O haicai como ferramenta didática O haicai é um tipo de poesia que se desenvolveu na segunda metade do século XVII no Japão. Seu formato baseia-se no tanka, poema curto no formato 5-7-5-7-7 sílabas, desenvolvido na corte imperial japonesa entre os séculos X e XII. O haicai formou-se a partir da primeira estrofe do tanka, daí seu formato 5-7-5 sílabas. Tradicionalmente, o haicai é constituído por três linhas, a primeira e a terceira com cinco sílabas e a segunda com sete sílabas. Por apresentar forte influência do zen budismo, o haicai caracterizase pela instantaneidade e seus temas apresentam forte ligação com a natureza. Outra característica do haicai é o kigô, palavra ou expressão que faz alusão à estação do ano. Modernamente, o haicai também é feito com outras medidas métricas, sem kigô, com rima, mas sempre representando uma imagem. No Brasil, Paulo Leminski, que além de haicaista (ou haibum), também escreveu uma biografia sobre Matsuô Bashô, o mais importante haicaista japonês; Millôr Fernandes; Guilherme de Almeida, com seus versos guilherminos; Fanny Dupré, a primeira haicaista brasileira; Afrânio Peixoto, dentre outros autores, dedicaram-se ao haicai. Sendo assim, o haicai é uma forma agradável de introduzir tais autores aos alunos. O haicai presta-se ao ensino de contagem de sílabas poéticas (em oposição à gramatical), encontros vocálicos, figuras de linguagem (tanto fônicas, quanto de palavras, de pensamento e de sintaxe). Além de desenvolver no aluno o poder de síntese, tão necessário à produção de textos, o haicai adapta-se perfeitamente aos hábitos de escrita do mundo virtual e possibilita o contato com uma cultura diferente. Ou seja: é uma ferramenta excelente para o ensino de versificação. Fora, é claro, o prazer de o próprio aluno compor seu haicai (ou sua poesia) e ler aquelas que foram produzidas pelos colegas. É uma linha de entrada para a linguagem poética, para o gosto pela leitura de poemas. Basta dar um tema, primavera, por exemplo, explicar a métrica do haicai e ver o resultado. Aí vai um exemplo, uma abordagem irônica e engraçada à reforma ortográfica: Acordem letras!!! Discordem, concordem, Voltem a dormir. Seu uso em sala de aula Um haicai pode ser usado de várias maneiras. O haicai acima, por exemplo, composto em razão do último acordo ortográfico, pode ser usado para introduzir figuras de linguagem tais como: Paralelismo sintático entre os verbos acordar, concordar, discordar e voltar. Paralelismo sintático ocorre quando constituintes de mesmo valor sintático, como no caso dos verbos acima, estão coordenados entre si para dar simetria às idéias; Paronomásia entre os verbos acordar, concordar e discordar. Paronomásia é o uso de palavras semelhantes no som, como acordar, comcordar e discordar. Junto com esta figura fônica, podese explicar uma figura de palavra, a antonomásia, que ocorre quando se usa um nome comum no lugar de um nome próprio e vice-versa como em o rei do futebol quando fala-se sobre Pelé; Assonância do “o”. Assonância é a repetição de uma vogal tônica ao longo do enunciado; Aliteração do “c” e do “d”. Aliteração é a repetição de uma consoante na sequência do enunciado; Prosopopéia, Na realidade não são as letras que entram em acordo, mas sim os acadêmicos. Prosopopéia é trazer para o enunciado seres que, pela lógica, não deveriam dele participar; Antítese entre a idéia de acordar e dormir, bem como entre concordar e discordar. Antítese é a oposição lógica de idéias; Assíndeto, pela ausência estilística do conectivo aditivo “e” na sequência de orações coordenadas. São orações coordenadas assindéticas aquelas que não tem conectivo aditivo. Assíndeto opõe-se à outra figura de sintaxe: o polissíndeto, que ocorre quando o conectivo é usado entre todos os termos coordenados como no seguinte trecho da poesia Morte do leiteiro: se era noivo, se era virgem, se era alegre, se era bom, não sei, é tarde para saber. Elipse do termo “letras” na segunda e terceira linhas. Elipse é a omissão de termo que deveria constar do enunciado. Mas já há inúmeras publicações em sites e livros sobre o assunto, vale a pena dar uma olhada nos sites e na bibliografia... Abaixo, vai um exemplo (mais visual do que escrito), só para dar o “gostinho” de um site muito legal: Inverno 2011 Busca 29º Concurso Literário Yoshio Takemoto Inscrições para conto, poesia e haicai vão até 15 de setembro. Leia mais » Concurso Brasileiro de Haicai Infanto-juvenil 47 crianças premiadas no maior concurso literário voltado aos estudantes do Ensino Fundamental brasileiro. Leia mais » Graffiti: o haicai do leitor Deixe seus haicais inscritos no muro virtual do Caqui. Leia mais » Ipê homenageia Masuda Goga 6/09/2011 Antologia Sabiá 6/09/2011 Antologia Caminho das Águas 6/09/2011 Livro infantil de Rodolfo Gutilla 24/07/2011 Regina Alonso publica haibun Diário poético de autora santista combina prosa e haicais. Terceiro livro individual de Sergio Pichorim 3/07/2011 Moradores de rua escrevem haicais 3/07/2011 Jovens de São Vicente lançam nova antologia de haicais Sites recomendados: http://www.kakinet.com/cms http://www.nippobrasil.com.br/zashi/2.haikai.mestres/semana.shtml Bibliografia ALMEIDA, Guilherme de. Poesia varia. São Paulo: Martins, 1963. AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: publifolha, 2008. AZEVEDO FILHO, Leodegário A. de. Manual didático para o estudo da técnica do verso em Português. Rio de Janeiro: H.P. Comunicação, 2009. BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. Rio de janeiro: Nova fronteira, 2009. CUNHA, Celso, CINTRA, Lindsey. Nova gramática do português contemporâneo. 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