O uso de probióticos para o tratamento do quadro de Intolerância à

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Revista Ciencia & Inovação - FAM - V.2, N.1 - DEZ - 2015
O uso de probióticos para o tratamento do quadro de
Intolerância à Lactose
Luiza Pouzas Straessli Pinto
Marta Baracho
Doutora em Genética e Biologia Molecular pela
Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP;
Pesquisador Colaborador, Faculdade de Engenharia
Agrícola, UNICAMP; Docente do curso de
Biomedicina da Faculdade de Americana - FAM.
Bacharel em Ciências Biomédicas graduada pela
Faculdade de Americana- FAM
Paula Cervone de Almeida
Bacharel em Ciências Biomédicas graduada pela
Faculdade de Americana- FAM
Patrícia Ucelli Simioni.
Doutora em Genética e Biologia Molecular,
UNICAMP. Docente do curso de Biomedicina,
Faculdade de Americana, FAM.
RESUMO
A intolerância e a alergia à lactose são
patologias comuns em diversas populações atingindo
as mais variadas faixas etárias e costumam ser
popular e frequentemente confundidas. Entretanto,
A intolerância à lactose, caracterizada por sintomas
generalizados, tais como alterações de pressão
da diminuição total ou parcial da atividade da
enzima lactase, responsável por hidrolisar a lactose.
O tratamento convencional envolve a retirada total ou
parcial do leite e seus derivados e a suplementação
com cálcio. Entretanto, estudos recentes têm
demonstrado que o uso de probióticos pode gerar uma
melhoria efetiva da qualidade de vida dos portadores.
Probióticos são compostos por microrganismos cujos
produtos são capazes de repor ou substituir a
lactase. Nesse contexto, a presente revisão tem como
objetivo apresentar dados da literatura que comprovem
completamente distinto. O conhecimento dessas
diferenças é fundamental para se entender os efeitos
produzidos por cada uma, que pode variar de um
A alergia a lactose é mais frequente em recémnascidos e é causada por uma reação imunológica,
onde a proteína presente no leite, mais frequentemente
a β-lactoglobulina, seguida da caseína, desencadeia
uma reação alérgica. Embora esses sejam alimentos
construtores e o organismo tenha a capacidade de digerilos, as proteínas do leite por vezes são reconhecidas
pelo sistema imune como antígenos desencadeadores
de uma resposta imunológica, provocando assim o
desenvolvimento de respostas alérgicas.
terapêutica para pacientes intolerantes à lactose.
Palavras chaves: Próbioticos, prébioticos, intolerância
a lactose, lactase. Keywords: Probiotic, Prebiotic,
Lactose intolerance, lactase.
Já no quadro de intolerância a lactose não
há associação com a resposta imunológica, ou seja,
os agentes causadores da doença são alterações
nos processos metabólicos de digestão e absorção
RESUMO EXPANDIDO
O quadro clínico conhecido popularmente
como intolerância à lactose (galactose β-1,4 glucose)
caracteriza-se principalmente pela diminuição parcial
ou total da atividade da enzima lactase na mucosa
do intestino delgado dos indivíduos acometidos pela
doença. Esta enzima é a responsável por hidrolisar
o dissacarídeo lactose em dois monossacarídeos,
a glicose e a galactose. Com a redução da enzima
lactase, ocorre o aparecimento de sintomas abdominais
genético, onde a produção da enzima é reduzida,
sendo o quadro de ausência completa desta enzima
uma alteração muito rara.
Quando a produção de β-galactosidase,
popularmente conhecidas como lactase e responsável
pela quebra da lactose, se encontra reduzida nas
vilosidades do intestino delgado, a lactose não
é quebrada totalmente, ocorrendo um aumento
da concentração desse dissacarídeo no cólon. A
cólica e diarreia. A aceitação do leite e seus derivados
por pessoas intolerantes varia de acordo com o nível
de intolerância apresentado.
no colón leva ao aumento do trânsito intestinal e da
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pressão intracolônica. Esses fatores resultam nos
sintomas característicos da doença.
CARRILHO, 2012). A alergia à lactose frequente
em recém-nascidos é causada por uma reação
imunológica, onde a proteína presente no leite, mais
frequentemente a β- lactoglobulina e a caseína. Essas
proteínas do leite por vezes são reconhecidas pelo
sistema imune, provocando assim o desenvolvimento
da alergia (FLISS; PECQUET, 2003; GASPARIN;
CARVALHO; ARAUJO, 2010; MATTAR; DE CAMPOS
MAZO; CARRILHO, 2012). A má absorção de lactose
ou hipolactasia possui três formas distintas: primária,
secundária e deficiência congênita. A primária é a
mais comum em adultos, a secundária ou adquirida
é causada por alterações no trato gastrointestinal e a
congênita, como o próprio nome já diz, é detectada
ausência de lactase no indivíduo durante toda a vida
(CUNHA et al., 2008b; MISSELWITZ et al., 2013)
Os probióticos são classicamente definidos
como suplementos alimentares à base de
microrganismos vivos, que afetam beneficamente o
hospedeiro, promovendo o balanço de sua microbiota
intestinal. Os probióticos têm uma influência benéfica
sobre a microbiota intestinal humana e incluem
fatores como efeitos antagônicos, competição e efeitos
imunológicos. Entretanto, a terapia com probióticos
para tratamento de alergia e intolerância à lactose é
um tema pouco estudado, visto que os dados obtidos
relacionados com esse tipo de terapia são muito
recentes.
