TCC Natalia Nissen

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TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I
Departamento de Ciências da Comunicação – CESNORS/UFSM
Curso de Comunicação Social – Jornalismo
15 de outubro de 2012 a 19 de outubro de 2012
ESTUDO DE CASO: UMA ANÁLISE DA
PROGRAMAÇÃO DA WEB RÁDIO PUTZGRILA
NATALIA NISSEN
Artigo científico apresentado ao Curso de Comunicação Social – Jornalismo como
requisito para aprovação na Disciplina de TCC I, sob orientação do Prof. Luis Fernando
Rabello Borges e avaliação dos seguintes docentes:
Prof. Luis Fernando Rabello Borges
Universidade Federal de Santa Maria
Orientador
Prof. Carlos André Echenique Dominguez
Universidade Federal de Santa Maria
Prof. Gonzalo Prudkin
Universidade Federal de Santa Maria
Prof. Débora Cristina Lopez
Universidade Federal de Santa Maria
(Suplente)
Frederico Westphalen, 08 de outubro de 2012
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Estudo de caso: uma análise da programação da web rádio putzgrila
RESUMO
Este trabalho de pesquisa tem como tema central o conteúdo da programação veiculada
na rádio web Putzgrila e a observação das principais semelhanças e diferenças entre a
emissora e outras rádios de FM que produzem conteúdo voltado ao rock and roll. A
Putzgrila é uma web rádio direcionada a um gênero musical exclusivo que funciona
como um clube em que os apresentadores são sócios. Este artigo está estruturado nos
conceitos sobre internet, rádio online e música, principalmente no gênero rock and roll.
A princípio, a Putzgrila apresenta aspectos muito semelhantes a outras emissoras de
rock, no entanto, ao analisar sua programação e estrutura é possível perceber várias
diferenças que caracterizam as peculiaridades da rádio em questão.
PALAVRAS-CHAVE: rádio online; programação radiofônica; Putzgrila; rock.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O rádio é o meio de comunicação que possibilita a veiculação imediata das
informações e, também, é o meio mais acessível a todas as classes sociais em todos os
lugares do mundo. Com o avanço das tecnologias de comunicação o rádio foi
incorporado à internet, surgindo, assim, as web rádios. Muitas das consolidadas
emissoras de rádio FM e AM transmitem sua programação via internet, mas há, ainda,
aquelas que existem apenas na web.
Uma web rádio pode ser criada com menos recursos financeiros que uma
emissora convencional com transmissão por ondas de rádio de alcance limitado. Na
internet não existem fronteiras geográficas para a difusão do conteúdo radiofônico. Um
exemplo de web rádio é a Putzgrila, localizada em Porto Alegre no Rio Grande do Sul,
o objeto desta pesquisa.
A rádio Putzgrila é uma web rádio que transmite conteúdos essencialmente
ligados ao gênero musical rock and roll. Assim, além das músicas, também veicula
notícias ligadas ao estilo musical de maneira informal, muitas vezes ignorando
determinados critérios de noticiabilidade utilizados pela mídia tradicional. Este veículo
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de comunicação também é caracterizado pela associação de membros que ajudam a
mantê-lo, como um clube, dividindo as despesas sem haver lucros para os sócios.
O rock, por sua vez, é um gênero musical que reflete a personalidade de muitas
gerações de jovens que utilizam a música como forma de protesto e exteriorização de
sentimentos. Esse mesmo público que se identifica com a música está cada vez mais
inserido nas novas tecnologias e, principalmente, na internet.
Esta pesquisa analisa as principais características da programação da web rádio
Putzgrila e possíveis semelhanças e diferenças entre esta e emissoras de frequência
modulada que são conhecidas por darem ênfase ao rock and roll. Lembrando que essas
rádios FM serão tomadas, aqui, apenas conceitualmente, em conteúdos bibliográficos a
respeito. O único objeto empírico desta pesquisa é a própria Putzgrila. A partir desta
análise, poderão estabelecer-se parâmetros entre o jornalismo praticado numa rádio FM
e, no caso, a web rádio Putzgrila.
O objeto foi analisado a partir da audição de sua programação veiculada na
internet, considerando a hipótese de haver significativas distinções nas formas de
tratamento de um conteúdo muito semelhante. O desdobramento desta primeira hipótese
também pode nos levar a uma segunda: apesar de meios de transmissão e políticas
editoriais diferentes, a Putzgrila pode apresentar características muito parecidas com as
rádios FM.
O principal objetivo desta pesquisa é analisar e demonstrar as peculiaridades da
programação da web rádio Putzgrila e até que ponto uma rádio web se difere de uma
rádio convencional de frequência modulada em suas formas de tratamento dos
conteúdos e critérios jornalísticos de transmissão. A partir do objetivo geral, a pesquisa
tem como objetivos específicos compreender e conhecer o funcionamento da web rádio
Putzgrila e as personagens envolvidas no funcionamento da rádio como profissionais de
difusão radiofônica.
Assim, o problema de pesquisa “até que ponto a web rádio Putzgrila se
diferencia das tradicionais rádios FM que veiculam um conteúdo semelhante
relacionado ao gênero musical rock and roll?” será respondido.
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Breve histórico da rádio Putzgrila
A rádio Putzgrila é uma das rádios online de Porto Alegre e foi criada por Pedro
da Fonseca há cinco anos. O nome remete a uma tradicional gíria usada pelos jovens
que vivem na região metropolitana da capital do Rio Grande do Sul; a gíria também foi
muito usada nos anos 70, principalmente pelos hippies, e representa uma interjeição de
espanto e admiração. No primeiro ano a rádio era experimental e foi criada para o
trabalho de conclusão de Pedro no curso de Comunicação Social – Habilitação em
Jornalismo da Ulbra/Canoas. No dia 06 de setembro de 2007 a rádio Putzgrila foi
oficialmente criada: o diretor criou um blog e contratou um servidor de streaming de
duas qualidades (64Kbps e 96 Kbps). Em julho de 2011 a Putzgrila passou a ser
transmitida de um site próprio, e não mais de um blog.
As transmissões da rádio Putzgrila eram feitas diretamente da residência de
Pedro, e desde maio de 2010 passaram a ser feitas de um estúdio localizado em um
prédio histórico na região central de Porto Alegre. A rádio funciona com 15 integrantes,
que formam uma associação na qual as despesas são divididas e pagas por esses sócios.
A fim de evitar maiores gastos, o diretor Pedro da Fonseca optou por utilizar softwares
livres na Putzgrila: o Simplecast é usado para a transmissão do conteúdo e o ZaraRadio
para a organizar as músicas que vão ao ar.
Segundo o diretor Pedro da Fonseca, a intenção da rádio Putzgrila não era ser
uma rádio de rock, mas sim um meio de divulgar novas ideias. Cada integrante tinha um
programa sob sua responsabilidade e, com o passar do tempo, novas pessoas com ideias
em comum começaram a fazer parte da rádio, e assim decidiram segmentá-la.
A programação da rádio online é variada, porém, dedicada exclusivamente a um
estilo musical: o rock and roll e suas vertentes. A Putzgrila segue uma estrutura de rádio
FM no que tange à programação veiculada 24 horas por dia e sete dias por semana.
Além do conteúdo noticioso relacionado ao rock, a rádio também transmite shows ao
vivo e entrevistas com pessoas ligadas ao mundo da música.
O controle de acessos é feito através de um site gratuito que mostra em tempo
real a movimentação de visitantes da página da rádio, o Live Traffic Feed - Feedjit. Os
acessos são feitos por pessoas de mais de 160 cidades do Brasil, e mais de 40 países.
São milhares de ouvintes de todo o mundo diariamente.
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O rádio e a internet
Quando chegou ao Brasil no início da década de 1920, o rádio passou por
inúmeras dificuldades, com o surgimento e falência de emissoras. A consolidação do
veículo aconteceu através de rádio-sociedades. Em tempos difíceis, muitas emissoras
desapareceram e manter as que sobraram exigia investimento e empenho dos
administradores. Como explica Calabre (2002), uma rádio sociedade era regida por um
estatuto que previa a existência de associados contribuintes e a verba arrecadada era a
principal, senão a única, fonte de rendimentos de uma emissora. O problema estava
naqueles associados que não pagavam suas mensalidades em dia e deixavam as rádios
com grandes déficits.
No Rio Grande do Sul, o surgimento do rádio tem uma ligação intrínseca à
política. Segundo Ferraretto (2002), a Rádio Sociedade Rio-Grandense foi a primeira
entidade organizada a fazer transmissões radiofônicas no Estado. Em outubro de 1924,
pouco tempo depois de sua criação, a emissora contava com trezentos sócios, entre eles,
intelectuais, empresários e a elite da administração pública gaúcha.
