a criança vítima de queimadura e sua dor no momento da realização de procedimentos diários: uma revisão bibliográfica Francielma Maria Dias Marlene Afonso Tatiane da Silva Bustamante Sá Ana Lúcia Marcelino Maria Joselya dos Santos Ana Beatriz Pinto da Silva Morita janus, lorena, v. 5, n. 8, p. 33-43, jul./dez., 2008 33 Francielma Maria Dias Graduanda do Curso de Enfermagem das Faculdades Integradas Teresa D’Ávila. Marlene Afonso Graduanda do Curso de Enfermagem Faculdades Integradas Teresa D’Ávila. Tatiane da Silva Bustamante Sá Graduanda do Curso de Enfermagem das Faculdades Integradas Teresa D’Ávila. Ana Lúcia Marcelino Graduanda do Curso de Enfermagem das Faculdades Integradas Teresa D’Ávila. Maria Joselya dos Santos Graduanda do Curso de Enfermagem das Faculdades Integradas Teresa D’Ávila. Ana Beatriz Pinto da Silva Morita Orientadora, Mestre no Cuidar em Enfermagem, Professora nas Faculdades Integradas Teresa D’ Ávila. 34 janus, lorena, v. 5, n. 8, p. 33-43, jul./dez., 2008 resumo Este estudo de revisão bibliográfica, que teve como objetivo focalizar a dor e o sofrimento da criança queimada, principalmente no momento do curativo. Para a realização deste estudo foram utilizados vários artigos e alguns livros. E verificou-se que a dor pode estar relacionada com a ansiedade e que existe varias escalas para mensurar a dor, e existem opiniões diversas sobre o tratamento da dor em pacientes queimados. Verificou-se que o enfermeiro é responsável por utilizar e escolher a melhor escala para avaliar a dor, e ao avaliar o resultado deve intervir com a terapia medicamentosa e também com terapias alternativas que lhe competem, não somente no tratamento da dor, mas a ansiedade, proporcionando assim sensação de alivio e bem estar ao paciente. Palavras-Chave Queimado, Criança, Dor. Abstract The study of literature review, which aimed to focus on the pain and suffering of children burned, especially at the time of healing. For the realization of this study were used many articles and several books. And it was found that the pain may be related to anxiety and that various scales to measure the pain, and there are different views on the treatment of pain in patients burned. It was found that the nurse is responsible for using and choosing the best scale to assess the pain, and to assess the outcome must intervene with drug therapy as well as alternative janus, lorena, v. 5, n. 8, p. 33-43, jul./dez., 2008 35 therapies that you compete, not only in the treatment of pain, but the anxiety , thus feeling of relief and welfare to the patient. Keywords Burn; Children; Pain. INTRODUÇÃO As queimaduras são lesões frequentes em nosso meio. Embora, a maior parte delas sejam decorrente de pequenos acidentes domésticos, um número considerável de pacientes apresenta lesões de tal gravidade que põem em risco sua vida. É bom lembrar que as queimaduras graves não devem ser encaradas como lesões cutâneas, mas como trauma sistêmico, que produzem grande desequilíbrio hidroeletrolítico e hemodinâmico. Além disso, podem estar associadas a lesões em outros sistemas, como os traumas abdominais fechados, os traumas de extremidades, lesões inalatórias, etc. As prioridades no atendimento ao queimado são as mesmas que em qualquer outro tipo de trauma, porém algumas características peculiaridades devem ser levadas em conta. A queimadura é a causa mais frequente de injúria da pele e pode ser causada por numerosos fatores, como, agentes térmicos, químicos, elétricos e radioativos. Grandes áreas corporais queimadas produzem distúrbios fisiológicos que afetam praticamente todos os órgãos do corpo humano. Para os que tratam as vítimas de queimaduras, se aceita o fato de que os problemas serão muitos e de difícil solução. Segundo IRION (2005), queimadura são lesões extremamente comuns, praticamente todos sofrem uma queimadura em alguma ocasião. A maioria de pequena extensão e autotratáveis. As queimaduras com maior extensão são lesões graves que exigem tratamento intensivo e reabilitação. As causas típicas das queimaduras em diferentes grupos etários. 