Nesse contexto, a utilização de probióticos e
prebióticos vem sendo descrita como um importante
mecanismo coadjuvante no tratamento de pacientes
com intolerância à lactose, como alternativa na busca
de terapias para melhoria do quadro clínico desses. A
intolerância à lactose, total ou parcial, é um problema
que acomete grande parte da população mundial. Deste
modo, o estudo e entendimento das novas práticas de
tratamento e terapia, que possam auxiliar a retardar
a progressão dos sintomas ou aumentar a melhora
do paciente devem ser considerados. Nesse sentido,
a inserção de probióticos na dieta para o tratamento
desses pacientes intolerantes à lactose, com intuito
de melhorar a qualidade de vida dos mesmos, é uma
alternativa que deve ser amplamente estudada e
divulgada.
No presente trabalho, avaliamos os casos
de intolerância à lactose por deficiência enzimática.
Devido à redução da quantidade da enzima lactase
em pacientes intolerante à lactose, Longo (2006)
descreveu possíveis fontes de obtenção de lactase,
entre as quais: plantas, pêssego, amêndoa e algumas
espécies de rosas selvagens; organismos animais,
como intestino, cérebro e tecido da pele; leveduras
como Kluyveromyceslactis, K. fragilise, Candida
pseudotropicalis; bactérias como Escherichia coli,
Lactobacillus bulgaricus, Bacillus sp e Streptococcus
lactis; e fungos, como Aspergillus foetidus, A. niger, A.
oryzaee A. phoenecis.
No presente trabalho avaliamos os casos
de intolerância à lactose por deficiência enzimática.
O objetivo deste trabalho consistiu em realizar uma
revisão bibliográfica através da busca de trabalhos
de autores nacionais e internacionais, publicações e
artigos científicos, sobre as terapias mais atuais com
probióticos na intolerância à lactose e as potenciais
melhorias e/ou efeitos danosos da administração de
probióticos em pacientes com intolerância à lactose.
DESENVOLVIMENTO
MECANISMOS DE ABSORÇÃO DA LACTOSE
A lactose ingerida na dieta é hidrolisada em
glicose e galactose pela enzima lactase, sendo esse
dissacarídeo absorvido pela mucosa intestinal. O
monossacarídeo galactose é metabolizado dentro do
fígado, sendo convertido em glicose para entrar no pool
de glicose circulante. Esta galactose não metabolizada
no fígado será eliminada pela urina ou pelos eritrócitos.
Na mucosa intestinal a concentração da enzima lactase
varia, sendo essa 40% menor no duodeno do que
no jejuno. A lactose não hidrolisada não é absorvida
no intestino delgado passando rapidamente para o
cólon sendo convertida em ácidos graxos de cadeia
curta pelas bactérias da flora intestinal, produzindo
propionato, acetato e butirato. Assim, a lactose não
absorvida para utilização energética é recuperada
através da absorção dos ácidos graxos pelas bactérias
da mucosa do cólon (MATTAR; MAZO, 2010).
INTRODUÇÃO
A intolerância à lactose é caracterizada
como qualquer resposta alterada a um alimento que
contém esse dissacarídeo, sem que haja a ativação
da resposta imunológica, sendo, portanto descrita
como a incapacidade de absorver a lactose. Essa
patologia ocorre pela deficiência da enzima lactase,
que é responsável por hidrolisar a lactose em glicose e
galactose. A intolerância a lactose pode ser iniciada pela
ação de toxinas produzidas por bactérias e fungos ou
erros metabólicos por deficiência enzimática (CUNHA
et al., 2008a; GASPARIN; CARVALHO; ARAUJO,
2010; THOMAS et al., 2011).
HIPOLACTASIA PRIMÁRIA
A hipolactasia primaria é uma condição
autossômica recessiva que tem como resultado o
declínio fisiológico parcial ou total da produção da
enzima lactase nas células intestinais, provocando
a não absorção da lactose, o que leva o indivíduo a
A intolerância e a alergia à lactose,
popularmente
confundidas
possuem
distintos
mecanismos fisiopatológicos (GASPARIN; CARVALHO;
ARAUJO, 2010; MATTAR; DE CAMPOS MAZO;
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quadros de desordens abdominais, esse processo é
comum e ocorre numa grande proporção de indivíduos
(USAI- SATTA et al., 2012).
CARRILHO, 2012; MATTAR; MAZO, 2010).
A hipolactasia secundaria é completamente
reversível quando estabelecido um tratamento para a
doença responsável pela condição primária e a lesão
da mucosa é recuperada, dispensando a necessidade
de restrição dietética da ingestão de leite e seus
derivados (MISSELWITZ et al., 2013).
Por possuir uma alimentação a base de leite
os mamíferos em idade de amamentação possuem
grande atividade da enzima lactase, porém essa
produção diminui gradativamente durante o desmame,
desaparecendo até a fase adulta. Contudo este
fenômeno não ocorre exatamente da mesma forma
nos seres humanos; em alguns casos a atividade da
enzima se mantém durante a maior parte da vida adulta
(MISSELWITZ et al., 2013; USAI- SATTA et al., 2012).
DEFICIÊNCIA CONGÊNITA DE LACTOSE
A intolerância à lactose congênita é uma
herança genética autossômica recessiva, apesar de ser
rara é uma condição extremamente grave por se iniciar
na infância período em que a dieta é exclusivamente a
base de leite, sendo o diagnóstico precoce de extrema
importância, pois pode levar ao óbito. Assim como a
hipolactasia primária, essa doença também apresenta
mutações no gene LCT que codifica a enzima lactase
precisamente no homozigoto nonsense (mutação sem
sentido) c.4170→A (Y1390X) (UCHIDA et al., 2012).
A prevalência de deficiência primária varia em
relação à idade, dieta, raça ou etnia, sendo a seleção
genética responsável por essa grande variação.