O desenvolvimento do rádio partindo das rádio-sociedades até a estruturação de
rádios comerciais teve altos e baixos. Os pioneiros estavam acompanhados de
intelectuais que palestravam e concediam entrevistas para a fomentação da cultura no
Brasil. “Esse rádio da década de 1920, com uma programação intelectualizada e de
preços altos, terminava sendo ouvido pelo mesmo grupo que o produzia” (CALABRE,
2002, p.21, 22). O aprimoramento das técnicas de rádio, assim como a legislação para o
funcionamento das emissoras, contribuiu para o estabelecimento do veículo como parte
do cotidiano das pessoas.
Portanto, para examinar um meio de comunicação online e debater suas
diferenças com o meio analógico é necessário compreender as principais características
de cada um dos veículos estudados e sua importância para os usuários. Assim, Janotti
(2003) afirma o seguinte:
À guisa de exemplo, as antigas rádios AM que pareciam fadadas à extinção
com o advento das FM, ganharam novos formatos. Algumas delas se
tornaram mais regionalizadas e outras foram ampliadas através da melhoria
de qualidade dos sinais, transformando-se, inclusive, em veículos centrados
basicamente no radiojornalismo. A transmissão via satélite transformou
várias rádios FM em redes radiofônicas, ao mesmo tempo em que a mídia
rádio é repensada pela veiculação através da Internet (2003, p.15-16).
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As emissoras adaptam-se à realidade de acordo com as necessidades impostas
pelo próprio avanço tecnológico. Para Castells (2003), a Internet é um meio de
comunicação que permite a interação entre várias pessoas em determinado momento,
numa escala global.
Como nossa prática é baseada na comunicação, e a Internet transforma o
modo como nos comunicamos, nossas vidas são profundamente afetadas por
essa nova tecnologia da comunicação. Por outro lado, ao usá-la de muitas
maneiras, nós transformamos a própria Internet (CASTELLS, 2003, p.10).
Essa transformação da Internet pelos usuários acontece porque a tecnologia
desta se mostra flexível diante das práticas da sociedade e pode ser alterada de acordo
com o uso e, não somente, pelos conceitos técnicos. Castells (2003), ainda afirma que a
Internet está fadada às condições impostas pelo uso da sociedade e as condições
específicas da evolução da história.
De acordo com Prado (2006), pesquisas apontavam o Brasil como o décimo país
com mais usuários de internet no mundo, com 22 milhões de internautas. Pequenas
emissoras investem em sites e fazem testes de disponibilização de áudio e conteúdo
complementar de interesse do público. “Uma rádio segmentada em rock gera nas
páginas do site históricos de bandas de rock; notícias atualizadas sobre a carreira e a
vida pessoal dos músicos; serviços de utilidade pública” (PRADO, 2006, p.158).
A Internet associa os elementos de diversas formas de conteúdo como texto,
áudio, imagem e é um espaço que permite a experimentação. O rádio, assim como as
outras mídias tradicionais, deve acompanhar as novas tecnologias e usá-las a seu favor
para não ficar obsoleto. Nas rádios de frequência e amplitude modulada, a coletividade
é uma característica evidente, uma vez que o conteúdo é produzido para atingir milhares
de pessoas com interesses comuns.
Sem limitações de cobertura, o rádio via internet alcança audiências em todo
o mundo, exercendo importante mediação para populações em deslocamento
(migrantes, turistas, executivos em viagens de negócios, exilados) e também
para indivíduos que se identificam simbolicamente com outras culturas, cenas
ou territorialidades (KISCHINHEVSKY, 2008, p.09).
A interatividade facilitada pelo uso das redes sociais e mensageiros instantâneos
é um fator dominante na personalização de conteúdo que a internet possibilita.
Kischinhevsky (2008) sustenta que a utilização destas novas ferramentas amplia a rede
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de relações entre as pessoas, graças à interação entre emissor e ouvinte em relação aos
conteúdos veiculados. Essa característica da interatividade permite que se forme um
perfil de identidade das pessoas que ouvem e participam ativamente da programação de
uma rádio. Através do envio de sugestões e opiniões a respeito do conteúdo produzido,
os ouvintes e emissoras estão em constante mudança devido às próprias reconfigurações
da internet.
O conteúdo das web rádios é transmitido por meio de Streaming, uma
reprodução de informações em tempo real por um canal de fluxo de mídia. Os
equipamentos necessários para o funcionamento de uma rádio online são bem diferentes
dos requisitados para uma rádio tradicional e uma web rádio pode funcionar com um
microfone e um computador, apenas.
O maior problema de uma rádio online, talvez, seja com relação aos direitos
autorais das músicas veiculadas. O ECAD (Escritório Central de Arrecadação e
Distribuição) é o órgão responsável pelo recolhimento das taxas de direitos autorais por
todas as músicas executadas em rádios e outros veículos. Uma vez que o Brasil não
possui legislação para regulamentar as web rádios, não há como cobrar essas emissoras
pelas músicas que fazem parte da programação.
O rádio e a música
Para Calabre (2002), a música sempre configurou um fator fundamental dentro
de uma rádio. Durante as primeiras décadas do rádio, as emissoras transmitiam música
ao vivo, possuíam orquestras em seus estúdios e as rádios menores utilizavam a
transmissão de discos como recurso por não terem cantores ou instrumentistas em seu
quadro de funcionários.
Hoje as pessoas contam com o crescente desenvolvimento do advento da
internet, a maioria tem acesso aos arquivos de música, muitas vezes, disponibilizados
ilegalmente em sites da rede. Essa facilidade de acesso também auxilia o trabalho das
web rádios, que necessitam desses arquivos musicais para montar sua programação.
A rádio Putzgrila, assim como todas as outras, tem um formato de programação
que visa atrair seu público, e neste caso, oferece uma programação diferenciada com
conteúdo exclusivo sobre o gênero musical rock and roll, desde notícias, serviços de
shows e veiculação de álbuns completos de artistas clássicos do estilo. Na concepção de
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Grossberg (1997 apud JANOTTI, 2003, p.17), o rock and roll não é considerado
heterogêneo apenas no aspecto de estilo musical, mas também em todo o contexto em
que seus fãs estão inseridos. Ainda que várias pessoas escutem a mesma música, elas
têm objetivos diferentes ao fazer isso, cada uma delimita a música que ouve e até
mesmo o que faz ou não parte da categoria rock and roll.
No Brasil, merece destaque entre as rádios de transmissão do rock and roll a
rádio Fluminense FM, fundada em 1972 e reformulada 10 anos depois. Conhecida como
“A Maldita”, a rádio nasceu da vontade de ser diferente de todas as outras. Conforme
Silva (2008), na época existia uma grande dificuldade de se encontrar discos de rock
nacional e contemporâneo, de forma que a emissora abriu espaço para bandas locais
enviarem seus materiais para divulgação na Fluminense FM.
Dessa maneira, muitas bandas e artistas locais puderam ter suas canções
executadas, driblando-se a intermediação das gravadoras. Isso reforçaria os
laços entre emissora e os atores locais ligados à produção musical,
especialmente os relacionados ao rock, o que ajudou a legitimá-la na região
(SILVA, 2008, p.9).
Se no Rio de Janeiro havia a rádio Fluminense FM, os gaúchos contavam com a
rádio Ipanema FM 94.9, que surgiu pouco tempo depois de “A Maldita”. Desde os anos
oitenta, a Ipanema FM foi responsável pelo lançamento de diversas bandas no cenário
do rock and roll gaúcho, de DeFalla a Tequila Baby.
“A ovelha negra” do rádio ficou conhecida como a emissora que tocava rock and
roll, era formada por pessoas que gostavam de música e não seguia um padrão
radiofônico como tantas outras. Transformou-se em referência no segmento musical
jovem com utilização de uma linguagem própria.
Assim como a Fluminense FM e a Ipanema FM nos anos oitenta, a rádio
Putzgrila associou-se ao segmento do rock and roll no rádio e construiu uma identidade
própria diante de seus ouvintes. A Putzgrila estabeleceu uma política editorial flexível
no que tange à programação, deu espaço para pessoas interessadas em fazer programas
radiofônicos e para músicos independentes com o intuito de mostrar seu trabalho.
Critérios diferenciados foram adotados tanto por essas rádios quanto pela Putzgrila, em
quesitos de administração, inclusive. A política de evitar o jabaculê, ou jabá, é comum
entre as rádios alternativas que defendem um segmento como prioridade diante da
questão mercadológica.
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A música, assim como o rock and roll especificamente, é uma forma de
expressão para os jovens, e cada vez mais, faz parte das tarefas do cotidiano desses
indivíduos. A importância da música no dia-a-dia pode ser comprovada com o seguinte
argumento:
O uso da música [...] envolve poder, pois os sons passam através da rede das
nossas disposições e valores conscientes e convocam reações que poderíamos
talvez chamar de sub e hiperliminares (reações motivadas por associações
insidiosamente induzidas, como na propaganda, ou provocadas pela
mobilização ostensiva dos seus meios de fascínio, como num ritual religioso
ou num show de rock). Estando muito próxima daquilo que conseguimos
experimentar em matéria de felicidade humana, a música é um foco de
atrativos que se presta a variadas utilizações e manipulações (WISNIK, 1997,
p.114-115).
