM positiva para toxoplasmose e portanto recebem gestantes provenientes de outras unidades básicas de saúde. Após o nascimento, os filhos destas gestantes são acompanhados no ambulatório de Doenças Infecciosas em Pediatria (DIPe). POPULAÇÃO DO ESTUDO A população do estudo foi constituída de crianças acompanhadas no ambulatório de DIPe do IFF por risco de apresentarem toxoplasmose congênita no período de 01 de janeiro de 2003 a 31 de dezembro de 2006 e de suas respectivas mães que apresentaram sorologia IgM positiva durante o período gestacional. 89 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO O estudo incluiu todos as crianças que fizeram acompanhamento no ambulatório de DIPe do IFF até a definição do diagnóstico de infecção congênita por Toxoplasma gondii e de suas mães que tiveram sorologia IgM positiva específica para toxoplasmose durante o período gestacional e que fizeram acompanhamento no ambulatório de prénatal do IFF. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO - Gestantes que não fizeram acompanhamento no ambulatório de pré- natal do IFF. - Gestantes com sorologias IgM positiva documentada antes do período gestacional. - Crianças que não foram acompanhadas até definição do estado de infecção congênita. AMOSTRA Os prontuários foram selecionados através da busca no arquivo do IFF a partir de números de registros obtidos da agenda do ambulatório de DIPe de crianças acompanhadas por toxoplasmose congênita no período de 01 de janeiro de 2003 a 31 de dezembro de 2006. O número do registro do prontuário de suas mães eram obtidos através do prontuário das crianças e também eram selecionados no arquivo do IFF. 90 COLETA DE DADOS Foi preenchida uma ficha para a coleta de dados de interesse para o estudo em relação a gestante e a criança (Apêndice 10.1 e 10.2). A ficha da gestante constou de informações em relação a: - idade; - número de gestações; - número de abortos; - número de consultas de pré-natal; - tipo de parto; - idade gestacional em que apresentou IgM positiva; - valores de sorologia IgM e IgG para toxoplasmose; - exames complementares realizados na gestação: teste de avidez para anticorpos IgG para T gondii, amniocentese/PCR para T gondii, ultra-sonografia obstétrica, histopatológico da placenta; - tratamento específico para toxoplasmose. A ficha da criança constou de informações em relação a: - sexo; - medidas antropométricas (peso e perímetro cefálico) ao nascimento; - APGAR no 1º e 5º minuto de vida; - idade gestacional ao nascimento; - relação de peso e idade gestacional ao nascimento; 91 - exames complementares realizados: fundo de olho, ultra- sonografia transfontanela, tomografia computadorizada de crânio; - valores de sorologia IgM e IgG para toxoplasmose; - alterações clínicas nas crianças infectadas; - tratamento específico para toxoplasmose; - número de consultas no ambulatório de DIPe; - tempo de acompanhamento no ambulatório de DIPe. 5.1 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS As variáveis clínicas, laboratoriais e de tratamento adotadas para definir o perfil da população estudada foram aquelas que, com maior freqüência, são empregadas nos trabalhos científicos que versam sobre toxoplasmose congênita, sendo obtidas segundo o registro realizado pelo médico assistente nos prontuários consultados. As variáveis eleitas para definir o perfil da população do estudo estão descritas nos apêndices 10.3 e 10.4. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA TOXOPLASMOSE CONGÊNITA Os critérios utilizados para a confirmação do diagnóstico da toxoplasmose congênita foram os adotados pela literatura e utilizados no ambulatório de DIPe: IgM específica para toxoplasmose positiva e/ou sinais e sintomas sugestivos de infecção congênita pelo toxoplasma (coriorretinite, hidrocefalia, calcificação cerebral) e/ou IgG específica para toxoplasmose sem declínio ou em ascensão após o 3º mês de vida e/ou IgG persistentemente positiva após o 12º mês de vida da criança, sem antes 92 apresentar declínio (LEBECH M et al., 1996, NAESSENS A et al., 1999, REMINGTON JS et al., 2006). Para descartar a possibilidade de infecção congênita foram considerados quedas dos títulos de IgG e sua negativação antes do 12º mês de vida da criança. Os anticorpos transmitidos pela mãe devem desaparecer progressivamente nas crianças não infectadas, pois eles não são sintetizados por elas (REMINGTON JS et al., 2006) (FIGURA 2). 93 FIGURA 2 – DIMINUIÇÃO DE ANTICORPOS IGG TRANSMITIDOS PELA MÃE (DYE TEST) EM 93 CRIANÇAS NÃO INFECTADAS (430 SOROLOGIAS). AS DUAS LINHAS PARALELAS CENTRAIS INDICAM A MEIA-VIDA E AS OUTRAS DUAS OS TÍTULOS. Idade (em dias) Adaptado de Remington JS et al., 2006. 94 AVALIAÇÃO SOROLÓGICA Todos as gestantes e crianças estudadas tinham exames sorológicos específicos para toxoplasmose realizados no laboratório de imunologia do IFF. Algumas gestantes tinham o primeiro exame IgM positivo para diagnóstico de toxoplasmose congênita em um laboratório externo que posteriormente era confirmado no laboratório do IFF. Durante o acompanhamento de pré-natal do IFF são realizados exames sorológicos para toxoplasmose (IgG e IgM) a cada trimestre para gestantes IgG negativa na tentativa de se detectar a soroconversão. E nas gestantes com sorologia IgM e IgG positivas são realizadas novas sorologias a cada trimestre e, quando necessário, o teste de avidez de IgG para ajudar a identificar a época da infecção. Quando os valores de IgG são maiores que 1.200 UI/ml não é possível realizar o teste de avidez, pois ultrapassa a curva de linearidade do teste. Durante o acompanhamento das crianças cujas mães apresentaram sorologia IgM positiva para toxoplasmose no período gestacional são realizadas sorologia IgM e IgG nos primeiros dias de vida, a partir de sangue periférico, no primeiro mês de vida e após a cada 2-3 meses conforme cada caso, até negativação da IgG (GUERRINA NG et al.,1994). A técnica laboratorial empregada foi a ELFA (Enzyme Linked Fluorescent Assay) através do sistema Vidas. O sistema Vidas é um sistema fechado (aparelhado e reativo), inteiramente automático, fabricado pela BioMérieux S/A O produto está registrado no Ministério da Saúde do Brasil. A) VIDAS TOXO IgM - É um método de captura de IgM. Inicialmente ocorre a captura das imunoglobulinas IgM do soro e, posteriormente, das IgM específicas 95 anti-Toxoplasma gondii que são detectadas através da ligação com um imunocomplexo marcado com a fosfatase alcalina. O resultado final é a medida da fluorescência (ELFA) que é dada na forma de índice de fluorescência calculada automaticamente pelo aparelho. Os resultados considerados reagentes são os índices iguais ou maiores que 0,65 e como não reagentes os abaixo de 0,55. Os índices maiores ou iguais a 0,55 e menores que 0,65 foram dados como inconclusivos (BIOMÉRIEX SA, 2006). Tem uma sensibilidade de 93,5% a 100% e uma especificidade de 98,6% a 99,3% (WILSON M et al., 1997; MOZZATTO L & PROCIANOY RS, 2003). B) VIDAS TOXO IgG - A técnica consiste na detecção da anticorpos da classe IgG anti-Toxoplasma gondii presentes no soro. O antígeno utilizado é rico em proteína do parasita (P30), sendo marcado por um anticorpo monoclonal do soro conjugado com a fosfatase alcalina. Os resultados sorológicos são expressos em Unidades Internacionais por mililitro (UI/ml), de acordo com o soro padrão de toxoplasmose da Organização Mundial de Saúde. Os resultados considerados positivos são maiores ou iguais 8UI/ml e negativos menores que 4UI/ml. Os resultados menores que 8UI/ml e maiores ou iguais a 4UI/ml são resultados equívocos (BIOMÉRIEX SA, 2006). Tem uma sensibilidade de 88,8% e uma especificidade de 100% (PINON JM et al., 2001). C) VIDAS TOXO IgG AVIDITY (Teste de avidez) - É um teste quantitativo automático no sistema VIDAS, que permite avaliar a avidez das IgG específicas para toxoplasmose no soro ou no plasma humano pela técnica ELFA. A interpretação do 96 índice de avidez é a seguinte: avidez fraca de IgG - índice menor que 0,2; avidez forte de IgG - índice maior ou igual a 0,3. Os valores maiores ou iguais a 0,2 e menores que 0,3 são avidez intermediária. Um índice da avidez forte indica uma primo-infecção há mais de 4 meses, um índice inferior 0,3 não permite distinguir infecção recente de uma antiga (BIOMÉRIEX SA, 2006). Tem uma sensibilidade de 100% e uma especificidade de 92,7% (CANDOLFI E et al., 2007). OUTROS TESTES DIAGNÓSTICOS A) AMNIOCENTESE E PCR PARA TOXOPLASMOSE - Este exame é oferecido à gestante como método diagnóstico complementar para o diagnóstico da toxoplasmose congênita, com esclarecimento do risco de abortamento de 1%. É realizado a partir da 18º semana de gestação (HOHLFELD P et al., 1994). O procedimento cirúrgico é realizado no IFF, porém a PCR é realizado em laboratório externo com o custo financiado pela paciente. O resultado da PCR é definido como positivo ou negativo. B) ULTRA-SONOGRAFIA FETAL - É realizada pelo serviço de medicina fetal com a freqüência determinada de acordo com cada caso. Define principalmente alterações do sistema nervoso central sugestivas de toxoplasmose congênita (VIRKOLA et al., 1997). Os resultados são definidos como normais ou como alterações sugestivas de toxoplasmose congênita. 