Através da biologia molecular foram identificados
dois polimorfismos de nucleotídeo único (SNP, Single
Nucleotid Polymorphisms) que estão associados com a
não persistência da lactase, sendo eles, o C/T- 13910
e o G/A-22018 situados acima do gene codificador da
enzima da lactase (região reguladora) no cromossomo
2q21 (QUEVEDO; ROJAS, 2011).
Os recém-nascidos acometidos com esta
patologia apresentam quadros de diarreia nos primeiros
dias de vida após a ingestão de lactose, que leva à
desidratação severa e reduzido ganho de peso quando
não tratada. Os sintomas podem ser evitados e os
pacientes podem ter um crescimento e desenvolvimento
normais, alterando a dieta por suplementação alimentar
que não contenha lactose (TORNIAINEN et al., 2009).
Na grande parte da população os sintomas
têm início durante a adolescência e a vida adulta.
Os sintomas clínicos variam de pessoa para pessoa,
dependendo diretamente da quantidade de lactose
ingerida e do nível de produção de lactase, tornando
o inquérito alimentar uma ferramenta fundamental
para confirmar ou mesmo excluir o diagnóstico de
intolerância à lactose (GASPARIN; CARVALHO;
ARAUJO, 2010).
A intolerância congênita à lactose difere da
hipolactasia primaria por se tratar da ausência total ou
parcial da enzima lactase e não uma diminuição severa
na expressão enzimática como na hipolactasia primaria
(MATTAR; DE CAMPOS MAZO; CARRILHO, 2012;
MATTAR; MAZO, 2010).
HIPOLACTASIA SECUNDÁRIA
Nos quadros clínicos envolvendo a perda das
células epiteliais responsáveis pela produção da enzima
lactase, esses pacientes acometidos apresentam como
consequência a deficiência da enzima, o que leva ao
quadro de intolerância. Em caso de lesão tecidual,
as células epiteliais do intestino são substituídas por
células imaturas, as quais são deficientes na produção
enzimática (CARDOSO et al., 2008a; MISSELWITZ
et al., 2013). As possíveis lesões da mucosa
gastrointestinal (enterócitos) podem ser ocasionadas
por diversos fatores entre ele ressecção intestinal,
gastroenterite aguda, medicamentos (quimioterapia),
terapia de radiação, diarreia persistente, diarreia
crônica, entre outras (QUEVEDO; ROJAS, 2011).
QUADRO CLÍNICO DOS
INTOLERÂNCIA À LACTOSE
PACIENTES
COM
Nos quadros de deficiência na digestão da
lactose ocasionada pela ausência total ou parcial
da enzima lactase, esse carboidrato não pode ser
hidrolisado, acumulando-se no intestino. Esta lactose
não digerida sofre fermentação pelas bactérias do
colón, gerando ácido láctico e outros ácidos orgânicos
tais como dióxido de carbono e gás hidrogênio, o que
resulta em distensões e dores abdominais. Ainda, a
pressão osmótica aumenta quando a lactose passa
pelo intestino grosso, onde ocorre a retenção de água
que dá início aos sintomas de intolerância, como
diarreia ácida e o excesso de gases, causando um
grande desconforto para os portadores da doença
(MATTAR; DE CAMPOS MAZO; CARRILHO, 2012;
MATTAR; MAZO, 2010).
Além das doenças que causam danos na
borda em escova da mucosa do intestino delgado ou
patologias que tem como consequência o aumento do
tempo de trânsito intestinal, diversas outras condições
fisiopatológicas subjacentes acarretam a deficiência de
lactase e consequente má absorção de lactose como,
por exemplo, infecção por rotavírus, criptosporidiose,
giardíase, doença celíaca, doença de Crohn, enterites
infecciosas, doença diverticular do cólon e infecções
crônicas (HIV) (MATTAR; DE CAMPOS MAZO;
O não consumo de leite nos casos de
intolerância acarreta em diminuição de certos
nutrientes, como o cálcio, fato que pode acarretar
doenças como a osteoporose, hipertensão, câncer de
cólon de útero, síndrome do ovário policístico, câncer de
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ovário, síndrome pré-menstrual, resistência à insulina e
obesidade, entre outros (CUNHA et al., 2008b).
os carboidratos, que como parte da reação de
fermentação, são “quebrados” formando ácidos graxos
de cadeia pequena, CO2 e H2. Grande parte do CO2
permanece na luz do intestino e é responsável pela
sensação de flatulência, inchaço e dor abdominal,
enquanto que o efeito osmótico é exercido pelos
ácidos graxos de cadeia pequena atraem grandes
quantidades de água para o interior do lúmen intestinal,
tendo como consequência disso o quadro de diarreia
(FAGUNDES-NETO, 2011; MATTAR; DE CAMPOS
MAZO; CARRILHO, 2012).
MÉTODOS DIAGNÓSTICOS
Vários métodos diretos e indiretos para o
diagnóstico da má absorção da lactose são utilizados.
Entre os principais métodos estão: teste do pH fecal;
pesquisa de substâncias redutoras nas fezes; teste
de tolerância à lactose; teste de tolerância à lactose
com etanol; teste respiratório com 14C-lactose; teste
respiratório com 13C-lactose; teste de hidrogênio
expirado e a Biópsia intestinal (VESA et al., 2000).