Apesar da importância evidente da música na vida das pessoas, são poucas as
emissoras especializadas em apenas um estilo musical, e isso se deve muito ao fator
econômico. Uma rádio comercial precisa de investidores e, dificilmente, um único estilo
é capaz de manter uma emissora.
Muitas rádios tradicionais são conhecidas pelos jabás que recebem para colocar
determinado lançamento em sua programação. O jabá, segundo Oliveira (2004), é um
esquema de manipulação dentro dos meios de comunicação para a execução de músicas,
e em troca os profissionais do veículo recebem dinheiro e presentes. Essa realidade pode
funcionar de forma diferente em uma web rádio, já que esta necessita de menos recursos
e pode estabelecer uma linha editorial que não permita a intervenção de jabá.
Além da programação jornalística e musical, ainda há espaço para
patrocinadores e seus comerciais. Partindo do pressuposto de que a maioria das rádios
veiculadas na rede é ilegal e não apresenta maiores custos para seus mantenedores,
existe a prerrogativa de uma programação com comerciais diminuídos em relação às
tradicionais rádios AM/FM. Este é um importante aspecto considerado pelos ouvintes
que procuram uma emissora com menos conteúdo comercial, e mais informativo e
recreativo. Entende-se que uma emissora possui maior autoridade e identidade editorial
quando depende menos de investimentos de terceiros.
Para que uma rádio musical - particularmente as mais alternativas – tenha
destaque perante as outras, não basta anunciar uma música, é necessário contextualizála. “Colha todas as informações sobre uma música (compositor, intérpretes e se for uma
banda, as informações sobre os integrantes também valem) e quebre-as em pequenas
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frases” (PRADO, 2006, p.36). O ouvinte tende a ficar mais interessado quando o locutor
apresenta aspectos desconhecidos sobre uma música ou banda e esse tipo de informação
pode contribuir com a fidelização do público.
ANÁLISE
Para a realização desta pesquisa, fizemos uma análise qualitativa da
programação da rádio web Putzgrila durante a segunda quinzena do mês de março de
2012. Na análise, alguns programas e trechos são abordados de forma mais detalhada,
especificando datas, ao passo que outros aparecem rapidamente descritos. Os arquivos
de áudio da programação estão salvos em formato mp3, foram gravados e não estão
disponíveis online. Mais para efeito de curiosidade, e de forma a demonstrar a
rotatividade de programas na emissora, sem preocupação de realização de análise, a
grade de programas dos meses de março e junho de 2012 consta no apêndice desta
pesquisa.
O presente estudo de caso visa à percepção das características do veículo em
questão, a rádio Putzgrila, e as principais semelhanças e diferenças dela em relação ao
tratamento dado ao conteúdo das rádios tradicionais de FM, a partir das definições
conceituais sobre as mesmas presentes nos capítulos teóricos anteriores. Seguindo as
definições de Rauen (2002) para a realização do estudo de caso, a análise profunda e
exaustiva do objeto permite o amplo e detalhado conhecimento da rotina da rádio
Putzgrila e não uma generalização do assunto.
Apesar do pesquisador partir de teorias, deve estar atento a novos elementos
que emergem dos estudos, pois parte do princípio de que o conhecimento não
é algo acabado, mas uma construção que se faz e refaz constantemente. A
teoria serve de esqueleto, porém, novos elementos ou dimensões poderão ser
acrescentados, à medida que o estudo avança (RAUEN, 2002, p. 211).
Entrevistas em profundidade com o diretor e apresentadores da emissora, unidas
à análise do conteúdo veiculado, permitirão uma maior compreensão do objeto
estudado. Conforme Sousa (2004), a pesquisa em profundidade permite a obtenção de
dados relevantes para a pesquisa e tem como principal vantagem a possibilidade de se
obeterem informações aprofundadas sobre valores, experiências, sentimentos,
motivações, comportamentos, entre outras, dos entrevistados.
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A programação da rádio web Putzgrila
Em geral, a programação diária da rádio web Putzgrila segue alguns formatos
que encontramos facilmente em outras rádios de frequência modulada transmitindo
conteúdo 24 horas por dia e sete dias por semana. No entanto, como a Putzgrila não
caracteriza uma empresa de comunicação, e sim um clube de amantes do rock, a
programação é mais informal, irreverente e flexível. A programação veiculada pela
Putzgrila sofre alterações sem a necessidade de aviso prévio aos ouvintes. Os programas
têm duração de aproximadamente duas horas, mas essa não é uma regra e
eventualmente alguns têm até uma hora a mais de duração. Apenas os programas diários
ficam menos tempo no ar, como é o caso do Digestivo e do Passando o Rodo na
Notícia, que serão devidamente comentados ao longo desta análise. Aos domingos, não
há programação ao vivo, apenas a reprodução de músicas com alguns intervalos
comerciais e inserções.
A linguagem utilizada pelos apresentadores é informal e não existe censura em
relação às gírias e, até mesmo, palavras de baixo calão. Pedro da Fonseca garante que
cada locutor é livre e responsável pelo seu programa, embora a música transmitida
precise ser do gênero rock e a cobrança é feita pelos próprios ouvintes que entram em
contato com os apresentadores quando não gostam de determinado conteúdo. O diretor
ainda acredita que a aceitação da Putzgrila por seus ouvintes está ligada à fidelidade
com o estilo de música e à dedicação de cada colaborador da rádio, pois, segundo ele,
dificilmente algo feito com amor dá errado.
Os apresentadores da rádio Putzgrila têm liberdade de veicular músicas que
fogem ao padrão clássico do rock and roll, mas a maior parte da programação dá ênfase
à música tradicional desse estilo entre as décadas de 1960 e 1990. Alguns programas
são temáticos e apresentam diferentes aspectos da cultura do rock and roll, como
músicas do gênero com influências folclóricas de determinadas regiões do mundo. O
programa denominado Latinoamerica, apresentado por Chapolin, codinome de
Maurício Zampiron, às segundas-feiras, traz músicas latino-americanas de artistas que
fazem parte do gênero rock.
Já o Rockin All Over The World, que vai ao ar todas as quartas-feiras às 20
horas, transmite aos ouvintes os clássicos das vertentes do rock de diversos países do
mundo. Caio Rocha, o apresentador, no dia 23 de março de 2012, fez uma playlist com
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músicas de hard rock da Nova Zelândia, funk psicodélico da Nigéria, blues rock
japonês, folk rock chinês e turco e, ainda, rockabilly da Hungria, entre outras peças de
países que não entram na programação da maioria das rádios tradicionais. Em geral, o
apresentador dedica-se a transmitir as músicas e falar algumas curiosidades sobre as
bandas, os álbuns e o estilo musical das mesmas. Essas falas não costumam consumir
mais do que quinze minutos do total de duração do programa.
Ainda sobre os programas temáticos podemos citar o RockBR apresentado por
Iran Rosa nas quintas-feiras às 15 horas. O RockBR segue uma proposta de apresentar
aos ouvintes da Putzgrila o melhor do rock and roll nacional, independente de época.
Nesse programa constam músicas de vários artistas e vertentes, como por exemplo,
Roberto Carlos, Skank, Casa das Máquinas – banda que viveu seu auge na década de
1970, Barão Vermelho, Violeta de Outono, Fernando Noronha, Bandaliera, entre tantos
outros.
Nas manhãs de segundas, quartas, quintas e sextas-feiras, a partir das 10 horas, é
transmitido o Good Day Sunshine, programa que tem o nome e como música tema o
sucesso da banda The Beatles. Foi idealizado por Gilberto Six e Daniel Pellin há dois
anos com o intuito de preencher a grade da rádio, além de criar um programa diário e
matinal aproveitando um dos horários em que a Putzgrila tem maior audiência. Nas
quintas-feiras é apresentado por Daniel Pellin e nos dias restantes por Gilberto Six.
No Good Day Sunshine predominam os blocos de música, de rock clássico e
blues, principalmente, mas há espaço para outras vertentes do rock and roll. Enquanto o
apresentador Gilberto Six seleciona um maior número de músicas de rock clássico e
blues dos anos 50, 60 e 70, Daniel Pellin é quem explora mais as outras vertentes do
rock and roll. No Good Day Sunshine do dia 15 de março de 2012, por exemplo, os
ouvintes foram contemplados com músicas do estilo grunge, folk rock, rock progressivo
e heavy metal. Daniel Pellin afirma que teve mais contato com a música contemporânea
como punk, indie e grunge, e que o colega Gilberto Six sabe em detalhes a história de
bandas clássicas do rock, desde datas, formação, produtores e discos.