97 C) HISTOPATOLÓGICO DA PLACENTA - Este exame é realizado em todas as gestantes cujos partos foram realizados no IFF. O resultado do exame foi definido como placenta alterada ou não alterada. D) FUNDOSCOPIA - Exame ocular realizado no período neonatal para identificar lesões compatíveis com coriorretinite toxoplasmótica. O resultado foi definido com normal ou alterado. E) ULTRA-SONOGRAFIA TRANSFONTANELA - Exame realizado no período neonatal para identificar lesões do sistema nervoso central. O resultado foi definido com normal ou alterado. F) TOMOGRAFIA DE CRÂNIO - É apenas realizado quando se evidencia alterações sugestivas de acometimento do sistema nervoso central do feto à ultrasonografia obstétrica ou à ultra-sonografia transfontanela. TRATAMENTO DA TOXOPLASMOSE Durante o acompanhamento de pré-natal do IFF as gestantes com sorologia IgM positiva são submetidas ao tratamento com espiramicina durante o primeiro trimestre. Após o primeiro trimestre utiliza-se sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico intercalados com ciclos de três semanas com espiramicina até o momento do parto. Quando a PCR é positiva utiliza-se apenas com sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico, a partir do segundo trimestre de gestação até o momento do parto. 98 Os recém-nascidos com diagnóstico suspeito ou confirmado de toxoplasmose congênita são submetidos ao tratamento com sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico durante o primeiro ano de vida. Nos suspeitos, o tratamento é realizado até se afastar o diagnóstico e nos confirmados durante todo o primeiro ano de vida. ACOMPANHAMENTO DAS CRIANÇAS As consultas de acompanhamento no ambulatório de DIPe são regulares, e a freqüência varia de acordo com a necessidade de cada caso. As crianças sem evidência de infecção congênita são acompanhadas até a sorologia IgG se tornar negativa. E as infectadas são acompanhadas durante todo o tratamento em conjunto com outros profissionais de saúde conforme a necessidade (acompanhamento multidisciplinar). Não são realizados exames sorológicos para toxoplasmose durante o acompanhamento nas crianças infectadas devido aos efeitos que a terapia antitoxoplasma pode ocasionar e ao fato de que o aumento de IgM não estar associado a recorrências (REMINGTON JS et al., 2006). 5.2 ANÁLISE DOS DADOS Os dados foram analisados no programa de estatística Epi Info versão 3.3.2 e SPSS versão 13.0. As análises estatísticas foram realizadas utilizando medidas de freqüência simples (média) e medida de tendência central (mediana), percentuais, tabelas e gráficos. Para comparar as médias e medianas foi usado o teste t de Student e o teste de Fisher para as amostras diferentes, com significância estatística p<0,05. 99 5.3 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do IFF/Fiocruz, sob número de registro no CEPIFF 024/06. O presente estudo foi registrado na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP sob o número CAEE 0023.0.008.000-06 (APÊNDICE 10.5). 100 6 – RESULTADOS 101 6.1 DESCRIÇÃO DA POPULAÇÃO ESTUDADA No período estudado, 155 recém-nascidos e 152 gestantes foram analisados. Foram excluídos 56 recém-nascidos e 54 gestantes. A amostra final foi representada por 99 recém-nascidos e 98 gestantes, uma gestação gemelar (FIGURA 3). FIGURA 3 – POPULAÇÃO ESTUDADA 155 Recém-nascidos 152 Gestantes Excluídos 56 Recém-nascidos 54 Gestantes Gestação anterior IgM positiva 5 Recém-nascidos 4 Gestantes Pré-natal fora do IFF 20 Recém-nascidos 20 Gestantes Estudados - Amostra final 99 Recém-nascidos 98 Gestantes Abandono Ambulatório de DIPe 31 Recém-nascidos 30 Gestantes Das gestantes excluídas, 4 apresentaram IgM positiva comprovadamente antes do período gestacional e que permaneceram positivas. O período no qual a IgM anterior foi positiva variou de 1 a 6 anos antes da gestação estudada. 102 Das crianças excluídas, 31 abandonaram o ambulatório de doenças infecciosas em pediatria (DIPe) antes da definição do estado infeccioso, 7 não foram a nenhuma consulta, 9 fizeram apenas 1 consulta, 8 fizeram 2 consultas, 5 fizeram 3 consultas e 2 fizeram 4 consultas. 6. 2 ANÁLISE DAS GESTANTES DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO Em 13 gestantes (13,2%) foi realizado apenas um exame sorológico (IgM e IgG) para toxoplasmose durante o período gestacional. A) SOROLOGIA IgM Todas as 98 gestantes incluídas no estudo apresentaram sorologia IgM específica para toxoplasmose positiva no período gestacional. O período no qual este exame foi inicialmente realizado está representado na figura 4. FIGURA 4 - DISTRIBUIÇÃO NO PERÍODO GESTACIONAL NO QUAL O DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO (IgM POSITIVA) FOI REALIZADO (N = 98) 22,4% 28,6% 1º trimestre 2º trimestre 3º trimestre 49,0% 103 O teste sorológico IgM específico para toxoplasmose foi o único método de diagnóstico utilizado no período gestacional em 36 gestantes (36,7%). Os maiores índices de IgM encontrados na gestação estão representados nas tabelas 6. TABELA 6 - ÍNDICE DE IgM ESPECÍFICA PARA TOXOPLASMOSE NAS GESTANTES ESTUDADAS (N=98) Índice de IgM (ELFA)* Número de Gestantes Entre 0,65 e 1,0 50 Entre 1,1 e 2,0 29 Entre 2,1 e 3,0 6 Entre 3,1 e 4,0 4 Entre 4,1 e 5,0 3 Entre 5,1 e 6,0 1 Entre 6,1 e 7,0 2 Entre 7,1 e 8,0 1 Entre 8,1 e 9,0 1 > 9,0 1 * Maior índice de IgM apresentado durante a gestação. B) SOROLOGIA IgG A soroconversão de IgG foi identificada em apenas 1 gestante. Os maiores títulos de IgG apresentados durante a gestação estão representados na tabela 7. 104 TABELA 7 - TÍTULO DE IgG ESPECÍFICA PARA TOXOPLASMOSE NAS GESTANTES ESTUDADAS (N=98) Título de IgG UI/ml (ELFA)* Número de Gestantes <8 3 Entre 8,0 e 100 5 Entre 101 e 200 17 Entre 201 e 300 13 Entre 301 e 400 7 Entre 401 e 500 7 Entre 501 e 600 7 Entre 601 e 700 3 Entre 701 e 800 7 Entre 801 e 900 3 Entre 901 e 1000 2 Entre 1001 e 1100 3 Entre 1101 e 1200 0 > 1201 21 * Maior título de IgG apresentado durante a gestação. TESTE DE AVIDEZ DE IgG O teste de avidez de IgG foi realizado em 62 gestantes (63,3%). Não foi realizado este teste em 35 gestantes (35,7%), destas 21 (21,4%) não realizaram porque os valores de IgG estavam muito altos. O período gestacional correspondente ao exame de avidez de IgG realizado nas 62 gestantes está representado no figura 5. 105 FIGURA 5 - DISTRIBUIÇÃO NO PERÍODO GESTACIONAL NO QUAL O TESTE DE AVIDEZ DE IgG FOI REALIZADO (N = 62) 12,9% 43,5% 1º Trimestre 2º Trimestre 3º Trimestre 43,5% O resultado do teste de avidez de IgG é mostrado na tabela 8. TABELA 8 – RESULTADO DE TESTE DE AVIDEZ DE IgG (N = 62) Resultado do Teste de Avidez de IgG Trimestre Forte (%) Fraco (%) Indeterminado (%) 1º trimestre n = 8 7 (87,5) 1 (12,5) 0 (0) 2º trimestre n = 27 22 (81,5) 2 (7,4) 3 (11,1) 3º trimestre n = 27 21 (77,8) 3 (11,1) 3 (11,1) 106 PCR NO LÍQUIDO AMNIÓTICO A amniocentese e a PCR para toxoplasmose no líquido amniótico foram realizados em 7 gestantes (7,1%) no segundo trimestre e o resultado da PCR foi negativa em todos os exames realizados. As restantes 91 pacientes (92,9%) não realizaram o exame. TRATAMENTO DAS GESTANTES O tratamento específico para toxoplasmose no período gestacional foi realizado em 93 gestantes (95%), sendo que 76 (77,5%) realizaram o tratamento alternando sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico com espiramicina a cada 3 semanas, 17 gestantes (17,3%) realizaram tratamento apenas com a espiramicina e 5 gestantes (5,1%) não realizaram nenhum tipo de tratamento durante o período gestacional. O período gestacional no qual foi iniciado o tratamento está representado na figura 6. FIGURA 6 - DISTRIBUIÇÃO NO PERÍODO GESTACIONAL NO QUAL FOI INICIADO O TRATAMENTO PARA TOXOPLASMOSE NAS GESTANTES COM SOROLOGIA IgM POSITIVA (N = 93) 5,4% 46,2% 48,4% 1º Trimestre 2º Trimestre 3º trimestre 107 6.3 INFECÇÃO CONGÊNITA: CRIANÇAS E SUAS RESPECTIVAS MÃES Dos 99 recém-nascidos expostos a toxoplasmose congênita, 4 apresentaram a infecção comprovadamente (FIGURA 7). A transmissão materno-fetal da toxoplasmose ocorreu em 4% neste grupo de gestantes analisadas. FIGURA 7 - TOXOPLASMOSE CONGÊNITA NAS CRIANÇAS CUJAS MÃES APRESENTARAM IgM POSITIVA DURANTE O PERÍODO GESTACIONAL 99 Recém-nascidos 98 Gestantes 95 crianças não infectadas (94 Gestantes) 4 Crianças infectadas (4 Gestantes) A idade materna média no grupo cujos recém-nascidos apresentaram infecção congênita foi de 18,2 ± 3,3 anos (variação 15 a 22 anos) e no grupo sem infecção congênita foi de 25,1 ± 8 anos (variação 15 a 45 anos), (p<0,01). Não houve diferença estatística entre os dois grupos em relação a história gestacional materna (número de gestações, partos, abortos e consultas de pré-natal), idade gestacional, sexo, peso de nascimento, perímetro cefálico de nascimento, percentil do peso de nascimento e no Apgar no 1º e 5º minuto (TABELA 9). 