O H2 produzido no intestino atravessa a parede
intestinal, cai na circulação sanguínea, é transportado
até os pulmões onde é eliminado pela respiração
como parte do ar expirado. Portanto, a concentração
de H2 expirada pode ser facilmente mensurada em
partes por milhão (ppm), por um equipamento de uso
manual. A concentração do hidrogênio mensurado na
expiração é sempre um reflexo da massa de bactérias
e da atividade metabólica bacteriana no trato digestivo,
entretanto um aumento na concentração de H2 no ar
expirado durante a realização do teste respiratório
fornece uma indicação em qual região do intestino se
deu a fermentação (FAGUNDES-NETO, 2011).
O método direto consiste na medida dos
dissacarídeos utilizando a intubação intestinal, e é
tido como referência, por ser uma técnica de perfusão
intestinal para a medida exata da digestão de lactose.
Os métodos diagnósticos indiretos são: o hidrogênio
expirado e o teste do CO2 expirado, onde após
ingestão de lactose marcada 13C – lactose mede-se
o 13C O2 expirado. Já nos testes de sangue está o
teste com etanol (na qual se usa o etanol para inibir
o metabolismo hepático da galactose), o teste de
tolerância ao leite e ainda o teste tradicional de curva
glicêmica para tolerância à lactose. Outra forma de
medir a intolerância é através quantidade de açúcar
contida na relação sangue/urina (CUNHA et al., 2008b;
VESA; MARTEAU; KORPELA, 2000).
No ensaio de hidrogênio expirado, o paciente em
jejum recebe uma carga oral de lactose e, em seguida,
é realizado um teste de respiração do hidrogênio em
intervalos regulares ao longo das próximas duas ou
três horas. O hidrogênio é um subproduto de bactérias
anaeróbicas do cólon agindo em carboidratos não
digeridos na dieta. Este hidrogênio é liberado para o
lúmen do intestino e é absorvido na corrente sanguínea
para ser excretado nos pulmões: um valor acima de 20
partes por milhão é sugestivo ou lactase não persistente
(LNP), e um valor de 10-20ppm não é determinado, e
deve ser interpretado relacionado com a presença de
sintomas (PEUHKURI, 2000; ROXAS, 2008).
O teste de diagnóstico mais simples para
intolerância à lactose seria a investigação do
quadro com base no histórico clínico do indivíduo,
observando se a remoção da lactose da dieta conduz
a alguma melhoria na condição clínica do paciente e
possibilitando assim um pré-diagnóstico. Por este ser
um teste subjetivo é necessário um teste confirmatório
mais especifico sendo geralmente utilizado o teste
hidrogênio expirado devido a sua natureza simples e
não invasiva (BACELAR JÚNIOR; KASHIWABARA;
NAKAOKA E. DA S., 2013).
Um resultado falso negativo pode ser obtido
se a pessoa fez uso, recentemente, de antibióticos
orais, os quais podem eliminar os microrganismos
competentes em algumas pessoas que são resistentes
à produção de hidrogênio. Os positivos falsos podem
ser obtidos quando o crescimento bacteriano ocorreu
no intestino delgado e o teste do hidrogênio expirado
é por vezes utilizado para testar falha no diagnóstico.
Presença de hidrogênio elevado foi encontrado em
algumas crianças gravemente afetadas por cólicas
(KANABAR; RANDHAWA; CLAYTON, 2001).
TESTE DO HIDROGÊNIO EXPIRADO
O teste do hidrogênio expirado é um dos
mais utilizados para diagnóstico de má absorção
de lactose, pois se trata de uma metodologia não
invasiva, totalmente confiável e específica. O teste é
baseado na produção de hidrogênio através da lactose
não absorvida pela flora intestinal, ocorrendo uma
fermentação e a produção desse gás, parte desse
hidrogênio é eliminada pelos pulmões e pode ser
detectado no ar expirado. O aumento da produção de
hidrogênio após a ingestão de lactose é indicativo de
má absorção e fermentação da lactose (PRETTO et al.,
2002).
TESTE DA CURVA GLICÊMICA
O teste consiste na verificação das
concentrações de glicose no sangue de pacientes
em jejum de 8 a 10 horas, e em amostras de sangue
colhidas 30, 60 e 90 minutos após a administração,
via oral de lactose pura, na concentração de 2g/kg
do paciente, sem exceder a dose de 50 gramas. A
dosagem de glicose é realizada pelo método glicoseoxidase cujo resultado é dado em mg/% de glicemia.
Em situações patológicas, a concentração
de bactérias anaeróbias torna-se predominante no
intestino delgado e pode alcançar valores superiores
a 104 colônias/ml (FAGUNDES-NETO, 2011). As
bactérias anaeróbias preferencialmente metabolizam
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Indivíduos com intolerância apresentam um aumento
de glicemia de menos de 20 mg/%, enquanto indivíduos
normais apresentam aumento de mais de 34 mg/% na
glicemia após a administração das doses de lactose
(REIS; MORAIS; FAGUNDES- NETO, 1999).
Os resultados do teste rápido de intolerância
a lactose possuem uma alta taxa de sensibilidade
e especificidade, em torno de 95 a 100%, quando o
ensaio é realizado corretamente, tendo uma boa
correlação com os exames considerados padrão ouro
para detecção de intolerância a lactose. Se comparado
aos testes moleculares, o teste rápido mantém um
resultado de 81% de semelhança e se sai ainda melhor
em relação ao teste de hidrogênio expirado no qual o
percentual de concordância é de 96% (OJETTI et al.,
2008).
GLICOSE NO SANGUE E
MEDIDAS DE GALACTOSE NA URINA
Neste teste o índice glicêmico de sangue
aspirado diretamente com seringa é medido em
um glicômetro. Para valores com um aumento igual
ou inferior a 1,1 mmol/L pode ser indicio de um
possível quadro de intolerância. Correlacionado
com o índice glicêmico medido no sangue, o nível
de galactose urinária também pode ser usado como
auxiliar no diagnóstico de intolerância. Através de
um kit enzimático a urina é medida até três vezes
espectrofotometricamente durante quatro horas. Entre
a terceira ou quarta a galactose urinária excretada de
for menor que 20 mg, isto pode indicar má-digestão de
lactose (PEUHKURI, 2000).