No programa, a audiência é informada da previsão do tempo para Porto Alegre,
algumas notícias curiosas sobre temas adversos ao rock and roll, como no dia 21 de
março de 2012, quando Gilberto Six falou sobre a notícia de um estudo internacional
publicado na revista Science que revelou que o macho da “mosca da fruta” consome
alimentos com álcool ao ser rejeitado pela fêmea. Também são comentadas curiosidades
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sobre as bandas das músicas que foram ao ar nos blocos do programa e agenda de
shows dessas bandas quando as turnês passam por Porto Alegre e região. São assuntos
do cotidiano selecionados para os ouvintes que, geralmente, estão trabalhando em frente
ao computador.
Nas tardes de sexta-feira, a partir das 15 horas, o diretor da Putzgrila comanda o
programa Rocks. Pedro da Fonseca é um dos poucos apresentadores da rádio com
formação profissional em Comunicação Social, e a desenvoltura do apresentador
demonstra uma experiência no meio. Pedro afirma que por ficar no ar durante seis horas
pela manhã, em outra emissora de rádio, ao chegar ao estúdio da Putzgrila já tem um
vasto repertório noticioso para transmitir aos ouvintes da rádio, as músicas são definidas
na hora do programa e, quando há entrevistas, é necessária uma preparação antecipada.
O Rocks é um programa com vários momentos de intervenção do apresentador,
informação da hora certa constantemente, notícias gerais e musicais, transmissão de
lançamentos e raridades do rock and roll, divulgação de eventos, publicidade e opinião
sobre artistas e músicas que vão ao ar e blocos de pedidos dos ouvintes. No programa
que foi ao ar no dia 23 de março de 2012, durante uma homenagem ao musical
humorístico “Baiano e Os Novos Caetanos”, do qual participava Chico Anysio, com a
música “Vou Batê Pa Tu”, Pedro da Fonseca anunciou a morte do humorista aos
ouvintes, comentando um pouco sobre a carreira do artista e suas contribuições para a
arte da comédia brasileira.
PutzPoesia
Fugindo da proposta das rádios tradicionais a Putzgrila tem, desde o final de
agosto de 2011, o programa PutzPoesia, que vai ao ar todas as sextas-feiras às 19 horas
e é apresentado pelo escritor e professor Diego Petrarca e por Fernando Ramos. O
PutzPoesia surgiu de uma ideia de Fernando Ramos e, como o nome já diz, é um
programa que fomenta e busca o equilíbrio entre a poesia, a literatura em geral e o rock
and roll.
Diego Petrarca afirma que o objetivo do programa não é formar ouvintes a partir
da poesia, “mas sim as infinitas possibilidades de brilho da linguagem e suas variações
que espirram na canção, na arte plástica, nas ruas, na cidade, enfim, na vida de um
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modo geral. A existência da poesia como algo tão comum quanto respirar, seus autores,
ideias etc”.
Em cada edição é escolhida uma personalidade ou obra que influenciou gerações
para ser comentada. No programa do dia 23 de março de 2012, por exemplo, a poetisa
brasileira Ana Cristina Cesar foi o tema. Os apresentadores falam sobre o contexto das
obras e artistas em questão, a influência na literatura e na música, recitam poemas e,
também, eventos importantes que acontecem no país e se relacionam com a cultura
literária. Além das discussões, os apresentadores transmitem o áudio de interpretações
feitas por atores, não necessariamente no idioma português brasileiro. No programa
citado acima, houve uma declamação de poema feita por Jack Kerouac, escritor norteamericano.
Para selecionar o tema de cada programa, os apresentadores discutem desde
datas relevantes a lançamentos de filmes e livros que podem ocasionar uma pauta
interessante e, também, recebem convidados que tenham projetos ligados ao conceito do
programa. As músicas veiculadas são trilhas sonoras de documentários, filmes, peças de
teatro e outras atividades ligadas ao tema de cada edição.
O PutzPoesia não segue um roteiro, os apresentadores apenas fazem algumas
anotações que servem como um guia para o programa acontecer ao vivo, mas que
eventualmente podem ser alteradas. As músicas são selecionadas e a ordem com que
vão ao ar são decididas na hora, há improviso e tópicos pré-definidos.
Diego Petrarca tem formação em Letras e Poesia, já Fernando Ramos organiza
há cinco anos a FestiPoa Literária, importante evento de literatura em Porto Alegre que
reúne debates, oficinas, lançamentos, shows, entre outras atividades. A intimidade dos
apresentadores com o tema faz do PutzPoesia um programa rico em detalhes e histórias
importantes que, dificilmente, teriam espaço em outros programas de rádio, ou, como
defende o apresentador Diego Petrarca, poderia ter espaço em uma emissora com
objetivos culturais e não comerciais.
Digestivo e Passando o Rodo na Notícia
A programação diária da rádio Putzgrila conta com os programas Digestivo e
Passando o Rodo na Notícia, que vão ao ar de segunda-feira a sexta-feira às 12 horas e
13 horas, respectivamente. Netho Vignol é o apresentador do irreverente Passando o
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Rodo na Notícia, um programa que transmite aos ouvintes algumas notícias importantes
do dia e deixa clara a opinião do apresentador em relação aos fatos noticiados. Segundo
o próprio apresentador, a ideia do programa está diretamente relacionada ao
posicionamento político e comprometimento social do músico Netho Vignol. Metade
das notícias é previamente selecionada e o restante escolhido aleatoriamente pelo
apresentador durante o programa.
A principal característica do Passando o Rodo na Notícia é justamente a postura,
quase sempre, politicamente incorreta do apresentador. Sem papas na língua, Netho
Vignol refere-se à classe política brasileira usando o termo “corja” e, assim, desperta a
antipatia de muitas pessoas. Como ele mesmo afirma, o diretor da rádio, Pedro da
Fonseca, entrou em contato com o apresentador questionando o que teria sido falado em
determinado programa e que despertou a ira de integrantes de uma rádio FM importante
de Porto Alegre. Netho Vignol deixou claro neste episódio que em nenhum momento
durante quaisquer edições do Passando o Rodo na Notícia falava de outras emissoras ou
nomes de pessoas que ele não conhecia. As críticas feitas durante o programa eram
baseadas em argumentos concretos e dirigidas a pessoas que ele conhecia e, então,
poderia falar com autoridade.
O Passando o Rodo na Notícia foge um pouco da programação tradicional da
rádio Putzgrila no que se refere à música, uma vez que não é dedicado somente ao rock
and roll. Ainda assim, não é um programa de notícias como outro qualquer de rádios
comerciais. Foi encontrada uma “forma rock and roll” de noticiar, perfeitamente
integrada à linha editorial da Putzgrila. Sem falar que mesmo esse programa não deixa
de veicular músicas, colocadas como pano de fundo e que realçam ainda mais a
agressividade “rock and roll” dos comentários do apresentador. Nos programas de
quinta-feira, há um bloco chamado “Rock e Outras Pedradas”, com a participação de
Alcio Mota, neste bloco são dadas dicas de literatura, cinema e shows com o argumento
“porque rock é cultura e cultura é rock and roll”.
Rafael Cony é o apresentador do programa Digestivo, um dos mais conhecidos
da rádio Putzgrila. A proposta é transmitir aos ouvintes curiosidades, a história e
raridades do rock and roll fomentando a cultura da rádio dedicada ao gênero, além dos
grandes clássicos do rock nacional e internacional. Um dos blocos do Digestivo é o
“notícias antigas que fizeram a história do rock and roll”, no qual o apresentador
16
relembra fatos importantes da história do gênero de acordo com o dia em que o
programa vai ao ar.
No dia 27 de março de 2012, o bloco trouxe aos ouvintes uma notícia do dia 27
de março de 1964, que anunciava a primeira transmissão da “Rádio Caroline”, a
primeira rádio pirata da história, feita diretamente de um barco na costa da Inglaterra
com programação dedicada ao blues e rock and roll. Também foi comentado o
lançamento da coletânea Bob Dylan’s Greatest Hits, no mesmo dia, mas no ano de 1967
e, ainda, notícias dos anos de 1968, 1969 e 1986, e então, o bloco foi encerrado com
músicas relacionadas às notícias do dia.
O apresentador defende que a irreverência e a repercussão da rádio Putzgrila
estão relacionadas ao fato de que a maioria dos apresentadores não é jornalista e nem
possui experiência com a área de comunicação. Como a Putzgrila não está vinculada a
uma rede de comunicação, os apresentadores têm maior liberdade para falar o que
tiverem vontade sem precisar prestar contas a um superior. Rafael Cony é músico,
designer gráfico e produtor musical, e garante que não tinha o hábito de ouvir rádio
antes de fazer parte da Putzgrila, e isso fez com que ele estivesse livre de influências de
outros radialistas para fazer seus programas na rádio e ser mais autêntico. “Se alguém
escuta rádio, a probabilidade de fazer um programa nos moldes do que se está
acostumado a ouvir é bem grande”, acredita.