108 TABELA 9 - DADOS DEMOGRÁFICOS DE MÃES E CRIANÇAS COM E SEM INFECÇÃO PELO TOXOPLASMA Variáveis Toxoplasmose presente (n = 4) Toxoplasmose ausente (n = 95) p - valor Maternas (n = 98) Idade (anos) Nº Gestações Nº Partos Nº Abortos Nº Consultas pré-natal 18,2 ± 3,3 1,9 ± 2,5 1,7 ± 1,5 0 5 ± 2,7 25,1 ± 8 2,2 ± 1,1 1,6 ± 1,5 0,2 3,4 ± 1,1 3 (75%) 1 (25%) 2.510 ± 850 32,5 ± 2,3 36,5 ± 3,5 38 (40%) 56 (60%) 3.122 ± 542 34,2 ± 1,9 38 ± 4,2 3 (75%) 0 (0%) 1 (25%) 0 (0%) 8 9 68 (71,6%) 4 (4,2%) 14 (14,7) 9 (9,5%) 8 9 < 0,01 ** 0,83 ** 0,88 ** 0,32 ** Recém-nascido (n = 99) Sexo Masculino Feminino Peso nascimento (gramas) PC nascimento(cm) Idade gestacional (semanas) Percentil do peso de nascimento AIG GIG PIG Sem registro Apgar 1º minuto * Apgar 5º minuto * 0,19 ** 0,24 ** 0,23 ** 0,46 ** 0,83 *** 0,28 ** 0,06 ** Média ± DP; DP – Desvio Padrão; PC – Perímetro cefálico; IG – Idade gestacional; AIG – Adequado para a idade gestacional; GIG – Grande para a idade gestacional; PIG – Pequeno para a idade gestacional; * Mediana; ** Teste t-Student; *** Teste de Fisher A) ANÁLISE DAS GESTANTES CUJOS FILHOS NÃO FORAM INFECTADOS PELO TOXOPLASMA Os exames realizados para o diagnóstico de toxoplasmose e o tratamento no período gestacional das 94 gestantes das crianças não infectadas estão representados na figura 8. 109 Neste grupo de gestantes, 22 apresentaram títulos ascendentes de IgG específica para toxoplasmose e uma única gestante soroconverteu durante o período gestacional. O teste de avidez de IgG foi realizado em 60 gestantes (64%), 20 (21%) não realizaram devido ao alto valor de IgG e em 14 (15%) o teste não foi realizado. A ultra-sonografia fetal com alteração compatível com toxoplasmose congênita só foi encontrada em uma gestante (crescimento intrauterino retardado). Sete gestantes (7,4%) realizaram amniocentese e, em todas elas a PCR para toxoplasmose do líquido amniótico foi negativa. A placenta foi alterada em 24 pacientes, com placentite hematogênica em 9, alterações circulatórias inespecíficas em 10, dismaturidade vilosa em 4 e calcificação em 1. FIGURA 8 - AVALIAÇÃO DAS GESTANTES CUJOS FILHOS NÃO FORAM INFECTADOS PELO TOXOPLASMA 94 Gestantes Época do Diagnóstico Sorológico IgM positiva N = 94 1º trimestre - 22 (23,4%) 2º trimestre - 46 (49,0%) 3º trimestre - 26 (27,6%) Teste de avidez de IgG N = 60 Tratamento N = 90 Resultado Forte N = 50 Resultado Fraco N=4 Resultado Indeterminado N=6 Alternando Sulfadiazina/Pirimetamina e Espiramicina N = 74 Espiramicina N = 16 1º trimestre - 7 (14%) 2º trimestre - 22 (44%) 3º trimestre - 21 (42%) 1º trimestre - 1 (25%) 2º trimestre - 2 (50%) 3º trimestre - 1 (25%) 1º trimestre - 0 (0,0%) 2º trimestre - 3 (50%) 3º trimestre - 3 (50%) Início 1º trimestre - 3 (4,0%) 2º trimestre - 37 (50%) 3º trimestre - 34 (46%) Início 1º trimestre - 2 (12,5%) 2º trimestre - 6 (37,5%) 3º trimestre - 8 (50,0%) 110 B) ANÁLISE DAS GESTANTES CUJOS FILHOS FORAM INFECTADOS As 4 gestantes cujos filhos apresentaram infecção congênita realizaram o diagnóstico sorológico com IgM positiva no 2º e 3º trimestre de gestação. Os índices de IgM nas gestantes que tiveram filhos infectados foi de: 0,98; 2,39; 8,16 e 7,39. E os títulos de IgG foram 202; 749; 789 e > 1.200 UI/ml. O teste de avidez de IgG foi realizado em 2 gestantes no qual o resultado foi fraco e uma não realizou o teste devido o alto valor de IgG. O tratamento para toxoplasmose no período gestacional foi empregado em 3 das 4 gestantes. O tratamento iniciou-se no 2º e 3º trimestre de gestação (FIGURA 9). Uma gestante não foi tratada devido ao fato do diagnóstico sorológico (IgM positiva) ter sido realizado no período final da gestação (36 semanas de gestação). FIGURA 9 - AVALIAÇÃO DAS GESTANTES CUJOS FILHOS FORAM INFECTADOS PELO TOXOPLASMA 4 Gestantes 1º trimestre - 0 (0,0%) 2º trimestre - 2 (50%) 3º trimestre - 2 (50%) Tratamento N= 3 Teste de Avidez de IgG N=2 Época do Diagnóstico Sorológico IgM positiva N=4 Resultado Forte N=0 Resultado Fraco N=2 3º trimestre - 2 (100%) Resultado Indeterminado N=0 Alternando Sulfadiazina / Pirimetamina e Espiramicina N=2 Espiramicina N=1 Início 2º trimestre - 2 Início 3º trimestre - 1 111 A ultra-sonografia fetal com alterações sugestivas de toxoplasmose congênita foi encontrada em 3 gestantes, com alterações no sistema nervoso central, placenta e órgãos abdominais (dilatação de ventrículo lateral em 2, calcificação cerebral em 1, esplenomegalia em 1 e espessamento placentário em 1). Em uma gestante, a ultrasonografia morfológica foi prejudicada devido a idade gestacional avançada e não foi evidenciada nenhuma alteração. Nenhuma gestante deste grupo realizou amniocentese. Foram evidenciadas alterações placentárias sugestivas de infecção pelo toxoplasma em 3 pacientes. C) CORRELAÇÃO DE MÉTODOS DIAGNÓSTICOS REALIZADOS NO PRÉ-NATAL E INFECÇÃO CONGÊNITA A correlação de alguns métodos de diagnóstico para a identificação da infecção pelo toxoplasma utilizados na gestante e sua relação com infecção congênita está representada na tabela 10. Crianças infectadas congenitamente pelo toxoplasma apresentaram estatisticamente mais alterações morfológicas à ultra-sonografia do que aquelas não infectadas. 112 TABELA 10 – CORRELAÇÃO DE PARÂMETROS DIAGNÓSTICOS REALIZADOS DURANTE O PRÉ-NATAL E INFECÇÃO CONGÊNITA Crianças infectadas Crianças não infectadas p - valor Características N(%) Avidez Fraca 2/2 (100%) USG Morfológico Sugestivo 3/4 (75%) N (%) 4/60 (6,6%) 0,09 1/95 (4,2%) < 0,05 24/95(25,4%) 0,10 de Toxoplasmose Congênita Placenta Alterada 3/4 (75%) D) ANÁLISE DAS CRIANÇAS NÃO INFECTADAS As 95 crianças não infectadas foram acompanhadas no ambulatório de DIPe. Todas tinham IgG para toxoplasmose positivas e nenhuma criança apresentou IgM positiva durante o acompanhamento. O número médio de consultas ambulatoriais foi de 3,4 consultas e o tempo médio de seguimento foi de 4,9 meses, com variação de 1 a 13 meses. O número médio de coletas de sangue para realização de sorologias IgM e IgG para toxoplasmose durante o período neonatal e no acompanhamento ambulatorial foi de 3,3 coletas por criança, com variação de 2 a 5 coletas. O primeiro exame sorológico para toxoplasmose foi realizado nos primeiros 4 dias de vida em 80 crianças (84,2%). Todas as crianças realizaram fundoscopia e ultra-sonografia transfontanela. Destas, 6 apresentaram alterações à ultra-sonografia (calcificações em tálamo, hiperecogenicidade em ventrículos laterais, estruturas lineares em tálamo) que em exames subseqüentes não foram confirmadas. Nenhuma das 95 crianças 113 acompanhadas no ambulatório apresentou alteração ao fundo de olho sugestiva de coriorretinite por toxoplasma. O tratamento específico para toxoplasmose foi realizado em 2 crianças não infectadas, uma fez o tratamento por 7 dias e outra por 65 dias. Esse tratamento foi realizado devido ao fato destas crianças terem realizado os exames complementares tardiamente. Elas nasceram em outras maternidades sem recurso para realizar estes exames, onde foram iniciados o tratamento para toxoplasmose, e posteriormente foram encaminhadas para o ambulatório de DIPe. Na primeira consulta foi providenciada os exames complementares de rastreamento para toxoplasmose congênita. Todas as crianças eram assintomáticas e os exames de rastreamento foram negativos, por isso foram consideradas não infectadas e o tratamento específico para toxoplasmose interrompido. Ao final do acompanhamento todas tinham IgG negativa para toxoplasmose. Todas crianças apresentaram quedas progressivas de IgG. O tempo médio necessário para a IgG específica para toxoplasmose tornar-se negativa foi de 5,4 meses, com uma variação de 1 a 15 meses (FIGURA 10). 114 FIGURA 10 - ACOMPANHAMENTO DA NEGATIVAÇÃO DE IgG NAS CRIANÇAS SEM INFECÇÃO CONGÊNITA PELO TOXOPLASMA Porcentagem de crianças com IgG positiva 100 97,8 92,6 90 85,2 80 71,5 70 60 53,6 50 40 36,8 30 28,4 21 20 10 7,3 3,1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 2,1 11 2 12 1 13 1 14 0 15 Mês de vida Nota: Cada ponto do gráfico significa a porcentagem de crianças com IgG ainda positiva. E) ANÁLISE DAS CRIANÇAS INFECTADAS Das 4 crianças infectadas, uma não apresentou sintomas ao nascimento. Todas as 4 apresentaram alterações em exames complementares . Todas apresentaram alterações nos exames de fundo de olho, ultra-som transfontanela e tomografia de crânio. A punção lombar foi realizada em apenas um paciente sem sucesso. A prematuridade esteve presente em 2 crianças e uma foi PIG (TABELA 11). 