ODONTOLOGIA Hipnose auxilia no tratamento de fóbicos Elis Gerusiane Ramos Técnicas de hipnose utilizadas em uma clínica odontológica em Pouso Alegre ajudam a trazer pacientes que possuem algum tipo de fobia de volta à cadeira do dentista. A cirurgiãdentista Rafaella Aquino é a única profissional da região que tem capacitação para o uso da hipnose, tendo feito um curso de aperfeiçoamento pela Associação Brasileira de Hipnodontia. Segundo ela, a hipnodontia auxilia nos casos em que há ânsias de vômito, ajuda a eliminar o hábito de roer unhas, sucção de polegar, diminui o medo de agulha, o medo de anestesia, barulho de motor, e pode ser usada como coadjuvante ou substituto do anestésico. O auxiliar de enfermagem João Batista de Carvalho conta que procurou o consultório para uma consulta periódica e relatou à dentista o seu grande medo de anestesia. Ela então sugeriu que iniciassem as sessões de hipnodontia. “A dentista aplicava as técnicas e eu ia acatando, logo percebi que me sentia mais relaxado e, a partir da segunda sessão, tivemos um aprofundamento das técnicas de relaxamento e eu pude notar que aquele pavor que eu tinha foi passando. Já na terceira vez que eu voltei ao consultório, consegui fazer todo o procedimento, que foram as restaurações de duas cáries profundas, sem o uso de qualquer anestésico”. Carvalho diz ainda usar as técnicas de hipnose que aprendeu para relaxar, diminuir as dores do corpo e diminuir o estresse, mesmo durante o seu horário de trabalho. É fundamental que o dentista capacitado para realizar o tratamento odontológico com o uso da hipnose tenha um mínimo de conhecimento das características psicológicas de seus pacientes. “É através da imaginação do paciente que o transe se inicia, é preciso incentivar 10 Rafaella (esq.) atende Luiz Henrique para tratamento de cárie pensamentos agradáveis que prendam a atenção de quem se submete à hipnose; ele deve também seguir as sugestões que eu dou. Procuro sugerir direções de pensamento seguindo as áreas de maior interesse dessa pessoa, uso como instrumento somente um ritmo constante e monótono de voz”, explica a hipnodontóloga Rafaella Aquino. A imaginação é o principal aliado da hipnodontóloga quando o tratamento odontológico é em crianças. Segundo a auxiliar de consultório Daniela Augusta Fernandes, todo o tempo que a criança passa dentro do consultório, seja enquanto espera, ou durante o tratamento, precisa ser preenchido com coisas agradáveis, o que já faz parte do processo hipnótico. Luiz Henrique, de 10 anos, não vê o menor problema em ir ao dentista, para ele é mais um momento de diversão. “Eu gosto de ir ao dentista por que lá eu desenho, as- sisto ao filminho e a doutora Rafaella conta a história do Bob Esponja para mim.” Segundo Rafaella, “os tipos de transe variam de acordo com a capacidade de cada um. Há os que conseguem apenas um transe leve, que é quando a pessoa consegue se sentir mais relaxada, com a respiração mais ritmada e devagar. Já no transe médio, o paciente vai se concentrando mais e tem um relaxamento corporal inteiro. No transe profundo é possível ter até sonhos durante a sessão e vivenciar aquela situação de uma maneira muito real”. A pessoa hipnotizada mantém o controle de toda situação durante o transe. Seja qual for o nível, ela só fará aquilo que quiser ou o que está preparada para fazer. “Se eu pedir para uma garota de programa tirar a roupa durante a sessão, ela vai tirar, pois ela já está acostumada com esta situaçã. Se eu pedir para uma estudante fazer o mesmo ela sairá do transe no mesmo momento, pois é uma tarefa que sai do seu cotidiano”, completa Rafaella. O uso da hipnose na odontologia é regulamentado pelo decreto lei nº 5.081; artigo 6º, item 4, legalizado em 24/08/76 e diz: “compete ao cirurgião dentista empregar técnicas de hipnose, desde que comprovadamente habilitado e, quando constituir meio eficaz para o tratamento”. Mas há ainda poucos profissionais que procuraram fazer o curso de hipnose. O cirurgião dentista Rômel Pereira diz não ter intenção de se capacitar na área. Ele explica que, “a técnica é um pouco difícil e no final das contas acaba saindo mais caro o tratamento, pois eu teria que dispensar um tempo muito longo para cada paciente”. O que cada paciente vivencia durante o transe pode ser experimentado por qualquer pessoa em situações do dia-adia. Rafaella diz que, “entre os tipos de uso de hipnose estão a anestesia psicológica, que ocorre, por exemplo, quando a pessoa encontra um hematoma em seu corpo que não sabe onde e nem quando machucou, pois no momento da batida, não houve dor. Há também a surdez seletiva, quando a atenção está tão centrada numa situação que não se ouve as pessoas ao redor”. Ainda existem mitos em torno do uso da hipnose, originados principalmente pelas demonstrações feitas por pessoas que conhecem a técnica, mas a utilizam como forma de entretenimento nos palcos. Segundo Rafaella, “é preciso que a pessoa perca primeiro o medo da hipnose em si, para depois conseguir diminuir seu medo de dentista”, para ela a melhor maneira de compreender a hipnose é que possibilita um estado de relaxamento e concentração profundos, no qual a mente se afasta dos cuidados e preocupações cotidianas. PRIMEIRA PÁGINA, Novembro de 2004