TESTES MOLECULARES
Testes moleculares vêm sendo desenvolvidos
a fim de identificar a relação entre a presença de
mutação genética no gene lactase-florizina hidrolase
e a má absorção de lactose, já que os métodos
tradicionais de avaliação disponíveis são eficazes,
porém causam desconfortos aos pacientes, tais como,
vômitos, distensão abdominal, cólica e diarreia grave
(HÖGENAUER et al., 2005).
A análise de polimorfismo C/T-13910 e G/A22018 do gene da hidrolase lactase-fluorizina pode
ser considerado um bom diagnóstico da má absorção
da lactose, visto a alta sensibilidade e especificidade
e com ótima concordância com o teste de hidrogênio
expirado (BULHÕES et al., 2007).
BIOPSIA INTESTINAL
Este teste, desenvolvido para detectar
a intolerância à lactose, baseia-se numa reação
colorimétrica, gerada quando uma amostra obtida
de uma biópsia endoscópica do duodeno postular
é incubada com lactose em uma placa de testes.
A enzima lactase presente na amostra hidrolisa a
lactose em dois monossacarídeos, glicose e galactose,
com a adição do reagente de coloração contido no
teste é possível detectar se houve ou não a quebra
da lactose. Depois de 20 minutos de incubação, o
teste informa se existe ou não a presença de enzima
lactase na amostra de biopsia através de coloração.
Se não houver nenhuma reação, ou seja, o teste
não apresentar nenhuma coloração, trata-se de um
indivíduo com intolerância severa a lactose, se houver
apenas o surgimento de uma leve tonalidade pode ser
concluído que o paciente apresenta uma deficiência
moderada na produção de enzima lactase, já quando
o teste apresenta uma cor bem especifica, trata-se
de alguém com normolactasia (RAO et al., 2012). As
biópsias são recomendadas para serem colhidas com
uma pinça, a partir da mucosa da parte superior do
intestino delgado durante a endoscopia. O teor total
de lactase é diretamente proporcional ao tamanho da
amostra retirada durante a biópsia retirada. O tamanho
das amostras retiradas varia entre 2 mm a 1,5 mm de
diâmetro. Se o tamanho da amostra obtida for menor
do que o recomendado existe o risco de o teste gerar
um resultado falso positivo (hipolactasia), o mesmo
vale para uma amostra de biópsia maior que o tamanho
recomendado, que aumenta as chances de gerar um
resultado falso negativo (normolactasia). A demora na
execução também pode levar a falsos diagnósticos, por
isso é recomendado fazer o teste imediatamente após
a extração (KUOKKANEN et al., 2006).
Existem vários fatores que podem levar o
indivíduo a intolerância a lactose. Dentre estes fatores
alguns estão ligados à deficiência ou ausência da
enzima intestinal chamada Lactase- Florizina Hidrolase
(LPH). Quando há um defeito de ordem genética nesta
enzima este tipo de intolerância é classificado como
hipolactasia primária, porém quando é decorrente de
um dano na mucosa intestinal é chamada hipolactasia
secundária (LEMBER, 2012). Em recém-nascidos, que
se alimentam quase que exclusivamente de leite, há
uma grande produção e concentração dessa enzima
principalmente no intestino delgado, sendo que a maior
concentração é no jejuno-médio. Com o passar do
tempo temos uma diminuição gradativa da produção
dessa enzima em aproximadamente 65% da população
mundial (ITAN et al., 2010). Por volta dos 3 anos de
idade, se essa diminuição for muito severa o indivíduo
torna-se o intolerante à lactose, ou seja, a lactose, que
antes era digerida, chega intacta ao intestino grosso,
onde é fermentada pelas bactérias da flora, produzindo
ácidos e gases. O gene LCT é o responsável pela
produção da enzima LPH que codifica a enzima
lactase. A mutação C/T-13910 é o principal fator
responsável pela persistência da expressão gênica
do LCT e consequentemente da LPH. A análise desse
gene através dos testes moleculares tornou-se um
dos métodos mais eficazes na detecção de pessoas
que apresentam um quadro de intolerância à lactose
O gene LCT está localizado no cromossomo 2q21 e
compreende 17 exons em 49 kb, sendo traduzido em
transcrito (RNAm) de 6 kb. A sequência de DNA do gene
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e do cDNA (tradução de RNAm em cDNA) que codifica
a enzima lactase em indivíduos com hipolactasia, é
semelhante aos indivíduos que mantem a atividade da
enzima lactase na idade adulta, deixando claro que a
diferença entre os dois grupos não está na sequência
da enzima. (CARDOSO et al., 2008a, 2008b).
cálcio. Em casos de menor gravidade, podem-se utilizar
outras fontes de lactose hidrolisada (em até 80%)
disponíveis, fato esse que torna a ingestão residual de
20% tolerável para os pacientes com baixa de lactase.
Entretanto, essas alterações não se aplicam para
pacientes com deficiência total na produção da enzima
(GASPARIN; CARVALHO; ARAUJO, 2010).
A produção da enzima lactase persiste após o
desmame em alguns adultos, pois é uma característica
hereditária, sendo o polimorfismo -13910C/T
responsável pela maior probabilidade de tolerância à
lactose. A persistência da enzima lactase se dá pela
troca do nucleotídeo C por T na posição 13910 do
gene LCT. A região promotora do gene é estimulada
a partir dessa ligação promovendo uma consequente
tolerância à lactose mesmo após o período de lactação.