115 TABELA 11 – AVALIAÇÃO CLÍNICA E LABORATORIAL DAS CRIANÇAS INFECTADAS PELO TOXOPLASMA (N= 4) Paciente Quadro clínico no período neonatal Alteração ocular Alteração cerebral 1ª Sorologia para toxoplasmose A Assintomático retinocoroidite bilateral calcificação cerebral intraparenquimatosa IgM + 6,89 IgG+ 878 UI/ml B Nistagmo Tremores Macrocefalia retinocoroidite bilateral hidroanencefalia com múltiplas calcificações IgM – IgG + maior que 1.200 UI/ml C Prematuridade Pequeno para a idade gestacional retinocoroidite bilateral calcificação intracraniana difusa, redução de parênquima, dilatação de ventrículo lateral IgM + 9,52 IgG + 170 UI/ml D Prematuridade Hepatomegalia Esplenomegalia Opacificidade em olho esquerdo Hipoatividade Crise convulsiva retinocoroidite à esquerda calcificações difusas IgM + 8,05 IgG + 960 UI/ml A mãe da paciente “A” (TABELA 11) iniciou tratamento no 3º trimestre de gestação, a mãe da paciente “C” não foi submetida ao tratamento para toxoplasmose no período gestacional., as restantes foram submetidas ao tratamento iniciado no segundo trimestre. A primeira sorologia específica para toxoplasmose no período neonatal foi realizada antes do 5º dia de vida em todas as crianças infectadas. A IgM foi positiva em 3 das 4 das crianças infectadas. A IgG no período neonatal foi positiva em todas as crianças infectadas. 116 Não foi realizado exames sorológicos de seguimento nas crianças infectadas, pois não é rotina do ambulatório de DIPe. Todas as 4 crianças foram submetidas ao tratamento específico para toxoplasmose com sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico por um período variável: 2 abandonaram o ambulatório de DIPe e fizeram o tratamento por um período de 5 e 6 meses, uma realizou o tratamento por 3 meses e 6 dias no qual foi suspenso devido a efeitos adversos da medicação (aplasia de medula óssea) e uma estava no 4º mês de tratamento ao término do estudo. 117 7 - DISCUSSÃO 118 O diagnóstico de infecção aguda no período gestacional é de crucial importância para definir o risco de acometimento fetal, pois geralmente a infecção aguda no período gestacional é capaz de ocasionar dano ao feto. Embora raros, existem relatos na literatura de transmissão de toxoplasmose congênita em infecção adquirida antes do período gestacional em grávidas imunocompetentes (PONS J et al., 1995, VOGUEL N et al., 1996, VILLENA I et al., 1998). Silveira relatou no Brasil, em 2003, um caso de toxoplasmose congênita em uma infecção adquirida 20 anos antes do período gestacional. Devido a pouca sintomatologia que a doença pode ocasionar, o diagnóstico é basicamente realizado através de exames complementares. O uso de testes sorológicos para a demonstração de anticorpos específicos para o T. gondii é o método inicial para o diagnóstico, principalmente a dosagem da imunoglobulina M (MONTOYA JG & REMINGTON JS, 1995). Em nosso estudo, o principal teste diagnóstico utilizado para o diagnóstico de toxoplasmose durante o pré-natal foi o método sorológico. O método de diagnóstico sorológico utilizado em nosso estudo para dosar IgG e IgM foi o ELFA (método VIDAS) que tem uma alta sensibilidade e especificidade que varia entre 93,5% a 100% (PELLOUX H et al., 1998; WILSON M et al., 1997; MOZZATTO L et al., 2003). Os índices de IgM na sorologia ELFA (método VIDAS) tem um ponto de corte muito baixo (positivo acima de 0,65). Desta forma, este exame poderia estar detectando um número maior de pacientes com sorologia positiva e, desta maneira, contribuindo para um aumento de pacientes com diagnóstico de infecção pelo toxoplasma. PujolRiqué e colaboradores sugeriram um novo ponto de corte para este exame. Segundo ele, um índice menor que 1,05 estaria associado a infecção com um tempo maior que 119 12 semanas de duração. Esses autores sugeriram que, para aumentar o valor preditivo do exame para detectar infecção recente, o ponto de corte teria que ser modificado (PUJOL-RIQUÉ M et al., 2000). Em nosso estudo, 51% das gestantes tinham índice de IgM menores que 1. Os valores baixos de IgM poderiam não estar representando um valor verdadeiramente positivo e, portanto não significar necessariamente infecção aguda. Os índices de IgM relacionados à infecção aguda são mais elevados do que os residuais. Em indivíduos com infecção latente geralmente os índices são inferiores a 3 (WILSON M et al., 1997; CAMARGO ME, 2001; REIS MM et al. 2006). No nosso estudo, em apenas 13 gestantes (13,2%) os índices de IgM foram maiores que 3, sendo que destas, 2 gestantes tiveram filhos com infecção congênita. A persistência de IgM por um tempo prolongado tem ocorrido em testes com grande sensibilidade e é responsável pela baixa especificidade para o diagnóstico de infecção aguda na gestante. Desta forma, um resultado positivo de IgM isolado não tem valor absoluto, pois a IgM pode ser residual (REIS MM et al., 2006). Devido ao fato dos anticorpos IgM persistirem por meses a anos após a infecção aguda (BOBIC B et al., 1991), a sua positividade não significa, necessariamente, infecção aguda (LIESENFELD et al., 1997). Incorretamente, resultados positivos de IgM são freqüentemente interpretados como diagnóstico de infecção adquirida recentemente (LIESENFELD O et al., 2001). Os testes laboratoriais comerciais para detectarem IgM podem ter um grande número de resultados falso-positivos. Estudo realizado por Garry e colaboradores evidenciou que 88,6% das gestantes apresentavam IgM falso-positiva (GARRY DJ et al., 2005). Liesenfeld e colaboradores evidenciaram que 60% das grávidas com 120 sorologia IgM positiva, realizadas em laboratórios não específicos, realmente apresentavam infecção aguda (LIESENFELD O et al., 2001). No estudo em que conduzimos, pudemos evidenciar que em 4 gestantes (excluídas de nossa análise) a IgM já era comprovadamente positiva em gestações anteriores, o que comprova a meia vida longa da IgM e a necessidade da realização de exames sorológicos seqüenciais e da utilização de outros métodos diagnósticos para identificar a infecção aguda. Embora ainda não seja provado, parece que o tratamento específico para toxoplasmose durante o período gestacional poderia interferir na produção de anticorpos, diminuindo a sua produção (REMINGTON JS et al., 2006). O ideal para interpretar uma sorologia é realizá-la em intervalos seriados de 3 semanas (SENSINI A, 2006). Estas dosagens têm valor quando se evidencia a soroconversão (sorologia anterior negativa) ou quando ocorre um aumento significativo dos títulos. Também tem valor quando é persistentemente negativa (PELLOUX H et al., 1997; MONTOYA JG & ROSSO F, 2005). Em nosso estudo, o pareamento sorológico foi realizado em 86,9% das gestantes. E por falta de exames seqüenciais mensais, a soroconversão na gestação foi identificada em apenas uma gestante. Durante o período gestacional, os exames sorológicos para toxoplasmose após a primo-infecção têm uma enorme variação individual. O aumento de anticorpos geralmente culmina com 4 a 8 semanas após a infecção primária, mas existem casos individuais em que ocorre aumento dos níveis de IgM por semanas e de IgG por meses (JENUM PA & STRAY-PEDERSEN B, 1998). Os títulos de IgG variam muito durante o período gestacional (JENUM PA & STRAY-PEDERSEN B, 1998). Em nosso estudo evidenciamos uma grande variação 121 nos valores de IgG nas 98 gestantes com IgM positiva, 30 gestantes com valores de IgG entre 101 e 300 UI/ml e 21 gestantes com valores maiores que 1.200 UI/ml. As variações sorológicas de IgG encontradas no presente estudo poderia ser explicada pela variação sorológica normalmente encontrada nas grávidas e pela interferência do tratamento para toxoplasmose da gestação. Além do mais, os títulos de IgG não devem ser valorizados como fator de prognóstico. Os valores altos de IgG não estão relacionados a uma maior transmissão fetal ou a um pior prognóstico (JENUM PA & STRAY-PEDERSEN B, 1998; REMINGTON JS et al., 2006). De fato, isto foi observado no estudo, pois foram encontradas variações de IgG tanto no grupo das gestantes que tiveram filhos com infecção congênita como no grupo das que não apresentaram filhos com infecção. Um método sorológico importante no diagnóstico de toxoplasmose na gestação é o teste de avidez de IgG. Este exame serve para definir o tempo de infecção, que é de crucial importância nas gestantes com suspeita de infecção pelo toxoplasma (HEDMAN K et al., 1989). Este exame tem grande valor se obtido no primeiro trimestre de gestação (MONTOYA JG, 2002). A avidez alta no primeiro trimestre é um forte indício da ausência de infecção primária na gestação e os fetos destas mães têm baixo risco de toxoplasmose congênita (LAPPALAINEM et al., 1995). Embora de grande importância, este exame só foi realizado em 63,3% das gestantes que estudamos. Em 21,4% das gestantes o exame não foi realizado devido aos altos valores de IgG, que é uma limitação do exame. Apenas 8 gestantes realizaram o teste de avidez de IgG no primeiro trimestre (13% das que realizaram o exame), que é o momento ideal para a realização deste exame. Isso provavelmente 122 ocorreu devido ao fato do diagnóstico nas gestantes terem sido realizados tardiamente. Apenas 22,4% das gestantes do estudo fizeram o diagnóstico sorológico de infecção pelo toxoplasma no primeiro trimestre da gravidez. O método do teste de avidez de IgG empregado em nosso estudo foi o VIDAS. Pelloux e colaboradores evidenciaram que uma avidez alta por este método praticamente afasta infecção aguda nos últimos 4 meses. Desta forma, este teste só tem valor se realizado nos primeiros 3 a 4 meses de gestação (PELLOUX H et al., 1998). Candolfi e colaboradores estudaram a acurácia do teste de avidez na gestação como marcador de infecção aguda, e evidenciaram uma sensibilidade