Programa experimental
A rádio Putzgrila também tem espaço para programas experimentais, como é o
caso de um que foi ao ar no dia 27 de março de 2012. Daniela Conegatti, produtora
musical e DJ, apresentou um programa sem nome definido com caráter experimental e
fugindo dos padrões de outras rádios. Neste programa, a apresentadora deixou clara a
intenção de dar preferência ao blues e jazz na composição da playlist. Sem roteiro ou
experiência no rádio, Dani Conegatti, como prefere ser chamada, conduziu o programa
de maneira despojada de preparação técnica, desconsiderando formas de linguagem e
estruturação radiofônica. Apenas solicitou a participação dos ouvintes para escolher as
músicas. Ela conta que conversou com o diretor Pedro da Fonseca enquanto ele fazia o
programa dele, disse que tinha muita vontade de participar da Putzgrila, então ele
17
perguntou se ela gostaria de experimentar como seria fazer o programa assim que
terminasse o Rocks.
O programa experimental teve uma edição, entrou definitivamente na grade de
programas da Putzgrila mais de um mês depois com o nome Jazzístico. O diretor Pedro
da Fonseca defende que a internet permite essa inovação e criação de novos conceitos, o
programa experimental em questão teve uma proposta interessante e, assim que a
apresentadora teve condições financeiras de colaborar com a Putzgrila, entrou para o
casting da rádio.
Publicidade na rádio web Putzgrila
A Putzgrila funciona como um clube, com mensalidades pagas pelos
apresentadores e apoiadores. A programação da rádio não apresenta muitos espaços de
publicidade, apenas durante os programas os próprios apresentadores anunciam o apoio
da loja Back In Black, do servidor de hospedagem na internet ARQS e da produtora
Marquise 51, e claro, as informações de endereço, telefone e site dos anunciantes. A
publicidade atual da rádio é caracterizada por produtos relacionados ao rock e à internet;
assim, entende-se que os apoiadores da emissora compartilham da identidade proposta
pela Putzgrila. Segundo o diretor da rádio, qualquer empresa interessada pode ser
parceira da rádio, não existe a necessidade de relação direta com o conteúdo veiculado
na emissora.
A característica que predomina na Putzgrila, para marcar intervalos, são as
inserções e vinhetas produzidas pela equipe da rádio. São vinhetas ligadas ao rock and
roll e que abordam de forma criativa e irreverente o tratamento da rádio ao tema. Em
algumas, há a reprodução de áudios de desenhos animados e de artistas importantes do
mundo da música, e que têm intervenções dos próprios apresentadores. Como exemplo
dessas reproduções, podemos citar áudios do Zé Colméia e Pica-Pau, entrevista com
Gilberto Gil e, ainda, recados de artistas para os ouvintes da Putzgrila, como é o caso de
uma vinheta feita com Jimmy, vocalista da banda Matanza.
Uma das vinhetas da Putzgrila é caracterizada pela mensagem que a rádio quer
passar aos ouvintes de que nela não existe o famoso “jabá”. Um apresentador repete
várias vezes a expressão “sem jabá”.
18
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluída a análise qualitativa de conteúdo da rádio web Putzgrila e da relação
com os conceitos desenvolvidos pelos autores citados em estudos sobre a Internet, o
rock and roll e o rádio, notamos que a Putzgrila tem aspectos em comum com as rádios
tradicionais de FM, mas diversos pontos distintos. Ao contrário de outras emissoras, a
Putzgrila apresenta uma proposta alternativa de fazer rádio destinado a um estilo
musical exclusivo.
A Putzgrila criou uma identidade própria dentre as emissoras da web com
objetivos, linguagem e programação diferenciados. Apesar de configurar uma emissora
online, uma modalidade em constante aprimoramento, remete ao início da história do
rádio no Brasil, como uma rádio sociedade e uma emissora que fomenta a cultura. O
velho e o novo são complementos. A rádio web utiliza uma estrutura administrativa
simples, no entanto, está adaptada às novas tecnologias que permitem um maior alcance
de audiência. A rotina da emissora está ligada ao dilema de permanecer independente do
aspecto comercial e arrecadar fundos suficientes para manter-se em funcionamento.
Os apresentadores com formação acadêmica em Comunicação Social
transmitem algumas características próprias do jornalismo em seus programas, têm mais
articulação para pronunciar e se comunicarem com os ouvintes, principalmente. E como
é o caso do diretor da rádio, em seu programa há vários momentos de intervenção para
informar a hora certa, uma característica muito presente na programação das rádios FM
e AM.
Uma vez que a intenção do diretor ao criar a rádio foi fazer um ambiente de
compartilhamento de novas ideias, a rádio Putzgrila não tende a transformar-se em uma
emissora de apresentadores exclusivamente formados em Comunicação Social. O prérequisito para fazer parte do clube é ter uma boa proposta de programa e afinidade com
o gênero rock and roll, independente de formação acadêmica.
O conteúdo apresentado na Putzgrila tem um caráter cultural muito forte e
defendido pelos integrantes do clube, em que o objetivo maior não é arrecadação para o
lucro individual. A prioridade da Putzgrila é oferecer conteúdo de qualidade, feito por
pessoas que gostam de rock and roll e destinado aos ouvintes que compartilham o
mesmo gosto musical.
19
Conforme pode ser observado no apêndice desta pesquisa, a programação do
mês de março de 2012 varia da apresentada em junho do mesmo ano. Tal fato é uma
consequência da política de rádio-clube, na qual cada apresentador contribui
mensalmente com as despesas da emissora para poder fazer um programa. Independente
do aspecto qualitativo, diversas atrações saem da grade de programas da Putzgrila por
questões financeiras. Esta situação, possivelmente, afeta a audiência da rádio e a
fidelização dos ouvintes que se identificam com determinado programa.
A publicidade tornou-se uma necessidade para financiar as despesas da própria
rádio. Essa publicidade reduzida permite uma liberdade significativa aos apresentadores
em relação à identidade de cada um, algo que eles defendem e que é percebido quando a
programação é acompanhada. No entanto, a grande rotatividade na grade de
programação pode ser relacionada à questão administrativa da Putzgrila, alguns
programas deixam de existir pela dificuldade que seus apresentadores têm de contribuir
financeiramente com a rádio.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CASTELLS, M. A Galáxia da Internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade.
Rio de Janeiro: Zahar, 2003. 247 p.
FERRARETTO, L. A. Rádio no Rio Grande do Sul (anos 20,30 e 40): dos pioneiros às
emissoras comerciais. Canoas: Editora da Ulbra, 2002. 256 p.
JANOTTI Jr., Jeder. Aumenta que isso aí é Rock and Roll – mídia, gênero musical e
identidade. Rio de Janeiro: E-Papers Serviços Editoriais, 2003. 106 p.
KISCHINHEVSKY, M. Cultura da portabilidade – Novos usos do rádio e sociabilidades em
mídia sonora. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 31.
Natal, 2008. Anais eletrônicos... Natal: UFRN, 2008. Disponível em: <
http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2008/resumos/R3-0057-1.pdf>. Acesso em: 23
out. 2011.
20
OLIVEIRA, A. P. MTV Brasil o mercado comercial da música jovem. Dissertação do
mestrado do Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale
do Rio dos Sinos. São Leopoldo, 2004, p.41-42.
PRADO, M. Produção de Rádio: um manual prático. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. 182 p.
RAUEN, F. J. Roteiros de investigação científica. Tubarão: Editora Unisul, 2002. 268p.
SILVA, H. L. Rádio FM, Rock e Rio de Janeiro: uma análise das estratégias de incursão da
Fluminense “A Maldita” e da Rádio Cidade “A Rádio Rock” no domínio das guitarras.
http://paginas.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/6o-encontro-2008-1/Radio%20FM%20Rock%20e%20Rio%20de%20Janeiro.pdf
SOUSA, J. P. Elementos de Teoria e Pesquisa da Comunicação e dos Media. Porto: Edições
Universidade Fernando Pessoa, 2006, p.722.
WISNIK, J.M. Algumas questões de música e política no Brasil. In: BOSI, Alfredo (Org).
Cultura brasileira: temas e situações. São Paulo: Ática, 1997, p.114-115.
21
ANEXO 1
Entrevista – Daniel Pellin (Good Day Sunshine)
- Você tem experiência com rádio, ou comunicação social em geral? Inspirase em alguém para apresentar o Good Day Sunshine?
Não tenho experiência prévia em rádio. A experiência que tenho, se é que podese chamar de experiência, foi adquirida nesses meus 4,5 anos na Rádio Putzgrila e
prestando muita atenção aos colegas mais experientes, como o Pedro da Fonseca,
idealizador da Putz. Com relação à experiência em comunicação social, sempre fui
metido nessa área. E continuo sendo... Já a inspiração para apresentar o Good Day
Sunshine vem de um ex-colega de rádio, o Camilo Bassols, que também era sucinto,
irônico e meio indignado.
- Quando você começou a apresentar o Good Day Sunshine? Chegou a
apresentar outro programa na Putzgrila?
Entrei para a Putz no início de 2008, convidado pelo Pedro para apresentar um
programa voltado para o indie rock e rock anos 2000. O programa chamava-se
Supernova. Depois criei o Semana Putzgrila, que ia ao ar nas sextas-feiras e tinha a
função de repassar o que de melhor havia acontecido na rádio durante a semana.