Os genótipos do polimorfismo -13910 apresentamse como genótipo CT, genótipo TT e genótipo CC.
Os indivíduos que apresentam os genótipos CT e TT
possuem diferentes graus de digestão da lactose. Já
os portadores do genótipo CC herdam uma condição
autossômica recessiva de não persistência enzimática,
apresentando uma hipolactasia primária, ou seja, são
intolerantes à lactose. O teste genético de intolerância
à lactose, no qual é pesquisado o polimorfismo LCT
-13910C/T, permite identificar o genótipo CC que garante
uma taxa de 100% de chance de desenvolvimento
da intolerância à lactose durante a vida do indivíduo
(FRIEDRICH et al., 2012).
TRATAMENTOS
ALTERNATIVOS
INTOLERÂNCIA À LACTOSE
PARA
OS
PROBIÓTICOS
COMO
TRATAMENTO
ALTERNATIVO E COMPLEMENTAR A INTOLERÂNCIA
À LACTOSE
Os prebióticos e probióticos podem ser
considerados como alimentos funcionais que
visam assegurar o bem-estar e reduzir o risco de
desenvolvimento de doenças, sendo também uma
alternativa que está sendo pesquisada no tratamento
de doenças, entre as quais podemos citar a intolerância
à lactose. Os probióticos são benéficos à saúde
humana, pois aliviam e ajudam aqueles que são
intolerantes à lactose. Esses têm como mecanismo
de ação a diminuição na concentração da lactose em
produtos fermentados; a maior atividade da lactase em
preparações bacterianas que são usadas na fabricação
dos produtos e a maior atividade da enzima lactase
que chega ao intestino delgado junto com o produto
fermentado ou dentre as bactérias viáveis capazes de
sobreviver à acidez e à bile (PIMENTEL, 2011).
Outro gene responsável por desligar o
funcionamento da enzima lactase após os primeiros
anos de vida é o MCM6. Esse gene tem como função
natural o desligamento da lactase. Com o tempo os
seres humanos passaram a consumir leite após a
amamentação, havendo a necessidade de manter a
atividade desta enzima por mais tempo, priorizando a
seleção dos indivíduos que possuíam uma atividade
enzimática mais duradoura. Entretanto, em termos
biológicos esta alteração é recente, essa é a razão
por haver tantos indivíduos intolerantes (MATTAR; DE
CAMPOS MAZO; CARRILHO, 2012).
O prebiótico impede a multiplicação de
patógenos, garantindo benefícios à saúde. Esses
componentes prebióticos podem ter algum impacto no
intestino delgado, mas frequentemente atuam sobre
o intestino grosso (SAAD, 2006). Nesse sentido,
Delgado et al., (DELGADO et al., 2012) reportaram
o papel da raiz andina Yacon sobre as células do
sistema imunológico, demonstrando uma atividade
anti-inflamatória desse prebióticos sobre a resposta
imune. Essa ação demonstrou a relação dos alimentos
funcionais com a atividade probiótica e sua ação sobre
o sistema imune.
Normalmente a análise isolada do gene MCM6
é mais indicada para adolescentes e adultos, devido a
sua atividade ter início após o período de amamentação,
já a análise da mutação do gene LCT, que codifica
a criação da enzima lactase, é indicado para recémnascidos que apresentam quadros gastrointestinais
graves. A pesquisa da atividade de ambos os genes
é recomendada para os lactentes e crianças por
apresentarem um diagnóstico diferencial sobre as
causas de doenças gastrointestinais persistentes
(MATTAR; MAZO, 2010).
Especificamente,
os
probióticos
são
microrganismos vivos, administrados em quantidades
pré-definidas, que conferem benefícios à saúde
do hospedeiro, por serem capazes de influenciar a
microbiota intestinal humana, pelo fato de produzirem
efeitos antagônicos aos patógenos, competição por
adesão à mucosa e efeitos imunológicos sobre o
organismo. Esses fatores resultam em um aumento da
resistência do organismo contra patógenos. Com isso,
a multiplicação de bactérias benéficas é incentivada
pela utilização de culturas bacterianas probióticas
em oposição à proliferação de bactérias prejudiciais,
fazendo com que se reforce o mecanismo de defesa do
hospedeiro (GROVER et al., 2012).
TRATAMENTOS E TERAPIAS USUAIS PARA O
TRATAMENTO DE INTOLERÂNCIA À LACTOSE
Em casos de intolerância ou alergia à lactose,
por deficiência genética ou baixa produção de lactase,
recomenda-se a retirada total ou parcial do leite e seus
derivados, devendo-se fazer a suplementação com
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Revista Ciencia & Inovação - FAM - V.2, N.1 - DEZ - 2015
Kumar et al., (2012) reportaram a ação dos
probióticos na redução dos níveis de colesterol em
pacientes, um efeito benéfico para combater as
doenças metabólicas. Foram revisadas três áreas,
a primeira delas foi a pesquisa sobre probióticos
como adjuvantes de vacinas, considerada útil para as
alegações da função imune. Em segundo, resultados
positivos com alguns probióticos e prebióticos no
tratamento ao câncer colorretal principalmente a partir
de estudos in vitro. E em terceiro, a utilização por atletas
de resistência vem mostrando o potencial benéfico dos
probióticos em relação à manutenção da função imune
inclusive na redução dos episódios respiratórios ou
infecções do trato gastrointestinal (KUMAR et al., 2012;
THOMAS; OCKHUIZEN, 2012).
específicos. Como produto do metabolismo primário,
eles acumulam ácido lático no meio, são estritamente
fermentativos e raramente apresentam patogenicidade.