de 100%, uma especificidade de 92,7%, um valor preditivo positivo de 90% e um valor preditivo negativo de 100% (CANDOLFI E et al., 2007). Roberts e colaboradores evidenciaram uma sensibilidade de 95% e uma especificidade de 99%, demonstrando que tem um alto valor preditivo em estimar o tempo de infecção (ROBERTS A et al., 2001). A avidez baixa pode não indicar infecção adquirida recentemente, pois pode persistir por mais de 4 meses após a infecção aguda (PETERSEN E et al., 2005). Alguns pacientes podem ter resultados indeterminados que não podem ser avaliados (REMINGTON JS et al., 2004). O uso do teste de avidez pode diminuir o uso de testes confirmatórios (PCR do líquido amniótico) ou de testes sorológicos de seguimento, a necessidade de tratamento das gestantes com drogas contra o toxoplasma e diminuição da ansiedade gerada pela realização de outros métodos diagnósticos (REMINGTON JS et al., 2004). Em nosso estudo, as 7 gestantes que realizaram o teste de avidez no primeiro trimestre, o resultado foi forte, porém as gestantes e os seus filhos continuaram fazendo 123 rastreamento para toxoplasmose, e nenhuma criança apresentou toxoplasmose congênita. Provavelmente este seguimento não seria necessário. Das 4 gestantes que tiveram filhos com infecção congênita, apenas 2 realizaram o teste de avidez. Esses foram realizados no terceiro trimestre de gestação e o resultado foi avidez fraca em ambos, o que evidencia uma infecção aguda ocorrida durante a gestação, provavelmente no segundo trimestre. Este resultado pode também ter representado uma infecção mais tardia, já que a avidez fraca pode permanecer por alguns meses. As outras 2 não realizaram o exame. Ao comparar o grupo de gestantes que tiveram filhos com infecção congênita com os que não tiveram, em relação ao teste de avidez fraco para toxoplasmose congênita não observamos diferença estatística significativa entre os dois grupos. Das gestantes com filhos não infectados, 4 apresentaram avidez fraca, esse resultado poderia não ter representado infecção aguda, já que a avidez fraca pode permanecer por um tempo prolongado (REMINGTON JS et al., 2004) ou elas realmente tiveram infecção aguda e a transmissão fetal não ocorreu. A PCR para toxoplasmose no líquido amniótico é um exame confirmatório para diagnóstico da infecção fetal. É um procedimento mais rápido e seguro (HOHLFELD P et al., REMINGTON JS et al., 2006). No Brasil, Castro e colaboradores em 2001 evidenciaram uma sensibilidade baixa de 66,7% e Vidigal e colaboradores de 62,5% em 2002. Um resultado negativo da PCR no líquido amniótico não afasta infecção fetal, portanto são necessários um acompanhamento das gestantes com ultra-sonografias seriadas e a avaliação clínica e sorológica dos lactentes (REMINGTON JS et al., 2006). 124 Embora seja um exame recomendado para o diagnóstico de infecção fetal, em nosso estudo este exame foi realizado em apenas 7,1% das gestantes com diagnóstico de infecção pelo toxoplasma. Em todas, o resultado foi negativo e os seus filhos não foram infectados. Este exame não foi realizado nas gestantes que tiveram filhos com infecção congênita, portanto não é possível correlacionar o resultado deste exame com infecção fetal. Todas as gestantes realizaram o exame no período gestacional adequado e nenhuma gestante realizou cordocentese, pois esse tipo de exame não é mais recomendado para diagnóstico de toxoplasmose congênita (REMINGTON JS et al., 2006). O número reduzido de gestantes que realizaram a amniocentese e a PCR no líquido amniótico no nosso estudo, se deve ao fato do diagnóstico ter sido tardio em algumas gestantes e do exame precisar ser custeado pela paciente. A grande maioria dos pacientes que fazem acompanhamento no IFF apresenta um nível socioeconômico mais baixo, sem condição financeira de realizar o exame em laboratório privado. Em nosso estudo o achado ultrassonográfico no período gestacional mais encontrado em fetos infectados foi a dilatação de ventrículos cerebrais, de acordo com o que é descrito na literatura (VIRKOLA K et al., 1997). As outras alterações encontradas no nosso estudo sugestivas de infecção congênita pelo toxoplasma foram calcificação cerebral, esplenomegalia e espessamento placentário. Tomografias computadorizadas de crânio realizados no período neonatal nas crianças infectadas do nosso estudo evidenciaram que todas apresentavam calcificação cerebral e 2 apresentavam dilatação ventricular. Esses resultados foram semelhantes ao encontrado por Melamed e colaboradores, que evidenciaram que a calcificação cerebral foi a lesão radiológica mais encontrada em pacientes com toxoplasmose 125 congênita no período pós-natal em tomografia cerebrais, seguida pela dilatação ventricular (MELAMED J et al., 2001). O prognóstico da doença é melhor naqueles fetos infectados com exame ultrassonográfico normal (BERREBI A et al., 2006). No estudo realizado, a ultra-sonografia fetal com alterações sugestivas de toxoplasmose congênita foi encontrada em 3 gestantes das 4 que tinham filhos com infecção congênita e em apenas uma do grupo das gestantes que não tinham filhos infectados. Houve associação significativa estatisticamente entre ultra-sonografia fetal com alteração sugestiva de toxoplasmose e toxoplasmose congênita (p<0,05). Isso provavelmente ocorreu devido ao fato de em nosso estudo as crianças infectadas serem altamente comprometidas. A sensibilidade da ultra-sonografia fetal para diagnosticar toxoplasmose congênita descritas nos estudos é de 20% (PRATLONG F et al., 1994), 22,5% (PRATLONG F et al., 1996) e 45% (DAFFOS F et al., 1988). Um estudo brasileiro evidenciou uma sensibilidade de 62,5% e uma especificidade de 94,8% (VIDIGAL PVT et al., 2002). A alteração placentária foi descrita em 3 das 4 crianças com infecção pelo toxoplasma, porém não houve diferença com grupo de não infectados, no qual 24 das 95 gestantes com filhos não infectados também apresentaram alterações. O exame anatomo-patológico da placenta no diagnóstico pós-natal, quando não apresenta qualquer alteração histopatológica ajuda a descartar a possibilidade de infecção pelo toxoplasma, porém achados histopatológicos positivos não são confiáveis para a confirmação de doença (CASTRO FC et al., 2001). Um estudo realizado por RobertGangneux e colaboradores, em 1999, evidenciou que o exame da placenta foi positivo 126 em 67% dos pacientes com toxoplasmose congênita e negativo nos sem infecção congênita. Foi evidenciado no nosso estudo, que a idade materna no grupo das gestantes com filhos com infecção congênita foi significantemente menor do que o grupo de gestantes sem infecção congênita (p < 0,01). Isto também foi demonstrado por Vidigal e colaboradores em um estudo realizado em Belo Horizonte em 2002. Essa diferença de idade pode ter ocorrido devido ao fato das gestantes com filhos não infectados não terem apresentado a infecção primária durante a gestação, já que a primo-infecção é mais comum em faixas etárias mais jovens (BAHIA- OLIVEIRA LMG et al., 2001; VARELLA IS et al., 2003; SPALDING SM et al., 2005), principalmente em regiões onde a soroprevalência da infecção pelo toxoplasma é alta, como no Rio de Janeiro que varia de 62 a 84% (SOUZA WJ et al., 1987; BAHIA-OLIVEIRA LMH et al., 2003). A taxa de transmissão materno-fetal encontrado em nosso estudo foi de 4%. A grande maioria das gestantes estudadas (95%) foi submetida ao tratamento durante o período gestacional utilizando esquemas com sulfadiazina, pirimetamina e espiramicina. Essa taxa de transmissão foi baixa em relação a estudos nos quais as gestantes não foram submetidas ao tratamento específico para toxoplasmose durante o período gestacional, como o estudo de Desmonts e Couvreur, em 1974, que evidenciou uma taxa de transmissão fetal de 63% e, 10 anos mais tarde, de 61% (REMINGTON JS et al., 2006). Lebech e colaboradores, em 1999, estudando gestantes na Áustria evidenciaram uma taxa de 19,4%. A taxa encontrada no estudo foi semelhante a encontrada em alguns estudos realizados em gestantes submetidas ao tratamento específico pra toxoplasmose no período gestacional, como nos estudos brasileiros de Spalding e colaboradores, em 2003, que evidenciaram uma taxa de transmissão de 6%, 127 e Figueiró-Filho e colaboradores, em 2005, de 3,9%. Outros estudos evidenciaram taxas de transmissão em gestantes tratadas de 9,3% (VIDIGAL PV et al., 2002), de 9% (REIS MM et al., 2006), de 6% (DAFFOS F et al., 1988), de 7% (HOHLFELD P et al., 1989), de 16,2% (CASTRO FC et al., 2001) e de 22,1% (ANDRADE GMQ et al., 2001). Entretanto, nestes dois últimos estudos, as gestantes foram submetidas a tratamento apenas com espiramicina, o que explicaria um valor mais alto em relação aos outros estudos que realizaram tratamento nas gestantes com sulfadiazina e pirimetamina. A taxa de transmissão da toxoplasmose congênita oscila conforme o trimestre gestacional no qual ocorreu a infecção pelo toxoplasma. Variam de 15% no primeiro trimestre a 60% no terceiro trimestre de gestação (BEAZLEY DM & EGERMAN RS, 1998). Porém em nosso estudo não foi possível determinar a transmissão de acordo com o período gestacional de infecção materna, pois a falta de sorologias seriadas durante a gestação dificultou a identificação do momento da soroconversão. A taxa de transmissão encontrada em nosso estudo pode ter sido subestimado pelo fato de não ter sido analisados os casos de abortos, de neomortos e de óbitos neonatais, já que o estudo foi iniciado a partir de crianças que agendaram consulta no ambulatório do IFF para investigar toxoplasmose congênita. Outro fator que poderia ter contribuído para essa baixa taxa de transmissão, é o fato de não ter sido evidenciada a soroconversão em 98,9% das gestantes, o que significa que muitas poderiam não ter apresentado infecção aguda pelo T. gondii no período gestacional. Em nosso estudo, o diagnóstico de infecção pelo toxoplasma foi realizado em 36,7% das gestantes apenas através da positividade da IgM específica para toxoplasmose. Entretanto, este não é um método mais adequado para diagnosticar a infecção aguda, devido ao fato da IgM ficar positiva por longos períodos. 