36 janus, lorena, v. 5, n. 8, p.33-43, jul./dez., 2008 Análises estatísticas mostram que certos grupos apresentam maior possibilidade de sofrerem lesão térmica grave. Os mais jovens com menos de dois anos são mais suscetíveis a queimaduras por escaldamento. Cerca de 50% deste tipo de acidente ocorre quando a criança esta presente na cozinha (WILSON, 1992). As crianças são as maiores vítimas destes agravos, sendo que os acidentes mais comuns ocorrem por queimadura térmica, ação do fogo, explosão de gases, líquidos e metais quentes e vapor. Na Unidade de Queimados Professor Ferreira-Santos, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (Ribeirão Preto, SP, Brasil) nos últimos 4 anos, 45% dos jovens internados com idade de quatro a 12 anos foram vítimas de acidentes provocados por chama direta devido ao uso inapropriado do álcool para acender churrasqueiras (MARCHESAN; FARINA JR., 2003). O melhor tratamento para as queimaduras é a prevenção, simples medidas como não levar crianças para a cozinha quando o fogão estiver aceso, evitar que o cabo das panelas ou frigideiras esteja no alcance das crianças, não permitir que jovens fiquem na proximidade das churrasqueiras quando o álcool é usado como veículo de ignição, não fumar na cama, contribuiria para reduzir a morbidade e a mortalidade nesse tipo de acidente. As queimaduras podem ser de primeiro, segundo e terceiro graus, sendo que as duas últimas, quando extensas, são acompanhadas por sinais e sintomas de choque necessitando, geralmente, de internação e tratamento especializados. Dentre os sinais apresentados, a dor é um dos fatores de maior relevância. Para BURNS (1999a), “a dor é uma desagradável experiência sensorial e emocional resultante de um dano real ou potencial ao tecido” e na vítima de acidente por queimaduras é considerada um dos aspectos importantes no tratamento, visto que acompanha os cuidados indispensáveis e necessários às feridas, trazendo, conseqüentemente, a ansiedade. Durante o tratamento do queimado a dor muda de intensidade, sendo que alcança um grau mais elevado nas primeiras semanas após o acidente, o que incide principalmente durante a limpeza da ferida, desbri- janus, lorena, v. 5, n. 8, p.33-43, jul./dez., 2008 37 damento e fisioterapia que são essenciais e por essa razão, realizados com frequência. Além disso, há ainda fatores que concorrem para o desconforto como o prurido e a parestesia relacionado à cicatrização tecidual e o estiramento pela retração da pele e articulações (BURNS, 1999b). Com o passar do tempo, quando a pele inicia o processo de cicatrização e com a aplicação de enxertos, a intensidade da dor vai diminuindo. O tratamento da vítima de queimaduras envolve muita dor e sofrimento não só para o paciente como para toda sua família e também para a equipe de enfermagem. Quando se trata de crianças, há um envolvimento maior com enfoque nos sentimentos de isolamento, dependência, solidão e não raras vezes fantasias de abandono causado pela separação de seu meio familiar e social, enfim, sentimentos de angústia proveniente da dor e do medo. A dor física não pode ser eliminada apenas à custa de analgesia completa; a meta é minimizar a dor com analgésicos e terapias complementares antes dos procedimentos dolorosos, tais como o curativo. Neste momento cabe a equipe de enfermagem estar preparada para identificar situações geradoras de estresse, como a ansiedade e o medo. Assim sendo, é importante que a equipe esteja preparada e compreenda a situação para melhor assistência do cuidado. OBJETIVO Identificar a importância da compreensão do enfermeiro frente ao sofrimento e a dor da criança queimada durante o cuidado. MÉTODO Para realizar este estudo e atender ao objetivo, realizou-se um levantamento bibliográfico sobre o tema, de 1997-2007, em periódicos internacionais e nacionais indexados na base de dados MEDLINE, LILACS e BDENF, 38 janus, lorena, v. 