Para um bom crescimento desses microrganismos, a
temperatura ideal é de 30-40°C (ANTUNES et al., 2007;
CHAMPAGNE; GARDNER; ROY, 2005; CUMMINGS;
MACFARLANE, 2002; KUMAR et al., 2012).
O Lactobacillus foi isolado pela primeira vez
por Moro a partir das fezes de lactentes amamentados
ao peito materno, atribuindo o nome de Bacilles
acidophilus. Neste momento, o gênero compreende 56
espécies oficialmente reconhecidas. As mais usadas
para fins de aditivo dietético são L. acidophilus
(ANTUNES et al., 2007; CHAMPAGNE; GARDNER;
ROY, 2005; CUMMINGS; MACFARLANE, 2002; SHAH,
2000; STEFE, 2009).
O crescente reconhecimento do fato de que
as alterações no microbioma intestinal podem estar
relacionadas a doenças inflamatórias do intestino,
colite ulcerativa, obesidade e diabetes, tornaram o
uso terapêutico de probióticos o principal tema de
diversas pesquisas. Devido aos avanços recentes e
novidades na área da saúde, tornou-se possível uma
melhor compreensão da funcionalidade do probiótico
e do seu modo de ação. As intervenções probióticas
foram eficazes no tratamento de doenças ligadas ao
trato gastrointestinal, incluindo a intolerância à lactose
(GROVER et al., 2012).
Já o gênero Bifidobacterium apresenta bactérias
com formato de “Y”, conhecido como forma “bífida”. Para
o seu crescimento, esses microrganismos necessitam
de diversos nutrientes e uma temperatura ideal de 3741°C. Ainda, é sabido que a população intestinal de
bifidobactérias tende a diminuir gradativamente com o
decorrer dos anos de vida (KUMAR et al., 2012; SHAH,
2000).
Atualmente, o gênero Bifidobacterium inclui 30
espécies, 17 de origem animal, 10 de origem humana, 2
são de águas residuais e 1 de leite fermentado. A de leite
fermentado tem a particularidade de apresentar uma
boa tolerância ao oxigênio. Todas as bifidobactérias da
biota humana são capazes de utilizar, além da glucose,
a galactose, a lactose e a frutose como fontes de
carbono (STEFE, 2009).
Dentre as deficiências de enzimas existentes,
a deficiência ou redução da lactase é a mais comum
em adultos. No tratamento dessas alterações, os
probióticos são considerados produtos benéficos à
saúde, pois que aliviam e ajudam aqueles que são
intolerantes à lactose. Esses compostos têm como
mecanismo de ação a diminuição da concentração
da lactose em produtos fermentados; o aumento da
atividade da lactase em preparações bacterianas que
são usadas na fabricação dos produtos e a maior
atividade da enzima lactase que chega ao intestino
delgado junto com o produto. O principal fator de
melhoria da digestibilidade é a presença da enzima
lactase bacteriana, que pode ser detectada no
duodeno e íleo terminal após o consumo de iogurtes
probióticos, sendo essa capaz de realizar a hidrólise
da lactose, principalmente no íleo terminal. O menor
esvaziamento gástrico proporcionado por produtos
lácteos semissólidos é outro fator que influencia a
digestão da lactose, como ocorre no caso de consumo
de iogurte (ANTUNES et al., 2007; BARBOSA et al.,
2011; PIMENTEL, 2011).
A inserção de culturas probióticas na
alimentação de pacientes intolerantes à lactose auxilia
na digestão da lactose devido à presença ativa da enzima
lactase, que favorece a regulação do transito intestinal
e alívio da sensibilidade aos sintomas de má absorção
(ANTUNES et al., 2007). Nesse sentido, pesquisadores
(THOMAS et al., 2011; THOMAS; OCKHUIZEN, 2012)
propuseram o uso de Streptococcus thermophiles,
uma bactéria capaz de metabolizar à lactose como
um modelo metabólico par o uso de carboidrato no
intestino. Esses autores demonstraram, através de
dados recentes, que o consumo iogurte contendo
esses microrganismos é capaz de aliviar os sintomas
da intolerância à lactose.
EFEITO DE PROBIÓTICOS NA MICROFLORA DO
CÓLON EM INDIVÍDUOS COM INTOLERÂNCIA À
LACTOSE
As culturas mais empregadas como
probióticos pertencem aos gêneros Lactobacillus e
Bifidobacterium. Os lactobacilos e os bifidobactérias são
bactérias Gram-positivas, não formadoras de esporos,
geralmente anaeróbios facultativos e não flagelados.
O gênero Lactobacillus é amplamente distribuído no
meio ambiente, especialmente em alimentos vegetais,
no trato genital e gastrintestinal. Seu crescimento é
influenciado por fatores como pH, presença de oxigênio,
interações com outras bactérias e presença de fatores
Em um estudo realizado com 11 voluntários
intolerantes a lactose utilizando suplementação como
cápsulas de bifina (B.longum) e iogurtes probióticos
(com B. animalis, L. bulgaricus, S. thermophilus) foram
analisados amostra de fezes e bactérias totais do cólon.
Os resultados obtidos demonstraram uma significativa
melhora nos sintomas de intolerância à lactose, com
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Revista Ciencia & Inovação - FAM - V.2, N.1 - DEZ - 2015
aumento na quantidade de bactérias totais durante
o período de suplementação. As bifidobactérias
mantiveram-se em um nível aumentado em relação
ao período pré- suplementação, enquanto vários
outros grupos de bactérias tiveram sua população
reduzida. Concluiu-se com esse estudo que o uso de
bifidobactérias como alimentação modifica a quantidade
e as atividades metabólicas na microbiota do cólon e
aliviam os sintomas em intolerantes à lactose (ZHONG
et al., 2006).