128 Além disso, em 55,1% das gestantes estudadas, o teste de avidez foi realizado em um período não ideal para determinar a infecção aguda na gestante. Embora a associação de recém-nascido pré-termo, com menor peso de nascimento e com baixa escala de Apgar com toxoplasmose congênita esteja descrita na literatura, em nosso estudo essas associações não foram encontradas, provavelmente esse fato ocorreu devido ao pequeno número da amostra estudada. A infecção congênita é associada com um aumento do risco de parto prematuro quando a soroconversão ocorre antes da 20ª semana de gestação. Essa duração da gestação mais curta ocorre por mecanismo ainda não conhecidos (KOPPE JG et al., 1974, FREEMAN K et al., 2005). Uma escala de Apgar mais baixa ocorre em recémnascidos com infecção sintomática pelo Toxoplasma gondii (KOPPE JG et al., 1974; REMINGTON JS et al., 2006). O recém-nascido PIG não esteve relacionado com toxoplasmose congênita (FREEMAN K et al., 2005), conforme também foi evidenciado em nosso estudo. No Brasil, Andrade e colaboradores, em 2001, encontraram um maior número de recém-nascidos pré-termos e de menor peso de nascimento em recémnascidos infectados pelo toxoplasma do que os sem infecção. Vidigal e colaboradores também encontraram uma relação do menor peso de nascimento em recém-nascidos com toxoplasmose congênita em 2002. A associação de recém-nascidos com toxoplasmose congênita e PIG não foi evidenciada por Freeman e colaboradores em 2005. Nas crianças não infectadas nas quais as mães apresentaram sorologia positiva para toxoplasmose durante o período gestacional, os níveis de IgG declinam constantemente nos primeiros meses de vida e desaparecem aos 12 meses. A meia vida da IgG transferida da mãe é de aproximadamente 30 dias e diminui 129 aproximadamente a metade a cada mês (REMINGTON JS et al., 2006). Enquanto que, nas crianças infectadas os níveis se mantém estáveis ou aumentam a partir do 3º mês de vida ficando positivo até 12 meses, pois a IgG começa a ser produzida pela criança com infecção. Quando os níveis de IgG mantém-se estáveis ou flutuantes nos primeiros 3 meses suspeita-se de toxoplasmose congênita e pode-se iniciar o tratamento mesmo na ausência de sinais e sintomas clínicos e de IgA e/ou IgM positivas (MOMBRÒ M et al., 2003; REMINGTON JS et al., 2006). Em nosso estudo o tempo médio de comprovação da negativação de IgG nas crianças acompanhadas e que não eram infectadas foi de 5,4 meses o que corresponde ao tempo de eliminação do anticorpo transmitido da mãe. Pela falta da realização de exames mensais nessas crianças, a média encontrada pode ter sido maior que a real, pois elas poderiam ter negativado antes da realização do exame. E em 2 crianças só foi possível documentar a IgG negativa após 12 meses, pois ficaram um tempo sem comparecer ao ambulatório de DIPe e voltaram com a idade de 13 e 14 meses. Elas não foram consideradas infectadas, pois já haviam apresentado sorologias IgG em declínio, IgM negativa e ausência de sinal clínico de toxoplasmose congênita. Aos 15 meses todas crianças acompanhadas sem toxoplasmose congênita tinham sorologia IgG negativas. Durante o acompanhamento nenhuma criança apresentou aumento ou estabilização de IgG para definir o diagnóstico de toxoplasmose congênita. E todas não infectadas apresentaram declínio constante de IgG. Das crianças acompanhadas, 96% realizaram o primeiro exame sorológico antes do 5º dia de vida, o tempo de realização de exame pareceu não interferir com o resultado. 130 Embora a IgA pareça ser mais sensível para o diagnóstico de toxoplasmose congênita no período neonatal (STEPICK-BIEK P et al., 1990; NAESSENS A et al., 1999), nenhuma criança do nosso estudo realizou esta dosagem, devido ao fato deste exame não ser realizado no laboratório do IFF. Todos os recém-nascidos obtiveram sangue periférico para realização de sorologias específicas para toxoplasmose, em nenhum recém-nascido foi colhido sangue do cordão umbilical devido ao fato do sangue do cordão umbilical poder ser contaminado com sangue materno e o resultado ser falso-positivo (NAESSENS A et al., 1999; WALLON M et al., 1999; MONTOYA JG, 2002). Foram realizados no estudo em média 3,3 exames sorológicos por criança acompanhada por suspeita de toxoplasmose congênita (variação de 2 a 5 exames). Provavelmente em algumas dessas crianças não fosse preciso realizar tantas sorologias de rastreamento. Principalmente naquelas que já haviam apresentado declínio de IgG nos primeiros 3 meses de vida e sem alterações clínicas sugestivas de toxoplasmose congênita, com mães que no período gestacional não tinham infecção aguda confirmada ou que apresentavam baixos índices de IgM mantidos em 2 exames subsequentes. A IgM específica para toxoplasmose foi positiva no período neonatal em 3 das 4 crianças infectadas. Wilson e colaboradores encontraram uma sensibilidade de 100% e uma especificidade de 98,6% em exames realizados por esta técnica (WILSON M et al., 1997). Pelloux e colaboradores, em 1993, encontraram uma sensibilidade de 100% e especificidade de 97%. No nosso estudo o diagnóstico de toxoplasmose congênita foi fácil, porém esse diagnóstico pode ser mais complicado, como o caso evidenciado por Lecomte e 131 colaboradores, que descreveram um caso de toxoplasmose congênita em um lactente de 2 meses com uma evolução neurológica grave e fatal, cujos exames no pré-natal e no período neonatal foram negativos (LECOMT B et al., 2006) Das 4 crianças infectadas, 3 apresentaram sinais e sintomas de toxoplasmose congênita ao nascimento e uma evidenciou alteração ocular e do sistema nervoso central através da realização de exames complementares. Todas apresentaram lesões sugestivas de toxoplasmose congênita no olho e no sistema nervoso central. Esse dado foi discordante do encontrado em outros estudos que relatam que a grande maioria das crianças com toxoplasmose congênita nascem sem sinais óbvios ao exame de rotina do recém-nascido (GUERRINA NG et al., 1994; PAUL M et al., 2000; REMINGTON JS et al., 2006) A proporção de recém-nascidos com toxoplasmose congênita assintomáticos ao nascimento evidenciada em diversos estudos foi de 60% (ANDRADE GMQ et al., 2001), de 85,7% (CARVALHEIRO CG et al., 2005) e de 78% (BERREBI A et al., 2006). Existem alguns estudos que evidenciaram maior número de crianças infectadas com sintomatologia precoce. Couvreur e colaboradores, em 1984, mostraram que 55% das crianças com toxoplasmose congênita tinham infecção subclínica ao nascimento. Alguns estudos brasileiros mais recentes também evidenciaram um maior número de crianças sintomáticas ao nascimento. Vidigal em colaboradores, em 2002, analisaram 8 crianças com infecção congênita e foram observadas alterações na ultra-sonografia prénatal em 4 gestantes, calcificação intracerebral em 5 crianças, coriorretinite em 4 crianças, hidrocefalia em 4, calcificação hepática em 4 e calcificação intra-cerebral em 1. Castro e colaboradores, em 2001, evidenciaram uma taxa de infecção subclínica de apenas 16,6% em um grupo com recém-nascidos com toxoplasmose congênita. 132 Uma explicação para este maior número de recém-nascidos com toxoplasmose congênita sintomáticos ao nascimento encontrados em nosso estudo, poderia ser que essas gestantes com filhos com infecção congênita terem sido infectadas no início da gestação, no qual o risco de doença mais grave é mais comum. Remington e colaboradores relatam que a toxoplasmose congênita com manifestações clínicas da doença ocorre quando o feto é infectado antes da 26ª semana de gestação (REMINGTON JS & DESMONTS G, 1990). O risco de doença clínica no recém-nascido diminui com o aumento do período gestacional no qual ocorreu a infecção (DUNN D et al., 1999). Embora existam 2 casos relatados na literatura de toxoplasmose congênita grave em gestantes infectadas no terceiro trimestre de gestação (CNEUD F et al., 2002; ARMSTRONG L et al., 2004). Cerca de 60% dos lactentes infectados não são identificados ao exame clínico de rotina (CARVALHEIRO CG et al., 2005). No nosso estudo, as lesões características da toxoplasmose congênita só foram identificadas por exames complementares em uma criança com infecção congênita. A falta da demonstração de recém-nascidos assintomáticos no nosso estudo poderia ser explicada pela perda de detecção de gestantes infectadas no último trimestre, já que não são realizadas de rotina sorologias mensais até o parto em gestantes com IgG negativa. Pois se a infecção fetal ocorre neste período, o recémnascido geralmente nasce com infecção subclínica e aparência clínica normal (REMINGTON JS et al., 2006). Desmonts & Couvreur, em 1979, evidenciaram que a chance de infecção subclínica é de 22,2% se a infecção ocorre no primeiro trimestre de gestação, de 74,4% se ocorre no segundo trimestre e de 89,9% se ocorre no terceiro trimestre. 