5, n. 8, p.33-43, jul./dez., 2008 GOOGLE ACADÊMICO e livros. As revistas foram: Online Brazilian Journal of Nursing, Revista Brasileira de Anestesiologia, Jornal de Pediatria, Revista Eletrônica de Enfermagem (on line), Revista da Escola de Enfermagem da USP, Enfermería Gobal, Revista Latino Americana de Enfermagem e Teses. Das 238 produções encontradas utilizando como descritores “cuidando, dor, criança queimada, enfermagem”, apenas 04 artigos, 01 tese e 02 livros que foram incluídas por estarem relacionadas diretamente com a abordagem a que se propunha este estudo. RESULTADOS E DISCUSÃO Segundo DEALEY ( 2007) queimadura é uma ferida traumática, causada por excesso de calor, que danifica parte do sistema tegumentar, levando as vítimas a receberem internação e tratamento especializados, sendo as crianças as vítimas mais prováveis deste tipo de acidente. As lesões instaladas levam muito sofrimento aos pacientes de queimaduras proporcionando muitas dores, sejam elas física ou psíquica. Devido à dor ser um fenômeno que só pode ser compreendido por quem sente, não podendo ser vivenciado por outro, ocorre à desvalorização da dor principalmente nas crianças. Em seu artigo “Tratamento da dor da criança queimada” Henry e Foster (2007) afirmam que o sofrimento da mesma não pode ser explicado simplesmente pelo fato do tecido tegumentar estar danificado. Fatores psicológicos, sociais e culturais também interferem no limiar de dor. Meneghetti e Dalri (2007) falam que a ansiedade também pode estar associada à dor que acompanha os procedimentos diários. Para Cartucci, Ferreira e Carvalho (2007) os sintomas de ansiedade e dor podem variar conforme a extensão e ao nível da queimadura. As presenças destes problemas podem estar relacionadas a relações familiares prejudicadas. A manifestação destes problemas está relacionada com as trocas de curativos e a realização de outros procedimentos como, por exemplo, o banho. janus, lorena, v. 5, n. 8, p.33-43, jul./dez., 2008 39 Serra e Gomes (1999) dizemque e no momento do banho e dos curativos diários é que os pacientes se encontram mais frágeis à dor. A analgesia é limitada e parte da dor ainda permanece. Para a criança não é possível entender o valor do tratamento entremeado de tanta dor “Como é que pode ser bom se dói tanto assim?” Também dizem que algumas mães ajudam neste momento quando se sentem fortalecidas para ver a queimadura do filho, elas falam com o filho satisfazendo sua necessidade de proteção apego. A dor do banho; a dor da angustia; a dor em si; a dor pela hospitalização prolongada; a dor da dependência; a dor do abandono pela rejeição ou o medo desta; a dor de auto-agressão misturada à culpa e autopunição; a dor da vida de não habitar seu corpo; a dor do futuro, da volta ao meio social com marcas inscritas no corpo; a dor vem lembrar todo instante as marcas do ontem. Por isso é importante que além do gemido da dor, a criança possa nos trazer a palavra, verbalizar a difícil realidade a qual está submetida e perceber-se no alívio desta dor. Damasceno (2007) relata que embora avaliar e mensurar a dor não sejam tarefas simples, esses procedimentos devem fazer parte da rotina de cuidados dos enfermeiros, principalmente no ambiente hospitalar, onde todos os registros devem conter anotações no prontuário da criança, para que medidas sejam implementadas no sentido de aliviá-la. Para que o enfermeiro possa avaliar e quantificar a dor na criança é necessário a compreensão dos estágios de desenvolvimento e comportamentos próprios da infância, diferenciados nas variações de faixas etárias. O fenômeno doloroso vivenciado pela criança hospitalizada, principalmente nas vítimas de queimaduras, é traumatizante, trazendo sofrimento não só para a criança, mas para todos os familiares que com ela convivem. Sem falar nos profissionais, que devem estar psicologicamente preparados para lidar todos os dias com situações geradoras de estresse. Então o enfermeiro para avaliar a dor na criança