Reapresentação de entrevistas, músicas novas, notícias. O Good Day Sunshine está no
ar fazem 2 anos e foi uma idéia minha e do Gilberto Six. Concebemos juntos o nome e
formato. Fazia tempo queríamos um programa diário e matinal, pois além do horário da
manhã ter uma audiência fantástica, existia a necessidade de completarmos a grade de
programação e abrirmos espaço para novos programas na parte da tarde/noite.
- Você costuma elaborar um roteiro antes do programa ir ao ar?
Existe um roteiro informal, que na verdade é bastante flexível. Procuramos
respeitar as nossas diferenças. O mais importante é sentir a resposta do público quanto à
seleção musical e procurar notícias relevantes à nossa audiência.
- Quando o Gilberto Six apresenta o programa fica evidente que ele dá certa
preferência para os clássicos do rock e blues, você amplia o repertório e toca de
22
clássico a heavy metal passando por grunge e folk. Essa variedade foi pensada
para deixar o programa mais dinâmico?
Ela acontece naturalmente. É impensado mesmo. O Six é uma enciclopédia do
rock’n’roll. Ele sabe tudo, desde datas, integrantes das bandas, quem produziu, quem
cantou, quem foi e quem ficou. Sabe muita coisa dos anos 50, 60 e 70. Isso se reflete na
maneira dele apresentar o Good Day.
No meu caso, gosto muito dos clássicos do rock (influenciado pelos meus pais)
mas tive muito contato com coisas mais contemporâneas como punk, grunge e indie.
Sendo a Putzgrila uma rádio livre e independente, temos a liberdade e a honra de dividir
nossos gostos e preferências musicais com nossos ouvintes.
- A comparação entre os programas apresentados por cada um é inevitável.
O Six fala de rock, mas também de notícias aleatórias, você se pauta para ter um
diferencial?
Somos naturalmente diferentes. Mesmo que quisesse, não conseguiría apresentar
da mesma forma. Repasso algumas notícias de capa de jornais e, se houver, alguma
informação curiosa ou agenda de shows. Como o nosso programa vai das 10 às 13h e,
nesse horário, as pessoas estão trabalhando no computador, procuro falar somente o
necessário. Em boca fechada não entra mosca.
- Algum dia você deixou de tocar uma determinada música por acreditar
que ela não estivesse de acordo com os preceitos da rádio? Já reclamaram de
alguma música que você colocou no programa alegando que não era rock?
Sim, deixei de tocar diversas vezes. Temos essa proposta indefinidamente
definida de tocar o clássico do rock, mesmo que ele seja punk, country, folk, heavy
metal ou indie, e se acho a música inapropriada para o Good Day Sunshine peço para o
ouvinte gentilmente escolher outra que tenha mais a ver com a proposta. Geralmente
eles são simpáticos e dão outra sugestão.
Que eu me lembre somente uma vez um ouvinte reclamou. Se não me engano, a
artista era Dolly Parton e a música, Jolene. Até entendi a reclamação dele, mas ainda
acho que ele tinha que escutar com um pouco mais de atenção, afinal os White Stripes
regravaram essa música.
23
- Você acha que a publicidade reduzida na Putzgrila contribui para a
liberdade da própria rádio em inovar e veicular propostas diferentes? Ou a
publicidade não interfere nesse aspecto?
Sem dúvida contribui sim. Mas os poucos apoiadores que temos nos escolheram
justamente por nossa identidade roqueira. Entendem nossa proposta e são nossos
parceiros. Estão conosco, pois acreditam que fazemos algo diferente e jamais tivemos
algum tipo de interferência em nossa maneira de agir e pensar. Certamente a
publicidade, em outro nível de investimento, interfere muito na pauta das rádios. Ainda
não é o nosso caso e espero que nunca seja.
Entrevista – Diego Petrarca (PutzPoesia)
- Como surgiu a ideia do PutzPoesia? Há quanto tempo ele faz parte da
programação da Putzgrila?
O programa começou em agosto de 2011 na programação da rádio. Mais
precisamente no último dia de agosto de 2011. Há 10 meses está no ar. A ideia surgiu de
Fernando Ramos (que apresenta junto comigo), uma forma de falar de poesia e literatura
de um modo geral, mas, sobretudo, poesia, que em determinado momento da cultura
pop dialogou com o rock, a identidade da rádio. A contracultura permitiu o diálogo do
rock com a poesia, com o discurso literário nas canções, um exemplo: Bob Dylan, outro
exemplo: Jim Morrison. Seguem inúmeros exemplos, sobretudo no Brasil, pois quem
talvez tenha melhor desenvolvido a estética anárquica, embora não tenham feito
propriamente rocks, foi o Tropicalismo, que contava com poetas em sua equipe. O
Tropicalismo foi rock na atitude agressiva na postura e no conceito. E talvez Os
Mutantes tenham sido a primeira banda de rock no sentido musical da palavra, pois A
Jovem Guarda estava mais centrada no Iê Iê Iê. O chamado rock Brasil, contava com
poetas com nítidas referências literárias: Júlio Barroso, Cazuza, Arnaldo Antunes,
Renato Russo, Tavinho Paes, Humberto Gessinger. Nesse sentido, pensamos que numa
rádio rock a poesia não era um corpo estranho. Fernando Ramos me convidou e assim
fizemos o programa, foi dele que partiu a ideia e proposta do programa.
24
- O Putzpoesia é um programa completamente diferente das propostas de
outras rádios. Você acha que esse programa funcionaria em outras emissoras?
Certamente. O fato de ser uma rádio web permite uma independência maior,
uma liberdade de arriscar algo que não seja exatamente um sucesso radiofônico ou algo
que caia como uma luva para as exigências de mercado. Por isso a liberdade criativa
hoje em dia respira mais pela rádio web. Mesmo assim, acredito que numa rádio FM, o
programa teria sim uma boa recepção, pois apresenta peças raras de leitura, de audição
da voz, recupera o texto que é a base do rádio, o discurso puro e não apenas a música.
Talvez funcionasse mais numa rádio com intenções mais culturais, mais centradas ao
conteúdo e não ao mercado. Um programa funciona na medida em que é bem produzido
e preparado, não exatamente na medição da audiência, até porque poesia não tem
público. E talvez uma das virtudes do PutzPoesia seja exatamente essa; a de oferecer
outro suporte/veículo para veiculação da poesia, o áudio, a fala, poesia escrita para os
ouvidos, como é mesmo a sua origem: oral.
- A Putzgrila tem a proposta de tocar o melhor do rock, o Putzpoesia acaba
fugindo um pouco disso, no programa vocês tocam vários outros estilos. Foi difícil
convencer o diretor de que a ideia era boa o suficiente para entrar na grade da
rádio?
Não, pelo contrário. A rádio Putzgrila é especializada em rock e uma das
pioneiras em rádio web aqui no sul, isso possibilitada uma liberdade de abrir outros
caminhos sem perder o seu perfil: justamente por já ter consolidado esse terreno do rock
em sua programação e conceito, pode sugerir outras coisa que partam justamente do
rock. Ou seja; o rock não precisa ser mostrado apenas no som, mas em outros suportes:
a linguagem, por exemplo. Fernando Ramos e eu sempre tentamos equilibrar a peça
musical rock sem perder o nosso tema ou abordagem que é a palavra, a poesia, pois
reconhecemos que existem inúmeras associações e brechas de interação entre o rock e a
palavra escrita. Os outros estilos mencionados existem para cumprir uma função do
poema, que é nosso foco, o da palavra, e não do tema musical, que ainda deve ser
essencialmente rock. O Pedro Fonseca, que dirige a rádio, nos deu essa liberdade e logo
entendeu nossa proposta sem descaracterizar o embrião da rádio, tivemos total apoio. O
próprio Pedro aprovou essa liberdade e alcance da poesia, disse que isso deve ser
oferecido também, pois a relação é pertinente.
25
- Um dos diferenciais da Putzgrila é que a minoria dos apresentadores tem
formação jornalística. No caso do Putzpoesia isso faz toda a diferença uma vez que
os apresentadores têm muito mais intimidade com os assuntos abordados. Você
acredita que isso seja um ponto positivo para a rádio?
Certamente, o fato de conhecermos bem o assunto possibilita achar esses
caminhos de relação com o rock, e também fazer algo mais dinâmico, mais afinado com
a linguagem da rádio. Eu tenho formação em letras e poesia, o Fernando organiza
praticamente sozinho durante 5 anos o FestiPoa Literária, tá sempre por dentro de tudo,
além de editar há muito tempo o Jornal Vaia, que destaca muito a literatura, mas o que
determina é nossa postura de leitores e apreciadores livres da linguagem. Não
pretendemos algo didático, algo que forme algum ouvinte, mas sim as infinitas
possibilidades de brilho da linguagem e suas variações que espirram na canção, na arte
plástica, nas ruas, na cidade, enfim, na vida de um modo geral. A existência da poesia
como algo tão comum quanto respirar, seus autores, ideias, etc.