Não somente laticínios vários outros produtos
vêm sendo estudados quanto a sua capacidade
de associá-los aos microrganismos probióticos,
incluindo maionese, carnes, alimentos infantis,
produtos de confeitaria, patês, extratos de sementes
vegetais, suco de pepino e produtos de peixe, levando
em consideração a seleção de cepas probióticas
apropriadas para cada tipo de produto, a fim de produzir
o efeito desejado e manter a viabilidade durante o
tempo de armazenamento (CHAMPAGNE; GARDNER;
ROY, 2005).
APLICAÇÃO DE PROBIÓTICOS EM ALIMENTOS
O uso de suplementação probiótica na
dieta humana contendo diversas combinações de
microrganismos funcionais vem sendo comercializados
tanto na forma alimentar (leite, leites acidófilos,
iogurtes, coalhadas, queijos), como na forma de
preparações farmacêuticas em pó ou capsuladas para
alguns microrganismos específicos, como é o caso da
levedura Saccharomyces boulardii, do Lactobacillus
GG e o recente L. casei Shirota. A vantagem das
cápsulas em relação aos produtos alimentares está
na viabilidade mais duradoura quando mantida em
temperatura ambiente (BARBOSA et al., 2011).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A literatura atual demonstra que nem todas
as pessoas intolerantes à lactose são alérgicas às
proteínas do leite e que apesar de erroneamente
associadas, a intolerância e a resposta alérgica
possuem mecanismos fisiopatológicos distintos. A
intolerância à lactose é caracterizada pela ausência
total ou parcial da enzima lactase que é responsável
por hidrolisar a lactose contida nos alimentos. Grande
parte da população pode ser considerada intolerante
à lactose, em maiores ou menores proporções. Isso
se dá pela redução da produção da enzima lactase
ser um fator natural. Nesse contexto, o que diferencia
a gravidade do caso clínico é a redução da atividade
enzimática, que podem ser mínimos ou drásticos.
Em relação aos alimentos, a bactéria do gênero
Lactobacillus recebe o mérito de bons resultados com
seu emprego na alimentação, dos quais se assinalam:
a capacidade de fermentar açúcares que formam ácido
lático abundantemente; a sua qualidade termodúrica,
tornando-a resistente a tratamentos térmicos mais
baixos; formação de ácido lático, eliminando seus
substratos, microrganismos competitivos; e por fim sua
capacidade de formar substâncias voláteis (bactérias
heterofermentativas) alteram valores sensoriais de
alguns alimentos e sua incapacidade de sintetizar
a maioria das vitaminas exigidas, impedindo seu
crescimento em meios carentes desses nutrientes
(STEFE, 2009).
Este trabalho teve por foco trazer um maior
entendimento dos mecanismos de intolerância à lactose
e das pesquisas sobre a aplicação de probióticos como
terapia coadjuvante para a melhora dos sintomas
apresentados por estes pacientes. Entre os vários
benefícios proporcionados pelos probióticos, está à
produção de beta-galactosidase, que atua da mesma
forma que a lactase humana, promovendo a melhora
dos sintomas apresentados.
Com a popularização dos benefícios dos
probióticos vêm sendo desenvolvidas cada vez
mais opções de produtos para aumentar a gama de
consumidores, dentre eles podem-se citar o iogurte e
o leite fermentado elaborado com culturas ativas de
bactérias láticas que fermentam o leite, metabolizando
parte da lactose presente a ácido lático, os queijos por
serem capazes de protegerem às bactérias probióticas
contra a ação do oxigênio, baixo pH e sais biliares,
durante a sua passagem desse alimento pelo trato
gastrintestinal, sobremesas congeladas como o sorvete,
que apesar de causar inibição do desenvolvimento
e redução do número de microrganismos, as
baixas temperaturas asseguram uma maior taxa de
sobrevivência dos probióticos e consequentemente
um maior tempo de armazenamento além dos
produtos isentos de lactose a base de ingredientes
provenientes principalmente da soja (KOMATSU;
BURITI; SAAD, 2008).
A literatura atual já apresenta dados clínicos
comprovando que o tratamento com probióticos traz
melhoria e benefícios para pacientes com intolerância
à lactose. Para cada alimento funcional deve ser
considerado o microrganismo que possua as melhores
condições de permanecer viável até a flora intestinal.
Atualmente, as terapias usam preferencialmente
cepas de microrganismos do gênero Bifidobacterium
e Lactobacillus por apresentarem excelentes
características de um bom probiótico como resistência
ao ácido do estômago, adesividade às células
da mucosa intestinal, uma grande capacidade de
colonização e uma velocidade elevada de crescimento.
Contudo, o tratamento à base de suplementação
probiótica depende principalmente da repopulação
do trato gastrointestinal, tornando necessário o uso
continuo e de longo prazo destes alimentos para que
se tenha uma melhora realmente significativa nos
sintomas de intolerância.
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Revista Ciencia & Inovação - FAM - V.2, N.1 - DEZ - 2015
O presente trabalho possibilita concluir que
o estudo da terapia probiótica, mesmo sendo uma
temática recente e amplamente estudada, necessita
de mais investimento, tanto para a divulgação da
problemática como para o desenvolvimento de
pesquisas de longo prazo que proporcionem um
melhor entendimento dos benefícios, mecanismo de
ação ou mesmo possíveis malefícios gerados pelo uso
dessa terapia, principalmente em portadores de índices
severos de intolerância à lactose.
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