deverá levar em consideração também, três métodos: a avaliação clínica, o relato da criança ou dos pais e a utilização de instrumentos (escalas) para mensurá-la. As escalas para as crianças que parecem ter melhor resultado são as que possuem desenhos ou representações de face no que se refere à ava- 40 janus, lorena, v. 5, n. 8, p.33-43, jul./dez., 2008 liação da intensidade da dor, funcionando de maneira rápida, simples, necessitando de poucas instruções por parte das crianças. Há três formas de se investigar quanta dor uma criança está sentido: o que a criança diz, o que criança faz e como o corpo da criança reage. Na faixa etária entre 2 e 3 anos, quase nunca sabem avaliar quando estão sentindo, principalmente pela tendência em negar a dor nessa idade, devido ao medo de injeções e internamento hospitalar. Acima de 4 anos, elas já sabem relatar o quanto de dor sentem, já podendo ser utilizados vários métodos de avaliação. Na idade de 5 anos , as escalas de face são os melhores recursos. Entre 6 e 7 anos, já podem ser utilizadas as escalas com palavras, numéricas, bem como a utilização. Martin-Herz, Thurber e Patterson (2000) relatam que existem intervenções não farmacológicas que ajudam a minimizar a dor durante os cuidados com a ferida. Palhares (2000) diz que como pode haver hipoxemia e hipovolemia, a administração de sedativos deve ser feita em doses pequenas e freqüentes. Já Arraño, Valenzuale e Astorga (1993) apoiam a teoria de se obter uma recuperação mais rápida quando se aplicam métodos onde as crianças queimadas participam dos procedimentos dolorosos em seu tratamento, baseado no pensamento que a analgesia farmacológica diminui a dor por diminuir seu temor e ansiedade. Atualmente pode-se obter melhores resultados para a diminuição da dor, quando se contam com a ajuda dos tratamentos chamados de alternativos ou terapias complementares, tais como massagem, acupuntura, métodos de relaxamento, combinações de medicamentos e musicais. O enfermeiro, como agente cuidador não pode permitir que a dor seja encarada como algo esperado em traumas e agir como meros espectadores. A intervenção precoce ao relato de dor é imprescindível. A abordagem terapêutica deve ser baseada na utilização da tecnologia farmacológica, juntamente com os tratamentos não-farmacológicos, pois na utilização de uma técnica isoladamente, haverá uma acomodação para a não compreensão do fenômeno doloroso, transferindo o controle da dor para tratamento terapêutico medicamentoso, somente. janus, lorena, v. 5, n. 8, p.33-43, jul./dez., 2008 41 CONSIDERAÇÕES FINAIS Vimos que alguns procedimentos levam o paciente a sentir dor e há várias formas de avaliar e de tratar a dor e a ansiedade e o enfermeiro deve estar atento a relatos ou indícios de dor do paciente e não deve agir como mero espectador, podendo aplicar a melhor escala para a classificação da dor e escolher métodos alternativos para o controle e alivio da ansiedade e da dor. Com a ajuda da visão psicanalítica a enfermagem pode facilitar a elaboração da vivência de perdas, inerentes ao adoecer, auxiliando o paciente no alcance de melhor adaptação e aceitação de sua nova condição, trabalhando seus anseios e expectativas, procurando promover uma articulação na comunicação entre paciente e equipe multidisciplinar, no sentido de dirimir-lhe o sofrimento. REFERÊNCIAS ARRAÑO, E.; VALENZUELA, M.; ASTORGA, E. B. Manejo psicológico del dolor en los niños quemados. Horiz. Enferm, v. 4, n. 1, p. 55-8, 1993. Disponível em: <http://www.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/>. Acesso em: 11 Jul. 2002. BURNS, L. J. Controle da dor. In: BRUNNER, L. S.; SUDDARTH, D. S. Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. 8.ed. Rio de Janeiro. Guanabara. Cap.13, p.158-76. 1999a. ______. Cuidados aos pacientes com queimaduras. In: ______. ______. Rio de Janeiro. Guanabara. Cap.55, p.1318-52. 1999b. CARTUCCI, V. D. S.; FERREIRA, E.; CARVALHO, E.C. 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