133 Existe controvérsia na literatura em relação ao tratamento no período gestacional e o risco de transmissão fetal. Dunn e colaboradores, em 1999, evidenciaram uma taxa de transmissão de 29% em um grupo de 603 grávidas com infecção aguda, na qual 94% foram submetidas ao tratamento com espiramicina e sulfadiazina e pirimetamina. A taxa de transmissão encontrado no estudo de Dunn foi mais alta do que as encontradas em outros estudos nos quais as gestantes foram submetidas ao tratamento durante a gestação. Foulon e colaboradores, em 1999, realizaram um estudo com 144 grávidas que soroconverteram para toxoplasmose durante a gestação, a taxa de transmissão foi de 72% no grupo não submetido ao tratamento e de 39% no grupo submetido ao tratamento (82% com espiramicina). Entretanto, este estudo sugeriu que a terapia antibiótica no pré-natal não teria impacto na taxa de transmissão materno-fetal da toxoplasmose. Hohlfeld e colaboradores, em 1984, evidenciaram uma taxa de transmissão de 7,4% em um grupo de 2.632 gestantes com infecção aguda que fizeram tratamento somente com espiramicina. Os valores encontrados nos estudos que avaliam o tratamento da gestante com infecção pelo toxoplasma são muito conflitantes em relação a diminuição do risco de transmissão fetal da toxoplasmose. Não existe até o momento um ensaio clínico randomizado para provar esta eficácia (JEANNEL D et al., 1990; WALLON M et al., 1999; PEYRON F, 2006). Entretanto, a maioria dos autores continua recomendando o tratamento para toxoplasmose em grávidas com infecção aguda pelo Toxoplasma gondii (MONTOYA JG & ROSSO F, 2005). O tratamento mais eficaz para a infecção do feto e da criança com toxoplasmose congênita é o esquema com sulfadiazina e pirimetamina iniciado no período gestacional e após continuado no período pós-natal por 1 ano (DAFFOS F et al., 1988; COUVREUR 134 J et al., 1993). Este foi o esquema utilizado em 77,5% das gestantes do nosso estudo, alternado com a espiramicina no período pré-natal e continuado no período pós-natal em 100% das crianças com infecção congênita. Existem relatos de que o diagnóstico e o tratamento precoce na gestação evitam ou minimizam a freqüência e a severidade das seqüelas nas crianças infectadas (DAFFOS E et al., 1988; FOULON W et al., 1999; SPALDING SM et al., 2003). No nosso estudo, o diagnóstico e o tratamento empregado não minimizaram as lesões nos recém-nascidos infectados, pois esses foram altamente comprometidos. Isso pode ter ocorrido pelo fato das gestantes que tiveram filhos infectados terem começado o tratamento específico para toxoplasmose em um período mais tardio da gestação e provavelmente a infecção tenha ocorrido numa fase inicial da gestação. Em nosso estudo foram tratadas 93 gestantes (95%). O tratamento foi iniciado no primeiro trimestre em apenas 5,4% e nenhuma dessas crianças foi infectada. Em 48,4% das gestantes tratadas, o tratamento foi iniciado no segundo trimestre e 2 crianças foram infectadas. Em 46,2% das gestantes tratadas, o tratamento foi iniciado no terceiro trimestre e 1 criança foi infectada. Das 5 gestantes que não foram tratadas, 1 criança foi infectada. Apesar do pequeno número de pacientes acompanhados, estes dados encontrados corroboram com o fato de que o diagnóstico precoce na gestação diminuiria o risco de infecção congênita e aumentaria o risco de crianças infectadas com sintomas. A retinicoroidite esteve presente em todos as crianças com toxoplasmose congênita já ao nascimento, que é o acometimento mais comum da doença, mas em geral se desenvolve em períodos posteriores da vida (REMINGTON JS et al., 2006). 135 A falta de uma triagem sorológica de rotina em nosso meio dificulta o diagnóstico precoce de toxoplasmose aguda na gestação, e a utilização de exames diagnósticos fundamentais para o diagnóstico como o teste de avidez de IgG e a PCR do líquido amniótico, assim como o instituição de um tratamento precoce. Isso pode ser responsável por um aumento da incidência de infecção fetal clinicamente aparente, uma vez que o diagnóstico pré-natal passa a ser realizado mais tardiamente, a partir de alterações fetais detectadas, em geral, ao exame ultrassonográfico. Este fato por si só demonstra a importância do rastreamento desta doença nas pacientes obstétricas. 7.1 LIMITAÇÕES DO ESTUDO O fato do estudo ter sido retrospectivo com base na análise de prontuários, algumas informações contidas nos relatos médicos poderiam estar incorretas ou incompletas. Isso geraria um viéis de informação. Os casos de toxoplasmose congênita que culminaram com o óbito intra-útero ou no período neonatal não foram evidenciados, e sabe-se que a infecção materna pelo Toxoplasma gondii pode resultar em morte fetal intra-útero e aborto espontâneo. A identificação destes casos não fez parte do desenho do estudo, cujos os casos foram identificados a partir de recém-nascidos que tiveram alta da maternidade e agendaram consulta no ambulatório de DIPe para investigação de toxoplasmose congênita. Outro fator que poderia ter contribuído para a não identificação de crianças com toxoplasmose congênita seria a perda das 31 crianças que abandonaram o ambulatório antes da definição se estavam infectadas ou não. A falta da realização de sorologias específicas para toxoplasmose antes do período gestacional e seriadas durante o período gestacional, fez com que a 136 soroconversão não fosse documentada na maioria das gestantes. Portanto muitas das gestantes poderiam estar apresentando uma IgM residual ou falso-positiva e não necessariamente uma infecção aguda, pois a infecção passada em gestantes imunocompetentes tem um risco remoto de transmissão de toxoplasmose congênita. A não realização de exames seriados até o último mês da gestação poderia não ter detectado gestantes com infecção no último trimestre de gestação. 137 8 – CONCLUSÕES 138 1. A toxoplasmose congênita foi mais freqüente em recém-nascidos com mães mais novas e não foi encontrada associação com menor peso de nascimento, prematuridade e baixa escala de Apgar conforme descrito na literatura. 2. O diagnóstico sorológico (IgM positiva) para toxoplasmose foi realizado em quase metade dos casos no segundo trimestre. Apenas 22,4% fizeram o diagnóstico no primeiro trimestre. 3. A presença da sorologia IgM específica positiva para toxoplasmose não necessariamente significa infecção aguda, necessitando de outros exames complementares para diagnosticara infecção aguda, como o teste de avidez de IgG. 4. A falta do diagnóstico no primeiro trimestre dificultou a utilização do teste de avidez de IgG no seu período ideal para determinar o tempo de infecção materna pelo T. gondii. 5. A maioria das gestantes sem filhos com infecção congênita apresentavam índices baixos de IgM específicos para toxoplasmose o provavelmente não reflete uma infecção aguda no período gestacional. que 139 6. O diagnóstico da toxoplasmose congênita fetal foi pouco relizado, pois apenas 7,4% das gestantes realizaram a PCR do líquido amniótico, por motivos econômicos. 7. O tratamento específico para toxoplasmose no período gestacional foi realizado na maioria das gestantes do estudo (95%), sendo que 5,4% iniciaram no primeiro trimestre de gestação e destas nenhuma gestante teve filho com infecção congênita. 8. A taxa de transmissão vertical da toxoplasmose congênita nesse grupo de gestantes foi de 4%. 9. Todas as crianças infectadas apresentavam alterações neurológicos e oftálmicas de toxoplasmose congênita. 10. Nas crianças não infectadas a idade média de negativação de IgG transplacentária foi de 5,4 meses. 