- Como são escolhidas as personagens tema de cada programa?
Fernando Ramos e eu conversamos a respeito, percebemos datas relevantes,
coincidências, um filme em cartaz pode gerar a pauta de um programa, um livro sendo
lançado, recebemos convidados também e destacamos seus projetos, pode ser uma obra,
um autor, uma série de poemas e canções, tudo isso pode determinar o programa e sua
organização. Não existe tema fico, a não ser a poesia e a literatura, pode variar. Tem
vezes que é uma miscelânea total, tem outros que é mais direcionado.
- Existe um roteirização do programa?
Existem anotações e percursos que eu faço e que Fernando faz. Sempre
selecionamos faixas afins e distribuímos na hora. Sempre equilibrando informação e
leitura ao vivo e alguma e fundamental divagação, pois a graça está também em nossas
próprias observações. Eu tenho um amplo material de leituras de poesia, o Fernando
também. Muitas vezes vamos além dessas organizações, por outras seguimos mais a
risca, como o meu caso. Mas o Fernando sempre improvisa com mais eficiência do que
minhas anotações. Ambas conduzem o programa.
26
Entrevista – Fernando Ramos (PutzPoesia)
- Como surgiu a ideia do Putzpoesia? Há quanto tempo ele faz parte da
programação da Putzgrila?
Surgiu em final de agosto de 2011 e desde lá integra a programação da rádio.
- O Putzpoesia é um programa completamente diferente das propostas de
outras rádios. Você acha que esse programa funcionaria em outras emissoras?
Acho que sim, funcionaria.
- A Putzgrila tem a proposta de tocar o melhor do rock, o Putzpoesia acaba
fugindo um pouco disso, no programa vocês tocam vários outros estilos. Foi difícil
convencer o diretor de que a ideia era boa o suficiente para entrar na grade da
rádio?
O pessoal da Putzgrila, e o Pedro Fonseca principalmente, sempre nos deixou
muito à vontade pra definirmos o perfil do programa. É verdade, a gente não se
preocupa muito em tocar o “melhor do rock”, e sim aproximar e deixar um tanto em
sintonia as músicas que rodamos com o repertório poético escolhido a cada programa.
E a gente nem tanto conhecimento assim de repertório rock and roll, de modo que
tocamos de um jeito “amador” o programa.
- Um dos diferenciais da Putzgrila é que a minoria dos apresentadores tem
formação jornalística. No caso do Putzpoesia isso faz toda a diferença uma vez que
os apresentadores têm muito mais intimidade com os assuntos abordados. Você
acredita que isso seja um ponto positivo para a rádio?
Provavelmente sim. Como disse antes, a gente é “amador”. Mas no duplo
sentido da palavra.
- Como são escolhidas as personagens tema de cada programa?
Geralmente, no trajeto que percorremos do endereço da rádio (que fica no
Bonfim) até a Cidade Baixa conversando sobre isso e aquilo, já alinhavamos algumas
ideias e pautas.
27
- Existe um roteirização do programa?
Quase sempre sim. Mas há sempre também espaço (e muito) para o improviso,
para acontecer “naturalmente”.
Entrevista – Netho Vignol (Passando o Rodo na Notícia)
- Qual foi o pontapé inicial do Passando o Rodo na Notícia? Ele foi pensado
para suprir uma lacuna que existia em outras rádios que tocavam rock?
Não! Vejo isso como que ao acaso. Fui convidado por um amigo que se tornou
colega da rádio chamado Rafael Cony que insistiu na minha participação no clube. Por
minhas posições políticas, meu pensamento sempre no social e a forma veemente como
me expresso ele achou que daria um bom retorno de audiência. Claro que arriscamos,
pois não sabíamos como reagiria um público que foge das rádios convencionais e temas
que não atraem muita simpatia, pois todos escutam musica na web para relaxar e minha
proposta a princípio é pra deixar alerta. Como comecei a resposta “ao acaso” não
precisava ter medo de nada, pois não tinha nada a perder. Afinal a irreverência é célula
mater do rock. O nome veio desse estilo despojado e sem preocupação com o
politicamente correto.
- Nas notícias relacionadas à política ficou evidente que você não tinha
papas na língua para comentá-las. Alguma vez você sentiu-se constrangido diante
dos colegas da rádio por ter falado alguma coisa que não agradou a todo mundo?
Uma vez o Pedro Fonseca me ligou perguntando o que eu tinha falado, pois o
pessoal da Ipanema FM tinha ligado pra ele reclamando de mim. Expliquei a ele que
não falava sobre outras rádios nem sobre outros colegas que sequer conhecia. Não falei
nada a não ser o meu alvo preferido que são os políticos corruptos e seus desvios de
conduta, verba e carácter. Até hoje não sei o que aconteceu ou o que falaram também
não quero saber e se algum dia quiserem que mude meu discurso vou embora na mesma
hora. Depois disso nunca mais falaram nada a não ser ficarem perplexo pela forma com
que falo da “corja”.
- As notícias de cada edição eram escolhidas aleatoriamente ou o Passando o
Rodo na Notícia era planejado com alguma antecedência?
28
Olha só, eu faço 50% matérias de pesquisa e outros 50% faço aleatoriamente e
improviso comentários e pensamentos.
- Você se pautou em alguma personalidade para fazer o programa de rádio?
Já tinha alguma experiência na área?
Certamente no meu subconsciente estão plantadas figuras com discurso forte e
postura meio belicosa, mas de verdade não pensei em ninguém para me espelhar. Não
eu nunca tive experiência alguma na área fiz tudo de forma intuitiva com ajuda dos
colegas. Sinto falta de uma capacitação melhor para desenvolver o programa, mas
vamos atrás disso agora que gostei da “brincadeira”.
- Hoje as rádios são muito parecidas, tanto na abordagem quanto na grade
de programação. O que você acha que a Putzgrila tem de mais diferente das
outras?
Realmente é a irreverência dos apresentadores.
- Tem algum aspecto na programação da Putzgrila que poderia ser ainda
mais ousado? Apesar da irreverência, alguns programas têm moldes muito
parecidos com os das rádios tradicionais de FM.
Bom é difícil fugir do padrão, pois as pessoas estão acostumadas a ele tanto
quem faz a rádio quanto quem ouve. Para ser competitivo você tem que se adequar as
regras embora eu particularmente ache que a saída é exatamente ao contrario. Os
anunciantes têm medo de serem muito agressivos e afastar os clientes. Os diretores das
rádios tem a mesma postura.
Na verdade os gaúchos são tradicionais por natureza e o desafio é esse quebrar
paradigmas e lançar o que é novo.
Entrevista – Pedro da Fonseca (Diretor da Putzgrila e Rocks)
- Quantos membros ativos a Putzgrila tem?
São quinze membros ativos.
29
- A Putzgrila surgiu com a ideia de contemplar determinada época ou estilo
de rock, ou toda e qualquer modalidade relacionada ao gênero?
Surgiu com a intenção de colocar ideias no ar, no início a putz não era só uma
rádio de rock, cada integrante fazia seu programa independente, depois com a chegada
da galera rocker (amigos, colegas com a influencia em comum) decidimos pela
hipersegmentação.
- Existe algum tipo de controle, censura, aos apresentadores da rádio? Algo
que não possa ser dito ou música que não possa ser veiculada?
Cada comunicador é responsável pelo seu horário, a única censura é referente ao
som, a música, precisa ser rock de qualidade, a cobrança é feita pelos próprios ouvintes,
que quando não estão de agrado, mandam e-mail reclamando.
- Qualquer pessoa pode fazer parte da Putzgrila? Quais são os critérios
para permitir, ou não, que alguém faça um programa na rádio?
Qualquer pessoa com um projeto legal, pode ser sócio do clube putzgrila,
cobramos uma mensalidade (como a rádio é independente) para pagar os gastos da
rádio.
- O Cony defende que o sucesso da Putzgrila está diretamente relacionado
ao fato de a maioria dos apresentadores não ter formação e experiência em
Comunicação Social. Essa diferença entre jornalistas e amantes do rock fica bem
evidente na apresentação dos programas, você concorda que esse é um fator
positivo na rádio ou gostaria que mais jornalistas fizessem parte da Putz?
O Cony se desligou da rádio.
Acredito que o sucesso da Putz está ligado a fidelidade com o estilo música e a
dedicação de cada colaborador (locutor) que faz a putz por amor e ainda desembolsa
uma grana pra fazer a rádio funcionar. É difícil algo dar errado quando é feito por tesão
e amor.
- A Putzgrila sempre tem espaço para programas experimentais? A Dani
Conegatti fez um programa sem roteiro, sem nome e que teve só uma edição no dia
27/03. Isso não existe em outras rádios, todos os programas têm um piloto e podem
30
cair da grade de programação ou eventualmente acontecem esses casos de uma
edição só?
Por isso é web, a web permite inovar, criar novos conceitos. A Dani fez um
programa experimental, não tinha grana pra dar sequência, pirou depois que fez e agora
faz parte do casting putzgrilico.
- Como acontece a publicidade na Putzgrila? Os possíveis anunciantes são
pré-selecionados de acordo com a proposta da rádio ou qualquer pessoa/empresa
que tenha vontade pode anunciar na rádio?
Qualquer empresa
- Como uma web rádio se mantém? Só os anúncios na Putzgrila são
suficientes?
Funcionamos como um clube, com mensalidade, como nas antigas rádios do
século passado e com nossos apoiadores.
- A Putzgrila tem uma grande “rotatividade” na grade de programas,
alguns estão no ar há mais de um ano e outros ficam por poucos meses. A quais
motivos você credita isso? É um ponto positivo da rádio ou você considera um
problema?
A programação se molda com a disponibilidade de cada locutor, essa
rotatividade se deve porque a maioria dos locutores estuda, então muda o semestre,
muda o horário. Também por problemas de ordem profissional, a rádio é um
entretenimento, não dá receita, então nos viramos como podemos.
- A respeito do Rocks, você usa algum roteiro ou faz o programa no
improviso?
Como faço 6 horas pela parte da manhã na rádio Pampa, (das 6h até o meio-dia)
chego às 13h afiado nas notícias e as músicas vou tocando o que me vem em mente.
Quando há entrevistas ai sim, exige uma preparação antes de o programa ir ao ar.
31
Entrevista – Rafael Cony (Digestivo)
- Qual foi o pontapé inicial do Digestivo? Ele foi pensado para suprir uma
lacuna que existia em outras rádios que tocavam rock?
O Digestivo foi um programa criado quando optei por fazer um programa diário.
Antes dele eu apresentava o Rafael ao Cubo e o Flying Circus, ambos os programas
semanais. O Digestivo não foi pensado em suprir lacunas de outras rádios, até porque eu
não escutava - e não escuto - rádio. Parti de um conceito e pensamento de que a rádio,
os programas de rádio, servem como ferramenta para mostrar uma cultura, rocker no
caso da rádio Putzgrila, com curiosidades, história, músicas não usuais, raridades. Não
acredito, justamente por não ter as referências de outras rádios, que o Digestivo tenha
sido uma inovação ou suprir uma lacuna. Eu fazia um programa que seria o programa
que eu gostaria de ouvir se escutasse rádio.
- O programa tinha algum planejamento ou era tudo decidido na hora?
No começo sim. Como o programa seguia um roteiro geral, porém com diversos
quadros diários, eu pesquisava fatos históricos do dia no google e buscava em minha
discoteca referências musicais de rock que fizessem ligação com tais fatos. Muitas
vezes coisas absurdas, como o dia em que historicamente Dom João IV voltou para
Portugal eu toquei Mutantes, com a música Portugal de Navio e a notícia de que a
Sandy tinha dito que gostava de sexo anal (ou alguma coisa assim), quando toquei
Velhas
Virgens
com
a
música
"Quero
te
ver
gozar
pelo
cu".
E tinha também o bloco das Notícias Antigas que Fizeram a História do Rock and Roll,
onde no começo eu também olhava antes para buscar em minha discoteca as músicas
que ilustravam as notícias. Tinha uma pré-produção, mas com o tempo tornou-se mais
divertido fazer, prático e rápido fazer tudo na hora. Praticamente o primeiro ano foi
produzido, depois era feito na hora.
- Algum dia você deixou de tocar alguma música por acreditar que ela não
estivesse de acordo com os preceitos da rádio? Houve algum tipo de represália em
relação a alguma coisa que foi ao ar no Digestivo?
Nunca deixei de tocar músicas que eu decidia. Claro que existiram pedidos que
eu não atendi, como Legião Urbana, Engenheiros do Hawaii e outras bandas que, além
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de eu não gostar, na minha visão não estavam de acordo com a proposta. Uma vez uma
colega reclamou que eu tinha tocado Kesha, mas foi uma coisa dentro de um contexto,
depois que publicaram um video dela tocando uma música dos Rolling Stones - Dead
Flowers -, e na hora aproveitei para tocar todas as versões possíveis que eu tinha em
mãos.
- Você se pautou em alguma personalidade para fazer o programa de rádio?
Já tinha alguma experiência na área?
Minha única referência foi o Mutuca. Minha experiência de rádio até então era
de entrevistas da minha banda. Fui na Rádio Putzgrila a convite de uma das pessoas
ligada a ela no começo, para falar sobre rock psicodélico. Levei algumas raridades da
minha discoteca e fui convidado a apresentar um programa. Acho que não muito
diferente dos outros apresentadores.
- Hoje as rádios são todas muito parecidas, tanto na abordagem quanto na
grade de programação. O que você acha que a Putzgrila tem de mais diferente das
outras?
Espontaneidade. Talvez o fato de ser uma rádio apresentada por não radialistas.
Também a liberdade de não ter que prestar contas para alguma rede de comunicação.
- Tem algum aspecto na programação da Putzgrila que poderia ser ainda
mais ousado? Apesar da irreverência, alguns programas têm moldes muito
parecidos com os das rádios tradicionais de FM.
Isso depende de cada apresentador e suas experiências. Se alguém escuta rádio, a
probabilidade de fazer um programa nos moldes do que se está acostumado a ouvir é
bem grande.
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ANEXO 2
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APÊNDICE
PROGRAMAÇÃO SEMANAL DA PUTZGRILA NO MÊS DE MARÇO DE 2012
Segunda-feira
10 horas: Good Day Sunshine – apresentação: Gilberto Six
12 horas: Passando o Rodo na Notícia – apresentação: Netho Vignol
13 horas: Digestivo – apresentação: Rafael Cony
15 horas: Latinoamerica – apresentação: Chapolin
Terça-feira
10 horas: Chá das 10 – apresentação: Alessandra Rodrigues
12 horas: Passando o Rodo na Notícia – apresentação Netho Vignol
13 horas: Digestivo – apresentação: Rafael Cony
18 horas: Let’s Start… - apresentação: Homero Pivotto Jr.
20 horas: Rockarina – apresentação: Carina Gertz
Quarta-feira
10 horas: Good Day Sunshine – apresentação: Gilberto Six
12 horas: Passando o Rodo na Notícia – apresentação Netho Vignol
13 horas: Digestivo – apresentação: Rafael Cony
20 horas: Rockin All Over The World – apresentação: Caio Rocha
22 horas: Pé na Porta – apresentação: Mumu
Quinta-feira
10 horas: Good Day Sunshine – apresentação: Daniel Pellin
12 horas: Passando o Rodo na Notícia – apresentação: Netho Vignol
13 horas: Digestivo – apresentação: Rafael Cony
15 horas: RockBR – apresentação: Iran Rosa
Sexta-feira
12 horas: Passando o Rodo na Notícia – apresentação Netho Vignol
13 horas: Digestivo – apresentação: Rafael Cony
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15 horas: Rocks – apresentação: Pedro da Fonseca
18 horas: Laika Rock – apresentação: Manoel Canepa
19 horas: PutzPoesia – apresentação: Diego Petrarca e Fernando Ramos
Sábado
14 horas: Expedição ao Rock – apresentação: Marcos Vinicius Cardoso
16 horas: 4 Old Times – apresentação: Ismael Silveira
PROGRAMAÇÃO SEMANAL DA PUTZGRILA NO MÊS DE JUNHO DE 2012
Segunda-feira
10 horas: Good Day Sunshine – apresentação: Gilberto Six
13 horas: Rocks – apresentação: Pedro Fonseca
15 horas: Latinoamerica – apresentação: Chapolin
20 horas: Área 51 – apresentação: Alessandra Rodrigues
Terça-feira
10 horas: Good Day Sunshine – apresentação: Daniel Pellin
18 horas: Let’s Start… - apresentação: Homero Pivotto Jr.
Quarta-feira
10 horas: Good Day Sunshine – apresentação: Gilberto Six
13 horas: Rocks – apresentação: Ismael Calvi
15 horas: Sleazy Zone – apresentação: Victor Corleone e Chris Young
20 horas: Rockin All Over The World – apresentação: Caio Rocha
22 horas: Pé na Porta – apresentação: Mumu
Quinta-feira
10 horas: Good Day Sunshine – apresentação: Daniel Pellin
20 horas: Rockarina – apresentação: Carina Gertz
Sexta-feira
10 horas: Good Day Sunshine – apresentação: Gilberto Six
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13 horas: Day Tripper – apresentação: Renata Gayeski
16 horas: Jazzistico – apresentação: Dani Conegatti
18 horas: Laika Rock – apresentação: Manoel Canepa
19 horas: PutzPoesia – apresentação: Cris Cubas, Diego Petrarca e Fernando Ramos
Sábado
14 horas: Expedição ao Rock – apresentação: Marcos Vinicius Cardoso
16 horas: 4 Old Times – apresentação: Ismael Silveira
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