140 9 - CONSIDERAÇÕES FINAIS 141 A falta de um consenso entre os autores sobre a melhor maneira de se diagnosticar a infecção pelo Toxoplasma gondii na gestante gera uma diversidade de condutas no manejo clínico desta infecção tão comum e que pode causar um acometimento fetal grave. Foi evidenciado neste estudo que, em um hospital terciário, existiu variadas condutas em relação ao uso dos métodos para o diagnóstico de infecção pelo toxoplasma na gestação. Com base na literatuta atual, é recomendado não considerar apenas uma sorologia IgM positiva par o diagnóstico de toxoplasmose aguda, sabendo-se da possibilidade desta permanecer por longos períodos. Portanto as sorologias seriadas e outros métodos de diagnósticos devem ser empregados na tentativa de se identificar a infecção aguda na gestação. O teste de avidez de IgG tem se mostrado um bom método para definir infecção tardia. Se o resultado do teste de avidez for reator forte no primeiro trimestre da gestação, as gestantes não teriam necessidade de realização de outros exames diagnósticos e de tratamento específico para toxoplasmose durante a gravidez, e os seus filhos não teriam necessidade de serem investigados para toxoplasmose congênita. O teste de avidez empregado nos outros períodos gestacionais não ofereceria vantagens em relação à conduta médica, exceto no primeiro mês do segundo trimestre de gestação. Portanto, esse exame deveria ser reservado para gestantes com IgM positivas para toxoplasmose no primeiro trimestre. Para que isso ocorra, é importante o pré-natal seja iniciado precocemente. Uma única sorologia IgM positiva para toxoplasmose num período tardio da gestação é um situação desafiadora e muito comum para o obstetra, principalmente em 142 nosso meio. Nesse caso restariam poucos recursos para se identificar a infecção aguda na gestante, como o pareamento de sorologias. O rastreamento e o acompanhamento sorológico de crianças com suspeita de toxoplasmose congênita até a IgG se tornar negativa deve ser realizado em crianças cujas mães tiveram infecção aguda no período gestacional. A realização de exames sorológicos até obtenção de IgG específica para toxoplasmose negativa para descartar toxoplasmose congênita provavelmente não seria necessária nos filhos das gestantes que apresentaram índices baixos de IgM mantidos durante a gestação (método ELFA-VIDAS) e que não realizaram no pré-natal PCR do líquido amniótico ou do teste de avidez de IgG adequadamente. Nesses casos, o rastreamento inicial na criança para investigação de toxoplasmose congênita seria necessário, através da realização de sorologias específicas para toxoplasmose, fundoscopia e ultra-sonografia transfontanela. Se as sorologias IgM iniciais fossem negativas e a IgG apresentasse declínio nos primeiros 3 meses de vida, assim como fundoscopia e ultra-sonografia transfontanela normais, o diagnóstico de toxoplasmose congênita poderia ser descartado. Seriam necessários mais estudos, prospectivos e com uma amostra de tamanho maior, para evidenciar que a queda inicial de IgG na criança cuja mãe tenha apresentado infecção aguda pelo toxoplasma na gestação realmente evidencie ausência de doença. A construção de um consenso para o acompanhamento de gestantes com infecção pelo toxoplasma teria grande utilidade na padronização do uso dos métodos de diagnóstico utilizados para investigar infecção pelo toxoplasma no pré-natal e no tratamento empregado nessas gestantes. 143 10 – BIBLIOGRAFIA 144 ADES A, PARKER S, GILBERT R, et al.. Maternal prevalence of toxoplasma antibody based on anonymous neonatal serosurvey: a geographical analyses. Epidemiol Infect 110: 127-133, 1993. 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APÊNDICE 11.1 FICHA TÉCNICA APLICADA ÀS GESTANTES FICHA TÉCNICA – TOXOPLASMOSE CONGÊNITA (GESTANTE) Nº ______ OK Nome:_______________________________________ Prontuário: ___________ DN:___/____/____ End: ___________________________________________________________ Tel: ________ Cor: ____________ Profissão: _________________ Escolaridade: _______________________ Pré-natal: IFF Outro, local: _________________________________________________ 1ª Consulta pré-natal: ___/____/____ Obs) __________________________________________ Nº consultas pré-natal: _______ Gesta: _______ Para: ______ aborto espontâneo:______ Aborto provocado: ________ História de natimorto: SR Não Sim ____________________________________________ História de prematuridade: SR Não Sim ________________________________________ Sintomas de toxoplasmose aguda: SR Não Sim, qual: _____________________________ Parto IFF Outro, local: ____________________________ Idade no parto: _____ anos Exames Realizados: Sorologias para Toxoplasmose: Data Método Período Gestacional IgM / título IgG / título Teste de avidez: Não Sim, Data: ___/____/____ PG: _______________ Resultado: ______ Data: ___/____/____ PG: _______________ Resultado: ______ Amniocentese: Não Sim, Data: ___/____/____ PG: _______________ Resultado: ______ USG fetal: NR Realizado Data: ___/____/____ PG: _______________ Normal Alterado. Qual: __________________ Data: ___/____/____ PG: _______________ Normal Alterado. Qual: __________________ Data: ___/____/____ PG: _______________ Normal Alterado. Qual: __________________ Outros exames: _________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Tratamento toxoplasmose/ Período Gestacional: Não Sim Início___/____/____ Término ___/____/____ Espiramicina: __________________________________________________________________ Sulfadiazida/Pirimetamina/ácido folínico: ____________________________________________ Intercalando os 2 esquemas: Não Sim, período: ____________________________________ 163 Fatores de risco identificáveis: SR Não Sim , qual: _____________________________ Outras infecções associadas: Não Sim, qual: _____________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Intercorrências no período gestacional: Não Sim, qual: ____________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Placenta: SR ; macroscopicamente NR Normal Alterado Peso= ________ microscopicamente NR Normal Alterado Observações: ________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 164 11.2 FICHA TÉCNICA APLICADA ÀS CRIANÇAS FICHA TÉCNICA – TOXOPLASMOSE (CRIANÇA) Nº ______ OK Nome:_______________________________________ Prontuário: ___________ DN:___/____/____ Mãe: ___________________________________ Cor: ____________ Sexo: masc fem Dados do parto Tipo de parto: vaginal cesáreo SR ; Intercorrências: ______________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ CN: _____ cm PC: _______ cm Percentil do PC: ______ AIG GIG PIG IG: _____ sem ____ d (método: __________) IG: _____ sem ____ d (método: __________) APGAR (1º, 5º min) : ____ /____ Alterações ao exame físico na sala de parto: Não Sim, quais: ______________________________ ______________________________________________________________________________ Intercorrências no período neonatal: Não Sim, quais: _____________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Exames complementares Fundo de olho: não sim (___/____/___) Normal Alterado, qual:____________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ USTF: não sim (___/____/___) Normal Alterado qual: _________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Sorologia para toxoplasmose: Data Hemograma: Método N Idade (meses e dias) IgM / título IgG / título S (___/____/___) He- _______ Hb- _______ HT- _______ Plaquetas:___________________________________________ Leucócitos: _________________________________________ Bioquímica: N S (___/____/___) ______________________________________________ Outros exames: _________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 165 Tratamento para toxoplasmose: não sim, qual/período/ intercorrências: ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Follow-up- Primeira consulta no amb. DIPe: (___/____/___) Número de consultas no ambulatório de DIPe: _______ Intercorrências : _____________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Alta do ambulatório de DIPe: (___/____/___) Abandono Obs) _________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 166 11.3 TIPOS DE VARIÁVEIS USADAS PARA ATENDER AOS OBJETIVOS DO ESTUDO EM RELAÇÃO A GESTANTE Objetivo específico Variáveis Tipo de variáveis Descrever o perfil clínico Idade Contínua Número de gestações Contínua Número de abortos Contínua Número de consultas de pré-natal Contínua Tipo de parto Categórica Descrever dados Idade gestacional IgM positiva Contínua diagnósticos Valores de sorologia IgM e IgG Contínua Teste de avidez de IgG Categórica Amniocente/PCR Categórica Ultra-som obstétrico Categórica Histopatalógico da Placenta Categórica Tipo de tratamento específico Categórica Início de tratamento Categórica Relatar o tratamento 167 11.4 TIPOS DE VARIÁVEIS USADAS PARA ATENDER AOS OBJETIVOS DO ESTUDO EM RELAÇÃO A CRIANÇA Objetivo específico Variáveis Tipo de variáveis Descrever o perfil Sexo Categórica clínico Peso de nascimento Contínua Perímetro cefálico de nascimento Contínua APGAR 1º e 5º minuto Contínua Idade gestacional ao nascimento Contínua Relação de peso e idade gestacional Categórica Alterações clínicas nas crianças infectadas Categórica Descrever dados Fundo de olho Categórica diagnósticos Ultra-som transfontanela Categórica Tomografia de crânio Categórica Valores de sorologia IgM e IgG Contínua Idade de negativação de IgG nas não infectadas Contínua Descrever o Número de consultas no ambulatório de DIPe Contínua acompanhamento nas não infectadas ambulatorial Tempo de acompanhamento no ambulatório de Contínua DIPe das não infectadas Relatar o tratamento Tratamento específico Categórica Tempo de tratamento Contínua 168 11.5 APROVAÇÃO NO COMITÊ DE ÉTICA